Controladoria-Geral da União
Ouvidoria-Geral da União
PARECER
Referência: 99902.000614/2014-07
Assunto: Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação.
Restrição de acesso:
Sem restrição.
Ementa: Contrato - dispositivo expresso da LAI – informação pessoal; sigilo bancário – perda de objeto - Recomendações: impossibilidade de se identificar a autoridade responsável .
Órgão ou entidade recorrido (a):
Caixa Econômica Federal - CEF
Recorrente: D.D.P.
Senhor Ouvidor-Geral da União,
1. O presente parecer trata de solicitação de acesso à informação pública, com base na Lei nº 12.527/2011, conforme resumo descritivo abaixo apresentado:
RELATÓRIO Data Teor
Pedido 01/04/201
4
“(...) celebrei em Agosto/2013 INSTRUMENTO PARTICULAR DE CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE UNIDADE AUTÔNOMA CONDOMINIAL COM CLÁUSULA SUSPENSIVA, CLÁUSULA RESOLUTIVA EXPRESSA E OUTRAS AVENÇAS. (...) todavia, até a presente data não foi celebrado o Contrato de financiamento.
Eu já entreguei e assinei todos os documentos solicitados pela Construtora Tecnisa para obtenção e celebração do
Contrato de Financiamento junto à CAIXA ECONÔMICA FEDERAL e recebi em minha residência notificações (...). Assim sendo, compareci à agência 0350 - Mogi das Cruzes, em 13/03/2014, ocasião em que me foi informado pela funcionária K. que os documentos referentes à
minha pessoa, encaminhados pela empresa Cedro, estavam completos e aptos para a celebração do contrato de financiamento, o qual encontrava-se
aprovado. Entretanto, estava pendente a entrega do
Contrato de Compra e Venda e a informação quanto ao valor a ser financiado, o que inviabilizava a concretização
do ato jurídico que se buscava perante aquela instituição financeira, ensejando assim no encerramento da conta corrente.
Diante de todo exposto, venho por meio do (...) SIC, solicitar:
I – a extração de cópia de todos os documentos protocolados, devidamente datados, para a celebração do
contrato de financiamento em meu nome;
II – declaração quanto à atual situação da avaliação do
crédito e eventual pendência para a concretização do já
mencionado contrato de financiamento; (...).”. (grifos meus)
Resposta Inicial 22/04/201 4
“(...) informamos que conforme determina o Art. 6º, inciso I, do Decreto n° 7.724/12, que regulamenta a Lei de Acesso à Informação, a CAIXA deve observar legislações
específicas referentes à divulgação de informações resguardadas pelos sigilos fiscais, bancário, de operações e serviços no mercado de capitais, comercial,
profissional, industrial e segredo de justiça, bem como informações onde há a necessidade de identificação do solicitante ou existe ainda demais canais para atendimento. 2. Nesse sentido, comunicamos que o seu pedido de acesso
não pode ser atendido por este canal, visto que as informações solicitadas podem ser obtidas ou solicitadas em outros canais e está condicionando a identificação do requerente, conforme Art.60 do referido
Decreto.
3. Para sua segurança e maior agilidade no atendimento do seu pedido, orientamos que o (a) Senhor (a) procure a
Agência da CAIXA mais próxima.
4. Informamos que a CAIXA mantém SAC (...)”. (grifos meus)
Recurso à Autoridade Superior
22/04/201 4
“(...) Ao meu ver não há o que se falar em sigilo
bancário, vez que não solicito informações de terceiro.
A resposta satisfatória (...) seria informar a disponibilização de cópia dos documentos em seu físico, ou em formato PDF a ser encaminhado ao meu e-mail. Solicito assim que seja revista a negativa apresentada.”. (grifo meu) Resposta do Recurso à Autoridade Superior 28/04/201 4
“(...) 1.1. Ratificamos as orientações contidas na
resposta anterior, e ressaltamos que a cliente poderá procurar a Agência da Caixa Mogi das Cruzes para obter
as informações requeridas.
2. Informamos que a CAIXA mantém SAC (...)
3. A CAIXA coloca-se à disposição através de seus canais de atendimento (...)”. (grifo meu)
Recurso à Autoridade Máxima
29/04/201 4
“(...) cumpre-me reiterar que já compareci à agência de Mogi das Cruzes e já obtive as informações, entretanto, de forma verbal, razão pela qual busco por meio deste canal cópia dos documentos pertinentes ao caso, documentos estes protocolados pela construtora Cury e/ou Cedro Consultoria, bem como a formalização da situação atual quanto a aprovação do financiamento, validade, aberturas de contas, encerramentos e os documentos pendentes para formalização do contrato de financiamento, tendo em vista a omissão da construtora Cury.” (grifo meu)
Resposta do Recurso à Autoridade
Máxima
05/05/201 4
(...) ratificamos a informação de que, conforme
deter-mina o Art. 6º, inciso I, do Decreto nº 7.724/12, que re-gulamenta a Lei de Acesso à Informação, a CAIXA deve observar legislações específicas referentes à divul-gação de informações resguardadas pelos sigilos fiscais,
bancário, de operações e serviços no mercado de capitais, comercial, profissional, industrial e segredo de justiça, bem como informações onde há a necessidade de identificação do solicitante ou existe ainda demais canais para
atendi-mento. Nesse sentido, comunicamos que o seu pedido não
pode ser atendido por este canal, visto que a informação
solicitada está condicionada a identificação do reque-rente, conforme Art.60 do referido Decreto. Para sua
segu-rança e maior agilidade no atendimento, orientamos que a Senhora, munida de documento de identidade, procure a Agência Mogi Cruzes/SP, localizada na Avenida Voluntário Fernando Pinheiro Franco, nº 518, município de Mogi das Cruzes/SP.
2. Informamos que a CAIXA mantém SAC (...).
3. A CAIXA coloca-se à disposição através de seus canais de atendimento.
Recurso à CGU 15/05/201
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“Conforme relatado em meu pedido inicial de acesso à informação, cumpre-me reiterar que já compareci à
agência de Mogi das Cruzes e já obtive as informações, entretanto, de forma verbal, razão pela qual busco por meio deste canal cópia dos documentos pertinentes ao caso, documentos estes protocolados pela construtora Cury e/ou Cedro Consultoria, bem como a formalização
da situação atual quanto a aprovação do financiamento, validade, aberturas de contas, encerramentos e os documentos pendentes para formalização do contrato de financiamento, tendo em vista a omissão da construtora Cury.”.
Adicionais
e Negociações 1/07/2014
É o relatório.
Análise
2. Primeiramente, verifica-se se o presente recurso observa os seguintes requisitos de admissibilidade: tempestividade e objeto.
3. Registre-se que o recurso foi apresentado à CGU tempestivamente e recebido na esteira do disposto no caput e §1º do art. 16 da Lei nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação, doravante LAI), bem como em respeito ao prazo de 10 (dez) dias previsto no art. 23 do Decreto nº 7.724/2012, in verbis:
Lei nº 12.527/2011
Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades do Poder Executivo Federal, o requerente poderá recorrer à Controladoria-Geral da União, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias se:
(...)
§ 1º O recurso previsto neste artigo somente poderá ser dirigido à Controladoria Geral da União depois de submetido à apreciação de pelo menos uma autoridade hierarquicamente superior àquela que exarou a decisão impugnada, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias.
Decreto nº 7.724/2012
Art. 23. Desprovido o recurso de que trata o parágrafo único do art. 21 ou infrutífera a reclamação de que trata o art. 22, poderá o requerente apresentar recurso no prazo de dez dias, contado da ciência da decisão, à Controladoria-Geral da União, que deverá se manifestar no prazo de cinco dias, contado do recebimento do recurso.
4. Em relação ao objeto, também no art. 16 da LAI encontram-se as únicas quatro situações em que é possível interpor recurso de mérito à CGU.
Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades do Poder Execu-tivo Federal, o requerente poderá recorrer à Controladoria-Geral da União, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias se:
I - o acesso à informação não classificada como sigilosa for negado;
II - a decisão de negativa de acesso à informação total ou parcialmente classificada como sigilosa não indicar a autoridade classificadora ou a hierarquicamente supe-rior a quem possa ser dirigido pedido de acesso ou desclassificação;
III - os procedimentos de classificação de informação sigilosa estabelecidos nesta Lei não tiverem sido observados; e
IV - estiverem sendo descumpridos prazos ou outros procedimentos previstos nesta Lei.
Pontua-se que, até a interposição do recurso à CGU e a mediação desta, houve negativa de acesso à informação não classificada como sigilosa, razão pela qual se podem subsumir os fatos ao inciso I do art. 16 da LAI. Destarte, entende-se ser idôneo o objeto recursal.
5. Tendo o recorrente satisfeito os requisitos de admissibilidade do recurso, segue-se com a análise do mérito.
Mérito
6. A cidadã em seu pedido inicial requereu:
I – a extração de cópia de todos os documentos protocolados, devidamente datados, para a celebração do contrato de financiamento em meu nome;
II – declaração quanto à atual situação da avaliação do crédito e eventual pendência para a concretização do já mencionado contrato de financiamento;
Entende-se que tais pedidos não aceitam a hipótese do sigilo bancário/comercial como justificativa para a negativa de acesso. Isso porque a CGU vem entendendo que a manutenção do sigilo com base em tal argumento só se justifica nos casos em que a divulgação implicar em risco ao exercício da atividade econômica exercida pelo banco em um mercado concorrencial. Não se visualizou neste processo o nexo causal entre o pedido da recorrente e a ameaça às atividades econômicas das CEF.
7. Paralelamente, nota-se que a o pedido feito requer informações de natureza pessoal, conceito descrito pelo inciso V do art. 4º da LAI. Nesse caso, deve-se ter atenção ao regime que regula tal matéria, o qual pode ser basicamente encontrado no art. 31 da Lei de Acesso. Assim:
Art. 31. O tratamento das informações pessoais deve ser feito de forma transparente e com respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, bem como às liberdades e garantias individuais.
§ 1o As informações pessoais, a que se refere este artigo, relativas à intimidade, vida privada, honra e imagem:
I - terão seu acesso restrito, independentemente de classificação de sigilo e pelo prazo máximo de 100 (cem) anos a contar da sua data de produção, a agentes públicos legalmente autorizados e à pessoa a que elas se referirem; (grifo meu)
Nota-se que a cidadã requer informações que se referem à sua pessoa, razão pela qual o acesso não lhe deve ser negado. Ressalva-se ser admissível a exigência de documentação da recorrente a fim de que essa comprove sua identidade. Dessa forma, evita-se que terceiros não autorizados acessem informações de natureza pessoal.
8. Pautando-se nessas considerações, enviou-se uma mensagem eletrônica à Caixa Econômica Federal a fim de que essa apresentasse alguns esclarecimentos sobre as razões pelas quais negava o acesso a informação. O banco optou, então, por reavaliar sua posição e encaminhou a seguinte mensagem à senhora D.D.P.:
(...) informamos que a senhora pode dirigir-se até a Agência Mogi das Cruzes (0350) a partir de 30/06/2014, no horário das 11h às 16h para retirada dos seguintes documentos:
• Documentos pessoais da proponente (RG, Certidão de nascimento, IRPF2013, CTPS);
• Ficha Cadastro manual MO 33.005;
• Avaliação PF Cliente e Avaliação PF Habitacional;
• Certificado de estimativa de subsidio – Casa Paulista;
• Autorização para Movimentação da CV FGTS MO 29.300;
2. Salientamos que a senhora deverá procurar pela funcionária K.R.A. – Assistente de Atendimento, munida de documento de identificação pessoal válido e legível.
9. Em seguida, enviou-se uma mensagem eletrônica à recorrente a fim de se confirmar a efetividade do acesso. A CGU obteve, então, a seguinte resposta:
“Eu recebi o e-mail encaminhando pela CEF e já compareci à agência bancária para a retirada de cópia da documentação, o que me foi entregue sem qualquer burocracia, ou aborrecimentos.
Quero aproveitar a oportunidade e parabenizar pelo serviço de vocês, fundamental para o cumprimento efetivo da lei.”.
10. Em virtude dessa afirmação, acredita-se que houve perda do objeto deste recurso.
Conclusão
11. De todo o exposto, opino pela perda do objeto do recurso, uma vez que a CEF, após mediação da CGU, dispôs se a apresentar os documentos solicitados no pedido inicial.
12. Destaca-se que o recorrido descumpriu parcialmente os procedimentos básicos da Lei de Acesso à Informação. Nesse sentido, recomenda-se orientar a autoridade de monitoramento competente que reavalie os fluxos internos para assegurar a observância das normas relativas ao acesso à informação, de forma eficiente e adequada aos objetivos legais, em especial recomenda-se:
a) Informar em suas respostas ao cidadão a autoridade que tomou a decisão, a possibilidade de recurso, o prazo para propor o recurso e a autoridade competente para apreciar o recurso; 13. Por fim, quanto ao cumprimento do art. 21 do Decreto n.º 7.724/2012, observa-se que não consta da resposta que a autoridade que proferiu a decisão, em primeira instância, era a hierarquicamente superior à que adotou a decisão, assim como também não consta que a autoridade que proferiu a decisão em segunda instância foi o dirigente máximo do órgão/entidade.
ÍCARO DA SILVA TEIXEIRA
Analista de Finanças e Controle
D E C I S Ã O
No exercício das atribuições a mim conferidas pela Portaria n. 1.567 da Controladoria-Geral da União, de 22 de agosto de 2013, adoto, como fundamento deste ato, o parecer acima, para decidir pela perda do objeto do recurso interposto, nos termos do art. 23 do referido Decreto, no âmbito do pedido de informação nº 99902.000614/2014-07, direcionado à Caixa Econômica Federal - CEF.
JOSE EDUARDO ROMAO
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Controladoria-Geral da União
Folha de Assinaturas
Referência: PROCESSO nº 99902.000614/2014-07
Documento: PARECER nº 2827 de 11/07/2014
Assunto: Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação.
Ouvidor
Assinado Digitalmente em 11/07/2014 JOSE EDUARDO ELIAS ROMAO