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O papel das mulheres brasileiras na promoção de desenvolvimento sustentável internacional através do 5º objetivo do desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas

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Academic year: 2021

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STHEFANIE AGUIAR DA SILVA

O PAPEL DAS MULHERES BRASILEIRAS NA PROMOÇÃO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL INTERNACIONAL ATRAVÉS DO 5º OBJETIVO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA ORGANIZAÇÃO DAS

NAÇÕES UNIDAS

Florianópolis 2018

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STHEFANIE AGUIAR DA SILVA

O PAPEL DAS MULHERES BRASILEIRAS NA PROMOÇÃO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL INTERNACIONAL ATRAVÉS DO 5º OBJETIVO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA ORGANIZAÇÃO DAS

NAÇÕES UNIDAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Ricardo Neumann, Dr.

Florianópolis 2018

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Dedico este trabalho a todas as mulheres que de alguma forma já se viram em situações desfavoráveis pelo simples fato de serem mulheres.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, à minha família, pelo apoio incondicional. Às minhas avós, por serem exemplos de mulheres batalhadoras, aos tios e tias que me acolheram em Florianópolis, ao meu irmão, e principalmente aos meus pais, Dirlei Alexandre da Silva e Luciane Lummertz Aguiar, que me apoiaram de todas as formas possíveis para que eu pudesse realizar todos os meus sonhos e cumprir todas minhas metas como acadêmica e como pessoa, sem eles este trabalho não seria possível.

Agradeço a todos meus bichinhos de estimação por estarem sempre presentes para me animar, presencialmente ou por lembrança, me dando forças para realizar a graduação bem como seguir minha vida, para os que estão comigo atualmente e in memoriam da Cacau, que me deixou esse ano.

Agradeço às minhas amizades que me deram suporte em momentos difíceis na realização deste trabalho e da graduação. Agradeço também a Soraya Finco Faria, que há anos tem me atendido com sua boa vontade, se tornando uma figura essencial na realização desta graduação.

Agradeço ao grupo de pesquisa GREENS, da Unisul, por me iniciar na pesquisa e ter sido essencial na minha descoberta para o caminho de pesquisa sobre desenvolvimento sustentável e igualdade de gênero, em especial ao professor José Baltazar Andrade Guerra e aos colegas Issa Ibrahim Berchin e Ana Valquiria Jonck.

Agradecimento em especial para a minha orientação, professor Ricardo Neumann, que esteve sempre prestativo para colaborar comigo neste trabalho, me guiando com sempre disposição e atenção. Também agradeço ao professor Luciano Daudt, de grande importância para o seguimento deste trabalho, bem como todos os professores que de alguma forma colaboraram para o mesmo. Agradeço também à coordenação do curso de relações internacionais, sempre disposta a me ajudar em tudo que foi necessário durante a graduação.

Agradeço à representação do IBGE em Santa Catarina, pela ajuda essencial com dados para análise do cenário brasileiro, em especial a Nelson Roberto Stachelski Junior e Sueni Juraci M. dos Santos que me atenderam com atenção e me guiaram no alcance dos dados.

Por fim, agradeço a todas as pessoas ou outras formas de energia que de alguma maneira me incentivaram a realizar este trabalho, espero poder transformar tal incentivo em um impacto positivo nas relações internacionais e no cenário de igualde de gênero brasileiro.

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“(...) since we all came from a woman

Got our name from a woman and our game from a woman I wonder why we take from our women

Why we rape our women, do we hate our women? I think it's time to kill for our women

Time to heal our women, be real to our women And if we don't we'll have a race of babies That will hate the ladies, that make the babies And since a man can't make one

He has no right to tell a woman when and where to create one (...)

I know you're fed up ladies, but keep your head up”

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RESUMO

Com o fim da Guerra Fria e abertura para debates nas relações internacionais que iam além da segurança internacional, tornou-se possível a inserção de outros debates sociais que também geram preocupação na comunidade internacional como as questões ambientais e de gênero. As relações de gênero são descritas como construções sociais historicamente estabelecidas por grupos de interesse que permitem que exista uma relação de dominação e dominado, tendo as mulheres papeis estabelecidos como inferiores perante a sociedade, o que se reflete no contexto internacional. Estas relações nocivas de dominação patriarcal tornaram-se um debate recorrente no âmbito das organizações internacionais, principalmente no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) que estabeleceu através dos Objetivos do Milênio (2000-2015) a necessidade de que a igualdade de gênero fosse medida internacional para a promoção de desenvolvimento igualitário entre os países e diminuição de índices de violência e desigualdade. A partir dos resultados satisfatórios dos Objetivos do Milênio, as Nações Unidas ampliaram o espectro destes para uma volta maior a questões contemporâneas reconhecidas para garantia de desenvolvimento social, econômico, político e ambientalmente sustentável, através de 17 objetivos acordados para serem cumpridos no período entre 2015 e 2030, denominados Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Estes objetivos seguem conceitos de direitos humanos declarados e podem ser inseridos no debate sobre justiça ambiental, onde se propõe uma melhor distribuição de riscos e recursos entre as populações mais ambientalmente vulneráveis, o que se dá pela inclinação dos objetivos e metas para distribuição de recursos essenciais à vida humana, garantia de instituições justas e igualitárias, adaptação às mudanças climáticas e igualdade de gênero. Este trabalho de conclusão de curso se propõe a demonstrar a centralidade do objetivo 5 - igualdade de gênero e empoderamento feminino - no contexto de cumprimento de todos os demais objetivos de forma integrada. A partir disto, este trabalho nota a necessidade do Brasil em cumprir com as metas de igualdade de gênero para que se estabeleça como potência comprometida com o desenvolvimento sustentável internacional por um cenário nacional mais igualitário. Para isso, são analisadas as posições recentes de gênero no Brasil através dos indicadores dos ODS para medida nacional, onde se encontram muitas barreiras no cenário de gênero brasileiro, fazendo com que seja necessária ao país uma melhor adaptação de suas políticas voltadas para o combate à violência contra a mulher, melhor distribuição de recursos produtivos ambientais e tecnológicos, melhor inserção da mulher em debates políticos e melhor reconhecimento da

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mulher como ator pleno de grande importância para o desenvolvimento nacional para que seja possível a concretização de seu pleno cumprimento da acordada Agenda 2030.

Palavras-chave: Gênero. Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Brasil. Organização das Nações Unidas.

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ABSTRACT

With the end of the Cold War and the opening to debates in international relations that go beyond international security, it became possible to insert other social debates that are also concerning to the international community, such as environmental and gender issues. Gender relations are described as social constructions historically established by interest groups that allow a relationship of domination, with women's roles established as inferior in the society, which is also reflected in the international context. These harmful relations of patriarchal domination have become a recurrent debate within international organizations, especially within the framework of the United Nations (UN), which established through the Millennium Development Goals (2000-2015) the need for gender equality as an international measure to promote equal development among countries and decrease rates of violence and inequality. Building on the satisfactory results of the Millennium Development Goals, the United Nations has broadened the spectrum of these to a greater return to recognized contemporary issues to ensure socially, economically, politically and environmentally sustainable development through 17 goals agreed to be met in the period between 2015 and 2030, denominated the Sustainable Development Goals (SDGs). These goals follow stated human rights concepts and can be inserted in the debate on environmental justice, where a better distribution of risks and resources among the most environmentally vulnerable populations is proposed, which is due to the inclination of the goals to targets for the distribution of essential resources for human life, guarantee of fair and equitable institutions, adaptation to climate change and gender equality. This paper aims to demonstrate the centrality of goal 5 - gender equality and women’s empowerment - in the context of fulfilling all the other goals in an integrated way. From this, this paper notes the need for Brazil to meet the gender equality goals to establish itself as a global potential committed to international sustainable development for a more egalitarian national scenario. In this regard, the recent gender positions in Brazil are analyzed through the SDGs indicators for national measurement, where many barriers are found in the Brazilian gender scenario, making it necessary for the country to better adapt its policies aimed at combating violence against women, better distribution of productive environmental and technological resources, better inclusion of women in political debates and better recognition of women as a full actor of great importance for national development so that their the country can fully achieve the agreed 2030 Agenda.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Símbolos dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável ... 36

Figura 2: Percentual de mulheres entre os eleitos para Câmara dos Deputados e Senado Federal entre 1994 e 2010. ... 71

Figura 3: Proporção do tempo gasto com trabalho doméstico e cuidado não remunerado, por sexo, idade e localização ... 76

Figura 4: Proporção de assentos ocupados por mulheres na Câmara dos Deputados em 2014 por estados ... 77

Figura 5: Proporção de pessoas ocupadas em cargos gerenciais por sexo em 2016 ... 78

Figura 6: Proporção de pessoas com acesso à telefone móvel por sexo e estado em 2016 ... 79

Figura 7: Atendimentos de proteção à mulher através da Lei Maria da Penha em 2016 ... 82

Figura 8: Razão de mortalidade materna em 2009 e 2015 por estados brasileiros ... 84

Figura 9: Taxa de mortalidade atribuída a fontes de água inseguras, saneamento insegura e falta de higiene entre 2000 e 2015, por sexo ... 85

Figura 10: Número de estabelecimentos agropecuários por sexo do produtor em 2006 ... 87

Figura 11: Número de estabelecimentos agropecuários por condição legal e sexo do produtor em 2006 ... 88

Figura 12: Pessoal ocupado em estabelecimentos agropecuários por sexo (2017) ... 89

Figura 13: Condição legal do produtor por número de estabelecimentos em 2017 ... 90

Figura 14: Pessoal ocupado em atividades agrícolas por parentesco com o produtor em 2017 ... 90

Figura 15: Pessoal ocupado em atividades agrícolas com parentesco com o produtor por sexo e idade em 2017 ... 91

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Objetivos e metas do desenvolvimento do milênio (ODMs, 2000-2015) ... 31 Tabela 2: Objetivos do Desenvolvimento Sustentável ... 36 Tabela 3: ODS 5: Igualdade de Gênero ... 38

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 12

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E PROBLEMA ... 12

1.2 OBJETIVOS ... 14 1.2.1 Objetivo Geral ... 14 1.2.2 Objetivos Específicos... 14 1.3 JUSTIFICATIVA ... 14 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 15 1.5 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO ... 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 17

2.1 ABORDAGENS FEMINISTAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ... 17

2.1.1 Conceito de gênero nas relações internacionais ... 17

2.1.2 Vertentes feministas nas relações internacionais ... 23

2.2 AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS E SEU PAPEL NO PLANEJAMENTO DE OBJETIVOS INTERNACIONAIS ... 27

2.2.1 Objetivos do Milênio ... 30

2.3 A AGENDA 2030 E OS OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 34 2.3.1 Objetivo 5: Igualdade de Gênero ... 37

3 JUSTIÇA AMBIENTAL, DIREITOS HUMANOS E O PAPEL DAS MULHERES 45 4 A IGUALDADE DE GÊNERO COMO FATOR ESSENCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ... 54

5 O BRASIL COMO PROMOTOR DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL INTERNACIONAL ATRAVÉS DO CENÁRIO NACIONAL DE IGUALDADE DE GÊNERO ... 68

5.1 AÇÃO BRASILEIRA NOS OBJETIVOS DO MILÊNIO (2000-2015) ... 68

5.2 DESAFIOS BRASILEIROS PARA O CUMPRIMENTOS DOS OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ATRAVÉS DO CENÁRIO DE GÊNERO EM 2018 75 6 CONCLUSÃO ... 94

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1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo são expostos o tema e problema de pesquisa, os objetivos para cumprimento do problema, a justificativa para a realização deste trabalho em um contexto acadêmico, social e pessoal da autoria, os procedimentos metodológicos para a realização deste trabalho e a estruturação da exposição desta pesquisa nos capítulos a seguir.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E PROBLEMA

A pesquisa em relações internacionais no Brasil tem atraído cada vez mais diferentes temáticas a serem discutidas, incluindo questões de gênero, ambientais e de governança global (SARAIVA, 2012). Voltando as pesquisas para governança global, destaca-se a importância das Nações Unidas como uma instituição internacional com ações reconhecidas para o desenvolvimento sustentável, contando com um histórico de debates internacionais sobre a temática até chegar nos mais recentes Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) de 2015, com previsão de cumprimento para o ano 2030 (ONU, 2015b).

São 17 objetivos listados com as respectivas metas para a garantia do desenvolvimento sustentável em diversas áreas até 2030 que são de compromisso dos países assinantes. Entre as áreas, encontram-se segurança alimentar, eficiência energética, instituições justas e erradicação da pobreza. Esta pesquisa foca em uma área recente na discussão de desenvolvimento internacional: igualdade de gênero e empoderamento das mulheres, alocado no 5º ODS. A temática esteve presente nos Objetivos do Milênio, acordados para o período entre 2000 e 2015, com os objetivos de promover a igualdade de gênero (Objetivo 3) e melhorar a saúde maternal (Objetivo 5) e foi readaptada considerando outras necessidades para igualdade de gênero (ONU, 2018a).

Ainda, o 5º ODS surge após um histórico de debates sobre a necessidade de incluir a igualdade de gênero na pesquisa de relações internacionais, inserindo as mulheres nos conceitos de direitos humanos e justiça ambiental, buscando garantir igualdade na distribuição de riscos e recursos no cenário internacional. Destaca-se a citação de J. Ann Tickner (2001) de que as hierarquias de gênero são socialmente construídas e mantidas por meio de estruturas de poder tanto interna quanto externamente.

Nesse sentido, as relações internacionais são responsáveis pela inclusão do patriarcado como padrão de tomada de ações e exclusão do papel das mulheres (SYLVESTER, 2002; YUVAL-DAVIS, 2004; TICKNER, 2001) e cabe aos atores envolvidos nestas relações

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(indivíduos, Estados, organizações internacionais) tomarem decisões políticas que permitam um melhor cenário de participação e reconhecimento feminino.

Surgindo destes objetivos e debates, o 5º ODS torna-se mais abrangente ao abordar diversos aspectos da igualdade de gênero, como combate da violência contra a mulher, igualdade de condições de trabalho e salário, melhor distribuição de recursos e maior participação política (ONU, 2015b). Considerando que os ODS foram planejados para uma conquista integrada, sendo que o desenvolvimento sustentável planejado só será alcançado quando todos os objetivos forem alcançados em conjunto, a igualdade de gênero é um passo necessário para garantir um cenário internacional mais harmônico e sustentável.

Considerando os esforços brasileiros em cumprir as agendas internacionais no âmbito das Nações Unidas, percebem-se, além de algumas conquistas interessantes no âmbito nacional e internacional, algumas lacunas deixadas no cumprimento de alguns objetivos, inclusive no contexto dos Objetivos do Milênio, onde são encontradas falhas deixadas pelo país, inclusive nos objetivos voltados para os direitos das mulheres, que servem como alerta para que o país dedique maiores esforços políticos para alcançar os ODS plenamente até 2030 (RIBEIRO et al., 2018).

Como abordado, os ODS têm de ser conquistados em conjunto para haver um impacto sustentável real, o que faz com que seja necessário o esforço brasileiro na garantia de igualdade de gênero e empoderamento das mulheres, ampliando as oportunidades das mulheres brasileiras na promoção de desenvolvimento sustentável. Considerando a ideia de BOND (2016) de medidas necessárias para cumprimento dos ODS quando o órgão afirma a necessidade de “uma análise das políticas e práticas existentes para identificar lacunas e assegurar o alinhamento com os ODS”, este trabalho apresenta uma análise das práticas brasileiras existentes e identifica lacunas no cumprimento do 5º ODS.

Nesse sentido, este trabalho de conclusão de concurso responde qual o papel das

mulheres brasileiras na promoção do desenvolvimento sustentável internacional através do 5º Objetivo do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas? E, para tal, são definidos

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1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

 Compreender o estado do empoderamento feminino no Brasil e o seu papel na promoção de desenvolvimento sustentável em consonância com o 5º Objetivo do Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas.

1.2.2 Objetivos Específicos

 Caracterizar as abordagens feministas nas relações internacionais e sua influência na promoção de desenvolvimento sustentável pela Organização das Nações Unidas através dos Objetivos do Milênio e Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

 Enfatizar a centralidade da igualdade de gênero para os debates sobre justiça ambiental e direitos humanos para a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável internacional;

 Debater a articulação entre igualdade de gênero, justiça ambiental e direitos humanos nas políticas do Estado brasileiro no contexto do cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

1.3 JUSTIFICATIVA

Em termos de justificativa para a apresentação deste trabalho, se definem: para a academia como uma pesquisa com resultados novos e de grande proveito no campo das relações internacionais, apresentando a posição do Brasil como um ator promotor de desenvolvimento sustentável no âmbito das organizações internacionais e agendas internacionalmente acordadas. Para a sociedade, este trabalho se compromete a apresentar resultados que apresentem o cenário de promoção de igualdade de gênero, empoderamento feminino e desenvolvimento sustentável no cenário brasileiro e internacional, ressaltando a importância do papel da sociedade civil no processo decisório de políticas que os impactem, dando força para as pesquisas sociais que apresentam os indivíduos como atores essenciais para as relações internacionais. E, para a autora, este trabalho se justifica em objetivos

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pessoais e acadêmicos, tratando de tópicos e apresentando resultados que, como mulher brasileira, são de seu interesse e necessidade, e gerando um trabalho de conclusão de curso que a satisfaz como acadêmica de relações internacionais em busca da compreensão do seu papel no cenário internacional.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Em questões metodológicas para a realização deste trabalho pode se definir como os ideais de Ruiz (1996), se estabelecendo como pesquisa ao ser um processo envolvendo investigação planejada e executada com base em normas metodológicas reconhecidas pela ciência. Nesse sentido, esta se classifica quanto a:

1. Aplicabilidade: a aplicabilidade deste projeto de pesquisa é classificada como

básica, gerando como resultado a caracterização das mulheres brasileiras como

atores internacionais no atingimento do desenvolvimento sustentável sem perspectiva uma aplicação prática imediata deste reconhecimento, conforme conceito da aplicabilidade (PRODANOV e FREITAS, 2013). Ainda assim, a pesquisa de aplicabilidade básica caracteriza sua importância pela geração de conhecimento que, de diversos modos, pode ser aplicado para a sociedade (AVILA-PIRES, 1987);

2. Abordagem: a abordagem deste projeto de pesquisa é caracterizada como

qualitativa vista sua relação com as ciências sociais ao preocupar-se a apresentar

temas pertinentes as relações internacionais como o papel das organizações internacionais, igualdade de gênero, políticas públicas e desenvolvimento sustentável, sendo uma pesquisa subjetiva dependente da interpretação do pesquisador (APPOLINÁRIO, 2009; ASSIS, 2014);

3. Objetivos: quanto aos objetivos, essa pesquisa se caracteriza como explicativa, sendo que visa compreender o porquê da necessidade da ação das mulheres brasileiras para o desenvolvimento sustentável internacional e quais fatores as impedem de agir como necessário, se assemelhando com a ideia de Vergara (1990, p. 5) de pesquisa explicativa “investigação cujo principal objetivo é tornar inteligível, é justificar a razão de alguma. Visa, portanto, a esclarecer quais fatores contribuem, de alguma forma, para a ocorrência de certo fenômeno”;

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4. Procedimentos: quanto aos procedimentos, esta pesquisa se identifica como

bibliográfica, sendo realizada a partir de materiais já publicados e

disponibilizados, no caso serão analisados documentos resultantes das conferências das Nações Unidas, documentos disponibilizados pelo governo brasileiro e legislações, bem como livros e artigos científicos voltados para a temática;

5. Coleta de dados: para a coleta de dados, este projeto utilizará do método de

análise documental, a partir da análise dos documentos gerados em conferências

internacionais e de organismos e instituições nacionais e internacionais, como relatórios, cartas, entre outros (SILVA et al., 2004).

1.5 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO

O capítulo 1 deste trabalho introduz o tema e problema de pesquisa, bem como os objetivos que guiam a sua realização. É neste capítulo também que são expostas as justificativas para a realização deste e os processos metodológicos utilizando durante a confecção desta pesquisa.

A seguir, o capítulo 2 apresenta a fundamentação teórica deste trabalho, ou seja, a fundamentação para realização deste através de um arsenal teórico sobe os temas essenciais deste trabalho: abordagens feministas das relações internacionais, organizações internacionais, com foco nas Nações Unidas, e a Agenda 2030 para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

No terceiro capítulo é exposta a necessidade de se caracterizar a igualdade de gênero nos contextos dos direitos humanos e justiça ambiental, sendo relacionado com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e a Declaração Universal de Direitos Humanos. No quarto capítulo o trabalho foca em centralizar o alcance objetivo de igualdade de gênero como essencial para o cumprimento da Agenda 2030, considerando a totalidade dos objetivos.

O quinto capítulo introduz a posição brasileira em relação com os capítulos anteriores, apresentando o contexto de atuação brasileira em objetivos internacionais através dos Objetivos do Milênio (2000-2015) e o cenário recente para cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (2015-2030). Por fim, no sexto capítulo são apresentadas as conclusões que a autoria pode retirar desta pesquisa.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo apresenta o embasamento teórico utilizado para realizar a pesquisa sobre o papel das mulheres brasileiras no desenvolvimento sustentável internacional, expondo e contextualizando temas necessários para compreender a análise realizada neste trabalho. Nesse sentido, são expostos autores e ideias sobre abordagens feministas das relações internacionais, definindo quais são estas abordagens e o que elas idealizam em um cenário de igualdade de gênero internacional, e transitando para o seu impacto no planejamento das organizações internacionais, em especial a Organização das Nações Unidas, em políticas para o desenvolvimento sustentável internacional, passando pelo histórico dos Objetivos do Milênio para poder caracterizar a Agenda 2030 e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

2.1 ABORDAGENS FEMINISTAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

As relações internacionais contemporâneas, apesar de manter muito das suas raízes em teorias clássicas, têm sido um espaço cada vez mais aberto para debates e pesquisa em outras áreas que têm influência constante no cenário internacional e que, até então, tinham sido pouco exploradas, a exemplo de questões ambientais e de gênero. Estas temáticas têm sido incluídas em políticas internas dos Estados, em empresas e organizações internacionais e gerado debates internacionais em busca de melhor reconhecimento e investimento na promoção de igualdade. Nesta pesquisa, destaca-se a busca pela igualdade internacional de gênero.

2.1.1 Conceito de gênero nas relações internacionais

As questões de gênero têm um significado amplo e, portanto, nem sempre bem compreendido (GUEDES, 1995). Diferente do conceito biológico de sexo que se divide em masculino e feminino, gênero surge de um conceito de construção social que vai além do sexo e características físicas para características psicológicas e relações sociais, dando espaço para relações de dominação e exclusão com base nesse conceito (GUEDES, 1995). Para Bandeira e Oliveira (1990, p. 8) gênero são “processos de construção/reconstrução das práticas das relações sociais, que homens e mulheres desenvolvem/vivenciam no social".

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Nesse sentido, gênero seriam relações de construção de desigualdade e caracterização dos indivíduos como protegidos ou protetores, como bem descrito por Simone de Beauvoir (1980, p. 9)

Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino.

Ainda para Beauvoir (1980), a condição de mulheres como papel na sociedade não é decisão autônoma das mesmas e sim um reflexo da imposição masculina do que deve ser considerado mulher e as atividades femininas que as cercam, sendo assim o seu papel um objeto de manipulação de outra existência que é soberana e essencial. Aqui, pode-se relacionar o papel do homem ao do Estado, como uma figura soberana que tem por responsabilidade definir e encarregar-se da sociedade que dele depende.

Assim, dá-se para as divisões de gênero papeis previamente definidos como uma forma de dominação social, econômica e política, vindos de um “conjunto articulado da civilização” que elabora os conceitos e funções dos gêneros e, por escolha, decide qual será qualificado e qual será culturalmente depreciado (SANTOS, 2011, p. 10). Anne Murray completa a ideia de construções sociais desiguais ao citar que “embora não haja nada intrinsecamente desigual ou mesmo negativo na atribuição de categorias - talvez uma tendência humana natural - são os juízos de valor destrutivos que se seguem que precisam ser eliminados”1 (MURRAY, 2008, p.

11, tradução nossa).

Como relação social historicamente construída, as questões de gênero impactam diretamente nas relações internacionais e também tem suas definições impactadas por ações no meio internacional. De acordo com J. Ann Tickner (2001, p. 21, tradução nossa) “as hierarquias de gênero são socialmente construídas e mantidas por meio de estruturas de poder que trabalham contra a participação das mulheres na elaboração de políticas de segurança externa e nacional”2.

Com os rumos tomados em consequência dos impactos das guerras, o cenário internacional abriu uma possibilidade de discussões que iam além das questões de segurança tradicionais, que eram a base para o estudo das relações internacionais, vista a necessidade de

1 “Although there is nothing inherently unequal or even negative about assigning categories—perhaps a natural

human tendency—it is the destructive value judgments that follow that need to be eliminated.”

2 “gender hierarchies are socially constructed and maintained through power structures that work against

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pesquisa sobre guerra, seus impactos e possibilidades de impedir a recorrência das mesmas (TICKNER, 2001).

Nestas pesquisas sobre guerra, as mulheres eram vistas com um papel marginalizado, em que seriam protegidas pelo militarismo de características masculinas que defendiam o Estado sob o qual as mulheres estariam acolhidas, legitimando a violência como forma de proteção necessária (RUDDICK, 1993). Esta visão de guerra como protetora deixou de fazer sentido para as feministas ao constatar fatos como a quantidade de mulheres que eram sexualmente abusadas por militares como uma estratégia de guerra (SYLVESTER, 2002), a desigualdade na exposição de inseguranças e riscos causados pela guerra (alimentar, econômica, entre outras) e de recompensas pelos benefícios adquiridos nas guerras (distribuição de terra, renda e reconhecimento).

Também tornou-se necessário analisar a guerra em diferentes aspectos do que a ideia tradicional de guerra entre Estados. Em tempos de paz também são reconhecidas situações de violência, seja no contexto do cenário internacional, dentro do Estado ou até em situações domésticas, onde a população está exposta a cenários de insegurança (SYLVESTER, 2002; ENLOE, 1989; MOON, 1997).

No sentido realista da guerra, as mulheres são associadas à paz e, considerando a natureza do Estado como promotor de guerra para beneficiar dos impactos da mesma e alcançar seus objetivos sem medir a destruição causada por esse meio, as mulheres e a paz não são prioridades da agenda nacional (TICKNER, 2001; SYLVESTER, 2002). Assim, as mulheres foram historicamente associadas com o conceito de paz e mantidas fora do cenário internacional pelos perigos que este oferece pela sua agressividade reconhecida nas guerras, o que, por vezes, torna-se contraditório, considerando que o ambiente agressivo é gerado pela identidade nacional masculina passou-se a questionar a ideia de que somente homens poderiam conter esses perigos (TICKNER, 1999).

Nesse período, as mulheres não eram vistas no Estado e no sistema em torno do mesmo (SYLVESTER, 2002). Para Tickner (1992, p. 83, tradução nossa) “as mulheres têm sido periféricas às instituições do poder do Estado e são menos recompensadas economicamente do que os homens, a validade do pressuposto do ator unitário deve ser examinada sob a perspectiva do gênero”3. Nesse sentido, passou-se a reconhecer que as intenções do Estado não necessariamente estão ligadas às necessidades da mulher, e, por vezes, tornam-se danosas

3 “Women have been peripheral to the institutions of state power and are less economically rewarded than men,

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para elas. O que para o Estado são ações necessárias para a segurança nacional, para as mulheres torna-se um cenário de insegurança social.

Para Enloe (1989), o poder do Estado também está no controle que este tem sobre as mulheres como símbolos, de modo a caracterizá-lo como uma figura patriarcal, como bem citado por Simone de Beauvoir “no momento em que as mulheres começam a tomar parte na elaboração do mundo, esse mundo é ainda um mundo que pertence aos homens” (BEAUVOIR, 1980, p. 15).

Com a ascensão o sentimento de segurança no cenário internacional pós Guerra Fria, as relações internacionais começaram a reconhecer com mais força o impacto de relações étnicas, culturais, conflitos e impactos econômicos causados por atores além do Estado, envolvendo organizações internacionais, empresas, organizações não governamentais e até indivíduos, considerando outras inseguranças além das causadas exclusivamente pelo sentido realista das guerras (TICKNER, 2001). Também tornou-se mais visível o fato que as relações internacionais não se baseavam unicamente em questões de segurança, conflito e manejo de danos causados por conflitos (ELSHTAIN, 1987).

Como aponta Sylvester (2002, p. 161, tradução nossa),

Em um sistema internacional cheio de tensões, os analistas de RI estão profundamente interessados em questões de continuidade e descontinuidade. Os estados persistem como entidades políticas fundamentais, assim como um sistema capitalista mundial de produção e troca de mercadorias. Ao mesmo tempo, novos atores, capacidades tecnológicas e fatores ecológicos afetam o Estado, e uma nova divisão internacional do trabalho reformula as capacidades dentro e entre as zonas de uma economia globalizada. Embora muitas questões que cercam a economia política internacional sejam importantes, outras questões igualmente importantes e pontos de tensão raramente fazem com que as sobrancelhas dos principais teóricos de IR, particularmente os estruturalistas entre elas, enruguem. As questões das relações entre homens e mulheres no sistema internacional enquadram-se nessa categoria4.

Considerando um ambiente globalizado pós Guerra-Fria, bem como seus impactos causados pela interdependência global, iniciou um maior reconhecimento das relações internacionais quanto às inseguranças econômicas, sociais e ambientais e as ameaças sofridas

4 “In an international system filled with tensions, IR analysts are keenly interested in questions of continuity

and discontinuity. States persist as key political entities, as does a world capitalist system of commodity production and exchange. At the same time, new actors, technological capabilities, and ecological factors impinge on the state, and a new international division of labor reshapes capacities within and between zones of a globalized economy. Although many issues surrounding international political economy are important, other equally important issues and points of tension rarely if ever cause the brows of mainstream IR theorists, particularly the structuralists among them, to furrow. Questions of men–women relations in the international system fit this category”

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em diferentes grupos pelas mesmas, visto que a consideração de segurança militar por si só não se era suficiente no novo cenário integrado.

Nesse sentido, também se abrem discussões críticas ao papel do Estado como o único ator de responsabilidade pela segurança internacional, considerando que a centralização da segurança no Estado e sua soberania podem tornar-se parte da causa de insegurança e envolvendo novos atores nas RI, como organizações não governamentais, empresas, organizações internacionais e, mais recentemente, indivíduos, parcela essencial da promoção de políticas no mundo globalizado (SYLVESTER, 2002). A partir desse momento, o estudo de relações internacionais teria movido de um mundo de Estados para uma comunidade global (WALKER, 1989).

De acordo com Zalewski (1993, p. 16, tradução nossa), “quando tratamos os indivíduos como objetos de segurança, abrimos a possibilidade de falar sobre uma comunidade humana transcendente com preocupações globais comuns e permitir o envolvimento com as mais amplas ameaças globais”5. Pare Enloe (1989), é necessário parar de analisar Estados e

sociedades de população abstrata e iniciar a incluir o debate sobre as pessoas e os lugares em que estas pessoas estão alocadas, bem como as atividades desenvolvidas por elas, visto que estas, de acordo com a autora, são o que fazem o mundo mover.

Nesse sentido, Tickner (2001) ainda atenta para uma “humanização” da pesquisa em relações internacionais. Considerando indivíduos como atores que influenciem e são influenciados pelo sistema internacional e abrindo a discussão para a segurança de entidades além do Estado, possibilitando notar grupos marginalizados e menos empoderados que outros, coube as teorias de feminismo se expandirem nesse contexto de pluralismo intelectual, dando um maior foco em indivíduos e estruturas sociais e alterando o conhecimento que até então era gerado por homens e suas relações com o Estado e as RI, surgindo como uma ferramenta para questionar as relações de poder e hierarquias nas RI.

Considerando a segurança dos indivíduos, o estudo feminista nas relações internacionais passa a pesquisar a insegurança das mulheres devido à violência sofrida, tanto física quanto estruturalmente, em todos os níveis e como a implantação de uma hierarquia de gênero impacta negativamente na segurança destes indivíduos (TICKNER, 2001). Para Enloe (1989), as políticas se tornam pessoais a partir do momento em que influenciam na vida dos

5 “When we treat individuals as the objects of security, we open up the possibility of talking about a transcendent

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indivíduos, nesse sentido, a política e o pessoal tem que ser analisado em conjunto para compreender o sistema internacional.

Ainda seguindo as ideias de Enloe (1989), apesar das mulheres serem atores essenciais nas relações internacionais, há um sistema de poder que as impede de que as relações sejam benéficas para elas por seu papel não ser ter o reconhecimento da sua devida importância, dessa forma, a participação das mulheres, apesar de existente, não é ouvida e notada no sistema internacional.

Tickner (2001) explica essa exclusão do sistema como um reflexo da desigualdade quanto à distribuição de recursos, reconhecimento nos direitos humanos e práticas culturais nocivas que colocam as mulheres em um papel secundário na sociedade e as expõe a um cenário de insegurança, sendo a eliminação de hierarquias de gênero como uma forma de garantir segurança global (TICKNER, 1992). Vale notar a citação de Tickner (1992), que para aliviar inseguranças econômicas, sociais e mesmo ambientais é necessário romper barreiras hierárquicas, incluindo em relações de gênero, que dominam essas áreas e as impedem de mudança.

Nesse contexto, as teorias feministas surgem como forma de analisar o gênero como uma fonte de poder e hierarquia nas relações internacionais considerando a construção histórica e social desse cenário, que, sendo algo construído, é passível de mudança e evolução (TICKNER, 2001). Nesse sentido, o papel das feministas definido por Okin (1999) é daqueles que acreditam que mulheres não deveriam ser discriminadas com base em relações de gênero e merecem igualmente ter seus direitos reconhecidos.

Assim, o feminismo nas relações internacionais é caracterizado como uma forma de debater questões de sexo, gênero, opressão, identidade, subjetividade e patriarcado6 em um ambiente de relações sociais que afetam o cenário internacional e são afetados pelo mesmo (SYLVESTER, 2002; HARDING, 1998; WEEDON, 1999). Por sua vez, cabe às teorias feministas questionar o conteúdo de gênero e sua representatividade e escolhas com a ajuda de outros tipos ideológicos ou metodológicos (SYLVESTER, 2002; HARDING, 1986).

Tickner (1997) atenta pela diferença na definição de poder entre as teorias tradicionais das relações internacionais e a teoria feminista. Enquanto nas teorias internacionais o poder é definido por relações abstratas e unitárias, o feminismo vê poder em relações sociais personificadas no cenário internacional (TICKNER, 1997). Para isso, feministas tendem a ver para além do anarquismo para relações sociais e os impactos positivos ou negativos resultante

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das mesmas em mulheres ou outros grupos sociais envolvidos no sistema internacional, sendo que estas são invisíveis para as teorias clássicas de relações internacionais (SYLVESTER, 2002).

2.1.2 Vertentes feministas nas relações internacionais

Apesar das divergências na definição de poder, no contexto de transição dos anos 60, as teorias feministas das relações internacionais se fortalecem com a discussão entre diferentes vertentes feministas liberais e radicais. Enquanto os primeiros acreditam que as mulheres precisam ser melhor inseridas nas instituições existentes, os segundos veem as desigualdades diminuindo com uma mudança radical do sistema internacional e as hierarquias injustas que vem deste (TICKNER, 2001).

No feminismo liberal, reconhece-se a necessidade de que as mulheres sejam reconhecidas como indivíduos com necessidades a serem trabalhadas nas RI. Ainda assim, o feminismo liberal acredita que o escopo legal e a autoridade do Estado são responsáveis em grande parte pela opressão gerada nas mulheres, as negando direitos e oportunidades iguais aos dos homens, necessitando da adaptação do Estado para se tornar uma ferramenta de promoção de igualdade e deixar de ser uma barreira para que estas possam crescer (TICKNER, 2001).

Nesta vertente, o Estado é visto como promotor de hierarquia de características masculina que reforça o poder dominante de determinados grupos (TICKNER, 2001), sendo a globalização dos mercados uma ferramenta que tem o potencial de diminuir as desigualdades entre os Estados e dentro dos mesmos, através da maior interdependência da sociedade global (HURRELL e WOODS, 1995).

Tal visão é questionada por autores que veem a desigualdade gerada pela globalização de mercados, tendo Estados com maior poder de influência que outros e gerando uma dependência ainda maior dos Estados menos desenvolvidos, afetando diferentes regiões do mundo em modos diferentes (TICKNER, 2001). Para Kothari (1993), a desigualdade causada pela globalização impacta no aumento da pobreza, degradação do ambiente e diminuição no senso de comunidade, o que diretamente afeta as mulheres como atores no cenário internacional, entre outras minorias.

Entre as desvantagens apresentadas pelo neoliberalismo para o movimento feminista, cita-se a desigualdade na distribuição de renda, recursos e horas de trabalho (TICKNER, 2001). Assim também nota-se a distribuição nociva de responsabilidades, colocando as

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mulheres em cargos de menor reconhecimento internacional e áreas que são comumente ignoradas pelas medidas econômicas convencionais (MARCHAND, 1996).

É nesse contexto que o feminismo marxista - apesar de críticas ao início dos movimentos de esquerda que desconsideravam diferenças de gênero nas diferenças de classe - se baseia nas teorias socialistas de Marx e foca na desigualdade nas relações de trabalho e divisão global do trabalho, vendo a expressão do patriarcado no controle que os homens possuem sobre as mulheres nas questões trabalhistas. Essas teorias reforçam que as mulheres geralmente recebem menos que os homens por trabalhos iguais, têm menor representatividade em cargos de liderança e, geralmente, lidam com cargas duplas pelo trabalho doméstico (EISENSTEIN, 1979; HARAWAY, 1990; EISENSTEIN, 1977). Considerando o crescimento da desigualdade global, nota-se o conceito de feminização da pobreza (TICKNER, 2001).

Nota-se então a desigualdade do papel das mulheres na globalização de mercados quando, apesar do acréscimo histórico da participação feminina no trabalho, existe uma divisão de trabalhos baseada em gênero, tornando natural e institucionalizada a dupla jornada feminina como mães e responsáveis pelo trabalho doméstico e comunitário, fazendo com que as mulheres tenham menor segurança econômica e autonomia (MIES, 1986) justificada internacionalmente pela visão que a renda das mulheres é como um suplemento doméstico a renda gerada pela figura patriarcal (TICKNER, 2001).

Mesmo com os debates importantes em torno do papel feminino no trabalho em um mercado globalizado, o feminismo marxista falha ao reconhecer que em governos socialistas as mulheres também têm papeis secundários nas relações de trabalho, não contando com apoio institucional que as empodere em favor de condições trabalhistas (TICKNER, 2001; ENLOE, 1989; HARRISON, 1991).

Ainda, a definição tradicional do conceito de trabalho falha ao não englobar trabalhos domésticos e outros realizados exclusivamente pelas mulheres, as excluindo das medidas globais e desconsiderando sua influência na economia em um mercado global integrado (HOLCOMB e ROTHENBERG, 1993). Para Sylvester (2002, p. 45, tradução nossa) “os marxismos muitas vezes negligenciam a localização dos papéis reprodutivos das mulheres dentro de um quadro econômico, o que significa que o trabalho não remunerado no lar ou na economia informal está situado fora da história de classe, fora da melhoria”7.

7 “Marxisms most often neglect to site the reproductive roles of women within an economic framework, which

means unpaid work in the household or informal economy is sited out-side class history, outside amelioration”

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Considerando que o feminismo, em geral, descarta as teorias clássicas das relações internacionais que desconsideram o papel dos indivíduos e a complexidade das relações sociais dos mesmos (KRAUSE, 1996), algumas autoras feministas se encontram com o ideal do construtivismo de que as ações do Estado não podem ser compreendidas sem analisar o comportamento e ideais dos indivíduos nacionais bem como sua identidade como um grupo e relações sociais que os envolvem (TICKNER, 2001; TICKNER, 1997; SMITH, 1995).

Assim, “as identidades de gênero dos Estados e a construção de ideologias nacionais devem ser examinadas para entender melhor seu comportamento de busca de segurança”8 (TICKNER, 2001, p. 53, tradução nossa). Nesse sentido, a construção histórica do Estado o fez uma ferramenta de expansão do patriarcado internacionalmente, transformando o Estado numa figura masculina e abrindo espaço para a opressão feminina no ambiente anárquico do sistema internacional (YUVAL-DAVIS, 2004).

Ainda assim, mesmo as teorias de multilateralismo que tomam a sociedade e suas relações como princípios orientadores falham em reconhecer plenamente o papel das hierarquias de gênero nessas relações (SYLVESTER, 2002) cabendo a teoria feminista se desprender das teorias tradicionais para poder reconhecer as desigualdades no sistema internacional.

Apesar de incorporar diversos princípios de teorias clássicas das relações internacionais nas suas pesquisas, a teoria feminista surge como uma teoria soberana, que, para Sylvester (2002, p. 93, tradução nossa) “concentra-se nas falhas nos estudos acadêmicos que aparecem quando consideramos o alcance, a profundidade e a relevância das relações hierárquicas de gênero nas relações internacionais e nas RI”9. Nesse âmbito de pesquisa feminista das RI, se abrem espaço para discussão de várias subdivisões com visões diferentes das causas e impactos da hierarquia de gênero.

Um exemplo de visão feminista das RI é a teoria ponto de vista. Nesta, explica-se o patriarcado como a ampliação do ponto de vista masculino para a sociedade, economia, governo e relações internacionais, tornando impossível existir um ambiente realmente anárquico, pois este é influenciado e personalizado diretamente por pontos de vista masculinos (SYLVESTER, 2002). Para alguns autores, esse ato de silenciar as vozes de mulheres e outros grupos de indivíduos nas ações das relações internacionais também se

8 “The gendered identities of states and the construction of national ideologies should be examined in order to

better understand their security-seeking behavior”

9 “Feminist theorizing focuses on the flaws in mainstream scholarship that appear when we consider the range,

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caracteriza como uma forma de adquirir poder, criando uma história a partir de pontos de vista que têm o poder para alterar o cenário internacional e apagando os demais (DERRIDA, 1993; SYLVESTER, 1994; SYLVESTER, 1996).

Na teoria feminista pós-moderna, a anarquia torna-se um cenário possível desde que, em vez de um vácuo de poder que pode ser conquistado por alguém ou um grupo, esta resulte da negação da existência de poderes dominantes (SYLVESTER, 2002), e que, na prática, o cenário anárquico é uma forma de deixar o sistema aberto para a ascensão do patriarcado (TICKNER, 2001).

Em adição a estas, o feminismo empirista foca no poder do Estado em dissipar o patriarcado como dominação, alertando para a necessidade do estudo de atores dentro do Estado que tornam esse possível, como os indivíduos e sua relação em sociedade de hierarquias de gênero, ainda, questiona a interdependência estudada pelo liberalismo, sendo essa como nas relações de gênero: uma relação de dominação e subordinação (SYLVESTER, 2002; ELSHTAIN, 1987).

É importante dar atenção também para a vertente feminista voltada ao desenvolvimento sustentável. Considerando que o cenário global atual gera desigualdades que vão além do âmbito econômico e social, atingindo também questões ambientais, através das degradações causadas por ações nocivas, bem como a má distribuição dos recursos e dos impactos causados pelas degradações. Nesse sentido, há uma interação entre a degradação ambiental e a opressão feminina, chamando para a necessidade do desenvolvimento baseado no senso de comunidade e revisão das relações dos humanos com o ambiente para alcançar a igualdade em ambos aspectos (BRAIDOTTI et al., 1994; TICKNER, 2001; SYLVESTER, 2002).

Também é importante notar as diferentes vertentes feministas em diferentes regiões do mundo. Tickner (2001) destaca a contraposição do feminismo tradicional ocidental expondo que, após um histórico de opressão colonial, as regiões sul e oriental possuem necessidades e desigualdades diferentes das estudadas por autores e conhecimentos clássicos ocidentais. Apesar disso, se atenta também para o fato de que, apesar das desigualdades em relações de cor, renda, localização geográfica, ou outras diferenças sociais, as mulheres ainda estarão na margem do alcance das políticas internacionais e abaixo das escalas socioeconômicas em todas as sociedades no mundo (TICKNER, 2001).

Ainda assim, todas as vertentes feministas têm em comum o fato de conseguirem identificar que há diferenças assimétricas na posição de homens e mulheres nas relações sociais e econômicas, e, recentemente, notar que isso também se expande para outras áreas, como questões ambientais. Há a concordância geral de que mulheres são oprimidas pela

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desigualdade em um sistema internacional patriarcal, o que as impede de atuarem com total capacidade nas relações internacionais e de beneficiarem de seus resultados, pelo contrário, são expostas a cenários de insegurança gerados pelas RI.

Considerando a visão machista que coordena o sistema internacional baseada em políticas bélicas e uma visão mais realista das relações internacionais, a visão feminista volta seu enfoque para outras necessidades como promoção de saúde, desenvolvimento sustentável e distribuição de riscos e recursos. Nesse contexto, figuras feministas das relações internacionais buscam mudança no sistema para que este possa favorecer seu crescimento como indivíduos em um cenário de igualdade social, econômica, política e ambiental.

Conforme citado, o Estado nem sempre abre espaço para a participação feminina em decisões políticas. Buscando uma maior participação decisória, o movimento feminista buscou ser ouvido em outros ambientes de abrangência internacional para trabalhar os ideais de gênero de forma global, como as Organizações Internacionais (OIs), instituições importantes nas decisões e debates num mundo globalizado.

2.2 AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS E SEU PAPEL NO PLANEJAMENTO DE OBJETIVOS INTERNACIONAIS

Considerando as teorias de multilateralismo das relações internacionais, uma forma de atingir a segurança coletiva é através da relação de um grupo de Estados com base nos mesmos princípios para atingir seus objetivos através de cooperação institucional (RUGGIE, 1993). Como cita Tickner (2001, p. 106, tradução nossa),

a evolução das práticas e instituições democráticas e suas noções de direitos individuais certamente tiveram benefícios para as mulheres; o conceito de direitos e igualdade eram argumentos importantes para os movimentos de sufrágio do século XIX e início do século XX no Ocidente, bem como para os movimentos de libertação das mulheres e direitos humanos em várias partes do mundo hoje10.

Seguindo as ideias de Ashley (1989) e Sylvester (2002), as organizações internacionais (OIs) são ferramentas importantes para ascensão das mulheres para além das barreiras do Estado, sendo que estas por vezes se apresentam como espaços territoriais onde há protagonismo masculino e dominação sob as mulheres, o que pode ser alterado num cenário

10 “the evolution of democratic practices and institutions and their attendant notions of individual rights have

certainly had benefits for women; the concept of rights and equality were important rationales for the suffrage movements of the nineteenth and early twentieth centuries in the West as well as for movements for women’s liberation and human rights in various parts of the world today”

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onde as fronteiras domésticas e internacionais se mesclam nas decisões políticas integradas como nas OIs.

Nesse sentido, as organizações internacionais exercem o papel de reunir Estados e representantes interessados no debate e consolidação de leis, agendas, e outros meios de manutenção do sistema internacional, através de consentimento internacional, como explica (ALVAREZ, 2005) – os Estados estabelecem os poderes de criação e manutenção de leis das organizações internacionais dos quais são membros, sendo estas organizações livres para ação até os limites que lhe são estabelecidos (considerando a soberania de cada Estado), agindo internacionalmente.

Apesar de criadas pelos Estados e terem poderes delimitados pelos mesmos, as OIs por vezes se tornam instrumentos de autonomia e autoridade sobre as ações internacionais, que, de acordo com Barnett e Finnemore (1999), se dão por dois motivos principais: 1) legitimidade da autoridade legal que possuem e 2) controle sobre fontes tecnologia e informação, dando as OIs poder de deliberação e manutenção internacional que não necessariamente depende do consenso os Estados.

Assim, as OIs se refletem como um órgão de promulgação das vontades dos Estados e/ou outros atores internacionais envolvidos (BARNETT e FINNEMORE, 1999), adquirindo um papel importante na promulgação de normas e padrões globais, indicando o início de uma sociedade global que segue ações semelhantes para adquirir um objetivo comum num senso de comunidade para além do Estado (LINKLATER, 1996).

É a partir desta ideia de senso comunitário e com objetivo teórico de cessar os malefícios causados pelos impactos das guerras, ao notar as consequências do fim da Segunda Guerra Mundial, que os Estados pretendem e estabelecem a Organização das Nações Unidas (ONU), através da assinatura da Carta das Nações Unidas em junho de 1945, que citam a sua finalidade de

“preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla” (ONU, 1945, p. 3)

Para cumprir tais compromissos, os Estados assinantes se comprometem a unir forças e dispõe artigos que definem seus princípios, composição e objetivos. Nesse contexto, são estabelecidos os princípios de manutenção de paz e segurança, igualdade de direitos entre os

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povos através da “cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião” (ONU, 1945, p. 5-6), como uma ferramenta para alcançar objetivos em comum.

A organização se apresenta como “o principal fórum para tratar de questões que transcendem as fronteiras nacionais e não podem ser resolvidas com ações isoladas de cada país” que “enquanto a resolução de conflitos e a manutenção da paz continuam a ser os seus esforços mais visíveis (...) junto com suas agências especializadas, também está envolvida numa extensa rede de atividades para melhorar a vida de pessoas em todo o mundo – em temas distintos como desastres, educação, avanço das mulheres, usos pacíficos da energia atômica, entre outros” (ONU, 2018d). Sendo a organização, portanto, uma importante ferramenta de definição de objetivos internacionais, atentando às questões que impedem o pleno desenvolvimento sustentável doméstico, regional e internacional.

É no contexto das Nações Unidas que algumas discussões internacionais para as mulheres são abordadas e esforços são inicialmente unidos para inserção da mulher nos debates internacionais. A exemplo disto esteve o ano de 1975 como início da Década da Mulher, que durou até 1985, contexto no qual foram se iniciaram projetos internacionais para melhor integrar mulheres no processo de desenvolvimento internacional (TICKNER, 2001). Tickner (2001) se baseia em Moser (1989) para expressar três abordagens da participação feminina que as autoras julgam ter sido o principal resultado da Década da Mulher, sendo estas

“a abordagem do bem-estar, que foi concebida para ajudar as mulheres em seus papéis reprodutivos como mães e donas de casa; a abordagem antipobreza, que visava reduzir a pobreza das mulheres por um foco nas necessidades básicas; e a abordagem da eficiência, que começou na década de 1980, coincidentemente com a mudança para a mercantilização e o ajuste estrutural, e procurou integrar as mulheres mais plenamente na economia como trabalhadores” (TICKNER, 2001, p. 104, tradução nossa)11

Nesta década e em outras questões internacionais de gênero, é importante destacar, além das organizações internacionais, o papel das Organizações Não-Governamentais (ONGs) de todas as partes, indivíduos e outros atores internacionais do mundo em colaborar para a tentativa de alcance de igualdade do papel feminino no trabalho, visto que os Estados e ONU

11 “the welfare approach, which was designed to assist women in their reproductive roles as mothers and

housewives; the antipoverty approach, which aimed to reduce women’s poverty by a focus on basic needs; and the efficiency approach, which began in the 1980s, coincidentally with the move to marketization and structural adjustment, and sought to integrate women more fully into the economy as workers”

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ainda se encontravam em um espectro político de dominação masculina incapaz de, por si só, garantir o cenário de igualdade necessário para a promoção feminina (TICKNER, 2001).

A ONU dá destaque também para o papel da organização na tentativa de eliminar a violência contra a mulher em debates internacionais - como a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, que protagoniza a inserção do debate sobre a cultura e tradição como moldes para as relações familiares e de gênero - e caracteriza a instituição como uma organização preocupada com os direitos das mulheres desde sua origem na carta de criação (ONU, 2018c).

Entre outros debates sobre igualdade de gênero no âmbito das Nações Unidas, também é importante abordar a Declaração de Pequim (1995) que, entre as afirmações da instituição, foi reconhecida a necessidade de inserir as perspectivas de gênero em todos seus debates e programas (WEST, 1999). Tal ideia é levada a diante em debates nas mais variadas temáticas no âmbito da ONU, a exemplo do desenvolvimento sustentável, implantado com mais força a partir dos anos 2000 e presente nos objetivos mais recentes da organização.

Entre os impactos recentes mais notáveis de objetivos internacionais elaborados no âmbito da ONU, destacam-se os Objetivos do Milênio (ODM), responsáveis por mudanças de atitude e políticas dos países participantes na intenção de cumprir os mesmos dentro do período planejado (2000-2015).

2.2.1 Objetivos do Milênio

A partir da Declaração do Milênio, apresentada pela ONU em setembro de 2000, foram definidos “alvos concretos, como reduzir para metade a percentagem de pessoas que vivem na pobreza extrema, fornecer água potável e educação a todos, inverter a tendência de propagação do VIH/SIDA e alcançar outros objectivos no domínio do desenvolvimento” (ONU, 2000, p. 2), combatendo ameaças ao planeta em geral em benefícios das gerações futuras.

Os Estados assinantes também afirmam “que, para além das responsabilidades que todos temos perante as nossas sociedades, temos a responsabilidade colectiva de respeitar e defender os princípios da dignidade humana, da igualdade e da equidade, a nível mundial” (ONU, 2000, p. 4), o que é expressado em alguns dos objetivos, buscando reduzir as desigualdades em questões econômicas e de gênero.

Apesar de contar com a participação de 189 países assinantes no “compromisso de lutar contra a pobreza e a fome, a degradação ambiental, a desigualdade de gênero e o vírus da

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Aids” (IPEA, 2010), é notada uma atenção internacional para a necessidade de esforço especial nos países menos desenvolvidos, sendo os objetivos programados para reduzir as desigualdades entre estes e as maiores potências do mundo. Nesse sentido, a Declaração do Milênio ressalta a necessidade de proteção especial a grupos vulneráveis mais expostos às catástrofes naturais, conflitos armados ou outras emergências humanitárias (ONU, 2000).

Também é nesse sentido que a declaração de origem dos ODM expõe a necessidade de “aumentar, em todos os países, a capacidade de aplicar os princípios e as práticas democráticas e o respeito pelos direitos humanos, incluindo os direitos das minorias” (ONU, 2000, p 12), onde também é exposta a necessidade de combater todas as formas de violência contra a mulher e garantir o direito de participação de todos os indivíduos em processos políticos.

Tais objetivos cumprem com os ideais de Caroline Moser (1989), sobre estratégias para igualdade de gênero em países menos desenvolvidos. A autora afirmava que “para muitos profissionais envolvidos em diferentes aspectos do planejamento do desenvolvimento socioeconômico, a falta de estruturas operacionais adequadas tem sido particularmente problemática”12 (MOSER, 1989, p. 1799, tradução nossa). A partir de 2000, os envolvidos na

conquista de igualdade de gênero puderam contar com um espectro de estruturas políticas auxiliadoras como definidas nos ODM.

Através do comprometimento em alcançar um cenário internacional mais igualitário dentro e fora dos Estados, os países assinantes se dispuseram a alcançar, até 2015, os objetivos listados na Tabela 1.

Tabela 1: Objetivos e metas do desenvolvimento do milênio (ODMs, 2000-2015)

OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO (2000 – 2015)

1 - Acabar com a fome e a miséria

1.A Reduzir para metade, entre 1990 e 2015, a proporção da população em pobreza extrema

1.B Alcançar o emprego produtivo e pleno, e trabalho decente para todos, incluindo mulheres e jovens

1.C Reduzir para metade, entre 1990 e 2015, a proporção de população afetada pela fome

2 - Oferecer educação básica de qualidade para todos

2.A Garantir que até 2015, todas as crianças, de ambos os sexos, tenham a oportunidade de completar o ensino primário completo

3 - Promover a igualdade entre os sexos e a

3.A Eliminar a disparidade entre gêneros no ensino primário e secundário, se possível até 2005, e em todos os níveis de

12 “for many practitioners involved in different aspects of socioeconomic development planning, the lack of

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autonomia das mulheres ensino, até 2015 4 - Reduzir a mortalidade

infantil

4.A Reduzir em dois terços, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade abaixo dos cinco anos

5 - Melhorar a saúde das gestantes

5.A Reduzir em três quartos, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade materna

5.B Alcançar, até 2015, o acesso universal a serviços de saúde reprodutiva

6 - Combater a Aids, a malária e outras doenças

6.A Parar até 2015 e começar a inverter a propagação do VIH/SIDA

6.B Alcançar, até 2010, o acesso universal ao tratamento do VIH/SIDA para todos aqueles que dele necessitam

6.C Parar e inverter, até 2015, a incidência da malária e de outras doenças graves

7 - Garantir qualidade de vida e respeito ao meio ambiente

7.A Integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e programas dos países e inverter a perda de recursos ambientais

7.B Reduzir a perda da biodiversidade, alcançando, até 2010, uma redução significativa na taxa de perda

7.C Reduzir para metade, até 2015, a percentagem de população sem acesso sustentável a água potável e saneamento básico

7.D Alcançar, até 2020, uma melhoria significativa nas vidas de pelo menos 100 milhões de habitantes de assentamentos precários

8 - Estabelecer parcerias para o desenvolvimento

8.A Desenvolver um comércio e sistema financeiro aberto, baseado em regras, previsível e não discriminatório

8.B Atender às necessidades especiais dos países menos desenvolvidos

8.C Atender às necessidades especiais dos países sem acesso ao mar em desenvolvimento e dos pequenos estados insulares em desenvolvimento

8.D Tratar de forma integrada o problema da dívida dos países em vias de desenvolvimento

8.E Em cooperação com as empresas farmacêuticas, facultar o acesso dos países em vias de desenvolvimento a medicamentos essenciais a preços acessíveis

8.F Tornar acessíveis os benefícios das novas tecnologias, em especial das tecnologias de informação e comunicação, em cooperação com o setor privado

Fonte: Elaborada pela autora, baseado em ONU (2015a) e IPEA (2014).

Além da preocupação internacional com a fome e extrema pobreza (ODM 1), acesso à educação (ODM 2), melhoria da saúde públicas (ODMs 4 e 6), cuidado com o meio ambiente (ODM 7) e estabelecimento de parcerias para cumprimento dos demais objetivos (ODM 8), é notável um reconhecimento desde 2000 da necessidade de melhoria do cenário de igualdade

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