Sequˆ
encias exatas e aplica¸
c˜
oes: o
Lema da Cobra
Florian´opolis
Sequˆ
encias exatas e aplica¸
c˜
oes: o
Lema da Cobra
Trabalho de Conclus˜ao de Curso apresentado
ao Curso de Matem´atica do Departamento
de Matem´atica do Centro de Ciˆencias F´ısicas
e Matem´aticas da Universidade Federal de
Santa Catarina para obten¸c˜ao de grau de
Li-cenciado em Matem´atica.
Orientador:
Virg´ınia Silva Rodrigues
Universidade Federal de Santa Catarina
Florian´opolis
Gostaria de agradecer primeiramente `a minha fam´ılia. Presente em todos os momen-tos, sempre demonstrando amor e afeto em cada palavra e em cada gesto. Se eu tivesse que escolher uma fam´ılia novamente, certamente escolheria a nossa. Como diria a Lilo, Ohana quer dizer fam´ılia, fam´ılia quer dizer nunca mais abandonar, ou esquecer.
Tamb´em n˜ao poderia esquecer da minha querida Lind´oia. V´o amada, obrigado por
todos os recados preocupados enviados e por todo o amor emanado. Vocˆe mora no meu
cora¸c˜ao.
`
A minha namorada, obrigado por todo o carinho e paciˆencia dado a mim durante
todos os momentos em que estivemos juntos. `
A professora Virg´ınia que, mesmo sem me conhecer, aceitou me orientar nessa jornada
magn´ıfica. Muito obrigado por todos os conselhos, por todas as corre¸c˜oes, por todos os
chiados e por toda a paciˆencia. Quem dera que todos se dedicassem aos seus trabalhos
como a senhora o faz.
Finalmente, obrigado a todos os meus amigos e amigas que contribu´ıram positiva-mente de alguma forma ao longo desses anos, seja estudando aos finais de semana,
em-prestando modelos de trabalhos e compartilhando resultados de listas de exerc´ıcios ou at´e
O objetivo principal deste trabalho ´e apresentar e demonstrar alguns resultados b´asicos de
teoria de m´odulos. Como aplica¸c˜ao de teoria de m´odulos, estudamos as sequˆencia exatas,
com destaque para o chamado Lema da Cobra.
1 M´odulos p. 8
1.1 Conceitos b´asicos . . . p. 8
1.2 Homomorfismos de A-m´odulos . . . p. 14
1.3 Propriedade universal do n´ucleo e do con´ucleo . . . p. 17
1.4 Teoremas de isomorfismo para m´odulos . . . p. 20
2 Sequˆencias exatas p. 24
2.1 Defini¸c˜oes e resultados b´asicos . . . p. 24
2.2 Algumas aplica¸c˜oes . . . p. 26
3 O Lema da Cobra p. 32
Introdu¸
c˜
ao
Para iniciar estudos mais aprofundados em ´algebra ´e necess´ario que compreendamos
alguns t´opicos n˜ao contemplados ao longo do curso de gradua¸c˜ao em matem´atica
licenci-atura. O tema escolhido para o in´ıcio de tais estudos foi a teoria de m´odulos, que inclui
algumas de suas aplica¸c˜oes como, por exemplo, sequˆencias exatas.
Dentre as suas diversas aplica¸c˜oes, os m´odulos constituem um exemplo de uma
ca-tegoria abeliana, visto que para esses objetos e seus homomorfismos s˜ao satisfeitas uma
s´erie de condi¸c˜oes tais como a existˆencia de n´ucleos e con´ucleos. Categorias abelianas tˆem
bastante importˆancia em ´algebra pela existˆencia de v´arios exemplos “palp´aveis” como a
categoria de grupos abelianos, categoria de espa¸cos vetoriais finito e infinito dimensionais, categorias semissimples, etc.
Dessa forma, no primeiro cap´ıtulo abordamos no¸c˜oes b´asicas de teoria de m´odulos.
Por interm´edio de exemplos e resultados das defini¸c˜oes dadas, objetivamos aqui fornecer
todas as ferramentas necess´arias para a compreens˜ao das sequˆencias exatas, um dos temas
principais desse trabalho. Para a constru¸c˜ao dessa se¸c˜ao utilizamos principalmente a
referˆencia [5]. Por´em, quando necess´ario, usamos [1], [3], [4] e [6].
As sequˆencias exatas possuem aplica¸c˜oes em ´algebra homol´ogica como, por exemplo,
topologia alg´ebrica. Al´em disso, em teoria de categorias, o uso de diagramas comutativos
e dos resultados que o permeiam ´e bastante importante. Por exemplo, o Lema da Cobra,
que ´e o principal resultado desse trabalho, ´e uma aplica¸c˜ao imediata de sequˆencias exatas
(e de diagramas comutativos) e as categorias abelianas satisfazem tal lema.
Sendo assim, no segundo cap´ıtulo tratamos das sequˆencias exatas. Apresentamos
Cobra. As referˆencias utilizadas foram [3], [4] e [5].
No terceiro cap´ıtulo, efetivamente provamos o Lema da Cobra. Para tal prova,
utili-zamos [2]. Este resultado ´e extremamente importante devido ao seu car´ater funcional em
sequˆencias exatas, gerando sequˆencias exatas longas. Al´em disso, damos uma aplica¸c˜ao
deste resultado, retirada de ([1], Lemme 3.7).
A compreens˜ao total do trabalho depende do conhecimento pr´evio sobre teoria de
Cap´ıtulo 1
M´
odulos
A no¸c˜ao de m´odulos sobre um anel ´e uma generaliza¸c˜ao de espa¸cos vetoriais. No
caso de espa¸cos vetoriais, temos um corpo K agindo sobre um conjunto V , que restrito `
a opera¸c˜ao soma ´e um grupo abeliano. Agora, temos um anel A agindo sobre um grupo
abeliano M .
1.1
Conceitos b´
asicos
Defini¸c˜ao 1.1. Seja A um anel. Um grupo aditivo abeliano M ´e um m´odulo `a esquerda
sobre A, ou simplesmente um A-m´odulo `a esquerda, se est´a definida uma opera¸c˜ao produto
ou multiplica¸c˜ao que, a cada par (a, m) ∈ A × M , associa um elemento am ∈ M tal que,
para quaisquer a1, a2 ∈ A e m1, m2 ∈ M , s˜ao verificados os seguintes axiomas:
(i) a1(a2m1) = (a1a2)m1;
(ii) a1(m1+ m2) = a1m1+ a1m2;
(iii) (a1+ a2)m1 = a1m1+ a2m1.
Analogamente, ´e definido um A-m´odulo `a direita, considerando a multiplica¸c˜ao `a
di-reita pelos elementos do anel. Por´em, sempre que aqui nos referirmos a um A-m´odulo,
entende-se A-m´odulo `a esquerda.
Se o anel A possui unidade e 1Am = m, ∀m ∈ M , M diz-se um A-m´odulo unital.
Quando nada for dito ao contr´ario, os an´eis considerados nesse trabalho n˜ao s˜ao
nessari-amente comutativos e possuem unidade. Os m´odulos sobre tais an´eis ser˜ao unitais.
`
a direita e reciprocamente, definido am = ma, para quaisquer a ∈ A e quaisquer m ∈ M . ´
E importante salientar que existem m´odulos que n˜ao s˜ao unitais, mesmo que o anel
A possua unidade. Para ilustrar tal situa¸c˜ao, damos um exemplo a seguir.
Exemplo 1.2. O fato do anel A possuir unidade n˜ao garante que um m´odulo M sobre A
seja unital. Consideremos M = Z2 = Z × Z e A = Z. Definimos, para quaisquer z ∈ Z e
(x, y) ∈ Z2, z(x, y) = (zx, 0). A soma ´e a usual, isto ´e, (x1, y1)+(x2, y2) = (x1+x2, y1+y2).
Afirmamos que Z2 ´e um Z-m´odulo que n˜ao ´e unital. De fato, para quisquer z
1, z2 ∈ Z
e para quaisquer (x1, y1), (x2, y2) ∈ Z2, os axiomas (i), (ii) e (iii) s˜ao verificados.
(i) z1(z2(x1, y1)) = z1(z2x1, 0) = (z1(z2x1), 0) = ((z1z2)x1, 0) = z1z2(x1, y1).
(ii) z1((x1, y1) + (x2, y2)) = z1(x1 + x2, y1 + y2) = (z1(x1 + x2), 0) = (z1x1+ z1x2, 0) =
(z1x1, 0) + (z1x2, 0) = z1(x1, y1) + z1(x2, y2).
(iii) (z1 + z2)(x1, y1) = ((z1 + z2)x1, 0) = (z1x1 + z2x1, 0) = (z1x1, 0) + (z2x1, 0) =
z1(x1, y1) + z2(x1, y1).
Notemos que 1A(x, y) = (x, y) n˜ao ocorre para qualquer (x, y) ∈ Z2. Por exemplo,
1(2, 1) = (2, 0) 6= (2, 1).
Exemplo 1.3. Seja n ∈ Z, n ≥ 2. Ent˜ao Zn ´e um Z-m´odulo definindo o produto como
ag = a · g, para todo a ∈ Z e para todo g ∈ Zn.
Exemplo 1.4. Todo grupo abeliano G ´e um Z-m´odulo definindo o produto de um inteiro
n ∈ Z por g ∈ G da seguinte maneira:
ng = g + · · · + g (n vezes ), se n > 0; (−g) + · · · + (−g) (−n vezes ), se n < 0; 0G, se n = 0.
Exemplo 1.5. Seja I um ideal `a esquerda de um anel A. Ent˜ao I ´e um A-m´odulo,
definindo a multiplica¸c˜ao como a multiplica¸c˜ao do anel A. Neste caso, para cada a ∈ A e
cada b ∈ I, temos ab ∈ I.
Os axiomas (i), (ii) e (iii) s˜ao verificados defido `a associatividade e a distributividade,
tanto `a esquerda quanto `a direita, presentes na defini¸c˜ao de um anel. Al´em disso, 1Ax =
x1A = x, ∀x ∈ A.
Exemplo 1.6. Seja A um anel. Ent˜ao A ´e um A-m´odulo `a direita e `a esquerda. Esse
No exemplo anterior, h´a a necessidade de diferenciar o anel A do m´odulo A. Assim, quando nos referirmos apenas ao anel, utilizaremos o s´ımbolo A e quando nos referirmos
ao A-m´odulo A, utilizaremos o s´ımbolo AA (analogamente, podemos usar o s´ımbolo AA
para definir um A-m´odulo `a direita).
No pr´oximo exemplo, ´e considerado o anel dos endomorfismos de um grupo abeliano
G, End(G) = {f : G → G : f ´e um endomorfismo}, em que as opera¸c˜oes s˜ao dadas da
seguinte forma: (f + g)(x) = f (x) + g(x) e (f ◦ g)(x) = f (g(x)), ∀x ∈ G.
Exemplo 1.7. Seja G um grupo abeliano. Ent˜ao G ´e um End(G)-m´odulo `a esquerda,
definindo f · x = f (x), para quaisquer f ∈ End(G) e x ∈ G.
De fato, para quaisquer f1, f2 ∈ End(G) e quaisquer x, y ∈ G, s˜ao verificadas:
(i) f1· (f2· x) = f1(f2(x)) = (f1◦ f2)(x) = (f1◦ f2) · x;
(ii) f1· (x + y) = f1(x + y) = f1(x) + f1(y) = f1· x + f1· y;
(iii) (f1+ f2) · x = (f1+ f2)(x) = f1(x) + f2(x) = f1· x + f2· x.
Al´em disso, IdG· x = IdG(x) = x, em que IdG : G → G ´e a identidade, ou seja, G ´e
um End(G)-m´odulo unital.
Agora provamos algumas propriedades b´asicas de um A-m´odulo.
Proposi¸c˜ao 1.8. Seja M um A-m´odulo. Ent˜ao, para quaisquer a ∈ A e quaisquer
m ∈ M , s˜ao v´alidas:
(i) 0Am = 0M.
(ii) a0M = 0M.
(iii) (−a)m = a(−m) = −(am).
Demonstra¸c˜ao. Sejam a ∈ A e m ∈ M .
(i) Como 0Am = (0A+ 0A)m = 0Am + 0Am e 0Am − 0Am = 0M, segue que 0Am = 0M.
(ii) Como a0M = a(0M+0M) = a0M+a0M e a0M−a0M = 0M, conclu´ımos que a0M = 0M.
(iii) Como am + (−a)m = (a − a)m = 0Am = 0M temos, pela unicidade do sim´etrico, que
(−a)m = −(am). Analogamente, −(am) = a(−m).
O objetivo da pr´oxima proposi¸c˜ao ´e fornecer uma condi¸c˜ao necess´aria e suficiente para
que um A-m´odulo seja um A/I-m´odulo, para algum ideal I de A.
Proposi¸c˜ao 1.9. Sejam I um ideal do anel A e M um A-m´odulo. Definimos IM :=
{am : a ∈ I, m ∈ M }. Ent˜ao a multiplica¸c˜ao
A/I × M → M
est´a bem definida se, e somente se, IM = {0M}. Neste caso, M ´e um A/I-m´odulo.
Demonstra¸c˜ao. Suponhamos que a multiplica¸c˜ao em quest˜ao esteja bem definida.
Pre-cisamos mostrar que IM = {0M}. Como 0A ∈ I, temos que 0Am = 0M ∈ IM . Logo,
{0M} ⊂ IM .
Resta-nos mostrar que IM ⊂ {0M}. Seja y ∈ IM . Ent˜ao existem x ∈ I e m ∈ M
tais que y = xm. Como x + I = 0A+ I e a multiplica¸c˜ao est´a bem definida, temos
que y = xm = (x + I)m = (0A + I)m = 0Am = 0M. Portanto, IM ⊂ {0M}. Logo,
IM = {0M}.
Suponhamos agora que IM = {0M}. Precisamos mostrar que a multiplica¸c˜ao em
quest˜ao est´a bem definida. Sejam a + I, b + I ∈ A/I tais que a + I = b + I. Da´ı, a − b ∈ I
e, como IM = {0M}, temos que (a − b)m = 0M, ∀m ∈ M , ou seja, am = bm. Logo,
(a + I)m = am = bm = (b + I)m. Portanto, a multiplica¸c˜ao est´a bem definida.
Finalmente, mostremos que com a opera¸c˜ao assim definida, M ´e um A/I-m´odulo.
Sejam a + I, b + I ∈ A/I e m, n ∈ M . Ent˜ao
(i) (a + I)((b + I)m) = (a + I)(bm) = a(bm) = (ab)m = (ab + I)m = ((a + I)(b + I))m. (ii) (a + I)(m + n) = a(m + n) = am + an = (a + I)m + (a + I)n.
(iii) ((a + I) + (b + I))m = ((a + b) + I)m = (a + b)m = am + bm = (a + I)m + (b + I)m.
Al´em disso, (1A+ I)m = 1Am = m, ∀m ∈ M .
Nosso pr´oximo objetivo ´e escrevermos a defini¸c˜ao de um subm´odulo. Para isso,
recor-damos a defini¸c˜ao de um subgrupo de um grupo G. Consideramos tal grupo aditivo.
Defini¸c˜ao 1.10. Sejam G um grupo e H um subconjunto de G. Diz-se que H ´e um
subgrupo de G se s˜ao satisfeitas as seguintes condi¸c˜oes:
(i) 0G∈ H;
(ii) Para quaisquer x, y ∈ H, x + y ∈ H; (iii) Para qualquer x ∈ H, −x ∈ H.
Defini¸c˜ao 1.11. Seja M um A-m´odulo. Um subconjunto N ⊂ M ´e chamado A-subm´odulo
de M, ou simplesmente subm´odulo, se
(i) N ´e um subgrupo aditivo de M ;
(ii) N ´e fechado em rela¸c˜ao `a opera¸c˜ao multiplica¸c˜ao, isto ´e,
∀a ∈ A e ∀n ∈ N , tem-se que an ∈ N .
Proposi¸c˜ao 1.12. Seja M um A-m´odulo. Ent˜ao um subconjunto n˜ao vazio N de M ´e
um subm´odulo de M se, e somente se, as seguintes condi¸c˜oes s˜ao satisfeitas
(i)’ ∀n1, n2 ∈ N , tem-se n1+ n2 ∈ N ;
(ii)’ ∀a ∈ A, ∀n ∈ N , tem-se que an ∈ N .
Demonstra¸c˜ao. Suponhamos que N seja um subm´odulo de M . Assim, as condi¸c˜oes (i)’ e
(ii)’ acima s˜ao satisfeitas.
Suponhamos agora que (i)’ e (ii)’ s˜ao satisfeitas. Logo, falta mostrar que N ´e um
subgrupo de M . Como N n˜ao ´e vazio, existe n0 ∈ N e, por (ii)’, (−1)n0 = −n0 ∈ N .
Assim, n0 + (−n0) = 0M ∈ N , devido a (i)’. Al´em disso, por (ii)’, para todo n ∈ N ,
(−1)n = −n ∈ N . Logo, N ´e um subgrupo aditivo de M .
Exemplo 1.13. Seja A um anel. Os A-subm´odulos de AA s˜ao os seus ideais `a esquerda.
Analogamente, os A-subm´odulos de AA s˜ao os seus ideais `a direita.
A verifica¸c˜ao ´e trivial, basta comparar as defini¸c˜oes de ideias `a direita e `a esquerda
com a defini¸c˜ao de subm´odulo.
Defini¸c˜ao 1.14. Sejam M um A-m´odulo. O conjunto
AnA(m) := {a ∈ A : am = 0M, ∀m ∈ M }
´e chamado anulador em A de m.
Proposi¸c˜ao 1.15. O conjunto definido acima ´e um subm´odulo `a esquerda de A.
Demonstra¸c˜ao. Notemos que AnA(m) 6= ∅, pois 0Am = 0M, ∀m ∈ M . Sejam x, y ∈
AnA(m). Ent˜ao (x + y)m = xm + xy = 0M e portanto, x + y ∈ AnA(m). Tamb´em,
(ax)m = a(xm) = a0M = 0M, ∀a ∈ A, concluindo que ax ∈ AnA(m). Logo, AnA(m)
´e um ideal `a esquerda de A e, devido ao Exemplo 1.13, conclu´ımos que AnA(m) ´e um
subm´odulo de A.
Exemplo 1.16. Se N1 e N2 s˜ao subm´odulos de um A-m´odulo M , ent˜ao o conjunto
N1+ N2 = {n1+ n2 : n1 ∈ N1, n2 ∈ N2} tamb´em ´e um subm´odulo de M .
De fato, 0M ∈ N1 + N2, pois 0M = 0M + 0M ∈ N1 + N2, ou seja, N1 + N2 6= ∅.
Dados x, y ∈ N1 + N2, existem n1, m1 ∈ N1 e n2, m2 ∈ N2, tais que x = n1 + n2
e y = m1 + m2. Como x + y = (n1 + n2) + (m1 + m2) = (n1 + m1) + (n2 + m2),
temos que x + y ∈ N1+ N2, visto que (n1 + m1) ∈ N1 e (n2 + m2) ∈ N2. Al´em disso,
ax = a(n1 + n2) = an1 + an2 ∈ N1 + N2, ∀a ∈ A. Portanto, pela Proposi¸c˜ao 1.12,
Exemplo 1.17. Seja M um A-m´odulo e {Ni}i∈I uma fam´ılia de subm´odulos de M . Ent˜ao
T
i∈INi ´e um subm´odulo de M.
Realmente, T
i∈INi 6= ∅ pois como 0M ∈ Ni, ∀i ∈ I, temos 0M ∈
T
i∈INi. Sejam
x, y ∈ T
i∈INi. Ent˜ao x, y ∈ Ni,∀i ∈ I, ou seja, x + y ∈ Ni, ∀i ∈ I, visto que Ni ´e um
subm´odulo de M , para todo i ∈ I. Portanto, x + y ∈T
i∈INi.
Seja a ∈ A. Como x ∈ Ni, ∀i ∈ i, temos que ax ∈ Ni, ∀i ∈ I. Logo, ax ∈
T
i∈INi.
Assim, T
i∈INi ´e um subm´odulo de M .
Exemplo 1.18. Seja S um subconjunto n˜ao vazio de um A-m´odulo M . Ent˜ao o conjunto
(S) = {Pn
i=1aisi : 1 ≤ n ∈ N, ai ∈ A, si ∈ S}
´e um subm´odulo de M .
De fato, (S) 6= ∅ visto que S ⊂ (S), pois s = 1As ∈ (S). Al´em disso, como S 6= ∅,
existe s ∈ S e 0As = 0M ∈ (S). Tamb´em, se x, y ∈ (S), existem ai, bj ∈ A e si, pj ∈ S
tais que x =Pn
i=1aisi, para algum 1 ≤ n ∈ N, e y =
Pm
j=1bjpj, para algum 1 ≤ m ∈ N.
Ent˜ao, assumindo sem perda de generalidade que m ≥ n, temos que
x + y =Pn
i=1aisi+
Pm
j=1bjpj = a1s1+ · · · + ansn+ b1p1 + · · · + bmpm.
Chamando, para cada j ∈ {1, 2, 3, · · · , m}, bj = an+j e pj = sn+j, conclu´ımos que
x + y =Pn+m
k=1 aksk.
Portanto, x + y ∈ (S). Finalmente, ∀a ∈ A, temos que
ax = aPn i=1aisi = Pn i=1a(aisi) = Pn i=1(aai)si ∈ (S).
Dessa forma, (S) ´e um subm´odulo de M .
O subm´odulo (S) definido neste exemplo chama-se subm´odulo gerado por S.
Defini¸c˜ao 1.19. Sejam M um A-m´odulo e S = {m} ⊂ M . Ent˜ao (S) = {am : a ∈ A} =
Am ´e chamado subm´odulo c´ıclico de M . Se M = (S) ent˜ao M ´e dito um m´odulo c´ıclico.
Exemplo 1.20. Seja A um anel. Ent˜ao A ´e um A-m´odulo c´ıclico, visto que A = A1A=
{a1A; a ∈ A}.
Exemplo 1.21. nZ = Zn = {zn : z ∈ Z} ´e um subm´odulo c´ıclico do Z-m´odulo Z, para qualquer n ∈ N.
Defini¸c˜ao 1.22. Um m´odulo M diz-se simples, se M n˜ao ´e o m´odulo nulo e seus ´unicos
subm´odulos s˜ao {0M} e M .
Demonstra¸c˜ao. Seja M um A-m´odulo simples. Por defini¸c˜ao, M 6= {0M}. Assim, existe
0 6= m ∈ M e portanto, Am ´e um subm´odulo n˜ao-nulo de M . Logo, M = Am e M ´e
c´ıclico.
O pr´oximo resultado define a estrutura quociente para m´odulos.
Proposi¸c˜ao 1.24. Seja M um A-m´odulo e N um subm´odulo de M . A opera¸c˜ao
multi-plica¸c˜ao definida por
A × M/N → M/N
(a, m + N ) 7→ a(m + N ) := am + N ,
torna o quociente M/N um A-m´odulo.
De fato, note que a multiplica¸c˜ao dada acima est´a bem definida pois, dados m1 +
N, m2+ N ∈ M/N , tais que m1+ N = m2+ N , temos que m1 − m2 ∈ N . Da´ı, como N
´e um subm´odulo de M , conclu´ımos que a(m1− m2) = am1− am2 ∈ N, ∀a ∈ A, ou seja,
am1+ N = am2+ N .
Com a multiplica¸c˜ao bem definida, mostremos que M/N ´e um A-m´odulo. Sejam
n1+ N, n2+ N ∈ M/N e a1, a2 ∈ A. Assim, se verificam os seguintes axiomas:
(i) a1(a2(n1+ N )) = a1(a2n1+ N ) = a1(a2n1) + N = (a1a2)n1+ N = (a1a2)(n1+ N );
(ii) a1((n1+ N ) + (n2+ N )) = a1((n1+ n2) + N ) = a1(n1+ n2) + N = (a1n1+ a1n2) + N =
(a1n1+ N ) + (a1n2+ N ) = a1(n1+ N ) + a1(n2+ N );
(iii) (a1+ a2)(n1+ N ) = (a1+ a2)n1+ N = (a1n1+ a2n1) + N = (a1n1+ N ) + (a2n1+ N ) =
a1(n1+ N ) + a2(n1+ N ).
Al´em disso, como 1A(n1+ N ) = 1An1 + N = n1+ N , o A-m´odulo M/N ´e unital.
Defini¸c˜ao 1.25. O A-m´odulo M/N definido na proposi¸c˜ao anterior ´e chamado m´odulo
quociente do m´odulo M pelo subm´odulo N .
Exemplo 1.26. Sejam M um A-m´odulo e N, P subm´odulos de M tais que N ⊂ P . Ent˜ao
P/N ´e um subm´odulo de M/N .
De fato, ´e claro que P/N ⊂ M/N e que 0M+N ∈ P/N , ou seja, P/N ´e um subconjunto
n˜ao vazio de M/N . Al´em disso, para quaisquer p1 + N, p2 + N ∈ P/N , temos que
(p1+ N ) + (p2+ N ) = (p1+ p2) + N ∈ P/N e a(p1+ N ) = ap1+ N ∈ P/N , ∀a ∈ A.
1.2
Homomorfismos de A-m´
odulos
Estamos interessados em estudar fun¸c˜oes entre A-m´odulos, particularmente aquelas
Defini¸c˜ao 1.27. Sejam M e N A-m´odulos. Uma fun¸c˜ao f : M → N ´e chamada
homo-morfismo de A-m´odulos, ou apenas A-homomorfismo se, para quaisquer m1, m2 ∈ M e
a ∈ A, s˜ao verificadas as seguintes condi¸c˜oes:
(i) f (m1+ m2) = f (m1) + f (m2);
(ii) f (am1) = af (m1).
Agora provamos algumas propriedades b´asicas de A-homomorfismos.
Proposi¸c˜ao 1.28. Seja f : M → N um A-homomorfismos. Ent˜ao s˜ao v´alidas as
seguin-tes propriedades:
(i) f (0M) = 0N.
(ii) f (−m) = −f (m), ∀m ∈ M .
(iii) Seja g : N → P um A-homomorfismo. Ent˜ao g ◦f : M → P ´e um A-homomorfismo.
(iv) Se B ´e um subm´odulo de M , ent˜ao f : B → N ´e um A-homomorfismo, isto ´e, f |B
´
e um A-homomorfismo.
Demonstra¸c˜ao. (i) Como f (0M) = f (0M + 0M) = f (0M) + f (0M), segue que f (0M) −
f (0M) = f (0M) + f (0M) − f (0M), ou seja, 0N = f (0M) + 0N. Logo, 0N = f (0M).
(ii) Seja m ∈ M . Ent˜ao f (m) + f (−m) = f (m + (−m)) = f (0M) = 0N. Portanto,
f (−m) = −f (m).
(iii) Sejam m, n ∈ M e a ∈ A. Ent˜ao
(g ◦ f )(m + n) = g(f (m + n)) = g(f (m) + f (n)) = g(f (m)) + g(f (n)) = (g ◦ f )(m) + (g ◦ f )(n).
Tamb´em, (g ◦ f )(am) = g(f (am)) = g(a(f (m)) = ag(f (m)) = a(g ◦ f )(m).
(iv) Sejam m, n ∈ B ⊂ M . Ent˜ao = f (m + n) = f (m) + f (n) e af (m) = f (am),
∀a ∈ A.
Exemplo 1.29. A fun¸c˜ao f : M → N definida por f (m) = 0N, ∀m ∈ M , ´e um
A-homomorfismo chamado A-homomorfismo nulo.
Exemplo 1.30. Seja N um subm´odulo de um A-m´odulo M . Ent˜ao a fun¸c˜ao inclus˜ao
canˆonica, definida por
ı : N ,→ M
x 7→ x
Observa¸c˜ao 1.31. Notemos que a fun¸c˜ao identidade IdM : M → M ´e um caso particular
do exemplo anterior. Sendo assim, ´e um A-homomorfismo.
Exemplo 1.32. Seja N um subm´odulo de um A-m´odulo M . Ent˜ao a fun¸c˜ao proje¸c˜ao
canˆonica, definida por
π : M → M/N
m 7→ m + N
´e um A-homomorfismo.
Para cada A-homomorfismo f : M → N , existem subm´odulos importantes de M e
N , chamadados de n´ucleo de f e imagem de f , respectivamente.
Defini¸c˜ao 1.33. Seja f : M → N um A-homomorfismo. Chama-se Imagem de f e
N´ucleo de f , respectivamente, os conjuntos
Im(f ) = {f (m) : m ∈ M } e Ker(f ) = {m ∈ M : f (m) = 0N}.
A nota¸c˜ao Ker(f ) utilizada acima vem do inglˆes kernel de f , que significa n´ucleo.
Proposi¸c˜ao 1.34. Seja f : M → N um A-homomorfismo. Ent˜ao Im(f ) e Ker(f ) s˜ao
subm´odulos de N e M , respectivamente.
Demonstra¸c˜ao. Notemos que Im(f ) 6= ∅ pois 0N = f (0M) ∈ Im(f ). Sejam n1, n2 ∈
Im(f ). Ent˜ao, existem m1, m2 ∈ M tais que f (m1) = n1 e f (m2) = n2. Portanto,
n1 + n2 = f (m1) + f (m2) = f (m1+ m2) ∈ Im(f ). Al´em disso, para todo a ∈ A temos
an1 = af (m1) = f (am1) ∈ Im(f ). Portanto, Im(f ) ´e um subm´odulo de N .
Agora mostremos que Ker(f ) ´e um subm´odulo de M . Notemos que Ker(f ) 6= ∅ pois
0M ∈ Ker(f ), uma vez que f (0M) = 0N. Sejam m1, m1 ∈ Ker(f ). Assim, f (m1+ m2) =
f (m1) + f (m2) = 0M + 0M = 0M e portanto, m1 + m2 ∈ Ker(f ). Tamb´em, como para
todo a ∈ A, f (am1) = af (m1) = a0N = 0N, temos que am1 ∈ Ker(f ). Portanto, Ker(f )
´e um subm´odulo de M .
Defini¸c˜ao 1.35. Um A-homomorfismo f : M → N injetor diz-se um A-monomorfismo.
Exemplo 1.36. O inclus˜ao canˆonica definida no Exemplo 1.30 ´e um A-monomorfismo.
Proposi¸c˜ao 1.37. f : M → N ´e um A-monomorfismo se, e somente se, Ker(f ) = {0M}.
Demonstra¸c˜ao. Sejam f : M → N um A-monomorfismo e a ∈ Ker(f ). Ent˜ao, como
f (a) = 0N = f (0M) e como f ´e injetora, temos que a = 0M e portanto, Ker(f ) = {0M}.
Seja f : M → N um A-homomorfismo tal que Ker(f ) = {0M}. Assim, dados
m, n ∈ M , tais que f (m) = f (n), temos que f (m) − f (n) = 0N e portanto f (m − n) = 0N.
Da´ı, m − n ∈ Ker(f ). Logo, m − n = 0M, ou seja, m = n. Portanto, f ´e um
Defini¸c˜ao 1.38. Um A-homomorfismo f : M → N sobrejetor diz-se um A-epimorfismo.
Exemplo 1.39. A proje¸c˜ao canˆonica definida no Exemplo 1.32 ´e um A-epimorfismo.
Destacamos tamb´em que, neste caso, Ker(π) = N .
Defini¸c˜ao 1.40. Um A-homomorfismo f : M → N diz-se um A-isomorfismo se f ´e,
simultaneamente, um A-monomorfismo e um A-epimorfismo.
Quando existe um A-isomorfismo f : M → N , M ´e dito isomorfo a N e escrevemos
M ∼= N .
Exemplo 1.41. A fun¸c˜ao identidade IdM : M → M ´e um A-isomorfismo.
Proposi¸c˜ao 1.42. Sejam M um A-m´odulo simples e f : M → N um A-isomorfismo.
Ent˜ao N ´e simples.
Demonstra¸c˜ao. Notemos que Ker(f ) = {0M} pois, caso contr´ario, como M ´e simples,
Ker(f ) = M , ou seja, f seria o A-homomorfismo nulo e N = {0N} e da´ı j´a n˜ao seria
simples.
Seja N0 um subm´odulo de N . Ent˜ao n˜ao ´e dif´ıcil ver que f−1(N0) = {m ∈ M :
f (m) ∈ N0} ´e um subm´odulo de M . Como M ´e simples, segue que f−1(N0) = {0M}
ou f−1(N0) = M . Da´ı, como f ´e um A-epimorfismo, segue que f (f−1(N0)) = {0N} ou
f (f−1(N0)) = N , ou seja, N0 = {0N} ou N0 = N . Logo, N ´e simples.
1.3
Propriedade universal do n´
ucleo e do con´
ucleo
Sejam f : M → N um A-homomorfismo e ı : Ker(f ) → M a inclus˜ao canˆonica.
Claramente, f ◦ ı = 0, visto que ∀x ∈ Ker(f ), (f ◦ ı)(x) = f (ı(x)) = f (x) = 0.
A proposi¸c˜ao a seguir ´e conhecida como a propriedade universal do n´ucleo.
Proposi¸c˜ao 1.43. Com a nota¸c˜ao acima, sejam M0 um A-m´odulo e k : M0 → M um
A-homomorfismo tal que f ◦ k = 0. Ent˜ao existe um ´unico A-homomorfismo k0 : M0 →
Ker(f ) tal que ı ◦ k0 = k.
Demonstra¸c˜ao. O diagrama abaixo ilustra essa situa¸c˜ao
Ker(f ) ı //M f //N M0. k OO k0 dd
Definimos k0 : M0 → Ker(f ) tal que k0(m) = k(m), ∀m ∈ M0. Claramente, k(m) ∈
Ker(f ), pois f (k(m)) = (f ◦ k)(m) = 0. Al´em disso, k0 ´e um A-homomorfismo, pois k o
´e.
Por outro lado, devido `a defini¸c˜ao de k0, ı ◦ k0 = k, visto que (ı ◦ k0)(m) = ı(k0(m)) =
ı(k(m)) = k(m), ∀m ∈ M0.
Finalmente, mostremos que k0 ´e ´unica. Suponhamos que exista um A-homomorfismo
h : M0 → Ker(f ) tal que ı ◦ h = k. Neste caso ter´ıamos que ı ◦ k0 = ı ◦ h e portanto,
k0 = h, pois k0(m) = ı(k0(m)) = ı(k(m)) = h(m), ∀m ∈ M0.
Como consequˆencia desta propriedade, mostramos abaixo que o n´ucleo de um
A-homomorfismo ´e ´unico, salvo isomorfismos. Seja f : M → N um A-homomorfismo.
Proposi¸c˜ao 1.44. Seja σ : L → M um A-homomorfismo tal que f ◦ σ = 0. Se existe,
para quaisquer A-m´odulo M0 e A-homomorfismo k : M0 → M tal que f ◦ k = 0, um ´unico
A-homomorfismo k00 : M0 → L tal que k = σ ◦ k00, ent˜ao L ´e isomorfo a Ker(f ).
Demonstra¸c˜ao. A situa¸c˜ao acima ´e ilustrada pelo diagrama
L σ //M f //N M0. k OO k00 aa
Por hip´otese, existe um ´unico A-homomorfismo g : Ker(f ) → L e, pela Proposi¸c˜ao
1.43, existe um ´unico A-homomorfismo g0 : L → Ker(f ) tais que ı = σ ◦ g e σ = ı ◦ g0,
respectivamente. Podemos ilustrar tal situa¸c˜ao com os seguintes diagramas:
L σ //M f //N e Ker(f ) ı //M f //N Ker(f ) ı OO g bb L. σ OO g0 cc
Temos que σ = σ ◦ (g ◦ g0) e ı = ı ◦ (g0 ◦ g) e portanto g ◦ g0 e g0 ◦ g satisfazem os
diagramas. L σ //M f //N e Ker(f ) ı //M f //N L σ OO g◦g0 ^^ Ker(f ) ı OO g0◦g ee
Naturalmente, IdL e IdKer(f ) tamb´em satisfazem σ = σ ◦ IdL e ı = ı ◦ IdKer(f ). Logo,
como por hip´ose g ◦ g0 : L → L ´e ´unico e, pela Preoposi¸c˜ao 1.43, g ◦ g0 = IdL tamb´em ´e
´
Seja f : M → N um A-homomorfismo. Chamamos de con´ucleo de f e notamos
por Coker(f ) = N/Im(f ). Seja π : N → Coker(f ) a proje¸c˜ao canˆonica. Claramente,
π ◦ f = 0, visto que ∀m ∈ M temos (π ◦ f )(m) = π(f (m)) = f (m) + Im(f ) = 0 + Im(f ).
A proposi¸c˜ao a seguir ´e chamada propriedade universal do con´ucleo.
Proposi¸c˜ao 1.45. Com a nota¸cao acima, sejam N0 um A-m´odulo e g : N → N0 um
A-homomorfismo tal que g◦f = 0. Ent˜ao existe um ´unico A-homomorfismo g0 : Coker(f ) →
N0 tal que g0 ◦ π = g.
Demonstra¸c˜ao. O diagrama abaixo ilustra esta situa¸c˜ao:
M f //N π // g Coker(f ) g0 yy N0.
Definimos g0 : Coker(f ) → N0 por g0(n + Im(f )) = g(n). Mostremos que g0 est´a bem
definida. Sejam n1 + Im(f ), n2+ Im(f ) ∈ Coker(f ) tais que n1+ Im(f ) = n2+ Im(f ).
Ent˜ao, como n1 − n2 ∈ Im(f ), existe m ∈ M tal que f (m) = n1 − n2. Assim, 0 =
(g ◦ f )(m) = g(f (m)) = g(n1 − n2) = g(n1) − g(n2), ou seja, g(n1) = g(n2). Portanto,
g(n1+ Im(f )) = g(n2+ Im(f )).
Mostremos que g0 ´e um A-homomorfismo. Sejam n1+ Im(f ), n2+ Im(f ) ∈ Coker(f )
e a ∈ A. Ent˜ao ag0(n1+Im(f )) = ag(n1) = g(an1) = g0(an1+Im(f )) = g0(a(n1+Im(f )))
e g0((n1+ Im(f )) + (n2+ Im(f ))) = g0((n1+ n2) + Im(f )) = g(n1+ n2) = g(n1) + g(n2) =
g0(n1+ Im(f )) + g0(n2+ Im(f )).
Notemos que, de fato, para todo n ∈ N , (g0◦π)(n) = g0(π(n)) = g0(n+Im(f )) = g(n),
ou seja, g0◦ π = g.
Finalmente, mostremos que g0 ´e ´unica. Suponhamos que exista um A-homomorfismo
h : Coker(f ) → N0 tal que h ◦ π = g. Neste caso, ter´ıamos que g0◦ π = h ◦ π e portanto,
g0 = h, pois g0(n+Im(f )) = g0(π(n)) = (g0◦π)(n) = (h◦π)(n) = h(π(n)) = h(n+Im(f )),
∀n ∈ N .
A seguir, mostraremos que o con´ucleo de um A-homomorfismo ´e ´unico, salvo
isomor-fismos. Seja f : M → N um A-homomorfismo.
Proposi¸c˜ao 1.46. Seja λ : N → P um A-homomorfismo tal que λ ◦ f = 0. Se, para
quaisquer A-m´odulo N0 e A-homomorfismo g : N → N0 tal que g ◦ f = 0, existe um ´unico
Demonstra¸c˜ao. O diagrama abaixo expressa a situa¸c˜ao acima: M f //N λ // g P g00 }} N0.
Por hip´otese, existe um ´unico A-homomorfismo h0 : P → Coker(f ) e, pela Proposi¸c˜ao
1.45, exite um ´unico A-homomorfismo h : Coker(f ) → P tais que h0◦ λ = j e h ◦ π = λ.
Podemos ilustrar tal situa¸c˜ao com os diagramas abaixo:
M f //N λ // π P h0 zz e M f //N π // λ Coker(f ) h zz Coker(f ) P.
Temos λ = (h ◦ h0) ◦ λ e π = (h0 ◦ h) ◦ π e portanto, h ◦ h0 e h0 ◦ h satisfazem os
diagramas. M f //N λ // λ P h◦h0 e M f //N π // π Coker(f ) h0◦h ww P Coker(f ).
Naturalmente, IdP e IdCoker(f ) tamb´em satisfazem λ = IdP ◦ λ e π = IdCoker(f )◦ π.
Logo, como por hip´otese h◦h0 : P → P ´e ´unico e, pela Proposi¸c˜ao 1.45, h0◦h : Coker(f ) →
Coker(f ) tamb´em ´e ´unico, segue que h ◦ h0 = IdP e h0 ◦ h = IdCoker(f ). Portanto, P ´e
isomorfo a Coker(f ).
1.4
Teoremas de isomorfismo para m´
odulos
O objetivo desta se¸c˜ao ´e provar os teoremas cl´assicos de isomorfismos para m´odulos.
Demonstra¸c˜oes similares s˜ao feitas em teoria de an´eis e grupos.
Teorema 1.47 (Primeiro Teorema do Isomorfismo ou Teorema do Homomorfismo).
Se-jam M e N A-m´odulos e f : M → N um A-homomorfismo. Ent˜ao M/Ker(f ) ∼= Im(f ).
Demonstra¸c˜ao. Sejam ı : Im(f ) → N a inclus˜ao canˆonica e π : M → M/Ker(f ) a
esbo¸cada pelo enuncionado: M f // π NOO ı M/Ker(f ) f ∗ //Im(f ).
Observemos que, ∀m ∈ M , temos
(ı ◦ f∗◦ π)(m) = ı(f∗(π(m)))
= ı(f∗(m + Ker(f ))
= f∗(m + Ker(f )).
Agora, se f∗(m + Ker(f )) := f (m), podemos definir f∗ como
f∗ : M/Ker(f ) → Im(f )
m + Ker(f ) 7→ f (m).
Vejamos que f∗ est´a bem definida. De fato, sejam m1 + Ker(f ), m2 + Ker(f ) ∈
M/Ker(f ) tais que m1 + Ker(f ) = m2+ Ker(f ). Ent˜ao, m1 − m2 ∈ Ker(f ). Assim,
f (m1− m2) = f (m1) − f (m2) = 0N, isto ´e, f (m1) = f (m2).
Mostremos que f∗´e um A-homomorfismo. Sejam m1+Im(f ), m2+Im(f ) ∈ M/Ker(f ).
Ent˜ao f∗((m1+ Ker(f )) + (m2+ Ker(f ))) = f∗((m1+ m2) + Ker(f )) = f (m1+ m2) =
f (m1) + f (m2) = f∗(m1+ Ker(f )) + f∗(m2+ Ker(f )). Al´em disso, f∗(a(m1+ Ker(f ))) =
f∗(am1+ Ker(f )) = f (am1) = af (m1) = af∗(m1+ Ker(f )), ∀a ∈ A.
Finalmente, precisamos mostrar que f∗ ´e um A-isomorfismo.
Seja n ∈ Im(f ). Ent˜ao existe m ∈ M tal que f (m) = n. Da´ı, n = f (m) =
f (m + Ker(f )). Logo f∗ ´e um A-epimorfismo.
Sejam m1+ Ker(f ), m2+ Ker(f ) ∈ M/Ker(f ) tais que f∗(m1+ Ker(f )) = f∗(m2+
Ker(f )). Assim, f (m1) = f (m2) e portanto m1− m2 ∈ Ker(f ), ou seja, m1+ Ker(f ) =
m2+ Ker(f ). Logo, f∗ ´e um A-monomorfismo.
Corol´ario 1.48. Se f : M → N ´e um A-epimorfismo, ent˜ao M/Ker(f ) ∼= N .
Demonstra¸c˜ao. Como f : M → N ´e um A-epimorfismo, Im(f ) = N e, pelo teorema
acima, temos que M/Ker(f ) ∼= N .
Corol´ario 1.49. Todo A-m´odulo simples ´e isomorfo a um quociente de A por um ideal
`
a esquerda maximal de A.
Demonstra¸c˜ao. Seja M um A-m´odulo simples. Como M ´e simples, pela Proposi¸c˜ao 1.23,
f : A → M
a 7→ am.
assim definida ´e um A-homomorfismo.
Sejam a, b ∈ A. Ent˜ao f (a + b) = (a + b)m = am + bm = f (a) + f (b). Al´em disso,
f (ab) = (ab)m = a(bm) = af (b). Logo f ´e um A-homomorfismo. Notemos tamb´em que
f n˜ao ´e o A-homomorfismo nulo, pois como f (1A) = m 6= 0, temos que Ker(f ) 6= A.
Como M ´e gerado por m, temos que f ser´a um A-epimorfismo e portanto, devido ao
corol´ario anterior, M ∼= A/Ker(f ).
Como Ker(f ) ´e um subm´odulo de A, pelo Exemplo 1.13, segue que Ker(f ) ´e um
ideal `a esquerda de A. Al´em disso, Ker(f ) = AnA(m). Para terminarmos, precisamos
mostrar que Ker(f ) ´e maximal em A.
Seja J um ideal `a esqueda de A tal que Ker(f ) ⊂ J ⊂ A. Pelo Exemplo 1.26,
J/Ker(f ) ´e um subm´odulo de A/Ker(f ). Por´em, como M ∼= A/Ker(f ) e M ´e simples,
pela Proposi¸c˜ao 1.42, temos que A/Ker(f ) tamb´em ´e simples. Logo, J/Ker(f ) = {0 +
Ker(f )} ou J/Ker(f ) = A/Ker(f ), isto ´e, J = Ker(f ) ou J = A. Logo, Ker(f ) ´e um
ideal `a esquerda maximal.
Teorema 1.50 (Segundo Teorema do Isomorfismo). Sejam N e P dois subm´odulos de
um A-m´odulo M . Ent˜ao N ∩PN ∼= N +PP .
Demonstra¸c˜ao. Definimos
f : N → N +P
P
n 7→ n + P.
Facilmente conseguimos ver que f est´a bem definida. Al´em disso, para quaisquer
n, n0 ∈ N e a ∈ A, temos que f (n + n0) = (n + n0) + P = (n + P ) + (n0+ P ) = f (n) + f (n0)
e f (an) = an + P = a(n + P ) = af (n). Logo, f ´e um A-homomorfismo.
Provemos que f ´e sobrejetora. Sejam (n+p)+P ∈ (N + P )/P , em que n ∈ N e p ∈ P .
Ent˜ao, (n + p) + P = (n + P ) + (p + P ) = n + P e portanto, f (n) = n + P = (n + p) + P .
Agora, mostremos que Ker(f ) = N ∩ P . Notemos que: Ker(f ) = {n ∈ N : f (n) = 0 + P }
= {n ∈ N : n + P = 0 + P } = {n ∈ N : n ∈ P } = N ∩ P.
Teorema 1.51 (Terceiro Teorema do Isomorfismo). Sejam M um A-m´odulo e P e N
subm´odulos de M tais que P ⊂ N . Ent˜ao M/N ∼= M/PN/P.
Demonstra¸c˜ao. Definimos
f : M/P → M/N
m + P 7→ m + N.
Observemos que, dados m1 + P, m2 + P ∈ M/P tais que m1+ P = m2+ P , temos
que m1− m2 ∈ P ⊂ N . Logo, m1+ N = m2+ N . Portanto, f est´a bem definida.
Mostremos que f ´e um A-homomorfismo. Sejam m1 + P, m2 + P ∈ M/P . Ent˜ao,
f ((m1+ P ) + (m2+ P )) = f ((m1+ m2) + P ) = (m1+ m2) + N = (m1+ N ) + (m2+ N ) =
f (m1+P )+f (m2+P ). Al´em disso, f (a(m1+P )) = f (am1+P ) = am1+N = a(m1+N ) =
af (m1+ P ), ∀a ∈ A.
Provemos que f ´e sobrejetora. De fato, para todo m+N ∈ M/N existe m+P ∈ M/P
tal que f (m + P ) = m + N .
Agora, mostremos que Ker(f ) = N/P . Notemos que
Ker(f ) = {m + P ∈ M/P : f (m + P ) = 0 + N } = {m + P ∈ M/P : m + N = 0 + N } = {m + P ∈ M/P : m ∈ N } = N/P.
Cap´ıtulo 2
Sequˆ
encias exatas
Uma sequˆencia exata ´e uma forma de representar uma rela¸c˜ao entre homomorfismos
de A-m´odulos por meio de diagramas. Este cap´ıtulo tem por objetivo estabelecer algumas
defini¸c˜oes e resultados importantes para a compreens˜ao do pr´oximo cap´ıtulo. Al´em disso,
estudamos a no¸c˜ao de diagramas comutativos cuja aplicabilidade ´e muito importante em
´
algebra homol´ogica e teoria de categorias, por exemplo. Para mais detalhes, veja [3], [4]
e [5].
2.1
Defini¸
c˜
oes e resultados b´
asicos
Defini¸c˜ao 2.1. Sejam M, N e P A-m´odulos. A sequˆencia de A-homomorfismos
M f //N g //P
´e dita exata se ´e exata em N , isto ´e, Im(f ) = Ker(g).
A defini¸c˜ao dada acima pode ser generalizada conforme a pr´oxima defini¸c˜ao.
Defini¸c˜ao 2.2. Seja {· · · , Mi−1, Mi, Mi+1, · · · } uma fam´ılia, eventualmente infinita, de
A-m´odulos e {· · · , fi : Mi → Mi+1, · · · } uma fam´ılia de A-homomorfismos. Diz-se que a
sequˆencia · · · //Mi−1 fi−1 // Mi fi // Mi+1 fi+1 // · · ·
´e exata, se ´e exata em Mi, ∀i ∈ Z, isto ´e, se Im(fi−1) = Ker(fi), ∀i ∈ Z.
Se {M0, M1, · · · , Mn} ´e uma fam´ılia finita de A-m´odulos, ent˜ao a sequˆencia finita de
M0 f1 // M1 f2 // · · · fn−1//Mn−1 fn // Mn
´e exata, se ´e exata em cada Mi, para i = 1, 2, · · · , n − 1, isto ´e, Im(fi) = Ker(fi+1), para
i = 1, 2, · · · , n − 1.
Proposi¸c˜ao 2.3. A sequˆencia 0 −→ Mg −→ N ´f e exata, se e somente se, f ´e um
A-monomorfismo.1
Demonstra¸c˜ao. Suponhamos que a sequˆencia 0 −→ Mg −→ N seja exata. Seja x ∈f
Ker(f ). Ent˜ao x ∈ Im(g) = {0M}. Logo, x = 0. Da´ı, f ´e um A-monomorfismo.
Suponhamos que f seja um A-monomorfismo. Como g ´e o A-homomorfismo nulo,
segue que Im(g) = {0M} = Ker(f ). Portanto, a sequˆencia 0
g
−→ M −→ N ´e exata.f
Proposi¸c˜ao 2.4. A sequˆencia M −→ Nf −→ 0 ´g e exata, se e somente se, f ´e um
A-epimorfismo.
Demonstra¸c˜ao. Suponhamos que a sequˆencia M −→ Nf −→ 0 seja exata. Como g ´e o A-g
homomorfismo nulo, segue que Im(f ) = Ker(g) = N . Portanto, f ´e um A-epimorfismo.
Suponhamos que f seja um A-epimorfismo. Como g(x) = 0, ∀x ∈ N , segue que
Ker(g) = N = Im(f ). Portanto, a sequˆencia M −→ Nf −→ 0 ´e exata.g
Proposi¸c˜ao 2.5. A sequˆencia 0 −→ M −→ N −→ 0 ´f e exata se, e somente se, f ´e um
A-isomorfismo.
Demonstra¸c˜ao. Pelas proposi¸c˜oes acima, f ´e um A-monomorfismo e um A-epimorfismo.
Logo, f ´e um A-isomorfismo.
Defini¸c˜ao 2.6. Uma sequˆencia exata da forma
0 −→ M −→ N −→ P −→ 0 diz-se exata curta.
Exemplo 2.7. Se N ´e um subm´odulo de um A-m´odulo M , ı : N → M ´e a inclus˜ao
canˆonica e π : M → M/N ´e a proje¸c˜ao canˆonica, ent˜ao a sequˆencia
0 −→ N −→ Mı −→ M/N −→ 0π
´e exata curta.
De fato, sabemos que ı ´e um A-monomorfismo e π ´e um A-epimorfismo. Por outro
lado, Im(ı) = N . Al´em disso, seja x ∈ Ker(π). Ent˜ao π(x) = x + N = 0 + N . Da´ı,
x ∈ N , ou seja, Ker(π) ⊂ N . ´E claro que N ⊂ Ker(π). Logo, Ker(π) = N e assim,
Im(ı) = Ker(π).
Casos particulares da sequˆencia exata curta como no exemplo acima s˜ao dados abaixo.
Exemplo 2.8. A sequˆencia 0 −→ nZ −→ Zı −→ Z/nZ −→ 0, em que ı : nZ → Z ´e aπ
inclus˜ao canˆonica e π : Z → Z/nZ ´e a proje¸c˜ao canˆonica, ´e exata.
Defini¸c˜ao 2.9. Seja f : M → N um A-homomorfismo. Define-se a coimagem de f como
o A-m´odulo Coim(f ) = M/Ker(f ).
Exemplo 2.10. Sejam f : M → N um A-homomorfismo, ı a inclus˜ao canˆonica e π a
proje¸c˜ao canˆonica. Ent˜ao as sequˆencias abaixo s˜ao exatas.
(i) 0 −→ Ker(f )−→ Mı −→ Coim(f ) −→ 0.π
(ii) 0 −→ Im(f )−→ Nı −→ Coker(f ) −→ 0.π
De fato, os itens (i) e (ii) s˜ao casos an´alogos ao apresentado no Exemplo 2.7, visto
que Coim(f ) = M/Ker(f ) e Coker(f ) = N/Im(f ).
Proposi¸c˜ao 2.11. Sejam M, N e P A-m´odulos. Ent˜ao, uma sequˆencia exata curta do
tipo (1) 0 −→ N −→ Mf −→ P −→ 0, pode ser vista como uma sequˆg encia exata curta do
tipo (2) 0 −→ N −→ Mı −→ M/N −→ 0 e reciprocamente.π
Demonstra¸c˜ao. Obviamente uma sequˆencia do tipo (2) ´e uma sequˆencia do tipo (1), basta
considerar f = ı e g = π.
Vejamos o contr´ario. Seja ı : N → Im(f ) a inclus˜ao canˆonica. Assim, N ´e isomorfo `a
Im(f ), pois f ´e um A-monomorfismo. Como (1) ´e exata, Im(f ) = Ker(g) e, por ser g um
A-epimorfismo, M/Im(f ) ´e isomorfo a P , pelo Teorema 1.47. Assim, temos que (1) pode
ser vista como uma sequˆencia do tipo (2), uma vez que N ∼= Im(f ) e M/Im(f ) ∼= P , ou
seja 0 //N f // ∼= M g // = P // ∼= 0 0 //Im(f ) ı //M π //M/Im(f ) //0.
2.2
Algumas aplica¸
c˜
oes
O objetivo principal dessa se¸c˜ao ´e apresentar exemplos, que s˜ao aplica¸c˜oes de sequˆencias
exatas. No entanto, ser´a necess´ario definirmos diagrama comutativo.
Defini¸c˜ao 2.12. Um diagrama ´e dito comutativo se, para quaisquer par de A-m´odulos
Exemplo 2.13. Sejam M1 g f // M2 e N1 f2 f1 // N2 g1 M3 h == N3 g2 //N4
diagramas comutativos. Neste caso, f = h ◦ g e g2◦ f2 = g1◦ f1.
Exemplo 2.14. Notemos que uma sequˆencia exata curta ´e um diagrama comutativo,
pois f = g = 0, veja o diagrama abaixo
0 // g 88 // f && N //M //P //0.
Sabemos do Cap´ıtulo 1 que somas e interse¸c˜oes de subm´odulos de um dado m´odulo
M s˜ao novamente subm´odulos de M . No pr´oximo exemplo, vamos considerar sequˆencias
exatas cujos m´odulos s˜ao quocientes, quocientes de interse¸c˜oes e quocientes de somas.
Exemplo 2.15. Sejam S e T subm´odulos de um A-m´odulo M .
0 0 0 0 //S ∩ T //S //S/(S ∩ T ) //0 0 //T //M //M/T //0 0 //T /(S ∩ T ) //M/S //M/(S + T ) //0 0 0 0
Definindo adequadamente os A-homomorfismos, o diagrama dado acima ´e comutativo e
todas suas filas e colunas s˜ao sequˆencias exatas.
De fato, a exatid˜ao das duas primeiras linhas e das duas primeiras colunas ´e facilmente
conclu´ıda devido ao Exemplo 2.7, definindo as fun¸c˜oes ali apresentadas como inclus˜oes e
proje¸c˜oes.
Definimos agora os A-homomorfismos que tornar˜ao a sequˆencia 0 → T /(S ∩ T ) −→
M/S −→ M/(S + T ) → 0 exata.
Mostremos que f est´a, de fato, bem definida. Sejam x + (S ∩ T ), y + (S ∩ T ) ∈ T /(S ∩ T )
tais que x + (S ∩ T ) = y + (S ∩ T ). Ent˜ao x − y ∈ S ∩ T e portanto, x − y ∈ S. Logo,
x + S = y + S, isto ´e, f (x + (S ∩ T )) = f (y + (S ∩ T )).
Verifiquemos que f ´e um A-monomorfismo. De fato, seja a ∈ A. Ent˜ao f (ax + (S ∩
T )) = ax + S = a(x + S) = af (x + (S ∩ T )) e f ((x + y) + (S ∩ T )) = (x + y) + S
= (x + S) + (y + S)
= f (x + (S ∩ T )) + f (y + (S ∩ T )).
Seja x + (S ∩ T ) ∈ Ker(f ). Ent˜ao f (x + (S ∩ T )) = 0 + S, ou seja, x + S = 0 + S.
Mas x ∈ T e assim, x ∈ S ∩ T . Logo, Ker(f ) = {0 + (S ∩ T )}.
Seja g : M/S → M/(S + T ) definida por g(m + S) = m + (S + T ), para todo m ∈ M .
Mostremos que g est´a, de fato, bem definida. Sejam m + S, n + S ∈ M/S tais que
m + S = n + S. Ent˜ao m − n ∈ S ⊂ S + T e portanto, m + (S + T ) = n + (S + T ), isto
´e, g(m) = g(n). Provemos que g ´e um A-epimorfismo. Seja a ∈ A. Ent˜ao g(am + S) =
am + (S + T ) = a(m + (S + T )) = ag(m + S) e
g((m + n) + S) = (m + n) + (S + T )
= (m + (S + T )) + (n + (S + T )) = g(m + S) + g(n + S).
Seja m + (S + T ) ∈ M/(S + T ). Ent˜ao m ∈ M e da´ı, m + S ∈ M/S. Portanto,
g(m + S) = m + (S + T ). Logo, Im(g) = M/(S + T ).
Mostremos agora que a sequˆencia ´e exata. Basta provarmos que Im(f ) = Ker(g),
pois j´a conclu´ımos a injetividade de f e a sobrejetividade de g. Seja m + S ∈ Im(f ).
Ent˜ao existe t + (S ∩ T ) ∈ T /(S ∩ T ) tal que f (t + (S ∩ T )) = m + S. Assim, g(m + S) =
g(f (t + (S ∩ T ))) = g(t + S) = t + (S + T ) = 0 + (S + T ), pois t ∈ T e portanto, m + S ∈ Ker(g). Logo Im(g) ⊂ Ker(g).
Seja m+S ∈ Ker(g). Ent˜ao g(m+S) = m+(S +T ) = 0+(S +T ), isto ´e, m ∈ (S +T ).
Assim, existem s0 ∈ S e t0 ∈ T tal que m = s0+ t0 e portanto, m + S = (s0 + t0) + S =
(s0+ S) + (t0+ S) = t0+ S = f (t0+ (S ∩ T )). Logo, Ker(g) ⊂ Im(f ) e da´ı conclu´ımos
que a sequˆencia em quest˜ao ´e exata.
De forma an´aloga, mostramos que a ´ultima coluna do diagrama em quest˜ao ´e tamb´em
de maneira an´aloga. Assim, temos o diagrama 0 0 0 0 //S ∩ T ı ı // S ı π // S/(S ∩ T ) f0 //0 0 //T π ı // M π π // M/T g0 //0 0 //T /(S ∩ T ) f // M/S g // M/(S + T ) //0. 0 0 0
Finalmente, mostremos que o diagrama ´e comutativo. A comutatividade do primeiro
quadrante do diagrama ´e trivial, visto que se trata apenas de inclus˜oes canˆonicas. Para o
segundo quadrante, notemos que dado s ∈ S, temos que f0(π(s)) = f0(s+(S ∩T )) = s+T
e π(ı(s)) = π(s) = s + T e da´ı conclu´ımos que f0◦ π = π ◦ i.
Para terceiro quadrante, para qualquer t ∈ T , temos que π(ı(t)) = π(t) = t + S e f (π(t)) = f (t + (S ∩ T )) = t + S e portanto, π ◦ ı = f ◦ π.
Para o quarto quadrante, dado m ∈ M , segue que g0(π(m)) = g0(m+T ) = m+(S +T )
e g(π(m)) = g(m + S) = m + (S + T ). Logo, g0◦ π = g ◦ π.
Dentre os diversos resultados em ´algebra homol´ogica, o lema a seguir, o conhecido
“Lema dos Cinco”, se destaca. Tal lema possui um corol´ario, o “Lema dos Trˆes”, que
tem uma aplica¸c˜ao not´avel na teoria de m´odulos noetherianos e artinianos, quando
ne-cessitamos provar que um m´odulo ´e noetheriano (artiniano) se, e somente se, subm´odulos
e m´odulos quociente de tal m´odulo s˜ao noetherianos (artinianos).
Lema 2.16. Seja M1 f1 // h1 M2 f2 // h2 M3 f3 // h3 M4 f4 // h4 M5 h5 N1 g1 // N2 g2 // N3 g3 // N4 g4 // N5
um diagrama comutativo em que as linhas s˜ao sequˆencias exatas. Ent˜ao s˜ao v´alidas as
afirma¸c˜oes abaixo.
(ii) Se h2 ´e um A-epimorfismo e h5 ´e um A-monomorfismo, ent˜ao g3−1(Im(h4)) =
Im(h3).
(iii) (Lema dos Cinco) Se h1 ´e um A-epimorfismo, h5 ´e um A-monomorfismo e h2 e h4
s˜ao A-isomorfismos, ent˜ao h3 ´e um A-isomorfismo.
Demonstra¸c˜ao. (i) Primeiramente mostremos que f2(Ker(h2)) ⊂ Ker(h3). Seja m ∈
Ker(h2). Ent˜ao h2(m) = 0. Como o diagrama ´e comutativo, temos que 0 = g2(h2(m)) =
h3(f2(m)), ou seja, f2(m) ∈ Ker(h3), ∀m ∈ Ker(h2).
Agora mostremos que Ker(h3) ⊂ f2(Ker(h2)). Seja x ∈ Ker(h3). Ent˜ao h3(x) = 0.
Como o diagrama ´e comutativo, temos que 0 = g3(h3(x)) = h4(f3(x)) e isso implica que
f3(x) ∈ Ker(h4).
Como h4 ´e um A-monomorfismo, temos que Ker(h4) = {0M4}. Portanto, f3(x) = 0 e
ent˜ao x ∈ Ker(f3) = Im(f2), pois as linhas s˜ao sequˆencias exatas. Logo, existe y ∈ M2
tal que f2(y) = x. Assim, pela comutatividade do diagrama, temos que g2(h2(y)) =
h3(f2(y)) = h3(x) = 0 e portanto, h2(y) ∈ Ker(g2) = Im(g1). Logo, existe z ∈ N1, tal
que g1(z) = h2(y).
Como h1 ´e um A-epimorfismo, existe w ∈ M1 tal que h1(w) = z. Por ser o diagrama
comutativo, segue que h2(f1(w)) = g1(h1(w)) = g1(z) = h2(y), ou seja, h2(y − f1(w)) = 0
e isso nos diz que y − f1(w) ∈ Ker(h2).
Escrevemos y1 − f1(w) = m2 ∈ Ker(h2). Da´ı, f2(m2) = f2(y − f1(w)) = f2(y) −
f2(f1(w)) = x − 0 = x, ou seja, x = f2(m2) ∈ f2(Ker(h2)).
(ii) Primeiramente mostremos que Im(h3) ⊂ g3−1(Im(h4)). Seja n ∈ Im(h3). Assim,
existe m ∈ M3 tal que h3(m) = n. Como o diagrama comuta, temos que h4(f3(m)) =
g3(h3(m)) = g3(n) e isso implica que g3(n) ∈ Im(h4). Logo, n ∈ g−13 (Im(h4)).
Agora, provemos que g−13 (Im(h4)) ⊂ Im(h3). Seja x ∈ g3−1(Im(h4)). Logo, g3(x) ∈
Im(h4) e portanto, existe y ∈ M4 tal que h4(y) = g3(x). Da comutatividade do diagrama,
temos que h5(f4(y)) = g4(g3(x)) = 0, pois g3(x) ∈ Im(g3) = Ker(g4). Portanto, f4(y) ∈
Ker(h5).
Sendo h5 um A-monomorfismo, ent˜ao f4(y) = 0 e assim, y ∈ Ker(f4) = Im(f3).
Dessa forma, existe z ∈ M3 tal que f3(z) = y. Como o diagrama ´e comutativo, segue
que g3(h3(z)) = h4(f3(z)) = h4(y) = g3(x), ou seja, g3(x − h3(z)) = 0 e isso implica que
x − h3(z) ∈ Ker(g3) = Im(g2).
Logo, existe w ∈ N2 tal que g2(w) = x − h3(z). Por hip´otese, h2 ´e um A-epimorfismo
e da´ı, existe m0 ∈ M2 tal que h2(m0) = w. Como o diagrama ´e comutativo, temos
h3(f2(m0) + z). Logo, x ∈ Im(h3).
(iii) Como, por hip´otese, h1 ´e um A-epimorfismo, h5 ´e um A-monomorfismo e h2, h4
s˜ao A-isomorfismos segue, por (i) e (ii), respectivamente, que Ker(h3) = f2(Ker(h2)) =
f2(0) = 0 e que N3 = g−13 (N4) = g3−1(Im(h4)) = Im(h3). Logo, h3 ´e um A-monomorfismo
e um A-epimorfismo, ou seja, h3 ´e um A-isomorfismo.
Corol´ario 2.17. Seja
M2 h2 f2 // M3 h3 f3 // M4 h4 f4 // 0 = M5 N1 = 0 g1 // N2 g2 // N3 g3 // N4
um diagrama comutativo em que as linhas s˜ao sequˆencias exatas. Ent˜ao s˜ao v´alidas as
afirma¸c˜oes.
(i) Se h4 ´e um A-monomorfismo ent˜ao Ker(h3) = f2(Ker(h2)).
(ii) Se h2 ´e um A-epimorfismo ent˜ao g−13 (Im(h4)) = Im(h3).
(iii) (Lema dos Trˆes) Se h2 e h4 s˜ao A-isomorfismos ent˜ao h3 ´e um A-isomorfismo.
Demonstra¸c˜ao. (i) A inclus˜ao f2(Ker(h2)) ⊂ Ker(h3) ´e igual `a feita no lema. Agora,
vejamos a outra inclus˜ao. Seja x ∈ Ker(h3). Ent˜ao h3(x) = 0. Pelo mesmo racioc´ınio feito
na prova do lema, chegamos que existe y ∈ M2 tal que f2(y) = x. Pela comutatividade
do diagrama, g2(h2(y)) = h3(f2(y)) = h3(x) = 0. Portanto, h2(y) ∈ Ker(g2) = {0N2} e
assim, h2(y) = 0. Logo, y ∈ Ker(h2) e segue a inclus˜ao.
(ii) A inclus˜ao Im(h3) ⊂ g3−1(Im(h4)) ´e a mesma feita no lema. Para a outra inclus˜ao,
seja x ∈ g3−1(Im(h4)). Ent˜ao g3(x) ∈ Im(h4) e portanto, existe y ∈ M4 tal que h4(y) =
g3(x), at´e ent˜ao isso ´e o mesmo feito na prova do lema. Como f3 ´e sobrejetor, existe
z ∈ M3 tal que y = f3(z). Pela comutatividade do diagrama, segue que g3(h3(z)) =
h4(f3(z)) = h4(y) = g3(x). Da´ı, g3(h3(z) − x) = 0 e da´ı, x − h3(z) ∈ Ker(g3) = Im(g2).
O restante, ´e exatamente a prova do lema que garante que x ∈ Im(h3).
(iii) Como h2 e h4 s˜ao A-isomorfismos segue, por (i) e (ii), respectivamente, que
Ker(h3) = f2(Ker(h2)) = {0} e que N3 = g3−1(N4) = g−13 (Im(h4)) = Im(h3). Logo, h3 ´e
Cap´ıtulo 3
O Lema da Cobra
Uma das aplica¸c˜oes mais importantes no que diz respeito a sequˆencias exatas ´e o Lema
da Cobra, cuja finalidade ´e obter sequˆencias exatas longas. Provar tal lema ´e o objetivo
principal desse trabalho. Como o leitor poder´a observar n˜ao ´e uma prova direta, al´em ser
bem extensa. Achamos conveniente, portanto, fazer um cap´ıtulo dedicado a esse lema. Teorema 3.1. (Lema da Cobra) Seja
0 //M1 g1 // f1 M2 g2 // f2 M3 // f3 0 0 //N1 h1 // N2 h2 // N3 //0
um diagrama comutativo de A-m´odulos cujas linhas s˜ao sequˆencias exatas. Ent˜ao existe
um A-homomorfismo δ : Ker(f3) → Coker(f1) e uma sequˆencia exata longa
0 → Ker(f1) → Ker(f2) → Ker(f3)
δ
−→ Coker(f1) → Coker(f2) → Coker(f3) → 0.
A demonstra¸c˜ao do lema ´e feita em trˆes etapas.
(i) Na primeira etapa, mostramos que ao definirmos convenientes A-homomorfismos α1, α2, β1
e β2, as sequˆencias 0 //Ker(f1) α1 // Ker(f2) α2 // Ker(f3) e Coker(f1) β1 // Coker(f2) β2 // Coker(f3) //0 s˜ao exatas.
(ii) Na segunda etapa, definimos o A-homomorfismo conex˜ao δ : Ker(f3) → Coker(f1),
representado no diagrama abaixo pela linha tracejada. Devido ao tra¸cado dado por este homomorfismo originou-se o nome de Lema da Cobra.
0 //Ker(f1) α1 // Ker(f2) α2 // Ker(f3) δ // 0 //M1 f1 g1 // M2 f2 g2 // M3 f3 //0 0 //N1 h1 // N2 h2 // N3 //0 Coker(f1) β1 // Coker(f2) β2 // Coker(f3) //0
(iii) Finalmente, na terceira etapa mostremos que a sequˆencia dada no lema ´e exata.
Demonstra¸c˜ao. (i) Primeiramente mostremos que a sequˆencia
0 //Ker(f1)
α1 //
Ker(f2)
α2 //
Ker(f3)
´e exata. Definimos α1 e α2 restringindo g1e g2, respectivamente, ao Ker(f1) e ao Ker(f2),
ou seja, αi = gi|Ker(fi), para i = 1, 2.
Notemos que αi(x) ∈ Ker(fi+1), ∀x ∈ Ker(fi), em que i = 1, 2. De fato, seja
x ∈ Ker(f1). Ent˜ao α1(x) = g1(x) e devido `a comutatividade do diagrama, segue que
f2(α1(x)) = f2(g1(x)) = h1(f1(x)) = 0, ou seja, α1(x) ∈ Ker(f2). Analogamente,
mostra-se que α2(x) ∈ Ker(f3), para todo x ∈ Ker(f2).
´
E claro que αi, para i = 1, 2, ´e A-homomorfismo, pois cada um deles ´e restri¸c˜ao de
um A-homomorfismo.
Mostremos que α1 : Ker(f1) → Ker(f2) ´e um A-monomorfismo. Seja x ∈ Ker(α1).
Assim, 0 = α1(x) = g1(x), ou seja x ∈ Ker(g1). Por´em, como g1 ´e um A-monomorfismo,
segue que x = 0 e portanto, α1 ´e um A-monomorfismo.
Mostremos agora que Im(α1) = Ker(α2).
Seja y ∈ Im(α1). Ent˜ao existe x ∈ Ker(f1) tal que y = α1(x) = g1(x). Como
Im(g1) = Ker(g2), segue que α2(α1(x)) = α2(g1(x)) = g2(g1(x)) = 0, ou seja,
y ∈ Ker(α2)). Portanto, Im(α1) ⊂ Ker(α2).
Seja y ∈ Ker(α2). Ent˜ao 0 = α2(y) = g2(y), ou seja, y ∈ Ker(g2) = Im(g1). Assim,
existe m1 ∈ M1 tal que g1(m1) = y. Devido `a comutatividade do diagrama e ao
fato de que Ker(α2) ⊂ Ker(f2), temos 0 = f2(y) = f2(g1(m1)) = h1(f1(m1)). Logo,
f1(m1) ∈ Ker(h1) = {0}, visto que h1 ´e um A-monomorfismo. Da´ı, f1(m1) = 0 e
isso implica que m1 ∈ Ker(f1), ou seja, y = g1(m1) = α1(m1). Logo, y ∈ Im(α1) e
Provemos agora que a sequˆencia Coker(f1) β1 // Coker(f2) β2 // Coker(f3) //0 ´e exata. Definimos
β1 : Coker(f1) = N1/Im(f1) → Coker(f2) = N2/Im(f2)
n1+ Im(f1) 7→ h1(n1) + Im(f2).
Mostremos que β1 est´a bem definido. Sejam n1+ Im(f1), n2 + Im(f1) ∈ Coker(f1) tais
que n1+ Im(f1) = n2+ Im(f1) e assim, n1− n2 ∈ Im(f1). Logo, existe m1 ∈ M1 tal que
f1(m1) = n1− n2. Como o diagrama comuta, temos que
f2(g1(m1)) = h1(f1(m1)) = h1(n1− n2) = h1(n1) − h1(n2),
ou seja, h1(n1) − h1(n2) ∈ Im(f2), isto ´e, h1(n1) + Im(f2) = h1(n2) + Im(f2).
De maneira an´aloga, definimos
β2 : Coker(f2) = N2/Im(f2) → Coker(f3) = N3/Im(f3)
n2+ Im(f2) 7→ h2(n2) + Im(f3)
e mostramos que β2 est´a bem definido.
Pelo fato de h1 e h2 serem A-homomorfismos segue facilmente que β1 e β2 s˜ao,
res-pectivamente, A-homomorfismos.
Mostremos agora que β2 ´e um A-epimorfismo. Seja n3+ Im(f3) ∈ Coker(f3). Como
h2 ´e um A-epimorfismo, existe n2 ∈ N2 tal que h2(n2) = n3. Logo, β2(n2+ Im(f2)) =
h2(n2) + Im(f3) = n3+ Im(f3), ou seja, β2 tamb´em ´e um A-epimorfismo.
Provemos que Im(β1) = Ker(β2).
Seja y+Im(f2) ∈ Im(β1), y ∈ N2. Assim, existe x ∈ N1 tal que y +Im(f2) = β1(x+
Im(f1)) = h1(x) + Im(f2). Como Im(h1) = Ker(h2), temos que β2(y + Im(f2)) =
β2(h1(x)+Im(f2)) = h2(h1(x))+Im(f3) = 0+Im(f3). Logo, y +Im(f2) ∈ Ker(β2).
Portanto, Im(β1) ⊂ Ker(β2).
Seja n2+Im(f2) ∈ Ker(β2). Ent˜ao β2(n2+Im(f2)) = h2(n2)+Im(f3) = 0+Im(f3),
ou seja, h2(n2) ∈ Im(f3). Assim, existe m3 ∈ M3 tal que f3(m3) = h2(n2). Como
g2 ´e um A-epimorfismo, existe m2 ∈ M2 de modo que g2(m2) = m3. Sendo o
diagrama comutativo, segue que h2(f2(m2)) = f3(g2(m2)) = f3(m3) = h2(n2), ou
seja, h2(n2 − f2(m2)) = 0. Portanto, n2 − f2(m2) ∈ Ker(h2) = Im(h1) e assim,
β1(n1+ Im(f1)) = h1(n1) + Im(f2)
= (n2− f2(m2)) + Im(f2)
= (n2+ Im(f2)) − (f2(m2) + Im(f2))
= n2+ Im(f2),
ou seja, n2+ Im(f2) ∈ Im(β1). Portanto, Ker(β2) ⊂ Im(β1).
(ii) Para construirmos o A-homomorfismo conex˜ao δ : Ker(f3) → Coker(f1),
combi-namos as duas sequˆencias apresentadas na etapa anterior.
Seja m3 ∈ Ker(f3) ⊂ M3. Como g2 ´e um A-epimorfismo, existe m2 ∈ M2 tal
que g2(m2) = m3. Devido `a comutatividade do diagrama, temos que h2(f2(m2)) =
f3(g2(m2)) = f3(m3) = 0, ou seja, f2(m2) ∈ Ker(h2) = Im(h1). Sendo h1 um
A-monomorfismo, existe um ´unico n1 ∈ N1 tal que h1(n1) = f2(m2).
Assim, podemos definir
δ: Ker(f3) → Coker(f1)
m3 7→ n1+ Im(f1),
em que h1(n1) = f2(m2) e g2(m2) = m3.
Mostremos que δ est´a bem definida, ou seja, suponhamos que exista outro m02 ∈ M2
tal que g2(m02) = m3 e mostremos que n1+ Im(f1) = n01+ Im(f1).
De fato, supondo m02 como acima, isto ´e, g2(m02) = m3 ∈ Ker(f3) temos, pela
comu-tatividade do diagrama, que h2(f2(m02)) = 0, ou seja, f2(m02) ∈ Ker(h2) = Im(h1). Da´ı,
existe um ´unico n01 ∈ N1 tal que h1(n01) = f2(m02). Assim, h1(n1−n01) = f2(m2)−f2(m02) =
f2(m2 − m02).
Por outro lado, como g2(m2) = m3 = g2(m02), segue que g2(m2 − m02) = 0, ou seja,
m2 − m02 ∈ Ker(g2) = Im(g1). Logo, existe m1 ∈ M1 tal que g1(m1) = m2 − m02. Pela
comutatividade do diagrama, temos que h1(n1 − n01) = f2(m2 − m02) = f2(g1(m1)) =
h1(f1(m1)), ou seja, h1(n1 − n01 − f1(m1)) = 0. Sendo h1 um A-monomorfismo, temos
que n1− n01− f1(m1) = 0 e da´ı, f1(m1) = n1− n01. Portanto, n1− n01 ∈ Im(f1) e assim,
n1+ Im(f1) = n01+ Im(f1). Dessa forma, δ est´a bem definida.
Provemos que δ ´e um A-homomorfismo.
Sejam m3, m03 ∈ Ker(f3). Ent˜ao δ(m3) = n1+ Im(f1) e δ(m03) = n01+ Im(f1), em
que h1(n1) = f2(m2), g2(m2) = m3, h1(n01) = f2(m02) e g2(m02) = m
0
3. Assim,
0 = f3(m3+ m03) = f3(g2(m2+ m02)) = h2(f2(m2+ m02)),
h1(n) = f2(m2+ m02) e da´ı, h1(n) = f2(m2) + f2(m02) = h1(n1) + h1(n10) = h1(n1+ n01)
e portanto, n = n1+ n01. Logo,
δ(m3+ m03) = n + Im(f1) = (n1+ n01) + Im(f1)
= (n1+ Im(f1)) + (n01+ Im(f1)) = δ(m3) + δ(m03).
Sejam m3 ∈ Ker(f3) e a ∈ A. Ent˜ao δ(m3) = n1 + Im(f1) e δ(am3) = n0 +
Im(f1), em que g2(m2) = m3, h1(n1) = f2(m2), am3 = g2(m02) e h1(n0) = f2(m02).
Assim, g2(m02) = am3 = ag2(m2) = g2(am2) e portanto, g2(am2 − m02) = 0. Logo,
am2− m02 ∈ Ker(g2) = Im(g1) e isso implica que existe m1 ∈ M1 tal que g1(m1) =
am2− m02. Ent˜ao
h1(an1− n0) = ah1(n1) − h1(n0) = af2(m2) − f2(m02)
= f2(am2− m02) = f2(g1(m1)) = h1(f1(m1)).
Portanto, h1(an1− n0) = h1(f1(m1)) e, por ser h1 um A-monomorfismo, an1− n0 =
f1(m1) ∈ Im(f1) e isso nos diz que an1+ Im(f1) = n0+ Im(f1). Logo,
aδ(m3) = a(n1+ Im(f1)) = an1+ Im(f1) = n0 + Im(f1) = δ(am3).
(iii) Finalmente, mostremos que a sequˆencia
0 → Ker(f1) α1 → Ker(f2) α2 → Ker(f3) δ −→ Coker(f1) β1 → Coker(f2) β2 → Coker(f3) → 0
´e exata. Basta mostrarmos que Im(α2) = Ker(δ) e que Im(δ) = Ker(β1).
Seja m3 ∈ Im(α2). Ent˜ao existe m2 ∈ Ker(f2) tal que α2(m2) = m3. Por
de-fini¸c˜ao de α2, temos que m3 = α2(m2) = g2(m2). Como h2(f2(m2)) = h2(0) = 0
e obviamente f2(m2) = 0 ∈ Ker(h2) = Im(h1). Logo, existe um ´unico n1 ∈ N1
tal que h1(n1) = f2(m2) = 0 e, pela injetividade de h1, segue que n1 = 0. Assim,
δ(m3) = n1 + Im(f1) = 0 + Im(f1) e isso nos diz que m3 ∈ Ker(δ). Portanto,
Im(α2) ⊂ Ker(δ).
Seja m3 ∈ Ker(δ). Ent˜ao δ(m3) = n1+ Im(f1) = 0 + Im(f1), em que g2(m2) = m3
e h1(n1) = f2(m2). Como n1 + Im(f1) = 0 + Im(f1), temos que n1 ∈ Im(f1), ou
seja, existe m1 ∈ M1 tal que f1(m1) = n1. Sendo o diagrama comutativo, segue
que f2(m2) = h1(n1) = h1(f1(m1)) = f2(g1(m1)), isto ´e, f2(m2 − g1(m1)) = 0.
Logo, m2 − g1(m1) ∈ Ker(f2) e podemos aplicar α2, ou seja, α2(m2 − g1(m1))
(∗)
=
g2(m2 − g1(m1)) = g2(m2) − g2(g1(m1)) = m3 e assim, m3 ∈ Im(α2), a igualdade
(∗) segue da defini¸c˜ao de α2. Portanto, Ker(δ) ⊂ Im(α2).
Seja n1+ Im(f1) ∈ Im(δ). Ent˜ao existe m3 ∈ Ker(f3) tal que δ(m3) = n1+ Im(f1),
em que h1(n1) = f2(m2) e g2(m2) = m3. Como h1(n1) ∈ Im(f2), temos que
β1(n1+ Im(f1)) = h1(n1) + Im(f2) = 0 + Im(f2), ou seja, n1+ Im(f1) ∈ Ker(β1).
Portanto, Im(δ) ⊂ Ker(β1).
Seja n1+Im(f1) ∈ Ker(β1). Ent˜ao β1(n1+Im(f1)) = h1(n1)+Im(f2) = 0+Im(f2),
ou seja, h1(n1) ∈ Im(f2). Assim, existe m2 ∈ M2 tal que f2(m2) = h1(n1). Devido
`
a comutatividade do diagrama e ao fato de que Im(h1) = Ker(h2), segue que
f3(g2(m2)) = h2(f2(m2)) = h2(h1(n1)) = 0, ou seja, g2(m2) ∈ Ker(f3). Chamando
g2(m2) = m3, temos que δ(m3) = n1 + Im(f1), ou seja, n1 + Im(f1) ∈ Im(δ).
Portanto, Ker(β1) ⊂ Im(δ).
Aplicamos o Lema da Cobra para provarmos o chamado Lema 3 × 3.
Corol´ario 3.2. (Lema 3 × 3) Seja
0 0 0 0 //M1 f1 g1 // M2 f2 g2 // M3 f3 //0 0 //N1 β1 h1 // N2 β2 h2 // N3 β3 //0 0 //P1 γ1 // P2 γ2 // P3 //0 0 0 0
um diagrama comutativo de A-m´odulos cujas colunas e a segunda linha sejam sequˆencias
exatas. Ent˜ao a primeira linha do diagrama ´e exata se, e somente se, a terceira tamb´em
o for.
Demonstra¸c˜ao. Suponhamos que a primeira linha do diagrama seja uma sequˆencia exata.
Pelo Lema da Cobra, a primeira e a segunda linhas geram uma sequˆencia exata do tipo
0 → Ker(f1) φ1 → Ker(f2) φ2 → Ker(f3) δ −→ Coker(f1) ψ1 → Coker(f2) ψ2 → Coker(f3) → 0.
Como as colunas do diagrama s˜ao sequˆencias exatas, temos que f1, f2 e f3 s˜ao
A-monomorfismos. Assim, Ker(fi) = {0}, para i = 1, 2, 3 e isso implica que φ1, φ2 e δ s˜ao
Pela exatid˜ao da sequˆencia acima e pelo fato de que δ : {0} → Coker(f1) ´e nulo, segue
que ψ1´e um A-monomorfismo. Novamente, pela mesma exatid˜ao e pelo Primeiro Teorema
do Isomorfismo, temos que Coker(f1) = N1/Im(f1) = N1/Ker(β1) ∼= P1. Analogamente,
Coker(f2) ∼= P2 e Coker(f3) ∼= P3.
Chamamos θi : Coker(fi) → Pi, para i = 1, 2, 3, aos tais isomorfismos e, para i =
1, 2, definimos γi : Pi → Pi+1 por γi = θi+1◦ ψi ◦ θ−1i . Como observamos acima, ψ1 ´e
um A-monomorfismo e portanto, γ1 ´e um A-monomorfismo, uma vez que ´e a composta
de A-monomorfismos. Sendo ψ2 um A-epimorfismo, a composta γ2 ´e tamb´em um
A-epimorfismo. Assim, para concluirmos que a sequˆencia
0 → P1
γ1
−→ P2
γ2
−→ P3 → 0
seja exata, basta mostrarmos que Im(γ1) = Ker(γ2).
Seja y ∈ Im(γ1). Ent˜ao existe x ∈ P1 tal que y = γ1(x). Da´ı,
γ2(y) = γ2(γ1(x))
= (θ3◦ ψ2◦ θ2−1)((θ2◦ ψ1◦ θ1−1)(y))
= (θ3◦ ψ2◦ θ2−1◦ θ2◦ ψ1◦ θ−11 )(y)
= (θ3◦ ψ2◦ ψ1◦ θ−11 )(y)
= (θ3◦ 0 ◦ θ−11 )(y) = 0.
A pen´ultima igualdade segue da exatid˜ao da sequˆencia acima dada pelo Lema da
Cobra. Logo, y ∈ Ker(γ2) e portanto, Im(γ1) ⊂ Ker(γ2).
Seja y ∈ Ker(γ2). Ent˜ao γ2(y) = 0 e portanto, (θ3 ◦ ψ2 ◦ θ2−1)(y) = 0. Da´ı, (ψ2 ◦
θ−12 )(y) = 0, pois θ3 ´e um A-isomorfismo. Logo, ψ2(θ2−1(y)) = 0 e isso nos diz que
θ−12 (y) ∈ Ker(ψ2) = Im(ψ1). Assim, existe x0 ∈ Coker(f1) tal que θ2−1(y)
(∗)
= ψ1(x0). Mas
tamb´em, por ser θ−11 um A-isomorfismo, existe x ∈ P1 tal que x0 = θ1−1(x).
Da igualdade (∗), temos que
y = θ2(ψ1(x0)) = θ2(ψ1(θ−11 (x))) = (θ2◦ ψ1◦ θ−11 )(x) = γ1(x),
ou seja, y ∈ Im(γ1). Logo, Ker(γ2) ⊂ Im(γ1).
Agora suponhamos que terceira linha do diagrama seja exata. Pelo Lema da Cobra,
a segunda e a terceira linhas geram uma sequˆencia exata do tipo
0 → Ker(β1) φ1 → Ker(β2) φ2 → Ker(β3) δ −→ Coker(β1) ψ1 → Coker(β2) ψ2 → Coker(β3) → 0.
Como as colunas do diagrama do diagrama s˜ao sequˆencias exatas, temos que β1, β2 e
β3 s˜ao A-epimorfismos. Assim, Coker(βi) = Pi/Im(βi) = Pi/Pi = {0}, para i = 1, 2, 3 e
Pela exatid˜ao da sequˆencia acima e pelo fato de que δ : Ker(β3) → {0} ´e nulo, segue
que φ2 ´e um A-epimorfismo. Novamente, pela mesma exatid˜ao e pelo Primeiro Teorema
do Isomorfismo, temos que M1/Ker(f1) ∼= M1 ∼= Im(f1) = Ker(β1). Analogamente,
M2 ∼= Ker(β2) e M3 ∼= Ker(β3).
Chamando ∆i : Mi → Ker(βi) para i = 1, 2, 3, aos tais isomorfismos e, para i =
1, 2, definimos gi : Mi → Mi+1 por gi = ∆−1i+1 ◦ φi ◦ ∆i. Como observamos acima, φ2
´e um A-epimorfismo e portanto, g2 ´e um A-epimorfismo, uma vez que ´e a composta
de A-epimorfismos. Sendo φ1 um A-monomorfismo, a composta g1 ´e tamb´em um
A-monomorfismo. Assim, para concluirmos que a sequˆencia
0 → M1
g1
−→ M2
g2
−→ M3 → 0
seja exata, basta mostrarmos que Im(g1) = Ker(g2).
Para mostrarmos que Im(g1) ⊂ Ker(g2), procedemos de maneira an´aloga ao que
fizemos para a outra sequˆencia procedente do Lema da Cobra, observando agora que
φ2◦ φ1 = 0.
A outra inclus˜ao ´e tamb´em an´aloga ao que fizemos anteriormente. Por´em, para a
comodidade do leitor, vamos escrevˆe-la.
Seja y ∈ Ker(g2). Ent˜ao g2(y) = 0 e portanto, (∆−13 ◦ φ2 ◦ ∆2)(y) = 0. Da´ı,
(φ2◦ ∆2)(y) = 0, pois ∆−13 ´e um A-isomorfismo. Logo, φ2(∆2(y)) = 0 e isso nos diz que
∆2(y) ∈ Ker(φ2) = Im(φ1). Assim, existe x0 ∈ Ker(β1) tal que ∆2(y)
(∗)
= φ1(x0). Mas
tamb´em, por ser ∆1 um A-isomorfismo, existe x ∈ M1 tal que x0 = ∆1(x).
Da igualdade (∗), temos que
y = ∆−12 (φ1(x0)) = ∆−12 (φ1(∆1(x))) = (∆−12 ◦ φ1◦ ∆1)(x) = g1(x),
Conclus˜
ao
Com base nos estudos feitos at´e agora, nos perguntamos: Quais os pr´oximos assuntos
que poder´ıamos estudar `a partir da fundamenta¸c˜ao aqui apresentada?
Uma continua¸c˜ao natural seria o estudo da soma e do produto direto de m´odulos (ver
[4] e [5]) ou seguir para o produto tensorial (ver [1], [3],[4]).
Tamb´em ´e poss´ıvel continuar estudando os m´odulos injetivos, projetivos e livres (ver
[1], [3], [4] e [5]) ou iniciar os estudos dos an´eis artinianos e noetherianos (ver [4]).
Pode-se tamb´em seguir o estudo na teoria de categorias, de encontro as categorias
abelianas, chegando `as categorias semissimples, equivariantiza¸c˜ao de categorias abelianas,
Referˆ
encias
[1] ASSEM, Ibrahim. Alg`ebres et Modules: Cours et exercices. Ottawa: Masson,
1997.
[2] EVENOR, Izhak Zachi. Homological Algebra: Five and Snake Lemma. 2014.
Dis-pon´ıvel em: <https://www.tau.ac.il/~itzhakevenor/homological-algebra.
pdf>. Acesso em: 23 nov. 2017.
[3] HUNGERFORD, Thomas W.. Algebra. Nova Iorque: Springer, 2000. [4] LANG, Serge. Algebra. 3. ed. New Haven: Springer, 2002.
[5] POLCINO, Francisco Cesar. An´eis e M´odulos. S˜ao Paulo: IME-USP, 1972.