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AGRICULTURA FAMILIAR COMO FORMA DE PRODUÇÃO RURAL PARA ABASTECIMENTO DE GRANDES CENTROS URBANOS

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Academic year: 2021

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AGRICULTURA FAMILIAR COMO FORMA DE PRODUÇÃO RURAL

PARA ABASTECIMENTO DE GRANDES CENTROS URBANOS

Jaqueline Freitas dos Santos

jaquelineufmg_09@hotmail.com

Klécia Gonçalves de Paiva Farias

kleciagp@gmail.com

Geografia – Universidade Federal de Minas Gerais

RESUMO

A pesquisa coloca a esta fase do capitalismo, a dicotomia entre produção rural em latifúndios e a pequena produção agrícola, associada a núcleos familiares. A relação aberta com os movimentos sociais agrícolas e o INCRA, procurando brevemente discutir sua proposta e seu universo de abrangência, tendo sido decidido abarcar o Projeto de Assentamento Pastorinhas no município de Brumadinho, na região Metropolitana de Belo Horizonte. Também, entender como esse processo de produção rural familiar dialoga e se articula com os processos de expansão da ocupação urbana na região metropolitana, como sistema importante de abastecimento para tal.

Palavras-Chave: agricultura, produção rural familiar, assentamento. INTRODUÇÃO

Na contextualização para a questão agrária, compreende-se que o capitalismo é um sistema criador de desigualdades, diferenciação e desenvolvimento (Teubal, 2008). Durante o século XX, e principalmente nos períodos de crescimento do mercado interno, houve um florescimento da agroindústria dentro de um sistema em que as desigualdades são tão eminentes. Mendes (2003) aponta que a família camponesa se caracteriza como autossustentável. A partir do século XII, com a criação da atividade

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comercial na Europa Ocidental, ocorrem modificações com as produções, com as

relações de produção e com a posse da terra. A partir de então, a família agrícola perde força por mostrar uma agricultura inútil ao desenvolvimento industrial, perdendo assim o lugar para as grandes explorações agrícolas.

Nas teorias Marxistas a evolução da agricultura capitalista segue os mesmos caminhos da indústria, principalmente no que diz respeito a seu fim, a lucratividade. Mendes (2003) coloca que vários autores apontam que os processos para desenvolver a agricultura são capitalistas, mas as relações de produção não. A produção agrícola envolve várias relações de trabalho, tais como: trabalho escravo, meação, trabalho familiar, a parceria e o assalariamento, que não foram nem capitalistas e nem feudalistas. No Brasil, a produção agrícola era, em grande parte, para acumular capital para o Centro (Economias dominantes). Para tanto, efetivaram-se os latifúndios que produziam monocultura de produtos de grande valor comercial, enquanto o pequeno produtor assegurava apenas a sua subsistência. A partir do século XIX, com a formação de grandes aglomerações urbanas e industriais, a produção familiar ganha importância, pois é ela que abastece estas aglomerações de gêneros alimentícios frescos, tais como verduras, frutas, flores, aves e ovos.

A despeito de a modernização da agroindústria não chegar ao pequeno produtor e acarretar produtividade em níveis diferenciados, podendo até desestimular a produção rural familiar por conta de uma concorrência desleal com o grande produtor, além de acentuar também, problemas sociais como o êxodo rural. Sabe-se que permaneceram no cenário agrário, comunidades que se firmam na pequena produção agrícola. Este trabalho cita o Assentamento Pastorinhas, localizado em Brumadinho, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte e que persiste com modelo de produção familiar e para abastecimento local e de algumas demandas da capital Belo Horizonte.

OBJETIVOS

Espera-se que este trabalho possa passar pela compreensão da importância da produção rural familiar em face à hegemonia da agroindústria no mercado das grandes cidades. A pesquisa teve como objetivo geral estudar a realidade e a dinâmica da luta pela terra rural e dos projetos de assentamento de reforma agrária da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), aprofundando a compreensão das articulações entre o rural e o urbano e os processos sócio-espaciais resultantes.

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Dentro da sociologia rural, a família aparece como proprietária dos meios de produção

e, ao mesmo tempo, compõe-se força de trabalho no estabelecimento produtivo. O caráter familiar não se trata de mero detalhe, pois, uma estrutura produtiva que alia família-produção-trabalho, afeta a forma como ela age econômica e socialmente. A agricultura familiar contém nela mesma toda a diversidade. Não é o fato de ser pequena, enquanto dimensão territorial e produtiva, que a torna camponesa, e sim as suas relações internas e externas (Carvalho, 2005, p. 32, apud Araújo, 2011).

O campesinato constitui uma forma particular de agricultura familiar e que se desdobra em um modo específico de produzir e viver em sociedade (Araújo, 2011). Dentre suas características está o fato de se apresentar como um sistema de policultura-pequena criação, de possuir um horizonte das gerações (perpetuação das condições existenciais de produção), importante estrutura dos grupos domésticos, uma sociedade de interconhecimento, autonomia relativa das sociedades rurais, sistema econômico de autossuficiência relativa, medição entre sociedade local e sociedade global (Mendras, 1976, apud Araújo, 2011).

A inserção da agricultura familiar no mercado é fundamental, porém desigual, pois se usa poucos recursos tecnológicos e poucos investimentos de capitais, não conseguindo competir com agricultores especializados, visto a superioridade da grande exploração e da empresa rural que cultivam produtos de elevados dispêndio de trabalho. Segundo Mendes (2003), as produções secundárias dos recursos naturais tem sido uma estratégia encontrada pela maioria dos produtores familiar para criar mecanismos de sobrevivência que conduzem com a suas realidades e que valorize os seus recursos, visto que, a agricultura familiar é desamparada de qualquer apoio eficaz de ordem política, jurídica, econômica e de amparo tecnológico, enquanto a agricultura patronal tem sido o único setor a beneficiar-se das políticas estatais.

A região metropolitana de Belo Horizonte tem uma extensão de 8.900 Km2 (ou

890.000 ha) o que representa 1,52% do território de Minas Gerais. Ela abrange 34 municípios, conforme definição reconhecida pelo Governo do Estado de Minas Gerais. A população rural da RMBH, em 2000, era de 110.000 pessoas, 1,89% da população total da região. No seu espaço rural, a RMBH abriga 21.400 imóveis rurais, de acordo com o cadastro do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). São quatro os projetos de assentamento localizados nos limites da RMBH, dois presentes no município de Betim, a Oeste de Belo Horizonte, um em Brumadinho, ao sul da capital e um em Nova União no limite nordestes da região metropolitana, quatro acampamentos com distintas cronologias e características apesar de compartilharem

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os dilemas e as possibilidades colocadas pela proximidade de um grande centro

urbano.

O Projeto de Assentamento Pastorinhas está localizado no município de Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte. O local passou por duas reintegrações de posse até que a criação do Projeto Pastorinhas foi assinada pelo INCRA em 2006, a área que pertencia a um condomínio da Família Menezes estava abandonada e não cumpria sua função social. O terreno possui 156 hectares de área, 142 hectares de Mata Atlântica, 14 hectares que estavam sendo usadas como monocultura do capim, hoje são de hortifrutigranjeiros. Hoje vivem no assentamento 20 famílias não só oriundas de Minas Gerais, mas de outras partes de Brasil também, como Rio de Janeiro e Ceará, o que configura uma grande diversidade cultural. As outras 100 famílias desistiram e abandonaram o projeto. Estas 20 famílias são formadas por trabalhadores rurais que atuavam como diaristas ou meeiros em atividades agrícolas na região.

Figura 1 – Produção Agrícola do Assentamento Pastorinhas – Fonte: Klécia Paiva, 2011.

O processo de produção é coletivo, organizado, dividido por tipo de cultivo e inserido no modelo agroecológico. Agroecologia é “uma nova abordagem que integra os princípios agronômicos, ecológicos e socioeconômicos à compreensão e avaliação do efeito das tecnologias sobre os sistemas agrícolas e a sociedade como um todo” (Altieri, 2004). Possuem parceiros comerciais como prefeituras que adquirem para a merenda escolar, restaurante popular e feiras de hortifruti, tanto na cidade de Brumadinho quanto na região e até na capital mineira revendem seus produtos.

MATERIAL E MÉTODO

Inicialmente a pesquisa traz um levantamento bibliográfico, que tem como função propiciar a base teórica acerca dos conceitos geográficos de espaço urbano e rural, agricultura inserida no mundo capitalista e produção agrícola familiar. Posteriormente,

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é posto como exemplificação um trabalho de campo no Assentamento Pastorinhas em

Brumadinho/MG associado a dados estatísticos que subsidiaram a compreensão de um modelo de produção rural pautado em comunidades em que o núcleo familiar é a principal força de trabalho agrícola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Projeto de Assentamento Pastorinhas é exceção e modelo para a causa da Reforma Agrária no Brasil, uma propriedade bem estruturada, com modelos de produção agroecológicos, inseridos no capitalismo, mas não rendidos à lógica urbana, mantendo as tradições rurais. Há, portanto, uma questão agrário-fundiária que não se resolve nas regiões rurais de origem e que é transferida para as regiões metropolitanas, tomando nova forma. Soma-se a este fato, o indício da existência de inúmeros latifúndios improdutivos, também um espaço a ser disputado pelos “camponeses-urbanos” sem-terra. Além disso, o Assentamento Pastorinhas evidencia o modelo de produção rural familiar e que, mesmo sendo pequeno, tem importância para o abastecimento de hortifruti não apenas para subsistência ou comunidades próximas, mas até para grandes centros urbanos.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Deus pelo dom da vida; a Professora Drª Maria Luiza Grossi pelas aulas de Geografia Agrária e por propiciar experiências em campo para além da geografia; às famílias do Assentamento Pastorinhas pela calorosa acolhida, com oportunidade de conhecer uma vida simples e cheia de solidariedade familiar e comunitária.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a Dinâmica Produtiva da Agricultura Sustentável.4.ed.-Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.

ARAÚJO, Maria Luisa Grossi. Geografia Agrária: Notas de Aula. IGC/UFMG, Belo Horizonte, 2011.

MENDES, Estevane de Paula Pontes. Questões teóricas-metodológicas da produção rural familiar. Sociedade & Natureza. Uberlândia, 2003, p. 113-131.

SILVA, Mazzetto Carlos Eduardo. A Dinâmica dos Projetos de Assentamento de Reforma Agrária na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Disponível em : <http://www.abep.nepo.unicamp.br/encontro2008/docsPDF/ABEP2008_1240.pdf>. Acesso em 13 de Abril de 2014

TEUBAL, Miguel. O campesinato frente à expansão dos agronegócios na América Latina. In : PAULINO, E. T.; FABRINI, J. E. (org). Campesinato e Territórios em disputa. 1ª Ed. São Paulo : Expressão Popular/ UNESP, 2008.

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