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"Você me faria um favor?" o futuro do pretérito e a expressão de polidez

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS. ANDRÉIA SILVA ARAUJO. “VOCÊ ME FARIA UM FAVOR?” O FUTURO DO PRETÉRITO E A EXPRESSÃO DE POLIDEZ. São Cristóvão/SE 2014.

(2) ANDRÉIA SILVA ARAUJO. “VOCÊ ME FARIA UM FAVOR?” O FUTURO DO PRETÉRITO E A EXPRESSÃO DE POLIDEZ. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Sergipe, como requisito à obtenção do título de Mestre em Letras. Área de concentração: Estudos Linguísticos, Linha de Pesquisa: Descrição, Leitura e Escrita da Língua Portuguesa.. Orientadora: Profa. Dra. Raquel Meister Ko. Freitag. São Cristóvão/SE 2014.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. A663v. Araujo, Andréia Silva “Você me faria um favor?” o futuro do pretérito e a expressão de polidez / Andréia Silva Araujo ; orientadora Raquel Meister Ko. Freitag. – São Cristóvão, 2014. 113 f. : il. Dissertação (mestrado em Letras) – Universidade Federal de Sergipe, 2014. 1. Sociolinguística. 2. Língua portuguesa – Palavras e expressões. 3. Língua portuguesa – Tempo verbal. 4. Paradigma (Linguística). 5. Etiqueta. I. Freitag, Raquel Meister Ko, orient. II. Título. CDU 81’27.

(4) ANDRÉIA SILVA ARAUJO. “VOCÊ ME FARIA UM FAVOR?” O FUTURO DO PRETÉRITO E A EXPRESSÃO DE POLIDEZ. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Sergipe, como requisito à obtenção do título de Mestre em Letras. Área de concentração: Estudos Linguísticos, Linha de Pesquisa: Descrição, Leitura e Escrita da Língua Portuguesa.. Dissertação aprovada em 24/03/2014. BANCA EXAMINADORA. __________________________________________________ Profa. Dra. Raquel Meister Ko. Freitag - UFS Universidade Federal de Sergipe Presidente - Orientadora __________________________________________________ Profa. Dra. Maria Alice Tavares - UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte 1ª Examinadora - Externa __________________________________________________ Profa. Dra. Leilane Ramos da Silva - UFS Universidade Federal de Sergipe 2ª Examinadora - Interna.

(5) Aos meus pais, Pedro e Luzia, pelo carinho e incentivo constantes, por serem a razão do meu existir e do meu insistir nesta caminhada, dedico..

(6) AGRADECIMENTOS. A Deus, por ter me dado força para superar os obstáculos que surgiram ao longo desta caminhada, pelas incontáveis vitórias e por ter colocado pessoas tão especiais em minha vida. À minha orientadora, Profa. Dra. Raquel Meister Ko. Freitag, exemplo de profissionalismo, pela orientação segura, pela dedicação, pelos “puxões de orelha”, pelo carinho, pela compreensão, pelos conselhos nos momentos mais difíceis, por ter sido a responsável pelo meu encantamento ao mundo acadêmico (desde a Iniciação Científica quando eu dava os primeiros passos neste caminho) e, sobretudo, pela paciência e por sempre me instigar a ir além. Aos membros da banca examinadora de qualificação, Profa. Dra. Josane Moreira de Oliveira e Profa. Dra. Leilane Ramos da Silva, pela leitura atenta e pelas valiosas sugestões e reflexões ao presente estudo. Aos membros da banca examinadora de defesa, Profa. Dra. Maria Alice Tavares e Profa. Dra. Leilane Ramos da Silva, pela leitura atenta e pelas significativas sugestões que contribuíram para o aprimoramento do presente estudo. Às Profas. Dras. Edair Maria Gorski (UFSC), Ana Lúcia Costa (UFRJ), Márluce Coan (UFC) e Leila Maria Tesch (UFES), pela disponibilização de material bibliográfico. À Aline Santos (UEFS), pela troca de material bibliográfico e pelo apoio concedido no momento da qualificação. À Nara Jaqueline Avelar Brito (UFRN), pela troca de material bibliográfico. Ao Jorge Henrique Santos (UFS), pela disponibilização de material bibliográfico. Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Letras, pelos ensinamentos durante o percurso..

(7) Aos informantes do banco de dados Rede Social de Informantes Universitários, que disponibilizaram o seu precioso tempo, sem os quais este estudo não seria realizado. À FAPITEC, pelo subsídio financeiro. À minha mãe, Luzia, pelo carinho e pelo amor que me dá todos os dias, por tudo que fez e faz por mim. Sei o quanto se sacrificou para que eu pudesse chegar até este momento. Ao meu pai, Pedro, pelo amor e pelo carinho que tem me dado, por tudo que tem feito por mim e por torcer, mesmo que em silêncio, pelas minhas vitórias. Às minhas irmãs, Leidi e Cleide, pelo carinho, pelas diversas vezes em que cuidaram de mim, pela torcida, pela preocupação e pelo incentivo constantes. À minha sobrinha, Maria Eduarda, que mesmo sem entender os problemas acadêmicos pelos quais eu estava passando, rezava para que tudo desse certo. O meu dia é muito mais alegre quando ela está presente. Aos meus sobrinhos, Gabriel e Gustavo, e à minha afilhada, Suriany, que, quando estão perto de mim, fazem meu dia ser melhor com um simples sorriso ou um abraço. À minha amiga Eccia, pelos momentos especiais que passamos, pelos conselhos, pelos incentivos e por estar sempre ao meu lado nos momentos bons ou ruins. Às minhas amigas, Kelly Carine, Solange Santos, Amanda Matos, Jaqueline Fontes, Jaqueline Nascimento, Jackeline Peixoto, Marcle Vanessa e aos meus amigos Alisson Santos e Breno Trindade, pela amizade e pelos momentos compartilhados. À minha amiga Andreza Gois e Marcle Vanessa, pelo abstract. A todos os meus familiares e amigos, que não foram referenciados, mas que, de alguma forma, contribuíram para a concretização desta etapa, os meus mais sinceros agradecimentos..

(8) “É na ação e interação que acreditamos que as mais profundas inter-relações entre linguagem e sociedade são encontradas” (BROWN; LEVINSON, 2011[1987], p. 280 – tradução nossa)..

(9) RESUMO. A polidez é uma estratégia linguística utilizada com o objetivo de evitar conflitos na interação verbal. Trata-se de uma variável influente na sociolinguística (cf. MEYERHOFF, 2006) por estar relacionada à língua em uso: do ponto de vista pragmático, a distância social, as relações de poder e o custo da imposição são variáveis fortemente envolvidas na avaliação de quais estratégias linguísticas são polidas ou não (BROWN; LEVINSON, 2011 [1987]); e do ponto de vista sociolinguístico, o sexo/gênero mostra-se significativo. Dentre as estratégias linguísticas utilizadas para expressar esse valor, interessa-nos a forma verbal de futuro do pretérito (FP). O uso dessa forma verbal pode variar conforme o valor da referência temporal: passado, presente, futuro. A par dessa possibilidade de variação do FP e considerando que a polidez pode ser analisada em um continuum (do menos polido ao mais polido), objetivamos nesta pesquisa verificar os efeitos dos aspectos pragmáticos e sociolinguísticos nos usos do FP em função da referência temporal em dados de fala de informantes de Itabaiana/SE. A hipótese geral que norteia a nossa investigação é a de que o FP por si só não codifica polidez, mas sim um conjunto de traços contextuais em referências temporais específicas. Para desenvolvermos a pesquisa nessa perspectiva, utilizamos como corpus a amostra de fala Rede Social de Informantes Universitários de Itabaiana/SE. Esta amostra é composta por interações conduzidas - os próprios informantes conduzem a interação - coletada a partir de um modelo metodológico elaborado em nosso estudo especificamente para captar as nuanças de polidez, tanto em seus aspectos pragmáticos quanto sociolinguísticos. Os dados coletados foram categorizados e submetidos à análise estatística. Os resultados foram gerados a partir de três rodadas estatísticas, tendo como regra variável a referência temporal da forma de FP (passado, presente, futuro) e a expressão de polidez: passado x presente x futuro, passado x não passado, presente x futuro. Os resultados obtidos na primeira rodada evidenciaram que nenhuma das variáveis controladas foi significativa na expressão do fenômeno em estudo. Já na segunda rodada, o programa selecionou apenas duas variáveis como significativas: a forma verbal e o tipo de sequência discursiva. Os resultados evidenciaram que o uso do FP com referência temporal passada é favorecido quando a forma verbal ocorre com o auxiliar “ir” e o tipo de sequência é narrativo. Na terceira rodada estatística, presente x futuro, cinco variáveis foram selecionadas como significativas: o controle da interação quanto ao sexo/gênero, forma verbal, paralelismo linguístico, custo da imposição e par pergunta-resposta e comentário. Dentre estas, ressaltamos os resultados obtidos com o controle da interação quanto ao sexo/gênero, os quais demonstraram que os homens quando estão com domínio do tópico tendem a utilizar mais a forma verbal de FP com referência temporal presente. No que concerne a variável custo da imposição, os resultados evidenciaram que quanto menos impositivo era o tópico, mais recorrente foi o uso do FP com referência temporal presente. Quanto a variável par pergunta-resposta e comentário, os resultados mostraram que o uso do FP com referência temporal presente foi condicionado em contextos que se caracterizavam como comentário/contextualização do tópico. Em termos gerais, o uso de procedimentos teórico-metodológicos de coleta focalizando os efeitos pragmáticos e sociolinguísticos para captar os efeitos de polidez permitiu-nos comprovar que há diferenças significativas em relação ao uso do FP, principalmente, quanto à distância social e ao sexo/gênero. Palavras-chave: Futuro do pretérito. Referência temporal. Estratégia de polidez..

(10) ABSTRACT. Politeness is a linguistic strategy used in order to avoid conflicts in verbal interaction. Politeness is an influential variable in sociolinguistic (cf. MEYERHOFF, 2006) to be related to language use: the pragmatic point of view, the social distance, power relations and the cost of enforcing variables are strongly involved in evaluation of linguistic strategies which are polished or not (BROWN; LEVINSON, 2011 [1987]); and sociolinguistic point of view, the sex/gender proves to be significant. Among the linguistic strategies used to express this value, we are interested in the verbal form of the future tense (FP). The use of this verb form may vary according to the value of temporal reference: past, present, future. A ware of this possibility of variation of the FP and considering that politeness can be seen on a continuum (the less polished the more polished), this research aimed to investigate the effects of pragmatic and sociolinguistic aspects of the uses FP as a function of time reference in the speech data of informants Itabaiana/SE. The general hypothesis guiding our research is that the FP alone does not encode politeness, but a set of contextual features in specific timeframes. To develop research in this perspective, we used as the sample speech corpus social network of university informants Itabaiana/SE. This sample consists of interactions conducted - the informants themselves lead to interaction - collected from a methodological model developed in our study specifically to capture the nuances of politeness, both in its pragmatic aspects as sociolinguistic. The collected data were categorized and analyzed statistically. The results were generated from three rounds statistics, with the variable rule the temporal reference of the form of FP (past, present, future) and the expression of politeness: past x present x future, past x no past, present x future. The results obtained in the first round showed that none of the controlled variables was significant in the expression of the phenomenon under study. In the second round, the program selected only two variables as significant: the verb form and the kind of discursive sequence. The results showed that the use of FP with past temporal reference is favored when the verb occurs with the assist going and the type of sequence is narrative. In the third round statistics, present x future, five variables were selected as significant: control of the interaction terms of sex/gender, verbal, linguistic parallelism, cost of enforcing and question-answer pair and comment. Among these, we highlight the results obtained with the control of the interaction terms of sex/gender which showed that men when they are in the field of the topic tend to use more verbal form of FP with present time reference. Regarding the variable cost of the levy, the results showed that the less imposing was the most recurring topic was the use of the FP with this timeframe. As for the question-answer pair variable and review, the results showed that the use of FP with present time reference was conditioned in contexts that were characterized as comment/contextualization the topic. In general, the use of theoretical and methodological collection procedures focusing on the pragmatic and sociolinguistic effects to capture the effects of politeness allowed us to demonstrate that there are significant differences regarding the use of the FP, especially regarding social distance and sex/gender. Keywords: Future of the past. Temporal reference. Politeness strategy..

(11) SUMÁRIO. LISTA DE FIGURAS, QUADROS, TABELAS E GRÁFICOS..................................................... 11 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 13 1 O VALOR DE POLIDEZ DO FUTURO DO PRETÉRITO..................................................... 21 1.1 O PRINCÍPIO DA POLIDEZ ...................................................................................................... 21 1.2 O MODELO DE POLIDEZ DE BROWN E LEVINSON .......................................................... 22 1.3 O QUE DIZEM OS COMPÊNDIOS GRAMATICAIS SOBRE O FP?...................................... 29 1.4 PODERIA APRESENTAR O QUE JÁ FOI FEITO? ESTUDOS LINGUÍSTICODESCRITIVOS REALIZADOS SOBRE O FP ................................................................................... 33 2 COMO CAPTAR O USO DO FP COM VALOR DE POLIDEZ? A PROPOSTA DE UM MODELO METODOLÓGICO ........................................................................................................ 43 2.1 ENTREVISTAS SOCIOLINGUÍSTICAS E O EFEITO GATILHO .......................................... 43 2.2 INTERAÇÕES CONDUZIDAS: COMUNIDADES DE PRÁTICAS E REDES SOCIAIS ....... 45 2.2.1 Comunidade de prática ............................................................................................................. 45 2.2.2 Redes sociais ............................................................................................................................ 46 2.3 CONSTITUIÇÃO DA AMOSTRA: SELEÇÃO DE INFORMANTES...................................... 47 2.4 GRAVAÇÃO DAS INTERAÇÕES ............................................................................................ 51 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: O CAMINHO SEGUIDO .................................. 54 3.1 A CIDADE DE ITABAIANA E A COMUNIDADE DE PRÁTICA EM FOCO ....................... 54 3.1.1 Amostra Rede Social de Informantes Universitários de Itabaiana/SE ...................................... 56 3.2 VARIÁVEIS CONTROLADAS .......................................................................................................... 58 3.3 A NATUREZA DA ANÁLISE E O TRATAMENTO DOS DADOS ........................................ 59 4 O FP E A EXPRESSÃO DA POLIDEZ: RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................. 61 4.1 ANÁLISE GERAL DOS RESULTADOS .............................................................................................. 61 4.2 PASSADO X PRESENTE X FUTURO ................................................................................................ 63 4.2.1 Interação entre falantes quanto ao sexo/gênero ........................................................................ 64 4.2.2 Relação de poder na interação .................................................................................................. 65 4.2.3 Forma verbal ............................................................................................................................ 67 4.2.4 Suavizadores de natureza verbal ............................................................................................... 68 4.2.5 Paralelismo ............................................................................................................................... 71 4.2.6 Tipo de sequência discursiva .................................................................................................... 73 4.2.7 Distância social: o grau de proximidade entre os falantes ........................................................ 76 4.2.8 O custo da imposição e as estratégias de polidez ...................................................................... 77 4.3 PASSADO X NÃO PASSADO .......................................................................................................... 80 4.3.1 Forma verbal ............................................................................................................................ 80 4.3.2 Tipo de sequência discursiva .................................................................................................... 81 4.4 PRESENTE X FUTURO .................................................................................................................. 82 4.4.1 Interação entre falantes quanto ao sexo/gênero ........................................................................ 82 4.4.2 Forma verbal ............................................................................................................................ 83 4.4.3 Paralelismo linguístico ............................................................................................................. 84 4.4.4 Custo da imposição .................................................................................................................. 84 4.4.5 Pergunta-resposta e comentário ................................................................................................ 85 4.5 CORRELAÇÃO ENTRE O USO DO FP EM FUNÇÃO DO TIPO DE REFERÊNCIA TEMPORAL E A EXPRESSÃO DA POLIDEZ ................................................................................................................... 86 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 90.

(12) 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................. 94 APÊNDICES ...................................................................................................................................... 99 APÊNDICE A – CONTROLE DO GRAU DE RELAÇÃO ENTRE OS INFORMANTES DA REDE SOCIAL ................................................................................................................................ 100 APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ....................... 102 APÊNDICE C – CARTÕES DE INTERAÇÃO ............................................................................ 103 ANEXO A – FICHA SOCIAL DO INFORMANTE ..................................................................... 112 ANEXO B – NORMAS ADOTADAS PELO GRUPO DE ESTUDOS EM LINGUAGEM INTERAÇÃO E SOCIEDADE (GELINS) PARA A REALIZAÇÃO DE TRANSCRIÇÃO ORTOGRÁFICA ............................................................................................................................. 113.

(13) 13 LISTA DE FIGURAS, QUADROS, TABELAS E GRÁFICOS. Figura 1: Circunstâncias que determinam a escolha da estratégia .......................................... 25 Figura 2: Arranjo dos informantes .......................................................................................... 48 Figura 3: Continuum do tipo de assunto quanto ao custo da imposição ................................. 49 Figura 4: Rede social dos informantes .................................................................................... 51 Figura 5: Localização de Itabaiana/SE no mapa de Sergipe ................................................... 54 Figura 6: Continnum da correlação entre o tipo de referência temporal do FP e o grau de polidez ...................................................................................................................................... 88 Quadro 1: Atos Ameaçadores a Faces (BROWN; LEVINSON, 2011[1987], p. 65-68) ........ 23 Quadro 2: Escala de gradação para o controle da distância social entre os informantes da rede social ......................................................................................................................................... 48 Quadro 3: Distribuição dos informantes do banco de dados Rede Social de Informantes Universitários de Itabaiana/SE em função do sexo ................................................................. 56 Quadro 4: Representação das interações da rede social .......................................................... 57 Quadro 5: Variáveis independentes controladas na análise .................................................... 58 Quadro 6: Tendências de uso da forma de FP em função da referência temporal na expressão da polidez.................................................................................................................................. 86 Tabela 1: Efeitos da variável sexo/gênero sobre o uso do FP ................................................. 41 Tabela 2: Influência sexo/gênero sobre o uso da referência temporal da forma de FP em contextos de expressão de polidez ............................................................................................ 64 Tabela 3: Influência do tipo de relação entre os informantes sobre o uso da referência temporal da forma de FP em contextos de expressão de polidez ............................................. 64 Tabela 4: Influência da interação entre falantes quanto ao sexo/gênero sobre o uso da referência temporal da forma de FP em contextos de expressão de polidez ............................ 65 Tabela 5: Influência do domínio do tópico interacional no uso do FP em contextos de expressão de polidez ................................................................................................................. 66 Tabela 6: Influência do par pergunta-resposta e comentário sobre o uso da referência temporal da forma de FP em contextos de expressão de polidez ............................................. 67 Tabela 7: Influência da forma verbal sobre o uso da referência temporal da forma de FP em contextos de expressão de polidez ............................................................................................ 68 Tabela 8: Influência dos suavizadores de natureza verbal no uso do FP em contextos de expressão de polidez ................................................................................................................. 70 Tabela 9: Influência do princípio do paralelismo no uso do FP em contextos de expressão de polidez ...................................................................................................................................... 72 Tabela 10: Influência do tipo de texto no uso do FP em contextos de expressão de polidez.. 75 Tabela 11: Influência do grau de proximidade entre os falantes no uso do FP em contextos de expressão de polidez ................................................................................................................. 76 Tabela 12: Influência do custo da imposição sobre o uso da referência temporal da forma de FP em contextos de expressão de polidez ................................................................................ 78 Tabela 13: Influência do tipo de estratégia de polidez sobre o uso da referência temporal da forma de FP .............................................................................................................................. 79 Tabela 14: A influência da forma verbal em função da referência temporal passada da forma de FP ......................................................................................................................................... 80 Tabela 15: A influência do tipo de sequência discursiva em função da referência temporal passada da forma de FP ............................................................................................................ 81.

(14) 14 Tabela 16: A influência da interação entre falantes quanto ao sexo/gênero em função da referência temporal presente da forma de FP ........................................................................... 82 Tabela 17: A influência da forma verbal em função da referência temporal presente da forma de FP ......................................................................................................................................... 83 Tabela 18: A influência do paralelismo linguístico em função da referência temporal presente da forma de FP .......................................................................................................................... 84 Tabela 19: A influência do custo da imposição em função da referência temporal presente da forma de FP .............................................................................................................................. 85 Tabela 20: A influência do par pergunta-resposta e comentário em função da referência temporal presente da forma de FP ............................................................................................ 85 Gráfico 1: Distribuição geral da forma verbal FP em função da referência temporal ............ 62 Gráfico 2: Distribuição da forma verbal FP em função da referência temporal por falante da amostra...................................................................................................................................... 63 Gráfico 3: Distribuição da frequência da forma verbal de FP quanto a variável estratégias de polidez ...................................................................................................................................... 87 Gráfico 4: Distribuição da frequência da forma verbal de FP quanto a variável distância social ......................................................................................................................................... 87.

(15) 13 INTRODUÇÃO1. O paradigma verbal do português é um sistema muito rico e diversificado do ponto de vista morfológico. As gramáticas normativas o definem em função dos tempos verbais: passado, presente e futuro. No âmbito do passado, temos as formas de pretérito perfeito (simples e composto), pretérito mais-que-perfeito (simples e composto), pretérito imperfeito e futuro do pretérito, no modo indicativo; e pretérito imperfeito do subjuntivo. Dentre estas formas verbais, interessa-nos, especificamente, a forma de futuro do pretérito (FP). Trata-se de uma forma verbal derivada diacronicamente de uma perífrase do latim, formada pelo Vinfintivo + habere no imperfeito do indicativo, que, por efeitos do uso, passou por desgastes e amalgamação amare habebam > amarabéam > amaréam > amaria. A forma verbal de FP apresenta um valor temporal e um modal mais salientes, pois pode exprimir tanto um passado que é visto em perspectiva futura em relação a outro evento passado (valor temporal) quanto uma situação hipotética, incerta ou probabilística (valor modal). É uma forma verbal polissêmica, tanto no português como nas demais línguas românicas, transitando entre valores relacionados ao domínio do tempo e da modalidade, tais como os valores2 de: futuro do passado (cronológico e polifônico), possibilidade, condição, desejo, polidez (cf. TRAVAGLIA, 1999). A seguir exemplificamos cada valor. (1) eu sempre enxerguei a área de tecnologia em geral... co- como uma área bastante promissora... e eu estava certo... é fácil perceber... que quem investiu... desde cedo... nessa área está colhendo os frutos hoje... foi isso que me motivou... que seria a. 1. A escolha do objeto de investigação deste estudo é decorrente da experiência como bolsista de Iniciação Científica na área de Sociolinguística durante três anos. Tal experiência é fruto do desenvolvimento de três planos de trabalhos vinculados aos projetos de pesquisa do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq/UFS) intitulados: “Procedimentos discursivos na fala e na escrita de Itabaiana/SE: estratégias de interação” (2008-2009); “Variação na expressão do tempo verbal passado na fala e na escrita de Itabaiana/SE: formas de pretérito imperfeito e perífrase na expressão do passado em curso” (2009-2010); e “Variação na expressão do tempo verbal passado na fala e na escrita de Itabaiana/SE: formas de futuro do pretérito e pretérito imperfeito na expressão do passado em condicionais” (2010-2011), os quais foram executados sob a orientação da Profa. Dra. Raquel Meister Ko. Freitag, coordenadora dos referidos projetos. A experiência adquirida com o desenvolvimento desses projetos, principalmente os dois últimos, respalda o desenvolvimento deste estudo.. 2. Além dos valores elencados por Travaglia (1999), o FP pode expressar também dúvida, intenção, probabilidade, irrealidade, necessidade, certeza, timidez, afirmação condicionada, predisposição, ideia aproximada (cf. BEZERRA, 1993), iminencialidade (cf. FREITAG, 2011)..

(16) 14 oportunidade clara... de ter uma carreira sólida... em algo que eu sempre gostei de fazer (m 02)3 (2) (...) e eu acho pelo fato de eu não trabalhar no colégio me deu mais trabalho... porque se eu trabalhasse no colégio eu já estaria ali... (f 18) Em (1), tem-se a expressão do valor de futuro do passado pelo fato de a situação “seria a oportunidade clara” ser um passado posterior à situação que “motivou” o informante a escolher o seu curso. Temos, portanto, a expressão de um passado visto como futuro em relação a outro passado. Já em (2), o uso do FP foi realizado com o valor de condicionalidade. A construção “se eu trabalhasse no colégio” é a condição para que o evento expresso pelo verbo estaria aconteça. Na construção em itálico temos uma premissa hipotética – prótase (oração subordinada) – que possibilita a realização do evento que vem na apódose (oração principal). (3) e assim... em relação a conhecimento em si eu creio que (hes) eu atuando na empresa tanto seria benéfico a empresa que eu ia ter levando meu conhecimento como seria bom pra mim que eu ia ter absorvendo conhecimento da empresa então assim um desses grandes motivos é proporcionado pela própria universidade... que ela não dá esse caminho essa interação... (m 06) (4) (hes) a área que os pesquisadores hoje... estão focando mais... por exemplo no curso de sistema de informação... vocês não têm (hes) na maioria das faculdades você não tem o curso de compiladores por exemplo... ele é focado mais em em autômatos não é mais focado em compiladores que é um... é uma coisa é um uma disciplina um pouco mais focada pra quem gostaria de seguir a área de pesquisa você não vai desenvolver... nada no mercado local em relação a compiladores por exemplo... (m 02) (5) E: agora no final do curso você se sente realizado com o seu desempenho ao longo do curso? acha que poderia ter sido melhor? por quê? (m 02) Temos em (3) duas ocorrências de FP com valor de possibilidade. Os valores de condicionalidade e de possiblidade são muito próximos. Segundo Travaglia (1999, p. 688), o que diferencia o uso do FP com valor de possibilidade do uso com o valor de condicionalidade parece estar relacionado ao fato de que “a condição que representa o momento X a que a situação no futuro do pretérito é posterior é inferida não de elementos do co-texto, mas de um conhecimento de mundo e/ou da situação”. Neste caso, a condição “se eu fosse fazer estágio em uma empresa” não está explícita no texto, mas inferida. O uso do FP com valor de desejo é expresso na situação descrita em (4), em que o informante manifesta o. 3. Os dados foram retirados do banco de dados Falantes Cultos de Itabaiana/SE (ARAUJO; BARRETO; FREITAG, 2012), constituído por 20 entrevistas de falantes universitários da cidade de Itabaiana/SE, estratificadas quanto ao sexo/gênero. A sigla ao final refere-se à identificação do informante..

(17) 15 seu desejo de seguir a área de pesquisa do curso de Sistema de Informação. E, por fim, temos em (5) um contexto de uso do FP com valor de polidez, na medida em que o entrevistador ao solicitar uma informação faz uso desta forma verbal para ser menos impositivo, preservando assim, a sua imagem. Travaglia (1999) ressalta que o valor de polidez do FP emerge somente em contextos de solicitação em que se tem uma condição pressuposta. Em (1-5), observamos a diversidade dos usos do FP com base no que fora apresentado por Travaglia (1999). No entanto, não concordamos com a afirmação deste autor de que o valor de polidez do FP só emerge em contextos de solicitação em que se tem uma condição pressuposta. Acreditamos que a questão envolvida não é se em determinado contexto o FP é ou não é polido, mas sim quais usos do FP são menos polidos e mais polidos. Para realizarmos tal afirmação, baseamo-nos na perspectiva de Brown e Levinson (2011[1987]) de que todo ato linguístico em uma interação face a face é uma atividade intrinsicamente ameaçadora pelo fato de que, ao entrarem em contato, os falantes ocasionam um desequilíbrio das faces. Em virtude disso, os autores defendem que a atividade de proteção à face ocorre em toda atividade verbal. Isso significa dizer que em todo o processo da interação os falantes, mesmo que inconscientemente, estão monitorando as faces envolvidas e recorrem a estratégias para evitar possíveis conflitos. Então, se toda atividade verbal é considerada como contexto de polidez, todos os usos de FP possuem este valor. Nesse sentido, a polidez é entendida como uma estratégia linguística utilizada com o objetivo de evitar conflitos na interação verbal. Segundo Brown e Levinson (2011[1987]), trata-se de uma estratégia para preservarmos a nossa face e a face do outro com o intuito de estabelecer uma comunicação econômica e eficaz, sem atritos. A seguir exemplificamos com mais detalhes um contexto de manifestação de polidez em que a forma verbal FP foi utilizada: (6) E: agora no final do curso você se sente realizado com o seu desempenho ao longo do curso? acha que poderia ter sido melhor? por quê? F: Então então é um curso assim que... que depende muito né? do estudante se... se ele vai se dar bem se ele vai se dar mal... depende muito do estudante... têm pessoas que têm mais facilidade outras têm menos facilidade... eu num se- eu... diria que (uma das disciplinas) poderia ser melhor gostei eu acho que eu me esforcei... no curso me dediquei... fiz o máximo que eu pude... mas é claro que isso poderia melhorar mais... todo mundo poderia melhorar mais... (hes) no que a gente já fez (m 02) Em (6), excerto retirado de uma entrevista sociolinguística, temos uma situação em que o entrevistador faz uma pergunta sobre o desempenho do informante durante a graduação e questiona se este acha que o desempenho poderia ter sido melhor. O informante não responde de maneira categórica e utiliza, dentre outras estratégias linguísticas para expressar.

(18) 16 polidez, a forma verbal diria para atenuar a sua afirmação e, desse modo, preservar a sua imagem social, uma vez que, se fizesse uma afirmação categórica, poderia soar que este é presunçoso. Note-se que, nesse mesmo contexto, outras estratégias de polidez são utilizadas, como o verbo modal poder, que se combina com a forma de FP, contribuindo ainda mais para a preservação da face do informante. Destaque-se ainda a presença de gatilho na pergunta, já introduzida sob efeito de modalização4. É importante destacar o fato de o uso da forma de FP poder variar conforme o valor da referência temporal. A referência temporal está relacionada ao momento em que uma determinada situação aconteceu no mundo real dado como ordenação cronológica: passado, presente, futuro (cf. TRAVAGLIA, 1999). Expomos a seguir exemplos que evidenciam essa variação. (7) F1: e ainda você ir pra esperar essa questão da demora de ser atendido mas tem a questão de dinheiro porque assim hoje pra você ser atendido com uma consulta particular... pra fazer os exames... medicação tudo mais você vai gastar o quê num gasta... uns duzentos trezentos reais... F2: as vezes um caso simples né ainda na semana passada aconteceu um caso com um tio meu... ele passou mal um domingo a tarde... veio pro hospital... fez os exames tava tudo normal tudo na na segunda a tarde ou foi na terça ele tornou passar mal aí já recorreu pra uma clínica... os exames que foram pedido que até então seria uma coisa simples... só só os exames dá um mais de quatrocentos reais... (A.G.cdt D.C.sdt P FF 06)5 (8) F1: é difícil... a minha só se botar de castigo... se proibir de chocolate brigadeiro essas coisa... criança é difícil demais... o quê você acha... porque hoje em dia o quê mais tá havendo é a degradação do meio ambiente... degradação do meio ambiente o quê você acha... se existe alguma coisa pra fazer pra melhorar isso... ou você acha que isso vai piorar cada vez mais?... F2: eu acho que… poderia até ter alguma coisa pra melhorar mais mas só que... o os automóveis eles estão aumentando... a poluição está aumentando e acho que isso aí tende só a piorar... (L.R.cdt J.S.sdt P FF 30) (9) F1: [é assim é uma é uma é] uma vontade minha que eu tenho se eu tivesse condições financeiras... eu viajaria pra conhecer o Brasil ( ) eu quero o Brasil (D.C.cdt D.M.sdt P FM 13) Na situação descrita em (7), o falante utilizou a forma de FP para se referir a uma situação que ocorreu com o seu tio. Temos, neste exemplo, um uso do FP com referência 4. 5. Voltaremos à questão do efeito gatilho mais à frente; este é um dos problemas encontrados no uso de entrevistas sociolinguísticas para o estudo do valor de polidez do FP. A sigla ao final refere-se à identificação do informante. Os dados foram retirados da amostra Rede Social de Informantes Universitários de Itabaiana/SE. A sigla identifica a interação quanto ao falante (iniciais do nome) com o domínio do tópico (cdt), falante (iniciais do nome) sem o domínio do tópico (sdt), grau de proximidade (próximo= P; distante= D), interação (número ao final)..

(19) 17 temporal passada, que, por este fato, é um contexto em que há custo de imposição menor, portanto menos polido. Já em (8) temos o uso do FP com referência temporal presente uma vez que a situação “eu acho que... poderia até ter alguma coisa pra melhorar” refere-se a algo que pode ser feito no momento em que o falante está interagindo. Em (9), temos o uso do FP com referência futura visto que a situação “viajaria pra conhecer o Brasil” é algo que aconteceria em um momento posterior ao da interação. A dimensão modal do FP, mais especificamente o valor de polidez, emerge em contextos específicos, com fatores fortemente correlacionados: do ponto de vista pragmático, a distância social, as relações de poder/poder relativo e o custo da imposição são fatores fortemente envolvidos na avaliação de quais estratégias linguísticas são polidas ou não (BROWN; LEVINSON, 2011 [1987]); e do ponto de vista sociolinguístico, a relação entre sexo/gênero do informante e do entrevistado mostra-se significativa. Embora o uso do FP com valor de polidez seja previsto pelas gramáticas normativas (cf. CUNHA e CINTRA, 1985; BECHARA, 2006; 2009) e haja pesquisas sobre as funções que esta forma verbal pode desempenhar no português (TRAVAGLIA, 1999; CARVALHO, 2011; DIAS, 2012), não encontramos estudo específico que trate do valor de polidez. Diante dessa constatação e a par da possibilidade de variação do FP, surgiu-nos os seguintes questionamentos: i) será que essa variação de uso do FP quanto à referência temporal está correlacionado com a distância social, relações de poder/poder relativo, custo da imposição e o sexo/gênero? ii) considerando que a polidez pode ser compreendida em um continuum (do menos polido ao mais polido), será que o grau de polidez do FP pode variar conforme o tipo de referência temporal? e iii) se sim, será que o menor grau de polidez está correlacionado a referência temporal passada do FP e o maior grau a referência temporal presente? Com o intuito de contribuir para as discussões dos efeitos da polidez no uso do FP no português, objetivamos analisar a distribuição de frequência dessa forma verbal em dados de fala de informantes de Itabaiana/SE, a fim de verificar os efeitos dos aspectos pragmáticos e sociolinguísticos. A hipótese que norteia o presente estudo é a de que o FP, por si só, não codifica polidez, mas sim um conjunto de traços contextuais - distância social, relações de poder, custo da imposição, sexo/gênero – em referências temporais específicas. Acreditamos que, nas interações em que há proximidade entre os informantes, os sexos/gêneros dos interactantes são os mesmos e em segmentos em que o informante está com o domínio do tópico ou quando o tópico discursivo tende à neutralidade, o grau de polidez do FP é menor. Além disso, partimos do pressuposto de que: i) o uso do FP com referência temporal passada é um contexto em que há custo de imposição menor, portanto menos polido; ii) em contextos.

(20) 18 de uso do FP com referência temporal presente, temos um grau maior de polidez pelo fato de a preservação da face ser no contexto da interação, naquele momento; e iii) em contextos de uso FP com referência temporal futura temos um grau de polidez intermediário. Subjacente a isso, acreditamos que a entrevista sociolinguística não é o melhor método para captar essa correlação, por esse tipo de banco de dados não contemplar questões estilísticas, como, por exemplo, as focalizadas neste estudo. Se a entrevista sociolinguística não é a melhor estratégia para captar os valores de polidez do FP, pois não há controle dos aspectos pragmáticos e sociolinguísticos, é preciso elaborar uma estratégia metodológica que permita captar tais aspectos do fenômeno. Sendo assim, fez-se necessário elaborar uma proposta de constituição de um corpus de dados de fala delineada para apreender os aspectos pragmáticos e sociolinguísticos acima arrolados. Foram realizadas gravações de interações conduzidas com informantes selecionados a partir de uma rede social6 – conjunto de pessoas e suas relações – dentro de uma comunidade de prática universitária na comunidade de Itabaiana/SE. Em linhas gerais, o procedimento consistiu na seleção de oito informantes para a formação de dois grupos, de modo que aqueles que pertenciam a um grupo tinham relações de proximidade entre si, mas não com os informantes pertencentes ao outro. Cada informante interagiu com quatro pessoas diferentes (um homem e uma mulher, próximos dele; um homem e uma mulher, distantes dele – permitindo, assim, o controle da influência da distância social e do sexo/gênero no fenômeno em estudo) duas vezes, o que resultou em 32 interações. A interação foi conduzida pelos próprios informantes, que selecionaram o tópico da interação, sem um roteiro prévio de perguntas; daí o nome de “interação conduzida”. Para tanto, cada informante escolheu dez cartões com temas recobrindo situações que vão da aparente neutralidade a situações que envolvem a preservação das faces negativa e positiva, o que nos permite controlar o custo da imposição. A partir da situação descrita no cartão, o informante identificou o tema abordado e conduziu a interação sobre este com o seu interlocutor até esgotar o assunto e passar para o tema do cartão seguinte. Como cada informante interagiu duas vezes com o mesmo interlocutor, em uma das interações um dos informantes conduziu o tópico com o interlocutor e, na segunda, os informantes trocaram de papéis. Tal troca de papéis sociopessoais permite controlar as relações de poder envolvidas. 6. Quando utilizamos o termo rede social não estamos fazendo referência às redes sociais online (tais como: Facebook, Orkut, MySpace, Twitter, entre outras), mas sim à rede de relações existente entre pessoas - seja ela por laços fortes (grau de proximidade alta), seja por laços fracos (grau de proximidade baixa) - que fazem parte de um determinado grupo de convivência (familiares, colegas de faculdade, colegas de trabalho, amigos, entre outros)..

(21) 19 Esse processo de constituição resultou na amostra Rede Social de Informantes Universitários de Itabaiana/SE, vinculada ao Grupo de Estudos Linguagem, Interação e Sociedade – GELINS7. Como respaldo teórico, desenvolvemos a pesquisa à luz da Sociolinguística Variacionista, com contribuições da Pragmática, especialmente no que tange à polidez. A articulação entre os dois modelos de análise se justifica porque partimos da premissa de que tanto uma como a outra estudam a língua em contextos reais de uso. Para encaminhamento da análise, o presente estudo está estruturado em quatro capítulos. No primeiro capítulo, O valor de polidez do futuro do pretérito, apresentamos, primeiramente, uma visão geral do princípio da polidez. Em seguida, discorremos sobre o modelo de polidez de Brown e Levinson (2011[1987]) - adotado para o desenvolvimento desta pesquisa - e correlacionamo-lo com o uso da forma verbal de FP. Neste mesmo capítulo, apresentamos o levantamento realizado dos compêndios gramaticais do português (SAID ALI (1971), NEVES (2000), BECHARA (2006; 2009), TERRA e NICOLA (2004), CASTILHO (2010) entre outros) e dos estudos variacionistas acerca do FP (COSTA (1997; 2003), BARBOSA (2005), TESCH (2007), FREITAG e ARAUJO (2011) entre outros). No segundo capítulo, Como captar o uso do FP com valor de polidez? A proposta de um modelo metodológico, expomos a proposta metodológica desenvolvida para captar nuanças de polidez. Neste capítulo fazemos uma breve discussão sobre o fato de as entrevistas sociolinguísticas, constituídas nos moldes labovianos, não permitirem captar nuanças de polidez. Abordamos também neste capítulo as noções de comunidade de prática e redes sociais evidenciando a importância destas em estudos que focalizem o valor de polidez. Em seguida, delineamos todo o processo de seleção de informantes e de gravação das interações. No terceiro capítulo, Procedimentos metodológicos: o caminho seguido, discorremos sobre os procedimentos metodológicos adotados para o desenvolvimento desta pesquisa. Apresentamos uma descrição geral da cidade de Itabaiana/SE e da comunidade de prática escolhida para a realização da coleta de dados de fala, bem como as variáveis pragmáticas e sociolinguísticas controladas e a natureza da análise.. 7. O Grupo de Estudos em Linguagem, Interação e Sociedade – GELINS reúne pesquisadores cujo foco de interesse são abordagens da língua em uso em seu contexto social. As pesquisas desenvolvidas são baseadas na análise de dados reais – de fala ou de escrita – de corpora sociolinguísticos, interacionais e diacrônicos. Os resultados das pesquisas subsidiam propostas de aplicação em programas de ensino de língua portuguesa..

(22) 20 No quarto capítulo, O futuro do pretérito e a expressão da polidez: resultados e discussões, expomos a análise do FP, em função da referência temporal, como uma estratégia de expressão de polidez. Além disso, esboçamos a correlação geral entre o fenômeno analisado e as variáveis pragmáticas e sociolinguísticas controladas. Por fim, tecemos as nossas considerações finais retomando sinteticamente o que fora discutido em cada capítulo. Feita a apresentação dos direcionais inerentes a cada um dos capítulos do presente estudo, convidamo-los a realização da leitura..

(23) 21 1. O VALOR DE POLIDEZ DO FUTURO DO PRETÉRITO. Por ser polissêmica, a forma de FP no português é frequentemente objeto de estudos variacionistas (COSTA, 1997; 2003; SILVA, 1998; TESCH, 2007; DIAS, 2007; OLIVEIRA, 2010; SANTOS, 2011; FREITAG e ARAUJO, 2011, entre outros). Além disso, os próprios compêndios gramaticais já apresentam esta forma como polissêmica; dentre os valores apresentados, destacamos a polidez. Neste capítulo, apresentamos os princípios teóricos que respaldam esta pesquisa. O presente capítulo encontra-se divido em quatro seções. Apresentamos, na primeira seção, uma visão geral do princípio da polidez e, na seção subsequente, discorremos sobre o modelo de polidez adotado para o desenvolvimento desta pesquisa. Nas seções 1.3 e 1.4, explanamos sobre a nossa análise inicial realizada através de um levantamento dos compêndios gramaticais do português e também dos estudos variacionistas acerca do FP com vistas a elencar traços e variáveis que estejam relacionadas à expressão de polidez, respectivamente.. 1.1. O PRINCÍPIO DA POLIDEZ. O processo de comunicação é regido por normas sociais que regulam o comportamento linguístico dos indivíduos na condução da interação entre pares. Para manter o equilíbrio na interação verbal utilizamos a polidez. A manifestação da polidez está fortemente atrelada ao contexto sociocultural, o que é polido em uma determinada cultura pode não ser em outra. Meyerhoff (2006), ao discutir essa dependência sociocultural da polidez, traz como ilustração uma situação ocorrida entre sua amiga Ellen e um servidor em um restaurante da cidade Michigan nos Estados Unidos. A situação reporta o fato de Ellen ter solicitado ao servidor que lhe trouxesse um “iced mocha” um expresso combinado com agridoce de moca (tipo de café) e leite com gelo e coberto com chantilly – e o servidor, como quem não entendeu, repetiu dizendo uma “iced mocha” e, em seguida, perguntou se ela queria coberto de chantilly. Segundo a autora, Ellen, em um tom irônico difícil de ser interpretado, responde-lhe com a seguinte pergunta: Você tem que.

(24) 22 perguntar? O questionamento que Meyerhoff (2006) faz é se Ellen foi polida ou não nessa situação. A autora afirma que a resposta depende das normas de polidez do lugar onde cada um cresceu. Por exemplo, fora de Nova York, a resposta de Ellen não equivale a um entusiasmado “sim” que ela pretendia ter e este parece ser o caso de Michigan, em que, possivelmente, não é esperado de estranhos piadas/ironias que só são feitas em conversas de amigos íntimos (cf. MEYERHOFF, 2006). Na literatura linguística há três modelos seminais que foram desenvolvidos para analisar os efeitos da polidez, os de: Robin Lakoff (1973), Geoffrey Leech (1983) e Penelope Brown e Stephen Levinson (2011 [1987]). Dentre os três modelos elencados, o proposto por Brown e Levinson (2011 [1987]) é considerado o mais “sofisticado, produtivo e célebre” (KERBRAT-ORECCHIONI, 2006, p. 77) e utilizado nos estudos que focalizam o fenômeno da polidez. De acordo com Meyerhoff (2006, p. 101), este modelo é o mais compatível aos propósitos de controle e operacionalização da Sociolinguística por fornecer um quadro claro para o estudo da sistematicidade da variação linguística. É em virtude deste fato que guiamos a nossa análise no presente estudo a partir deste modelo, aliando-o aos postulados teóricos da sociolinguística.. 1.2. O MODELO DE POLIDEZ DE BROWN E LEVINSON. Brown e Levinson (2011[1987])8 desenvolveram o seu modelo de polidez através da análise de dados de fala empíricos de três línguas diferentes: inglês, tâmil (língua falada no sul da Índia) e tzeltal (língua maia falada na comunidade de Tenejapa, no México). Os autores concebem o seu modelo a partir da construção de uma Pessoa Modelo (PM). Segundo estes, uma PM “consiste em um falante fluente de uma língua natural dotado de duas propriedades fundamentais: racionalidade e face” (BROWN; LEVINSON, 2011[1987], p. 58, tradução nossa). Por racionalidade Brown e Levinson (2011[1987]) querem dizer algo muito específico - a disponibilidade para a nossa PM de um modo precisamente definível de raciocínio a partir de fins com os meios que irão atingir esses fins.. 8. A primeira versão do modelo de polidez de Brown e Levinson foi publicada em 1978 e sobre ela emergiram várias críticas. Em decorrência disto, os autores reeditaram o texto tentando esclarecer, com um detalhamento, os conceitos estabelecidos e o publicaram em 1987..

(25) 23 Partindo do conceito proposto por Goffman, a noção de face é entendida pelos autores como a autoimagem pública que cada um constrói de si e que quer proteger dos possíveis danos durante a interação. Trata-se de “algo que está emocionalmente revestido, que pode ser perdida, mantida ou reforçada, e deve ser constantemente cuidada durante a interação” (BROWN; LEVINSON, 2011[1987], p. 61, tradução nossa). Para esses linguistas, há dois tipos de face: a positiva e a negativa. A primeira está relacionada à autoimagem do indivíduo, representa o desejo de ser aprovado e apreciado. Já a segunda está relacionada à autopreservação, representa o desejo de não imposição, de preservação do espaço pessoal, de que as suas ações sejam livres. Durante as interações sociais as faces dos interactantes correm risco, isto porque estes praticam, em sua maioria, atos (verbais e não verbais) que ameaçam a face tanto do ouvinte quanto do falante por nem sempre haver compatibilidade de interesse entre eles. Tais atos são denominados por Brown e Levinson (2011[1987]) de Atos Ameaçadores à Face (Face Threatening Acts – FTAs). Sendo assim, numa situação de interação entre dois participantes, quatro faces estão postas em jogo, as quais podem ser atingidas, concomitantemente, por um FTA. Em decorrência disso, Brown e Levinson (2011[1987]) dividem os atos de fala em quatro categorias de acordo com o tipo de face que ameaçam, conforme mostra o Quadro abaixo: Quadro 1: Atos Ameaçadores a Faces (BROWN; LEVINSON, 2011[1987], p. 65-68). Afetam ao Falante. Afetam ao Ouvinte. Atos Ameaçadores a Face Negativa 1. Atos que violam o seu território, como: expressar agradecimentos, aceitar ofertas, promessas involuntárias, assumir a gafe do outro. 3. Atos que violam o seu território, como, por exemplo, as perguntas indiscretas; Atos diretivos, como: ordenar, pedir, sugerir, aconselhar, lembrar (o falante indica que o ouvinte deve lembrar-se de fazer algo), ameaçar, advertir; Fazer ofertas, promessas, elogios.. Atos Ameaçadores a Face Positiva 2. Atos autodegradantes, como: pedir desculpas, aceitar um elogio, confessar culpa, autocriticar-se, falta de cooperação. 4. Atos que ameaçam o narcisismo do outro, tais como: desaprovar, criticar, queixar-se, repreender, acusar, insultar, desafiar; Menção de temas tabus, expressão de violência.. Os FTAs de primeira e segunda categorias de atos de fala são autoameçadores, pois referem-se à própria face do falante. Já os FTAs de terceira e quarta categorias referem-se à atitude do falante para com o ouvinte. Dessa forma, os FTAs podem ocorrer do falante para o falante ou do falante para o ouvinte..

(26) 24 Percebe-se, portanto, que a base do modelo de polidez elaborado por Brown e Levinson (2011[1987]) está pautada na noção de face e dos riscos que esta pode sofrer durante a interação. Estes partem do pressuposto de que em toda situação comunicativa os participantes desejam manter a sua imagem pública (face) e a do interlocutor, decorrendo deste fato o comportamento polido o qual é manifestado por atos linguísticos e não linguísticos. Sendo assim, os autores concebem “a conversação como uma atividade que envolve potencial ameaça às faces dos interactantes” (SILVA, 2008, p. 177). O uso da polidez surgiria neste contexto para preservar o equilíbrio da interação, funcionando como a base para a produção da ordem social. Então, na perspectiva destes autores, polidez é todo ato linguístico por meio do qual o falante busca impedir, atenuar ou reparar uma eventual ameaça à face do locutor ou interlocutor da interação (HILGERT, 2008, p. 135). Brown e Levinson (2011[1987], p. 68, tradução nossa) afirmam que no contexto da vulnerabilidade mútua das faces, qualquer agente racional buscará evitar atos ameaçadores a face, ou vai empregar determinadas estratégias para minimizar a ameaça. Em outras palavras, ele vai levar em consideração os pesos relativos de (pelo menos) três desejos: a) o desejo de comunicar o conteúdo do FTA, b) o desejo de ser eficiente ou urgente, e o desejo de manter a face de H[ouvinte] em qualquer grau.. Sendo assim, se nas interações as faces são, constantemente, alvo de ameaças e simultaneamente são objetos de desejo de preservação, estratégias linguísticas surgem neste contexto para resolver ou minimizar este impasse. Em seu modelo de polidez, os autores apresentam um possível conjunto de estratégias que podem ser utilizadas a depender das circunstâncias para executar um FTA, cujo esquema reproduzimos na Figura a seguir:.

(27) 25. Menor. 1 sem ação reparadora (diretamente) abertamente. 2 polidez positiva com ação reparadora (indiretamente). Faça o FTA 4 encobertamente (implicitamente). 3 polidez negativa. 5 Não faça o FTA. Maior Figura 1: Circunstâncias que determinam a escolha da estratégia Fonte: Brown e Levinson (2011 [1987], p. 60 e 69, tradução nossa).. Constata-se na Figura 1 que há uma estimativa do risco de perda de face no esquema proposto pelos autores: à medida que o valor numérico que caracteriza a estratégia de polidez aumenta, mais indireta e mais atenuada será a realização do FTA até chegar à estratégia 5. A primeira decisão que o falante deve tomar é se vai fazer ou não o FTA. Se optar por não fazer, este recorrerá à estratégia 59. Ao optar por fazer o FTA, o falante pode fazê-lo abertamente ou encobertamente. Quanto à primeira, o falante deverá decidir se fará o FTA de forma aberta com ação reparadora ou sem. Realizar um FTA sem ação reparadora significa que o falante o fará de forma direta, clara, sem atenuadores/minimizadores. Em outras palavras, a estratégia 1 será utilizada quando o falante querer revelar explicitamente o seu desejo, sem rodeios, sem reparação e de maneira mais concisa possível. Brown e Levinson ressaltam que, normalmente, um FTA só é feito de forma direta se o falante não temer retribuição do destinatário, como, por exemplo, em circunstâncias em que:. a) tanto o S [falante] quanto o H [ouvinte] concordam tacitamente que a relevância das exigências da face podem ser suspensas por razões de urgência ou eficiência; b) o perigo para a face de H é muito pequena, como em ofertas, solicitações, sugestões que são claramente do interesse de H e 9. De acordo com Sathler (2011, p. 37), três situações básicas levam o falante a não fazer um FTA: “(a) quando ele espera que a questão ou o assunto abordado seja esquecido ou abandonado; (b) quando ele não fala nada e espera que o interlocutor faça inferências; e (c) quando há muita expectativa no que pode ser dito”..

(28) 26 não exigem grandes sacrifícios de S (por exemplo, ‘Venha’ ou ‘Sente-se’); e c) S é muito superior a H em poder, ou pode angariar apoio público para destruir a face de H, sem perder a sua própria (2011[1987], p. 69,. tradução nossa). Já usar a estratégia aberta com ação reparadora significa que o falante tentará neutralizar o potencial dano que o FTA pode causar à face do ouvinte ao fazê-lo de tal forma, ou com as modificações ou adições, que indicam nitidamente que não existe tal ameaça a face e que o desejo de S é que a face de H seja mantida (BROWN; LEVINSON, 2011[1987]). A estratégia aberta com ação reparadora pode ser feita de duas formas a depender de qual aspecto da face (negativa ou positiva) está sendo enfatizada: polidez positiva e polidez negativa. A estratégia de polidez positiva é uma ação reparadora direcionada a preservação da face positiva do interlocutor. Isso significa que a potencial ameaça do FTA à face positiva de H é evitada ou minimizada, pois ao utilizar este tipo de estratégia o falante indica que, pelo menos em alguns aspectos, o desejo de H é o mesmo que o seu. Brown e Levinson (2011[1987], p. 103) ressaltam que as estratégias de polidez positivas não consistem necessariamente em uma ação reparadora, na realidade essa ação é alargada à apreciação do desejo do outro, ou ainda, em termos gerais, “para a expressão de semelhança entre o eu e o desejo do outro”. Tais estratégias envolvem três mecanismos gerais: reivindicação de um terreno comum entre S e H, cooperação entre os interlocutores e manifestação de simpatia pelos desejos do outro. A partir de tais mecanismos os autores propõem quinze estratégias de polidez positiva para fazer abertamente um FTA e preservar a face do interlocutor: 1. Perceba o outro. Mostre-se interessado pelos desejos e necessidades do outro; 2. Exagere o interesse, a aprovação e a simpatia pelo outro; 3. Intensifique o interesse pelo outro; 4. Use marcas de identidade de grupo; 5. Procure acordo; 6. Evite desacordo; 7. Pressuponha, declare pontos em comum; 8. Faça brincadeiras; 9. Explicite e pressuponha os conhecimentos sobre os desejos do outro; 10. Ofereça, prometa; 11. Seja otimista; 12. Inclua o ouvinte na atividade; 13. Dê ou peça razões, explicações; 14. Simule ou explicite reciprocidade; 15. Dê presentes..

(29) 27 Já a estratégia de polidez negativa é uma ação reparadora direcionada a preservação da face negativa do interlocutor. Trata-se de uma estratégia específica e focada que desempenha a função de minimizar ou anular os efeitos da imposição de um FTA. Ao fazer uso desta estratégia o falante evidencia que está preocupado com os sentimentos do outro, com o desejo que este possui em não ter o seu território invadido e sua liberdade de ação desimpedida (BROWN; LEVINSON, 2011[1987], p. 129). Brown e Levinson (2011[1987]) propõem para este tipo de polidez dez estratégias: 1. Seja convencionalmente indireto; 2. Questione, atenue; 3. Seja pessimista; 4. Minimize a imposição; 5. Mostre deferência; 6. Peça desculpas; 7. Impessoalize o falante e o ouvinte; 8. Declare o FTA como uma regra geral; 9. Nominalize; 10. Mostre abertamente que está assumindo um débito com o interlocutor. A utilização da estratégia de polidez encoberta ocorre quando o falante realiza o FTA de forma implícita, sem clareza; de forma que não se possa identificar qual a intenção real deste ao comunicar o ato. Este tipo de estratégia é utilizada quando o falante não quer se comprometer com o que foi dito, deixando a responsabilidade da interpretação para o interlocutor. Para tanto, o falante faz uso de recursos linguísticos que abrem espaço para a ambiguidade, como a metáfora, ironia, perguntas retóricas, tautologia, implícito; através dos quais o ouvinte possa fazer inferências para recuperar o que de fato pretendia expressar (BROWN; LEVINSON, 2011[1987], p. 211). 1. Faça insinuações; 2. Dê pistas de associação; 3. Pressuponha; 4. Diminua a importância; 5. Exagere; 6. Use tautologias; 7. Use contradições; 8. Seja irônico; 9. Use metáforas; 10. Faça perguntas retóricas; 11. Seja ambíguo; 12. Seja vago; 13. Seja generalizador; 14. Desloque o ouvinte; 15. Seja incompleto, utilize elipse..

(30) 28 Para manifestar polidez e fazer emergir esses tipos de estratégias, o informante/falante conta com um repertório de marcas linguísticas, como, por exemplo, as elencadas por Rosa (1992 apud VILLAÇA e BENTES, 2008, p. 33), apresentadas a seguir:  Formas verbais (futuro do pretérito, imperfeito do indicativo e do subjuntivo etc.);  Verbos modais: creio/acho/imagino;  Fórmulas do tipo: Não... mas... (disclaimers);  Enunciados justificativos ou explicativos;  Perguntas indiretas;  Certos marcadores discursivos, como os introdutores e interruptores de tópico ou marcadores de desvio tópico;  Certos torneios verbais, recuos estratégicos etc.. Dentre as marcas linguísticas elencadas para expressar polidez, focamos na forma verbal de FP. Segundo Brown e Levinson (2011[1987], p. 76-78), o tipo de estratégia a ser utilizada na interação é influenciado pela presença de três fatores contextuais: i) a distância social existente entre os interlocutores – trata-se de uma dimensão simétrica de semelhança/diferença e refere-se ao grau de familiaridade e solidariedade entre o falante e o ouvinte; ii) o poder relativo existente entre os interlocutores – consiste em uma dimensão assimétrica, está relacionado ao poder que o falante exerce sobre o ouvinte e vice-versa; e iii) o grau do custo da imposição de um ato comunicativo – é definido cultural e situacionalmente e refere-se aos riscos intrínsecos ao ato que irá realizar, ou seja, pode ser aprovado ou não pelo interlocutor. Entretanto não são apenas esses fatores que influenciam na expressão verbal do fenômeno da polidez. Os fatores idade, sexo/gênero, classe social, bastantes difundidos nos estudos sociolinguísticos, também interferem no modo como a polidez se manifesta. Por exemplo, em uma interação entre um jovem e um idoso a tendência é que emerjam estratégias de polidez em decorrência das normas sociais que induzem seu uso como forma de deferência, em respeito aos mais velhos. Sendo assim, para o estudo da polidez, faz-se necessário considerar tanto os aspectos pragmáticos quanto os sociolinguísticos..

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