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As consequências da crise americana de 2007/2008 na economia brasileira

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA LUIZ EDUARDO EMERICK BITENCOURT SILVA

AS CONSEQUÊNCIAS DA CRISE AMERICANA DO SUB-PRIME NA ECONOMIA DO BRASIL

Palhoça 2017

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LUIZ EDUARDO EMERICK BITENCOURT SILVA

AS CONSEQUÊNCIAS DA CRISE AMERICANA DE 2007/2008 NA ECONOMIA DO BRASIL

Projeto de pesquisa apresentado ao Curso de graduação em Ciências Econômicas em 2017, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Dr. Jailson Coelho

Palhoça 2017

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AGRADECIMENTOS

Aos meus professores, que não mediram esforços ao tirar dúvidas dos diversos tipos, foram muito atenciosos ao responder vários questionamentos, não só meus, mas também outros alunos, e a sua compreensão quanto a prazos e outras dificuldades que enfrentei nesses dois últimos semestres

A minha esposa Tiffany Emerick, que sempre me deu todo apoio necessário, me encorajou a não desistir do curso, muitas vezes abriu mão de outras coisas para que eu pudesse estudar, me cobrou quando precisava ser cobrado e também sempre torceu por mim em todo tempo.

Aos meus pais e sogros, que sempre me incentivaram a estudar, não importa o tempo que seria necessário e o quão dispendioso seria.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO………..………..5

EXPOSIÇÃODOTEMAEDOPROBLEMA………...6

OBJETIVOS………..………7

OBJETIVOGERAL……..………..………..7

OBJETIVOS ESPECÍFICOS……….………..7

JUSTIFICATIVA………....7

PROCEDIMENTOSMETODOLÓGICOS………..8

CAPÍTULO 1 - A CRISE DO SUBPRIME……….……….………9

CAPÍTULO2-OBRASILAFETADOPELACRISE………..………...19

2.1- EFEITOS DA CONTENÇÃO DE CRÉDITO NO BRASIL…………...……...…..25

2.2 - EFEITOS DO ENCOLHIMENTO DO COMÉRCIO EXTERNO NO BRASIL…....…27

2.3 - A RETIRADA DE CAPITAIS POR PARTE DAS MULTINACIONAIS………...32

CAPÍTULO 3 - COMO O BRASIL SAIU DA CRISE……...………...……34

CONSIDERAÇÕES FINAIS………...………...36

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1 - INTRODUÇÃO

As crises econômicas de um modo geral, geram inúmeros problemas na sociedade. Esses problemas afetam não somente os grandes agentes econômicos, investidores, instituições financeiras, grandes empregadores ou responsáveis do poder público, mas também os diversos tipos de mercado; imobiliário, mercado de ações, comodities, automotivo e agricultura. Sendo assim, toda a classe trabalhadora sofre com os efeitos da crise. Como se não bastasse, as demais esferas da economia e da sociedade também sofrem os efeitos da crise, aposentados, pensionistas, estudantes, em fim, qualquer pessoa que dependa de algum tipo de renda. Quando há a estagnação ou retração do PIB de uma nação, é inevitável que haja a diminuição do salário real, pois sem o aumento no que a nação produz, é totalmente inviável aumentar o salário nominal do trabalhador frente à pressão inflacionária, e essa por sua vez pode aumentar de forma astronômica, fazendo com o que o poder de compra das pessoas diminua, principalmente a classe aposentada, que já não desfruta de aumento salarial, a não ser os que dependem apenas da previdência social. A sociedade como um todo sofre os efeitos da crise em todas as suas esferas e em todos os níveis.

A crise financeira que se iniciou com o aumento da inadimplência por parte dos donos de casas financiadas ou hipotecadas nos EUA e a super desvalorização dos imóveis e ativos financeiros trouxe a tona uma discussão sobre a arquitetura do sistema financeiro americano e internacional, seus riscos sistêmicos, e os meios pelos quais esse sistema é regulado ou sofre interferência das autoridades financeiras. A economia americana sempre esteve baseada nas ideias dos economistas mais liberais, e assim os mercados sempre operaram com um grande grau de liberdade. A crise do subprime deixou um importante questionamento: até que ponto os mercados podem ou devem operar livremente, sem nenhum regulamento? O presente trabalho analisará as diversas formas em que a economia brasileira foi afetada pela crise economica americana entre os anos de 2007 e 2008, buscando entender as razões principais pelas quais não só o Brasil, mas também outros países sofreram com essa crise. A crise do sub-prime foi uma das maiores crises econômicas já registradas na história da

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humanidade, que gerou grandes problemas não só onde foi originada, mas também em diversas outras partes do mundo. Entender os impactos dessa crise no Brasil é de fundamental importância. Quais foram os seus efeitos na indústria, mercado de trabalho, comércio interno e externo? O presente trabalho servirá para esclarecer ao máximo essas questões.

EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

As economias de diversos países sempre tiveram seus altos e baixos, momentos de recessão e crescimento, de crise e de bonanza. Na maioria das vezes as quebras de mercado acontecem de forma repentina, deixando os agentes econômicos com poucas ou sem alternativas de recuperação. O que aconteceu na economia mundial entre os anos de 2007, 2008 e conseguintes não foi diferente. A crise do subprime gera vários questionamentos quanto ao sistema financeiro americano, onde as instituições têm grande grau de liberdade de agencia, e se esse mercado realmente funciona bem sem a regulamentação do estado.

O que pode ser observado na crise do subprime é que a intervenção do Governo aconteceu apenas quando os barcos começaram a afundar. Muitos deles conseguiram sobreviver, mas boa parte naufragou. Como a quebra de um banco prejudica muitos indivíduos, as autoridades dos EUA não tiveram outra opção a não ser injetar dinheiro dos cofres públicos para salvar o mercado. No Brasil o Sistema financeira opera com mais limites impostos pela legislação, que tem suas vantagens e disvantagens. A forma como essa crise afetou a economia brasileira certamente traz ensinamentos para a nação, no sentido de aprender com os erros cometidos por outros países e mercados, e buscar meios para evitar que algo desse tipo aconteça no mercado brasileiro. Mas para que haja aprendizado com todos os fatos ocorridos, é preciso entender as causas do problema. Quais seriam as formas pelas quais a crise do subprime americana afetou a economia brasileira e qual seria o seu verdadeiro impacto sobre o Brasil?

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1.1 Objetivo geral

O objetivo geral do trabalho de conclusão de curso é entender o modo como a economia brasileira foi afetada pela crise americana dos anos de 2007-2008.

1.2 Objetivos específicos

- Verificar o modo como surgiu a crise americana do subprime, os principais motivos e os agentes envolvidos.

- Verificar como estava a economia brasileira nos anos em que a crise veio à tona.

- Descrever o declínio da economia americana, e as suas consequências no PIB do Brasil, setor produtivo e mercado de trabalho no Brasil.

- Verificar e descrever o modo como a economia brasileira se recuperou

JUSTIFICATIVA

É indiscutível a necessidade de entender as crises e a formas como elas afetam a sociedade, desde os mais novos aos mais velhos, desde os operários aos donos de grandes empreendimentos. A partir do ponto em que se toma conhecimento das causas e efeitos das crises econômicas, é possível tomar medidas para evitá-las no futuro, ou pelo menos minimizar os seus estragos. O passado de uma nação é

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composto por capítulos que trazem muitos ensinamentos, tanto para o seu povo quanto para toda a humanidade. Para que o sucesso de um país seja reproduzido, ou para que o seu fracasso seja evitado, é necessário tomar conhecimento das causas e motivos que levaram certos países a enfrentar recessões, assim como os meios pelos quais sua recuperação financeira se deu.

Todos os agentes econômicos tomam decisões baseadas em expectativas futuras, mas também considerando acontecimentos passados, assim como as consequências que os mesmos tiveram. Os motivos pelos quais a crise americana se deu, servem para alertar o sistema econômico de todas as demais nações, com vistas a evitar o mesmo problema no futuro, e o modo como essa crise afetou as diversas economias serve para a antecipação de medidas a serem tomadas pelas autoridades responsáveis. Certamente a pesquisa sobre o tema tem relevância para o mercado financeiro, assim como demais mercados. Alguns autores como Immanuel Wallerstein e Niall Ferguson já desde o início da década de 2000 tentavam alertar sobre o iminente problema do mercado imobiliário, mas aparentemente suas contribuições não foram muito aceitas pelo mercado financeiro americano, ou de certa forma ignoradas.

Ainda que o interesse de boa parte dos agentes financeiros seja agir em favor de si próprio sem levar em consideração o bem-estar dos demais, é imprescindível que as causas e efeitos das crises econômicas sejam pesquisadas e expostas das diversas maneiras possíveis. É possível que algo seja feito para evitá-las ou diminuir seu poder destruidor.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa sobre o tema será realizada de forma bibliográfica e descritiva, identificando os diferentes pontos colocados por cada um dos autores; as principais causas da crise do subprime, os principais eventos que ocorreram não só nos EUA mas

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também ao redor do mundo nos anos de 2007, 2008 e conseguintes, os agentes envolvidos nesses eventos, as formas como a economia americana se desequilibrou e como isso afetou as demais economias, especificamente a economia do Brasil. Será também mencionado no trabalho o período em que o nosso país mais sofreu com a crise do subprime e em seguida, o período em que o mesmo se recuperou.

Os dados de diversos materiais e documentos sobre o assunto serão comparados e usados de acordo com sua relevância para o tema. Diversos autores escreveram livros sobre sobre o tema, mesmo antes de tudo acontecer. No entanto, a despeito dos impactos da crise no Brasil, a maioria dos materiais pesquisados são artigos publicados por universidades, sites e revistas de economia.

CAPÍTULO 1 - A CRISE DO SUBPRIME

O mercado financeiro entrou em colapso em 2008 com a quebra do Lehman Brothers e outros acontecimentos que balançaram a economia mundial. Tudo corria bem antes da queda, mas alguns economistas já previam o que veio a acontecer. E o que realmente aconteceu teve suas origens nas especulações do mercado de imóveis. O mercado imobiliário americano sempre foi de extrema importância para o desenvolvimento da nação, muitas pessoas investem nesse mercado com a expectativa da valorização dos imóveis, que são uma das melhores opções de investimento nos EUA, devido a baixa taxa de rendimento de poupança e certificados de depósito.

Desde o início dos anos 2000, principalmente depois dos atentados

terroristas em 2001, as taxas de juros nos EUA baixavam continuamente, recuando de 7% a. a. no ano 2000 para aproximadamente 3% a. a. em 2003 (O MERCADO..., 2008), como um estímulo ao consumo. Como podemos observar na figura abaixo:

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A redução das taxas de juros não só fez com que a população consumisse mais, mas também contribuiu para que o endividamento aumentasse. Quando o FED ou quaquer banco central reduz a taxa de juros, essa serve como um marco regulatório e os juros imobiliários também tendem a diminuir. Nessa mesma metade da década de 2000, os imóveis passaram a valorizar acima do normal, enquanto as taxas de juros para financiamento caíam. Grande parte da população, na expectativa de que os imóveis continuaríam a se valorizar, passaram a investir até mais do que , hipotecando suas casas para comprar outros imóveis ou até mesmo usando esses empréstimos para outros fins, esperando que seus próprios imóveis valorizariam e sua dívida ficaria menor.

Após a crise das ações das empresas de tecnologia (2000-2002), os bancos buscaram outros ativos para negociar. O boom nos preços dos imóveis tornou-se a alternativa para a geração de novas hipotecas, ampliação do crédito ao consumidor e extração de home equity por meio de refinanciamento de antigas hipotecas. Essas operações de refinanciamento permitiram as famílias converterem a valorização patrimonial de suas residências em poder de compra por meio do crédito. Assim, as famílias aumentaram seus níveis de endividamento, financiando a expansão dos investimentos imobiliários, puxando a economia americana rapidamente para uma recessão. (FREITAS, Maria Cristina Penido de; CINTRA, Marcos Antônio Macedo, 2008, p. 417)

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Essa supervalorização dos imóveis parecia não ter fim, e a população americana continuava se “enriquecendo” mais e mais. Os numeros eram super atrativos. Não havia outra forma mais eficiente de ganhar dinheiro e lucrar com um investimento a não ser comprar casas e ver seu valor subir cada vez mais. O gráfico abaixo mostra um pouco essa realidade nos anos anteriores a crise:

Os bancos também precisavam “aproveitar” esse boom no preço dos imóveis, e passaram a emprestar mais e mais dinheiro, e a negociar ativos de empréstimo com outras instituições. A ganância era tanta que com o passar do tempo esses bancos começaram a emprestar dinheiro para pessoas com capacidade duvidosa. A cada cliente que não conseguia pagar, o banco tomava o imóvel e ainda lucrava, pois os preços estavam subindo desenfreadamente; no momento em que o banco vendia o

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imóvel para um terceiro, já estaria bem mais valorizado, e a diferença ia para os cofres da instituição. O que ninguém esperava é que com o passar do tempo a inadimplencia iria tomar enormes proporções, e seria generalizada. A partir daí foi uma bolha atrás da outra estourando até que a economia entrou em colapso. Uma grande parcela do consumo dos americanos está no mercado automotivo. As vendas de automóveis são um reflexo bem direto sobre a situação econômica do país. Como pode ser observado no gráfico abaixo, as vendas de automóveis estava subindo desenfreadamente, até que a crise chegou.

A crise do subprime pegou o mundo de surpresa, mas o mais grave é que surgiu numa grande economia, os Estados Unidos, que atravessava um período letárgico, e logo se propagou no

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universo de países industrializados, igualmente com claros sinais de prolongada fadiga. (MUNHOZ, 2009, p. 77)

A economia americana é extremamente consumista, e esse consumo move a economia de uma forma muito impressionante. Na verdade o consumo é sempre muito incentivado pelas autoridades, e isso aconteceu, como citado anteriormente, nos primeiros anos da década de 2000. Quando tudo entrou em colapso, a inadimplência sofreu quedas extremamente bruscas. O gráfico abaixo mostra um pouco isso.

Fonte: http://www.mises.org.br, acesso em 08/06/2017

Segundo Morais (2009), a crise do subprime americana, assim como outras crises anteriores, tem uma dimensão internacional, o que significa dizer que a instabilidade na economia dos EUA seria sim refletida em outros países. Isso faz mais sentido ainda quando é levado em consideração a forma como os mercados estão interligados hoje em dia, especialmente com a globaização e novas tecnologias que permitem o acompanhamento de informações em tempo real.

Dada as características dessa crise, ela pode ser classificada como uma crise sistêmica. Assim como aconteceu com outras grandes crises que marcaram viragens nos sistema capitalista internacional e no sistema interestatal mundial, casos de 1929-33 e de 1971-74, esta crise tem um dimensão internacional. Ela também se dá em um momento de aparente fragilidade da

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hegemonia do país líder, os EUA, e, por fim, é marcada por uma ruptura no paradigma de teoria econômica que sustentaram, até então, as políticas macroeconômicas do próprio poder hegemônico, no caso, o conjunto de teorias e práticas que se costuma denominar por neoliberalismo (MORAIS, 2009, p. 47)

Entende-se que o Sistema financeiro americano já estava à beira de um colapso desde que os bancos passaram a emprestar dinheiro para a compra de casas a pessoas que não tinham bom histórico de crédito, no entanto, essa não foi a única razão para a queda, as próprias instituições financeiras passaram a negociar papéis que poderiam se tornar insolventes a qualquer momento. Segundo Roubini & Mihm, apud Helleiner (2011), não eram só as hipotecas que eram consideradas como subprime, mas o sistema financeiro como um todo estava deficiente. Como se não bastasse a bagunça nesse sistema nos EUA, bancos de outros países, principalmente europeus, também estavam envolvidos em operações de alto risco, fato esse que colaborou para que a crise tivesse dimensões maiores.

As dimensões da crise foram sem dúvida algo que gerou espanto para muitas pessoas, inclusive os que menos esperavam ser atingidos por ela.

No sistema financeiro a interligação de instituições é bem visível. Boa parte dos ativos possúem lastros com outros ativos e outras instituições financeiras. Mesmo quando não há esse lastro, as decisões de uma instituição financeira dependem muito de expectativas e das diretrizes que outros players estão tomndo. Levando isso em consideração, a decadência do sistema financeiro foi inevitável.

Assim, em uma crise de confiança, um após o outro, os grandes bancos norte americanos e europeus começaram a falir ou perder consideravelmente seu valor de mercado. UBS, Merryl Lynch, Goldman Sachs, Morgan Stanley e ING são exemplos de grandes instituições financeiras que se encontram em situação delicada. No início de 2008, o banco Bear Stearns anunciou sua venda para o JPMorgan Chase, levando ainda mais temor aos mercados. Finalmente, em 14 de setembro de 2008, o Lehman Brothers, quarto maior banco de investimentos dos EUA, pediu concordata, arrastando a American International Group (AIG), uma das maiores seguradoras do mundo, e Fannie Mae e Freddie Mac, as duas maiores financiadoras hipotecárias do país. O mercado financeiro então foi tomado pelo pânico e, em um ano, as bolsas mundiais perderam metade de seu valor, caindo de sessenta e três trilhões de dólares em

20 de outubro de 2007 para trinta e três trilhões de dólares em outubro de 2008 (VIEIRA, informação verbal, 2008).

Para ter uma noção dos impactos da crise na economia americana em instituições financeiras ao redor do mundo segue um breve resumo do que ocorreu com as mais afetadas pela crise, preparado pelo jornal Folha de São Paulo:

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Instituições norte americanas afetadas pela crise até novembro de 2008:

a) Bear Stearns – um dos maiores banco de investimentos do país, foi vendido, no início de 2008, ao JPMorgan Chase;

b) Fannie Mae e Freddie Mac – no início de setembro de 2008, o

governo norte-americano resgatou as duas maiores financiadoras de hipotecas do país, em um acordo que poderá custar até duzentos bilhões de dólares aos

contribuintes do país; elas possuem quase a metade dos doze trilhões de dólares em empréstimos para a habitação nos EUA;

c) Countrywide Financial – o Bank of America chegou a um acordo para adquirir a financiadora imobiliária por quatro bilhões de dólares, em uma operação de troca de ações;

d) Lehman Brothers – o quarto maior banco de investimentos dos EUA pediu concordata em setembro e se transformou no primeiro grande banco a entrar em colapso desde o início da crise financeira;

e) AIG - a seguradora AIG conseguiu obter uma injeção de recursos de oitenta e cinco bilhões de dólares do governo estadunidense para aumentar sua liquidez e evitar a quebra;

f) Merrill Lynch – o banco acertou a sua venda para o Bank of America (segundo maior banco dos Estados Unidos), por cinqüenta bilhões de dólares, no mesmo dia em que o Lehman Brothers quebrou;

g) Goldman Sachs e Morgan Stanley – dois dos grandes bancos de

investimentos que restaram nos EUA e que foram autorizados pelo FED a se tornarem bancos comerciais; a mudança no status permite que eles criem bancos que poderão tomar depósitos, amparando os recursos de ambas instituições, com o mesmo acesso de outros bancos comerciais aos planos de empréstimo da emergência do FED;

h) Washington Mutual – considerada a maior falência de um banco

americano, o sexto maior banco norte-americano em ativos foi fechado pela Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), órgão garantidor de contas bancárias, e a maior parte das suas operações foi vendida ao JPMorgan Chase, por um bilhão e novecentos milhões de dólares;

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i) Wachovia – um dos maiores dos EUA, acabou vendido para o Wells Fargo;

j) Freedom Bank – banco regional que declarou seu fechamento e se tornou a 17ª companhia bancária a quebrar no país em 2008.

Na Europa, a mesma matéria da Folha de S. Paulo, listou as seguintes instituições financeiras afetadas pela crise, até novembro de 2008:

a) Northern Rock – o banco britânico foi nacionalizado em fevereiro de 2008, sendo um dos primeiros atingidos diretamente pela crise os EUA;

b) UBS – banco suíço, um dos primeiros e dos mais atingidos pelos

efeitos da crise, teve no segundo trimestre de 2008 um prejuízo de trezentos e vinte e oito milhões e quarenta e cinco mil dólares e já cortou seis mil empregos desde 2007. Em abril de 2008, o UBS lançou no seu balanço mais dezenove bilhões de dólares em prejuízo com os empréstimos imobiliários subprime e foi ao mercado buscar recursos para fechar os rombos;

c) BNP Paribas – o banco francês foi o primeiro afetado pela crise, o que deflagrou uma onda de incertezas em agosto de 2007;

d) Fortis – as ações do banco já caíram mais de 70% em 2008. Para devolver liquidez ao Fortis, os governos de Holanda, Bélgica e Luxemburgo injetaram dezesseis bilhões de dólares no banco, recebendo em troca 49% das ações nos braços nacionais da instituição;

e) Bradford & Bingley – o Reino Unido nacionalizou a financiadora de hipotecas e créditos imobiliários e teve parte das operações assumida pelo Banco Santander;

f) HBOS – o banco britânico Lloyds TSB comprou o Halifax Bank of

Scotland (HBOS), maior credor imobiliário cotado no Reino Unido, por doze bilhões e duzentos milhões de libras esterlinas;

g) Hypo Real Estate – a instituição alemã, também de crédito

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de bancos para salvar-se da falência;

h) Glitnir – em setembro de 2008, o governo da Islândia comprou 75% do terceiro banco local por cerca de novecentos milhões de dólares;

i) Landsbanki – o governo da Islândia assumiu o controle total sobre o segundo maior banco do país, em uma operação equivalente à nacionalização, para permitir a continuidade de suas operações comerciais e bancárias;

j) Kaupthing – o banco, maior instituição de crédito da Islândia, tornou se o terceiro nacionalizado no país em três dias, no mês de setembro de 2008;

l) Dexia – o franco-belga Dexia recebeu uma injeção de recursos no

valor de nove bilhões e duzentos milhões de dólares da Bélgica, França e Luxemburgo para continuar operando e foi nacionalizado;

m) Unicredit – o banco italiano anunciou que deve cortar setecentos empregos do setor financeiro em 2009. Em 2008, o banco já cortou trezentos postos de trabalho e se viu obrigado a anunciar um aumento de capital de mais de seis bilhões de euros;

n) ING – o grupo bancário holandês recebeu uma injeção de capital estatal de dez bilhões de euros do governo;

o) KBC – Após resgatar o Fortis e o Dexia, o governo da Bélgica injetou três bilhões e quinhentos milhões de euros no KBC, único grande banco do país que ainda não havia recebido ajuda financeira;

p) Banco Português de Negócios (BPN) – o governo de Portugal decidiu nacionalizar o BPN para salvá-lo da bancarrota.

Algo interessante que aconteceu na crise do subprime é que essa não somente atingiu as grandes instituições financeiras, mas também pequenos bancos e pequenas empresas que atuavam no mercado. Antes da bolha estourar, os ganhos no mercado imobiliário eram exponenciais, e geravam enormes possibilidades para vários agentes. Com isso, a quantidade de entidades financeiras envolvidadas com os ativos de empréstimos subprime só aumentava. Quando os grandes bancos começaram a falir, as demais instituições financeiras sofrem diretamente o impacto, e isso foi o que ocorreu.

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Os impactos que a crise teve em cada país dependeram da exposição dos bancos a estes ativos tóxicos, da robustez do sistema financeiro de cada nação para suportar os efeitos iniciais, e das medidas adotaras por cada governo para responder aos desafios colocados pela turbulência financeira que se seguiu à quebra do banco norte-americano. Diferente das crises antecessoras, esta se concentrou, desde o primeiro momento, nos países centrais do capitalismo, com sistemas bancários mais comprometidos com os ativos tóxicos, cujos valores se erodiam em velocidade recorde. Mas a crise não se restringiu apenas a bancos americanos e europeus, alcançando também instituições não bancárias - fundos de investimento, hedge funds, private equities funds, instituições especializadas em hipotecas. (DE VIZI, Bruno, 2011)

Como também citado por De Vizi (2011), a crise foi se estendendo aos demais setores da economia, e não se deteve apenas ao setor financeiro, as consequências da crise foram sentidas por milhares de americanos que perderam o emprego, ou que perderam seus investimentos em fundos de aposentadoria, fundos mútuos, ações em instituições financeiras e outras empresas, etc. Diferente da maioria dos brasileiros, a população americana geralmente investe o dinheiro de sua aposentadoria no mercado financeiro, onde há maiores possibilidades de retorno. No entanto, em tempos de crise ou quebras de mercado, sua situação fica muito comprometida. Independente do setor em que a crise é originada, ela se alastra para os demais setores e muitas vezes atinge a sociedade como um todo. Pra exemplificar um pouco esse fenômeno, Munhoz escreve o seguinte:

As crises econômicas partidas das economias centrais são temidas porque tradicionalmente se iniciam pelo lado real da economia, quase sempre se revelando, no seu estágio inicial, através do enfraquecimento da demanda. E a partir daí, internamente, tem um efeito dominó, pois menos consumo leva a menor produção e menos emprego, enfraquecimento das empresas, aumento da inadimplência pessoal e empresarial, o que leva os bancos a agir mais conservadoramente na concessão de créditos, originando, paralelamente à crise na produção, uma crise de liquidez.(MUNHOZ, Dércio Garcia. 2009, p. 73)

Os problemas na economia americana começaram a se alastrar para vários outros países, e principalmente aqueles que tinham laços financeiros mais estreitos com os EUA começaram a sofrer as consequências das falhas em seu mercado imobiliário e bancário. Os investimentos no setor residencial diminuíram logo no início da crise, quando a bolha imobiliária estourou, mas no decorrer dos meses, os investimentos não residenciais também diminuíram, o que gerou diversos outros problemas. As taxas de desemprego aumentaram consideravelmente em várias partes

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do globo. Em 2009 nos Estados Unidos, 9,5% da população ficou desempregada, 5,7% no Japão e 9,4% na zona do Euro também estava sem trabalho. As dimensões da crise do subprime foram bem notórias. Era impossível que os demais países ficassem totalmente imunes a situação. O gráfico abaixo mostra um pouco essa realidade:

CAPÍTULO 2 - O BRASIL AFETADO PELA CRISE

Dentre os países afetados pela crise do subprime, o Brasil não foi um dos mais atingidos, no entanto, ao final de 2008 o choque foi grande com a divugação dos resultados econômicos. O PIB encolheu 3,6% no último trimestre daquele ano. Não só

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o Brasil foi afetado pela crise, muitos outros países também sofreram com o caos econômico americano, numa economia globalizada seria quase imposível não haver alterações em outras partes do globo. Com a crise norte-americana, também houve uma desvalorização do dólar em nível internacional, tornando o real (moeda brasileira) uma das moedas mais valorizadas do mundo, fator que prejudicou empresas nacionais que dependiam diretamente das exportações. O dólar mais baixo também impulsionou a demanda por importações de produtos e serviços que passaram a concorrer como produtos brasileiros e enfraquecer a produção interna. No caso da economia brasileira, a crise veio em um momento em que o país experimentava uma recuperação economica muito boa, e a expectativa era de crescimento. Com a chegada da crise o cenário mudou. Muitos autores falam sobre as diversas formas pelas quais nossa economia foi afetada, mas nos atentaremos aqui nas principais.

No Brasil, a crise internacional terminou chocando-se com a trajetória positiva de combinação do crescimento econômico maior com melhoras sociais, especialmente no campo da pobreza, distribuição da renda e do emprego formal. As políticas anticíclicas adotadas até o presente momento evitam que o país percorra o mesmo caminho de regressão econômica e social observada durante as crises anteriores (1981/83, 1990/92, 1999 e 2003). (POCHMANN, Marcio, 2009, p. 69)

A fase de recuperação e crescimento economico era bem visível nos anos anteriores a crise, havia euforia no campo das finanças, sucessivas valorizações do índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), aportes de capital sucessivos por parte de empresas nacionais e multinacionais, uma expansão bem considerável. Segundo Gomes, 2009, o contexto abriu espaço para a expansão das transações especulativas, com destaque para as operações com derivativos cambiais, envolvendo grandes corporações empresariais e bancos nacionais e estrangeiros. Após um longo período de bonanza, houve uma grande quebra nas expectativas otimistas do período anterior em decorrência da quebra do banco Lehman Brothers em setembro de 2008. A incerteza tomou conta do mercado, os investidores passaram a temer os efeitos da instabilidade do sistema financeiro americano no Brasil, e assim houve uma diminuição muito grande no volume de negociações na bolsa de valores. Essa incerteza existe todos os dias quanto a diversos fatores, no entanto, em períodos de crise, ela se

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agrava. Cada investidor da bolsa precisa tomar decisões baseadas na performance de outros mercados e de outras economias. Os preços no mercado financeiro refletem as decisões tomadas pelos investidores, e esses agem segundo expectativas sobre o futuro. Como naquele período muito pouco se sabia sobre o que aconteceria nos mercados financeiros do mundo todo, houve uma grande fragilização da economia. No Brasil, o movimento do mercado financeiro também acompanhou o cenário de euforia do mercado americano e, em menor magnitude, o posterior quadro de incertezas.

Um grande fator que gerou euforia no mercado financeiro americano foi o aumento exponencial na quantidade de derivativos que estava sendo disponibilizada. Derivativos são altamente arriscados, e isso sem duvida alguma contribuiu para a imprevisibilidade das operações financeiras aumentassem ainda mais. No Brasil as empresas estavam investindo também em derivativos, isso gerou uma maior insegurança e instabilidade.

O otimismo na economia brasileira até o terceiro trimestre de 2008 era muito grande. Os saldos da balança comercial eram animadores ano após ano. Depois da instabilidade que marcou os anos de 1980 e de 1990, o Brasil demonstrava, desde 2003, uma melhora considerável nas variáveis econômicas, e também indicadores políticos e sociais. Em 2004, o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou uma variação real de 5,71% e, após dois anos com crescimento acima dos 3%, alcançou o percentual de 6,09% em 2007. Entre o terceiro trimestre de 2007 e igual período de 2008, o crescimento acumulado em 12 meses partiu de 5,4% para próximo de 6,8%14, acompanhando o ritmo de expansão da demanda doméstica que passou de 7,7% para 11,9% no mesmo período. Com esse aquecimento da economia, houve um grande aumento no crédito, que consequentemente gerou um aumento no consumo e diversos outros indicadores.

Apesar de os bancos nacionais possuírem participações mínimas no mercado de hipotecas americano, o chamado “subprime brasileiro” abrangeu as operações com derivativos cambiais realizadas entre importantes bancos − tanto domésticos quanto estrangeiros − e empresas nacionais. A surpreendente revelação de que corporações de grande porte − como Sadia, Aracruz e Votorantim − incorreram em perdas financeiras, por estarem envolvidas em transações especulativas no mercado de derivativos cambiais, causou enorme temor entre os operadores do sistema financeiro brasileiro diante da incerteza quanto ao real volume dos prejuízos e das

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instituições envolvidas. Segundo estudo de Novaes (2010), os dois casos mais relevantes, Sadia e Aracruz − ambas com ADR20 negociados na Bolsa de Valores de Nova York − sofreram perdas da ordem de R$ 760 milhões e de R$ 1,95 bilhão em transações financeiras de câmbio futuro. Além disso, o Banco de Compensações Internacionais (BIS) divulgou estimativa para as perdas dascompanhias brasileiras com derivativos cambiais, no último trimestre de 2008, de cerca de US$ 25 bilhões − seis vezes superiores àquelas estimadas para o México (US$ 4 bilhões). Algumas motivações são citadas para explicar a decisão das companhias de correrem riscos dessa magnitude. Um dos principais argumentos recai sobre a perda de competitividade das empresas em razão da valorização do real no período anterior à crise de 2008. Sob esse argumento, a busca por alternativas de ganho financeiro para compensar a queda nas receitas leva as empresas a optarem pela valorização dos seus ativos por meio de transações especulativas cambiais. Esse quadro é estimulado pelos bancos privados, principalmente a partir de 2007,21 mediante a oferta de empréstimos com dupla indexação: taxa de juros do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) e da variação cambial, ou seja, crédito vinculado às operações com derivativos em dólar. O cenário de tranquilidade no mercado interno e a relativa estabilidade da taxa de câmbio combinados com o otimismo quanto ao desempenho da economia brasileira reuniram os condicionantes ideais para que empresas e instituições financeiras subestimassem os riscos inerentes a essas operações e assumissem exposições consideráveis na moeda americana. O rompimento das expectativas no mercado brasileiro ocorreu na ocasião do colapso financeiro em 2008, cujo impacto imediato repercutiu sob a forma de intensa e abruta desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar. Entre a metade de setembro e o início de outubro de 2008, o real desvalorizou 29,6%, o que desencadeou a sequência de prejuízos financeiros atrelados às referidas operações com derivativos. (GOMES, Keiti da Rocha. 2011. Pg. 47)

O gráfico abaixo mostra um pouco o impacto da crise no indice Bovespa nos anos de 2008 e 2009. Como pode ser observado, há uma grande diferença entre os anos anteriores à crise, e também posteriores.

Fonte: Folha de São Paulo. Disponível em http://aeconomianoseculo21.blogfolha.uol.com.br. Acesso em 12 Jun. 2017.

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Como explica Pochmann (2009), nossa economia foi atingida de três diferentes maneiras:

1 – contenção do crédito internacional, o que prejudicou principalmente ao setor produtivo doméstico. Como sabemos, o setor produtivo sempre demanda investimentos de vários tipos, muitos desses investimentos vêm de outros países, e muitos deles são efetuados por empresas que tomam empréstimos de instituições financeiras. Esses investidores são principalmente de países mais desenvolvidos, que na crise do subprime foram afetados em sua maioria. Vários bancos europeus passaram por dificuldades financeiras, uma prova de que a União Européia foi fragilizada com a crise. Levando em consideração que os países que mais tinham condições de investir estavam em recessão, o setor produtivo brasileiro ficou sem expectativa de investimento externo por um bom tempo, e sem fontes de empréstimo em países onde antes captava recursos.

2 – Encolhimento do comércio externo, que consequentemente limita as exportações e a fabricação dos bens a serem exportados. Nos anos anteriores a 2008 o dolar estava relativamente valorizado, o que colocava os exportadores brasileiros em posição vantajosa, pois o poder de compra dos importadores de produtos brasileiros era alto. Com o deflagrar da crise, boa parte desses compradores mal conseguia cumprir com seus compromissos financeiros, isso fez com que as exportações brasileiras diminuíssem e consequentemente a fabricação de produtos para exportação também caísse. Com a queda das exportações e a queda na produção, os empregos foram afetados.

3 – Decisão das matrizes de grandes corporações transnacionais, de reposicionar suas filiais contidas no Brasil. Araujo apresenta essas formas que afetaram nossa economia em números:

Embora os efeitos da crise financeira fossem, em um primeiro momento, subestimados pelo próprio governo brasileiro – que acreditou na hipótese do descolamento dos mercados

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emergentes –, a economia brasileira sofreu uma forte desaceleração econômica já no último trimestre de 2008, quando o PIB declinou 2,9% em comparação com o trimestre anterior, contra um crescimento de 1,1% registrado no terceiro trimestre. Nos meses de novembro e dezembro de 2008 a produção da indústria de transformação registrou uma queda acumulada de 28%. A capacidade instalada na indústria de transformação declinou de 84% em setembro de 2008 para 76% em janeiro de 2009 – uma queda de quase 10%. Os impactos da crise também foram sentidos no mercado de trabalho, com a taxa de desemprego aberto tendo alcançado 9% em março de 2009 (ARAUJO, Victor Leonardo de; GENTIL, Denise Lobato, 2010. p. 11)

Castilho (2011) afirma que a crise americana demorou a impactar o comércio exterior brasileiro, mas quando o fez, foi na mesma intensidade com que prejudicou os fluxos de comércio internacional. As economias mais próximas aos EUA foram afetadas em menos tempo, e tiveram retração economica quase que imediata. Levando em consideração que essas economias representam boa parte dos importadores de produtos brasileiros, sua demanda diminuiu muito e assim também aconteceu com as exportações brasileiras. No entanto, a recuperação foi mais rápida do que se esperava. Pochman relata essa recuperação:

No Brasil, a crise internacional terminou chocando-se com a trajetória positiva de combinação do crescimento econômico maior com melhoras sociais, especialmente no campo da pobreza, distribuição da renda e do emprego formal. As políticas anticíclicas adotadas até o presente momento evitam que o país percorra o mesmo caminho de regressão econômica e social observada durante as crises anteriores (1981/83, 1990/92, 1999 e 2003). (POCHMANN, Marcio, 2009, p. 69)

Durante dois trimestres seguidos, desde outubro de 2008, houve queda na taxa de expansão do PIB brasileiro, influenciado decisivamente pelo comportamento do setor industrial. Por causa disso, o funcionamento do mercado de trabalho voltou a apresentar-se mais desfavorável àqueles que dependem do próprio trabalho para sobreviver. Além do aumento do desemprego, observa-se também o crescimento dos postos de trabalho informais e da rotatividade nos empregos assalariados formais

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2.1 – EFEITOS DA CONTENÇÃO DE CRÉDITO NO BRASIL

A obtenção de crédito por parte das empresas é imprescindível para que haja investimentos nos diversos setores, principalmente no setor produtivo. A maioria das grandes organizações, os principais players do mercado, atuam e operam através de recursos provenientes de terceiros. Quando há a contenção de crédito por parte das instituições financeiras, a desasceleração no ciclo de investimentos é iminente. Freitas explica sobre como isso se origina:

Na economia capitalista, entendida como economia monetária de produção, o sistema bancário atua como agente livre na concessão de poder de compra para antecipação do gasto (em consumo e em investimento). Além da função de intermediação financeira, os bancos criam moeda ao conceder crédito, enquanto parte integrante de organização institucional particular que é o vasto sistema de pagamento hierarquizado e organizado em torno do banco central.

Ao criar moeda em contrapartida à concessão de crédito, sob a forma de reconhecimento de dívida contra si próprio, os bancos liberam a sociedade das amarras da acumulação prévia de recursos e jogam um papel-chave na ampliação do nível dos investimentos. Porém, os bancos atuam com base em expectativas em relação ao futuro em um mundo de incerteza e irreversibilidade. Assim, quando ampliam crédito, agem de acordo com suas próprias considerações sobre o estado dos negócios, o desempenho da economia e suas perspectivas de rentabilidade e risco dos tomadores, exigindo desses uma "margem de garantia" definida a partir do valor do colateral dos empréstimos e dos lucros atuais e prospectivos do negócio a ser financiado. (FREITAS, Maria Cristina Penido de, 2009)

As estimativas do Banco Mundial (2009) indicam uma retração de 40% do crédito ao comércio mundial no último trimestre de 2008, comparado ao mesmo período do ano anterior. Esta se explica pela contração generalizada da liquidez nos mercados mundiais, decorrente da falência de instituições financeiras e da forte retração das instituições bancárias e não bancárias, agravada pelo aumento da aversão ao risco dos investidores. Essa contração da liquidez fez com que o crédito se tornasse mais caro, assim como afetou as transações de financiamento dos fluxos de comércio internacional. Em fins de 2008, acreditava-se em que os países em desenvolvimento tendiam a ser mais afetados pela contração do crédito, em virtude de serem considerados países com níveis de riscos superiores e exportadores de bens com

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menor valor agregado. Para esses bens, o custo elevado do financiamento podia superar a margem de lucro dos exportadores. Isso sem dúvida nenhuma gerou uma apreensão muito grande nos produtores brasileiros e demais exportadores de commodities.

Em termos do impacto na economia brasileira, a retração de crédito foi o que causou o maior estrago. Muitas empresas deixaram de investir pela falta de acesso a empréstimos no exterior, e assim, o crescimento econômico do Brasil foi prejudicado. Com a falta de investimentos, há diminuição da geração de empregos, que consequentemente faz com que a renda no geral diminua. Não somente isso mas também, com a falta de investimentos, os agentes economicos diminuem suas expectativas e mesmo tendo recursos, tendem a não investir. Sicsú relata esse encolhimento do crédito:

No quarto trimestre de 2008, o Brasil foi atingido pela crise econômicofinanceira internacional. Foi uma crise que veio de fora para dentro. Primeiramente, houve uma aguda restrição do crédito ofertado por instituições estrangeiras, principalmente para as atividades de exportação, mas não somente. Posteriormente, instituições financeiras domésticas elevaram o spread de suas operações correntes no país, racionando ainda mais a oferta de crédito. (SICSÚ, João, 2009, pg. 88)

Quando há escassês de crédito, nem sempre é facil mensurar os efeitos dessa falta. Como já mencionado, a falta de crédito diminui os investimentos, que consequentemente afetam negativamente várias outras coisas. Como o crescimento econômico depende muito da expectativa dos agentes, se os mesmos não esperam retornos consideráveis em determinado setor, ou em todos os setores de forma generalizada, os mesmos não só deixam de investir, mas também retiram seu dinheiro já investido. A partir daí, a decadência acontece como uma bola de neve. O mesmo autor relata um pouco desses efeitos:

Em paralelo, grandes empresas do setor produtivo brasileiro revelaram perdas significativas, já que estavam “investindo” parte considerável dos seus ganhos acumulados em atividades financeiras. E, finalmente, a economia foi atingida por uma crise de confiança por parte de empresários e trabalhadores, isto é, uma crise de contenção de gastos de investimento e consumo. Houve fuga de capitais da bolsa de valores e o índice Ibovespa “tombou” de 73.516

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pontos, em 20 de maio (pico do ano de 2008), para 29.435, em 27 de outubro. A venda de veículos caiu de 272 mil unidades, em julho de 2008, para 166 mil, em novembro. Tudo isso ocorreu em espaço de tempo muito curto e de forma bastante acentuada. (SICSÚ, João, 2009, pg. 88)

Os efeitos reais da contanção de crédito no mercado de trabalho foram muito impactantes. Muitos perderam seus empregos de forma inesperada. Na verdade as proporções de perdas de postos de trabalho no Brasil foram grandes, deixando muitas famílias sem renda. Essa série de perdas nos postos de trabalho gera um problema ainda maior: com a falta de renda, as famílias passam a depender da previdência social, seguro desemprego, etc, o que gera déficit nos cofres públicos. O resultado de toda essa contração de crédito foi bem negativo para o mercado de trabalho no Brasil, como relata Sicsú:

Os focos de demissões de trabalhadores com carteira assinada estavam na indústria, na agropecuária e na construção cívil. Entre outubro de 2008 e março de 2009 foram perdidos de forma líquida, na indústria, mais de 492 mil postos de trabalho. Na agropecuária, foram perdidos mais de 227 mil e, na construção civil, mais de 72 mil. Este segmento, desde janeiro, passou a criar de forma líquida novos postos de trabalho. A agropecuária também “reverteu o sinal”, desde fevereiro. Contudo, na indústria ainda permaneceu o sinal negativo, ou seja, ainda ocorreram demissões líquidas em março: mais de 35 mil postos de trabalho foram perdidos naquele mês. (SICSÚ, João, 2009, pg. 88)

2.2 – EFEITOS DO ENCOLHIMENTO DO COMÉRCIO EXTERNO NO BRASIL

Nos anos anteriores a 2008 o Brasil experimentava um crescimento expressivo no valor das exportações. Segundo dados do Banco Central, as exportações saltaram de US$ 73 bilhões, em 2003, para US$ 160 bilhões, em 2007. Em 2006, o Brasil teve um superávit recorde de mais de US$ 46 bilhões. No entanto, esse crescimento se deu basicamente em decorrência do aumento nos preços das commodities e demais produtos que o país exportava, e não no aumento do volume dessas exportações. Com a crise do subprime, houve uma significativa retração dos investimentos nos países mais desenvolvidos, fazendo com que suas indústrias diminuíssem a demanda por matérias-primas e produtos acabados. A queda no preço das commodities também foi

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iminente, e diversos países sofreram seus efeitos. Toda crise econômica tem suas fases e cada uma delas atinge determinadas esferas da sociedade de maneiras diferentes. Mas as crises se generalizam quando a indústria promove demissões em massa. A queda nas exportações somada à abundância de más notícias econômicas, nacionais e internacionais divulgadas pela mídia, gerou pânico nos empresários e consumidores.

A crise afetou muito mais as quantidades comercializadas do que os preços em si. Isso foi observado tanto para as exportações como para as importações. A suspensão repentina dos investimentos decorrente das expectativas negativas e a queda do nível de produção fizeram com que a quantidade de importações diminuísse ainda mais do que a quantidade exportada. Em contrapartida, as quantidades exportadas apresentavam uma tendência à queda desde 2007, essa tendência era observada devido ao grande aumento nos preços. Como relata Ribeiro (2009, p.5), “antes de iniciar-se a crise, as exportações brasileiras sustentaram seu crescimento nos ganhos de preço, especialmente em 2008”. Ou seja, após 2007, como os preços de commodities estavam super inflacionados, os importadores de produtos brasileiros estavam gastando bem mais do que antes na importação. Com o preço muito alto, as quantidades passaram a diminuir, e então, a crise não só influenciou negativamente no preço das commodities, mas sim, a quantidade que já estava em queda, diminuiu ainda mais. O preço do petróleo por exemplo alcançou um dos maiores níveis em julho de 2008. Esse aumento desenfreado de várias commodities exacerbou o temor de uma crise alimentar mundial, segundo qual o movimento especulativo em direção das commodities agrícolas juntar-se-ia a outros fatores, causando um aumento da fome no mundo. Alguns produtos, como milho e laranja, chegaram a se valorizar em 39% no primeiro semestre de 2008. A eclosão da crise financeira reverteu repentinamente essa tendência. Em resumo, se antes da crise houve um forte ganho de preços nas commodities, ele mesmo se encarregou de anular tal valorização. Isso aconteceu principalmente pela saída dos capitais especulativos desses mercados, dadas as necessidades de liquidez em outros mercados. A partir do início de 2009, no entanto,

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observou-se uma recuperação dos preços das commodities. Para muitos produtos, os preços atingiram, em meados de 2010, níveis superiores à média de 2007.

Como já citado neste trabalho, o PIB brasileiro caiu 3,6% no último trimestre de 2008, apesar dos esforços do governo para conter os impactos da crise. Se as indústrias deixam de exportar, consequentemente diminuem seus níveis de produção, o que as força a demitir funcionários. Isso aconteceu na prática nos anos de 2008 e 2009. Pode-se dizer que o encolhimento no comércio externo foi um dos principais fatores, se não o principal, que mais contribuiu para o agravamento da situação econômica do Brasil nos anos em questão. Os principais importadores de produtos brasileiros enfrentavam grandes dificuldades economicas, a demanda mundial caiu, e também a incerteza influenciou muito as decisões de importação naquele período. O gráfico abaixo mostra um pouco a queda nas importações de alguns dos principais compradores de produtos exportados pelo Brasil:

Fonte: Comissão do Comércio Exterior dos Estados Unidos, Alfândega da República Popular da China e EUROSTAT.

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A crise não somente fez com que houvesse uma queda nas exportações, mas também gerou muitos outros impactos. Segundo Castilho (2011), algumas grandes empresas brasileiras exportadoras, que vinham se utilizando de contratos de Adiantamentos de Contrato de Câmbio para se financiar, foram impactadas pela forte desvalorização do câmbio e pela impossibilidade de renovar estes contratos. Outras se envolveram com derivativos de cambio altamente arriscados, o que as colocou em uma posição bem desavorável.

Os primeiros efeitos da crise internacional sobre os fluxos de comércio apareceram no primeiro semestre de 2008, sob forma de forte flutuação – esse fenômeno fica mais claro a partir dos dados mensais de exportação e de importação apresentados no gráfico 5. Ainda assim, os valores mensais foram bastante elevados, entre maio e outubro, a partir de quando a crise internacional causa uma forte alteração na trajetória dos fluxos comerciais. As exportações acusaram uma queda de 7,5% em outubro e de 20,3% em novembro, enquanto as importações sofreram uma redução de 24,1%, somente no mês de novembro. (CASTILHO, Marta. 2011. Pg. 106)

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Observando os fuxos no comercio exterior, pode-se perceber que no segundo semestre de 2009 as exportações tiveram um impulso de recuperação, e essa recuperação foi maior do que nas importações. Por um lado, o primeiro momento de recuperação das exportações esteve associado à recomposição dos estoques de minerais e de outras commodities da China e da União Europeia. De fato, os preços das commodities, têm-se beneficiado da gradativa recuperação das atividades econômicas nos mais diversos países, dos problemas associados às colheitas de diferentes produtos agrícolas e também da retomada das atividades financeiras, sobretudo no que se refere às commodities minerais. Por outro lado, se as importações, em 2009, apresentaram uma queda acumulada no ano superior à das exportações (diferença de 3,5 pontos percentuais), em julho de 2010, elas acumularam um crescimento bem superior ao das exportações (diferença de 18 pontos percentuais).

O encolhimento do comércio externo só não gerou um impacto maior no mercado de trabalho no Brasil, devido a ocupação dos trabalhadores estar baseada em sua maioria no setor de serviços, ainda que os trabalhadores da indústria representem parte considerável do total de postos de empregos. A indústria brasileira é muito importante para o desenvolvimento do país, e também de diferentes setores em diversos países. Empresas como a Embraer, por exemplo, têm grande parcela de contribuição na operação de empresas no exterior, fornecendo proutos acabados de alta qualidade, ou mesmo matérias-primas. Ao mesmo tempo, o setor de serviços é um dos principais motores da economia interna, e além de movimentar grande parte dos recursos, esse tmbém emprega uma grande parte a população. Num país que tem uma grande população como o Brasil, com mais de 200 milhões de habitantes, é natural que haja demanda por serviços, comparado a países menores populacionalmente. Esse mesmo setor emprega muito mais pessoas do que a indústria, isso não somente no Brasil, mas também em outros países, e essa diferença se torna cada vez maior, visto que a indústria se torna cada dia mais automatizada, e o setor de serviços sempre dependerá de grande quantidade de mão-de-obra humana. Talvez esse seja um dos principais motivos pelos quais os efeitos da crise não foram tão grandes quanto na grande recessão de 1929. Pochmann relata um pouco sobre isso no texto abaixo:

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Apesar dos importantes sinais da recessão industrial instalada na economia brasileira, há situações distintas entre os setores de atividade, com dimensões diferenciadas no total da produção e da ocupação nacional. Enquanto a queda da produção atingiu fundamentalmente o setor industrial, que representa quase 31% da produção e 22% da ocupação do país, o setor de serviços, que responde por mais de dois terços da produção e quase 60% da ocupação nacional, apresenta importante expansão. (POCHMANN, Márcio. 2009. Pg. 42)

2.3 – A Retirada de Capital por Parte das Multinacionais

Uma das principais características da balança de pagamentos do Brasil sempre foi a forte entrada líquida de capital financeiro privado. O volume de capital externo está diretamente ligado com a quantidade de revervas que um país possui em conta corrente. Quando há uma crise econômica ou recessão em determinado país, a tendência é que as empresas desse país passem a diminuir seus investimentos. Se essas empresas têm operações em outros países, elas podem tanto optar por concentrar seus investimentos nesses países, ou por suspender todos os investimentos produtivos.

No caso da crise do subprime, não só os EUA foram afetados, mas também outros países da Europa, Asia e demais partes do globo sofreram os efeitos da crise. Levando em consideração que várias empresas extrangeiras de diversos países operam no Brasil, a retirada de capital poderia afetar muito a economia como um todo. De acordo com dados do Mercosul, no primeiro semestre de 2007 a entrada de capital externo havia alcançado US$ 59,2 bilhões. Quando a crise eclodiu, essa entrada diminuiu, mas o Brasil só viu mesmo esses investimentos caírem drasticamente no quarto trimestre de 2008, quando houve uma fuga de capital extrangeiro de US$ 15,7 bilhões. Só houve recuperação nesse cenário após os dois primeiros trimestres de 2009.

Boa parte das multinacionais que têm instalações no Brasil sofreram grandes perdas de produtividade e perdas em suas ações nos diversos mercados. Para minimizar ou compensar essas perdas, essas empresas retiraram seus lucros do Brasil e enviaram para outros países, onde suas perdas foram maiores, principalmente nos EUA. Essa fuga acontece quase de forma automática quando há uma recessão em determinados países ou quando a economia de um país com filiais de multinacionais está passando por uma recessão. Isso aconteceu na história do Brasil em vários momentos. Não foi apenas na crise do subprime que

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fugas de capitais foram observadas, mas sem dúvida alguma, o capital externo que saiu do Brasil nos anos em que a crise aconteceu em quantidade bem considerável. O gráfico abaixo mostra esses números:

Fonte: Global Financial Integrity. 2014

A fuga de capitais gera uma diminuição significativa na quantidade de reservas de um país. No caso do Brasil na crise do subprime, essa diminuição ocorreu não somente por esse motivo, mas também por causa da queda nos preços de commodities e consequentemente no volume monetário das exportações. Como consequência, a diminuição na quantidade de reservas pode gerar uma desvalorização do real frente ao dolar. No entanto a moeda americana se enfraqueceu com toda instabilidade econômica enfrentada naqueles anos.

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CAPÍTULO 3 – COMO O BRASIL SAIU DA CRISE

Na América do Sul como um todo, os bancos privados nacionais, em geral, não se envolveram na farra das hipotecas de segunda classe, portanto haviam sido diretamente afetados e estavam aptos a operar na concessão de empréstimos e outros meios de fomento à economia. Eles só não o fazem pois foram tomados pelo pânico de sofrerem a perda do dinheiro emprestado. Apesar dos esforços dos governos em convencer os banqueiros de que não permitirão que a crise perdure, os bancos nacionais, em geral, não restauraram a normalidade da oferta de crédito à economia real de seus países.

No Brasil, o governo criou linhas novas de crédito nos bancos públicos e fez o possível para reduzir os juros que cobravam. Mas, mesmo nesses, a orientação dos governos encontrou resistência, o que provocou a substituição pelo governo do presidente do maior banco público do país, o Banco do Brasil.

Araujo, Gentil e Lobato apontam 4 medidas diferentes que foram adotadas pelo governo brasileiro com vistas a estimular a economia afetada pela crise:

I) Medidas para recuperação do nível de liquidez da economia;

II) Medidas para garantir a solidez do setor bancário, reduzindo o “risco sistêmico.

III) Medidas para conter a crise cambial;

IV) Medidas de estímulo fiscal.

O Banco Central e o Copom tomaram algumas decisões-chave para o estímulo da economia. Dentre elas cito a diminuição da taxa selic, a diminuição da taxa

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de depósito compulsório, e a diminuição da alíquota de imposto sobre vários tipos de produtos, desde automóveis, eletrodomésticos, até materiais de construção. Essas medidas foram fundamentais para que houvesse uma recuperação no consumo, e esse aumento foi fundamental para a recuperação da economia. Após alguns anos o endividamento da população também aumentou, mas naquele período de tempo essas medidas precisavam ser tomadas. Apesar dos esforços do governo brasileiro no estímulo à economia, não foi só isso que promoveu uma melhora na situação econômica do Brasil. A demanda externa foi se recuperando entre o final de 2008 e 2009, esse com certeza foi um outro fator determinante para que o país recuperasse seu fôlego economico. Países como a China, que tiveram recuperação expressiva após a crise, passaram a demandar mais produtos e também maiores quantidades, com isso a indústria nacional obteve vantagem. As exportações brasileiras passaram a crescer notoriamente com a demanda por commodities da China e demais países. Não só a China teve uma recuperação expressiva, mas também demais países da Ásia, Europa e demais partes do mundo. Como essa recuperação aconteceu de forma simultânea, o Brasil como um país que exporta muito, foi beneficiado.

Pode-se observar que em geral, quanto mais uma economia é afetada por determinados fatores, mais tempo se leva para que sua recuperação ocorra. No caso da economia brasileira, apesar do encolhimento do comércio externo, a contenção de crédito e a retirada de capital por parte de grandes multinacionais, o setor financeiro interno estava muito menos contaminado em comparação a alguns países em outras regiões do globo. Sem dúvida alguma, isso contribuiu para que a recuperação do Brasil acontecesse em pouco tempo. Almeida explica um pouco esse fator:

O declínio de 0,2% do PIB brasileiro em 2009 foi indicativo da força de uma economia que, a despeito de ter acionado poucos mecanismos anticíclicos relativamente a outros países, evitou uma recessão mais profunda. Na base do êxito do Brasil em lidar com a maior crise desde a Grande Depressão de 1929 estão a remoção da vulnerabilidade externa mediante a acumulação de reservas que às vésperas da crise chegavam a quase US$ 200 bilhões, a maior solidez das contas públicas e do endividamento do setor público e a contaminação zero das instituições financeiras do País com os ativos "tóxicos" que notabilizaram o boom financeiro internacional e que sofreriam forte desvalorização com a crise. (ALMEIDA, Julio Gomes de. 2001)

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Para manter o crescimento da economia brasileira, o Banco Central oedenou modificações nos depósitos compulsórios nas instituições financeiras. Para manter o consumo interno, o governo reduziu impostos sobre automóveis e linha branca de eletrodomésticos, o resultado foi um recorde de vendas de carro no Brasil, ambiente que contrastou com a queda das vendas de carro nos EUA (com a venda das ações da GM) e na Europa. Esse sem dúvida alguma foi um dos fatores que ajudou o Brasil a ser um dos primeiros países a sair da crise. Segundo o IBGE, em 2010, o desemprego no Brasil caiu para 6,7% entre a população economicamente ativa, o menor índice desde 2002.

As respostas do governo, mais especificamente do Banco Central, foram adequadas ao momento, embora o lado monetário e financeiro tenha sido bem mais coerente do que o lado fiscal. No plano das autoridades monetárias, o que se fez foi classicamente keynesiano: injeção de liquidez na veia do sistema, com redução dos depósitos compulsórios; extensão dos créditos ao setor bancário; atuação na frente cambial e de comércio exterior, com a redução concomitante dos juros de referência. (ALMEIDA, Paulo Roberto de, 2009)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o presente trabalho foi possível observar o quanto uma crise econômica gera impactos dos diversos tipos, não somente no país em que ela é gerada, mas também em países com os quais possui relações econômicas, ou até o mundo todo, dependendo de suas dimensões. Em todas as economias, os consumidores finais têm um papel de extrema importancia para o equilibrio financeiro, ainda mais em um país onde não há tanta regulamentação por parte do Estado. As teorias econômicas partem de algumas premissas, e uma delas é de que os consumidores são racionais, e tomam decisões baseadas no que é mais coerente com sua situação financeira individual, e a situação econômica como um todo. Esse é o consumidor que sustenta não só as teorias econômicas, mas também o mercado de uma forma geral. O que aconteceu na economia americana foi gerado no comportamento do consumo desenfreado, e das decisões tomadas por consumidores que agiram por impulso, seguidas pela ganância desenfreada dos bancos e demais agentes econômicos.

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Uma economia que sempre foi sustentada pelo consumo, como é o caso dos EUA, as coisas acontecem em uma velocidade impressionante. Sem dúvida alguma, o consumo é de fundamental importância para o desenvolvimento econômico da nação. A facilidade de se comprar produtos dos diversos tipos faz com que o consumo em massa movimente a economia de uma forma considerável. Ou o próprio fato de que há muito consumo, há muita demanda, o que faz com que o preço dos produtos continuem num patamar que seja acessível a uma grande parcela da população. As curvas de preço, oferta e demanda são mais simples numa economia onde os agentes têm mais liberdade para tomar suas decisões, no entanto esse consumismo americano está tão arraigado na vida dos agentes econômicos, principalmente consumidores finais, que esses adquirem hábitos até mais fortes que suas condições financeiras.

Além dos hábitos de consumo desenfreado e a ganância dos bancos e demais instituições financeiras, a falta de regulação no sistema financeiro com certeza colaborou para que houvesse a explosão da bolha imobiliária. Essa falta de regulação gera críticas constantes por parte de economistas em todas as partes do mundo. Como foi possível os bancos emprestarem tanto dinheiro a pessoas de capacidade duvidosa? Como as instituições que avaliam a liquidez dos bancos puderam divulgar um bom resultado sobre aqueles que tinham créditos podres e hipotecas de clientes com crédito ruim? Ainda que hajam questões políticas por trás de tudo isso, é impressionante o modo como a catástrofe não foi evitada a tempo.

A economia brasileira, também como observado nesse trabalho, passava por uma fase de muito otimismo antes ser atingida pela crise. As expectativas economicas eram muito boas, e o crescimento era estável. O comércio exterior no Brasil estava indo muito bem, o PIB estava crescenndo, assim como outros indicadores econômicos. Quando a bolha imobiliária americana estourou, o país sentiu seus efeitos, mas foi após alguns meses que seus efeitos foram realmente sentidos aqui dentro do Brasil. A nossa economia só não foi mais afetada pela crise pelo fato de o sistema financeiro brasileiro não estar tão interligado com o sistema financeiro americano como o de outros países. Mesmo assim, o Brasil sofreu os efeitos da crise, principalmente pelo encolhimento da demanda externa. Como pudemos observar, além do encolhimento do comércio

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externo, o país sofreu com a fuga de capitais para outros países, e também pela contenção de crédito no mercado internacional.

Os efeitos da crise no Brasil poderiam ser ainda maiores, mas as autoridades economicas interviram com medidas que foram cruciais para a recuperação da economia. É interessante que foi necessária uma intervenção do estado para que houvesse uma melhora na economia do Brasil. O que aconteceria se houvesse uma intervenção como essa no mercado imobiliário americano? Será que a crise chegaria a outros países, ou poderia ser essa crise evitada através de medidas reguladoras mais severas no mercado financeiro? Independente dessas questões, a economia americana se recuperou em pouco tempo, seu PIB voltou a crescer em 2009 e hoje essa economia aparenta estar forte, enquanto a economia brasileira, que apesar de contar com uma regulação mais severa no mercado, passa por momentos críticos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências

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