-oRsERvAçOES
SOBRE
.\S
FORÇAS
DA
¡¡ATUREZA
TNANTMADA,-JULIUS ROBERT MAYERO objetivo
destaslinhas
éprocurar
a resposta àpergunta:
r-l que devemos entenderpor
"forças".'e
como elas se relacionam
entre
si.
Enquanto
o
nome
maléria
éusado
para
indicar
obietos
com
propriedades
bem definidas como
o
peso
c
opleenchimento
do
espaqo. associa-sede preferência ao nome
lorcrt o
conceito
dodesconhecido. inexplor'ável.
hipotético. Uma tentativa
de
tornar
o
conccilo
deforça rão
preciso
quanto
o
de
matéria,
c
designar assim
apenasobjetos
de
pes-quisa
válida. c
as consequênciasque
dai
seguem.não deverào ser
mal
acolhidas pelosque
gostamde
uma
concepçãosobre
a
natureza
ciara e
livre
de
hipóteses.Nota ctlitoríaL. Este artigo apareoeu originalmente sob
o
título "Bemerkungen i.lber dieKrrifte
der
unbelebtenNatur". em
Annalender
Chemieund
Phar¡naci¿4l
t 1842),pp. 233-240.
A
tradtrção aqui publicada é de Robertode
Andrade Martins. l-odas as86
Julius Robert trIayerForcas são
causas.e por
isso
aplica-se
totalmentc
a
elas
o
plincípio:
Cnttsnuequat cffec'tttrrt.! Se
a
causac
tem
o efeito e.
então
c
:
e:
see é
novamenteacausadeumoutroefeitof.então
e:
Í,
eassimpotdiante:
c:
c
- Í.
.:
c.
Em uma corrente de
causase efeitos, como
se
tt:¡na
claro pela
naturezade uma
igualdade,
nenhum elo
ou
parte
de
nm
elo
pode
tomar'-se
nttlo.
Nóschamaremos
esta
plimeira
propriedade
de
todas as
catlsasde
indestrutibiliclade.
Se
a
causa
dada
c
produziu um efeito
e
igual
a
si,
então,
por
isso
mesmo,c deixou
cleexistir:
c setransformou
eme;
se após aproduçao
de e, restasse aindauma parte de
c
ou
ela inteira, então
esta causa restante
devetia ainda
cort'es-ponder a
outro efeito, e
assimo efeito
Itotal]
de
c
deixaria
em geral de
corres-ponder
a e,
o
que
é
contrário
à
suposição
de que
c :
e. Assim, como
c
setorna
e, ø
se tol'na
f,
etc.,
devemos
considelar
essas gt'andezascomo
clife-rentes
formas de
manifestação
de
um
mesmo
objeto.
A
capacidade
de
assumirdiferentes
formas
é
a
segunda
propriedade
essencialde
todas
as
causas.Asso-ciando as duas
propriedades, podemos
dizer:
Causassão
objetos
(quantitativa-mente)
iuclestrutíveis
e
(qualitativamente)
mutáveis.L,ncontram-se
na
natureza duas
classes separadasde
causas,entre as
quaisnão ocoLlenl
interconversöes,
conforme mostra
a
experiência. Uma
classe
éconstituída pelas
causas
que
possuem
as propriedades
de
ponderabìlidade
eirnpenetrabilidade
-
as fformas
de]
matéria;
a
outra,
pelas
causasàs
quaisfaltam
essasúltinas
propriedades
-
asforças, também
chamadas imponclerdveismodos dife¡entes e conflitantes, e deu-lhe um significado preciso. Agora, no século XX,
ac. traduzir
o
termo"Kraft"
de Mayer por "força''. eslamos correndoo
risco de evocarna
mente dos leitores uma sériede
associações incompatíveiscom
o
argumento deMayer. Por
isso. pessoalmente.eu preferiria
tradrrzir"Kraft" por
uma palavra umpouco mais vaga
e
sem significado moderno preciso.tal
como"poder".
A
palawa"poder" é uma das traduções de
"Kraft"
indlcadas nos dicionários,e
teria em minha opiniiloa
vantagem de permitirinvocar
um
significado mais amploe
obscuro, comoo
que Mayer queria indicar.No
entanto, acatamos aquia
traduçãrode
'!Kraft"
por"força". seguindo a sugestão de Zeljko Loparió, que leu e aconselhou algumas mudanças na primeira versão desta tradução.
: ",\
causaé
igual ao
efeito"
(em latim.
no original).
Estaé
umafórmula
famosa. popularizada pelos escolásticos.e
cuja idéia
remontaa
Aristóteles.Na
sua
Físic¿, Aristóteles estudao
problema filosófico da existência da transformação. Consideremospor exenrplo um homem que se torna músico (Fi.vica
1.7):
num certo senti<Io. aquilo que se transformou sobreviveu através do processo. pois o homem continr¡a um homem qtrando se torna músico: numoutro
sentido. aquilo que existia não sobrevive, pois afalt¿r de musicalidade desapareceu. "Traçando tais distinções, pode-se perceber
a
partirde um exanre clos vários c¡rsos de
transformaçâo
que, como dizemos. deve sempreexistir alguma coisa subjacente.
a
saber. aquiloem
que ocorreua
mudtinça.e
queislo.
embora sempreuma
unidade. n¿ìotem forma
constante." (l90a
l3-15).
Por isto. haveria sempre. de acordo com Aristóteles, algo constante enr tod¿r tr¿rnsformação.e que seriir
it
nt¿ttória: "Pois minha definição de matériaé
esta:o
substrato primáriode cad¿r coisa,
a
partir
do
qual
ela
vema
ser sem quaìificação.e
que persiste no resultado." ( 192¿ì3l-33).
De
acordo coma
classificação aristotélica cle causas,por-tanto,
é
apenascom
relac¿ioà
c¿¡¿1.ç¿r ¡¡ruterialque
se podeafirmar que
a
cirusa éigual ao efeito.
Ver:
Thc
Worksol
Ari.stotle,trad.
Ross,W.
D.
Oxford:
Clarendon Press, 1970,vol.
il
Obsemøções sobre as Forças daNafiireza
lruni¡nøda
g7por
essapropriedade negativa
indicada. As forças
são,
portanto:
obietos indes_trutíveis,
mutáveis,
imponderdveis.Utilizaremos primeiramente
amatéria para
eefeitos.
O
gásexplosivo,
H
*
O,
e a águaHO,t
:l"tt"i":
portantoH+O=HO.MasdeH+O,
alémde
água, representado
por cal.;
este
calor deve
igualar-se
a
uma
causa .r,.
temosportanto: H
+
O
*
x
=
HO
+
cal.;a pode-seagoraperguntar
seH
*
O
=
HO
realmente,
ex
=
cal.,enão por
exemplo
H
+
O
:
cal.,e
x:
HO., do
quetambém
poder-se-iaobter
a igualdade acima indicada, e
assimem
muitos
outros
casos.
Os
defensoresdo
Flogístico reconheciam
a
igualdade entre
cal
e
x,
a
que chamavamFlogístico,
e
deram
assimum
grande
Passoavante,
masconfundiram-se
em
seguidaem um
sistema
de
erros,
pois colocavam
-x
no lugar de
"O",
obtendo
assim,
por
exemplo,
H
=
HO
*
x.
A
química, cujo objetivo
é desenvolver igualdades que representem as conexõescausais
entre
ftipos
de]
matéria,
ensina-nosque
da matéria como
causa
surgematéria como
efeito;
mas com
igual direito
pode-setambém
dizer que da
força
como
causa correspondeuma
força
como
efeito.
Como
c
:
e,
ee
:
c,
é
pouconatural
chamarum
membro da igualdade
delorça, e
ao
outro deeleito daforça,
ou
lenômeno,
e
associar conceitos
diferentes às
expressõeslorçø
e
lenômeno;
portanto, em
resumo:
sea
causaé
matéria,
o
efeito
também.o
é;
se
a
causa éforça,
oefeito
também é umaforça.i
Uma
causaque realiza
o
levantamento de
uma
cargaé
uma
força;
seuefeito,
a
curga erguida,
é
também igualmente
uma força; de modo mais geral
pode-seexprimir isso assim: uma distância
espacial
entre obietos
ponderóveis
é
umaforça;u
como estaforça produz
a queda doscorpos,
chamamo-lade
força
de
que-:t
No
original, encontramos a equaçãoH
+
O
* ¡ : H +
cø\, o que pareceter
sigo u.m descuidode
Mayerou
erro tipográficoda
revista.As
traduçõés e-ediçoes poste-riores corrígem este erro.assim como
o
parágrafo anterior.nào
forama série Os¡tu¿lès Klassíke¡ der exokten
Wissen-I)ie Mechanik der Wärme (zwei Ablnndlungen).
ft,
1911,pp.
l-E.,
diríamos:uma
distância multiplicadapor
uma
força
é
uma física utilizadapor
Mayer é bastante coniusa, e não côrresponde de sua época..t
88
Julius Robert MøYerda.
Forya
de queda
e
queda,
e
ainda de modo mais geral, força de queda
emovimento,
sãõ
forças que se relacionam como
causa
e
efeito, forças que
setransformam
uma naoutra,
duasformas diferentes
de manifestação deum
mesmoobjeto. Por exemplo: uma
carga
parada
no
chão não
é
uma força: ela não
énem
causa
de um movimento, nem do
levantamento
de uma outra carga;
masela
setransforma nisto [em uma
força]
na
medida
em
que
é erguida
acima
dosolo;
a causa-
a distância entre
uma catgae
aTerra
-
eo efeito
-
a quanti-dade domovimento
gerado-
estão emuma relação
deigualdade, como
ensina amecânica.7
Como se considera
a gravidade
lschwerel
como
causada
queda, fala-se
deuma força
dagravidade
lSchwerkrall
-
peso]
e
assim seconfunde
os conceitos deforçae
depropriedade;8
falta a
toda propriedade justamente
aquilo
que
cadaforça
deve
essencialmentepossuir,
a união
de
indestrutibilidade e
mutabilidade;
riedade e uma
força,
entre gravidade e movimento,
nãoigualdade
que seria
necessáriaem uma
relação
causalSe
dermos
à
gravidade
o
nome de força,
pensar-se-áentão em
uma
causa que,. semdiminuir, produz efeito,
sustantando'se assimpor-tanto
representações errôneassobre
as conexões Causais das coisas.Para que um
"orpo
potru cair,
seulevantamento
énão
menos necessáriodo que
sua gravidade,
e
pòr
iito
não
se deveatribuir
a quedado corpo
apenas à última.eO
objetivo da
mecânica
força
dequeda
e
movimento,
movi
os
movi-mentos; lembraremos
aqui
queda
édiretamente
proporcional
à
colocan-Ao
se¡eferir
a
"quantidade de movimento", se refere àquilo que Leibniz chamoude "for
atualmente denominamos "enorgia cinótica". nossa
atual
"energia potencial gravitacional". poderíamos dizær'. mgh (pêso multiplicado pela(energia cinética produzida na queda
do
objeto).Segundo Mayer.
o
peso("Schwerk¡aft")
não deveriater
este nome, poisa
palavra"schwerkraft" indica obviamente
um tipo
de
Kraft
(força).
Porém,o
pesode
um objeto não se translorma em seu movimento de queda, e portantoo
usodo
princípiode igualdade entre causa
e
efeito
(utilizadoaqui
comoum princípio
metacientífico,ou
metanomológico) impedeo
usoda
idéia de queo
pesoé
uma causada
queda.Ao
inVés de uma cousa-(no sentido deforça),
o
peso seria, segundo Mayer, apenas uma propriedade.Em
seu trabalhode
1845(ver
Nota
l),
Mayer
esclarece que aforça náo é causa
do
movimento, mas éa
causa da aceleração.Ou seja:
a
força de queda provém conjuntamentedo
pesoe da
altura, epor
isso énatural igualá-la ao produto dessas duas grandezas.
7
8
-Obsenações sobre as Forçøs da ltarureza
Inanimada
g9Em
ìnúmeros casos vemosum
movimento
cessal', semqtle
ele tenha
produzidcrum outro
movimento,
ou um
levantamento deum
Peso; mas uma forçaque
edstiu
não pode
setorna[ nula, e sim
apenastransformar-se
em un]a
outra forma lde
lorça].
e
pode-seconseqlientcmente perguntal': que
outras
formas pode
assumira
[or'çaque
apl'enden]osa
conhecercomo
força
de queda
e
nrovirnento?
Apenasa
experiéncia pode nos fornecer informação sobre isso. Para to¡'nar a
experimen-tação
corrvu-uiente,devemos selecionar instrumentos
que
possamproduzir
real-mente
uul¿l cessaçãodo
movimento
e
que
sejam
o
mínimo
possível
altel'adospelos
objetos
pesquisados. Friccìonemospor
exemplo duas
placas metálicas entresi,
e obsr.'rvaremoso
desaparecimentodo movimento,
e em contl'aposição veremoso
a¡rarecimento decalor:
pergunta-se agora apenas seo
movimenlo
é
a
causa docalor. Pala
nos
asscgurarmos dessarelação, devemos
esclat'ecet'a
questão:
nosinúmeros
casosem que
o
calor
aparecequando
há
desaparecimento
do
movi-mento. não terá
o
movimento um outro efeito além da
produçao
de calor, e
ocalor
umaoutl'a
causa alémdo
movimento?
¿\illcla nao sc dcsenvolvcu
uma tentativa
séria
de
apontar os efeitos
do
movi-mento quc
cessa: semquerer
excluir de
antemão as hipótesesque
possivelmente serão aplesentadas,faremos
a
esterespeito
apenasa
observaçãode que não
se pode colocar como regra que esteefeito
seja uma alteraçao do estado de agregaçãolrr
Seo
raio daTerra
náoé
consideradoinfinito.
é
preciso levar em cont¿r queo
peso de um objeto varia com sua altura; e. nesse caso,já
nao valea
rela.^ão sinrples deproporcionalidade entre energia potencial
e
irltura. Note-se que. aqui. Mayer confunde os conceilostle
pesoe
massa.Ao
invésrle
r =
l¡¿l.
deveríamoster
l
ntgd, our -
pd.
Comoiicarí
mais cl¿rro adiante.llayer na
verdadesó
se preocupa com proporcionaliclades. em suas fórmulas mecânicas.ll
Este ¡recho. bastante conÌuso. poderia t¿rlvez serassim
reescrito: Pode-se escolhercomc unidade de velocidade aquela que
é
adquiridapor
um
ùorpo quecai
de
umalltur¡r
untári¿r;o
movimenlo gerildo nessa queda será proporcionulà
massanr
quecai.
c
tiependerátla
velocidudec:
¿i medidaclo
movimento produzido nesta queda poderiaa ptiori ler
:¡
formaì' :
,llc.
ou l -
r¡lc].
ot-tr =
rt¡(jl.
ou
algunta outra ccnrbinação cler¡¡
e (:
s¿rbemo-s ¿ìpenasque
o
conceitoutilizado
impõeque
essunretlida do nrovimerrto cresça com ¿ì massa e
¡
velocidade.Mas.;e c:
l.
temos qtle.ttt¡tttt'tituntcttlt'. tn('
: nu! --
r¡¡c:i. etc.O
problema é saber. pàfùottlra\
velocidades.quli a
fórmula
que deveser
usatla.,{
partir
da
experiência. verifica-se que. paraoutros vnlores
de,/ e tle r',
temosc:
proporcronaIa
¿/. Atualmente. escreveríåmos:| =
trrlr.(l: /rr'l l.
M¿rver omite a aceleraçrló da gravidadeg,
eo
f¿¡tor 2 da energia cinética. Podenros desculpá-lo levando cm conta que ele eslá apenas preocupado com lu proporcìonalid¿rde tlas grandezas.na
fórnrula. Em todas as suas equações podemos90
Julius Robertillayer
dos corpos em
movimento
que
seatritam,
etc.lr
Se
temosque
é
necessária umacerta quantidade de
movimento u
para converter
uma matéria atritada
nxem
n,então
é
preciso
que
fl f
u
:
¡?,e que
n :
tn
*
u,
e
pela
reconversão
den
em
nt,
devesurgir u
denovo, sob alguma forma.rir
Peloatrito
longamente
con-tinuado
entre duas
placasmetálicas
podemosgradualmente
destruir
uma
enormequantidade
demovimento;
mas poderemos pensar emencontrar
sequertlm
traçodo poder
desaparecidono
pó metálico recolhido,
equerer recuperá-lo
daí?
Repe-timos,
o
movimento não pode
se
transformar em
nada.
e
movimentos
opostos,ou
negativos.
não
podem
ser
colocados
:
0;
tampouco podem
surgir
do
nadamovimentos contrários,
ou uma
carga
elevar-sepor si
mesma.Sem reconhecimento de
ulna
conexão causal entremovimento
ecalor,
tampoucose pode
dar
conta
do
movimento
por
acaso desaparecido,nem
sepode
esclatecer sem isso aorigem do
calor.
Ele
não surge acompanhando adiminuição
de volumedos
corpos
que
se
atritam.l*
Conhecidamente
pode-sederreter dois
pedaços degelo pelo
atrito
mútuo em um
espaçosem
ar;15mas
pergunte-se agot'ase
porl::
Quando se martela um objetoou
se serra uma peça de madeira.o
efeitoimediata-mente visível
do
esforço
empregadoé uma
alteraçãoda
forma,
ou
rupturâ.
ou mu<1ançado
estadode
divisãodo
corpo.Mas Mayer
procura mostrarque não
sepode interpretar essas mudanças como
o
efeitodo
desaparecimentodo
movimento. eutiliza em seu argumento. mais uma vez,
o
princípio de igualdade entre causae
efeito.l:l
Mayer supõe implicitamenteque
toda transformaçâo das"forças"
é
reversível. Na verdade. aceitamos atualmentea
existência de fenômenos que são irreversíveis. apesar cle neles haver conservaçáo de enelgia.A
associação entre as idéias de conservaçã.o erever.çibilidade
é
bastante natural. emboranão
necessária. Veja-se sobre esse temaa
obra: Meyerson,E.
Identilóct
Réalité. Paris:J. Vrin,
19-5l.
J+
explicação desse
tipo
parao
aquecimento produzidopor
atrito.
Mas.na
verdade. osclefensores clo calórico possuiam boas explicaçöes também para
o
calor que surge noatrito. Ver. sobre este iìssunto.
o
interessante artigo: Brown. S. C. ''The Caloric Theoryof
Heat". Atnericutt Jountolol
Pltt,.ric,sl9 (1951l,
pp. 367-373.l;
Mayer aqui se refere, provavelmente. às experiências realizadas em 1799 por HumphryDavy. e que ainda hoje são citadas incorretamente
em
um enorme númerotle
livrosditláticos
e
históricos.Ao
contrárioda
versão comum. segundoa qual Davy
teriafundido clois petlaços <le gelo por
atrito
no vácuo. Andrade mostrou quea
experiência clescrit¿rpor
Davy
foi
reulizadana
presenç¿Ìde ar.
e
que mesmo assim dificilmente se pode acreditar quefoi
tundida uma quantidade apreciável de gelo. sendo ubsurda a desclição queo
própr-io Davy fornece dos resultaclos. Veja-se: Andrade, E.N.
cla C.Obsertações sobre as Forças da Natureza
Inqninadø
9l
uma
compressãoinaudita
pode-setransformar gelo em
água?r'i
Como
o
autor
descobriu.
r
remperatura da
água seeleva
por uma forte
agitação.
A
águaaque-cida
(de l2',
a
li"C)
rem após
a
agitação
um volume maior
do
que antes;
deoude vem
agora
a
quantidade de calor que
através
de lepetidas
agitações
no mesmo aparelho pode serproduzida
com afreqüência
que se deseja?tî
A
hipóteseilas
vibraçõestérmicas
sugerea lei
de que
o calor
sejao efeito do
movimento,rs1ü
Na
verdade. contrariamenteao
que Maver
acreditava.é
possivel transformar geloenr água
por
compresslto. ,\ematlito.
VIas apenasem
1849 esse efeitofoi
previsto teoricamentepor
Janres Thomson.e
demonstrado experimentalnrenteno
ano seguintepor
seu irnrào: Thomson.J.
"Theo¡etical considerat¡onson
the effec¡of
pressure in lowerrng the freezing pointof
uater".
frr¡nsactiousof
the
RoyalSocictl'ol
Edinburgltl6 (ltì49).
pp.
5-7-5;lhomson.
W. (Lord Kelvin).
"Experimentson
the effect
of pressurein
lowering the freezing-pointof
waler". Thc London, Eclinburgh uncl DuhlinPltilotopltical Magaz.ittc an¿l lourna.l
ol
S<:ienccl3) 37
(1850),pp.
123-131; repro-tluzido em Thomson.W.
Matltentuticalund
Ph1'.sical Paper.r. Cambridge: CambrirJgeUniversity Press. 1882.
vol.
t.
pp.
l5ô-ló.+.Mayer niìo indica. nem neste
artigo
nem enr outrosde
seus escritos.o
modo como realizou sua experiência. Mas enr seu trabalho"Die
organischeBewegnng...".
f Notal).
Mayer descreve um¿r outra observac;ão associada a esta: em uma fábrica de papel.ele
estudoua
agitação mecânica,em
grandes recipientes,da
massade
papel com água. Enr cadaum
dos quatro recipientes queele
observou, havia cercade 600
kgdessa mistura.
A
temper¿ìlura ambiente erade
[5o,e a
mistuta dos cilindros es!.1vÍrinicialmente
ir
uma
temperaturainferior à
ambiente.A
mistura
de
águae
papel clemorava de 32 a 40 minutos par¿r passar de 14a
16oC (temperaturas bem próximas, ligeiramente acimae
abaixoda
lemperatura ambiente.de
tal
forma quea
condução de calor do ambiente ou parao
ambiente pudesse ser considerada praticamente nula).Mayer
indica que esse nquecimentoera
devidoa
uma potência mecânica aplicadirde cerca
de
3.16 cavalos-força.e a
partir de
seus dados obtém-se quea
produçãotle
uma caloria exigiu cerca de3,5
J
de
trabalho.As
primeiras experiênciasquanti-tativas
de
agitaçãode
águae
medidade
seu aquecimer¡toforam
publicadas porIoule
e
Colding.
e há
suspeitasde
que Joule leu
o
artigo
de Mayel
antes de planejar seu experimento: Mendoza.E.
e
Cardweì1.D.
S.L. "On a
suggestion con-cerning the workof J.
P.
JoLrle".f/r¿
Briti.slt Jottrnallor tltc
H i.sîorvol
ScÌencel4
{ I9fìI
).
I77-lll0.Nesta frase obscura.
Maver
parece quererenfalizar
a
diferençaentre
suas idéiase
lnteriores propostas de interpretaçãodo
calor como movimentos microscópicos dasnartículas materiais de um corpo,
Tal
idéia era bern conhecida. e é exposta claramente.por exemplo. por Lavoisier
e
Laplace. em um artigo publicadoem
1780:"Na
hipóteseque examinamos.
o
calor
é a
forçir viva
que resulta dos movimentos insensíveis dasmoléculas de um corpo: ela
é
a soma dos produtosda
massa de cada molécula pelo quadrado de sua velocidade.'Lavoisier e Laplace. "Mémoire surla
chaleur". Métnoires de I'Académie tles Sciencc.r (Paris). (1780).p.
355. reimpresso em: Oeuvres ¿leLavoi-iir'r.
Paris: Imprimerie Impériale.lR6l. vol.
fI.
pp.
283-333, esp.p.
186.92
Julius RobertIIaYer
mas
não
sugete
essarelação causal
em todo seu
alcance,
apenascoloca
maior
peso em oscilações irregulares.r0
Se está agora acertado que em
muitos
casos(exceptio
conlirmat
regulam)
!')
nãose
pode encontrar
o
surgimento de
qualquer outro efeito do
movimento
desapa-recido,
exceto
calor: e para
o
calor que
surge, nenhuma
outra
causa,exceto
omovimento;
então apartir
daí épreferível supor
queo
calor
surgedo movimento,
do que supor
uma causasemefeito ou um efeito
semcausa;
assimcomo
o quími
co, ao invés de
ver
desaparecerH
e O, e
águasurgir,
semindagar
e
sem
tentar esclarecero
modo
como issoocorre,
estabeleceuma
conexãoentre
H
e
O por
umum lado,
e águapor outro
lado.A
conexão
natural
existente
entre força de queda, movimento
e
calor
pode sercompreendida
claramentedo
seguintemodo.
Sabemosque
aparececalor
quan-do
aspaltículas
materiais
isoladasde
um
corPo
seaproximam
umasdasoutras;rt
aumento
de
densidade geracalor;
ora.
aquilo
que
seaplica
às menores partículase
às pequenas distâncias
entre
elas, deve também aplicar-se às grandes
massase
espaçosmensuráveis.
A
queda de
uma
catga
é
uma verdadeira
redução
dovolume da Terra, e deve
também
seguramenteestar conectada
ao calor que
aíaparece;
essecalor
deve
ser exatamenteproporcional à
grandezada
carga
e
suaaltura.
A
partir
dessa consideráção é-seconduzido de
forma
simples ecompleta
àigualdade
já
descrita entre
força
de queda,movimento
ecalor
.Contudo,
assimcomo
da
conexãoexistente entre
força
de queda
emovimento
não se pode
concluir
que a natureza daforça
de queda sejamovimento,
tampoucose pode chegar a essa conclusão para
o calor.lz Nós preferimos
muito
aocontrário
concluir
que para que
possasurgir calor, o
movimento
-
sejaum [movimento]
:.1 I
Antes
do
desenvolvimentoda
termodinâmica, existiamvárias
teorias ondulatórias -"obre o calor, em que ele era considerado um movimento semelhante ao som. Rumford,por
exemplo.tinha
uma doutrina dessetipo:
Goldfarb,S.
J.
"Rumford's theory of heat:a
reassessment'',The
Britishlournal
for
lhe
Histor.t
of
Sciencel0
( 1977),pp.25-36;
Brown, S.C.
"Count Rumford's conceptof
Heat",
Amerícanlournal
ofPhvsics
20
(19-52),pp.33l-334.
Como esta eraa
opinião predominante dos que seopunham
à
teoriado
calórico, não está claroo
motivo peloqual
Mayer se refere acscilações irregulares.
Por outro
lado,
note-seque
Mayer não adota
um
modelo mecânico parao
calor;
ao contrário, sua teoriaé
fenomenológica.Ao
invés de darmaior peso
a
um modelo. Mayer enfatizaa
relação causal."A
exceção confirmaa
regra"-
emlatim. no
original.
Mayertinha
uma especialpredileção
por
máximasem
latim,
de
sabor escolástico.Em
outros
trabalhos, ele utilizao
princípio"Ex nihilo
nil
lit"
("Nada pode ser produzidodo
nada"). e outrasfórmulas semelhantes.
Aqui.
Mayer
parece eslar se referindoao
resultado, bem conhecidona
época, deexperiências de aquecimento de gases
por
compressão, realizadaspor
Cay-Lussac em1807. Sobre
o
papel dessas experiênciasno
surgimentoda
termodinâmica, veja-se: Kuhn.T.
S. "The caloric theoryof
adiabatic compression", /sr.r 49 (1958), pp. 132-140.Aqui aparece claramente a posição não mecanicista de Mayer. Ele admite a existência
de uma variedade de tipos distintos de "forças" interconvertíveis; nenhum
tipo é
fun-damental.e
um
nãoé
redutívelao
outro.7-Obsertações sobre as Forças (ia Nanteza,
Inaimada
93simples,
ou vibratório,
como
a luz, o calor
radianre.
etcmovimento.
-
deve
cessarde
scrSe
força
de queda em
deve
naturalmente ser
igual
aefeito
dediminuição
de
comodesaparece
como
causa
å"';J
volume, erguimento
de uma carga.Na loda
d'água.
à
custa
da diminuição de
volume continuamente
sofrida
pelocorpo da Terra
devida
à
queda
da
água,surge movimenro.
e
desaparece depois,trazendo
uma importante
quantidade
de calor; ao contrário
disso
a máquina
avapor
servepara'decompor
o calor
em movimento
ou
erguimento
de carga, Umalocomotiva com
seucomboio é comparável
a um
aparelho
de
destilação;
o
calor
aplicado
sob acaldeira
sai comomovimento,
e este se deposita devolta
nos eixosdas rodas como
quantidade
de calor.rsConcluímos
nossas
teses,que resultam
necessariamentedo
princípio
cøusaaequat effectum,
e
que
estãoem perfeita harmonia
com todos os fenômenos
danatureza, com
uma
conseqüênciaprática.
Paraa
resoluçãodas
equaçoesestabe-lecidas
entre força de
queda
e movimento é preciso determinar
através
de
umexperimento
o
espaçode
queda
para
um
tempo
determinado,
para
o
primeiro
segundo,
por
exemplo;?{
de forma
semelhante,
para
a
resolução
das
equações e.ristentesentre força
de queda emovimento
por um
lado,
epol'outro
lado calor,
deve-se
responder
à
pergunta,
de
quão
grande sejaa
quantidadede calor
cones'pondente
auma
determinada quantidade
de força
de
quedade
movímento.
Porexemplo, podemos determinar
a
que
altura
devemos erguer
um
determinadopeso
acimado
solo
da
Terra para que seu poder de
queda seja equivalente aoãquecimento
deum
igual peso
de
água
de0o
aloC.
Que uma
tal
equivalênciaesteja
realmente
fundamentada
na
nátureza, pode-se considerar
como
orésumé2s
do
que
precedeu."
Pelaaplicação das
leis
estabelecidasàs
relaçõesde calor e volume
dos
gasescncontra-se
que
o
abaixamento
do
mercúrio que comprime um
gíts iguala-se
àquantidade
de
calor liberada pela
compressão e segue-se daí-
sendoo
índice
deproporcionalidade das
capacidades
Itérmicas]
do
ar
atmosférico sob
pressâoEsta descrição oue Mayer apresenta
da
lrttnslorntttçùode calor em
movimento não era. de forma alguma, comum na sua época. Carnot, por exemplo, supunha que totloo
calor fornecidoao
vapor. na caldeira. era depois transmitidopelo
vaporà
atmos-fera:
o
calor não era, segundo Carnot. transformado em trabalho.No
entanto, haviaiá
um precedente: Séguin, Marc,De
l'lnfluence de.¡ Chentinsle
Fer
ettle
l'¿lrt
tle las Tracertt
de
Ies Con.çtraire. Paris: Blanchard.ltt39.
pp, 3li2-403.Ver
Nota
ll.
Na
equaçãokt.ntd
-
k:.fltc!.
a
relaçâo entrea
velocidade adquiridae
a
altura percorrida na queda não pode ser previstau
príori:
é
preciso determinar ume constante empírica(a
aceleraçãoda
gravidade), atravésde
medidas.Em francês no original.
:{
94
Julius RobertIIaYer
constalrtr'c
sob
volunle
constante
=
1,421.r'i qtte
o
abaixatnento de
ulll
pcso c1eunla altura
de
aploxiuradamente
365
m
cct'responclu-ao
aqttecimento
de
unrigual
pesode
água,de t)''
a
1".-i
Cornpale-secom
estesresultados as
realizaçocsdc
nossasmclhores máquinas
a
vapol'.
e ver-se-áqtle
ûpenasulxa
parte
rnedíocl'cclo
calor uplicado sob
a
caldeira se transl'ounou
realmente
em movimento
ouerguimento de carga;
e
isto
pode servil' como iustificação para
a
procr.rt'a deoutla
forrna
vantajosa
de produçâo de movimento. ao invés
do
esperdicio
dadiferença química entre C
e0,-'a
saber: pela ttansfot'tnação da eletricidade,
pro-duzida
pol
meioquímicos,
em movimento.r\ PÊN D lC E:
O
cólculo
cloequivalente ntecanico
do
culor
-"Para'calcular
a correspondènciaentre
calor
eefeito
mecânico,Mayer
começa pol'indicar
qr.re,de
acotdo com as
experiências
de
Gay-Lussac'
um
gás que
se expandeno
vácuo
nãosofre
alteraçãode
temperatura;
eque. pol'tanto. a
simplesexpansão de um gás nem
altera
seucalor
específico nemaltera
seu estadotérmico.
Nlas
também
se sa,biaque
um
gás,ao
seexpandir
sob
pressão.diminui de
tem-peratura,
Essa reduçãode temperatura seria devida
a
uma tranformação
de calotem trabalho de
expansão.
E
isso explicalia
igualmente
o
motivo
da
diferençaentre
o
calor absorvido
por
um
gás
para se
aquecer
quando
o
aquecimento
círealizado
a
pressão constante
(e
o
gás
se dilata),
ou a
volume
constante. No
primeiro
caso,
o
calor fornecido não só aumenta
a
temperatura
do
gás,
mastambém produz
um
efeito mecânico.
No
segundo caso.
o
calor
fornecido
sóaumenta
a
lemperatura
do
gás,pois
ele nao se
dilata e não
realiza
trabalho.,\
di[erença entre os dois
calores específicos estará
portanto
relacionada
com
otrabalho
realizado.o
raciocínio desenvolvido aquipor
Mayer cle forma extremamente concisa.foi
apre-*"ì"¿.
Je forma mnis eiouãro¿á.*
r.ú
segundo trabalho pub_licado."Die
organischee.*.-oung..."
(Nota
t'i-
n.proã¡',timos o- argumentode
Mayer
no
Apêndice aopresente èrtlgo.
o
resultado obtidopor
Mayer. convertidoa
unidades modernas, correspondea
um*foi
¿"
i,6
J/cal
p'urn o ãquìuulente mecânicodo
calor;o
valor
atualmente aceitoé
rli
aproxinradanreàre ¿,1i,'iat.
Á
dif"r"nço
não é devidaa um
erro de cálculo ouã"-;.iä¿ípir
e sim
aos dadot in"*utos disfoníveisna
épocae
utilizadospor
Mayer' Mayerfala
em ,.diferença química" sem esclafecero
que isso significa.Mayer
pro-uuuÉl.',.n," faz uma onolårglJ"ni,.r
atraçào química entre os átomos de dois reagentes.-"-ri.^Ca.
ginuiro.ionoiîn,i.
urncor
e
i
T"rru.
Nos dois casos,o
"poder"
dis-ponivel seria proporcional
à
distânciaTerra).
e talvez Mayer tenha utilizrdomica". Note-se
que
Mayer considera que disponível,e
que
rnáquinas elétricas { naserianr mais eficientes.
De
fato. nos
iltuenergizr é
muito
melhordo
que nos motores termlcos'O
argumento zrqui apresentadoé
uma versão um.polco
modificu.d-^.39^cáìculo apre-sentaãopor
Mayer n'o seu trabalho"Die
organische Bewegttng"l-Obsemações sobre as Forças da Nøtureza
Inanimada
95 Para se aquecerde
l"c
um
grama
dear, a
volume
constunte,é
necessáriofor-necer-lhe
um calor.v.
Para
aquecer estemesmo
ar
de
1'c,
a
pressão constante. será precisofornecer-lhe um calor
.r-*
),
onde 1', adiferença entre
osdois
caloresabsorvidos,
é
equívalente
ao trabalho
realizado
pelo
gás
ao
sedilatar.
Sep
é
opeso
que comprime
o
gás, e esse peso se erguea uma
altlra h
pela dilatação
dogás,então!:P.h.
Um
centímetro
cúbido de ar a 0"C
e
pressãode 76 cm de mercúrio (ou
seja:pressão
atmosférica
normal), tem uma
massade 0,0013
g.3"
Uma variação
detempelatura
de
l'C
produzirá
uma variação de
volume de
l/27a
de
seu volumeinicial.
Seimaginarmos
que estecentímetro cúbico de
ar
estáem
um
prisma
combase
igual a
I
cm:.
ele esedilatará
l/274
cm.
Podemosimaginar que a
atmosfera que pressionao
ar corresponde a umacoluna
demercúrio
de baseigual a
1 cm2, ecuja
massa
será
igual
a
l0i3
g.
Portanto,
o
ar,
aquecido
de
1"C,
a
pressâoconstante
de
uma atmosfera,
ergue
1033
g
de mercúrio a uma altura
de
11274cm.
Portanto,
o
trabalho
y
realizado
na
expansãodo
ar
é
igual ao
erguimentode
1033
g
a
uma
altura
de
l/274
cm.
O
calor
específicodo ar
a pressão constanteé,0,267
vezeso
calor
específico daágua. Para se aquecer
de
I'C
um
cm3 dear
(com
massaigual
a0,0013
g)
deve-seportarìto
empregaro
mesmocalor
que
para
aquecerde
l'C
uma
massade
águaigual
a0.0013
x0,267
g,
ou
seja,0,000347
cal.De acordo com
asmedidas de
Dulong, a
razãoentre
o calor
específico a
pres-são constanre
e
o
calor
específico
a volume
constante
para
o
ar
(x
*
y/x)
é 1,421.
Portanto,
se
o
centímetro cúbico de
ar
tivesse
sido
aquecido
a
volume
constante,