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O câncer é a segunda principal causa de morte nos Estados Unidos e a
quarta no Brasil. Mundialmente é responsável por 1 em cada 10 mortes.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer Americano, aproximadamente
60 a 75% dos pacientes irão desenvolver síndromes dolorosas câncer
relacionadas durante o curso da doença ou como conseqüência do seu
tratamento.
Frente a estas estatísticas, podemos perceber que o controle da dor se
torna imperativo nestes pacientes, pois a dor não controlada causa
sofrimento desnecessário, com prejuízos para o sono e atividades
diárias, perda do apetite, bem com efeito psicológico negativo, já que o
paciente passa a relacionar a intensidade da dor ao agravamento da
sua doença. Isto freqüentemente leva a quadros de depressão que
muitas vezes culminam com o suicídio.
Em 85 a 95% a dor associada ao câncer pode ser efetivamente
tratada, para tal basta que sejam adotados programas integrados de
tratamento, considerando terapias farmacológicas, cirúrgicas,
anestésicas, quimioterápicas e radioterapia.
Dor no Paciente com Câncer:
Dor no Paciente com Câncer:
Como Abordar ?
Escada da Analgesia dos Três Passos da
Organização Mundial de Saúde ( OMS )
Drogas Anti-Inflamatórias Não
Drogas Anti-Inflamatórias Não
Esteroidais
Esteroidais
•
São usados tratamento da dor leve a moderada. Em contraste com os
analgésicos opióides, não apresentam tolerância ou dependência física.
•
Produzem analgesia por inibição de mediadores inflamatórios, como a
cicloxigenase. Como não ativam receptores opióides, produzindo
analgesia por um mecanismo separado, eles podem ser usados em
combinação com opióides. O uso simultâneo de opióides e DAINES provê
mais analgesia que qualquer droga sozinha.
•
Atualmente, não há nenhum dado conclusivo que mostre para uma
DAINE seja superior a outra para alívio da dor. Para pacientes com
câncer, é impossível predizer qual seria melhor tolerado por um
paciente em particular. Se um paciente não responde à dose de máxima
de um DAINE, outro deve ser tentado antes de descontinuar a terapia.
•
Recentemente houve um esforço intenso para desenvolver uma nova
geração de DAINES conhecida como inibidores da cicloxigenase 2
(COX-2). Embora dados atuais não mostrem que inibidores da COX-2 sejam
mais efetivo que os DAINES tradicionais , estes mesmos estudos
mostram que estes agentes reduziram o risco de lesão gastrointestinal
.Tabela 1 - Analgésicos Não Opióides
Classe química
Nome genérico Meia vida (H) Dose inicial (mg) Dose máxima (mg/dia) Comentários Derivados do p-aminofenol
Paracetamol (Tylenol) 3-4 750 6/6h 6000 Ausência de efeitos anti-inflamatório e anti-agregantes Ácido acetil
salicílco
Aspirina (AAS) 3-4 500 6/6h 6000 Contra-indicada em crianças com febre ou doença viral ( S de Reye) Ácido propiônico Ibuprofeno (Advil) Naproxeno (Flanax) Cetoprofeno (Profenid) 3-4 1-3 2-3 400 6/6h 250 12/12h 25 8/8h 4200 1000 200 Ácido acético Indometacina (Indocid)
Diclofenaco (Voltarem) 4-5 2 25 12/12h 25 8/8h 200 200 Disponíveis em preparações retais Oxicans Piroxicam (Feldene)
Tenoxicam (Tilatil) 45 40 20 24/24h 20 24/24h 40 40 Fenamatos Ácido Mefenânico
(Ponstan)
2 250 6/6h 1000 Inibidores da
COX-2
Celoxocibide (Celebra) 4-5 100 12/12h 400 Menos efeitos colaterais
Opióides
Opióides
Analgésicos opióides são a principal forma de tratamento para dor em mais de 80 %
dos pacientes com câncer, antes de sua morte. Estas drogas produzem analgesia por se ligarem a receptores opiáceos específicos () no cérebro e medula espinhal.
Os opióides devem ser administrados pela via menos invasiva e mais segura, capaz
de promover analgesia adequada. A via oral é a preferida por ser a mais conveniente e barata, porem é imprópria para pacientes que requerem o início rápido de analgesia e para pacientes que requerem doses muito altas.
Se a via oral não é disponível, a via retal deve ser considerada, (estão disponíveis
supositórios de morfina, hidromorfona e oximorfona e supositório de morfina de liberação-controlada) bem como a via transdérmica. Fentanil é atualmente o único opióide disponível na forma transdérmica.
Administração intramuscular deve ser evitada porque é dolorosa e inconveniente, e a
absorção não é fidedigna. Administrações intravenosas e subcutâneas de opióides são alternativas efetivas se os pacientes não podem tomar os medicamentos ou se os pacientes exigem altas doses de narcóticos para alcançar controle da dor.
Infusão contínua ou analgesia paciente-controlada (PCA) podem ser usadas para
administrar analgésicos intravenosos ou subcutâneos. Analgesia paciente-controlada é uma técnica de administração de droga parenteral na qual uma bomba infusora controlada pelo paciente administra doses em bolus de um analgésico de acordo com parâmetros fixados pelo médico, isto permite ao paciente controlar a quantia da analgesia recebida e podem ser administrados com segurança a pacientes em casa ou no hospital.
Tabela 2 - Analgésicos Opióides*
Droga Dose equivalente a 10mg de morfina IM IM VO Meia Vida (H) Duração da Ação (H) Comentários Opióides Fracos Codeína Propoxifeno 130 100 200 30 2-3 2-3 2-4 2-4 Em combinação com acetaminofem.
Cuidado no paciente renal, pois seu metabólito pode causar convulsão. Opióides Fortes Morfina Meperidina Fentanil Transdérmico 10 75 60 300 2-3 2-3 3-4 2-3 48-72
Cuidado no paciente renal, pois o acúmulo de seus metabólitos aumenta a toxicidade.
Não é recomendada para pacientes com câncer , com doença renal e que recebem inibidores da MAO
Estão disponíveis adesivos de 25,50,75 e 100g/h.
Drogas Adjuvantes
Drogas Adjuvantes
É importante reconhecer que nem todos os tipos de dor associada ao câncer
respondem bem aos opióide. Dor de metástases ósseas e dor neuropática, nem sempre são responsivas. O uso de medicações adjuvantes são úteis para aumentar a eficácia de analgésicos opióides , tratar sintomas simultâneos que exacerbem a dor, e prover analgesia para tipos específicos de dor. Eles podem ser usados em todas as fases da “escada da analgesia”. Agentes comumente usados , incluem corticosteróides, anticonvulsantes, antidepressivos, anestésicos locais, anti-histamínicos, neurolépticos e bifosfonados.
Os corticóides reduzem o edema podendo ser útil no tratamento dos sintomas
associados com metástases cerebrais ou compressão de medula espinhal. E ainda temos, efeito anti-inflamatório, antiemético e de elevação do humor.
Os anticonvulsivantes suprimem a ativação neuronal (via estabilização da membrana),
controlando a dor em queimação ou a dor lancinante associada a dor neuropática.
Os antidepressivos tricíclicos são usados freqüentemente para o tratamento da dor
neuropática. Eles potencializam o efeito dos analgésicos opióides, melhoram o humor e o sono, e provêem efeito analgésico intrínseco. Dos novos antidepressivos, os inibidores da recaptação de serotonina, apenas a paroxetina tem sido estudada para propriedades analgésicas.
Um tipo de dor freqüênte é a dor óssea, normalmente a dor óssea é causada por uma
reabsorção osteoclástica induzida pelo tumor. Isto pode levar a osteopenia, microfraturas ou fraturas patológicas e hipercalcemia. Seu tratamento deve ser feito com a associação de uma DAINE com os bifosfonados, já que este último inibe a reabsorção óssea.
Tabela 3 - Drogas Analgésicas Adjuvantes *
Drogas Dose diária para adultos Tipo de dor Corticóides Dexametasona (Decadron) Predinisona (Meticortem) 16 a 96 mg VO ou IV 40 a 100 mg VO Metástases cerebrais Compressão de medula espinhal Anticonvulsivantes Carbamazepina (Tegretol) Fenitoína (Hidantal) 200 a 1600 mg VO 300 a 500 mg VO Dor neuropática Antidepressivos Amitriptilina (Tryptanol) Imipramina (Tofranil) Paroxetina (Aropax) 25 a150 mg VO 20 a 100 mg VO 10 a 50mg VO Dor Neuropática Neuroléptico
Clorpromazine (Amplictil) 40 a 80 mg VO Analgésico, sedação e anti-emético
Anti-histamínicos
Hidroxizine (Marax) 300 a 450 mg VO Insônia, ansiedade e náuseas Psicoestimulantes
Metilfenidato (Ritalina) 10 a 15 mg VO Diminui a sedação e aumenta a analgesia
Abordagens Não
Abordagens Não
Farmacológicas
Farmacológicas
Fisioterapias e Psicoterapias: podem ser usadas com drogas para diminuir dor de
câncer.
Radioterapia: pode aliviar dor de origem metastática, bem como sintomas de
extensão local da doença primária. Mais de um terço da prática de RT é paliativo pretendendo aliviar a dor rapidamente e manter o controle dos sintoma durante a vida do paciente. É o tratamento de escolha para metástases solitárias. A redução tumoral e a inibição da liberação de mediadores químicos da dor , são os principais mecanismos pêlos quais a RT age. Sua rápida ação , é alcançada em 24 horas, tanto com a irradiação local fracionada simples, quanto com a irradiação do hemicorpo .
Procedimentos Anestésicos : estão disponíveis para o manejo do paciente: inalação
de óxido nítrico, barbitúricos endovenosos, aplicação de anestésicos locais subcutâneo, endovenoso ou transdérmico e bloqueio de nervos periféricos e autonômicos.
Procedimentos Neurolíticos : são feitos pela injeção de agentes neurodestrutivos
(fenol e álcool absoluto) no nervo ou em suas proximidades. Tem particular aplicabilidade nas síndromes dolorosas do paciente com câncer de origem visceral.
Neurocirurgias : são reservadas a pacientes irresponsivos a outros procedimentos
menos invasivos. A escolha do procedimento está baseado no tipo e localização da dor, condição geral, e expectativa de vida do paciente. Podem ser de dois tipos: neuroablativos ou neuroestimulatórios. Os procedimentos neuroablativos tentam interromper a transmissão da dor ao longo das vias nervosas. Procedimentos neuroestimulatórios são operações durante as quais eletrodos são colocados para estimulação elétrica das porções do sistema nervoso central.
Tabela 4 – Principais Procedimentos Neuroablativos.
Sítio
Procedimento
Indicação
Procedimentos Neuroablativos
Raiz Nervosa
Rizotomia
Dor somática e neuropática por
infiltração tumoral dos nervos
cranianos e intercostais.
Medula espinhal
Cordotomia
Mielotomia
Dor unilateral abaixo da cintura.
Dor na linha média abaixo da
cintura. É raramente usado
devido à extensão da cirurgia.
Tronco cerebral
Tractomia
mesencefálica
Dor na nasofaringe e região do
trigêmeo.
Tálamo
Tálamotomia
Dor neuropática unilateral no
tórax e extremidade inferior
Córtex
Cingulotomia
Dor difusa. Sua abordagem é por
estereotaxia
Hipófise
Hipofisectomia
transesfenoidal
Dor de metástases ósseas de
tumores endócrinos dependentes,
de mama e de próstata.
Conclusão
Conclusão
•
A conclusão deste trabalho tem por objetivo a proposição de um
A conclusão deste trabalho tem por objetivo a proposição de um
algoritmo para a abordagem das síndromes dolorosas no paciente com
algoritmo para a abordagem das síndromes dolorosas no paciente com
doença neoplásica, utilizando-se de recursos disponíveis dentro da
doença neoplásica, utilizando-se de recursos disponíveis dentro da
realidade brasileira, visto que a revisão bibliográfica realizada teve
realidade brasileira, visto que a revisão bibliográfica realizada teve
como base a literatura norte americana.
como base a literatura norte americana.
•
O algoritmo que se segue, teve como molde a escala analgésica dos
O algoritmo que se segue, teve como molde a escala analgésica dos
três passos proposto pela Organização Mundial da Saúde, e que
três passos proposto pela Organização Mundial da Saúde, e que
segundo suas estatísticas prevê alívio adequado das síndromes álgicas
segundo suas estatísticas prevê alívio adequado das síndromes álgicas
em até 90 por cento dos pacientes, desde que apresentem aderência
em até 90 por cento dos pacientes, desde que apresentem aderência
integral ao programa de tratamento. Espera-se que este programa
integral ao programa de tratamento. Espera-se que este programa
adaptado a nossa realidade apresente resultados similares.
adaptado a nossa realidade apresente resultados similares.
•
Para comprovar a eficácia deste algoritmo sugere-se que este seja
Para comprovar a eficácia deste algoritmo sugere-se que este seja
implantado nos centros de referência de tratamento de pacientes com
implantado nos centros de referência de tratamento de pacientes com
câncer, a nível nacional, e os resultados comparados aos da literatura
câncer, a nível nacional, e os resultados comparados aos da literatura
mundial, com o objetivo de verificar se mesmo frente às dificuldades
mundial, com o objetivo de verificar se mesmo frente às dificuldades
quanto a disponibilidade de drogas modernas e procedimentos
quanto a disponibilidade de drogas modernas e procedimentos
cirúrgicos de alta tecnologia, encontraremos resultados próximos
cirúrgicos de alta tecnologia, encontraremos resultados próximos
àqueles encontrados em países de primeiro mundo.
Figura1 : Algoritmo Proposto para Abordagem Terapêutica da Dor no Paciente com Câncer. Avaliação do Paciente História médica História Oncológica Histórico da dor Plano de Tratamento Plano 1 Dor Leve Paracetamol Aspirina Ibuprofeno Indometacina Piroxican Celoxocibide Plano 2 Dor Moderada Opiódes Fracos Codeína Propoxifeno Tramadol Plano 3 Dor Intensa Opióides Fortes Morfina Meperidina Fentanil transdérmico
Melhora Melhora Melhora
Sim Não Sim Não Sim Não
Passar para o plano 2 Passar para o plano 3 Abordagens não farmacológicas: Cirurgia Radioterapia Procedimentos