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A aprioridade do espaço no primeiro argumento da exposição metafísica (Crítica da Razão Pura, A23/B38)

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Academic year: 2021

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(1)1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA. Daniel Lopes Farias. A Aprioridade do Espaço no Primeiro Argumento da Exposição Metafísica (Crítica da Razão Pura, A23/B38). Santa Maria, RS 2017.

(2) 2. Daniel Lopes Farias. A Aprioridade do Espaço no Primeiro Argumento da Exposição Metafísica (Crítica da Razão Pura, A23/B38). Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Filosofia.. Orientador: Professor Dr. Renato Duarte Fonseca. Santa Maria, RS 2017.

(3) 2. Daniel Lopes Farias. A Aprioridade do Espaço no Primeiro Argumento da Exposição Metafísica (Crítica da Razão Pura, A23/B38). Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Filosofia.. Aprovado em 14 de agosto de 2017:. Renato Duarte Fonseca, Dr. (UFSM). Mitiele Seixas da Silva, Dra. (UFSM). Sílvia Altmann, Dra. (UFRGS). Santa Maria, RS 2017.

(4) 4. AGRADECIMENTOS. Uma dissertação não é um projeto em filosofia que se possa desenvolver só. É o produto de muito diálogo, seja apenas exercitando o pensamento a partir de diálogos com as obras, seja em sala de aula com debates sobre temas filosóficos. Nesse sentido fui privilegiado. Tive uma série de dificuldades pessoais que me acometeram ao longo dessa dissertação, dentre elas, duas foram extremamente difíceis. Perdi meu pai ao longo dessa dissertação, a quem era muito apegado sentimentalmente. Outra fiquei desempregado e sem bolsa de estudos, o que dificultou minhas condições materiais de subsistência. Contudo, nada fiz só. Depois que fiquei na penumbra financeira tive assumir um cargo público que, como requisito para posse, tinha um curso de formação de 930 horas, dividas em 7 meses, os quais estudava filosofia durante a madrugada. Entrementes, tive a sorte de ter como orientador o professor Doutor Renato Duarte Fonseca. Ele me acompanhou em todas as difíceis fases que enfrentei ao longo dessa dissertação. Chegou, no cúmulo de sua solicitude, a orientar-me por vídeo conferência nos finais de semana, quando deveria estar descansando com sua família. Tenho nele um exemplo de funcionário público, ele faz valer duas máximas esculpidas em nossa Carta Maior: a eficiência e a impessoalidade. Posto que me atendia aos finais de semana, quando sequer era obrigado, o demonstra a eficiência no serviço prestado e comprometimento com a profissão que desenvolve. Ademais, sabe, como poucos, o que significa o preceito da impessoalidade no serviço público. Pois, quando resolvi fazer mestrado sequer conhecia ele, me dirigi ao departamento para buscar orientação de um professor. O Professor Renato Duarte Fonseca, sem sequer me conhecer, marcou um horário comigo e ficou por mais de duas horas me explicando a complexidade do tema. Ainda mais, mesmo sem me conhecer, emprestou-me um livro de sua coleção pessoal para que se desenvolve meu projeto de dissertação. Posteriormente, ainda arranjou tempo para ler esse projeto e me aconselhar. Todavia, se foi a partir do professor orientador que tive as condições intelectuais para desenvolver essa dissertação, por um lado; por outro lado, tive apoio material e moral de meu pai. Pois foi graças a esse que pude cursar faculdade, dado que ele complementava meu salário todos os meses para permanecer em Santa Maria. Mais ainda, foi com meu velho pai que apreendi a perseverar em momentos de dificuldade.. A ambos, meus agradecimentos de coração..

(5) 5.

(6) 6. Resumo. A Aprioridade do Espaço no Primeiro Argumento da Exposição Metafísica ( Crítica da Razão Pura, A23/B38) Autor: Daniel Lopes Farias Orientador: Renato Fonseca Duarte. Esta dissertação tem por objetivo expor as controvérsias interpretativas sobre o primeiro argumento da aprioridade da representação do espaço na Crítica da Razão Pura. Kant, nessa obra, apresentou dois argumentos que visam provar a aprioridade da representação do espaço. Esses argumentos encontram-se na seção intitulada Estética Transcendental, seção da obra que visa descrever as contribuições a priori da sensibilidade no conhecimento humano de objetos. É na Estética Transcendental que encontramos a subseção que incumbe provar que a representação originária do espaço é uma intuição pura. Para tal intento, Kant formulou dois argumentos para provar que a representação originária do espaço é a priori, os dois primeiros argumentos; também, mais dois argumentos que objetivam provar que é uma intuição. Os dois primeiros argumentos foram objeto de diversas controvérsias e é sobre essas controvérsias que essa dissertação, mormente, se desenvolve. Primeiramente, apresento um modelo de interpretação bastante difundido desses argumentos, representado por Kemp Smith (1923). Esse autor considerava que o primeiro argumento para provar que a representação originária do espaço era insuficiente para tal prova, posto que comportava uma estrutura tautológica e, por isso, provava demais, assim sendo, afirmara que os dois argumentos constituíam uma única prova com dois passos. Contra essa interpretação se insurgiram as interpretações de Strawson (1966) e Allison (1983). Strawson (1966) afirma que o primeiro argumento para provar a aprioridade da representação originária do espaço apresenta uma condição pela qual somos capazes de reconhecer particulares sob conceitos gerais. Allison (1983) afirma que no primeiro argumento para aprioridade do espaço Kant está mostrando que o espaço é uma condição epistêmica necessária – um meio ou um veículo – para individuação de nossas percepções de objetos. Essa interpretação é possível a partir de uma leitura inusual de um termo usado no primeiro argumento: ‘außer’, termo que significa “fora”. Allison (1983) afirma que no primeiro argumento para provar a aprioridade da representação do espaço o termo ‘außer’ significa: “distinto”. A leitura de Strawson (1966) não é discordante com a de Allison (1983) nesse aspecto específico. Nesse sentido, ambos os autores tratam o primeiro argumento da aprioridade da representação do espaço como uma condição que nos permite individuar as representações que reportamos a objetos. Nesse ponto, suas interpretações são bem semelhantes, por essa razão, chamo essa exegese do primeiro argumento da aprioridade de modelo interpretativo Allison-Strawson. Warren (1999) recentemente apresentou uma interpretação que vai de encontro ao modelo interpretativo AllisonStrawson. Afirma que no primeiro argumento para provar a aprioridade da representação do espaço Kant dá um sentido espacial ao termo ‘außer’. Warren (1999) mostra como é possível essa leitura, ademais, como ela não comporta nenhuma tautologia e é mais adequada a própria literalidade do texto de Kant. É nessa celeuma que a presente dissertação é construída. No terceiro capítulo se endossa a leitura de Warren (1999) mostrando-a como uma leitura mais adequada para o primeiro argumento da aprioridade da representação do espaço na Crítica da Razão Pura..

(7) 6. Abstract. Author: Daniel Lopes Farias Advisor: Renato Duarte Fonseca This dissertation aims to expose the interpretational controversies about the argument of the apriority of the space representation in Critique of Pure Reason. In this work, Kant presented two arguments that aim to prove the apriority of the space representation. These arguments can be found in the section titled Transcendental Aesthetics, section of the work that aims at describing the contributions a priori of the sensibility in the human knowledge on objects. In the Transcendental Aesthetics we find the subsection that is supposed to prove that the representation from space is pure intuition. For such purposes, Kant formulated two arguments in order to prove that the original representation of space is the priori, the two first arguments; also, plus two arguments that aim to prove that it is an intuition. The two first arguments (arguments to prove the apriority of the space representation) were object of many controversies, and this dissertation develops upon these controversies. Firstly, I present an interpretation model well widespread of these arguments, represented by Kemp Smith (1923). These authors considered that the first argument to prove that the representation from space was enough for such proof, given that it comprised some sort of redundancy and, for this reason, proved too much, in this way, he affirmed that the two arguments constituted one only proof in two steps. Against this interpretation came two interpretations of Strawson (1966) and Allison (1983). Strawson (1966) states that the first argument to prove the apriority of the representation from space presents a condition for which we are capable of recognizing singularities about general concepts. Allison (1983) states that in the first argument for the space apriority Kant is showing that space is a necessary epistemic condition – a mean or a vehicle – for the individuation of our perceptions of objects. This interpretation is possible from an unusual reading of a term used in the first argument “außer”, which means “out”. Allison (1983) states that in the first argument to prove the apriority of the space representation the term “außer” means “distinct”. Strawson’s reading (1966) does not disagrees with Allison’s (1983) in this specific aspect. In this way, both authors treat the first argument of the apriority of space representation as a condition that allow us to individuate the representations that we report on objects. In this point, both interpretations are very similar, and for this reason, I call the exegesis of the first argument of the apriority as interpretative model Allison-Strawson. Warren (1999) recently presented one interpretation which meets the interpretative model Allison-Strawson. He states that in the first argument to prove the apriority of space representation, Kant gives a spatial meaning to the term “außer”. Warren (1999) shows how this reading is possible, moreover, how it does not comprises any tautology and is more adequate to the own literariness of Kant’s text. It is on this stir that the present dissertation is built on. In the third chapter Warren’s reading (1999) endorses showing how a more adequate reading to the first argument of the apriority of space representation in Critique of Pure Reason..

(8) 8. Sumário 1 Introdução 9 2 Escarecimentos preliminares 13 2.1 O projeto da primeira Crítica e a Estética Transcendental 13 2.2 Intuição e conceito 26 2.3 A Exposição metafísica (do conceito) de espaço 32 2.4 O primeiro argumento da aprioridade do espaço: questões 46 3 O primeiro argumento da aprioridade do espaço (M1): interpretações, problemas, alternativas 58 3.1 A interpretação de Allison 59 3.2 Problemas com a interpretação de Allison 64 3.3 A alternativa de Warren 69 4 Conclusão 81 5 Referências 83.

(9) 9. 1. Introdução. A presente dissertação tem como objetivo central descrever as principais controvérsias interpretativas acerca do primeiro argumento para a demonstração da aprioridade da representação do espaço na primeira seção da Estética Transcendental, Crítica da Razão Pura1. Mais exatamente na assim chamada Exposição metafísica do (conceito de) espaço. Será considerada, em particular, uma das mais importantes controvérsias sobre o tema na literatura recente, a saber, aquela que encontramos em autores como Henry Allison (1983) e Peter F. Strawson (1966), de um lado, e a alternativa oferecida mais recentemente por Daniel Warren (1999), de outro. O capítulo 2 tem como foco principal o §1 da Estética, com o objetivo de esmiuçar alguns dos principais conceitos mobilizados por Kant ali. Com essa finalidade, explorarei outras passagens da primeira Crítica, assim como outras obras de Kant, sempre com atenção à literatura secundária mais relevante. O objetivo será fixar o significado de algumas noções fundamentais do vocabulário kantiano, como ‘intuição’, ‘conceito’, ‘a priori’, ‘a posteriori’, ‘sensibilidade’, ‘entendimento’, dentre outras noções que aparecem nesse parágrafo. Começarei por alguns comentários gerais sobre o prefácio com o objetivo de introduzir o leitor ao texto. Como o objetivo central dessa dissertação é descrever algumas controvérsias interpretativas sobre o primeiro argumento da aprioridade da representação do espaço na Crítica da Razão Pura, apontarei a distinção entre sensibilidade e entendimento e afirmarei em que consiste uma intuição pura, pois a afirmação da Exposição metafísica do (conceito de) espaço é a de que essa representação é uma intuição pura. Com isso, alguns possíveis problemas mencionados na literatura secundária 1. As citações da Crítica da Razão Pura seguem o modelo já consolidado, para a primeira edição ('A') e/ou para a segunda edição ('B'). Fiz uso extensivo da tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão (conforme indicado nas referências), combinado com outras edições, indicadas na bibliografia. Para as demais obras de Kant são usadas as marcações da Akademieausgabe von Immanuel Kants Gesammelten Werken, precedida por 'AA', juntamente a tradução em português usada, indicada ao final da dissertação..

(10) 10. emergirão. Como a afirmação de. que. não. poderíamos. separar,. sequer. nocionalmente, a sensibilidade do entendimento (MCDOWELL, 1994). Ao que indicarei um tratamento a esse suposto problema a partir de Bird (2006). Posteriormente, ainda na seção 2.1, passarei a um comentário detalhado do §1 da Estética Transcendental, a fim de caracterizar alguns termos chave que aparecem nesse parágrafo inicial. Para isso, farei uso de algumas outras obras de Kant e de alguns comentadores clássicos da filosofia kantiana. Dedicarei a seção 2.2 para uma exposição mais minuciosa das noções de intuição e conceito. Sobretudo dando especial enfoque a duas características que descrevem a intuição (uma vez que o tema central dessa dissertação é sobre a intuição pura do espaço): imediatidade e singularidade. Descrevei a controvérsia que há na literatura e apresentarei a posição que creio ser mais adequada. Na seção 2.3 apresentarei os quatro argumentos para provar que o espaço é uma intuição a priori. Mas, antes disso, faço algumas considerações iniciais e introdutórias ao §2 da Estética transcendental. Tento apontar o significado do termo ‘Gemüt’ que aparece nessa seção. Apresento, também, as três hipóteses elencadas por Kant sobre a natureza da noção de espaço e a que perspectiva filosófica elas se referem. Ademais, na seção 2.3, sublinho algumas divergências interpretativas que o primeiro argumento da aprioridade da representação do espaço suscitou, faço isso de modo sucinto, pois dedicarei especial atenção a esse argumento na seção 2.4, a qual se destina só a ele. Antes disso, portanto, apresento na seção 2.3 algumas interpretações. do. segundo. argumento da aprioridade e dois argumentos. subsequentes, os quais provam a intuitividade da representação do espaço na Exposição Metafísica. Ainda na seção 2.3 detalharei a estrutura do segundo argumento da aprioridade do espaço com a interpretação de Allison (1983) desse argumento. Apresentarei o problema da infinitude da representação do espaço e apontarei a leitura de Torretti (1967) como um excelente comentário para eliminar esse suposto problema. Na seção 2.4 apresentarei o tratamento dado por Allison (1983) a um suposto problema que Maass havia apontado, o qual supostamente teria levado Paton (1936) a crer que o primeiro argumento da aprioridade da representação espaço é insuficiente e, assim considerar que os dois primeiros argumentos constituem uma.

(11) 11. única prova com dois passos. Nessa mesma seção mostrarei a interpretação de Allison (1983) e de Strawson (1966) do primeiro argumento da aprioridade da representação do espaço na primeira Crítica. Mostrei, na seção 2.4, que Allison (1983) e Strawson (1966) possuem uma interpretação bem similar do primeiro argumento para provar a aprioridade da representação do espaço. Por essa razão, chamarei essa forma de interpretar de modelo Allison-Strawson. O problema, levantado por Maass, consiste em afirmar que a estrutura do primeiro argumento da Exposição Metafísica do (conceito de) espaço é tautológica e, por isso, prova demais. Descreverei em detalhes esse suposto problema na seção 3. Onde demonstrarei que interpretação de Allison (1983) escapa a essa suposta tautologia dando um sentido inusual ao termo ‘außer’. Para Allison, Kant apresenta no primeiro argumento da aprioridade da representação do espaço na primeira Crítica um meio ou veículo para distinção de representações que reportamos a objetos. Allison (1983) assim, afirma que ‘außer’ quer dizer “distinto de” e não “fora de”. Com isso, resolve o suposto problema da redundância que a estrutura do primeiro argumento comportaria. Isso será detalhado na seção 3.1. Na seção subsequente (3.2) apontarei alguns problemas nessa interpretação de Allison (1983). Sobretudo, três problemas: a) a distorção do sentido do termo ‘außer’, o qual é um termo com sentido espacial; b) a antecipação de uma discussão que somente aparecerá na Anfibologia e, com isso, c) a quebra do paralelismo que há entre as exposições metafísicas na primeira Crítica. Todos esses problemas estão relacionados. Na seção 3.3 apresentarei a leitura Daniel Warren (1999) sobre o primeiro argumento da aprioridade da representação do espaço como uma alternativa à interpretação de Allison (1983) e P. F. Strawson (1966). Nesse capítulo, mostrarei os pontos de divergência entre o modelo interpretativo Allison-Strawson e a proposta interpretativa de Warren do primeiro argumento da aprioridade da representação do espaço. Objetivando, mormente, mostrar o porquê da leitura de Warren (1999) do primeiro argumento da aprioridade da representação do espaço ser mais adequada que a de Allison (1983). Na conclusão apresentarei algumas dificuldades em que me envolvi para escrita dessa dissertação. Faço um apanhado geral do que fora desenvolvido e mostro que, na reescrita da obra de 1983, Allison (2004), apenas contorna aquelas.

(12) 12. dificuldades apresentadas por Warren (1999) sem apresentar uma resposta satisfatória ao mesmo..

(13) 13. 2. Esclarecimentos Preliminares. Como já exposto preliminarmente (na introdução) a presente dissertação tem como objetivo central a exposição das controvérsias interpretativas sobre o primeiro argumento da aprioridade da representação na Exposição Metafísica (doravante M1)2. Todavia, há alguns esclarecimentos iniciais sobre a Estética Transcendental que se fazem necessários. De início, tratarei de algumas questões atinentes ao lugar da Estética Transcendental em relação ao projeto da primeira Crítica, explorando algumas afirmações de Kant nos prefácios e na introdução da obra (seção 2.1.). No começo da próxima seção irei deter-me em apresentar aspectos gerais da estrutura da primeira Crítica com respeito à divisão entre entendimento e sensibilidade. Para tanto, explorarei o significado do termo ‘krínein’, a fim de estabelecer em que consiste, nos termos dos prefácios da primeira Crítica, tal crítica da razão operada por ela mesma. Nos parágrafos e seções subsequentes seguirei a ordem de exposição que descrevi na introdução: delimitarei o significado de alguns termos usados por Kant nessa obra; apresentarei a Estética Transcendental, detalhando a Exposição Metafísica do (conceito de) espaço, a partir da interpretação do modelo AllisonStrawson e outros; por último, apresentarei a perspectiva interpretativa de Warren (1999) sobre (M1).. 2.1. O projeto da primeira Crítica e a Estética Transcendental. No prefácio à primeira Crítica3, Kant, afirma que desenvolverá sua empreitada. 2 Usarei as abreviaturas utilizadas por Fichant (1999). Para o primeiro argumento da Exposição Metafísica (do conceito) de espaço (M1), para o segundo (M2), assim consecutivamente.. 3 Farei uso aqui do prefácio da primeira e da segunda edição, por uma razão óbvia: o prefácio à segunda edição, somado ao da primeira, tem quase o dobro do volume, isso se justifica pelo fato das impressões causadas aos primeiros leitores de Kant terem gerado, segundo o próprio Kant, muitíssimas incompreensões sobre a doutrina que compunha a primeira Crítica. Assim sendo, o segundo prefácio traz explicações mais minuciosas sobre sua filosofia, contudo, o primeiro.

(14) 14. filosófica apenas com o empenho da própria razão e o pensar puro (KANT, 2001, p. 33; A XIV). Portanto, trata-se de uma crítica empreendida pela própria razão que visa determinar os limites e possibilidades do conhecer humano, ou seja, uma crítica em que a razão humana desempenha o papel de juiz de si mesma (KANT, 2001, p. 44; B XII).. (...) ocupo-me unicamente da razão e do seu pensar puro e não tenho necessidade de procurar longe de mim o seu conhecimento pormenorizado, pois o encontro em mim mesmo e já a lógica vulgar me dá um exemplo de que se podem enunciar, de maneira completa e sistemática, todos os atos simples da razão. (KANT, 2001, p. 33; A XIV) A razão, tendo por um lado os seus princípios, únicos a poderem dar aos fenômenos concordantes a autoridade de leis e, por outro, a experimentação, que imaginou segundo esses princípios, deve ir ao encontro da natureza, para ser por esta ensinada, é certo, mas não na qualidade de aluno que aceita tudo o que o mestre afirma, antes na de juiz investido nas suas funções, que obriga as testemunhas a responder aos quesitos que lhes apresenta. (KANT, 2001, p. 44; B XIII). O próprio termo ‘crítica’ (HAMM, 2012, p. 15) já aponta para esse caminho. Advém do termo grego ‘krínein’, que significa: distinguir, separar, discernir, julgar; assim sendo, para poder separar algo, deve haver certos limites que separam esse algo, ou seja, é necessário que, a partir de certos critérios ou princípios seja possível separar aquilo que podemos conhecer daquilo que não podemos conhecer. Para tamanho intento, deve-se, primeiramente, determinar quais são as condições de possibilidade do conhecimento, efetuando assim uma crítica: separando aquilo que pertence à sensibilidade, daquilo que pertence ao entendimento. Assim, se poderia determinar os elementos que compõem o conhecer humano e distinguir entre eles. Ora, eis o ponto extraordinário, já na introdução, que torna a filosofia de Kant distinta das coetâneas: ao separar sensibilidade do entendimento, para os propósitos de sua investigação, Kant, já no prefácio, acrescenta uma afirmação que fará de sua filosofia algo distinto de todas as demais: a assunção de que podemos, com respeito à sensibilidade, separar aquilo que pertence às sensações daquilo que pertence à forma da nossa sensibilidade, em outras palavras, é possível uma investigação sobre a forma da sensibilidade a priori. prefácio não se torna obsoleto, ao contrário, muitas das explicações ali contidas complementam o escrito do prefácio da segunda edição..

(15) 15. Esse ponto muitas vezes não é realçado devidamente, dado que parece ser lugar comum entre os comentadores, sendo apenas mais um dos traços distintivos da filosofia de Kant (a afirmação de que há formas puras da sensibilidade). Contudo, ainda que para os leitores de Kant isso possa parecer trivial, do ponto de vista da história da filosofia, é extraordinário, assim sendo merece algum realce. Nesse sentido, creio que as palavras de Torretti sejam uma boa descrição disto:. Kant estabelece, primeiramente, que espaço e tempo são representações a priori. Conforme as convicções herdadas [da história da filosofia] isso significaria que se trata de representações intelectuais. Desde Platão, se associou a sensibilidade ao saber empírico recebido [através da experiência]. Essa correspondência se ajusta, também, às determinações da sensibilidade e do entendimento que Kant compartilhava com Leibniz [nos escritos anteriores a 1768]. Com efeito, se uma representação não é dada em virtude de nossa afecção com a sensibilidade, terá que ser produzida por um ato de nossa espontaneidade, e será, portanto, uma representação de nosso entendimento. Por isso, é tão importante o passo seguinte de Kant, pelo qual estabelece que nossas representações a priori do espaço e tempo não são representações intelectuais, não são, como ele diz, ‘conceitos’, senão, ‘intuições’, e pertencem, portanto, à sensibilidade. Com esse descobrimento, à primeira vista insignificante, Kant rompia com uma tradição de dois milênios e assentava as bases para uma revolução no pensamento. (TORRETTI, 1967, p. 167, grifos e colchetes meus.). Ao separar a sensibilidade do entendimento, Kant afirmou haver duas formas puras da sensibilidade que condicionam a intuição humana, as representações do espaço e do tempo. No empreendimento da primeira Crítica, operado pela estratégia de separação da sensibilidade e do entendimento, Kant reporta-se a duas formas puras que condicionam a percepção de objetos, passo esse, que marca o território da filosofia de Kant na primeira Crítica. Ademais, Torretti mostra a tamanha importância da doutrina de Kant ao compará-la com outros filósofos, uma vez que esse passo não representa somente o rompimento com a filosofia pré-crítica, em grande parte concordante com as concepções do espaço e tempo da filosofia de Leibniz (até o rompimento em 1768), mas um rompimento com toda a tradição filosófica. Uma vez que, se as intuições do espaço e do tempo não eram consideradas como advindas da afecção sensível, eram reportadas ao entendimento. Descartes (2004) é um exemplo disso, na Segunda Meditação, ao extrair tudo que pertencia aos sentidos, imputa ao pensamento (e não as formas a priori do sujeito cognoscente, caso de Kant), a.

(16) 16. extensão e a figura. Essa saliente diferença que marca o território da filosofia kantiana perante as demais é operada com vistas ao que já tinha sido afirmado no prefácio da primeira Crítica, procurar discernir (krínein) aquilo que pertence à sensibilidade (a priori) daquilo que pertence ao entendimento (a priori). O intuito de Kant é mostrar os limites do conhecimento humano. Para. tal. intento,. Kant. menciona. os. quatro. princípios:. integridade. (Vollständigkeit), minuciosidade (Ausführlichkeit), certeza (Gewissheit) e clareza (Deutlichkeit) (HAMM, 2012, p.17), que o guiaram na investigação (AXV e AXVI), os quais o orientaram a fim de descrever “o inventário sistematicamente ordenado de todas as nossas posses adquiridas pela razão pura” (KANT, 2001, p. 36; AXX). No prefácio à segunda edição da primeira Crítica, Kant aduz algumas outras afirmações, a somarem-se às do prefácio da primeira edição, objetivando melhor explicar em que consiste a tarefa de formular seu inventário de todas as posses da razão a priori, sublinhando a distinção entre sensibilidade e entendimento, além de lançar mão de algumas analogias com as ciências que progrediram ao deixarem de guiarem-se apenas pelos objetos de seu conhecimento para considerar, igualmente, o sujeito que os conhece (KANT, 2001, p. 49; BXXII). A primeira Crítica segue a estrutura geral que é descrita no prefácio: a Estética visa descrever as contribuições da sensibilidade; a Analítica, as do entendimento, para o conhecimento humano. Essa distinção põe em prática o que é afirmado nos prefácios: uma das partes da primeira Crítica faz o inventário do que pertence a priori à sensibilidade; a outra parte, do que pertence a priori ao entendimento. Esse. procedimento. metodológico. de. Kant. começará. pela. Estética. transcendental, a qual incumbe mostrar a contribuição da sensibilidade a priori em nosso conhecimento. Essa seção demonstrará que há duas formas da sensibilidade a priori: espaço e tempo. A partir disso podemos formular dois questionamentos. Um que diz respeito à própria afirmação de Kant de que intuições sem conceitos seriam cegas; a outra, de que sem o entendimento, ou sem auxílio dos conceitos, seríamos incapazes de reconhecer intuições sensíveis enquanto tais. Podemos denominar esses questionamentos como relativos ao problema da cegueira. Esse consiste em afirmar a necessidade de cooperação entre entendimento e sensibilidade com vistas ao conhecimento humano de objetos. Lorne Falkeinstein (1995) foi quem chamou, pela primeira vez, o problema da separação.

(17) 17. entre entendimento e sensibilidade, com vistas ao conhecimento de objetos, como problema da cegueira. Esse problema gravita em torno da proposta metodológica de apresentar um inventário de todas as posses da razão a priori. Na Estética Kant apresenta duas formas puras da sensibilidade, assim sendo, surge o questionamento sobre a possibilidade de reconhecimento dessas formas puras sem o auxílio do entendimento, pois, no livro sobre o entendimento Kant afirma que: Sem a sensibilidade, nenhum objeto nos seria dado; sem o entendimento, nenhum seria pensado. Pensamentos sem conteúdo são vazios; intuições sem conceitos são cegas. (Kant, 2001, p. B 75). Há, sobre esse aspecto, dois problemas: o primeiro afirma que não seríamos capazes de reconhecer uma experiência sensória pura, ou seja, sem auxílio dos conceitos. O segundo, o qual é ressaltado por McDowell (1994, p. 51) é que não podemos, nem nocionalmente, separar o entendimento da sensibilidade. Contudo, não partilhamos dessa última perspectiva. Ao menos duas vezes na primeira Crítica, em B 5-6 e M2, podemos perceber um exemplo de procedimento metodológico em que Kant visa demonstrar as distintas contribuições, para o conhecimento humano de objetos, do entendimento e da sensibilidade. Contudo trata-se de um procedimento teórico ou fictício: não se trata de uma separação em sentido estrito. O procedimento empreendido por Kant é descrito em B 5-6. Nessa passagem, Kant, para mostrar a necessidade e universalidade de alguns tipos de representações, abstraiu tudo o que possível, para ver se resta algo inalienável em nossa estrutura representacional. A passagem tem a seguinte redação:. Eliminai, pouco a pouco, do vosso conceito de experiência de um corpo tudo o que nele é empírico, a cor, a rugosidade ou macieza, o peso, a própria impenetrabilidade; restará, por fim, o espaço que esse corpo (agora totalmente desaparecido) ocupava e que não podereis eliminar. (Kant, 2001, p. 34; B5-6). No segundo argumento da aprioridade da representação do espaço – o qual será comentado na seção 2.3 – Kant faz um procedimento similar. Obviamente, esse argumento tem o objetivo de estabelecer outros pontos teóricos de sua filosofia (apresentar o espaço como a forma do sentido externo), contudo, o procedimento de.

(18) 18. abstração, como vista à demonstração daquilo que pertence à sensibilidade a priori, é semelhante. Esse procedimento metodológico, indiretamente, nos conduz ao segundo problema, supramencionado. Contudo, trata-se da implementação do método que visa estabelecer as posses a priori da sensibilidade, apenas. Assim sendo, aqui nós não endossamos a afirmação de McDowell (1994, p. 41) de que é impossível separar, ainda que para fins teóricos, as posses a priori da sensibilidade.4 Ainda, cabe observar que o próprio Kant viu esse problema5. Kant afirma que podemos separar, em nossa representação, com objetivos teóricos – isto é: a fim de descrever seu inventário – as posses a priori de cada faculdade:. O entendimento nada pode intuir e os sentidos nada podem pensar. Só pela sua reunião se obtém conhecimento. Nem por isso se deverá confundir a sua participação; pelo contrário, há sobejo motivo para os separar e distinguir cuidadosamente um do outro. (B75-76, meus grifos). Há sobejo motivo, diz Kant, ou seja, há uma razão imperiosa pela qual devemos fazer essa separação entre cada faculdade: com vistas a distinguir (krínein) e separar a contribuição de cada uma delas para o conhecimento humano. Bird (2006, p. 127) afirma que a posição de McDowell (1994) está equivocada. Bird faz uma analogia com algumas eficazes distinções artificiais que adotamos com vista a classificações de aspectos distintos que estão envolvidos em nosso conhecimento. Sua analogia para com a separação metodológica feita por Kant na primeira Crítica, entre entendimento e sensibilidade, é dada a partir de nossa separação entre sintaxe e semântica. Segundo ele: A concepção abstrata resultante da experiência sensorial “pura” é 4. 5. McDowell na obra em questão, como a entendo, quer fugir de duas perspectivas epistêmicas, as quais, em seu entendimento, conduzem a problemas insolúveis: o mito do dado e o coerentismo. Usa como ícones dessas perspectivas Davidson e Evans (o primeiro como um grande exponente do coerentismo, o último como defensor de um tipo de mito do dado). O ponto crucial, se é que entendo a obra, é assegurar uma coerção da experiência em conjunto com a espontaneidade do entendimento, assim, postulando uma responsabilidade epistêmica dos juízos perante o mundo. Para tal intento, afirma que na receptividade as capacidades conceituais já estão operantes. Eis aí o ponto que leva a afirmar que nem nocionalmente poderíamos separa a sensibilidade do entendimento. Uma questão filosoficamente relevante sobre esse ponto não advém da questão se Kant conhecia do problema, isso é afastado pelo próprio texto do filósofo, mas sim, sobre a possibilidade de identificar conteúdos sensórios sem auxílio do entendimento. Esse ponto foge ao objetivo dessa dissertação, contudo, o leitor achará um tratamento, o qual já faz parte dos clássicos contemporâneos em filosofia, em McDowell (1994)..

(19) 19. artificial e teórica, mas não é mais problemática do que outras distinções teóricas, tais como aquela entre a sintaxe e semântica das frases de uma língua natural. Sentenças proferidas não são apresentadas com componentes sintáticos e semânticos distintos; distinguimos suas características sintáticas e semânticas de uma forma abstrata a partir de uma apresentação uniforme, que é semelhante. (BIRD, 2006, p. 129). No uso da linguagem não separamos os elementos sintáticos e semânticos nos quais podemos implementar uma investigação sobre a linguagem, contudo, não é por isso que essa classificação se torna improcedente. A classificação nos usada a compreender os diferentes aspectos que estão envolvidos na linguagem (tanto falada como escrita). Da mesma forma, a representação de um objeto, para nós humanos, também não se apresenta com as contribuições separadas, do entendimento e da sensibilidade. Contudo, podemos distinguir entre diferentes contribuições com o intuito de melhor compreender o modo como representamos objetos. Em síntese, podemos afirmar que: a) Kant estava ciente dos problemas que envolvem essa separação (KANT, 2001, p.114 B 75-76); b) há tratamentos possíveis a esse problema, assim sendo, não se trata de uma barreira intransponível que deve conduzir à rejeição da separação; c) como Kant mesmo afirma no prefácio da primeira Crítica, trata-se de uma divisão com vistas à formulação de um inventário a priori das posses da razão, a fim de determinar o que pertence a priori à sensibilidade e o que pertence a priori ao entendimento, ou seja, determinar as contribuições de cada uma dessas duas faculdades, as quais, juntas, formam o modo humano de conhecer objetos. Portanto, uma distinção metodológica para a apresentação das posses a priori de cada uma das duas faculdades, não uma cisão entre as duas. Gostaria de tratar agora do vocabulário kantiano. Na primeira alínea6 do §1º da Estética Transcendental, juntamente as duas alíneas subsequentes. Kant, nessa 6. Chamo de alíneas para evitar redundância, do contrário, terei que afirmar que o §1 é composto por seis parágrafos, o que soaria redundante. Assim sendo, toda vez que o leitor se deparar com o termo “alínea” a referência será um parágrafo específico. Faço isso a fim de delimitar perfeitamente as passagens que serão comentadas. Alguém poderia, no entanto, questionar: por que não usar somente as numerações específicas das edições A e B. Respondo que advenha o questionamento: essa dissertação tenta aprofundar um tópico específico na Estética Transcendental, qual seja, o primeiro argumento da aprioridade do espaço. Tem, portanto, como problema central, doze linhas apenas (o primeiro argumento, em das traduções para o português, aqui usadas, tem esse número de linhas). De modo que, por vezes, um pequeno período terá suma importância. Assim sendo, além de utilizar as marcações oficias de A e B, às vezes, citarei pequenos trechos ou alíneas (parágrafos) da obra..

(20) 20. passagem, traz à baila uma série de termos: ‘intuição’, ‘sensação’, ‘sensibilidade’, ‘pensamento’, ‘matéria’, ‘forma’, ‘aparência’, ‘imediata’ e ‘objeto’. Termos esses que são parte do vocabulário de sua filosofia e sua compreensão é condição fundamental ao bom entendimento de sua doutrina filosófica. Contudo, esses termos não têm uma caracterização peremptória no início da Estética transcendental. Nessa seção, temos apenas caracterizações preliminares, dado a brevidade dessa seção. Assim sendo, passarei a caracterização desses termos – à medida do possível, pois a controvérsia ainda é muito grande sobre o significado de alguns termos. Kant divide as contribuições distintas do conhecimento advindas da sensibilidade e do entendimento. O vocabulário das noções acompanha essa divisão: as noções que descreverá enquadram-se ao entendimento ou à sensibilidade. O §1 da Estética Transcendental possui apenas seis alíneas. Podemos dividir essas alíneas, em linhas gerais, com o seguinte objetivo: as quatro primeiras esboçam seu vocabulário, as duas últimas descrevem em que consiste o estudo da Estética Transcendental e o tipo de investigação que será adimplida (Kant, 2001, p. 88-89; A21/B35-6). Assim sendo, gostaria de começar pelas duas últimas alíneas da seção com o intuito de melhor organizar o texto desta dissertação. Kant compreende por estética a ciência daquilo que é apresentado aos sentidos. À Estética Transcendental compete a apresentação do que pertence a priori à sensibilidade. A explicação tem paralelo com a explicação da Lógica Transcendental; esta versa sobre as contribuições a priori do entendimento na constituição do conhecimento. Kant caracteriza a Estética Transcendental da seguinte maneira:. Designo por estética transcendental uma ciência de todos os princípios da sensibilidade a priori. Tem que haver, pois, uma tal ciência, que constitui a primeira parte da teoria transcendental dos elementos, em contraposição à que contém os princípios do pensamento puro e que se denominará lógica transcendental. (A21/B35-6). Em A22, Kant retoma o já afirmado no prefácio: isolará aquilo que pertence à sensibilidade, primeiramente, abstraindo das contribuições do entendimento. Com isso, apresentará os aspectos constitutivos do conhecimento de objetos que não são.

(21) 21. dados, unicamente, nas afecções, mas sim, elementos constitutivos do modo ou meio humano de conhecer que se encontram a priori na sensibilidade.. Na Estética Transcendental, por conseguinte, isolaremos primeiramente a sensibilidade, abstraindo de tudo o que o entendimento pensa com os seus conceitos, para que apenas reste a intuição empírica. Em segundo lugar, apartaremos ainda desta intuição tudo o que pertence à sensação para restar somente a intuição pura e simples, forma dos fenômenos, que é a única que a sensibilidade a priori pode fornecer. Nesta investigação se apurará que há duas formas puras da intuição sensível, como princípios do conhecimento a priori, a saber, o espaço e o tempo, de cujo exame nos vamos agora ocupar. (A22). Inobstante, qual a razão de começar pela sensibilidade e não pelo entendimento? Essa última pergunta permite-me remeter as primeiras alíneas do §1º primeiro da Estética Transcendental e fazer uma combinação de três passagens complementares. Segundo Kant, não importa o meio ou modo pelo qual um conhecimento7 se reporta a objetos, é pela intuição que ele se relaciona imediatamente com eles: Sejam quais forem o modo e os meios pelos quais um conhecimento se possa referir a objetos, é pela intuição que se relaciona imediatamente com estes e ela é o fim para o qual tende, como meio, todo o pensamento. Esta intuição, porém, apenas se verifica na medida em que o objeto nos for dado. (A19/B33). Kant, explicitamente afirma: à medida que o objeto for dado, ou seja, não há intuição que seja anterior, na ordenação temporal, à afecção. O que afirma que é mediante a uma presentação de um objeto à sensibilidade que podemos falar de intuição. Não só, mais ainda, se todo o conhecimento enquanto meio tem como fim uma intuição, não há sentido em falar de uma intuição que seja anterior a afecção sensível pelos objetos. Combinando a passagem acima com B1: “Não resta dúvida de que todo o nosso conhecimento começa pela experiência [...]” (grifo meu), podemos aduzir 7. O termo em alemão é Erkenntnis, traduzido, nessa passagem, em português, como conhecimento. Isso merece uma certa qualificação para não conduzir a equívocos. A noção de conhecimento é associada, ao menos na tradição platônica mais ortodoxa, com a verdade e a justificação. Para essa passagem se está apontando algo mais elementar: um processo cognitivo, no qual, as coisas (sejam lá o que forem) aparecem e um processo cognitivo correspondente a esse aparecer, se se tratar de uma representação com consciência: uma referência dessa cognição ao objeto..

(22) 22. que as formas a priori não são formas inatas, são elementos do modo humano de conhecer que são despertados por ocasião da afecção dos sentidos como os objetos.8 Na Introdução à Lógica Transcendental, Kant, reforça o que já fora dito, que nosso conhecimento advém de duas fontes fundamentais: a sensibilidade e o entendimento:. O nosso conhecimento provém de duas fontes fundamentais do espírito, das quais a primeira consiste em receber as representações (a receptividade das impressões) e a segunda é a capacidade de conhecer um objeto mediante estas representações (espontaneidade dos conceitos); pela primeira é-nos dado um objeto; pela segunda é pensado em relação com aquela representação (como simples determinação do espírito). Intuição e conceitos constituem, pois, os elementos de todo o nosso conhecimento, de tal modo que nem conceitos sem intuição que de qualquer modo lhes corresponda, nem uma intuição sem conceitos podem dar um conhecimento. (KANT, 2001, p. 114, B 75/A50, meus grifos). De modo que, combinado à passagem em B1, a ordem de apresentação torna-se óbvia: deve-se apresentar o que pertence a priori sensibilidade, para depois apresentar o que pertence a priori ao entendimento, pois se nenhum objeto fosse dado – nos termos do próprio Kant — ele não poderia ser pensado. Se, de outra forma, não houvesse uma afecção e, assim mesmo, empreendêssemos uma investigação de nossas formas puras do conhecimento de objetos, estaríamos, assim, há crer que há formas da sensibilidade que não são a priori, mas sim, inatas, o que não é o caso para Kant.9 Dessa forma, devemos ler a afirmação de B1 como uma advertência: nada precede, na ordem temporal, a afecção sensível, pois, ainda que nossa estrutura 8. 9. O ponto em questão marca um redirecionamento do debate sobre a origem das representações. Note-se que Kant, tanto na passagem em questão, como na Estética, não entra diretamente no debate, segundo Marques (1990), a disputa entre o abstracionismo e o inatismo, para Kant, era um ponto já superado (pp. 44,45). Kant rejeita diretamente as representações inatas na Resposta a Ebehrard, em suas palavras: “A crítica não admite nenhuma representação incriada ou inata; para ela são todas, em absoluto, adquiridas, pertencendo à intuição ou aos conceitos do entendimento. Porém também se verifica uma aquisição originária, como dizem os mestres do direito natural e, consequentemente, também daquilo que não existia anteriormente e não possuía, portanto, nada de nenhum objeto antes dessa operação.” (KANT, 1975, P. 69). E nesses termos que se expressa Kant para mostrar que a intuição formal do espaço é uma adquirida, de modo originário, ou seja, tem seu fundamento no próprio sujeito, portanto, não é derivada da experiência. Esse é um sentido em que podemos abordar o termo a priori em Kant, contudo, há outro: o aspecto epistêmico ou de justificação. Esse segundo modo de abordagem do conceito kantiano será exposto no segundo e terceiro capítulo dessa dissertação a partir da leitura de Allison (1983)..

(23) 23. representacional possa encontrar-se em potencial antes dela, ela somente se desenvolve por ocasião dessa afecção pelos objetos. Por essa razão qualquer investigação sobre nossas estruturas a priori somente pode ser empreendida com essa condição. Na última alínea do §1 da Estética transcendental, Kant, também, indica ao leitor o tipo de investigação que empreenderá: isolará da sensibilidade de tudo que a ela não pertence (às contribuições do entendimento) para, por último, apartar tudo o que, na sensibilidade, pertence à sensação (que é dada pela afecção). Com isso, restará, unicamente, aquilo que pertence a priori à sensibilidade. Essa alínea visa alertar o leitor do tipo de investigação que será empreendida. Um tipo de investigação que visa distinguir o que está a priori na sensibilidade do que é dado a posteriori10, a qual é a matéria da afecção sensível. Com respeito à afecção dos sentidos pelos objetos podemos associar, nas sensações, a matéria. A matéria das sensações é aquilo que é fornecido pelos objetos por ocasião da afecção sensível. Em razão disso, toda a matéria da intuição do fenômeno é a posteriori, uma vez que é dada na afecção dos sentidos pelos objetos. Esse é o teor do excerto da segunda alínea do §1º da Estética Transcendental: O efeito de um objeto sobre a capacidade representativa, na medida em que por ele somos afetados, é a sensação. A intuição que se relaciona com o objeto, por meio de sensação, chama-se empírica. O objeto indeterminado de uma intuição empírica chama-se fenômeno. (B34, meus grifos). Essa afecção também marca uma característica distintiva da sensibilidade, ela é receptiva (o grifo indica isso). Ou seja, ela é afetada por objetos que despertam uma sensação. Essa afecção pode ser determinada. Ela é determinada quando se reporta a algum objeto (gegenstand), se isso ocorrer, ela se chamará intuição. Se o objeto de uma intuição for indeterminado se chamará fenômeno. É por meio das aparências que os objetos são apresentados a consciência. Embora sensações e intuições sejam ambos estados mentais, podemos distingui-las pelo seu conteúdo. A sensação está ligada a matéria dos fenômenos, já a intuição está ligada a forma dos fenômenos. Com isso, podemos aplicar a distinção a priori e a posteriori,. 10. Ainda que para fins teóricos, como afirma Bird (2006), veja o comentário dele já exposto no início dessa seção..

(24) 24. respectivamente, a forma e a matéria, essa é a sugestão de Bird (2006, p.135). Isso é afirmado diretamente na terceira alínea do §1º da Estética Transcendental:. Dou o nome de matéria ao que no fenômeno corresponde à sensação; ao que, porém, possibilita que o diverso do fenômeno possa ser ordenado segundo determinadas relações dou o nome de forma do fenômeno. Uma vez que aquilo, no qual as sensações unicamente se podem ordenar e adquirir determinada forma, não pode, por sua vez, ser sensação, segue-se que, se a matéria de todos os fenômenos nos é dada somente a posteriori, a sua forma deve encontrar-se a priori no espírito, pronta a aplicar-se a ela e portanto tem que poder ser considerada independentemente de qualquer sensação. (B34). Na assim chamada “passagem da classificação” (Kant, 2001, p. 339; A320/B376-377), Kant distingue dois tipos de cognições ou conhecimentos [Erkenntnisse], a saber, intuição e conceito. À luz da explícita rejeição, por Kant, de que possamos ter conhecimento apenas com intuições ou apenas com conceitos (A51/B75-6), devemos compreender essa distinção como uma distinção entre dois tipos de representações cognitivas ou elementos de conhecimento. Kant afirma que a intuição é o que se relaciona imediatamente com um objeto e é singular (einzeln); por contraposição, os conceitos se relacionam mediatamente com os objetos e são gerais. Além disso, anteriormente, no prefácio, Kant já fazia menção a um tipo específico de investigação sobre a intuição. Enquanto discorria sobre o estado deplorável da metafísica em sua época, deixa-nos a seguinte passagem:. Se a intuição tivesse de se guiar pela natureza dos objetos, não vejo como deles se poderia conhecer algo a priori; se, pelo contrário, o objeto (enquanto objeto dos sentidos) se guiar pela natureza da nossa faculdade de intuição, posso perfeitamente representar essa possibilidade. (KANT, 2001, p.41; BVII). Kant aponta nessa passagem a possibilidade de um tipo de investigação sobre a intuição a priori. Abre uma possibilidade investigativa na sensibilidade que não está condicionada pela afecção, diretamente, aliás, que condiciona a própria intuição de objetos. Deixa, já aqui, se entrever a possibilidade do significado amplo do termo intuição. Na passagem acima: uma representação que pertence à sensibilidade, inobstante, que não é totalmente condicionada pela afecção sensível, portanto, que.

(25) 25. depende, também, da forma como intuímos. Prossegue Kant:. Também na parte analítica da Crítica se demonstrará que o espaço e o tempo são apenas formas da intuição sensível, isto é, somente condições da existência das coisas como fenômeno. (KANT, 2001, p.50; B XXV).. No primeiro parágrafo da Lógica de Jäsche Kant reafirma o já dito na “passagem da Classificação”, sobre representações com consciência e acrescenta que conceitos são representações gerais, em contraposição a intuição, que é singular.. Todos os modos de conhecimento, isto é, todas as representações relacionadas a um objeto com consciência são intuições ou conceitos. A intuição é uma representação singular (representatio singularis), o conceito geral (representatio per notas communes) ou a representação refletida (representatio discursiva). (KANT, 1992, p. 109/ AA 09:139). Kant, no mesmo capítulo, afirma que um conceito é distinto de uma intuição, pois é uma representação universal em seu âmbito de aplicação, assim sendo, uma noção (notio) que pode recair sob um número indeterminado de objetos. Esse é seu sentido de universalidade11. Um conceito se opõe à intuição por ser uma representação universal, ou uma representação do que é comum a muitos objetos, por conseguinte uma representação na medida em que pode estar compreendida em uma diversidade (KANT, 1992 AA 12:143). Com essas passagens combinadas já é possível afirmar uma distinção pontual entre intuições e conceitos. A primeira é imediata, singular e passiva (receptiva). O conceito é mediato, geral (universal) e espontâneo. As duas últimas características de cada uma delas – respectivamente: receptividade e espontaneidade – dão conta de explicar em que consiste um traço distintivo entre as duas faculdades do conhecimento. A sensibilidade é receptiva quanto a sua relação de interação com os objetos que a afetam. Já o entendimento, cuja atividade é o pensamento, é. 11. Tratarei mais detalhadamente na seção 2.3. desse capítulo, quanto será exposto a diferença entre a extensão e a compreensão dos conceitos e em que sentido podemos dizer que um conceito é universal e o questionamento sobre a infinitude do espaço em M4. Veja página 42 e seguintes..

(26) 26. espontâneo para com a formulação de seus conceitos. Há, contudo, no que se refere ao critério de imediatidade e singularidade, na literatura secundária, muitas controvérsias sobre seu significado. Como Kant afirma na Estética Transcendental que as representações do espaço e tempo são intuições, portanto, imediatas e singulares, devemos dar certa atenção as controvérsias geradas entre os comentadores. Assim sendo, se seguirá duas breves seções: uma sobre controvérsias das características da noção de intuição; a segunda, comentários gerais sobre as características da caracterização de conceito.. 2.2. Intuição e conceito. A intuição é receptiva, imediata e singular. Quanto à primeira característica, a receptividade, é relativamente pacífica, na literatura secundária, o significado desse termo. Kant, já nas primeiras linhas da Estética Transcendental, afirma que a receptividade está ligada a sensibilidade (KANT, 2001, p. 87; A18/B33), a qual consiste no modo de ser afetados por objetos, a medida que eles são dados. A intuição empírica, o modo humano de se reportar um estado mental a um objeto, somente é possível, ao menos para os humanos, nesses termos. As controvérsias na literatura secundária aparecem em torno das duas últimas características da intuição (imediatidade e singularidade). Alguns comentadores associam a intuição ao que, na contemporaneidade da filosofia, foi caracterizado como descrições definidas, afirmando que a imediatidade é apenas um corolário da singularidade (Hintikka, 1969, será o comentador usado para mostrar essa posição). Outros. não. corroboram. dessa. afirmação, assumindo que imediatidade e. singularidade, embora sejam critérios complementares, são distintos, ademais, que a imediatidade implica uma presentação fenomênica de objetos (para essa posição usarei PARSONS, 1992a, 1992b e BIRD, 2006)12. 12. Allison (1983) também assume essa posição contra Hintikka (1968). Ao que se pode observar na passagem transcrita abaixo, contudo, a posição interpretativa de Parsons (1992a) é mais detalhada sobre esse assunto, por isso, neste capítulo, optou-se por apresentar esse autor, em vez de Allison. Igualmente, Allison (1983, p. 120-121) apenas menciona isso, não cita as passagens de Hintikka (1969) que está confrontando, tampouco, desenvolve em detalhes sua posição. Como podemos constar: “Ao reconhecer que a definição de intuição como ‘representação singular’ não contém nenhuma referência a sensibilidade, Hintikka sustentou que somente o critério de singularidade é essencial e que o de imediatidade é um mero corolário..

(27) 27. Nas linhas que se seguem desenvolverei essas duas posições distintas. Optarei pela posição de Parsons (1992a, 1992b), sobre o critério de imediatidade, por razões que irei expor. Contudo, cotejarei sua proposta interpretativa com a de Bird (2006), pois ambos os autores, em linhas gerais, afirmam uma posição interpretativa bem próxima, que me parecem complementares. A fim de justificar a última informação – a aproximação de Parsons (1969) e Bird (2006) sobre o critério de imediatidade – gostaria de apontar uma passagem de cada autor. Com isso, o leitor poderá examinar mais de perto minha sugestão de que são posições interpretativas próximas. Bird afirma que:. A primeira, imediatidade, sugere uma característica fenomenológica da experiência sensorial ordinária, em que percebemos algum objeto apresentado sem a necessidade de qualquer investigação, inferência, ou determinada identificação. (BIRD, 2006 p.119). Embora Bird não deixe, nessa passagem, claro o que vem a ser essa “característica fenomenológica da experiência sensorial ordinária”, nas linhas que seguem, ele afirma que isso implica a afecção dada pelo objeto. Assim, em sua concepção, a imediatidade guarda uma relação com a receptividade. Os objetos que afetam os sentidos são apresentados de forma imediata, diferente do modo como são pensados pelo entendimento, mediatamente, por notas gerais. De acordo com Parsons (1992a, 1992b), a imediatidade da intuição deve ser entendida fenomenicamente. Que a intuição se reporte imediatamente ao objeto significa que, na intuição, o objeto dado aos sentidos se faz presente à consciência do sujeito: Devo ressaltar que eu entendo ‘presente’ num sentido fenomenológico; tanto na imaginação quanto na percepção, um objeto está "presente" em um sentido importante. Segue-se que a intuição envolve necessariamente a existência do objeto intuído. Não está claro para mim como a visão de referência direta atinge o mesmo resultado, o que parece necessário para uma explicação da percepção não-verbal. (PARSONS, 1992a, p. 71). A discussão sobre referência direta envolve uma proposta interpretativa formulada por Howell (HOWELL, (1973) apud PARSONS, (1992a)), o qual entende a. Contudo, isso não leva em consideração a função de presentação que desempenha a intuição, pois, é precisamente em virtude de sua ‘imediatidade’, seu modo direto e não conceitual de representar, que uma intuição pode presentar um objeto particular a mente e servir, assim, como uma reprasentatio singularis.” (ALLISON, 1983, p. 120-121).

(28) 28. imediatidade como análoga à referência direta. Contudo, a proposta de Parsons vai de encontro, também, à posição de Hintikka sobre o critério de imediatidade da intuição. A proposta interpretativa que desenvolve Hintikka (1969) se dá a partir da fundamentação da aritmética, sobre a representação do tempo como intuição fundamental para constituição de juízos sintéticos a priori na aritmética13. No entanto, para os fins desta dissertação, o que importa é a sua concepção de imediatidade. Hintikka (1969) interpreta o conceito de imediatidade à luz da lógica contemporânea. Mas o que mais importa para a presente discussão é que o conceito de imediatidade é apenas um corolário da singularidade. Parsons (1992a) critica essa noção, para ele, há uma ligação entre a imediatidade da intuição e sua singularidade, inobstante, uma não é corolário da outra. Termos singulares, como nomes próprios e descrições definidas, referem-se (quando têm referência) a um único objeto – e são, justamente por isso, singulares. Contudo, isso não satisfaria, por si só, o critério de imediatidade, uma vez que, no sentido sugerido por Parsons (1992a), a “relação” entre representação e seu objeto, no caso da intuição, tem um sentido fenomênico. Assim, a imediatidade deve se referir a uma presentação à consciência. Bird (2006) tem uma linha interpretativa próxima a de Parsons. Bird ressalta que os objetos da intuição, segundo Kant, são aparências ou fenômenos, tanto do sentido interno como do externo14. Como lemos: [Os] objetos causalmente afetam nossos sentidos receptivos e produzem sensações, mas é a intuição que "imediatamente" apresenta objetos para nós. Tal objeto empiricamente apresentado é uma aparência, a qual é indeterminada (unbestimmt) na ausência de recursos conceituais. (BIRD, 2006, p. 117). 13. Ponto esse que não interessa a presente dissertação, pois é uma controvérsia complexa que desviaria o ponto central nessa etapa do texto, o qual é tentar delimitar o significado de imediatidade da intuição na Estética Transcendental. 14 Bird (2006) menciona uma discussão importante sobre as aparências, que, segundo interpretação de Aquila (1983) elas seriam objetos intencionais. Bird refuta a interpretação de Aquila (1983) por aplicar a noção de intencionalidade à experiência sensória e para Bird (2006), como ele entende, a noção de intencionalidade deve guardar relações com as operações do entendimento. Para Bird as aparências devem ser entendidas como a presentação à sensibilidade independentemente de operações do entendimento. A discussão toma horizontes que transcendem os objetivos dessa dissertação, contudo, é uma referência relevante sobre o tema. C.f. Aquila, Representational Mind: A Study of Kant’s Theory of Knowledge.

(29) 29. É indeterminado pois é necessário recorrer as operações do entendimento para reconhecer um objeto enquanto tal, segundo a leitura de Bird (2006). Contudo, o aspecto relevante é que a presentação fenomênica do objeto pela nossa sensibilidade guarda uma relação com a passividade da sensibilidade. A imediatidade é um elemento da presentação fenomênica do objeto, isto é, os objetos dados aos sentidos são apresentados a consciência imediatamente como aparências. Não consigo conceber uma relação da passividade da sensibilidade com sua singularidade, ou seja, como quer Hintikka, que na ocorrência da singularidade ocorra a imediatidade. Outro aspecto que me parece relevante é que não vejo como uma descrição definida pode alcançar os mesmos propósitos da imediatidade da intuição passiva como um tipo específico de estado de consciência. Como uma aparência (que pode ser indeterminado) esteja presente à consciência e, por ser indeterminada, não tenha uma referência direta. Assim sendo, parece inadequado considerar a imediatidade como corolário da singularidade. Em síntese, temos que as intuições estão ligadas à sensibilidade, são, portanto, receptivas. Ademais, que o ato de intuir importa referir um estado mental a um objeto de consciência presentado fenomenicamente. Bird (2006), de modo plenamente justificado, classifica o conteúdo determinado da intuição como aparências e afirma que – da mesma forma que Parsons (1992a, 1992b) – o critério de imediatidade não é corolário do critério da singularidade, possuem uma relação, mas não há uma implicação, a qual, na ocorrência da singularidade, ocorrerá a imediatidade. Dado essas distinções preliminares, Kant afirma que os conceitos são: espontâneos, gerais e mediatos. Kant, na Lógica Transcendental, traça uma distinção pontual entre a sensibilidade e o entendimento. Enquanto a primeira é uma faculdade que, por sua própria natureza, está adstrita à maneira pela qual os objetos a afetam, a segunda, por sua própria natureza, é a faculdade de pensar. Em suas palavras: Pelas condições da nossa natureza a intuição nunca pode ser senão sensível, isto é, contém apenas a maneira pela qual somos afetados pelos objetos, ao passo que o entendimento é a capacidade de pensar o objeto da intuição sensível. Nenhuma dessas qualidades tem primazia sobre a outra. (KANT, 2001, p. 114; A51/B75)..

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