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3. O primeiro argumento da aprioridade do espaço (M1): interpretações, problemas, alternativas

3.3. A alternativa de Warren

Antecipo que a interpretação de Warren (1999) possui três vantagens sobre a de Allison (1983): 1) evita a tautologia – prova demais – sem fugir a literalidade do texto; 2) mantém o paralelismo entre as exposições metafísicas do espaço e do tempo e; 3) não adianta a discussão com Leibniz – sobre a individuação de objetos qualitativamente idênticos – deixando-a para a Anfibologia.

Como vimos, Allison (1983) consegue evitar a tautologia que algumas outras interpretações imputam a estrutura de M145. Inobstante, isso acarreta uma série de

outras dificuldades. Warren insurge-se contra essa interpretação mostrando outra possibilidade interpretativa que preserva melhor a literalidade do texto (afirmando que “fora de” tem sentido espacial, como requer a literalidade do próprio texto). Isso é possível graças a algumas distinções modais de relações entre as representações espaciais (como um tipo peculiar de relação) e enfocando em um aspecto específico sobre a origem da representação do espaço em M1, com uma base textual sólida, sobretudo, levando em consideração primeiro período de M1 período (denominado, anteriormente como (C)): o espaço não é um conceito empírico)46.

Kant afirma no caput de M1 que o espaço não é um conceito empírico, ou seja, não deriva de experiências externas, pois é uma representação que é requerida para representação dos objetos espacialmente relacionados. É justamente esse primeiro período que nega a posição de Maass e qualquer posição que afirme que o espaço é derivado de experiências externas. O enfoque de Kant nesse argumento, segundo Warren, é justamente negar que o espaço possa ser derivado de experiências externas, pois a modalidade da relação dos objetos espacialmente relacionados requer a representação do espaço. Essa é razão pela qual Warren afirma que o primeiro argumento visa combater uma determinada perspectiva sobre

45 Essa suposta tautologia também é observada por Strawson (1966, p. 58) e Guyer (1987, p. 386). Ambos os autores desenvolvem uma solução para esse problema que é similar à do próprio Allison (1983).

46 Dizer que o espaço não é um conceito empírico requer-se não aceitar a objeção formulada por Maass (interpretação que afirma que representação do espaço é a posteriori, pois decorre da representação dos objetos espacialmente relacionados). A interpretação de Warren (1999), como demonstraremos, tem por objetivo vedar esse tipo de perspectiva, visa, sobretudo, falsear as perspectivas que afirmam que a representação originária do espaço é deriva de experiências externas. Abordaremos brevemente a objeção de Maass, ainda nesse capítulo, mesmo já tendo abordado a refutação de Allison (1983) a essa objeção. Isso se justifica porque se tratam de contrarrazões a Maass substancialmente distintas que conduzem a interpretações diferentes de M1. Todavia, para preservar a economia, apresentaremos a refutação de Warren (1999) feita a Maass somente no que diferir da refutação apresentada por Allison (1983).

a natureza da representação do espaço e inverter o ônus da prova, ou seja, aquele que afirma que a representação originária do espaço é derivada de experiências externas deve provar isso, dado que a representação dos objetos espacialmente relacionados requer a representação do espaço que os objetos ocupam. Podemos constatar isso na seguinte passagem:

Mas em qualquer caso, essa objeção [derivada da objeção feita por Maass] não iria minar a força real do primeiro argumento a priori, que tem o sentido de bloquear uma determinada perspectiva, filosoficamente importante, de como a representação do espaço poderia ser formada em decorrência e em acordo com a experiência empírica [a posteriori, portanto]. Isto é, ela destina-se a vedar uma explicação sob a qual obteríamos a representação de relações espaciais a partir da experiência, que, então, é a formada a partir dela. (WARREN, 199, p. 212. Colchetes meus)

Contudo, para afirmar essa interpretação necessitamos invocar a modalidade da relação de M1. Tomemos o segundo e terceiro período de M1 (denominado outrora como (P1) e (P2)). O enfoque desses períodos (razões ou premissas de M1) é na relação de espacialidade entre as representações que reportamos a objetos. Isto é, que o espaço é o fundamento para relacionar representações como fora de mim e fora umas das outras. Se o enfoque está na relação das representações, devemos, portanto, nos perguntar que tipo de relação Kant afirma em M1, essa é a proposta de Warren (1999). Não obstante, essa proposta interpretativa difere radicalmente do modelo Allison-Strawson, pois, segundo Warren (1999) em M1 Kant preocupa-se com a origem da representação do espaço e não com a questão da justificação dessa representação.

Quando Kant emprega o contraste entre empírico e a priori para juízos ou proposições, podemos entender isso como uma questão epistemológica (o processo de justificação a que tal juízo implica). Também, podemos aplicar essa distinção a conceitos. Quando respondemos a pergunta sobre seu uso legítimo na experiência, ou seja, quando estamos devidamente justificados a aplicar um conceito a um objeto na experiência.

Todavia, podemos dar um enfoque, sob o ponto de vista dessa classificação, que seja psicológico em vez de epistemológico, utilizando o mesmo contraste, a

posteriori e a priori. Nesse sentido, perguntamos se um conceito se origina a partir

Warren (1999) é que M1 trata de uma questão de ordem psicológica: a representação do espaço não é um conceito empírico (C), pois ela se origina de nossa faculdade cognitiva.

Questões de origem de conceitos são geralmente reputadas à psicologia e não à epistemologia. Tanto Strawson (1966) como Allison (1983) evitam esse tipo de leitura de M1. Em ambas as interpretações o enfoque é epistêmico: trata da justificação a priori da representação do espaço. Assim sendo, suas perspectivas interpretativas consistem em apresentar M1 como um meio ou veículo (ALLISON, 1983), para distinção das representações de objetos ou um aspecto de nossa capacidade de reconhecer itens particulares no mundo (STRAWSON, 1966). Dessa forma, M1 fornece uma justificativa de como somos capazes de distinguir objetos ou formar representações singulares.

Strawson chega a alertar do perigo de interpretar a distinção operada por Kant, entre a priori e a posteriori, como uma distinção sobre a origem das representações. É nesse sentido que devemos ler a seguinte passagem: “Kant expressa essa necessidade em torno de um rico idioma sobre faculdades da mente, aumentando os riscos da abordagem epistemológica” (STRAWSON, 1966, p. 48).

Como vimos, a partir da leitura de Strawson (1966), é mediante a intuição, no vocabulário de Kant, que dispomos de instrumentos extraconceituais de aplicação de conceitos gerais, o que nos torna capazes de reconhecer instanciações de objetos particulares (representações que reportamos a objetos no mundo). A passagem acima deixa claro: o idioma de faculdades da mente aumenta o risco da abordagem epistemológica, isto é: o enfoque de Kant, mesmo em M1, é sobre a justificação de uso da representação do espaço, não sobre a origem dessa representação. Strawson (1966) afirma isso por que esse vocabulário pode ser abordado de outra forma, qual seja: sobre uma ótica da psicologia genética – o processo de origem de nossos conceitos – e não dos processos justificatórios do nosso uso de tais conceitos.

Outros autores também mencionam essas possibilidades de investigações sobre nossos conceitos. Bird, nesse sentido, também afirma que podemos empreender uma investigação sobre a origem de nossos conceitos a partir distinção entre a priori e a posteriori. Todavia, o enfoque de Kant não é o genético, segundo Bird, mas sim epistemológico. Em suas palavras:

Pode-se pensar que tal explicação viola a própria distinção de Kant entre seu projeto transcendental e aquele da psicologia empírica, mas isso é até agora apenas uma confusão. Qualquer epistemologia trata com termos psicológicos, como ‘crença’, ‘memória’ ou ‘representação’. O que distingue a filosofia da psicologia não é um vocabulário disjunto, mas a maneira distinta em que cada disciplina examina um tópico compartilhado. (BIRD, 2006, pp.117-118).

Nesse aspecto a interpretação de Warren (1999) é radicalmente distintiva. Para o autor, a questão sobre a origem a priori da representação do espaço deve ser levada em consideração para a resposta sobre as questões de sua justificação de uso. Como ele mesmo afirma:

A resposta dada a questões de origem terá, assim, importantes consequências para questões de justificação e de como devemos proceder para respondê-las. Além disso, é por causa de tais consequências que uma explicação aparentemente psicológica sobre a origem ou o sistema de classificação empregado por ela (a saber, empírico vs. a priori) tem um papel na investigação que é, em última análise, epistemológica em seus objetivos. (WARREN, 1999, p. 217)

Todavia, cabe uma importante observação sobre esse ponto. Embora Warren (1999) afirme que a respostas as questões de origem, no caso de conceitos a priori, têm relevância para as repostas sobre as questões de justificação de uso de tais conceitos, isso não se aplica no caso de conceitos a posteriori. A concessão feita por Warren, nesse sentido, é bem restrita, somente são relevantes as respostas às questões de origem para as questões de justificação quando o conceito em questão for a priori. A passagem abaixo subscrita deixa bem clara essa concessão:

Com efeito, é quando conceitos foram abstraídos da experiência que o papel de questões de origem pode ser considerado como eliminável. Pois no caso de conceitos abstraídos por abstração da experiência, poderíamos facilmente dispensar a questão da origem e ir diretamente à questão de saber se a experiência é suficiente para "verificar a validade objetiva" do conceito em questão, sendo a última questão aquela em que Kant está, em última instância, interessado. (WARREN, 1999, p.221)

Para Warren, Kant, em M1, está preocupado em mostrar a origem a priori da representação do espaço. O que parecer ter firme base textual, uma vez que o argumento (M1) afirma que não é um conceito empírico derivado de experiências externas.

Afirmei, no primeiro parágrafo desse capítulo, que uma das vantagens da interpretação de Warren (1999) era evitar a suposta tautologia, ademais, ele faz isso

sem distorcer o sentido de ‘außer’. Para isso Warren apresenta um tipo simples, unidimensional, de relação: ser mais brilhante do que (brighter than)47. Considerando

esse tipo de relação como derivada da experiência, podemos pensar essa relação (B) de um modo bastante simples, em que x é mais brilhante do que y. A relação xBy não tem como fundamento a representação do espaço, outrossim, a representação do espaço surge em decorrência da relação B, isto é, poderíamos falar de uma “linha de brilho” (brightness-line) ou “espaço de brilho (brightness-space) que deriva da relação.

Quando atribuímos certa relação, no “espaço de brilho”, entre x e y – decorrente da comparação dos respectivos brilhos de x e y –, ou quando afirmamos que x e y mudaram de posição (em um dado momento), podemos afirmar a representação da “linha de brilho”. Isso significa que os objetos mudaram suas posições no “espaço de brilho”, ou ainda, que, em um dado momento, constituíam um tipo de posição, em outro, outra distinta. Assim sendo, quando x e y trocam de posições podemos dizer que os lugares ocupados anteriormente por eles estão vazios, depois da mudança de posições.

Dessa forma, poderíamos falar que os objetos estão relacionados no “espaço de brilho” uns com os outros. Mais ainda, seria possível, com a mudança de posição (sem alterar a intensidade), falar de um “espaço de brilho” vazio, que outrora fora ocupado (da mesma forma que poderíamos falar de objetos que ocupam o “espaço de brilho”). Ou seja, permanece uma espécie de espaço unidimensional que comportava a representação desses pontos de luminosidade em uma relação de intensidade de brilho.

Com efeito, o “espaço de brilho” (ou “linha de brilho”)48 seria um conceito

derivado da relação (xBy), ser mais brilhante do que. Em outras palavras, é a partir da relação B que se constitui o “espaço de brilho”, de modo derivativo. Assim sendo, seria tautológico, afirmar que o “espaço de brilho” é pressuposto por qualquer aplicação particular da relação “mais brilhante do que”.

Mas a questão, enfocada por Warren, é saber qual a modalidade da relação dos objetos espacialmente relacionados e a representação do espaço, se ela é do

47 Lorne Falkenstein tem um exemplo similar usando a representação de vermelho. Cf. FALKENSTEIN, 1995, pp. 160-74.

48 A variação terminológica é possível por que Warren pressupõe a relação simples e unidimensional, ser mais brilhante que, assim, se é unidimensional, pode ser dito a “linha de brilho”, ou “espaço de brilho”, dependendo do enfoque.

mesmo tipo que a da relação “ser mais brilhante do que” (B). Para ele, a modalidade da relação que Kant afirma em M1 é distinta da modalidade afirmada no exemplo da relação (B). Nessa última, o “espaço de brilho” é obtido a posteriori: é derivada da relação entre os objetos (ou pontos de luminosidade) que identificamos como um mais brilhante do que outro, não só, mais ainda, só se constitui a partir da mudança de posições entre x e y.

A relação (B), da qual podemos derivar o “espaço de brilho”, tem sua origem49

na própria apresentação, simultânea, de objetos na comparação de seu status de brilho um para com o outro. Outrossim, só há relevância50 em falar de um “espaço de

brilho” a partir dessa relação, pois o “espaço de brilho” é um conceito empírico. Assim, constituímos, por derivação, o “espaço de brilho”. Consta, essa relação, portanto, de um tipo de espaço com origem na experiência e sem relevância no processo justificativo.

Warren afirma que quando Kant se ocupa em definir o âmbito de uso legítimo dessas representações as “alegações psicológicas (de Kant) são um trabalho central para o trabalho epistemológico” (WARREN, 1999, p.188), quando se trata de conceitos com origem a priori.

Note-se que na interpretação de Warren de M1 não está em jogo questões sobre a individuação de objetos – como Allison (1983) afirma – ou o reconhecimento de representações particulares sob conceitos gerais. Assim, M1 não está afirmando que a representação do espaço é um critério epistêmico para distinção ou individuação51 de objetos, unicamente, não necessitando, em razão disso, antecipar

49 A origem da representação é fundamental – o que é negligenciado por Allison (1983), por tratar- se de uma questão psicológica, a saber, quais processos cognitivos estão envolvidos na formação de uma representação – uma vez que para a relação “espaço de brilho” temos uma representação derivada de uma comparação entre representações, portanto, a posteriori. O que não parece ser o caso na representação do espaço e das representações dos objetos espacialmente relacionados.

50 A relevância (função que é desempenhada pela representação), assim como origem, têm suma importância para compreender o papel da representação do espaço na Exposição Metafísica do (conceito de) espaço na interpretação de Warren (1999). Discorrer sobre a origem se faz necessário pois as coisas espacialmente relacionadas pressupõe a representação do espaço. Note-se, portanto, que a origem e a relevância estão relacionadas na representação do espaço: o espaço não pode ter sua origem na experiência, pois é fundamento da própria experiência da relação de objetos espacialmente relacionados, assim sendo, a explicação da origem da representação do espaço tem relevância para a questão da justificação, pois, como já afirmado, segundo Warren, se o conceito é a priori a resposta sobre sua origem tem influência na resposta sobre a questão de sua justificação de uso, uma vez que não dispomos da experiência para confrontação.

51 P.F.Strawson (1966) afirma que o espaço e um critério de individuação de objetos. Como expliquei na seção 2.4, portanto, a crítica de Warren (1999) incide, também, sobre esse autor.

uma discussão que só aparecerá na Anfibologia.

Embora a perspectiva de Allison (1983) fuja da literalidade do texto para fugir da suposta estrutura tautologia de M1, a qual é afirmada por Maass, há uma dificuldade na interpretação literal, proposta por Warren (1999).

Para Warren, Kant não é suficientemente claro, na Estética transcendental, sobre a peculiaridade da relação dos objetos espacialmente relacionados pressupor a representação do espaço. Kant parece considerar evidente, segundo Warren, que os relatas requerem a representação do espaço. Como podemos constatar na seguinte passagem:

Por que, então, Kant acha que a representação de objetos como espacialmente relacionado pressupõe a representação dos espaços que estes objetos ocupam? A primeira coisa a notar sobre esta questão é que Kant não diz absolutamente nada em resposta a ela no decurso da apresentação do argumento que aqui temos considerado. Ele parece considerá-lo como suficientemente evidente em sua explanação, sem outra explicação, esta é a afirmação (ou à alegação paralela em relação ao tempo) nos primeiros argumentos da aprioridade da Crítica, bem como nos argumentos correspondentes na Dissertação Inaugural. (WARREN, 1999, p. 207)

Contudo, há algumas razões que devem ser consideradas sobre essa peculiar relação que é descrita em M1, mormente, algumas relações modais a priori que podemos derivar dessa relação. Considere-se o caso da relação “mais brilhante do que” (B), tomada como um tipo. Pode-se determinar a priori que algumas ocorrências dessa relação são possíveis, enquanto outras não são. A conjunção expressa pela sentença ‘x é mais brilhante do que y e y mais brilhante do que z e z mais brilhante do que x’ não é possível, pois é um pressuposto a priori. Também podemos determinar a priori certas propriedades de relações espaciais em geral. Por exemplo, se certo objeto ocupa determinada região do espaço, esta não pode simultaneamente ser ocupada por outro objeto do mesmo tipo, simultaneamente, uma vez que de tal ocorrência não poderíamos representar a singularidade de cada objeto52. Inobstante, essa relação não parece ser de tipo lógico, tampouco, apenas

52 Isso poderia ser objetado como sendo um pressuposto de ordem da física moderna: dois objetos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Todavia, ao falar de representações distintas, em nossa mente, também sua singularidade se dá em função da espacialidade (e temporalidade em que se apresentam). Assim sendo, é possível afirmar que isso é um indício de que a representação do espaço é um dos fundamentos da relação de singularidade da própria representação de objetos: as nossas representações de objetos

um critério de individuação de objetos (epistêmico).

Ressalta-se, da afirmação acima, que a representação do espaço é que constitui os objetos enquanto fenômenos orientados no espaço. Contudo, para que se possa orientar representações em determinados locais é necessário compreender um espaço único em que nós orientamos essas representações, isso não é um aspecto lógico, tampouco, um mero aspecto epistêmico, pois é a maneira como representamos objetos como exteriores a nós: relacionados em um único espaço que tudo abrange.

Todavia, a observação do parágrafo anterior está presente somente nos argumentos da intuitividade, ou seja, nos outros dois últimos argumentos da Exposição Metafísica do (conceito de) espaço. Warren (1999) sugere que devemos interpretar a Exposição metafísica (do conceito) de espaço com o auxilio dos outros 3 argumentos que compõe essa seção. Pois, como ele mesmo afirma, acredita Kant foi conduzido à afirmação de M1( as relações espaciais que os objetos exibem pressupõe a representação do espaço) por algumas características da representação do espaço. Em suas palavras:

Primeiro, ele assumiu que as restrições não são meramente lógicas. Ele assumiu como verdadeiras essas restrições precisamente pela conformidade com a geometria euclidiana, talvez. Ou talvez ele simplesmente foi conduzido pelas características -- a singularidade e a infinitude do espaço – explicitamente mencionadas nos parágrafos seguintes da Exposição Metafísica, restrições que provavelmente devem também ser aplicadas na constituição dos conhecimentos geométricos (na medida em que equivaleria a um conhecimento a priori do espaço), embora, talvez, apenas em uma parte da geometria euclidiana. (WARREN, 1999, p. 207.)

espaço, em um dado momento, que se distingue de outra região. Isso é um pressuposto a priori dos objetos enquanto fenômenos intuídos. Por exemplo, quando estou andando de ônibus e lembro que deixei um livro de Paton ao lado de um livro de K. Smith, em minha escrivaninha, eu represento o espaço como um todo onde ordeno essas representações em tais locais. Individualizo essas duas representações de modo a representá-las como singulares. Isso levanta muitas complexidades a respeito de nosso processo representacional, mas deixemos essas sutilezas de lado e demos atenção ao seguinte: a representação que tenho do livro de Paton não se funde com a representação que tenho do livro de K. Smith, ambos estão localizados em espaços distintos, mesmo em meu processo de reminiscência deles, ou seja, a representação de objetos se apresentam em lugares distintos (regiões do espaço) , isso é um pressuposto para a própria singularidade da representação. Portanto, não podemos alegar que afirmação de que dois objetos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo é apenas um postulado da física moderna. É, assim, um pressuposto de ordem fenomênica: a representação do espaço é fundamento para qualquer percepção externa de objetos, mais ainda, é um pressuposto que nos capacita a representar os objetos enquanto tais (singulares).

Assim sendo, devemos trazer à luz, a fim de compreender a proposta interpretativa de Warren, os argumentos seguintes da Exposição Metafísica do (conceito de) espaço. Pois eles envolvem a singularidade e a ilimitação dessa intuição. Todavia, o argumento de Warren é bem distinto do apresentado por Cohen. Cohen, assim como Warren, lê os argumentos da Exposição Metafísica do (conceito de) espaço como uns auxiliando aos outros (tanto os da aprioridade quanto os da intuitividade). Tendo M1 a função de expor a aprioridade e M2 o de afastar uma futura objeção (Cohen apud TORRETTI, 1967, p. 243). Contudo, a fim de

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