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A REFORMA PSIQUIÁTRICA E A CRIAÇÃO DOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL BRASILEIROS: UM RÁPIDO MERGULHO ATRAVÉS HISTÓRIA

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Academic year: 2021

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ISSN Impresso: 2316-1299 E-ISSN 2316-3127

A REFORMA PSIQUIÁTRICA E A CRIAÇÃO DOS

CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL BRASILEIROS:

UM RÁPIDO MERGULHO ATRAVÉS HISTÓRIA

1 Pós-graduado em Biomedicina Estética pelo Instituto Nacional de Ensino Superior e Pesquisa e em Fitoterapia aplicada à nutrição pela Faculdade Única de Ipatinga; Mestrando em Política Públicas pela Atenas College University, Estados Unidos; Bacharel em Bio-medicina pelo Centro Universitário Mauricio de Nassau.

E-mail: heliofontess@gmail.com

Hélio Erikson Fontes de Sousa1

RESUMO

Com uma visão assistencial surge um novo modelo de atendimento que propôs acolher os subterfugia-dos subterfugia-dos hospitais psiquiátricos e evitar as interna-ções, podendo assim, oferecer um atendimento aos portadores de transtornos psicossociais dentro de um novo contexto de atendimento em saúde men-tal, que foram chamados de Centro de Atenção Psi-cossocial (CAPS). Existem cinco tipos de CAPS para atendimento e cada um apresenta suas característi-cas e as suas particularidades na atenção aos vários tipos de usuários, são eles: CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS i II e o CAPS AD II. Tratou-se de um estudo de revisão bibliográfica e construída a partir de pesqui-sa e leitura de artigos em buscas feitas de bancos de dados no SciELO, CAPE), LILACS e Google Acadê-mico. Tendo em vista a reforma psiquiátrica no Bra-sil, fez-se necessária uma reflexão crítica a cerca do da utilização da medicina natural a base de plantas. Neste sentido, o presente estudo objetivou abordar a história da políticas públicas voltadas para a saúde mental brasileira e a criação dos centros de atenção psicossociais através de uma análise reflexiva.

PALAVRAS-CHAVE

Psiquiatria; atenção psicossocial; reforma psiqui-átrica; saúde mental;

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ABSTRACT

With a vision of care, a new model of care emer-ges that proposes to accept the subterfuge of psychiatric hospitals and avoid hospitalizations, thus offering a service to those with psychosocial disorders within a new context of mental health care, which were called Centro of Psychosocial Attention (CAPS). There are five types of CAPS for care and each one presents its characteristics and its particularities in attention to the various types of users: CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS i II and CAPS AD II. It was a study of bibliographic review and constructed from research and reading articles in searches made of databases in SciELO, CAPE), LI-LACS and Google Scholar. In view of the psychia-tric reform in Brazil, a critical reflection about the use of natural herbal medicine was necessary. In this sense, the present study aimed to address the history of public policies focused on Brazilian mental health and the creation of psychosocial care centers through a reflexive analysis.

Keywords

Psychiatry. Psychosocial Attention. Psychiatric Reform. Mental Health.

1 INTRODUÇÃO

Em meados da década de 1990, durante o go-verno do primeiro presidente do Brasil eleito por voto popular desde a ditadura, foi aprovada à pri-meira Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080 de 19 de setembro de 1990), esta especificava as atribui-ções e a organização deste sistema, seus prin-cípios e diretrizes, competências e atribuições a nível federal, estadual e municipal, a participação complementar do sistema privado de saúde, fi-nanciamento e gestão, entre outros. Em 28 de de-zembro de 1990, foi instituída a Lei n° 8142 que dispõe, principalmente, sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e instituiu os Con-selhos de Saúde (PAIM, 2011).

A partir disto ficou entendido que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado, sendo

as-sim, todo cidadão em território brasileiro tem di-reito a ela, desde os casos mais simples aos mais complexos. Dessa forma, a saúde mental não ficou fora desse contexto nacional e passou por modifi-cações na forma de pensar sobre o cuidado com a saúde (ANDRADE, 2010; PITTA, 2011).

A Reforma Psiquiátrica no Brasil deu-se por meio de uma complexa política pública (Public Po-licy) assegurada por portarias e leis municipais e estaduais que resultou em uma modificação na visão sobre o modelo de atendimento psiquiátri-co. Por meio destas políticas públicas foi retirado o conceito de internação dos pacientes com pro-blemas psicossociais por longas datas em hospi-tais psiquiátricos e substituído por um modelo de reabilitação extra-hospitalar (BERLINK, 2008).

De acordo com Ballarin (2010), o cuidado em saúde mental envolve o ato de prestar assistên-cia a um indivíduo de modo que se envolva um conjunto de procedimentos técnicos e orientados para que se tenha êxito em um tratamento. Por meio disso, pode-se afirmar que a mudança no modelo de assistência ao paciente com transtor-nos mentais possibilitou a criação de novas práti-cas de atendimento com visibilidade principal no resgate da cidadania, a reinserção destes usuários e das suas famílias no meio social.

Com esta visão assistencial, surge na cidade de São Paulo o primeiro Centro de Atenção Psicosso-cial (CAPS) do Brasil, conhecido por Professor Luís da Rocha Cerqueira. Este novo modelo de serviço propôs acolher os subterfugiados dos hospitais psiquiátricos e evitar as internações, podendo assim, oferecer um atendimento aos portadores de transtornos psicossociais dentro de um novo contexto de atendimento em saúde mental. Estas unidades foram se espalhando por todo o territó-rio brasileiro e propondo uma nova visão acerca do cuidado com pacientes (HIRDES, 2009).

Conforme a reforma psiquiátrica no Brasil, fe-z-se necessária uma reflexão crítica a cerca dos marcos históricos da atenção à saúde mental bem como a criação dos centros de atenção psicosso-cial. Nesse sentido, o presente estudo objetivou abordar a história da políticas públicas voltadas para a saúde mental brasileira e a criação dos centros de atenção psicossociais por meio de uma análise reflexiva.

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Tratou-se de um estudo de revisão bibliográfi-ca e construída a partir de pesquisa e leitura de ar-tigos em buscas feitas de bancos de dados como:

Scientific Electronic Library Online (SciELO), Portal Periódicos Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Literatura La-tino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Google Acadêmico.

Os descritores utilizados para a busca foram: Saúde mental, psicologia, psiquiatria, reforma psi-quiátrica e atenção psicossocial. Foram seleciona-dos os textos no idioma português e que tinham correlação com o tema proposto, os selecionados foram lidos na íntegra, fichados e analisados.

2 A REFORMA PSIQUIÀTRICA

BRASILEIRA: MARCOS

HISTÓRICOS

Surge nos Estados Unidos da América (EUA) em meados da década de 1970, o modelo de Psiquia-tria Preventiva Comunitária, que foi o cruzamento da psiquiatria da comunidade terapêutica com a psiquiatria de setor. Tal modelo foi absorvido de forma rápida como política de saúde mental nos EUA, este modelo, levou a tentativa de combate a tudo que viesse a interferir no bem-estar da so-ciedade americana (RIBEIRO, 2004).

Essa visão preventiva defendia que os distúr-bios mentais poderiam ser prevenidos e identi-ficados antes que ocorressem, então, passou-se a estudar e analisar o estilo de vida das pessoas para detectar as que são potencialmente doentes, para isto, os especialistas visitavam as ruas e as casas dos cidadãos americanos para encontrar possíveis candidatos a terem problemas mentais no futuro e conduzi-los a tratamento especializa-do o mais rápiespecializa-do possível. Este modelo não ficou estagnado nos EUA, foi difundido e aceito pelos países da América Latina entre as décadas de 1970 e 1980, por meio da Organização mundial de Saúde (OMS) (RIBEIRO, 2004).

A saúde mental no Brasil passou por diversos processos até chegar ao sistema de atenção que conhecemos hoje. Um dos marcos iniciais para a reforma na saúde mental foi a Conferência

Regio-nal para a Reestruturação da Assistência Psiqui-átrica que ocorreu em 1990, realizada em Caracas, este marco foi um “possibilitador” das mudanças ao nível do Ministério da Saúde.

Neste evento foi realizado um acordo entre os países da América Latina, que ficou intitulado de “Declaração de Caracas”, onde estes países se comprometeram em reanalisar criticamente o pa-pel dos hospitais psiquiátricos, analisarem os di-reitos civis e humanos dos usuários para garanti--los aos mesmos e promover a reestruturação da assistência psiquiátrica (HIRDES, 2009).

A “Declaração de Caracas” foi retomada em 2005, por meio de um documento intitulado “Prin-cípios Orientadores para o Desenvolvimento da Atenção em Saúde Mental nas Américas”, que ti-nha como objetivo analisar os resultados obtidos desde 1990. Por meio deste documento, foi reco-nhecido que haviam ocorrido avanços até então no que se dizia respeito à reestruturação da aten-ção psiquiátrica em vários países.

A partir desse fato, reafirmou-se a validade dos princípios instituídos na “Declaração de Caracas” com relação à qualidade na garantia dos direitos dos portadores de transtornos mentais e a cons-trução de um meio alternativo à rede de serviços dos hospitais psiquiátricos (HIRDES, 2009).

Por meio deste contexto passou-se a analisar as questões de estrutura do cuidado com os usu-ários do serviço psiquiátrico que começou a ga-nhar uma nova visão. A grande questão não era melhorar as estruturas físicas e as instalações dos ambulatórios ou hospitais psiquiátricos, mas sim, de promover uma nova forma de pensar e de cuidar dos pacientes com problemas mentais.

Não se admitia mais uma cultura sanitarista que defendia que o tratamento desses pacientes, deveria ser concentrado em hospitais psiquiátri-cos. Almejava-se a criação de serviços de saúde mental que pudessem ser substituídos pela in-ternação psiquiátrica, destes debates reformistas surgiram os Centros de Atenção Psicossocial no Brasil (RIBEIRO, 2004).

Após a III Conferência de Saúde Mental em 2011 e da aprovação da Lei 10.216 de 6 de abril de 2001, que dispõe dos direitos e proteção de pes-soas portadoras de transtornos metais e do redi-recionamento do modelo assistencial para saúde

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mental, é que a reforma psiquiátrica no brasil pas-sa a ganhar visibilidade no âmbito federal.

A III Conferência de Saúde Mental foi um dos mar-cos principais nesse sentido, uma vez que por meio dela, foram determinados estratégias, princípios e diretrizes que estabeleceram as propostas para a Reforma Psiquiátrica. Com o apoio dos movimentos sociais ligados as famílias dos pacientes com trans-tornos mentais. Essa Conferência pode gerar argu-mentos que sustentavam a necessidade de uma Política de Saúde Mental, oferecendo subsídios para ampará-la tanto no sentido político quanto nos fun-damentos teóricos (BARRETO, 2019; BRASIL, 2001).

Foi a partir desse momento histórico que a Reforma Psiquiátrica passou a se estabelecer como uma política integrada ao Sistema Único de Saúde (SUS) e propôs uma rede comunitária e articulada para guiar a saúde mental brasileira. Então, começou-se a criar um modelo de atenção a saúde mental onde fosse substituída as inter-nações hospitalares, surgindo então dos Centros de Atenção Psicossociais (CAPS), que além do acima citado, tem a função de institui uma rede de atenção as pessoas com transtornos psicos-sociais com a finalidade de garantir o fortaleci-mento e preservar os laços sociais do indivíduo (BARRETO, 2019; SANTOS 2019).

Uma das bases de pensamento para a subs-tituição do modelo de internações hospitalares é a de garantir que os indivíduos com transtornos psicológicos possam sentir-se acolhidos, valoriza-dos na sua forma de ser, dentro do seu contexto social e familiar, de modo que se possa reconhe-cer e entender as necessidade individuais de cada usuário do serviço, com a finalidade de traçar até mesmo um tratamento que se encaixe de maneira mais adequada, garantindo assim, a promoção e melhoria na qualidade de vida do indivíduo (BAR-RETO, 2019; SANTOS, 2019).

3 CRIAÇÃO DOS CENTROS

DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

BRASILEIROS

As reformas sociais podem ser entendidas como uma atitude democrática, tendo em vista que a democracia se faz quando há a participação

da sociedade e quando são ampliados os canais de participação popular para discutir e debater te-mas que garantam o bem comum. Dito isso, pode--se afirmar que a Reforma Psiquiátrica no Brasil é um marco histórico que se tornou democrática quando foram atribuídos a categoria popular civil e classe política a discursão sobre a saúde mental brasileira (FERREIRA, 2006).

A criação dos CAPS surgiu a partir de um in-tenso movimento social, principalmente por parte dos trabalhadores de saúde mental, que tinham por objetivo principal a melhoria no atendimento dos portadores de problemas mentais. Estes tra-balhadores denunciavam, em busca de melhorias, os hospitais psiquiátricos que estavam em situa-ções precárias e que até então eram o único recur-so direcionado para o atendimento dos usuários portadores de transtornos mentais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004; BARRETO, 2019).

Nesta perspectiva, surgem em diversos mu-nicípios do Brasil os serviços de saúde mental alternativos para a diminuição da quantidade de internações e a mudança na visão sobre o mo-delo de assistência aos usuários. Os CAPS foram criados oficialmente em 1992, a partir da Porta-ria Ministério da Saúde 224/92 e foram definidos como unidades de saúde locais que contam com uma população conhecida e definida a nível local e que oferecem atendimento de cuidados interme-diários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar, em um ou dois turnos de quatro horas, por equipe de profissionais de diversas áreas (MI-NISTÉRIO DA SAÚDE, 1992; BARRETO, 2019).

Este serviço foi regulamentado pela Portaria 336 do Ministério da Saúde, de 19 de fevereiro de 2002, sendo integrado ao SUS. A partir desta por-taria o SUS ampliou o funcionamento e reconheceu a complexidade do CAPS que tem por missão aten-der em dois turnos as pessoas que sofrem com transtornos mentais, ofertando cuidados clínicos e reabilitação psicossocial, objetivando substituir o modelo dos manicômios, evitando a internação, garantido aos seus usuários os direitos como cida-dãos, a reinserção social deles e das suas famílias (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1992; BARRETO, 2019).

Atualmente existem cinco tipos de CAPS para atendimento psicossocial, além dos seus subtipos, cada um apresenta suas características e as suas

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particularidades na atenção aos vários tipos de usu-ários. A Portaria MS 336/02, estabelece o CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS i II e o CAPS-AD II. Dentro de diversas particularidades de cada tipo de CAPS, exis-tem alguma que são bem relevantes (BRASIL, 2002). O CAPS I é um serviço de atendimento psicos-social localizado em cidades de pequeno porte, 20.000 a 70.000 habitantes e devem dar cober-tura para todo tipo de clientela com transtornos mentais e tem seu funcionamento durante o dia. O CAPS II é um tipo de instituição que se localiza-da em cilocaliza-dades de médio porte, 70.000 a 200.000 habitantes e deve funcionar durante o dia com a clientela adulta, o CAPS III, por sua vez, são loca-lizados em grandes cidades, população acima de 200.000 habitantes e atendem a clientela adulta durante 24h (BRASIL, 2002).

O CAPS II é um serviço de atendimento destinado ao tratamento de transtornos metais de crianças e adolescentes, estão localizados em cidades de mé-dio porte e funcionam durante o dia. O CAPS-AD II é direcionado para a população que tem problemas com álcool e com drogas, funcionam primordialmen-te duranprimordialmen-te o dia e estão localizadas em cidades de médio porte (BRASIL, 2002; COSTA, 2011).

O CAPS-AD é um serviço voltado totalmente para o atendimento de paciente que apresentam problemas relacionados ao uso de álcool e drogas. De acordo com Rodrigues Jorge, este serviço vem ganhando destaque em virtude da visibilidade que a mídia nacional tem dado ao uso de drogas, prin-cipalmente de “crack”.

Devido ao grande número de atendidos pelos CAPS-AD em todo o Brasil, em 23 de dezembro de 2011, foi instituída a portaria 3.088 do Ministério da Saúde que teve como intuito a instituição de um rede de atenção psicossocial direcionada para pessoa com transtorno mental, que sofrem ou passam necessidades em decorrência do uso de crack, álcool e outras drogas, que estejam sendo assistidas pelo SUS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011). Esta portaria tem como objetivo principal a ampliação do acesso por parte da população a atenção psicossocial, a promoção do acesso de usuário de crack, álcool e outras drogas, além de seus familiares no serviço de saúde, como tam-bém garantir qualidade no acolhimento, acompa-nhamento e atenção em casos de urgências por

meio de articulações e integração da rede de aten-ção à saúde mental (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).

Esse serviço de reabilitação e reinserção social atende todo e qualquer usuário de drogas e álcool, de ambos os sexos e maiores de 18 anos por meio de um ambiente acolhedor, para garantir a redu-ção dos danos no usuário e a ligaredu-ção dos laços fa-miliares e sociais (JORGE, 2010).

Em 2001, de acordo com o Informativo de Saú-de Mental no Brasil existem ainda 52.286 leitos em 270 hospitais psiquiátricos espalhados por todo o Brasil. A presença desse modelo de atenção à saú-de no Brasil saú-deu lugar a um saú-debate sobre novas for-mas de garantir o acesso a saúde mental e exigir de forma progressiva os manicômios no Brasil. Tal fato, findou na aprovação da Lei Federal nº 10.2016 de 6 de abril de 2011 que institui novas orientações para o controle de internações psiquiatrias e uma reorientação no modelo assistencial (FERREIRA, 2006; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005).

Em dezembro do mesmo ano, ocorreu a 3ª Conferência Nacional de Saúde Mental, que ti-nha como tema “Cuidar sim. Excluir não!” e con-tou com a participação de 1.500 participantes, tal tema já faz luz aos debates que foram gerados dentro dessa Conferência, potencializando politi-camente a reforma. Não foram aprovadas novas recomendações diferentes das que já existiam na lei debatida anteriormente, também ficou consta-tado nessa Conferência que não ocorreu a abertu-ra de novos hospitais psiquiátricos no Babertu-rasil.

Progressivamente o novo modelo de assistên-cia a pessoa com transtornos mentais foi crescen-do no Brasil. Em 2005, foram criacrescen-dos 625 Centros de Atenção Psicossocial e 286 serviços residen-ciais de atenção à saúde mental (VALENTIN, 2003; FERREIRA, 2006; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005).

Apesar as particularidades de cada CAPS exis-tem regras em comum que devem ser seguidas. No que se diz respeito à estrutura física, todos os CAPS devem ter espaços para acolhimento, de-senvolvimento de atividades, individuais e coleti-vas, espaço para realização de oficinas de reabili-tação e para realização de atividades necessárias em cada caso em particular (JORGE, 2010).

Em 21 de dezembro 2017, o Ministério da Saúde publicou a Portaria 3.588 que alterou as portarias de consolidação de nº 3 e nº 6 de 28 de setembro

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de 2017. Esta nova portaria, descreve o funciona-mento dos centros de atenção psicossociais, o nú-mero mínimo de profissionais, do funcionamento, da atenção integral aos usuários do serviço, da es-trutura física mínima, da implementação e tipolo-gia do serviço, também do financiamento. A equipe de trabalho deve ser multiprofissional, tendo como presença obrigatória de enfermeiro, psicólogo, as-sistente social e psiquiatra que se unirão com os demais profissionais de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2001; BRASIL, 2017; COSTA, 2011).

O Ministério da Saúde, divulgou em agosto de 2017, o Panorama e Diagnóstico da Política Nacional de Saúde Mental por meio da Secretá-ria de Atenção à Saúde, onde foi constatado por meio de dados que em 2017 o Brasil contava com 2.462 CAPS, sendo 146 no Centro-oeste, 860 no Nordeste, 161 no Norte, 862 no Sudoeste e 426 na região Sul do país. O número de leitos psiqui-átricos em Hospitais Gerais no mesmo ano foi de 1.072. Estes dados apresentados mostraram o forte crescimento e aceitação do modelo assis-tencial de saúde mental e a redução significativa dos hospitais psiquiátricos nos últimos anos (MI-NISTÉRIO DA SAÚDE, 2017)

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verifica-se, por meio desta revisão bibliográfi-ca, que a saúde mental no Brasil passou por di-versos processos até chegar ao sistema de aten-ção que conhecemos hoje. Desde a Declaração de Caracas em 1990 até a Lei 10.216 de 6 de abril de 2001 foi um longo caminho percorrido até chegar à criação e consolidação do modelo assistencial de saúde mental brasileira.

Fica perceptível que ocorreu um avanço signifi-cativo na saúde mental brasileira desde a consoli-dação da Lei 10.216, uma vez que ela garantiu di-reito no acesso a assistência em saúde tanto para a população com sofrimentos mentais causada ou não por dependência química. Por meio desta mesma lei, ocorreu a ampliação da rede de aten-dimentos voltados para pessoas com transtorno mental, sendo oferecido pelos CAPS.

Pessoas que antes eram internados em hos-pitais psiquiátricos, isoladas do convívio social,

comunitário e familiar, além de serem submeti-dos a tratamentos e procedimentos muitas vezes desumanos, passaram a ter mais visibilidade, as-sistência e acompanhamentos, garantindo o ree-quilibro e a melhora da qualidade de vida tanto do paciente quanto dos familiares.

Observa-se que a saúde mental tem vínculo com os processos sociais e a influência global de saúde pública. A reforma psiquiátrica percorreu uma trajetória político-social que construíram os alicerces para a reorganização do modelo assis-tencial em saúde mental.

Concluímos que há uma crescente aceitação e investimento para o crescimentos dos Centros de Atenção Psicossocial e uma redução significativa no número de leitos para internamento de pacien-tes com distúrbios mentais em hospitais psiqui-átricos, o que sugere que a Política Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas caminha em direção os que foi preconizado no início da refor-ma. Faz-se necessário uma reflexão mais apro-fundada sobre a efetivação na reversão do modelo tradicional de saúde mental.

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Recebido em: 29 de Junho de 2019 Avaliado em: 15 de Outubro de 2019 Aceito em: 23 de Dezembro de 2019

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