PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU
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Autos nº. 0034091-78.2018.8.16.0030 Processo:0034091-78.2018.8.16.0030
Classe Processual:Mandado de Segurança Cível
Assunto Principal:Violação aos Princípios Administrativos Valor da Causa:R$1.000,00
Impetrante(s): JORGE SOARES FERREIRA Impetrado(s): rogério quadros
S E N T E N Ç A
1) Relatório.
Trata-se de mandado de segurança impetrado por Jorge Soares Ferreira em decorrência de ato praticado pelo Presidente da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu,
. Sr. Rogério Quadros
Alega o impetrante, em síntese, que foi eleito no pleito de 2016 para o exercício da vereança e que há uma condenação judicial cível por improbidade administrativa em seu desfavor, que atualmente estaria em trâmite perante o Supremo Tribunal Federal – STF, conduto, na tarde de hoje (21/11/2018), foi surpreendido por ato tido como ilegal e autoritário praticado pelo Presidente da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu, vereador Sr. Rogério Quadros, que o notificou da extinção do seu mandato de vereador, em razão do trânsito em julgado do acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Sustenta o impetrante que uma simples notificação não bastaria para a extinção do seu mandato e que há que ser observado o rito próprio previsto na Lei Orgânica Municipal, respeitando-se, assim, o direito de defesa. Assevera, ainda, que a condenação do impetrante ainda não transitou em julgado, estando pendente o julgamento de recurso. Requereu a concessão liminar da segurança para suspender o ato do impetrado, Presidente da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu e, com isso, participar de sessão plenária prevista para o dia de amanhã, 22/11/2018, às 09h00min.
Decido.
2) Fundamentação.
O art. 5º, LXIX, da Constituição Federal garante a concessão de mandado de segurança para a proteção de direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou
habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.
Direito líquido e certo, segundo conhecida lição doutrinária, é aquele comprovado de plano, mediante documentação inequívoca, e que prescinde de dilação
para sua verificação.
probatória
Deixo de abordar os requisitos da pretensão liminar porque, ao ver do Juízo, o impetrante carece de direito líquido e certo, a implicar a rejeição prematura deste
. Explico.
mandamus
Segundo consta da certidão do evento 8.1, os autos de ARESP 872994/PR (2016/0050280-2) transitaram em julgado na data de 12/11/2018.
Logo, resta indene o acórdão proferido em segundo grau pela 5ª CC do e. TJPR nos autos n. 7012-08.2010.8.16.0030, no qual o impetrante restou condenado, por atos de improbidade administrativa, à pena de proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 03 (três) anos, e, ao
, à pena de pelo
que interessa para o deslinde do feito suspensão dos direitos políticos de (evento 1.75 dos autos mencionados no início do parágrafo). prazo 03 (três) anos
O feito a que se refere o impetrante (evento 1.5) trata-se de reclamação ajuizada por ele próprio perante o STF, que também na data de 12 de novembro de 2018 teve negado seguimento, conforme confirmei no site da suprema corte. A reclamação questiona por que restou impedida a subida do recurso extraordinário apresentado no agravo em recurso especial n. 872.994, que, como dito acima, transitou em julgado.
Dito isso, resta clara a necessidade de dar cumprimento à decisão judicial transitada em julgado perante o STJ que condenou o impetrante por atos de improbidade administrativa e determinou, no que pertine aqui, a suspensão dos seus direitos políticos.
Em vista disso, o Presidente da Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu, lastreado nos artigos 24, VI, da Lei Orgânica do Município de Foz do Iguaçu, bem como no
art. 17, VII, do Regimento Interno da Câmara Municipal, declarou, por meio do Ato da Presidência n. 96/2018, a extinção do mandato eletivo exercido pelo impetrante (evento 1.3) e o comunicou por ofício (evento 1.2).
Não háqualquer vício no ato expedido pelo Presidente da Câmara, uma vez que a suspensão dos direitos políticos nos casos de improbidade administrativa (art. 15, V, e art. 37, §4º, ambos da Constituição Federal) implica a imediata perda do mandato, uma vez que a perda do mandato é automática, cabendo ao Poder Legislativo apenas e , nos termos do do art. tão-somente cumprir a decisão judicial transitada em julgado caput
20 da Lei n. 8.429/92.
E, segundo Alexandre de Moraes, a privação dos direitos políticos, seja
nas hipóteses de perda, seja nas hipóteses de suspensão, engloba a perda do mandato eletivo,
(Direito Constitucional, 17ª
determinando, portanto, imediata cessação de seu exercício
Edição, São Paulo: Editora Atlas S.A, 2005, p. 233).
Prossigo. Em que pese a Constituição preveja a necessidade de declaração da perda do mandato pela mesa da casa respectiva para Deputados Federais e Senadores (art. 55, §3º) e para Deputados Estaduais (art. 27, §1º), não existem disposições semelhantes
. para vereadores
Por conseguinte, ante a ausência de previsão expressa e sendo norma de
exceção, o mesmo não se dará em relação aos vereadores, ainda que haja previsão neste sentido na legislação estadual ou municipal, pois seria nítida a invasão da competência da
(GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério
União; logo, estarão sujeitos à perda da função
Pacheco. Improbidade Administrativa. 7ª ed., São Paulo : Saraiva, 2013, p. 651).
Vale salientar que o ato da Câmara Municipal é vinculado e declaratório: a extinção do mandato de vereador decorreu da condenação pela prática de ato de improbidade administrativa, de modo que basta, tão-somente, a declaração da perda do mandato, o que foi feito pelo Presidente da Câmara com base no art. 17, VII, do
, que diz ser sua atribuição
Regimento Interno da Câmara declarar extinto o mandato do
.
Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores, nos casos previstos em lei
E a hipótese ora presente encontra-se expressamente prevista em lei (e mesmo na Constituição Federal), conforme amplamente abordado nesta decisão, de modo que não assiste razão ao impetrante quando alega que o Presidente só estaria autorizado na hipótese do art. 90 do Regimento Interno.
Sobre o assunto, cito valiosa lição de Hely Lopes Meirelles:
“(...) Declaração de extinção de mandatos: a declaração de extinção de mandatos de prefeito, vice-prefeito e vereadores é atribuição privativa do presidente da Mesa nos casos previstos na lei orgânica local. Não se confunde declaração de extinção de mandato (atribuição do presidente) com cassação de mandato (atribuição do plenário). Ao presidente
compete declarar extintos os mandatos que fenecerem em razão da ocorrência de qualquer das causas extintivas previstas em lei (morte, renúncia, perda dos direitos políticos, condenação criminal a pena acessória de perda do mandato ou proibição do exercício de função pública); ao plenário cabe deliberar sobre a cassação de mandato, nos
E compreende-se facilmente
casos estabelecidos na legislação pertinente.
o motivo dessa diversificação de atribuições, ao presidente e ao plenário: no primeiro caso (extinção) o mandato se exaure automaticamente pela só ocorrência do fato extintivo (morte, renúncia etc.); no segundo caso (cassação) o mandato ainda está operante, mas poderá ser invalidado se o plenário reconhecer a ocorrência de uma situação ou ato que permita a deliberação de sua perda. Como só o plenário pode deliberar, só o plenário pode cassar mandato. Como a palavra está indicando, a declaração de extinção de mandato é simples ato declaratório de uma situação preexistente (”Direito Municipal Brasileiro”, 14ª Edição, São Paulo: Malheiros Editores, 2006, p. 639/640).
O e. TJPR já enfrentou situação semelhante. A respeito das hipóteses de extinção do mandato não se sujeitarem à deliberação da Câmara Municipal: “(...) Apesar das
bem postas razões do recurso apelatório, verifica-se que a decisão encontrada em primeiro grau não padece de qualquer defeito, uma vez que se trata de extinção do mandato de Vereador e não de cassação de mandato, razão pela qual não havia qualquer motivação
, uma
plausível para o primeiro apelante ter sujeitado a matéria à deliberação da Câmara
vez que a declaração da extinção do referido mandato, determinada em sentença de ação civil pública transitada em julgado, é um ato vinculado e não político (...)” (Ap nº 165.211-3,
Terceira Câmara Cível, Rel. Desa. Regina Afonso Portes, DJ 01.03.2005).
Por fim, não se há falar em ausência de ampla defesa. Ora, o impetrante exerceu o contraditório e a ampla defesa da forma mais ampla e irrestrita em primeiro e em segundo graus, bem como perante o Superior Tribunal de Justiça, durante o trâmite da ação de improbidade.
Ainda, o próprio parágrafo 3º do art. 38 da Lei Orgânica do Município de
Foz do Iguaçu permite, inclusive, que a declaração da perda de mandato seja feita de ofício.
Por fim, cito precedente do Tribunal de Justiça do Paraná que resolveu questão similar a esta:
APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. VEREADOR. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. APLICADA PENALIDADE DE SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS. SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. PERDA DO MANDATO ELETIVO.INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE NO ATO DA CÂMARA MUNICIPAL AO DAR CUMPRIMENTO A DETERMINAÇÃO JUDICIAL. ATO VINCULADO. AMPLA DEFESA EXERCIDA.COMPETÊNCIA DO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL PARA DECLARAR EXTINTO O MANDATO. INOCORRÊNCIA DE VÍCIO DE INICIATIVA NO PROCEDIMENTO. SEGURANÇA DENEGADA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.A perda do mandato eletivo de vereador
decorre automaticamente da condenação judicial de suspensão dos direitos políticos na ação de improbidade administrativa já transitada em julgado, sendo o ato da Câmara Municipal vinculado e declaratório. Ampla defesa devidamente exercida durante o trâmite da ação de
Nos termos do artigo 30 da Lei Orgânica
improbidade administrativa.
Municipal, compete ao Presidente da Câmara Municipal declarar extinto o mandato de Vereador. Não há que se falar em vício de iniciativa no procedimento de perda do mandato, pois não foi o requerimento do Vereador suplente que deflagrou tal procedimento, mas a própria comunicação do Poder Judiciário (TJPR 5ª C.Cível AC 12482650 -Nova Londrina - Rel.: Luiz Mateus de Lima - Unânime - - J. 04.11.2014).
Como se vê, resta evidente a regularidade do procedimento que culminou na extinção do mandato do impetrante, de modo que, carecendo de direito líquido e certo, e não havendo ilegalidade, o indeferimento da petição inicial é de rigor.
3) Dispositivo.
Diante do exposto, nos termos do art. 10 da Lei n. 12.016/09, indefiro a
e , forte no art. 485, I, do CPC.
inicial julgo extinto o processo, sem resolução do mérito Sem honorários (art. 25 da Lei n. 12.016/09).
Custas pelo impetrante.
Defiro o prazo de 24h (vinte e quatro horas) para recolhimento das custas. Não efetuado, promova-se o bloqueio, via BACENJUD, dos valores necessários ao adimplemento delas diretamente na conta do impetrante.
Intime-se.
Diligências necessárias.
Foz do Iguaçu, datado e assinado eletronicamente. Alessandro Motter
Juiz de Direito Substituto