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Tendência temporal de internações por queda em idosos na região sul do Brasil, 2008-2018

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REVISTA: ARQUIVOS CATARINENSE DE MEDICINA

Título: Tendência temporal de internações por quedas em idosos, na Região Sul do

Brasil, 2008-2018.

Trends in hospital admissions due to fall in elderly in South of Brazil, 2008-2018.

Luisa Souza Zarske de Mello

1

Nazaré Otília Nazário

2

1

Curso de Medicina. Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus Pedra Branca.

Santa Catarina, Brasil.

2

Doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil.

Professor do Curso de Medicina da Universidade, do Sul de Santa Catarina, Brasil.

Endereço eletrônico (e-mail) e telefone dos autores:

Luisa Souza Zarske de Mello e-mail: luisazarske@hotmail.com – (47) 9987-4183

Nazaré Otília Nazário e-mail: nazare.nazario@unisul.br – (48) 98423-1728

Autoras para contato:

Luisa Souza Zarske de Mello e-mail: luisazarske@hotmail.com

Avenida Pedra Branca, 1315, apto 304 – Palhoça-SC CEP: 88137270

Telefone: (47) 9987-4183

Nazaré Otília Nazário e-mail: nazare.nazario@unisul.br

Avenida Pedra Branca, 25 – Palhoça-SC CEP: 88137270

Telefone: (48) 3279-1016

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Resumo: As quedas na população idosa representam a segunda principal causa de morte acidental

no mundo e são consideradas um problema de saúde pública devido às suas repercussões socioeconômicas, em um cenário global de envelhecimento. O estudo teve como objetivo analisar a tendência temporal de internações por quedas em idosos nos estados da região Sul do Brasil, no período entre 2008 a 2018. Estudo ecológico de séries temporais. Os dados foram coletados no banco de domínio público do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), disponibilizado pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde. Os dados foram analisados no programa SPSS 18.0. Para a análise das tendências temporais de internações foram utilizados os coeficientes padronizados por método direto e a regressão linear simples. Entre 2008 e 2018, houve aumento na tendência geral de internações por queda em idosos na Região Sul do Brasil. O sexo feminino apresentou aumento mais significativo. A faixa etária de indivíduos com 80 anos ou mais apresentou maior incremento anual e tendência crescente de internações. Santa Catarina obteve crescimento linear e a maior taxa média de internações por quedas entre idosos, enquanto os demais estados apresentaram taxas menores e irregulares. Por ser considerada um problema de saúde pública, são essenciais intervenções do Estado por meio de políticas de prevenção, vigilância e promoção da saúde do idoso.

Palavras-chave: Quedas. Idosos. Tendência de internações.

Abstract: Falls among elderly represents the second leading cause of accidental death in the

world and are considered a public health issue due to its socio economic repercussions, in a global aging scenario. The purpose of the study was to analyze the trends in hospital admission due to fall in elderly in the states of South of Brazil, between 2008 and 2018. Data were collected from the public domain database of the hospital information system (Sistema de Informação Hospitalar - SIH), made available by the department of informatics of the Brazilian unified health system, SUS. Data were analyzed in the Statistical Package for the Social Sciences 18.0 program. For the analysis of the time trends in mortality, the coefficients of mortality standardized by the direct method and simple linear regression were used. Between 2008 and 2018, there was an increase of trend in hospital admission due to fall in elderly in South of Brazil. The female gender had the most significant increase. The group age of individuals with 80 years or over had a larger annual increase and rising trends in hospital admission. Santa Catarina had linear increase and a higher rates of hospital admission among elderly, whereas the other states had lower and irregular rates. Considering that it is a public health problem, state interventions through public policies to prevent, monitor and promote health for the elderly are essential.

Key-words: Fall. Elderly. Trend in hospital admission.

Introdução

Queda é definida como um deslocamento não intencional do indivíduo para nível inferior à sua posição inicial, sem possibilidade de reparação em tempo hábil, devido a circunstâncias diversas que comprometem sua estabilidade(1). Possui etiologia multifatorial, decorrente de

fatores intrínsecos, extrínsecos e comportamentais, tais como as condições patológicas, as modificações fisiológicas e os efeitos colaterais de fármacos, além do próprio contexto socioambiental do idoso e do grau de exposição ao risco de queda(2).

Projeções para 2060, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), indicam que mais de 25% da população total brasileira será de idosos(3). Com o envelhecimento e as

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transformações orgânicas, inerentes a esse processo, o idoso torna-se mais frágil e susceptível a eventos traumáticos, entre eles as quedas(4,5). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),

aproximadamente 37.3 milhões de quedas graves o suficiente para necessitar atenção médica ou hospitalização ocorrem anualmente no mundo(6).

Em 2015, nos Estados Unidos da América (EUA), o custo direto total estimado para o tratamento de quedas não fatais foi expressivo, de 31,3 bilhões de dólares(7). Para idosos de 65

anos ou mais, o custo médio de tratamento para cada lesão causada por queda, na Finlândia e na Austrália, é de 3.611,00 dólares e 1049,00 dólares, respectivamente(6).No Canadá, quedas são

responsáveis por 85% das hospitalizações por acidentes em idosos. De acordo com a Agência de Saúde Pública do Canadá, entre os anos de 2006 e 2011, o número total de hospitalizações relacionadas às quedas passou de 67.899 para 78.330, o que representa um aumento de 15% nesse período(8). Estudo realizado em 2014 verificou que aproximadamente 20% dos idosos canadenses

tiveram pelo menos um episódio de queda no ano anterior, com maior prevalência, acima de 22%, no sexo feminino(9).Entre os anos 1997 e 2016, na Holanda, houve um aumento de 59% das

internações relacionadas a acidentes com quedas(10).

No Brasil, entre os anos de 1996 e 2012, houve um aumento das taxas de internações por quedas de 2,58 para 41,37/10.000 idosos; a região com a maior taxa média foi a Centro-Oeste, com 42,08(11). Em 2013, foram notificadas no Sistema Único de Saúde (SUS) 93.312 internações

devido a quedas, em indivíduos acima de 60 anos de idade, com mortalidade de 8.775 pela mesma causa(12). A partir das informações oriundas do Sistema de Informações Hospitalares (SIH),

estudo brasileiro, realizado em 2015, constatou que o custo médio de tratamento cirúrgico por fraturas de quadril, uma das mais frequentes consequências de quedas, foi de R$5.132,31 por paciente idoso(13). Na região Sul, estudo analítico, realizado no Rio Grande do Sul (2012),

constatou que 53% dos idosos relataram um episódio de queda nos 6 meses anteriores, 37.8% no sexo feminino e 15.2% no sexo masculino(14). Já, na capital de Santa Catarina, Florianópolis, dos

1705 integrantes de um estudo iniciado em 2009, 18.8% (322) relataram ter sofrido queda no último ano, destes 234 do sexo feminino(15).

Assim, políticas públicas para garantia da segurança social e econômica da população idosa são indispensáveis no contexto de envelhecimento global. No Brasil, a Constituição Federal (1988), a Política Nacional do Idoso (1994) e o Estatuto do Idoso (2003) asseguram o dever do Estado na promoção da saúde dos idosos(16). Em 2006, a Política Nacional de Saúde da Pessoa

Idosa (PNSPI), em consonância com os princípios do SUS, reiterou a necessidade de viabilizar o envelhecimento saudável(17). Em relação aos acidentes com quedas, o Protocolo de Prevenção de

Quedas do Ministério da Saúde (2013) tem por objetivo reduzir esses eventos, através de recomendações simples, como a adequação de pisos e calçados, além de medidas relacionadas aos fatores de risco para cada indivíduo(18).

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Diante do novo cenário demográfico mundial e da magnitude das repercussões dos acidentes com queda em idosos, o conhecimento da tendência temporal de internações relacionadas ao evento poderá contribuir para a sua prevenção, favorecendo a promoção de qualidade de vida e a autonomia na terceira idade. Logo, os resultados do estudo podem ser importantes para contribuir no planejamento de ações públicas de vigilância da saúde integral do idoso. Portanto, o objetivo desse estudo foi analisar a tendência temporal de internações por queda em idosos, na região Sul do Brasil, entre os anos de 2008 e 2018.

Metodologia

Trata-se de um estudo ecológico de série temporal realizado na região Sul do Brasil, formada pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grade do Sul, a partir de dados obtidos a no Sistema de Informações Hospitalares(19) do Departamento de Informática do SUS

(DATASUS)(12). A população foi composta por dados de 194.276 indivíduos com 60 anos ou

mais, com registros de internação hospitalar por queda, entre os anos de 2008 e 2018, segundo sexo, faixa etária e estados da região Sul do Brasil.

A base de dados utilizada é disponibilizada pelo SIH-SUS(19) e acessada no endereço

eletrônico http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sih/cnv/fipr.def. Os dados foram exportados no formato csv (comma-separated values) e selecionados de acordo com a Classificação Internacional de Doenças e Problemas relacionados à Saúde (CID-10), sob os códigos W00 a W19(20), pertencentes ao grupo de quedas.

A variável independente do estudo foi o ano em que as informações foram coletadas (2008-2018). As variáveis dependentes incluíram: sexo (masculino/feminino), faixa etária (60-69, 70-79, 80), e estados da região Sul (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul).

Os dados foram tabulados no software Windows Excel e após analisados por meio do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) Version18.0. [Computer program]. Chicago: SPPS Inc; 2009. A taxa geral de internações foi calculada por meio da razão entre o número de notificações de internações por quedas e a população total dos estados da região Sul, multiplicado por 100.000 habitantes. As taxas específicas foram calculadas por meio da razão entre o número de notificações de internações por quedas segundo sexo, faixa etária e estado da região Sul e a população referente, multiplicado por 100.000 habitantes. Para a análise da tendência temporal de internações por quedas foram utilizadas as taxas e o método de regressão linear simples. Para examinar o comportamento (aumento, queda ou estabilidade) e a Variação Média Anual do coeficiente de internações, foi avaliado o valor (positivo ou negativo) e a significância estatística do coeficiente de regressão (β). A significância estatística do modelo foi testada para o valor de p<0,05.

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Por tratar-se de estudo com banco de dados de domínio público não houve a necessidade de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa. Os pesquisadores declaram ausência de conflitos de interesse.

Resultados

As características sociodemográficas dos participantes do estudo, idosos com registros de internações por quedas, estão descritas na Tabela 1. Constatou-se uma taxa geral média de 533,98/100.000 habitantes, com um incremento anual de 28,377 (r=0,97, R2=0,95, p<0,001). O

sexo feminino evidenciou taxa média mais elevada (588,91/100.000 habitantes), assim como a faixa etária de 80 anos ou mais (1.148,32/100.000 habitantes). Dentre os estados estudados, Santa Catarina teve taxa média de 703,1/100.000 habitantes, resultado discrepante, quando comparado com os estados vizinhos, com um incremento anual de 42,288 (r=0,98, R2=0,97, p<0,001).

A tendência temporal de internações por quedas em ambos os sexos foi crescente, manteve proporções semelhantes ao longo dos anos estudados, porém com taxa média maior no sexo feminino, de até 730,7/100.000 habitantes, em 2018. No sexo masculino, a taxa média inicial foi de 316,1 (2008) e a final de 550,4/100.000 habitantes (2018), enquanto no sexo feminino foi 393,7 (2008) e 730/100.000 habitantes (2018) (Figura 1).

Em relação às faixas etárias, indivíduos com 80 anos ou mais obtiveram crescimento linear, atingiram taxa média que variou de 707,5 (2008) a 1.407,20/100.000 habitantes (2018), o incremento anual foi de 71,544 (r=0,95, R2=0,91, p<0,001) (Figura 2, Tabela 1).

Ao analisar os três estados do Sul do Brasil, o estudo verificou que em Santa Catarina, a tendência temporal de internações foi crescente, com taxas médias elevadas, chegando a 917,5/100.000 habitantes em 2018, enquanto nos outros estados da região Sul houve oscilação de valores, com manutenção de taxas médias e variações menores ao longo do período estudado. No Paraná, a taxas médias inicial e final foram, de 328,3 (2008) e 577/100.000 habitantes (2018), em Santa Catarina de 521,9 (2008) e 917,5/100.000 habitantes (2018) e no Rio Grade do Sul de 311,80 (2008) e 588,3/100.000 habitantes (2018), respectivamente. (Figura 3).

Discussão

Quedas na população idosa se apresentam como um problema de saúde pública. Em um cenário de transição demográfica, e processo de envelhecimento mundial, a incidência é crescente. Cerca de 1/3 dos idosos com 65 anos ou mais que vivem na comunidade sofrem uma queda anualmente, e destas, 50% são recorrentes(21). Em virtude de suas significativas

repercussões socioeconômicas, quedas são consideradas uma das síndromes geriátricas mais preocupantes(22). Lesões relacionadas a elas são a principal causa de morbidade entre idosos no

mundo e correspondem à maioria das consultas em pronto-atendimentos, além das internações hospitalares(23). Nos EUA, o custo total gerado por hospitalizações, devido às quedas em idosos,

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foi 3.6 bilhões de dólares em 2014(24). No Brasil, foram gastos R$464.874.275,91 entre 2005 e

2014(25).

Ao analisar a tendência geral de internação por queda em idosos na Região Sul do Brasil observou-se que, em ambos os sexos, em todas as faixas etárias e nos três estados estudados, houve aumento das taxas, entre 2008 e 2018. Estudos internacionais recentes também obtiveram tendência crescente de internação por queda, o que pode ser reflexo das mudanças demográficas, principalmente em países desenvolvidos, em que a expectativa de vida é mais elevada(24,26,27). No

Brasil, Barros et al observaram um total de 399.681 internações entre 2005 e 2010, e a região sul do país apresentou o terceiro maior percentual de internações no período(25). Abreu et al também

verificaram o aumento do coeficiente de internações por queda em idosos brasileiros, de 2.58 (1996) para 41.37/10.000 habitantes (2012), com 941.923 internações associadas a este agravo, corroborando a tendência crescente evidenciada no presente estudo(28). Estudo realizado no estado

do Texas (EUA) verificou mais de 200.000 hospitalizações relacionadas a quedas entre indivíduos com 65 anos ou mais, em um período de quatro anos, constatando significativo acréscimo anual, com total de internação de 49.299 e 58.931, no primeiro (2011) e último (2014) ano analisado, respectivamente(24).

No estudo atual houve aumento significativo na tendência temporal de internações por quedas em idosos, de ambos os sexos, porém taxas mais elevadas foram verificadas entre as mulheres, com um incremento anual de 33,20. A literatura reforça a maior propensão de quedas no sexo feminino, bem como de internações resultantes dessas(29,30,31,26,27,32), além da recorrência

desses eventos(26,33,34). Em estudo realizado em hospital de trauma de Taiwan, na China, Rau et al

evidenciaram que quedas representam a maior causa de hospitalização entre idosos (59.9%), e 67.20% ocorreu no sexo feminino(31). Na mesma tendência, em estudo conduzido na Austrália,

entre 2003 e 2012, foram notificadas 256.536 internações relacionadas a queda em idosos com 65 anos ou mais, e 69.48% (178.243) ocorreu no sexo feminino(35). Na América do Norte também

foi verificada a maior proporção de mulheres que sofrem quedas, com 68.23% e 69.9% das notificações desse evento no sexo feminino nos EUA(36) e Canadá(29), respectivamente. Na Suécia,

entre 2001 e 2010 houve um aumento de 7.8% nas internações devido a quedas em idosos, e mulheres obtiveram taxa de incidência média maior em todas as faixas etárias estudadas, um total de 7.425 (2001) e 7.434 (2010)(27). Esses achados poderiam ser explicados pela maior longevidade

das mulheres, além da composição corporal com menor percentual de massa muscular, tornando-as mais propenstornando-as a apresentar incapacidades funcionais à medida que envelhecem e, por consequência, sofrer mais quedas(37).

O presente estudo demonstrou uma tendência crescente de internações por quedas em idosos nas três faixas etárias analisadas, e os indivíduos com 80 anos ou mais mantiveram maiores taxas gerais durante os 10 anos analisados (2008-2018). A taxa média entre idosos de idade mais avançada foi de 1.148,32/100.000 habitantes, com incremento anual de 71,544. Segundo a OMS,

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são considerados idosos os indivíduos com 65 anos ou mais. Entretanto, no Brasil, com a implementação do Estatuto do Idoso (2003)(16), foi estabelecido a partir de 60 anos. Essa

divergência de classificações pode ocorrer devido à cenários demográficos distintos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, com maior longevidade e proporção de pessoas acima de 85 anos em países considerados mais ricos. Dessa forma, grande parte dos estudos realizados sobre o tema atual analisou faixas etárias que variam entre 65 e 90 anos ou mais, o que pode dificultar a comparação. Na Austrália foi verificado um acréscimo anual de internações por quedas em idosos de 2.7% entre os grupos etários de 65-74 anos e 85 anos ou mais, e de 2.1% entre indivíduos de 75-84 anos(26), corroborando, em parte, os achados atuais. No Canadá foram

encontradas taxas mais elevadas (40%) em pacientes entre 75-84 anos(29), e nos EUAa mesma

porcentagem foi relativa a pacientes com 80 anos ou mais(30), o que se assemelha aos resultados

do presente estudo. Seguindo essa tendência, na China a média de idade dos pacientes hospitalizados foi aproximadamente 80 anos(31), semelhante à Irlanda (81.2 anos)(32). Já no Brasil,

Pimentel et al verificaram uma média de 70.2 anos, com 38.3% das internações em idosos na faixa etária entre 65-74 anos(38), similar aos dados evidenciados por Véras et al que demonstraram

taxa mais elevadas em indivíduos brasileiros entre 65-69 anos (37.41%)(39). Embora haja

discordância entre as faixas etárias que obtiveram acréscimo mais expressivo, há um consenso na literatura internacional(26,27,29,30) sobre a tendência temporal crescente de internações resultantes

de eventos com quedas entre idosos, nas últimas décadas. Esse fato pode estar associado às alterações inerentes ao processo de envelhecimento, como redução de massa muscular e densidade óssea, além de alterações nos sistemas sensorial e nervoso, gerando maior instabilidade e propensão à traumas de maior gravidade.(4,5,37,38).

Em relação à região Sul, foram obtidas altas taxas de internações por quedas em idosos de 60 anos ou mais, com tendência de crescimento desse evento ao longo dos 10 anos analisados. Barros et al também evidenciaram as mesmas características na região, entre os anos de 2005 e 2010, com 72.259 notificações, responsáveis por 16.75% dos recursos gastos com hospitalizações relacionadas a quedas pelo SUS no período(25). Todavia, no presente estudo, a tendência de

crescimento de forma linear e progressiva foi verificada apenas em Santa Catarina, que apresentou taxa média de 703.10/100.000 habitantes e incremento anual de 42.28. Esse resultado poderia ser explicado pelo estado apresentar a maior expectativa de vida ao nascer do país (79,7 anos)(3) e

também por melhor qualidade de registro no sistema de informação. Já os estados do Paraná e Rio Grande do Sul, apesar da tendência ascendente, com incremento anual de 17.50 e 30.62, respectivamente, apresentaram inconstância nas taxas médias ao longo dos anos. Abreu et al, ao explorar dados de regiões e capitais brasileiras entre 1996 e 2012, evidenciaram tendência decrescente em Curitiba, em oposição a 12 capitais, incluindo Florianópolis, e taxas oscilatórias em Porto Alegre(28), o que corrobora o estudo em discussão. Em contrapartida, estudo realizado

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e 2011, com total de internações que variaram de 4.638 a 6.829 no primeiro e último ano, respectivamente(40). Tal achado poderia ser explicado pelo fato do Rio Grande do Sul possuir

maior concentração (18,77%) de pessoas com mais de 60 anos, quando comparado aos demais estados da região, Paraná (15,47%), Santa Catarina (15,09%)(3). Apesar de haver divergência na

literatura quanto a linearidade do crescimento das taxas de internações de idosos relacionadas à queda, há consonância quanto a tendência progressiva desses eventos no sul do Brasil(25,28,40).

Em conclusão, a tendência de internações por quedas em idosos na Região Sul do Brasil foi crescente entre 2008 e 2018. Por tratar-se de um problema de saúde pública, os resultados desse estudo demonstram a urgência na criação de políticas públicas de prevenção, vigilância e promoção da saúde do idoso. O planejamento de intervenções baseadas em grupos etários e seus respectivos aspectos físicos e cognitivos, bem como os seus diversos fatores de risco, podem atuar na prevenção aos futuros eventos de queda. Tais estratégias devem contemplar recursos técnicos e humanos, com equipes multidisciplinares, para o controle desse agravo através de investimentos em educação em saúde, exercícios de fortalecimento muscular e coordenação motora, além da criação de ambientes mais seguros. Nesse contexto, tornam-se indispensáveis intervenções do Estado para garantir o envelhecimento com qualidade de vida, autonomia e segurança dessa população, o que possibilitaria reduzir as suas internações hospitalares.

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(12)

TABELA E FIGURAS

Tabela 1- Classificação sociodemográfica das internações por quedas em idosos no

Sul do Brasil, entre 2008-2018.

Taxa Média

r (*) R

2

(†) ß (‡)

Valor p

Taxa Geral

533,98

0,97

0,95

28,37

<0,001

Sexo

Masculino

465,27

0,95

0,91

22,30

<0,001

Feminino

588,91

0,98

0,96

33,20

<0,001

Faixa Etária

60 - 69 anos

374,40

0,98

0,96

19,09

<0,001

70 - 79 anos

565,78

0,97

0,95

27,87

<0,001

≥ 80 anos

1.148,32

0,95

0,91

71,54

<0,001

Estados

Paraná

498,19

0,81

0,67 17,50

<0,002

Santa Catarina

703,10

0,98

0,97

42,28

<0,001

Rio Grande do Sul

486,09

0,96

0,92

30,62

<0,001

R (*) - coeficiente de correlação; R2(†) - coeficiente de determinação; ß (‡) - coeficiente de

regressão linear. Fonte: DataSUS.

Figura 1 - Tendência temporal de internações por queda, geral, por sexo masculino e feminino, na Região Sul do Brasil, 2008-2018.

Fonte: elaborado pelos autores (2020) 0 100 200 300 400 500 600 700 800 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Geral ß=28,377 p<0,001 Masculino ß=22,301 p<0,001 Feminino ß=33,204 p<0,001

(13)

Figura 2 - Tendência temporal de internações por queda, por faixa etária, na Região Sul do Brasil, 2008-2018.

Fonte: Elaborado pelos autores

Figura 3 - Tendência temporal de internações por queda, por estados da Região Sul do Brasil, 2008-2018.

Fonte: Elaborado pelos autores. 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Paraná ß=17,50 p<0,001 Santa Catarina ß=42,28 p<0,001 Rio Grande do Sul ß=30,62 p<0,001

258,1 286,5 336,1 356,6 368,3 370,8 390,1 407,4 422,7 456,2 465,7 390 436,1 502,5 537,9 542,9 578,2 604,8 632,2 649,2 679,5 670,3 707,5 763,4 1.027,901.108,10 1.083,50 1.174,60 1.193,80 1.325,801.396,30 1.443,50 1.407,20 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

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