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Vozes silenciadas : uma leitura da obra de Salman Rushdie

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Academic year: 2021

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UNI VERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Programa de Pós-Graduação do Instituto de Estudos da Linguagem – IEL Doutorado em Teoria e História Literária

Linha de pesquisa Literatura Comparada

VOZES SILENCIADAS

Uma leitura da obra de Salman Rushdie

Muna Omran

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação do IEL, Unicamp, como parte dos requisitos parciais para obtenção do título de doutor em Teoria e História Literária.

O r i e n t a d o r : P r o f . D r . F á b i o d e S o u z a A n d r a d e

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Programa de Pós-Graduação do Instituto de Estudos da Linguagem – IEL Doutorado em Teoria e História Literária

Linha de pesquisa Literatura Comparada

VOZES SILENCIADAS

Uma leitura da obra de Salman Rushdie MUNA OMRAN

Aprovado em: 20 de fevereiro de 2006

Banca Examinadora Prof. Dr. Jorge Mattos Brito de Almeida Universidade de São Paulo - USP Prof. Dr. Mamede Mustafá Jarouche-

Universidade de São Paulo - USP Prof. Dr. Carlos Eduardo Ornelas Berriel

Universidade Estadual de Campinas-Unicamp/ IEL Prof. Dr. Luiz Carlos da Silva Dantas

Universidade Estadual de Campinas-Unicamp/IEL Prof. Dr. Fábio de Souza Andrade – Orientador Universidade Estadual de Campinas-Unicamp/IEL

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A Yahia, (in memoriam) meu pai, imigrante que soube enfrentar as diversidades. A Wissal, minha mãe, por me ensinar a sempre ter forças.

Vitor, Thales e Caio, os frutos da imigração, a crença no futuro e a constante renovação. A Véra Lucia dos Reis, amiga e mestra de todas as horas.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, professor Dr. Fábio de Sousa Andrade, pela paciência e compreensão dos momentos de angústia ocorridas nesse longo percurso e, principalmente, pela interlocução e condução do meu pensamento reflexivo.

Ao amigo Luís Roberto, pelo constante apoio.

A Zilda Plombon, diretora geral da escola Dínamis/RJ, por compreender minhas ausências e estimular a sempre vencer desafios.

A Verinha, minha gratidão pelo constante incentivo profissional.

Ao Professor Dr. Francisco Foot Hardman e Professora Dra. Maria Betânia Amoroso, pelas enriquecedoras observações na qualificação.

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OMRAN, Muna. Vozes Silenciadas – Uma leitura da obra de Salman Rushdie. Campinas, Unicamp, IEL, 2006. Tese de doutorado em Teoria e História Literária.

RESUMO

A tese d iscute a co n struç ão narrativ a d o s ro man ces Os filhos da Meia-Noite, O s v ersos sa tânico s e O último suspiro do Mouro , do escritor indo-britânico Salman Rushdie, tomando por base as propostas teóricas da literatura co n temp o rân ea e relaç ões co m o p ó s-co lon ialismo . Esses ro man ces rejeitam a hegemonia das forças totalizadas do pensamento institucionalizado que violam a i n d i vid u al i d ade hu man a e d as mino r i as q u e seg u em cami nh o s co n t r a o co n fo r mismo .

Ao an alisar a o b ra d e Ru sh d ie, d estaca mo s q ue , ap esar d e su a n arrativ a se fazer através da língua inglesa, estão presentes na sua estrutura discursiva as fo rças cu lturais d a so cied ad e o rien tal e oc iden tal.

As histórias contad as por Rushdie são histórias outras que, por meio de um espectro narrativo envolvente, contam a história daqueles que vivem sob o domínio do silêncio.

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OMRAN, Muna. Vozes Silenciadas – Uma leitura da obra de Salman Rushdie. Campinas, Unicamp, IEL, 2006. Tese de doutorado em Teoria e História Literária.

ABSTRACT

This thesis discusses the narrative construction present in the novels Midnig ht’s Childre n, Sa tanic Vers es and The Moor’s last Sigh, written by the Indo-British writer Salman Rush die b ased on the th eo retical proposals of the contemporary litera ture and their relationship with the p o st-colo n ialism. Th e aforemen tio n ed no v els reject th e d omina ting fo rces’ hegemony of the institutionalized thinking that violates in the human individuality and the minorities that ch oose a path against the conformism.

By an aly zing Rushdie’s wo rks we high light that, desp ite the fact his n arrativ e is in Eng lish, th e cu ltu ra l forces o f eastern and western are presen t in his discursive stru cture.

Th rough fiction, it is also possible to possess me ans of apprehending th e le gacy o f th e In dia n co lon izatio n . Th e stories to ld b y Ru sh d ie are stories that, through a compelling narrative spectrum, tell the story of those w ho l i v e u n de r t h e d o mi n ation of silence.

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À Procura de uma nova canção

E chegará o dia Em que precisarei Buscar novas canções

Em que precisarei cavar as ruínas À procura de nova poesia,

Em que rejeitarei as rosas Que vêm do dicionário; Pois rosas crescem no braço Do camponês,

Na mão do trabalhador, Na ferida do combatente, Na superfície do rochedo.

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SUMÁRIO

1. UM OLHAR SILENCIOSO 17

2. A LITERATURA DAS DIFERENÇAS 29

2.1 – Pós- colonialismo- A polêmica do termo 42

2.2 – A contemporaneidade de Salman Rushdie 47

2.3 – A experiência narrativa de Salman Rushdie 49

2.4 – A lição dos denraizados 53

2.5 – Literatura e política 57

2.6 – Literatura e a Era Thatcher 64

3. PERCURSOS DA VIDA NA TESSITURA DO ROMANCE 73

3.1 – Pluralidade discursiva 81

4. O ROMANCE NA ERA DA IDEOLOGIA: FILHOS DA MEIA-NOITE 89 4.1 A Fragmentação da história: Salim & Shiva 95

4.2 – A linguagem desmascarada 107

5. O ROMANCE NA ERA DA INTOLERÂNCIA: OS VERSOS SATÂNICOS 5.1 – Os versos satânicos – O alvo da fatwa

111 122 5.2 – Os versos satânicos – A obra da discórdia e da carnavalização 124 5.2.1 – O narrador infiltrado – A experiência vigiada 135

5.2.2 – O universo de personagens grotescas 142

5.3 – Identidades Sofridas 150

6. O ROMANCE PÓS-FATWA: O ÚLTIMO SUSPIRO DO MOURO 163

6.1 – O Maravilhoso à indiana 158

6.1. 1 – O último Suspiro do Mouro: Narrar, pintar e não morrer 166

6.2 – Loucura & paixão em Vasco de Miranda 169

6.2.1 – Deformação da Razão 171

7. SUSSURROS POR TRÁS DA PORTA 179

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1. UM OLHAR SILENCIOSO

No final d o sécu l o XX , precis amen t e em fev erei r o d e 1 9 8 9 , o mu n d o ocidental ficav a perplexo dian te de uma decisão arbitrária do governo islâmico do Irã: o aiato lá Kh o mein i d ecretav a a fatwa1 contra o escritor in d o-b ritân ico Salman Ru sh d ie. Qu em era afin al esse escrito r q ue pro v oc ava a ira do s aiato lás do g ov ern o iran ian o? O qu e fizera ele de tão g ra ve? Ru sh d ie fo ra acu sa do d e escre ver u m liv ro q ue, de aco rd o co m o s relig io so s islâmico s, pro fa nav a a imag em d o p ro feta Mao mé. “Qu e liv ro era esse? ”, mu ito s o cid en tais co meçav am a se p ergu n tar. O q u e aco n tecia n a In g laterra q u and o esse l i v r o fo i p u b l i cado ? Q u e cami n h o s o mun d o t o mav a? O q ue acontecia com a literatura? O final do segundo milênio era marcado, então, co m a co n den ação de Rush die, a v itó ria d o fun d amen talismo islâ mico em mu itos países orientais (Arg élia, por ex emplo), a Qued a do Muro de Berlim, o fim d a Un ião So v iética e a p rimeira eleiç ão p re sid en cial n o Brasil, a pó s vinte anos de Ditadura Militar.

1 A fatwa não consiste obrigatoriamente na sentença de morte. Ela significa a aplicação da lei islâmica, uma resposta dada a uma questão ou questões, relacionadas ao Islã. No caso de Salman Rushdie foi a decretação da pena de morte, e ficou sendo entendida no Ocidente como pena de morte.

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O ch oq u e em relação à fatwa contra Rushdie fo i gran de. Como uma o b ra d e art e p od e ser cen su rad a? Q ue p ap el R u sh d i e rep r esen t av a na n o va o rd em q ue se co n fi g u r ava no fin al d o s an o s 9 0 ?

O interesse por Salman Rushdie su rge nesse contexto co nturbado, pois Rushdie é um autor filho da di áspora, crítico do conservadorismo, crítico da arbitrariedade. Certamente Rushdie não foi o único escritor a so frer p erseg uiçõ es e a ser co nd en ad o . Vário s au to res d e o rig em islâmica tiveram suas obras co nd en ad as. Podemo s lemb rar os marroquino s Tahar Ben Je lloun, Abdelkeb ir Khatibi e a argelina Assia Djeb ar, para citar ap en as alg u ns entre v ário s. Ao co ntrário d e Ru sh die , qu e esc rev e em in g lês, esses au to res têm co mo lín gu a d e su as n arrativa s o id io ma fran cês. Mas to do s eles trazem a exp eriên cia d a co lo nizaç ão. No caso d o s três au tores mag re bin o s a co loniza ção deixou marcas profundas em sua cu ltura. Há neles o resgate de su a cu ltu ra d e o rigem. Po r su a v ez, Rush die v ê n a co lon izaçã o b ritânic a na Índ ia a ten tativ a de su fo car a ex pressão das div ersas cultu ras p resen tes naquele país, pois assim oc ultava-se a má distribuição de renda, o sistema d e c astas, a ex p lo ração do ho me m d o camp o co mo tamb ém a op ressão so fri da p el o s i n dia no s d e cid ad es como Bombaim e Deli. No capítulo dois, ap rofu n daremo s essa q uestão .

Assim, esse c on tex to desperta u m tr ab alh o de pes qu isa qu e d eseja buscar a compreensão da repercussão da nova ordem mundial na literatura, atrav és d esse au to r, co n sid erand o n ão só su a temá tica, ma s ain d a sua esté tica. A obra de Salman Rushdie nos leva a examinar as possibilidades de entendimento do sistema literário no final do século XX e início deste terceiro milênio. Procuraremos avaliar su a obra tendo em mente os novos paradigmas literários, como a presen ça da História na narrativa, as mú ltiplas possibilidades da represen tação contemporânea, o papel e a fu nção d esse in telectu al, a su a relação co m a míd ia, u ma vez q ue esta é co n sid erada u m d o s eix o s estratég ico s p ara a intern acio na lização do s mer cad o s.

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Para co mp re end er as amb iv alên cias d a id entid ad e criada co m a co lo niza ção britân ica n a Ín d ia, ap o iamo -no s em Edward Said2 e Aijaz Ahmad3, po is esses au to res no s fazem co mp reen der o esp aço o cu p ado p elo imig ran te n o Ocid ente e su as re laçõe s c om a cu ltura ocid en tal, b em como reconhecer a força do campo político e econômico na construção do Oriente atu al.

Ap esar d e criticad o p or mu ito s te órico s, c omo po r ex emp lo Aijaz A hmad, o mérito d e Orientalismo (1990) está na relação que Said esta belec e en tre con h ecime nto e po d er, e, d esse mod o , in sere u ma p ro b lemátic a p ó s-estru turalista n o s estu d os d a colo n ização . Qu an d o buscamos apoio em Said, vimo s a possi bilidade de desconstruir a imagem imposta pelos valores cultu rais do Ocidente através da obra de Salman R ushd i e.

Rush die n asceu em Bombaim, no ano d a in d ep end ên cia d a Ín d ia (1 9 de junho de 1947), mas transfere-se para a Inglaterra na década de 60. Em se u p r i meir o r o man ce, d at ad o d e 1 9 75 , Grimus4, u m ro man ce d e fic ção

cien tifica, as in flu ên cias d as trad içõe s orien tais já se faziam p resen tes. O romance se baseia num po ema sufi de Farid-Ud-D in Attar, po eta do sécu lo XII, intitulado – “A co nferên cia do s pá ssa ro s”. O título (Grimus) é um an ag rama d e Simu rg , u m astu to p ássaro da mitolo g ia p ersa p ré-islâmica. Além dessa referência literária, Grimus d ialo g a co m in úmero s c lássic os da literatura universal, como por exemplo, A div ina co média , d e D ante Alighieri; Hamlet e A tempesta de d e Sh ak esp eare; R o binso n Cruso é, de Daniel Defo e, assim como A montanha mágica , de Th omas Man n, en tre outras obras.

Em Grimus , Rushdie toca em pontos polêmicos – hibridismo, nacionalismo , imigração, imperialis mo e exílio – temas que estarão

2 SAID, Edward. Cultura e Política. Tradução Luiz Bernardo Pericás. São Paulo: Boitempo editorial, 2003., e Representações do Intelectual. Tradução Milton Hatoun. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

3 AHMAD, Aijaz. Linhagens do Presente. Sandra Guardini Vasconcelos. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002.

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p re sen tes em ou tras o b ras. Ap esar d e ab ord ar tais tema s n u m tex to co n st r uíd o co m mestr i a, o

romance foi considerado pela crítica uma obra entediante, por ser apenas uma fusão de trab alhos de diversos au tores e por tran sformar temas heterodoxos e reco rrer a inovações de técn icas narrativas mal su ced idas, fu gindo totalmen te ao co nv en cional.

Além da crítica, o próprio au tor (1991) não gosta da obra pois, “It is humourless, devoid of characterization, en tirely free of any thing resemb ling a cred ible spoken word, and mind -numbingly full of gobbledy gook of all sorts. Reader: I hated it.”5

Não o bstan te, a a clamação inte rn acio n al do au tor aco n teceu co m seu se gu n d o r omanc e: F i l h o s d a M e i a - N o i t e6 ( M i d n i g h t ’ s C h i l d r e n )7, p u b l i c a d o n a I n g l a t e r r a , em 1 98 0 , t end o receb ido o Bo o ker Prize8. A o b ra é u ma aleg o ria cô mica da História da Índia, que se desenvolve em torno do narrador Salim Sinai e mil crianças qu e nasceram à meia-noite do dia 15 de agosto de 1947, mo men to em q u e era assin ada a d eclara ção d e in d ep en dên cia d o subcontinen te. Assim co mo Rushdie, o personage m principal nasceu nu m país livre, pronto para conviver com as múltiplas culturas que o fo rmavam, d e aco r do co m o des ej o de Mah t ama Gh an d i e N eh ru .

Seu l i v r o seg u i nte , p ub l i cad o em 19 8 3 , v en ced or d o p rê mi o d e mel h o r livro estrangeiro na França9, Shame10, possivelmen te seja a obra que possui teor mais acentuadamente biográfico, pois gira em torno de uma família p aq uistan esa, qu e se to rn a me táfo ra d e u ma n ação u n a. Os altos e ba ixo s dessa família representam os mesmos problemas vividos pela recém-fundada

5 Rushdie. Salman. Imaginary Homelands. p. 270.

6 Tradução Donaldoson M.Charschagen. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1987.

7 Em 2003, o romance foi adaptado e produzido pelo Royal Shakespeare Company, apresentando-se em Nova York no Appolo Theater e em Londres. Fonte: http://web.playbill.com/news/article/78547.html . Desde 1998, Rushdie tenta adaptar a obra para o cinema, enfrentando a dificuldade da transposição da linguagem literária para a cinematográfica, e reunir enorme elenco a ser contratado. (“Adapting Midnight’s Children”, in: Step Across this Line, pp:77-87.

8 Prêmio conquistado em 198. O livro foi vencedor, ainda, do James Tait Black Prize, no mesmo ano. 9 Prix du Meilleur Livre Etranger.

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nação paquistanesa. Para mu itos críticos Shame rep re sen ta a aleg oria da situação política do Paquistão. Cabe lemb rar que Rushdie nasceu numa família abastada em Bomb aim, dividida em conseqüência da criação do Estado paquistan ês. ( . . . ) My o w n family , l ik e s o ma n y Mu s lim o r ig in s , w a s cu t in h a l f b y Pa r tio n . My p a r en ts o p te d t o s ta y in B o mb a y , a n d so d id my tw o u n cl es a n d th e ir fa mil ie s , b u t my a u n ts a n d t h e ir fa mily w e n t t o W e s t P a k i s t a n , a s i t w a s c a l l e d u n t i l 1 9 7 1 , w h e n E a s t P a k i s t a n s u c ce ed ed a n d b e ca me B an g l ad es h . W e a r e lu c k y , es ca p in g th e w o r s t b l o o d l e t t i n g , b u t o u r l i v e s w e r e d e f i n e d a n d s h a p e d b y t h e fr o n tier sep a r a tin g u s . (S A T L : 1 7 6 )

Ven ced o r d o Whitebread , Os verso s sa tânico s11 (Sa ta nic Verses),

p ubl i cado, na I nglaterra, em 19 8 8 , n ão apenas é o liv ro mais po lêmic o do au tor, co mo também o responsáv el por su a maior ex po sição na mídia. R u sh d i e i ns p iro u -s e n a ex plo sã o d e u ma ae ro n av e 74 7 d a Air - In d i a, p o r terroristas, em 23 de junho de 1985, na co sta de Irlanda, que cau sou a mo rte d e 3 2 9 pesso as, e n as histó rias d a trad iç ão islâmica o ral. O ro man ce trata de id en tidad es, d iscute a h ibrid ização , bem co mo o lu g ar d o imigran te na Inglaterra. I f t h e S a t a n ic V e r s e s is a n y th in g , it is a mig r a n t’s e y e v ie w o f th e w o rl d . I t i s w r itt e n fr o m th e v e r y e x p e ri e n c e o f u p r o o tin g , d is ju n ctu r e a n d me tamo r p h o si s ( s lo w o r r a p id , p a i n fu l o r p l e a s u r a b l e ) t h a t i s t h e mig ra n t c o n d i t i o n , a n d f r o m w h i c h , I b e li e v e, can b e d e ri v e d a me ta p h o r fo r a ll h u ma n it y . ( I H : 3 9 4 )

O livro, porém, fo i mal comp reendido pelos religiosos e, devido à controvérsia que gerou, fo i ba nido da Índia, África do Sul, Irã e do mundo islâmico d e u m mo do g eral. Ru sh die foi co nd en ad o à morte pelo a iatolá Khomeini, líder religio so e político que depôs o Xá do Irã em 1978. Essa

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condenação levou o autor a viver na clandestinidade até 1998, quando a se nten ça fo i su spen sa p elo presid en te iran ian o Mo h amed Al Kh atami.

Ha ro un e o Mar de H istór ias12 (Ha ro un and The Sea of Stories)13 é um livro pa ra crianças, publicado ap ós O s v erso s sa tâ nico s, em 1990. Foi escrito a p edid o14 de seu filho Za far. Utilizando-se de uma linguagem simple s, ev oca an ima das e claras image ns d o mu nd o marav ilho so, resg atan d o a trad ição oral d o s co n tado res o rienta is, fazen do surg ir a imag em do na rrad or popular na figura do personag em Rash id Khalifa, contador de histórias de um país ch amado “A lefebey ”15. Ru sh die tem u m ex celen te sen so do ritmo d a lin gu ag em, e o ro man ce está p ermead o de h u mo r. Os p erson ag en s e h i stó ri as d i alo gam co m as Mil e Uma Noites, o b ra d e grande in fluênc ia n o trab alho de Sa lman Rushdi e. Ha roun e o ma r de Histó ria s emo cio na e in q uieta o leito r com a seq üê ncia de av en turas viv id as p elo s perso n ag en s. Esse liv ro receb eu o Writers’ Guild Award co mo o melhor livro infantil e foi adaptado para o teatro, tendo sido apresentado pelo Roy al National Th eatre , d e Lo n dr es.

Em 1995, Rushdie publicou o tamb ém premiado O último suspiro do Mo uro16 (The Moor’s Last Sigh), que na rra a História da Índia, ap on tando a influência da colonização portuguesa na constituição de uma família in d iana con tempor ânea . O p er sonagem princip al, Mo r aes Z ogoi by, um j o v em d e B o mb aim, é d es cen den t e d o nav eg ad o r p o rt u g u ês V asco da G ama e do Su ltão Mohamed XI, o último soberano muçulmano da Andaluzia. Esse é o pano de fundo que constitui a sina da família Da Gama Zogoiby .

Em 1 9 9 9, p ub l i co u O chã o que ela pisa17 (The flo or beneath her feet), que traça um panorama do cotidiano no final do segundo milênio no Ociden te. Nessa o b ra, os mito s d e Orfeu e Eu rídice são resg atad os p elo

12 Tradução Isa Mara Lando. São Paulo: Cia das Letras, 1998. 13 Vencedor do “Writers’ Guild Award.”

14 Segundo depoimento do autor, na Bienal do Livro, em 2003, Rio de Janeiro. 15 Alef e Be são as duas primeiras letras do alfabeto árabe.

16 Tradução Paulo Henriques Britto. São Paulo: Cia das Letras, 1996. 17 Tradução José Rubens Siqueira. São Paulo: Cia das Letras, 1999.

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au tor, num contex to da mú sica popular ao co nc entrar sua narrativa na história de Vina Apsara e seu amante Ormu s Cama. Fã do co njunto irlandês U 2, Ru sh d i e j á co m a sen t en ça d e mo rte rev o g ada , v ai ao sh ow d o con j u n t o em Lo n dr es , o n d e é aclamad o p el a p l atéia. B o n o V ox co mp õe u ma mú sica com o título do romance de Rushdie.

Em 2000, já radicado em Nova York , Estados Unidos, publicou Fúria18 (Fury ), na rrativa sobre o professor indo-britânico Solanka, que vai p ar a No v a Y or k p ara org an i zar su a v i da apó s t er aba nd o n ado mul h er e fi l h o em Lo nd res.

Como uma câmera q u e p era mb ula, essa na rrativ a co n ta os cin q üen ta e cin co an o s d e S ol an k a. A n arrat i v a é marcad a p or l on g o mon ó l o go de alguém que tenta expressar co mp letamente seus sentimen tos an tes de ser dominado pela fú ria.

Em 2005, na FLIP (Feira Literária Internacional de Parati), Rushdie lan ça Shalimar, o equilibrista19, an tecip an d o a p u b licação d o ro man ce em língua inglesa (Shalimar, the clown). Essa narrativa reúne as mais diversas questões políticas da contemporaneidade, desde os problemas nacionais da Índia até os conflitos étnicos na região do subcontinente, a política american a e a fo rmação d os gru p os ex tremistas islâmico s. No v amen te, a ex emp lo de seu s roman ces an teriores, Rushd ie tece Histó ria e ficção na co n struç ão de su a n arrativ a.

Além d a ob ra ficcio na l, Rush die p u b lica en saio s e artigo s jorn alísticos em torno do s mais variados assu ntos. Neles Rushdie discute as relaçõ es en tre Oc iden te e Oriente, as relaçõ es de poder no Terceiro Mundo, as relações entre cultura e política na sociedade contemporânea. Devido a essa v asta p ro d u ção in telectu al, q u e ce rtamente n ão se esg o tará tão ced o20,

18 Tradução José Rubens Siqueira. São Paulo: Cia das Letras, 2003. 19 Tradução José Rubens Siqueira. São Paulo: Cia das Letras, 2005.

20 Durante nossa pesquisa Rushdie publicou O chão em que ela pisa, Fúria e Shalimar. Como continua a escrever em periódicos e jornais nos Estados Unidos e Inglaterra.

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reco rtamos p ara an álise três de su as o b ra s ficcio n ais: Os Filhos da Meia-Noite, O s v ersos sa tânico s e O último suspiro do Mo uro21.

No Cap ítu lo Qu atro , an alisaremos Os Filhos da Meia-Noite, q ue o co n sag rou n o campo in telectu al o cid en tal. Esse ro ma nce, n arrad o em primeira -

pessoa, inova, especialmente, a linguag em ficcional, bem co mo questiona o p ap el d a i d eo lo g i a n u m mun d o q ue se esfor ça p ar a en co n t rar u m no v o ru mo. No Capítulo Cinco, analisamos O s v erso s sa tânico s. Esse ro man ce, pela linguagem carnavalizadora, discute as relações de poder cultural, político e econômico entre Ociden te e Oriente, revelando as angústias engendradas pela busca /suspensão de uma iden tidade.

Finalmente, no Capítulo Seis, será enfocado O último suspir o do Mo uro. Além da linguagem carna valizadora e do fantástico, a obra aborda q u estõ es d a

Índ ia co n temp o rân ea, c omo co rru p ção , miséria , desemp reg o, fan atismo religioso. Novamente, Rush die recorre às figuras reais do universo político e cu ltu ral d a Índ ia p ara con tar su a h istó ria. Esse livro , assim co mo Os v erso s sa tâ nico s, fo i tamb ém proibido na Índia.

Nessas o b ras v amo s lev an tar as preo cu p açõ es d o au to r em d efin ir a id en tidad e ind ian a p ó s-ind ep en d ênc ia, o d iscu rso carn av alizad or, a fra gmentaç ão c ultu ral n a con tempo ran eida de, a ru p tu ra d a v id a so cial, a implosão e explosão do “e u” e do “outro”, a dive rsidad e, a língua do “eu /outro ” en xertad a, as referê ncias à cultura popular e erud ita, o que, para o leito r, resu lta em tex to s mu itas ve zes co nfu so s, em v irtud e d a v ariação de v o zes n eles ex isten tes.

Nes ses ro man ces há u ma gal er i a d e p erso nag en s q u e p od er i am s er explorados individualmente. No en tanto, nosso trab alho se constrói em torno de alguns pouco s, esco lhidos em função dos interesses da tese.

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Em Filhos da Meia-Noite e O último suspiro do Mouro o na rrad o r é o protag on ista. Em Os verso s sa tânico s, a n arrativ a em terceira p essoa introduz um narrador que atua como um agente infiltrado, ora aqui ora aco l á, p er amb u l an do p el o esp aço frag ment ad o d o t exto , u n i n do e d es un i n d o os conflitos, mo vimentando-se por idas e vindas, por espirais, retas e cu rvas, tentando alinhavar uma narrativa dentro de uma história linear, buscando conhecer o desconhecido e apresentando ao leitor a amplitude de u m p ensamen to livre d as amarras d e uma só te xtu alização , p eg an do mu itas vezes de surpresa esse mesmo leitor. Esse agente-infiltrado obriga cada fra gmento d o tex to e cad a

personagens a aguardar a sua entrada em cena para permitir que o leitor esta beleç a seus p ró prio s elos, e d ê a cad a frag men to esco lhid o o v alor de uso que ele, agente-infiltrado, deseja atribuir ao seu texto, sem que seu leitor note que, além dos personagens, ele também é títere desse narrador.

Nas t rê s o br as , os n arrad o res o bs erv am, de ntr o d o esp aço fra gmentado, o desenvolvimento da trama ambien tada na an tiga metrópole o u na ex -co lô n ia, co m esp írito d e rev isão , rein terpretação e reco n stru ção d o espaço in termed iário d as id en tid ad es. Esse s n arra do res ora reco n tam a História da Índia pó s-indepe nd ên cia, ora questionam a formaç ão do local se m n eg ar o g l o b al , o ra

d iscu tem as mazela s d a co lon ização e d a g lo ba lização e su as c on se qü ên cias n a su a so cieda de.

A g ran de qu estão d a o b ra d e Rushd ie é p ô r em ev id ên cia q ue lug ar as d i v ersas cu l t u ra s q ue fo r mam a Ín d i a o cup am e co mo po d em c on v i v er e d ialo gar. Como fica a p lu ralidad e cu ltu ral lo cal ap ós a ind ep en dê ncia? O Estado desejado por Gandhi e Nehru respeitava todas as minorias. Então, co mo p o dem elas coe xistir a pó s os lo ng o s a no s de co lon ização ? Qu e tip o de n acional ismo pod eria have r nu ma so cied ad e dividida por ca stas e co m en o rmes d iferenç as socia is e econ ô micas? Que stõ es c omo essa s são co lo cad as na ob ra de Rushdie c omo q u e par a n os ind icar qual fo i o legad o

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deixado pelas fo rças imperialistas, g u iad as p elos id eais ilu min istas. Os in g leses saíram d a Índ ia acred itan do q ue d eix av am seu mo d us viven di, seu id io ma e seu mo d elo de org an ização d e Esta do co mo sua maio r co ntrib u ição para a Índia.

Lemb remo -nos do conto O home m que queria ser rei, d o escrito r Rudy ard Kipling (1865-1936), “o ba rdo do império britânico” (HOBSBAWAM, 1988:121). Nessa obra, o au tor relata como dois soldados, Peachy Carneh an e Daniel Dravot, tentaram construir um império nu ma reg ião d o Afeg an istão , ch amad a Cafiristão con h ecid a h o je como Nuristã o. Até aq uele mo mento, pouco ou nada se sabia sobre esse território.

A história pode ser considerad a parc ialmen te verdad eira, uma ve z que receb eu em 1 88 5 u ma ex p ed iç ão b ritân ica. O p rimeiro lev anta men to etnográfico da região fo i realizado em 1889-90 - datas que, efetivamen te, co in cide m co m o

desenvolvimento da narrativa. Os britânico s sabiam que os habitantes da reg ião n ão eram n em h in du s n em mu çulmano s, e acredita vam qu e, a ex empl o d e outras tribos das mon tan has, desce ndiam de Alex andre, o Grande. Os protagonistas menosprezam o alerta do narrador-testemunha avisando-os de que poderiam ser mu tilados pelos habitantes das colinas afeg ãs. Po rém, usando rifles contraband eados para impo r seu poder, a co n qu ista d o Cafaristão a con tece g rad ativ ame nte. Algu n s n ativo s são escol h i d o s p ar a apr en d er a usar armas d e fo go . O s d o i s i n g l eses ao s p ou co s sã o vistos co mo deuses, os descendentes diretos de Alex andre.

Além d e ser u ma n arrativa so b re as co nq u istas d a Era Vito rian a, O homem que queria se r rei é tamb ém u ma h istória q u e retrata as d iferen ças étn icas q u e as histó rias da s co n qu istas camuflam. Ao en co ntrarem o s cafaristan eses, Peach y ch ama a atenç ão para o s cab elo s lo iros, e Drav ot, impression ado co m o que via, diz que esses habitantes não eram neg ros e sim ingleses, po ssivelmente descendentes de alguma tribo perdida, e acresce nta qu e tin h am sido criad o s p ara se rem ing leses.

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Essa afirmativa de Dravot co mp rova o sentimen to de superioridade que os ingleses nutriam em re lação aos outro s povos, bem como o desejo de b rita nizá-lo s. Não é d e esp an tar, p o rta nto , qu e a g ran d e p reo cup ação do s escritores britânico s do período co lonial fo sse divulgar a su premacia e a fo rça o império britânico . Contra essa fo rç a, a obra de Rushdie – produzida n o p erío d o em q u e as ex - colô n i as se fir mav am como n açõe s i n d ep end en t es – discute as co nseq üê ncias do imperialismo britânico no subcontinen te.

A proposta desta tese é mo strar os diversos plurais que se cruzam na o b ra ru sh d inian a, o s frag men tos, a formaçã o, a in d iv idu ação , o imag in ário, a polifonia na construção de discurso s que estão presentes na narrativa co n temp o rân ea.

Rushdie usa o inglês, que do mina, para co mpor seus textos, ap ropriando-se dela para articular seus desejos, suas pe rcep çõ es e impressões. A questão da língu a inglesa cria ten são co m a lín gu a matern a, o hi n dustâni, resu ltan do nu ma lin gu ag em carregada de sign ifica do s ideo lógico s que habitam o an tigo colonizado. Para refletir sobre essa situação buscaremos apoio nas teorias de Roland Barthes (1971) a fim de d efinir a n o ção d e escrita, e verificar d e qu e mod o , n o romanc e de Rushd ie, a lín g ua d o an tigo co lo n izado r p od e ser a reescrita d a o ralid ade d o ex -co lo niza do .

Paralelamente ao s estud o s de Ba rth es, lan çaremo s mão d os esc rito s de Ed ward Said . Para co mp reen d er o c on tex to d a p ro d u ção estética co n temp o rân ea,

recorremos a Linda Hutcheon (1991), pois essa autora oferece subsídios p ara d iscu ssão da metaficção h isto rio g ráfic a n a o bra ru sh d inian a.

Os romanc es an alisa do s são n arrativ as co ntemp orân eas, qu e so frem direta influência da tradição oral do subcontinen te. Em seus textos o au tor in d o-b ritân ico en fatiz a as relaç ões dialó g icas en tre narrad or, leito r e p erso na gen s. Essas relaçõ es d ialóg icas ex p lo ram a plu ralid ad e d as proposições e po sições desse au tor; elas são atemporais e polivocais, e se

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ap resen tam atrav és de sug estões e co mp reen sõ es n ão lin eares e se qü ên cias sin tetizad as.

O teórico ru sso Mikhail Bakhtin fo i a base do nosso estudo sobre a carnavalização, o grotesco, a multiplicidade de vozes presentes na obra de Salman Rushdie. Su a an álise do dialogismo do romance de Dostoievski (1997) e a qu estão da pluralidad e de vozes qu e analisou em Cultura popular na Idade Média e no Renascimento : o co ntexto de Fra nço is Rabelais ( 19 8 7 ) constituem os apoios encontrados para refletirmo s sobre a p lu ralid ad e d as vo zes na rrativ as p resen tes n os romanc es an alisa do s.

Per ceb emo s n a ob r a d e R us h die, s ob r etu do em O último suspiro do Mo uro, obra escrita quando o au to r vivia a impo sição do silênc io, eleme nto s de fan tástico, pa ra a ssim rev er, criticamente, a h istó ria só cio -politico-cultural do Oriente, em especial a Índia, no século XX. Dessa fo rma , Ru shd ie rep en sa a realida de co n temp o râ nea marc ada p ela b arb árie e p el a o p ressão .

Emb o ra h aja in úmeras o b ra s teó ricas qu e tratam d o fan tástico, este trab alho se b aseia, n esse asp ecto , na ob ra de Irlemar Ch iamp i, O Realismo fantástico (1 98 0 ). Nele, a au tora traba lha co m a n oçã o d e discu rso fantástico e mo stra co mo se cria um mundo mágico e simbólico, repleto de mito s e d e fan tasia, u m d iscu rso q ue afasta o leito r da rep resen tação d ireta d a r eal i d ade , l ev an do - o par a u m dis cu rs o pren h e d e sig n i fic açõe s.

Está feito o convite para qu e o leitor ouça, na obra de Rushdie, o grito das vozes silenciadas.

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2. A LITERATURA DAS DIFERENÇAS

H á n a a l m a d o s E s t a d o s u m m i s t é r i o c o m q u e j a m a i s o u s a m e t e r - s e a h i s t ó r i a .

W i l l i a m S h a k e s p e a r e . T r ó i l o e C r e s s i d a . A t o I I I – C e n a I I I : U l i s s e s .1

De aco rdo co m os estudos de Ed ward Said (1995), mu itos au tores ocidentais2 d o sécu lo XIX e in ício d o XX se p reo cu p ara m em rep resen tar em su as o bras a ex pa nsão e a sup remacia do s seu s impé rio s3.

Ma s, p a ra o s cid a d ão s d a I n g la te r r a e F r a n ç a o ito c e n t ista s, o imp é r io e r a u m g r a n d e te ma d e a t e n ç ã o c u ltu r a l se m q u e h o u v e s se q u a lq u e r c o n s tr a n g ime n t o . A s Í n d ia s b r itâ n ic a s e o n o rt e d a Á fr ic a fr a n c ê s d e s emp e n h a ra m u m p ap el in es timáv e l n a imag in aç ão , eco n o mia , v id a p o lítica e trama so c ial d a s so cied a d e s b r i t â n i c a e f r a n c e s a , e a o me n c io n a r n o mes c o mo D elac r o ix , E d mu n d B u r k e, R u s k in , C a r ly le, J a mes e J o h n S tu ar t Mil l, K ip li n g , N e r v a l, F la u b e r t, C o n r a d , e s ta r e mo s map ea n d o u m ân g u l o min ú s cu lo d e u ma r ea lid ad e mu it o ma is v as ta d o q u e a b a r c a r a m s e u s ta len to s co leti v o s, mes mo q u e ime n so s . H a v ia es tu d io s o s, a d min is tr a d o r e s , v i a ja n te s, c o me r c ia n te s , p a r la me n ta r e s, ex p o r ta d o r es, r o ma n cis ta s , t e ó r ic o s , e sp e c u la d o r e s , a v e n tu r e ir o s, v is io n ár io s , p o et as , p á r ia s e d e sa ju st a d o s d e to d a e sp é c ie n a s p o s se ss õ e s e s tr a n g e ir as d es sa s d u a s p o tê n c ia s imp e r iais , to d o s co n tr i b u in d o p ar a fo r ma r u ma r e a lid a d e c o lo n ia l n o c e n tr o d a v id a me tr o p o lit an a. ( SA I D , 1 9 9 5 : 3 9 - 4 0 ) 1 A s e p í g r a f e s q u e i n i c i a m o s c a p í t u l o s e s u b c a p í t u l o s f o r a m e x t r a í d a s d e S h a k e s p e a r e d e A a Z. T r a d u ç ã o S e r g i o F a r a c o . S ã o P a u l o : L & P M E d i t o r e s , 1 9 9 8 . 2. “ E d mu n d B u r k e , R u s h k i n , C a r l y l e , J a me s e J o h n S t u a r t M i l l , K i p l i n g , B a l z a c , N e r v a l , F l a u b e r t o u C o n r a d . ” ( E d w a r d S a i d , 1 9 9 5 , p . 3 9 ) 3 P a r t i n d o d e E d w a r d S a i d , C u l t u r a e I m p e r i a l i s m o ( C o mp a n h i a d a s L e t r a s : 1 9 9 5 ) , r e f e r i mo -n o s a o s i mp é r i o s b r i t â -n i c o e f r a -n c ê s .

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Assim, os autore s da literatura inglesa, envolvidos com a missão de civ ilizar, se compro metiam co m p rojeto s, acred itan d o q ue sua cu ltu ra lev aria a luz ao s lugares e povos distan tes e desconhecidos da Eu ropa. Esse s escritores divulgavam, através da sua literatura, a ideologia coloni alista do Grande Império Britânico – Th e Grea t Emp ire. Desco n h eciam p o r co mp leto o g o sto , a realid ade d o s po v o s co l on i zad o s4 e o s o l hav am co mo b ár baro s, acred i t an do q u e a s ua fu nção co mo in telectu ais seria a d e d iv u lgar as b en esses d a co lo niza ção.

Para eles, a vontade, o gosto, a opinião , a moral do império de veriam ser se gu idos e respeitados por todos aqueles que, de acordo co m os co lonialistas, eram “selv ag en s”, ou seja, african o s e o rie ntais q u e n ão estivessem d e aco rd o co m o co nceito de civ ilização eu rop eu e q ue p ortan to d ev eria m ser “d o mest i ca do s” .

T o d a v ia , o q u e a p r o x imav a fr an c ese s, in g les e s e o u t ro s co l o n iza d o r e s, e d a v a - lh e s c o n s c i ê n c ia d e p e r t e n c e r e m à E u r o p a , e r a a q u e l a c o n v i c ç ã o d e q u e e n car n a v a m a c iên cia e a téc n ica, e d e q u e es te s ab e r p e r mitia à s s o c i e d a d e s p o r e l e s s u b j u g a d a s , p r o g r e d i r . C i v i l i z a r - s e . ( F E R R O , 1 9 9 6 : 3 6 )

Se po r um lado temos au tores que fizeram a apologia da expansão co lonial, por outro, no final do sécu lo XX , temo s autores, filhos dessas ex-colônias, cu jas o b ras de sn ud am o p roc esso p elo qu al p asso u a ocid en talização n as co lô n ias, p o r ex emp l o , i n gle sas e fran cesa s. A gran d e p ro b l emát i ca qu e en v o l ve a ob r a d o escrito r in do -b ritân ico Salman Ru sh d ie é a i n flu ên ci a d e u ma cultura ocidental, a b ritâ nica, sob re a milen ar cu ltu ra in d ian a. Ser ou n ão ser ocid en tal, co mo ser um ocidental, qu al o legado da imposição dessa cu ltura sobre a oriental são problemáticas levantadas pe los personagens da ob ra de sse romancista. Mas se o au to r discu te em su a o b ra a su sp en são de uma id en tidad e cultu ral ap ó s a co loniza ção, se questiona o lega do deixad o pelos ingleses no subcontinen te, que

4 A intelectualidade britânica, de um modo geral, no século XIX e início do XX, vivia distanciada de tudo que não fosse ligado aos valores da alta aristocracia, por isso viam como bárbaros não só os povos colonizados, mas também os operários britânicos.. “(...) intellectuals generated the Idea of natural aristocracy, consisting of intellectuals.” (CAREY, John. The intellectuals and the masses.- Pride and Prejudice among the Literary intelligentsia, 1880-1939. Faber and Faber: London. 1992:71).

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mo tiv o s en tão o teriam lev ad o a u ma co n den ação p o r p arte d os re ligio so s de u m p aí s o ri en t al? Po r q u e os a i atolás d o Irã, em 1 98 9 , o co n d enar am à mo r t e? Po r que intelectuais5 d as ex -co lôn ias britân icas e fran cesas ain da so frem perseguições em países onde o fundamen talismo islâmico tem ditado as normas6, já qu e esse s intelectuais, de uma forma ou de outra , não ad eriram ao discurso ex p ansio nista do Ocid en te? Po ssiv elmen te essas p erseg uiç ões oco rre m, p ois, de alg u ma fo rma, esses escrito re s le van taram a vo z co ntra tod a e qu alq u er imp o sição id eo ló g ica seja ela o cid en tal seja oriental, e, ao mesmo tempo, são co n si d erado s coo p t ad o s p el o Oci d en t e e p el o O ri en t e, j á qu e, p o r ser em h í b r i do s cu ltu ralmen te, “emerg em em momen tos de tran sfo rmação h istó rica ”. (BHABHA, 1 9 98 : 2 1 ) Assim, co n seg u em d etectar a s cau sas d o atraso eco nô mico e so cial, t an t o aq u el as p r ov o cad as p el o s seu s ex - colo n i zad o res c omo p o r aq u el es q ue desejam banir toda e qu alquer influência ociden tal, por ser co nsiderad a nociva. Mesmo ap on tan d o tais p ro b lemas, o rece io d o retorn o d a c olo n ização g era no s an ti g os co lo n izad os u m sentime nto d e revan ch e co ntr a qual quer questio na ment o que possa vir a ser feito em relação a su a conduta política e so cial. Portanto,

T e mo s d e a v alia r a n o s talg i a i mp e ri al, b em c o mo o ó d io e o r e s se n timen to q u e o imp e r ia lis mo d e sp e r ta n o s d o mi n a d o s , e d e v e mo s te n t a r e x a min a r d e fo r ma ab r an g en t e e cu id a d o sa a c u ltu r a q u e a li me n to u o s e n time n to , a l ó g ic a e , s o b r e tu d o , a ima g i n a ç ã o imp e r ia l ist a . ( S A I D , 1 9 9 5 : 4 3 )

Dessa fo rma, a exp eriên cia viv id a p or mu ito s in telectu ais d as ex -colô n ias não fo i das mais satisfatórias, pois são perseguidos ou so frem aten tados, ou receb em amea ças d os mu çu lman o s fun d amen talista s q ue co n sid eraram seu s textos constituídos por elementos tidos co mo profanos7. Esses p aí s es n ão co mp reen dem a lóg ica da d emo cracia o cid en tal, b aseada n o lema Iluminista, e 5 H á u m g r a n d e n ú me r o d e i n t e l e c t u a i s q u e s e e n c o n t r a n e s t e g r u p o , e n t r e e l e s : S a l ma n R u s h d i e , A b d e l k e b i r K h a t i b i , A n i t a D e s s a i ( j á c i t a d o s ) , A s s i a D j e b a r , T a h a r D j a o u t , T a r i k A l i , H a n i f K u r e i s h i , e n t r e o u t r o s . 6 R e f e r i mo - n o s , e m e s p e c i a l , a o s p a í s e s o n d e p r e d o mi n a m n o g o v e r n o f u n d a me n t a l i s t a s i s l â mi c o s , c o mo é o c a s o d o S u d ã o e d o P a q u i s t ã o , e n t r e o u t r o s . 7 O c a s o ma i s c o n h e c i d o é o d e S a l ma n R u s h d i e , a c u s a d o d e c o mp i l a r a b i o g r a f i a d o P r o f e t a e b l a s f e ma r c o n t r a o I s l ã n o r o ma n c e O s v e r s o s s a t â n i c o s .

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co m isso to rn am-se intolerantes com seus intelectu ai s e em c on se qü ên ci a s ão ch amad o s d e b ár b aro s p el o O ci d en t e.

Q u e e x ist em p r o b lema s re a is q u a n to a o r u mo , à d e mo c r a c ia e a o d e s e n v o lv i me n to d e ss es p aís es , co mp r o v a- o a p er s eg u iç ão d o E s ta d o a in te le c t u a is q u e s u s te n ta m c o r a j o sa me n t e su a s id é ia s e p r á ti c a s e m â mb ito p ú b lic o – E q b a l A h mad e F aiz A h mad F a iz, n o P aq u is tã o , N g u g i w a T h io n g o n o Q u ên i a, A b d el ra h ma n e l Mû n fi no mu n d o ár ab e - g r an d e s p e n sad o r e s e ar tis ta s c u jo s so fr ime n to s n ão emb o ta r am a in tr a n sig ê n c ia d e s eu p e n sa me n to n e m a ten u a ra m o r ig o r d e s eu s c a sti g o s. ( S A I D , 1 9 9 5 : 4 9 - 5 0 ) .

C om isso não q ueremo s d izer qu e ap o iamo s as per se gu içõ es ao s intelectuais sejam eles orientais ou ocidentais, uma vez que o intelectual deve “p r omov er a l i b erdad e h u man a e o co n h ecimen t o ” (SAID , 2 00 5 : 3 1) . N a v er dad e, co mo Said , co mpr eendemo s q u e os in telectu ais d evam se r v istos como modificadores da esfera pública, sejam eles ligados ao poder político ou não. Muitos intelectuais contemporâneos8 co nta m co m o apo io d a míd ia e da In ternet p ara d iv u lga r seu p o sicio n amen to em relação ao s p ro b lemas viv id o s p elo Terceiro Mundo, a Guerra do Iraq ue , as ex pe riên cias realizad as pelos grandes laboratórios em pa íses do continente african o, os prob lema s da má distribuição de renda, o sectarismo religioso, o terrorismo de Estado, enfim, “todo intelectual carrega algum esbo ço mental ou entendimento do sistema global” (SAID,2003b: 37). Po is, aind a de aco rdo com o estudioso palestino:

O p a p e l d o in te l e c tu a l é , an te s d e ma is n a d a , o d e ap r es en tar lei tu r as a lt e r n a tiv a s e p e r s p e cti v as d a h is tó r ia o u t ra s q u e aq u e las o fer e ci d as p elo s r e p r es en t an te s d a me mó r ia o fic ia l e d a id e n tid a d e n a c io n a l – q u e te n d e m a tr ab alh a r em t e r mo s d e fa l sa s u n id a d e s , d a ma n i p u la ç ã o d e r ep r e s e n ta çõ es d i sto r ci d a s o u d e mo n iz a d a s d e p o p u la ç õ e s in d e s e ja d a s o u e x clu íd a s e d a p ro p a g açã o d e h in o s h e ró i c o s ca n tad o s p a ra v a rr e r to d o s q u e e s tiv e r e m e m s eu camin h o s . ( 2 0 0 3 b : 3 9 )

8 Citamos os americanos Noam Chomsky e Robin Blackburn, o indiano Aijaz Ahmad, o paquistanês Tariq Ali entre vários outros.

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No tamo s que os intelectuais da diáspora, po r sua ve z, num primeiro mo men to , ap ro ximam-se ao rejeitarem a h ege mo nia e a to talização d as fo rças institucionalizadas, e ao produzirem, em sua maioria, obras escritas na língua do se u an tigo co lonizador. Essas narrativas, além de retratarem as angústias individuais na so cied ad e globalizad a, revelam os caminhos que as minorias trilham fo ra da rota do conformismo, e denunciam o discurso dominan te e au to ritário tan to da su a so cied ad e d e o rig em q ua nto daq u ela em qu e foram ed u cad os. Ne sse sen tido , esses in telectu ais se co loca m à ma rg em d a estrutu ra d o p o der em qu e viv em, mas, simu l t an eame nt e, sã o v i sto s co mo b en s cu ltu r ais d o Ociden te. Rushdie passa a ser um au tor canonizado pelo Ociden te, um au tor celeb rad o e in co rpo rad o à cu ltura o cid en tal9, mesmo que esteja apontando as falhas desse mesmo Ocidente.

R u s h d ie é u ma p r e s e n ça imp o rt an te n a ce n a c u ltu r a l b r itâ n i c a e u m v is ita n t e a p r e c ia d o e m c o n g r e s s o s e d e p a r ta me n to s d e p ó s - g r a d u a ç ã o em amb o s o s lad o s d o A tlâ n tic o . A p u b lic id a d e n a e d iç ã o d e b o lso d e

S h a m e, d a V in ta g e , b ase a d a e m p a r te n u ma c ita ç ã o d o N e w Y o r k T i m e s,

o in co r p o r a a S w ift, V o lta ir e, S ter n e, K afk a , G ra ss , K u n d er a e Már q u e z . ( A H MA D , 2 0 0 2 :9 7 ) .

Seus textos nã o deixam de retratar o embate en tre o “eu”, as trad ições milenares, confinad as, e o “outro ”, os valores ociden tais, o opressor que impõe reg ras desag reg ad o ras d a so cied ad e ind ian a, já em si d ivid id a em castas, relig iões e etn ias. Esse “o utro ” assume ain d a uma p ostu ra d e lib ertad o r, p o is, ao en trar em con tato co m essa cu ltu ra d istinta, p reten d e eman cip á-la das fo rças o p resso ras in ternas d a so cied ad e in d ian a.

Assim, po d e-se d izer a resp eito d o s roman ces d e Salman Ru sh d ie, aq ui an alisados, que o diálogo ex istente en tre a estrutura discursiva, o contex to cultural e a pluralidade de significações possibilita o desnudamento do discurso d o min ante e au to ritário tan to d a an tig a metróp o le q uan to d a a tual socie dad e em que vive. Rushdie é um ex ilado, logo , “está semp re desloc ado” (SAID, 2003

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a:5 3 ). Na c on d ição d e in telectu al ex ilad o rea liza o ju lgamen to de su a cu ltu ra positiva ou negativamente dentro dos padrões ocidentais em que vive.

O e x í l i o é u m mo d e l o p a r a o i n t e l e c t u a l q u e s e s e n t e t e n ta d o , o u me s mo as s ed iad o o u e s ma g a d o , p e l a s r e c o mp e n sa s d a a c o mo d a ç ã o , d o c o n fo r mis mo , d a a d ap t açã o . Me smo q u e n ã o s eja r ea lme n te u m imig r an te o u e x p a tr iad o , ai n d a a ss im é p o ss ív el p en s ar co mo tal, imag in a r e p e sq u is ar a p e s a r d a s b a r r e ir a s , a fa s ta n d o -s e s e mp re d a s au to r i d ad es cen tr a liza d o ra s e m d ir e ç ã o à s ma r g e n s , o n d e s e p o d e m v e r co is as q u e n o r ma lme n te es tã o p e r d id as e m men te s q u e n u n c a v iaja ra m p ar a a lé m d o co n v en c io n a l e d o c o n fo r tá v e l. ( S A I D , 2 0 0 5 : 7 0 )

Rushdie não é o único au tor oriental exilado, não é o único a escrev er na lín g ua de seu an tig o co lon izad o r. Mas q u e p ro b lema ex iste em escrev er n a lín g ua d o an tigo c olo n izad o r? Essa o pç ão pro v oca u ma g ran de celeu ma em relação a esses au to res, u ma v ez q ue e ssas líng u as co n têm u ma id eo lo gia, um pen sa men to q ue re ge a cu lt ura q ue expressam.

Para dominar uma língua, um discurso institucionalizado, devem-se eliminar as imperfeições lingüísticas, as inesperadas armadilhas semânticas, bem co mo en un ciad o s carreg ad o s d e sen tido s ca racte rísticos, pa ra assim a escrita se tornar reveladora.

De aco rdo com Ro lan d Barthe s, em O G ra u zero da escritura , a escrita p o ssu i u ma fu n ção q uan d o

C o l o c a d a n o â ma g o d a p r o b le má ti c a li te r á r ia , q u e s ó c o me ç a c o m e la , a es cr it u ra p o rt an to é, e ss e n c ia lme n te , a mo r a l d a fo r ma , a e sc o lh a d a á r e a so c i a l n o s e i o d a q u a l o e s c r it o r d e c id e si tu a r a N a tu r e z a d e su a lin g u a g e m. Mas es ta ár e a so c ia l n ã o é a d e u m c o n s u mo e fe ti v o . P a r a o es cr ito r , n ã o s e tr a ta d e es co lh er o g r u p o s o cia l p ar a q u e es cr e v e : e le s a b e p e r fe ita men t e q u e , a me n o s q u e se c o n te c o m u ma R e v o lu ç ã o , s e r á s emp re p ar a a mes ma so c ied ad e . [ . . . ] D ess e mo d o , a e scr it u ra é u ma r e a l id ad e amb íg u a : d e u m lad o , n as c e in co n te sta v elmen te d e u ma co n fr o n ta çã o d o es cr ito r c o m a s o c i e d a d e ; d e o u t ro la d o , p o r u ma es p é c ie d e tr a n s fe r ên ci a má g ic a , e la r e me te o e sc r ito r , d e ss a fin a lid a d e s o cia l, p ar a a s fo n te s in s tr u me n ta is d e s u a c r ia ç ã o . P o r n ã o p o d e r fo r n ec e r -l h e u ma lin g u a g e m liv r e me n te c o n s u mi d a , a H ist ó ri a lh e p r o p õ e a ex i g ên cia d e u ma lin g u ag e m liv r emen te p r o d u zid a . ( 1 9 7 1 : 2 4 - 2 5 )

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O discurso do au tor deixa de existir, ouve-se “o rumor da língua” – le

bruissemen t de la langue – n a v o z p lu ral, eco da fricçã o d e falares en cena do s

p elo ritu al d a leitu ra . Lin gu ag em u tó p ica p or ex celên cia, lig ad a ao g oz o, rech açan do a ten tação do sig n ific ado , a escrita, p ara Barth es (2 0 02 ), ap resen ta-se co mo u m lux o (u ma au sência ) e in verte a h ierarq u ia d o s ag en tes d o co n trato l i n g üí s t i co, d e o nd e emerg e, so b eran o , o Tex t o .

Ainda de acordo co m Barthes e numa perspectiva imanen te da p ercepç ão/recep ção d o tex to , o leito r é també m p rod u to r. Nesse intrin cad o sistema de p alav ras e memórias q ue se cruza m, p ro du zem-se semp re n o vo s se ntid o s a ca da le itura. Além d isso , a ex istên cia d e v árias camad as d e d iscu rso s, possibilitando comb inações múltiplas, conforme o desejo do leitor, põe em cena o próprio discurso do desejo. Nesse saber com sabor, na cintilação intransitiva d a l i n g u ag em ro mp i d a a o sab o r d o s sig n i fican t es , n ão se asp i r a a n en hu ma v erdad e, a n ad a q u e po ssa p arar o trân sito d a pa lavra. Po is a memória d a escrita é p ura d eriv a, sa lto mo rtal no escu ro sem re de d e pro teção . Assim, n ão há lin g uag em in o cen te, ne m sen tid o p róp rio, mas u ma in terminá vel ap rop riação de palavras cujo rumo r (d)enuncia a falência da verdade (substituída pela verdade do jogo).

Certas so cied ad es impõ em os seus signos, e tudo o que estiver em d esaco rd o co m eles será con d en ad o, o q ue fa z co m q u e a pro d uçã o de alg un s au tores se torne diab ólica, impedindo a co munhão instau ra do ra da lingu ag em.

Para a soc iedad e islâmica, a to talização de to do e q u alq ue r sig n o lingüístico se encontra no livro sagrad o dos muçulmanos: o Corão . N ele, a Trad ição d e u ma so cied ad e é p assad a de g eração a g eração , sem atu alização . A Palavra, para os religioso s, está no Texto. Contudo, Salman Rushdie reinventa as trad ições p re sen tes n a so cieda de islâmica, mistu ran d o-as ao qu e ap reen d eu atrav és da n arrativ a oral dessa mesma so cied ade e dá ao s seu s tex tos u ma d imen são carna valesca. Ao reescrev er a trad ição relig io sa, n a líng u a do ex -co lo niza do r, ele rein terpreta as -co n seq üê ncias d a -co lo nizaç ão na Ín d ia, e o au to r p or i sso , p assa a s er co nsiderado u m blasfemado r , um kafer (incrédulo), po is

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além d e in v erter o s v alo res d as metáfo ras relig io sas, Ru shd ie ap reen de a l i nguag em rea l, falada , questio nan d o ass im o poder da S h a ri ’ a10.

No caso d e Os ve rso s sa tâ nicos , o autor se inspira n a trad ição islâmica para co nstruir su a narrativa. Seu “erro”, de aco rdo co m os fundamen talistas, foi, além de reescrever a biografia do profeta, utilizar o idioma inglês11, rep resen tante d o “in imig o iran ian o ”, o s Esta do s Un ido s. Ao fazê-lo , Rush die recria u m un iv erso n o q u al a co n stru ção d a id en tid ad e articu la-se à to mad a da palavra po r uma co munidade crítica.

Ao se apro p riar d e u ma lín g ua ocid en tal p ara ex pressar su as n ecessid ad es, impressões e desejos – uma língua carregada ideo logicamen te da cu ltura cu jo p o der in vad iu e c olo n izo u além d as fron teiras eu ro péias – o s escrito res d as ex -co lônias, num primeiro mo mento, parecem estar limitados a duas justificativas:

1. aceitar a he gemon ia lin gü ística ocid en tal co m ou sem co n sciê ncia d as co n seq ü ên ci as i d eo l ó gica s d o u so d esse dis cu rs o;

o u

2. posicionar-se publicamente contra a cu ltura manifestad a nessa língua.

A p rimeira ju stificativ a parece ser d e d ifícil susten tação , v isto q ue esses escritores procuram marcar suas diferenças culturais através do discurso oficial, 10 M u i t a s f o n t e s d e s c r e v e m a S h a r i ’ a ( o s i s t e ma l e g a l d o I s l ã ) d e r i v a d a d e q u a t r o f o n t e s r e c o n h e c i d a s p e l o I s l ã : A ) o C o r ã o , d o q u a l s e o r i g i n a o c o r p o d a d o u t r i n a c o mo , p o r e x e mp l o , o s r i t u a i s , a s o b r i g a ç õ e s l e g a i s , e l a b o r a d a s e me d i a d a s p e l a S u n n a h . B ) A S u n n a h s ã o o s c o s t u me s , o s h á b i t o s , a p r á t i c a r e l i g i o s a d o p r o f e t a , b a s e a d a n o s a h a d i t h q u e r d i z e r a s T r a d i ç õ e s , o s d i t o s mo r a i s e a s h i s t ó r i a s s o b r e o P r o f e t a , n a r r a d o s p o r p a r e n t e s e a mi g o s d o P r o f e t a . A s q i y a s , ( a s a n a l o g i a s ) , a I j m a ’ h , o c o n s e n s o d a c o mu n i d a d e i s l â mi c a , p a r a l e g i t i ma r u ma d e c i s ã o . A i n t e r p r e t a ç ã o q u e s u r g i u r e c e n t e me n t e p o r p a r t e d o s e s t u d i o s o s d o I s l ã é q u e e x i s t e m d u a s p r i n c i p a i s f o n t e s p a r a a s l e i s : a p r i me i r a é o C o r ã o e a S u n n a h , e a s e g u n d a s ã o a s i n t e r p r e t a ç õ e s s o b r e c e r t a s c o mu n i d a d e s e m d e t e r mi n a d o s p e r í o d o s , n ã o h a v e n d o , n e c e s s a r i a me n t e , a c e i t a ç ã o u n i v e r s a l . N o e n t a n t o , e s s a s f o n t e s c o n c o r d a m e m d e c i d i r q u a n t o a o s i s t e ma e i n t e r p r e t a ç ã o d o c ó d i g o l e g a l . É p o r e s s a r a z ã o q u e e x i s t e m d i f e r e n t e s c o r r e n t e s l e g a i s : m a d h h a b . D a í h a v e r g r a n d e d i v e r s i d a d e c u l t u r a l – s o c i a l , j u r í d i c a e p o l í t i c a – q u e n o s i mp e d e d e t r a t a r o I s l ã u n i f o r me me n t e . 11 “R u s h d i e ' s w o r k h i n g e s o n h i s ma n y i d e n t i t i e s - - a n I n d i a n M u s l i m w h o w r i t e s i n E n g l i s h , w h o s e f a mi l y l e f t I n d i a f o r P a k i s t a n , a n d w h o n o w l i v e s i n E n g l a n d . M i d n i g h t ' s C h i l d r e n ( 1 9 8 1 ) , w h i c h f i r s t b r o u g h t R u s h d i e a w i d e a u d i e n c e a n d w o n B r i t a i n ' s B o o k e r P r i z e , i s a n a l l e g o r y a b o u t t h e b i r t h o f i n d e p e n d e n t I n d i a . S h a m e ( 1 9 8 3 ) f o c u s e s o n P a k i s t a n ' s r e c e n t r u l e r s ” . Bohemian ink. Literary Underground Review. http://levity.com/conduroy.

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mo strando-se conscientes do legado deixado pela colonização. Já a segunda cai n u ma armad ilh a criad a pe la força id eo ló gica de sse mesmo d iscurso, uma v ez q ue este rei t era s ua po sição de palav r a dominan te ou discurso de po der . De qu alquer forma, as justificativas que levam ao uso do idioma do co lonizado r mostra m a assimilação e a id en tificaçã o desses au tores co m a c ultu ra co lo nia lista, assim como o seu senso crítico em relação ao processo colonizado r. Tais autores reco nh ecem a fo rça da alteridad e q u e a ling u ag em traz e po r isso re correm à outra língua para descentralizar o poder, já qu e “a linguage m não é um in stru men to u n ívo co : serve ig u almen te à in teg ração n o seio d a co mu nid ad e e à manipulação de outrem”. (TODOROV, 1991:118).

Ao recorrerem ao d iscurso d o an tig o c olo n izad or p ara falar do s e ao s an tig os co lo n izad os, estab elecem a p ro b lemática d a a lte rid ad e, co mo ain d a no s assin ala To do ro v, p o is “a semió tica n ão po d e ser p en sad a fora d a relação com o o u t ro ”. ( 1 9 91 : 1 5 5) .

Ex-colonizado, de família muçulmana, criado na Inglaterra, ora vivendo nos E. U. A, ora na Eu ropa, o discurso narrativo de Rushdie se revela como ex p ressão d o co n hec i men t o d o s eu p r ó pr i o po v o , de h o men s q ue , c omo ele, v iv eram em c on tato direto com a cu ltu ra eu ro péia. Seu s p erson ag en s rev elam o choque que o conflito das alte ridades produz. Salim Sinai ( Filhos da Meia-Noite), Salad in Chamch a, Gib reel Farish ta (Os v ersos sa tâ nicos ) e o M our o (O último suspiro do Mouro ) v iv em a ten são d e div ersas cultu ras: a eu ro péia co m as div ersas cu ltu ras d e castas e relig iõ es q u e co mp õ em o mo sa ico qu e é a Índ ia e os conflitos internos dessas mesmas cu lturas. Nessa galeria de personagens Saladin Ch amcha é o qu e melh or enc arn a essa ten são c ultu ral, p o is assimila a cu l t u ra d o an t i g o co l o n i zad or. Ele b us ca ren eg ar a s u a d e o ri g em, mas n ão consegue se distan ciar dela totalmen te; não deixa de co mp ará-las, logo, os choques en tre ser ou não ser indiano/oriental/inglês/ocidental são inev itáve is:

“E sq u e ça d e mi m” , ele imp lo r o u . “ N ã o g o s to d e g e n te a p a r e c e n d o p a r a me v is itar s em a v isa r . Já e sq u e c i a r e g r a d o jo g o d a s s e te p e d ra s e d o

ka b a d d i , n ã o c o n si g o r ec itar min h a s o ra ç õ es [ g r ifo n o ss o ] , n ão se i o

q u e te m d e a co n te c er n u ma c er imô n ia n i k a h , e n e s ta c id ad e e m q u e c r e s c i e u me p e r c o s e sa ir so z in h o . N ão é min h a t er r a . Me d e ix a to n to

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p o r q u e p ar ece min h a te r r a e n ã o é . D e ix a me u c o r a ç ã o tr e me n d o e a ca b e ç a g ir an d o ”. ( V S : 6 3 )

Ap esar de re conhecer-se distante do s hábitos indianos, Saladin continua preso às su as origen s, mas, ao mesmo temp o, não está certo a respeito dos seus valores cu lturais, uma vez que não os re cusa totalmente, na medida em que se se nte confuso diante do s co stumes de su a terra.

Em O último suspiro do Mo uro, esse conflito se concentra nas origens de Moraes Zogoiby . Su a mãe, a artista plástica Au rora Zogoiby , católica, filha da elite indiana, descendente do navegador português Vasco da Gama , casa-se com Abraham Zogoiby , judeu, descendente de um árabe – o último su ltão, Mohamed XI – expulso da Espanha. Na constituição dessa família há a mu ltiplicidade cu ltu ral qu e fo rma a Ín dia .

E d i s s e c o m to d a s a s l e tr a s . “ H o u v e mis c ig e n a ç ã o ” . E a in d a q u e f o s s e fác il s en tir c o mp a ix ão p e lo s d o is , o á r a b e e sp a n h o l e x p u l so d e s e u s te r r it ó ri o s e a ju d ia es p an h o la ex i lad a – d o is a ma n tes imp o ten t e s u n in d o fo r ca s co n t ra o p o d e r d o s re is c a tó l ic o s -, e r a a p e n a s d o mo u ro q u e A b r a h am se c o mp ad e cia. (OU S M : 9 1 )

Au rora é metáfo ra da mãe-Índia, seus filhos são de scendentes de católicos, mouros e judeus, ex emplo das diversas etnias e religiões que fo rmam a Índia. Auro ra rep resen ta, aind a, a d eusa Kali12 da religião hindu.

E m n ó s A u r o r a e v o ca v a u m a mo r q u e p a re c ia g r a n d e d e ma is p a r a n o s so s c o rp o s , c o mo s e p ri me ir o ela c ri ass e o s en ti men t o e d e p o is o imp u se ss e a n ó s p a r a q u e o s en tí ss emo s – c o mo s e fo s se u ma o b r a s u a. S e n o s p i so te av a, e r a p o r q u e n ó s d e itá v a mo s v o lu n ta r ia me n te a o s s e u s p é s , c a l ç a d o s c o m b o ta s mu n i d a s d e e s p o r a s ; se n o s a ç o ita v a à n o ite , e r a p o r q u e a d o r á v a mo s o s g o lp e s d e su a lín g u a . F o i q u a n d o p o r fi m me d e i co n t a d e ss e fato q u e p e r d o e i me u p a i; to d o s n ó s é r a mo s e sc r a v o s d ela , e e la fazi a c o m q u e a e s c r a v id ã o fo s se p a r a n ó s o p a r a í so . S eg u n d o d i z em, é is so q u e fa z e m a s d e u s a s . ( O U S M : 1 8 3 ) 12 K a l i r e p r e s e n t a c r i a ç ã o , d e s t r u i ç ã o , mo r t e , ma l d i ç ã o , e g o í s mo , ma t e r i a l i s mo , t r a n s f o r ma ç ã o , c o mb a t e a o me d o ; t e m c o mo t a r e f a b a n i r o ma l , r e mo v e r s o f r i me n t o s , c o b i ç a , e e x t e r mi n a r a i l u s ã o .

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Mo raes reco n h ece a força d o min ad ora d e su a mãe; pa ra ele, ela representa o passado mu lticultural, a força opressora da mãe-pátria e a força da tradição relig iosa. Ap esar de tu d o, Mo raes nu tria en o rme fascin ação p o r ela. Ao reconhecer todo o poder de Aurora, pode dizer:

Q u a n d o fiq u e i sab e n d o d is s o , a q u e le s a n o s p e r d id o s c o me ç a r a m a to r tu r a r - me , a o b c e c ar - me , d ia e n o ite . em s o n h o s, eu in v e n tav a maq u in as d o temp o q u e me p e r mit ia m v o l ta r p a r a c a sa a n te s d a mo r te d e min h a mã e ; e a o d e sp e r ta r fic a v a fu r io so d e c o n s ta ta r q u e a v ia g e m fo r a a p e n as u m s o n h o .

( O U S M : 3 4 0 )

Assim co mo s eus per so nag en s, Rushd ie sente-se dentr o e fora da sua cu ltura de origem: um oriental qu e vê seu país frag mentad o, e um ociden tal que se inscreve no cânone da cu ltura do Ocidente.

I am co n s cio u s o f sh ifts in my w r itin g . T h e r e w a s a l w a y s a tu g - o f-w a r in me b etw e e n ‘ th er e’ a n d ‘ h e re ’, th e p u ll o f r o o ts a n d o f th e r o a d . In th a t st ru g g l e o f in s id er s a n d o u tsi d e r s, I u se d to fe e l s imu lta n e o s u ly o n b o th s id es . N o w I ’v e c o me d o w n o n th e s id e o f t h o se w h o b y p r e fe r e n c e , n a tu r e o r cir c u ms tan c e s imp ly d o n o t b el o n g . T h is u n b el o n g in g – I th in k o f it a s d iso r ien t a tio n , lo s s o f th e E a st – is my a r ti stic co u n tr y n o w . W h e r e v e r my b o o k s fin d th e ms e lv e s , b y a fa v o u r e d a r mc h air , n e a r a h o t b a th , o n a b e a c h , o r in a la te - n ig h t p o o l o f b e d s id e lig h t: th a t’s my o n ly h o me.

( S A T L , 2 0 0 2 : 2 9 4 )

Salman Ru sh d ie, ao a do tar o id io ma d os seu s an tig os colo n izad o res como modo de expressar sua tradições, conflitos e ambivalências, acaba por proteger se u d iscurso co n tra a id eo lo gia do min an te. Emb ora, inv ariav elmen te, em seu s escrito s h aja a marca d a dissid ên cia e da co n testaç ão, n ão fa lta a ex p ressão d as ricas e abundantes cren ças e práticas das trad ições indianas e islâmicas. O uso d a líng u a d o exco lo niz ado r to rn ase u m in stru men to d e lib ertação e au to -afirmação na me dida em que o re lato de tais experiências nessa língua, de acordo

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co m Ru sh d ie, ex pressa co m maio r in tensid ade e p ro ve ito as div erg ên cias em relação à socie dad e em q ue viv e.

T h o se o f u s w h o d o u s e o f E n g li sh d o s o in sp it e o f o u r a mb ig u it y to w a r d s it , o r p er h a p s b e c a u s e o f th a t, w e c a n fin d in th a t lin g u is tic s tr u g g le a r efle ctio n o f o th e r str u g g le s ta k in g p la c e in th e r e a l w o r ld , s tr u g g les b e tw ee n th e c u ltu r e s w i th in o u r s e lv e s a n d th e in flu e n c e s a t w o r k u p o n o u r s o ci etie s . T o c o n q u e r E n g lish ma y b e to c o mp l e te th e p r o ce ss o f mak in g o u rs elv e s fr e e. ( IH : 1 7 ) .

Os tex tos d e Rush die apresentam a ex p ressão d a d u pl a co ntr ad i ção q ue consiste no uso da língua do antigo colonizador e de sua forma literária por ex celên cia (o ro man ce) p ara ex primir a cultu ra in d ian a. Atrav és d a lín g ua in g lesa, Ru sh die co n seg u e afastar-se criticamen te d o cotid ian o e d e su as trad ições p ara p o der ap reen d ê-lo , já q ue pa ra uma reflexão c rítica e ap rofu n dad a, a d istân cia se faz n ecessária. Como o s d emais auto res d a d iásp o ra, Ru sh d ie n ão aceita o disc urso dominan te quer da an tiga Metrópole, quer das novas fo rças id eo lóg icas p resen tes n a so cied ad e islâmica e /ou in dian a. Kateb Yacin e13, p ro v av elmen te o p rimeiro in telectu al n o rte-african o a esc rev er em fran cês, ap ont ou n o art ig o “Le rô le d ’écrivain d e l’ Etat so cial iste” (1965:179 -180 ) a recu sa de alguns escritores pós-colon iais a se submeterem às estruturas do poder q u e o s mo l d av a.

N a n o ss a tr ad içã o á r a b e , e x ist e m a lg u n s p o e ta s q u e re c u s a r a m a me n s a g e m d o P r o fe t a . A s p e ss o a s a c r e d i ta v a m q u e p o d e r ia m o r g u lh a r -s e , ma-s i-s to n ã o e r a v er d ad e. E r a o in te r e-s -se n a to t al c o n fi an ça , n a p a la v r a p e la p a la v ra e n a r e cu s a e m se r d o me sti ca d o . E x is tia o v e r d a d eir o p o eta. E le e r a alg u é m q u e n ã o p re ten d ia fa z er d a s s u a s p a la v r as a lg o q u e d o ma s se o s h o me n s e q u e o s e n s in a s se a v iv e r , ma s, p e lo co n tr ár io , a l g u ém q u e lh e s tr o u x e s se a lib e r d a d e , a c o n s ta n te e p e r tu r b a d o ra lib er d a d e . E u a c r e d ito q u e a v e r d a d e i r a me n sa g e m d o s p o eta s r es id a aí. N ã o é o fato d e d iz er p ar a as p e ss o as o q u e s e d ev e fa z e r ; é p r e c is o r o mp e r c o m to d a s a s es tr u tu r as q u e fo r am c o n st ru í d as a o se u r e d o r , é a s si m q u e el es d ev em s u st en tar a s fr o n t eir as . 14 13 K a t e b Y a c i n e ( 1 9 2 9 - 1 9 8 9 ) . I n t e l e c t u a l mu ç u l ma n o , n a s c i d o n a A r g é l i a , v i v e u n a F r a n ç a a t é 1 9 4 8 , q u a n d o f o i o b r i g a d o a v o l t a r p a r a a A r g é l i a p o r d e f e n d e r a l e g a l i z a ç ã o d o s mu ç u l ma n o s q u e v i v i a m n a F r a n ç a . 14 N o s s a t r a d u ç ã o .

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