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Representações Sociais da escolha profissional de alunos

do Ensino Médio: um estudo na área rural

Edna Maria Querido de Oliveira Chamon Profa. Dra. Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação e Desenvolvimento Humano da

Universidade de Taubaté - UNITAU, Brasil. Leonor M. Santana

Psicóloga, com MBA em Gestão de Pessoas e mestranda no Programa de Pós Graduação em Educação -

Desenvolvimento Humano, com pesquisa na área de Escolha Profissional.

Resumo

Este trabalho tem por objetivo identificar as representações sociais da escolha profissional de estudantes do ensino médio, em escolas públicas da área rural. Para tanto foi realizada pesquisa de campo, descritiva e exploratória, com abordagem qualitativa e quantitativa. A amostra foi composta por 114 alunos, em duas cidades da Região Metropolitana do Vale do Paraíba Paulista. Os dados foram coletados por meio de questionários, entrevistas semiestruturadas e aplicação de um jogo utilizado em processos de orientação profissional. Os dados obtidos por meio do questionário foram tabulados pelo software Sphinx®. Os conteúdos obtidos pelas entrevistas foram tabulados pelo software ALCESTE. O Jogo foi analisado de acordo com os critérios já definidos neste instrumento. Para análise utilizou-se a técnica de Triangulação, permitindo articular os dados obtidos pelas diferentes ferramentas. As representações sociais elaborados pelos jovens pesquisados revelam o desejo de escolher por atividades que demandam formação superior, não considerando atividades profissionais características do contexto rural entre suas opções. Mostram-se idealizadas uma vez que a condição social e econômica desses jovens limita o ingresso nos cursos desejados. A representação de que o urbano oferece melhores condições e oportunidades mostra-se presente, e faz-se necessário a reflexão sobre práticas com objetivo de auxiliar os jovens a ampliar as possibilidades de escolha das atividades profissionais futuras.

Palavras-chave

Representações Sociais; Escolha Profissional; Educação do Campo.

Abstract

This paper aims to identify the social representations of the professional choice of high school students in public schools in the rural area. For that, field research, descriptive and exploratory, with a qualitative and quantitative approach was carried out. The sample was composed by 114 students, in two cities of the Metropolitan Region of the Vale do Paraíba Paulista. Data were collected through questionnaires, semi-structured interviews and application of a game used in professional orientation processes. The data obtained through the questionnaire were tabulated by Sphinx® software. The contents obtained by the interviews were tabulated by the ALCESTE software. The Game was analyzed according to the criteria already defined in this instrument. For the analysis, the Triangulation technique was used, allowing to articulate the data obtained by the different tools. The social representations elaborated by the youngsters revealed the desire to choose for activities that demand higher education, not considering professional activities characteristic of the rural context between their options. They are idealized since the social and economic condition of these young people limits the entrance in the desired courses. The representation that the urban offers better conditions and opportunities is still significant, and it is necessary to reflect on practices aimed at helping young people to expand the possibilities of choosing future professional activities.

Keywords

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Introdução

O término do Ensino Médio traz em si a necessidade de refletir sobre as diferentes possibilidades de trajetórias de vida relacionadas ao trabalho. Pensar sobre o que fazer, qual definição ou caminho a seguir mobiliza tanto os próprios jovens, quanto os grupos sociais em seu entorno. É um momento de escolha, relacionado à construção de futuro, que ocorre numa dimensão individual inserida num contexto social, familiar, cultural, econômico, impactando no seu desenvolvimento (ALMEIDA & MAGALHÃES, 2011).

O enfoque dessa temática passa a ser destacado em função das alterações da relação do homem com o contexto laboral. Apesar de o trabalho estar presente desde o início da constituição das sociedades, poder escolher a atividade em si, é algo relativamente recente. Nos séculos passados, a atividade a ser executada era definida pela classe social, ou família, a qual o indivíduo pertencia, sendo sua mobilidade restrita. A própria relação com o trabalho foi se transformando ao longo do tempo, relacionado aos demais contextos sociais, econômicos, tecnológicos (NEIVA, 2013).

Se no início de sua concepção, o trabalho tinha a função de atender às necessidades de sobrevivência do homem, ao longo da história essa concepção se alterou e, gradualmente, passou a ser criador de riquezas e totalmente investido de conotação econômica. A revolução industrial provocou a transformação do trabalho, configurando-o como uma atividade desenvolvida institucionalmente, e voltada à produtividade, à obtenção de lucros, respondendo as demandas do mercado econômico, (KRAWULSKI, 1998).

O que se observa no momento atual é a interação e a interdependência entre as economias, o aumento de mobilidade, a flexibilidade das empresas, e a busca pelo diferencial competitivo. Apesar das transformações na configuração do trabalho e de sua relação com o homem, ele permanece como uma atividade que estrutura a sociedade (ANTUNES & ALVES, 2004; COUTINHO, KRAWULSKI & SOARES, 2007).

A opção por esta ou aquela atividade atualmente é compreendida como de responsabilidade do próprio indivíduo que deve escolher a sua própria trajetória profissional, alinhando suas necessidades aos contextos sociais. O sentido da palavra escolha diz respeito a ter preferência por algo, optar por uma direção, optar por um caminho. Para tanto é necessário preparar-se para lidar com toda a complexidade do mundo do trabalho, sendo necessário gerenciar fatores tanto intrínsecos, quanto extrínsecos (NEIVA, 2013; LEVENFUS, 2016).

Escolher é optar por uma direção, dentre tantas outras, sendo assim, pressupõe a existência de dúvida, de conflito, de perda. Implica em assumir o risco dessa decisão (BOCK, 2001). Como colocado por Levenfus (1996) ao escolher o jovem deixa coisas pra trás, e isso implica em ganhos e perdas, sendo um dos motivos desse momento gerar conflito e ansiedade.

A escolha de uma atividade profissional pode ser compreendida como um processo que envolve mudanças, perdas, conflitos, e a partir do qual, o jovem estabelece o que fazer, quem ser e a que lugar do mundo pertencer através do trabalho (BOHOSLAVSKY, 1987; BARGADI, 2003; SANTOS, 2014). Esse processo pode estar contido na construção de um projeto de vida (MARCELINO, CATÃO & LIMA, 2009).

Considerando que a primeira decisão neste sentido, ocorre na adolescência quando o jovem precisa optar por qual profissão seguir, o interesse deste estudo é identificar os elementos que os jovens estudantes do ensino médio, da área rural, valorizam no processo de escolha profissional. A ênfase foi na expectativa sobre atividades relacionadas ao trabalho, que os jovens gostariam de realizar após o término do ensino médio.

A base teórica que norteou este estudo foi a Teoria das Representações Sociais, que possibilita estudar a relação do sujeito e do social, referente a um determinado objeto. Como

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161 colocado por Jodelet (2009, p.697) “Seu estudo permite acessar os significados que os sujeitos, individuais ou coletivos, atribuem a um objeto localizado no seu meio social e material, e examinar como os significados são articulados à sua sensibilidade, seus interesses, seus desejos, suas emoções e ao funcionamento cognitivo”. A escolha profissional é um objeto compartilhado pelos jovens estudantes, que formam o grupo, trazendo as informações, ideias e crenças a respeito deste objeto.

Educação do Campo

O contexto educacional nacional é construído com base numa ideologia de país urbano, apesar de sua extensão territorial e características latifundiárias. O campo é percebido como o outro lugar que se desenvolve, para se adequar aos padrões urbanos e, desta forma, a escola do campo tende a seguir uma lógica urbana (urbanocêntrica) (RODRIGUES, 2012).

Como contraponto à Educação Rural enquanto uma prática que visa educar para superar o atraso, a Educação do Campo, é compreendida como uma educação elaborada para atender a população, considerando sua cultura e suas necessidades humanas e sociais. Posiciona-se no sentido de enfrentar o estado e lutar pela participação ativa nos programas e projetos; além da dimensão escolar, envolve e relaciona os aspectos social e econômico do campo (SOUZA, 2008; CALDART, 2012; CHAMON, 2014).

Os processos de globalização e o avanço da tecnologia tornaram a distância (territorial e simbólica) entre campo e cidade mínima na medida em que as informações, os conteúdos e as práticas são compartilhadas em tempo quase real. As práticas educacionais são partilhadas e, desta forma, uniformizadas. “[...] o meio rural se urbanizou nas últimas décadas, como resultado do processo de industrialização da agricultura, de um lado, e, do outro, do transbordamento do mundo urbano naquele espaço que tradicionalmente era definido como rural” (BRASIL, 2001, p. 17).

Os jovens estudantes do Ensino Médio em escola de área rural, no contexto contemporâneo, deparam-se com uma série de dilemas que diz respeito a sua própria formação pessoal, e as possibilidades futuras, podendo perceber a atividade laboral como uma possibilidade de lhe proporcionar um “lugar” na sociedade. Há de se destacar o importante papel desta fase escolar, na transição para o mundo do trabalho, e poder refletir sobre as escolhas destes jovens. Estudos que abordam o tema revelam que as escolhas realizadas por jovens do campo mostram-se apoiadas na realidade e demanda urbana, valorizando as competências marcadas pelo mercado de trabalho, percebendo o ambiente rural como espaço relacionado à natureza, sendo necessário transformar seus produtos em artigos consumíveis pelo urbano (WHITAKER; ONOFRE, 2005; ANJOS; CALDAS, 2014).

Metodologia

Foi realizada pesquisa de campo, descritiva e exploratória, qualitativa e quantitativa, com objetivo de investigar os elementos que influenciam a escolha proficional de estudantes dos três anos do ensino médio, de escolas públicas na área rural de duas cidades da Região Metropolitada do Vale do Paraíba Paulista. Para o estabelecimento da amostra foi utilizado cálculo proposto por Santos (2013), cujo erro amostral será considerado em 5%, e o nível de confiança, em 99%, e o cálculo foi realizado com o auxilio de uma calculadora eletrônica online. A partir do cálculo utilizado a amostra estabelecida foi de 114 estudantes.

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162 Como técnicas de coleta de dados, utilizou-se questionário desenvolvido por Chamon (2003), sendo adaptado para o presente estudo; entrevista semidiretiva e o jogo “Critérios para a escolha profissional” (NEIVA, 2008). O questionário foi respondido por 114 sujeitos. Em relação a entrevista e ao jogo utilizou-se do critério de saturação, que de acordo com Sá (1998) a representação manifestada por essa amostra seria a mesma que em um número maior de sujeitos. “O processo de seleção é interrompido quando se torna claro que esforços adicionais não irão trazer mais nenhuma variedade” (BAUER e GASKELL, 2014, p. 512). Neste estudo 21 sujeitos responderam a entrevista e ao jogo.

Os dados obtidos por meio do questionário foram tabulados no software Sphinx®. O conteúdo obtido pelas entrevistas, foram tabuladas pelo software ALCESTE. O Jogo foi analisado de acordo com os critérios já definidos neste instrumento. Para análise utilizou-se a técnica de Triangulação, permitindo articular os dados obtidos pelas diferentes ferramentas.

Resultados e Discussão

Para iniciar a apresentação dos dados, importante contextualizar os sujeitos da pesquisa, descrevendo a caracterização da amostra. Os jovens que participaram deste estudo apresentam idade média de 16,5 anos, frequentando os três anos do ensino médio, sendo 34,2% no 1º ano, 35,1% no 2º ano e 30,7% no 3º ano.

Em relação ao gênero, 42,2% são do sexo feminino, e 51,8% masculino. Investigado os aspectos relacionados à configuração familiar, 99,1% são solteiros, 69,3% residem em casa própria, 10,5% alugada, 18,4% emprestada e 1,8% não responderam. Quanto à renda familiar, 60,5% referem ser entre 1 a 3 salários mínimos, 16,7% entre 3 e 5 salários mínimos, 16,7% até 1 salário mínimo, 4,4% entre 5 e 10 salários mínimos, e 1,8% não responderam. Relacionado ao aspecto Trabalho, 50% dos participantes não trabalhavam no momento da participação no estudo, e 57,9% nunca trabalharam. As atividades daqueles que trabalhavam ou já tinham exercido alguma atividade estavam relacionadas a trabalhos no meio rural, ajudando a família, ou no comércio da área urbana.

A entrevista possibilitou identificar quais profissões os jovens pretendiam seguir, as mais valorizadas por esses, as que a família gostaria que exercessem, e as que os amigos pretendiam seguir. Apontaram ainda, quais os aspectos que ajudam no momento da escolha.

As profissões que pretendem seguir e que também consideram valorizadas fazem parte de atividades de nível de formação superior e voltadas a atividades que envolvem pessoas, saúde e educação. Dentre as mais citadas, destacam-se: medicina, psicologia, administração, engenharia, veterinária, professor, agronomia, direito. Neste aspecto, a valorização do Ensino Superior enquanto principal alternativa e caminho a seguir ao término do ensino médio, corrobora estudos que apontam esse dado (SPARTA; GOMES, 2005), além de refletir a valorização da qualificação profissional enquanto importante aspecto da empregabilidade na atualidade. Vale destacar que a valorização do professor é uma representação desta profissão como base para as demais.

O Mapa Conceitual ilustra as classes de discurso referente a esse conteúdo, conforme demonstrado na Figura 1, sendo as falas dos jovens inseridas nos textos explicativos em forma de nuvens.

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163 Figura 1 – Mapa conceitual - Profissões e Escolha Profissional

Fonte: o autor

É importante destacar que a maioria das profissões desejadas são atividades que não tem atuação direta no contexto rural, e neste sentido, a influência do contexto urbano mostrou-se significativa no discurso destes jovens, visto que não relacionam as atividades características do contexto rural entre as opções a escolher. E as profissões que dizem respeito a esse contexto: medicina veterinária e agronomia fazem parte das formações acadêmicas de nível superior.

Considerar negativo o fato de alguns amigos não desejarem continuar estudando após o termino do Ensino Médio (ilustrado em texto explicativo em formato de nuvem), revela a representação do estudo como condicionante de conquistas.

Identificou-se também a motivação em exercer atividades que possibilitem ajudar pessoas, fazer o bem, fazer a diferença, ensinar, trabalhar com pessoas, com criança e em organizações não governamentais (ONG), como discurso a seguir, que ilustra esse conteúdo.

Poder ajudar pessoas. Às vezes a gente vai ao hospital e falam que não tem profissional qualificado. Eu quero ajudar, certinho, e se eu não souber, eu encaminho pra outra pessoa. Fazer medicina e ajudar as pessoas (N., 15 anos).

Esse conteúdo também é identificado nos resultados do jogo “Critérios para a escolha profissional” (NEIVA, 2008). Os jovens revelam a expectativa de exercer profissões relacionadas a atividades voltadas ao atendimento de pessoas, como organizações não governamentais (ONGs), consultórios, escolas, tanto em cidades grandes quanto pequenas. Apontaram atividades envolvendo pessoas (adultos, crianças, adolescentes, com deficiência), confirmando os discursos apresentados nas entrevistas.

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164 Desenvolver uma atividade que contribua com o desenvolvimento de pessoas, e da própria comunidade são conteúdos considerados relevantes aos jovens pesquisados, o que vem ao encontro de estudos que mostram a preocupação com o compromisso social da profissão, enfatizando a coletividade, enquanto uma característica da juventude moderna (VALORE & CAVALLET, 2012).

Por meio do questionário foi possível identificar questões individuais que consideram importante no processo de escolha, conforme Tabela 1.

Tabela 1: Resultado das questões que investigaram aspectos individuais relacionados a escolha profissional Questões Concordo % Nem concordo nem discordo % Discordo % Não responderam %

Saber o que gosta é importante 94,7 2,6 8,8% 0

Seus talentos ajudam na escolha 89,5 9,6 0,9 0

Informações sobre profissões 98,2 0 0,9 0,9

Escolher a profissão de alguém que admira

58,8 23,7 16,6 0,9

Fonte: o autor

Os resultados apontam que o aspecto mais importante para os sujeitos é saber o que gosta para poder decidir por uma determinada profissão. Somando respostas de concordância (concordo e concordo totalmente) 96% consideram este aspecto importante, seguido pelos itens ter informações sobre as profissões, e que estas possibilitem o desenvolvimento de seus talentos e habilidades.

O grau de importância atribuído a saber do que se gosta para decidir qual atividade escolher, diz respeito, a saber, sobre si, sobre quem é, quais as qualidades e talentos possuem; e questionar qual atividade proporcionará satisfação e realização. Nessa dinâmica, saber sobre o externo (Informações sobre as Profissões), se faz necessário, pois possibilita comparar com seus talentos e seus anseios, para que a atividade escolhida promova satisfação pessoal e realização profissional.

Há de se destacar que o jovem que escolhe está em processo de elaboração de sua identidade e estas definições (quem sou? O que gosto? Quais meus talentos?) ainda estão sendo construídas, e elaboradas pelo jovem (LEVENFUS, 2016).

Os resultados apresentados revelam a relação que estes estudantes estabelecem com o trabalho, no sentido deste proporcionar não apenas uma atividade que possibilita a motivação primária e de sobrevivência, mas um caminho de desenvolvimento, de crescimento, de aprendizagem e de realização. Este aspecto vem ao encontro do que Antunes (2010, p.653) aponta como uma mudança necessária na construção “de vida com significado” com atividades voltadas essencialmente as necessidades humanas e sociais.

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165 escolha de uma profissão, e que tem um significado que excede a questão de remuneração e que está relacionado com a construção de uma identidade ocupacional. O autor destaca a preocupação que os jovens tem com as opiniões dos outros, a preocupação em associar as aptidões desenvolvidas até o momento com possibilidades futuras e buscam a liberdade de escolha (destaque da autora).

A disseminação da crença que as pessoas podem, e devem definir seus caminhos profissionais, soma-se a valorização social em relação à busca constante pelo crescimento e desenvolvimento, em conjunto com a mobilidade, flexibilidade e busca por oportunidades que atendam aos desejos e aos anseios pessoais (DUTRA, 2007).

Somando-se a esta questão, as teorias que destacam as características geracionais, apontam para uma das características dos jovens na atualidade, a importância que atribuem ao próprio prazer (CAVAZOTTE; LEMOS; VIANA, 2012). Esses conteúdos circulam fortemente nos ambientes de formação, entre os jovens que se veem em momentos de escolha.

Como colocado por Neiva (2013), nos processos de escolha profissional os grupos sociais exercem influência, uma vez que fazem parte do processo de elaboração de identidade. Conforme demonstrado na Figura 2, o resultado do questionário referente a opinião dos diferentes grupos apontou que 50% dos estudantes consideram importante conhecer a opinião dos professores para decidir sobre sua escolha profissional.

Figura 2: Importância atribuída a opinião dos diferentes grupos sociais

Fonte: o autor

O resultado sugere que os jovens pesquisados têm os professores uma referência, uma vez que possuem informações e conhecimentos, mostrando as diferentes possibilidades de escolhas a serem percorridas. Desta forma podem ser considerados como grupo de referência, e os estudantes direcionam suas atitudes ao encontro do que acredita ser consenso deste grupo (DECHAMPS; MOLINER, 2014).

Relacionado ao grupo familiar, o questionário investigou também o item sobre seguir a mesma profissão dos pais. O resultado revelou que 60% discorda em ter a mesma atividade, sugerindo o desejo de buscar ascensão social, uma vez que fazem parte de classe social desfavorecida, e vislumbram essa oportunidade (de ascensão) por meio de atividades desenvolvidas na área urbana, revelando a influência dessa visão do urbano enquanto espaço de melhores possibilidades como apontado nos trabalhos de Whitaker & Onofre (2005).

Há de se destacar que as profissões que a família gostaria que seguissem coincidem com as que desejam e que consideram valorizadas (conforme já ilustrado na Figura 1), o que sugere

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166 que a família deseja também que conquistem melhores condições de vida, e, neste sentido, esse resultado mostra-se coerente.

Conclusão

A escolha profissional enquanto processo de tomada de decisão a ser percorrida no âmbito laboral, apresenta-se como importante momento na vida dos jovens, e se dá na fase da vida em que é caracterizada pelas mudanças e pelas transformações – físicas e afetivas.

Soma-se a estas questões, a caracterização da sociedade atual, na qual as informações são compartilhadas rapidamente por diferentes meios de comunicação, envolvendo os mais diferentes contextos. Assim, elementos internos e externos, numa relação dialética permeiam as escolhas dos jovens (NEIVA, 2013).

Neste estudo, os estudantes de escolas da área rural, desejam atuar em atividades que estão nas profissões valorizadas socialmente ao longo da própria história, e que demandam formação de nível superior. Neste aspecto mostram-se idealizadas uma vez que a condição social e econômica desses jovens e suas famílias limitam o ingresso nos cursos de nível superior e que são de custos altos além das possibilidades reais dessa população, que mora longe dos centros urbanos. Há de se destacar a ausência de instituições de ensino superior em uma das cidades deste estudo, o que pode ser mais um fator a dificultar o ingresso nas referidas profissões.

As atividades desenvolvidas no contexto rural mostram-se pouco valorizadas, não sendo atrativas. Assim, a representação de que o urbano oferece melhores condições e possibilidade de realização e reconhecimento pessoal e profissional mostra-se presente. Neste sentido, faz-se necessário a reflexão sobre a efetiva prática da Educação do Campo, no faz-sentido de atender as necessidades do campo, e de práticas que auxiliem estes jovens a considerar outras possibilidades no processo de escolha de atividades profissionais futuras.

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