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Assistência prestada por profissionais de saúde à mulher em situação de abortamento

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Assistance provided by health professionals to women in

situations of abortion

Assistência prestada por profissionais de saúde à mulher em situação de abortamento Asistencia prestada por profesionales de la salud a la mujer en situación de aborto

ABSTRACT

Objective: To analyze the assistance provided by health professionals working in a public maternity to women in situations of abortion. Methodology: An exploratory, quantitative study, developed with 42 health professionals, carried out through the application of a questionnaire. Results: It was verified that 83.3% of the professionals surveyed already attended women in situations of abortion. Regarding the situation in front of a woman in this situation, 44.8% stated that they were providing care and talking with the patient about the case, and 26.5% reported that, in the event of such occurrence, they did the care but did not discuss it with anyone. Regarding the questioning regarding the professional who reported the fetal and neonatal death to the woman, it was verified that most of the interlocutors mentioned that the nurse is the one who makes the most communication. These findings indicate that the performance of the professionals has not been unsatisfactory, but needs to be improved. Conclusion: It is necessary to change the behavior of health professionals who assist women in abortion, and such changes must be guided by the process of humanization.

RESUMO

Objetivo: Analisar a assistência prestada por profissionais de saúde atuantes em uma maternidade pública à mulher em situação de abortamento. Metodologia: Estudo avaliativo, exploratório, de abordagem quantitativa, desenvolvido com 42 profissionais de saúde, realizado por meio da aplicação de um questionário. n: Verificou-se que 83,3% dos profissionais pesquisados já atenderam mulheres em situação de abortamento. Quanto à atuação frente a uma mulher nessa situação, 44,8% afirmaram atuar prestando atendimento e conversando com a paciente sobre o caso e 26,5% relataram que diante de tal ocorrência realizam o atendimento, mas sem conversar sobre o assunto com ninguém. Quanto ao questionamento referente ao profissional que noticia o óbito fetal e neonatal à mulher, verificou-se que a maior parte dos interlocutores referiu ser o enfermeiro quem mais realiza tal comunicado. Tais achados indicam que a atuação dos profissionais não tem sido insatisfatória, contudo precisa ser melhorada. Conclusão: Tornam-se necessárias mudanças de comportamento por parte dos profissionais de saúde que assistem à mulher em situação de abortamento, sendo que tais mudanças devem ser norteadas permanentemente pelo processo de humanização.

RESUMEN

Objetivo: Analizar la asistencia prestada por profesionales de salud actuantes en una maternidad pública a la mujer en situación de aborto. Metodología: Estudio evaluativo, exploratorio, de abordaje cuantitativo, desarrollado con 42 profesionales de salud, realizado a través de la aplicación de un cuestionario. Resultados: Se verificó que el 83,3% de los profesionales encuestados ya atendieron a mujeres en situación de aborto. En cuanto a la actuación frente a una mujer en esa situación, 44,8% afirmaron actuar prestando atención y conversando con la paciente sobre el caso y el 26,5% relataron que ante tal ocurrencia realizan la atención, pero sin conversar sobre el asunto con nadie. En cuanto al cuestionamiento referente al profesional que notifica el óbito fetal y neonatal a la mujer, se verificó que la mayor parte de los interlocutores refirió ser el enfermero quien más realiza dicho comunicado. Estos resultados indican que la actuación de los profesionales no ha sido insatisfactoria, pero necesita ser mejorada. Conclusión: Se hacen necesarios cambios de comportamiento por parte de los profesionales de salud que asisten a la mujer en situación de aborto, siendo que tales cambios deben ser guiados permanentemente por el proceso de humanización.

Francidalma Soares Sousa Carvalho Filha¹ Ianeska Bárbara Ribeiro do Nascimento² Marcus Vinicius da Rocha Santos da Silva³ Raimunda de Paula de Castro4

Laiane Sousa da Costa5

Elaine Ferreira do Nascimento6

ISSN: 2447-2301

Descriptors Abortion. Assistance. Health

professionals. Woman.

Descritores Abortamento. Assistência. Profissionais de saúde. Mulher.

Descriptores Asistencia. Profesionales de la

salud. Mujer.

Sources of funding: No Conflict of interest: No

Date of first submission: 2017-10-18 Accepted: 2017-11-01

Publishing: 2017-12-28

Corresponding Address

Marcus Vinicius da Rocha Santos da Silva. Endereço: Rua Aarão Reis, 1000, Bairro: Centro, CEP: 65600-000. Telefone: (99) 981759290.

E-mail:

marcusvinicius.darocha@yahoo.c om.br

¹Enfermeira. Doutora em Saúde. Docente da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão (FACEMA). Caxias, Maranhão, Brasil. Email: francidalmafilha@gmail.com

²Acadêmica de Enfermagem da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão (FACEMA). Caxias, Maranhão, Brasil. Email:

ianeska@outlook.com

³Enfermeiro. Especialista em Docência do Ensino Superior pelo Instituto de Ensino Superior Franciscano (IESF). Caxias, Maranhão, Brasil. Email: marcusvinicius.darocha@yahoo.com.br

4Acadêmica de Enfermagem da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão (FACEMA). Caxias, Maranhão, Brasil. Email:

paulinhacx1@hotmail.com

5Acadêmica de Enfermagem da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão (FACEMA). Caxias, Maranhão, Brasil. Email:

laianesousa309@gmail.com

6Assistente Social. Doutora em Ciências. Pesquisadora da Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ). Docente da Faculdade de Ciências e

ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE / ORIGINALE

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INTRODUÇÃO

O abortamento é conceituado como a interrupção da gestação até a 20ª ou 22ª semana de gravidez e com expulsão do concepto com peso abaixo de 500 gramas e/ou estatura inferior ou igual a 25 cm. O aborto é a expulsão do produto da concepção e quanto à etiologia pode ser classificada

como aborto espontâneo ou provocado/induzido (1).

O aborto provocado/induzido, ou

interrupção voluntária da gravidez, é percebido mundialmente como um problema de saúde pública, pois acomete mulheres de todas as etnias e classes sociais, sobretudo aquelas com maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde e menores recursos

econômicos e sociais (2-3).

A maior parte dos abortos com complicações ou sequelas irreversíveis acontece em

países em desenvolvimento4. Observa-se que nos

países em desenvolvimento e nos países em que o aborto é ilegal, devido às condições inseguras em que são realizados, ainda encontram-se números

grandiosos e índices altos de mortalidade materna5.

Salienta-se que estas informações reiteram que o aborto é efetivamente um problema de grande

magnitude (1,4).

Infelizmente não existem dados precisos acerca da dimensão do problema do aborto, sobretudo em nações onde o mesmo é criminalizado, como no Brasil. Portanto, de maneira geral, somente nos casos em que ocorrem complicações médicas voltadas para a saúde da mulher ou são descobertos e, por alguma razão têm chances de serem punidos, os mesmos são contabilizados, por isso, geralmente se trabalham com meras estimativas e subnotificações, não existindo registros e investigações em todas as

situações concretas ou mesmo nas tentativas (6).

Pesquisadores descrevem que a ocorrência de abortamento no Brasil decorre do agrupamento de inúmeros fatores, tais como: planejamento reprodutivo inócuo, compreendendo carência de informações acerca da anticoncepção, dificuldade de acesso aos métodos, falhas na sua utilização e

acompanhamento deficiente por parte dos serviços

de saúde (7).

Destarte, considera-se essencial que os profissionais de saúde propiciem um atendimento humanizado e qualificado à mulher hospitalizada por complicações de abortamento, focalizando, especialmente as ações de promoção da saúde e interação com o propósito de fomentar a autonomia da mulher, evitar a reincidência de gestações não planejadas, qualificar o cuidado e contribuir na redução da demanda e dos custos destinados ao

tratamento do processo abortivo (8).

Destaca-se que o atendimento qualificado à mulher solicita profissionais de saúde integrados quanto aos aspectos técnicos, éticos e legais do aborto, evitando-se o julgamento e o preconceito

(9). Nessa lógica, a comunicação representa uma

ferramenta imprescindível para uma educação efetiva, simbolizando o alicerce dos referidos profissionais, e é apresentada nos aspectos éticos, profissionais e jurídicos da atenção humanizada ao

abortamento (1).

Assim, o objetivo deste artigo é analisar a assistência prestada por profissionais de saúde atuantes em uma maternidade pública à mulher em situação de abortamento.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo avaliativo, exploratório, com abordagem quantitativa. O cenário da pesquisa foi uma maternidade pública situada em um município do interior do Maranhão. O referido hospital materno foi escolhido por se tratar da maior oferta deste tipo de serviço da região, chegando a atender pacientes de 48 municípios adjacentes. Os sujeitos da pesquisa foram 42 profissionais de saúde atuantes no Pré-parto e Centro Obstétrico da referida maternidade.

Reitera-se que a escolha da referida maternidade deveu-se ao fato de que, pelo exorbitante número de óbitos fetais e neonatais, o Estado interveio, por meio de uma ação de fiscalização da Vigilância Sanitária, que por sua vez,

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instigou uma ação do Ministério Público, solicitando a tomada de decisões com vistas a diminuir tais acontecimentos.

Os participantes da pesquisa foram profissionais atuantes nos setores de Pré-parto, Centro Obstétrico e Classificação de Risco, totalizando 42 participantes, dos quais: 02 médicos, 15 enfermeiros e 25 técnicos de enfermagem.

Os critérios de inclusão dos interlocutores foram: atuarem profissionalmente nos setores de pré-parto e centro obstétrico da referida instituição e aceitarem de livre e espontânea vontade participar da pesquisa. Foram excluídos da investigação os profissionais que não estiveram em consonância com pelo menos um dos itens supracitados.

A coleta de dados ocorreu no período de outubro de 2015 a fevereiro de 2016, por meio da utilização de um questionário. Após a aplicação do instrumento, as informações obtidas foram

organizadas em tabelas, sendo realizadas

inferências simples e consolidadas por meio das técnicas de estatísticas descritivas (frequências absoluta e relativa); procedendo-se a análise e discussão dos achados com base na literatura produzida sobre o tema.

O projeto de pesquisa foi submetido à Plataforma Brasil, e, em seguida, direcionado ao

Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) com Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE) nº 42337014.3.0000.5554 e aprovado com Número do

Parecer: 1.153.280. Salienta-se que os

pesquisadores comprometeram-se com as normas preconizadas pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde 466/12 e suas complementares.

RESULTADOS

Ao serem indagados se já haviam prestado assistência a mulheres em situação de abortamento, 35 (83,3%) profissionais responderam de forma afirmativa. Quando questionados se havia sido realizada a investigação do abortamento, 28 (66,7%) negaram, 13 (30,9%) referiram que a mesma foi desenvolvida e 1 (2,4%) não soube responder. E quando interpelados sobre a existência de uma ficha ou outro método investigativo de causas de abortamentos, 30 (71,4%) negaram. No que tange à conduta que os profissionais assumem quando estão diante de uma mulher em situação de abortamento, 22 (44,8%) sujeitos responderam que atendem e conversam com a mulher sobre o caso e 13 (26,5%) disseram atender e não falar nada sobre o assunto com ninguém (Tabela 1).

Tabela 1 – Dados relativos à assistência às mulheres em situações de abortamento, no período de 2010 a 2014. Caxias-MA, 2016.

VARIÁVEIS N %

Assistiu mulheres em situação de abortamento na maternidade pesquisada?

Sim 35 83,3

Não 7 16,7

Na referida maternidade é realizada investigação de casos de Abortamento?

Sim 13 30,9

Não 28 66,7

Não sabe responder 1 2,4

Na referida maternidade existe ficha ou outro método de investigação de abortamento?

Sim, existe uma ficha e/ou outro método 2 4,8

Não existe uma ficha e nem outro método 30 71,4

Não sabe se existe uma ficha e/ou outro método 10 23,8

Qual sua conduta frente a uma mulher em situação de abortamento?

Recusa-se a atender 1 2,1

Atende e conversa com a mulher sobre o caso 22 44,8

Atende e conversa com familiares/acompanhante sobre o caso 7 14,2

Atende e não fala sobre o assunto com ninguém 13 26,5

Formaliza a denúncia ao Ministério Público 3 6,2

Outra 3 6,2

Quando ocorre óbito fetal e/ou neonatal quem dá notícia a mulher/família

Médico 22 34,9

Enfermeiro 33 52,7

Psicólogo 2 3,1

Assistente Social 2 3,1

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Por fim, ao serem questionados sobre o profissional que dá a má notícia, isto é, faz a comunicação do óbito fetal e/ou neonatal à mulher/família, 33 (52,7%) participantes responderam que é o (a) enfermeiro (a), 22 (34,9%) citaram o (a) médico(a), apenas 2 (3,1) mencionaram ser o (a) assistente social e o mesmo quantitativo informou ser o psicólogo, inferior ao número (4 – 6,2%) foi atribuído a (ao) auxiliar/técnico de enfermagem.

DISCUSSÃO

Em relação ao questionamento sobre o atendimento prestado às mulheres em situação de abortamento, constatou-se que mais de 80% dos profissionais responderam de forma afirmativa. Esse achado demonstra que a maioria expressiva dos profissionais questionados, em algum momento, já prestou assistência a mulheres nesse tipo de situação e aponta para a necessidade desses trabalhadores

estarem preparados para lidar com esses

acontecimentos.

O aborto é considerado por alguns pesquisadores uma ocorrência comum entre as mulheres, pois verificaram que ao final da vida reprodutiva mais de um quinto das mulheres no Brasil urbano fez aborto. Os dados mostram também que os níveis de internação pós-aborto são elevados e o colocam como um problema de Saúde Pública, pois cerca de metade das mulheres recorreram ao sistema de saúde e foram internadas por complicações

relacionadas ao abortamento (10).

O aborto realizado em condições perigosas viabiliza o aumento das chances do surgimento de complicações, inclusive o óbito. Pesquisa realizada em um município do Rio de Janeiro demonstrou que, de 22 casos de aborto examinados, 12 apresentaram algum tipo de complicação, sendo as principais: hemorragia, cólica, desmaio, febre e dores. Destaca-se que a integralidade do cuidado é uma importante ferramenta para que os profissionais de saúde amparem as suas práticas e possam disponibilizar a essa mulher bases e caminhos para que ela tenha acesso aos serviços de planejamento reprodutivo,

incluindo a prevenção de novas ocorrências de aborto, devendo estabelecer um diálogo fundamentado no

respeito e isento de preconceitos (11).

É fato que a assistência à saúde materna e perinatal no Brasil precisa progredir. Entende-se que a construção da maternidade segura exige a atuação respaldada de profissionais de saúde preparados, a partir do prisma da promoção da saúde, favorecendo a implementação de uma rede de cuidados segura. Por essa razão, recomendam-se modificações na qualidade do atendimento direcionado às necessidades das mulheres por meio da capacitação e valorização dos

trabalhadores que atuam na área da saúde (12).

Outras informações importantes obtidas na presente investigação referem-se à constatação de que a maior parte dos profissionais relatou a não realização de investigação em casos de abortamentos e a inexistência de fichas ou de outros métodos investigativos de causas de abortamentos na maternidade pesquisada. Acerca essa temática, menciona-se que no Brasil existem fichas de averiguação de óbitos fetais, infantil (também usadas para as investigações neonatais) e materna. Entretanto, oficialmente para todo o território nacional, um instrumento de investigação das causas de abortamentos ainda não foi concebido e distribuído; por essa razão, somente por iniciativa individual de alguns serviços hospitalares são adotados alguns tipos de registro. Tal situação predispõe cada vez mais as mulheres a condições inapropriadas de atenção à saúde, de falta de acesso a métodos contraceptivos para evitar abortamentos de repetições, além de atentar contra a vida do concepto e das mulheres em

tentativas frustradas de abortamento (13).

Salienta-se também que mais de 44% dos profissionais questionados referiu que diante de uma mulher em situação de abortamento atua prestando atendimento e conversando sobre o caso e 26,5% dos profissionais relataram que diante de tal ocorrência realizam o atendimento, mas sem conversar sobre o assunto com ninguém. Esses achados indicam que a atuação dos profissionais não tem sido insatisfatória, todavia ainda precisa ser melhorada. Portanto, existe uma longa trajetória a ser percorrida para que a

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assistência prestada às mulheres seja genuinamente integral, sendo alicerçada pelo diálogo e pela escuta qualificada.

Análise realizada em uma maternidade da rede pública estadual da cidade de Salvador demonstrou que os profissionais de enfermagem abordados compreendem o abortamento como crime e pecado. Os estudiosos da pesquisa supracitada

verificaram também que a assistência é

discriminatória, sendo negado o direito da mulher se expressar. Destarte, enfatiza-se que a ausência de diálogo nos serviços de atendimento torna mais distante a possibilidade de assistência humanizada, fazendo da implantação da política de humanização da assistência às mulheres em processo de aborto

provocado um desafio (14).

Corroborando isso, outros autores, ao investigar a concepção de enfermeiros sobre o aborto, constataram um cuidado imbuído de atritos entre posicionar-se contra o aborto, apoiar as mulheres ou

manter-se na neutralidade (15). Destaca-se que muitas

vezes as concepções dos profissionais acerca do abortamento, bem como a maneira com que tratam as mulheres e prestam a assistência pode repercutir positiva ou negativamente no posicionamento das mulheres que passaram por esta situação.

Os resultados de outro estudo, que analisou as percepções dos profissionais de saúde de um hospital municipal do Rio de Janeiro sobre a atuação diante das situações de aborto legal, apontaram para o uso inadequado do direito à objeção de consciência por parte dos trabalhadores, a existência de diferentes dificuldades dos sujeitos na construção de uma postura capaz de garantir o acesso ao aborto previsto em lei, e a interferência dos princípios éticos e dos valores religiosos como um elemento importante na postura profissional que desestimula a prática do aborto legal. Nesse sentido, a formação continuada dos profissionais e a monitorização dos atos condizentes com normas técnicas constituem fatores importantes para que os profissionais exerçam suas atribuições de forma

coerente, ética e responsável (16).

Quanto ao questionamento referente ao profissional que noticia o óbito fetal e neonatal à

mulher/família, verificou-se que a maior parte dos interlocutores referiu ser o enfermeiro quem mais realiza tal comunicado. Esse achado diverge das informações obtidas em outras pesquisas, nas quais o profissional médico foi considerado o trabalhador que

mais atua neste tipo de noticiamento (17-18).

Menciona-se que a comunicação da morte ou de qualquer outro evento, como uma doença grave e/ou letal, que cause tristeza e sofrimento em quem

recebe a informação é denominada má noticia (19).

Estudiosos ressaltam que a má notícia faz parte do cotidiano dos profissionais de saúde, e que os mesmos enfrentam esse momento difícil e desconfortante não por opção, mas para garantir o profissionalismo e o compromisso que escolheu ao decidir por essa profissão. Diante esse cenário os autores relatam ainda que transmitir esse tipo de noticia é uma situação delicada, podendo resultar em repercussões físicas, sociais e psíquicas, tanto em quem anuncia, como em

quem recebe o comunicado (18).

O fato é que comunicar uma má noticia principalmente quando diz respeito ao óbito de uma pessoa querida e esperada pela família, como é o caso de um concepto, feto ou recém-nascido, não tarefa fácil. Por isso, a abordagem precisa ser bem articulada e planejada, exigindo do profissional responsável pela função, o uso de palavras adequadas para não tornar mais difícil a ação, pois a comunicação pode gerar uma condição de grande impacto à pessoa que a recebe, inclusive atribuindo ao profissional que a comunicou a

culpa pelo infortúnio (13).

Desta maneira, os trabalhadores de saúde precisam prestar uma assistência segura, livre de complicações, aproveitando para conversar com a mulher sobre as situações que levaram ao abortamento, bem como orientando sobre métodos contraceptivos, ou o incentivo oportuno a outras gestações, quando for o caso; além de falar sobre o direito à vida e ao nascimento saudável, com o intuito de empoderar a mulher a escolher se e quando quer gestar, e, em caso positivo, saiba proteger a integridade do concepto.

Portanto, estas discussões levam a crer que o abortamento precisa ser prioridade na agenda de

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saúde pública nacional e que devem ser criados e implantados meios adequados para se investigar as causas, inclusive como forma de tentar evitá-los com vistas a proteger o binômio mãe-concepto, sobretudo este último, que, de modo direto, não tem quem o defenda, já que em caso de aborto provocado, a própria genitora, na maioria das vezes, consente em atentar contra a sua vida e saúde.

CONCLUSÃO

Esta investigação revelou que a maior parte dos profissionais pesquisados já atendeu mulheres em situação de abortamento e a principal conduta mencionada pelos mesmos diante de tal situação envolve atendimento e conversas com as mulheres sobre o ocorrido. Entende-se que é necessário estabelecer ações que viabilizem a atenção à saúde da mulher de forma ampla, considerando suas reais necessidades, para que haja diminuição dos riscos.

Ademais, o estudo aponta para a necessidade da implantação das políticas públicas relativas à assistência à mulher, focalizando a relação dialógica entre profissional e paciente. Nesse sentido, tornam-se necessárias mudanças de comportamento por parte dos profissionais que assistem à mulher, com a assimilação da propositura de humanização, sobretudo nos aspectos relacionais entre profissional e cliente.

Recomenda-se para a prática de enfermagem a instrumentalização por meio de capacitações profissionais que possibilitem o aprimoramento de habilidades e conhecimentos específicos acerca da assistência humanizada, estimulando a sensibilização para o atendimento que respeite os direitos humanos sexuais e reprodutivos e os fundamentos bioéticos nesse contexto. Finalmente, sugere-se a elaboração de novos estudos sobre a temática, para que seja possível melhorar o atendimento fornecido à mulher em situação de abortamento sob a ótica da humanização.

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