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JONLANG-CRIANDOATEORIADAARQUITETURA-CAP.3

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CRIANDO TEORIA DA ARQUITETURA: O

PAPEL DAS CIÊNCIAS

COMPORTAMENTAIS NO PROJETO

AMBIENTAL (LIVRO)

(CREATING ARCHITECTURAL THEORY: THE ROLE OF THE BEHAVIORAL SCIENCES IN THE ENVIRONMENTAL DESIGN1)

JON LANG

TRADUÇÃO DE FREDERICO FLÓSCULO PINHEIRO BARRETO

PROFESSOR DA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

CAPÍTULO 3

AS CIÊNCIAS COMPORTAMENTAIS

E A TEORIA DA

ARQUITETURA

“Ciências Comportamentais” é um termo bem amplo. Em geral pretende-se que inclua a antropologia, a sociologia, e a psicologia. Algumas vezes a ciência política e a economia são incluídas sob essa rubrica. São campos dedicados ao desenvolvimento da compreensão das atividades, atitudes e valores humanos. O foco deste livro se dirige ao subconjunto desses campos que se dedica à natureza dos habitats humanos e à relação entre estrutura física do mundo, as atividades e valores humanos. Esse subconjunto recebe denominações como: psicologia ambiental, relações homem-ambiente, sociologia ambiental, ou ecologia humana. Aqui será referido como teoria pessoa-ambiente. O nome denuncia um viés quanto ao foco da atenção dos que usam essa referência. Uma teoria pessoa-ambiente incorpora as demais referências.

A psicologia ambiental tem sido definida como “o estudo psicológico do comportamento na sua relação com o ambiente físico cotidiano” (Craik, 1970,

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Srivastava, 1971). Uma análise da literatura desse campo, no entanto mostra que os tópicos incorporados sob seu rótulo incluem a teoria da percepção, a cognição, a psicologia social e antropológica, o estudo das relações sociais, e o estudo da cultura. Os termos relações homem-ambiente e sociologia ambiental cobrem praticamente as mesmas áreas, apesar de esse último implicar num maior interesse com as correlações entre a filiação a um grupo social e o uso de valores associados a padrões ambientais específicos. Apesar das pessoas associadas a essas áreas de estudo não parecer reconhecer isso, toadas elas estão diretamente interessadas no problema da construção de uma teoria positiva do projeto ambiental. Isso representa um importante desvio dos interesses tradicionais dos cientistas comportamentais.

O estudo tradicional da psicologia tem-se focalizado nos fenômenos ambientais interpessoais ou intra-psíquicos. Esse estudo tem tentado explicar o comportamento em termos das relações entre indivíduos ou em termos de determinados estados que existem dentro da pessoa (Friedman e Juhasz, 1974). Onde quer que o ambiente físico tenha sido tomado em consideração, como é o caso da pesquisa acerca da percepção, a ênfase ocorre nos aspectos moleculares físicos (tais como os comprimentos de onda da luz) e no nível molecular do comportamento humano (como nas respostas galvânicas da pele). Estas pesquisas são muito respeitadas pela excelência de seu elaborado aparato experimental, mas apresentam uma utilização marginal na construção de uma teoria do projeto ambiental. Quando a pesquisa em psicologia rompe com esses padrões e passa a lidar com o ambiente de um modo molar (como no caso da psicologia da Gestalt), seus conhecimentos são celeremente adotados pelos arquitetos, para o bem ou para o mal (Overy, 1966, Senkevitch, 1974).

A sociologia tem mostrado pouca consideração pelo ambiente físico como um componente nos processos grupais. A Escola de Chicago (de ecologia humana), declarava que a natureza do ambiente físico era de grande importância para eles (Park et al., 1925; Hawley, 1950). Um exame mais demorado mostra que isso foi deixado para trás, no “pó da estrada”; não era, na verdade, parte de sua agenda de pesquisa (Michelson, 1976). Já a antropologia tem-se mostrado interessada nos artefatos da cultura e nas localidades em que foram criados, embora seu foco de atenção tenha se voltado para as estáveis sociedades “primitivas”. Isso tem mudado nos últimos tempos, como mostraremos adiante.

Os Interesses das Ciências Comportamentais

O objetivo fundamental das ciências comportamentais é construir teoria positiva. Elas buscam descrever e explicar fenômenos. Se forem capazes de fazer isso bem, então esse conhecimento pode ser usado para prever padrões futuros de atividades e de valores. Quando um antropólogo, psicólogo ou sociólogo faz uma declaração de caráter normativo sobre o futuro – isto é,

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quando ele ou ela declaram sua preferência por um futuro e não por um outro – então essa pessoa se torna um advogado ou um planejador, mais que um cientista social. Os cientistas sociais em uma sociedade democrática têm todo o direito a fazer algo assim, ainda que corram o enorme risco de serem criticados por seus colegas. Planejadores e projetistas estão sempre interessados no futuro. Todos os atos de um arquiteto, de um paisagista ou de um urbanista é algo como uma advocacia por um determinado futuro em detrimento de um outro futuro. Muitas vezes os projetistas desejam que os cientistas comportamentais lhes digam quais deveriam ser os objetivos de seus projetos, como se pudessem obter declarações objetivas e factuais, e não ideológicas (Gutman, 1972). Os cientistas comportamentais mais sensíveis se mostram relutantes em fazer isso por que pode significar que estariam a afastar-se de seus papéis profissionais.

O processo de pesquisa defendido pelos cientistas comportamentais é o método científico, ou uma aproximação tão próxima quanto possível desse método. O resultado tem sido uma ênfase na experimentação laboratorial em psicologia e em procedimentos tão empiristas quanto possível em sociologia ou em antropologia. Freqüentemente a ênfase na pesquisa rigorosa tem resultado em um maior interesse na estética do processo do que na importância das perguntas que são feitas. Além disso, esses campos nem estiveram preocupados com o ambiente construído, nem com o exame da crença implícita nessa despreocupação – ou a crença de que o ambiente natural e o ambiente construído são geralmente pouco importantes no estudo do comportamento humano. Técnicas de pesquisa relativamente recentes (tais como as de Barker, 1968; Michelson, 1975; Zeisel, 1981) vêm produzindo resultados de direta utilidade para os arquitetos, e os cientistas comportamentais apresentam interesse crescente nas questões relacionadas ao ambiente construído. Mas um dos problemas apontados na pesquisa recente (em conferências como as promovidas pela Environmental Design Research Association – EDRA), é que ela não é focada em questões do interesse direto dos projetistas. Isso tem levado a uma discussão acerca da “lacuna da utilidade” entre os achados das pesquisas e a prática profissional do projeto (ver Windley e Weisman, 1977; Kantrowitz, 1985). Fatos empíricos em si mesmos não guiam a prática, mas a teoria faz isso. Daí que a pesquisa necessita ter seu foco na construção teórica.

Os Interesses do Projeto

Para se apreciar devidamente a contribuição das ciências comportamentais ao desenvolvimento de bases teóricas para o projeto, deve-se ter uma imagem dos interesdeve-ses dos projetistas. “Envolver-deve-se com o trabalho de teorizar não significa somente aprender com as próprias experiências, mas também pensar sobre o que haveria a aprender” (Kaplan, 1964). Qualquer categorização dos interesses de um determinado campo de estudos é enviesado pelas visões das pessoas que a proponham, porque depende de suas próprias atitudes e experiência.

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Se aceitarmos as declarações geralmente aceitas sobre a arquitetura, como modelos que poderiam também ser aplicados às demais profissões do projeto, então não será difícil encontrar um consenso geral sobre os interesses da atividade de projeto, apesar de diferentes autores usarem diferentes vocabulários para expressar isso (ver a tabela 3.1). Uma declaração da maior importância foi feita por Vitrúvio, arquiteto do imperador romano César Augusto, há cerca de dois mil anos atrás. De acordo com Vitrúvio, um edifício deveria atender a três propósitos básicos: utilitas, venustas e firmitas. Essa declaração foi parafraseada por Sir Henry Wotton (1624) da seguinte maneira:

“Na Arquitetura assim como nas demais Artes Aplicadas, o fim deve orientar a Aplicação.

O fim consiste em construir bem. Bem-construir tem três Condições. Comodidade, Firmeza e Deleite”.

Wotton expressou algumas apreensões sobre a subdivisão dos interesses da arquitetura desse modo, mas, como outros depois dele (por exemplo, Scott, 1935), ele considerou que poderia ser de utilidade como ponto de partida para a sua análise dos edifícios. É importante relembrar que esses três interesses são inter-relacionados. Geoffrey Scott observa que:

“A Arquitetura é o foco de três propósitos distintos que convergiram. Eles se misturam em um único método; eles são atingidos em um único resultado; ainda assim, eles podem ser distinguidos um dos outro...” Comodidade e firmeza são certamente importantes contribuições ao deleite. O engano de muitos dos arquitetos modernistas foi acreditar que somente esses dois propósitos seriam os exclusivos contribuintes ao deleite.

Comodidade, ou o que Norberg-Schulz (1965) chama “finalidade da construção”, era entendido como o objetivo funcional da arquitetura pelos arquitetos modernistas, e o deleite, ou a “forma” nos termos de Norberg-Schulz, o objetivo estético. Arquitetura também requer firmeza. Edifícios devem perdurar n medida em que forem necessários. A história da arquitetura é, em parte, uma história da tecnologia. De fato, a tecnologia tem sido um aspecto predominante na explicação da evolução da arquitetura. As mais importantes mudanças no estilo arquitetônico tem sido resultado, contudo, dos inter-relacionamentos de muitos fatores: a emergência de novos tipos de clientes; as mudanças nos estilos de vida, na estratificação social, nos valores e nas culturas econômicas; e desenvolvimentos na tecnologia disponível ou em vias de ser produzida pelos próprios projetistas ou pelos construtores.

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VITRUVIUS WOTTON GROPIUS

NORBERT-SCHULZ STEELE

Utilitas Comodidade Função Tarefa

projetual Venustas Deleite Expressão Forma

Firmitas Firmeza Técnica Técnica

Instrumentalidade; Abrigo e segurança; Contato social; Identificação simbólica; Prazer; Crescimento. Tabela 3.1 – Os interesses dos campos projetuais, tais como vistos por diferentes autores.

Separar comodidade e deleite parece implicar que o deleite não serviria a nenhum propósito fundamental. Simplesmente não é o caso. As funções estéticas devem ser compreendidas dentro do conjunto de outras funções existentes a partir do ambiente físico (ver Broadbent, 1975; Mukarovsky, 1981). É através da estética simbólica, em particular, que criamos imagens que comunicam mensagens às outras pessoas acerca de nós mesmos e de nossas aspirações. Enquanto há certa utilidade analítica na manutenção da separação da comodidade e do deleite, deve-se reconhecer o deleite que há na comodidade e a comodidade que há no deleite.

Várias tentativas foram ainda feitas a partir d declaração feita por Vitrúvio. Fred Steele (1973) enxerga seis funções básicas na arquitetura: abrigo, segurança, contato social e instrumentalidade para a ação humana, de um lado, podem ser confirmados como pertinentes à comodidade; por outro, a identificação simbólica e o prazer são aspectos da estética – ou, nos termos usados por Wotton, deleite. Crescimento é algo que está presente em todos os aspectos do projeto ambiental, por envolver coisas como a oportunidade para o aprendizado pelo prazer de aprender.

Assume-se aqui que o objetivo do projetista é criar ambientes que respondam a essas necessidades humanas. Assim, um modelo de necessidades humanas é necessário para que se defina o conjunto de interesses dos campos do projeto que tenham relação com a “não-fimeza”, a não-firmitas. O modelo usado neste trabalho é aquele concebido pelo psicólogo humanista Abraham Maslow (1954). O ambiente construído, se propriamente configurado, pode dar resposta a necessidades humanas relacionadas à sobrevivência, à segurança, ao convívio, à estima, ao aprendizado, à estética. Esse é o fundamento da filosofia normativa deste trabalho.

Criar tal ambiente não é tarefa fácil. Para compreender o porquê devemos estudar a natureza dos problemas que os projetistas confrontam.

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A Natureza dos Problemas do Projeto

Projetar os compartimentos internos a um edifício, ou os próprios edifícios e conjuntos arquitetônicos, ou áreas urbanas, são tarefas desafiadoras, que causam apreensão, dado que a gama de atividades e de necessidades estéticas das pessoas é tão vasta que é difícil compreendê-las, assim como compreender quais as configurações do ambiente que melhor podem atendê-las. Essa dificuldade requer que identifiquemos exatamente qual é o problema de que estamos falando, e encontrar ou inventar a melhor solução ao nosso alcance para um contexto particular. Para muitas situações, isso é resolvido pelo pragmático compromisso de que uma dada variedade de necessidades de uma dada variedade de usuários (e demais partes interessadas) deve ser atendida simultaneamente. As necessidades, em si mesmas, podem ser difíceis de identificar. Muitas delas são fundamentalmente inconscientes. Os clientes podem não ter habilidade para articulá-las claramente, e poucos projetistas entendem essa dificuldade e tem o treinamento necessário para dar apoio aos usuários. Um dos objetivos deste trabalho é ampliar a sensibilidade dos projetistas para com as necessidades dos usuários.

Projetistas podem ser apropriadamente chamados de “solucionadores-de-problemas”. Um problema de projeto ambiental pode ser identificado quando há uma discrepância entre a configuração presente do ambiente e uma configuração que melhor responderia as necessidades de um indivíduo ou de um grupo de pessoas. Isso não significa, no entanto, que o único interesse dos projetistas seja a remoção de barreiras negativas, de estorvos ao desenvolvimento humano. A criação de ambientes que valorizam a experiência humana é também merecedora da maior atenção.

“O ato da criação é de imenso valor para s pessoas... por que nós somente continuamos vivos por nos adaptarmos às mudanças ambientais. Se estagnarmos, pereceremos. Mas se criarmos para o futuro desde o nosso presente, teremos feito ajustamentos necessários, teremos mudado o nosso ambiente e teremos um novo ponto de vista” (Fry, 1961).

Os problemas com que os projetistas se defrontam em seu trabalho de criação já chegaram a ser denominados “funestos” (Rittel, 1971). Os problemas ambientais são funestos porque são muito mal definidos. A natureza do futuro que desejamos raramente é clara. Raramente temos clareza de qual é o âmbito do problema, quais de seus componentes podem estar sob o controle dos projetistas, quais componentes são importantes para quais pessoas, ou quais são as soluções mais apropriadas. A vida é curta para que testemos todas as soluções possíveis, mesmo para aqueles problemas mais simples. Além disso, todos os problemas de projeto ambiental são únicos, e não há uma fórmula específica para lidar com eles. Não deve nos surpreender, portanto, que a arquitetura modernista apresente algumas importantes limitações, assim como

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o pós-modernismo ou qualquer outra filosofia projetual. Não é razoável esperar que todas as pessoas fiquem satisfeitas com qualquer edifício que abrigue muitas atividades, ou com um complexo de tais edifícios, ou mesmo com o projeto de uma área urbana aberta ao uso público – esperar que tais realizações possam responder a todas as necessidades igualmente bem. Somos tentados a protestar quando as demais pessoas exijam de nós, azafamados projetistas, que façamos ainda melhores trabalhos. Claro que, apesar dos limites que existem no potencial humano, sabemos que é possível fazer melhores trabalhos. As ciências comportamentais têm muito a oferecer quanto a isso. Elas não se propõem a solucionar todas as dificuldades, contudo. Afortunadamente, os humanos são adaptáveis, de tal modo que soluções “perfeitas” não são necessárias – o que não quer dizer que os projetistas não devam empregar suas energias para otimizar os seus trabalhos. As ciências comportamentais se colocam a serviço do alcance desse objetivo.

A Contribuição das Ciências Comportamentais à Teoria do Projeto

As ciências comportamentais contribuem de várias maneiras para a teoria do projeto. Essas maneiras foram diagramadas na figura 3-1, e consistem em: (1) teorias e modelos que contribuem para a compreensão do processo de projeto e da relação entre as pessoas e o ambiente – particularmente o ambiente construído; e (2) métodos de pesquisa. De tempos em tempos (res)surge a questão sobre qual dessas maneiras seria a mais relevante. Ambas são importantes.

Há dois conjuntos de teorias e de modelos que são do interesse daqueles que criam teorias do projeto. O primeiro conjunto relaciona-se à teoria de procedimentos e a segunda com a teoria substantiva. A primeira se relaciona com o conhecimento sobre os processos de análise, criação e avaliação; a segunda com o conhecimento sobre o mundo, o uso que as pessoas fazem dele, o modo pelo qual as pessoas relacionam-se umas com as outras no mundo, e suas atitudes diante do mundo. Se considerarmos que um dos problemas que havia quanto ao ideário normativo dos mestres modernistas era que eles assumiam a universalidade da aplicação de seus princípios de projeto, então nos dirigimos para a consideração dos modelos das diferenças que ocorrem entre indivíduos e entre sociedades.

As posições normativas dos projetistas são baseadas no que eles conhecem e no que acreditam acera do que o mundo é, e de como o processo de projeto deve ser conduzido. Posições normativas são modeladas pelas visões de mundo dos projetistas que, por sua vez, são modeladas pelas culturas – da mais ampla cultura de sua sociedade à mais estrita cultura da sua profissão – às quais pertence. Os modelos de visões de mundo e os processos pelos quais esses modelos esses modelos se desenvolvem são importantes para a compreensão dos exemplos normativos que adota com respeito às concepções de um mundo melhor e as percepções de como deve ser

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estabelecida a práxis do projeto ambiental. Alguns, como Frank Lloyd Wright, tiveram visões muito claramente articuladas, mas outros, não. Tais visões podem ser estudadas no âmbito de uma estrutura de análise positivista (ou seja, através de abordagens científicas ou quase-científicas), mas, como já se apontou, elas não são e nem podem ser posições científicas. Tradicionalmente, tais visões tem sido o núcleo da teoria da arquitetura. Elas podem ser estudadas, na atualidade, com muito mais rigor que no passado, pelo uso das teorias modernas da cognição e da formação de atitudes, bem como pelo uso de métodos de pesquisa da história.

Os métodos de pesquisa são uma segunda importante contribuição das ciências comportamentais. Os projetistas sempre tem usado observação e a entrevista – técnicas básicas da ciência comportamental – para obter informações sobre o mundo, mas eles têm usado esses métodos de modos bem diferentes. Enquanto os cientistas comportamentais têm sido capazes de aumentar a precisão e a validade de seus achados através de pesquisas, os projetistas geralmente se apóiam em procedimentos casuais.

Os métodos de pesquisa dos cientistas comportamentais são de importância básica para quem quer que estude o ambiente construído ou os processos e projeto. Esses métodos também podem auxiliar diretamente o profissional praticante, particularmente na fase da programação do projeto – como discutiremos adiante (ver também Sanoff, 1977; Pena, 1977; Palmer, 1981). Nem todas s técnicas da ciência comportamental são aplicáveis à pesquisa aplicada ao projeto ambiental, e há determinadas áreas de interesse dos projetistas (como a estética simbólica, por exemplo) para as quais as técnicas disponíveis na atualidade não são de grande ajuda. No longo prazo, é mais provável que os pesquisadores na área do projeto ambiental venham a desenvolver técnicas mais apropriadas para lidar com os problemas específicos com que se defrontam. Muitos dos métodos para a pesquisa sobre a relação entre o ambiente e o comportamento humano têm sido habilmente documentados em vários livros recentes (tais como os de Michelson, de 1975; e Zeisel, 1981), e uma breve revisão desse assunto aqui nos dará uma primeira compreensão de sua contribuição para o projeto ambiental.

Enquanto que a entrevista e a observação são as formas básicas de obtenção de informação para a criação de teoria para o projeto e para a sua programação, há diferentes modos de entrevistar e de observar as pessoas. A seleção da técnica mais adequada depende do problema em pauta. As diversas técnicas de entrevista são úteis para as investigações acerca do envolvimento mental das pessoas com o ambiente, e suas esperanças para o futuro (Goodrich, 1974; Marans, 1975). Também são amplamente utilizadas para entender como as pessoas usam o ambiente.

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Mé to do s de P e squi sa A s Ci ê nci a s Co mp or ta me nt a is Fi g . 3.1 - As C iê nc ia s C omp o rta m e nt ai s e a T e o ria do P ro je to Am b ien ta l Teori a s e mode lo s do a mbi e nt e, da s p esso as , e de s ua s i nte raçõ e s. Te o ria de T oma da de D ecisõ e s Te o ria Arquit etônic a No rmat iva A Visão de M und o etista Proj do Po sit iv a Su bs ta nt iv a D e P roc e d im en to s Assumida como Sub st a nt iv a As su mi da co mo d e P ro c ed im en to s Pr á tic a Proje to d e Edif ica ç ã o De se mpenho da E d ifi cação Co nt e xto d a Pr áx is

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As técnicas de entrevista foram submetidas a fortes críticas nos últimos tempos. As pessoas podem ter dificuldades para falar do que sentem. Elas também sabem que estão sendo estudadas, mesmo que o formato do questionário ou dos tópicos de entrevista disfarce o verdadeiro propósito do estudo. Esses problemas podem ser superados pela forma da apresentação das questões às pessoas, e pelo uso de técnicas auxiliares ao levantamento de informações, como no registro das atividades diárias em mapas, pelo registro, em cronogramas, dos dispêndios, custos, recursos utilizados, etc., pelo uso de jogos “semi-projetivos”, em que o desempenho das pessoas gera informações úteis. Apesar de essas técnicas também terem suas limitações, são os principais meios para se compreender atitudes e valores estéticos.

As técnicas observacionais variam bastante quanto à sua abrangência e ao seu rigor. A mais sistemática é o experimento científico, no qual uma variável é manipulada para que se veja qual o impacto que tem sobre outra, quando todas as demais variáveis são mantidas constantes. Muito da pesquisa nas áreas da percepção e da cognição tem envolvido técnicas de experimentação. Esse tipo de pesquisa é confinado a laboratórios, e não tem sido útil para o estudo das atividades humanas. É possível, no entanto, planejar e executar experimentos que ocorram fora da clausura laboratorial. Nos experimentos “naturais”, elementos do ambiente são manipulados, enquanto os sujeitos da experimentação são, simplesmente, as pessoas estiverem por ali, transeuntes ou usuários ordinários. Pesquisas feitas acerca dos pedestres e das filas, por exemplo, usaram essa abordagem. Diferentes layouts são testados para observar o impacto que têm no modo como as pessoas movem-se no ambiente.

A técnica observacional mais amplamente utilizada é a simples observação (Patterson, 1974; Zeisel, 1981). Na simples observação nem o ambiente nem as pessoas são manipuladas. Ela envolve. No entanto, o registro sistemático das observações, e uma grande atenção aos períodos de tempo selecionados para a observação, de modo que o observado é uma amostra representativa da realidade. Técnicas especiais como o mapeamento comportamental têm sido desenvolvidas para que o registro das observações seja mais exato. O problema com a simples observação é a dificuldade de fazê-la sem que o observador seja intrusivo. O uso de câmaras de televisão, de fotografias em períodos fixos de tempo, de filmadoras, auxiliam na superação dessa ordem de problemas. Contudo, isso também levanta questões éticas. Por outro lado, a observação participante também uma técnica não-obstrutiva que pode ser usada na pesquisa orientada para o projeto (Neutra, 1954). O pesquisador, nesse caso torna-se parte do sistema que está sendo observado. Agora o problema da pesquisa repousa no fato de que a presença do pesquisador provavelmente alterará o comportamento do sistema.

Uma das importantes contribuições que as ciências comportamentais podem dar à pesquisa orientada para o projeto ambiental, e para a construção

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de teorias, é atitudinal. Os cientistas do comportamento estão particularmente preocupados com a objetividade dos seus métodos – que os termos e procedimentos sejam claramente definidos, de tal modo que outros investigadores possam reproduzir facilmente seus estudos ou, pelo menos, possam formar seus próprios julgamentos acerca da qualidade dos resultados obtidos em tais experimentos. Dessa forma, a pesquisa segue uma seqüência de passos lógica e inter-relacionada: a formulação do problema; o estabelecimento do esquema de pesquisa; a seleção de procedimentos de mensuração; a coleta de dados; a análise e interpretação dos achados; e a aplicação dos resultados à construção de teorias ou ao teste das teorias existentes. As profissões do projeto, por possuírem uma pequena herança de conhecimentos próprios obtidos pela pesquisa, devem examinar o conjunto de técnicas desenvolvidas por outros pesquisadores, de outras áreas, como ponto de partida para seus próprios esforços de pesquisa. Dado que fizemos tão pouca pesquisa comportamental no passado, teremos ainda que nos apoiar fortemente nas pesquisas já feitas em outras áreas, para que muitas de nossas buscas sejam elucidadas. Um exame das interações entre as ciências comportamentais e o Movimento Moderno em arquitetura mostra isso. E também mostra o quanto as contribuições feitas foram pouco sistemáticas.

As Ciências Comportamentais e o Movimento Moderno

A influência das ciências comportamentais, propositais ou inconscientes, sobre o Modernismo, tem sido importante, ainda que seja inadequadamente compreendida (Perez-Gomez, 1983). Durante os dois últimos séculos muitos projetistas, arquitetos, paisagistas e urbanistas se voltaram para as ciências comportamentais tanto para clarificar questões de seu interesse ou para conferir uma base racional às suas posições normativas. Muitos outros projetistas rejeitaram essa abordagem por considerarem que seu senso comum lhes bastava, e que seu papel criativo seria reduzido se passassem a se apoiar em plataformas científicas. Certamente, a análise sistemática da contribuição potencial das ciências comportamentais à teoria do projeto é recente. Uma revisão dos esforços passados ilustrará a utilidade e algumas das dificuldades que existem em colocar as ciências comportamentais a serviço dos estudos dos problemas do projeto.

Há claras ligações entre o empirismo na filosofia e na psicologia, e o trabalho de clássicos arquitetos românticos tais como Humphry Repton e John Nash no início do século 19 (Hipple, 1957); o empirismo é similarmente ligado aos esforços de arquitetos tais como Alexander Jackson Downing, em meados daquele século, dirigidos à justificativa de suas posições normativas sobre o porquê de diferentes edifícios apresentarem diferentes estilos (Ward, 1966).

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Fig. 3.2 - Daniel-Henry Kahnweiler, pablo picasso (1910). imagem do Art Institute of Chicago

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Fig. 3.3 - Construtivismo russo – Tatlin.

Fig. 3.4 - Arte da Bauhaus – Composição de Kandinsky

Comentário às Figuras 3.2 a 3.4: Teoria da Percepção e a Ideologia Estética do Movimento Moderno.

Durante o século 20 artistas e arquitetos preocuparam-se enfaticamente com a natureza da percepção visual. A arte cubista (figura 3-3.1, um desenho de Kolnick) apoiava-se nos achados da pesquisa do psicólogo Charles Henry para explicar os significados emocionais das configurações e padrões de formas. O trabalho dos arquitetos

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racionalistas e construtivistas da União Soviética (figura 3-3.2) apoiava-se fortemente no trabalho de Hugo Munsterberg em Harvard, enquanto os artistas da Bauhaus (por exemplo Kandinsky, figura 3-3.3) tinham um débito com a teoria da Gestalt. O problema era de que não havia uma distinção clara entre teorias positivas e teorias normativas, ou entre teorias da percepção e teorias estéticas. O resultado disso é uma considerável confusão intelectual.

O contemporâneo desenvolvimento de idéias na psicologia e na teoria estética, assim como na sociologia e nas teorias sobre vizinhanças vão ocorrer no início do século 20. A preocupação explícita com as teorias relativas a procedimentos nos campos do projeto ambiental apresenta-se em tempos muito mais recentes, desde a década de 1950. Muito desse esforço foi precedido por trabalhos relacionados à administração de empresas e à engenharia.

Na primeira década do século 20, solicitou-se ao psicólogo francês Charles Henry que examinasse e fornecesse evidências acerca da consistência das crenças defendidas pelos mestres da École de Beaux-Arts, de Paris (Argüelles, 1972). Isso ele não conseguiu fazer. Em vez disso, seus estudos indicaram uma ligação possível entre os desenhos de linhas e as cores usadas nos desenhos, com a resposta emocional emitida por um observador. Ele assumiu ser verdadeira essa ligação. Seus escritos foram incluídos num jornal dedicado às artes chamado L’Esprit Nouveau, agora como um estudo que parecia dar respaldo ao trabalho dos arquitetos e artistas cubistas (Gray, 1953).

Nos EUA, a filosofia estética de George Santayana (1896) foi construída sobre o trabalho do psicólogo William James (1890). James também foi instrumental para o início de uma linha de pesquisa que teve grande influência na filosofia estética do Movimento Moderno. Ele trouxe o psicólogo Hugo Munsterberg, o fundador da “psicologia aplicada” (Boring, 1942), para Harvard. Os escritos de Munsterberg sobre tópicos tais como “A Estética das Formas Simples” e “Estudos sobre a Simetria” pressagiaram a teoria da Gestalt. Muitos de seus conceitos teóricos e de seus métodos de pesquisa foram usados como bases para programas educacionais e nos esforços de pesquisa das escolas soviéticas de arquitetura, no período pós-revolucionário. O trabalho de Munsterberg teve enorme influência nas tentativas de Nikolai Ladovsky de fazer a ligação entre o estudo da estética formal com a psicologia da percepção. Ladovsky criou um laboratório de pesquisa na VKHUTEMAS (Estúdios Estatais de Finas-Artes e Técnicas) em 1920 (Khan-Mahomedov, 1971, Khazanova, 1971). O seu objetivo era estudar a estética da figura e da forma. Com a mudança na orientação estatal na direção do “realismo socialista”, decretada por Stalin em 1931, os esforços de pesquisa sistemática das escolas soviéticas cessaram (Senkevitch, 1974). À época, muitas das pessoas envolvidas mudaram-se para a Europa ocidental. Algumas foram ensinar na Bauhaus.

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O departamento de arquitetura da Bauhaus foi fundado somente em 1927. Walter Gropius, que dirigia a Bauhaus, criticava as velhas academias porque elas não estimulavam o estudo da estética – algo que até hoje poucas escolas de arquitetura fazem sistematicamente. Sob a liderança de Gropius foram introduzidos cursos sobre a teoria da percepção. O desenvolvimento dos conceitos da teoria da Gestalt foi contemporâneo ao desenvolvimento da Bauhaus. A teoria da Gestalt debatia e justificava as idéias estéticas de artistas tais como Wassily Kandinsky, Paul Klee, e Josef Albers (Wingler, 1969), e esses artistas eram, por sua vez, influenciados por essa teoria (Overy, 1966). Hannes Meyer, sucessor de Gropius, ampliou o componente relativo às ciências comportamentais do currículo de ensino da Bauhaus, apesar de essa mudança não ter aparentemente impactado seu próprio trabalho. Ele introduziu uma variedade de cursos com diferentes orientações teóricas. Entre esses estava um curso sobre a teoria da Gestalt, assim como um curso sobre o que agora denominamos “ergonomia”, e cursos sobre a história das culturas (Wingler, 1969).

A influência do currículo da Bauhaus sobre a educação de arquitetos e designers em toda a Europa ocidental e nos EUA – e, em última instância, por todo o mundo – foi tremenda (P.L. Jones, 1969; Herdeg, 1983). Com o advento do nazismo na Alemanha os professores da Bauhaus assumiram posições em escolas de arquitetura e de design em outros países. Apesar de todos os esforços mantidos pela Bauhaus, no entanto, não surgiu daí uma base positiva clara para as disciplinas do projeto. A Bauhaus pediu emprestadas idéias teóricas das ciências comportamentais, mas jamais deu o passo seguinte, que seria o de iniciar o desenvolvimento de uma base explícita, positiva, para as disciplinas do projeto. O mesmo ocorreu em outras escolas e lugares em que se constatou a preocupação com as questões do projeto.

Nos EUA, ao final da década de 1920 e ao longo da década de 1930, houve preocupação com a organização física das cidades e com o desenvolvimento de soluções que fortalecessem o senso de comunidade e reduzissem a alienação que era percebida nos moradores das cidades americanas. O sociólogo Clarence Perry buscou definir uma unidade física genérica dentro da qual uma unidade social ocorreria. Ele foi influenciado pelo trabalho de Charles Cooley (1909), que enfatizara a importância do grupo primário – a família, o grupo de crianças amigas entre si, a comunidade de vizinhança dos idosos – na socialização das crianças e no estabelecimento de determinados padrões normativos de comportamento. Cooley pensava que as relações face-a-face e um senso de comunidade baseado em lugares eram particularmente importantes para as crianças. Perry (1927) integrou as idéias de Cooley com a prática da criação de centros comunitários como os focos de áreas locais. A “Unidade de Vizinhança” resultante foi amplamente usada em todo o mundo, com graus variados de sucesso.

A pesquisa recente tem mostrado que há um baixo grau de congruência entre unidades sociais e físicas nas cidades (Keller, 1968). Esse achado impactou a teoria normativa do urbanismo, ou do projeto urbano. O conceito da

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Unidade de Vizinhança, amplamente usado nos projetos da primeira geração de cidades novas britânicas do pós-Segunda Guerra Mundial, foi abandonado como base para o projeto da cidade de Cumbernauld, na Escócia (1966), dado a influência exercida pelos escritos de sociólogos como Peter Wilmott e Michael Young (Young & Wilmott, 1957; Wilmott & Young, 1960). Cumbernauld foi projetada como uma unidade de maiores dimensões que a primeira geração de cidades novas inglesas, com a intenção de alimentar um maior orgulho dos citadinos, bem como maiores densidades que as cidades anteriormente planejadas. O seu objetivo era dar a seus habitantes um conjunto de contatos não-locais mais ampliado e rico.

O objetivo de desenvolver a comunidade sem excessiva proximidade foi buscado ainda mais claramente em Milton Keynes, uma das mais recentes realizações dos projetos de cidades-novas inglesas. Acrescente-se a perspectiva de que as futuras tecnologias de comunicação contribuirão para erodir ainda mais a congruência entre espaço social e físico. Ao mesmo tempo deve-se lembrar que para muitas pessoas a comunidade baseada localmente ainda é importante (Hester, 1975). É manifesto que os conceitos projetuais de comunidade foram fortemente influenciados pelos conceitos sociológicos recentes. Também é evidente que as generalizações feitas pelos sociólogos sobre a vida social e o ambiente físico devem ser analisadas e enriquecidas. E isso está ocorrendo, como veremos adiante nas discussões sobre as relações entre projeto e organização social.

Esforços Recentes

A influência das ciências do comportamento na teoria do projeto anterior à Segunda Guerra Mundial foi muito fragmentária. Isso se deveu, em parte, ao foco de interesse dos arquitetos nas idéias normativas, e também se deveu ao estado embrionário das ciências do comportamento. Somente quando ocorreu um esforço de desenvolvimento de uma filosofia da prática e do ensino da arquitetura, do paisagismo, do urbanismo, é que se registraram tentativas sérias de desenvolvimento de uma base teórica positiva para as disciplinas do projeto. A mais conhecida dessas tentativas foi feita na Hochschule for Gestaltung, em Ulm, Alemanha, sob a direção de Max Bill e, depois, sob Thomas Maldonado. A posição normativa sustentada por essa escola foi apresentada em seu guia acadêmico:

Tal como esta escola o vê, o projeto... requer pesquisa intensa, bem como trabalho metodológico, para que se faça justiça a todos os requisitos técnicos, funcionais, estéticos e econômicos que se apresentam. Um bom projeto deve conviver com a realidade. Por esta razão o trabalho desta escola deve ser feito em colaboração com a sociologia, com a história contemporânea, e com outras disciplinas relativas à estrutura social. (Citado por Winler, 1969).

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Poucos arquitetos Enamoraram-se de tal abordagem. Hans Wingler (1969) a rejeita como sendo fruto das “tendências científico-dogmáticas de Hannes Meyer” , ou como “ o último suspiro da Bauhaus”. A Hochschule, minada por cismas internos, teve uma vida curta. Um de seus básicos problemas era o de que seus professores de projeto, ao mesmo tempo em que discursavam formal e insinceramente sobre os achados e implicações das ciências comportamentais, estavam de tal forma imbuídos do espírito do Movimento Moderno que rejeitavam, nos ateliês, todas aquelas evidências que contradissessem suas próprias crenças. A arquitetura nunca teve uma consistente e robusta base de ciência ou de pesquisa, e muitos de seus praticantes intimidavam-se com essa sugestão de que tal base seria possível, que de algum modo se estabeleceria. Ainda mais interessante, registrou-se que foi significativamente mais fácil para os estudantes da Hochschule de Ulm integrar em seus projetos as idéias das ciências do comportamento do que para seus próprios professores (Krippendorf, 1981).

Até a década de 1970 havia uma enorme lacuna nos estudos das “ciências humanas” e dos próprios processos de projeto nos currículos das escolas de arquitetura dos EUA (Perin, 1970). Essa situação mudou consideravelmente desde então; mais e mais cursos nesses tópicos foram introduzidos nos cursos de graduação. Organizações como a EDRA – Environmental Design Research Association, vêm mantendo congressos anuais (no caso, desde 1968) onde pesquisas são apresentadas tanto por projetistas quanto por cientistas comportamentais. Nos escritos recentes (por exemplo, Rapoport, 1977; Holohan, 1982; Levy-LeBoyer, 1982) reconhece-se o esforço por superar a militância e o sectarismo das ideologias estéticas e sociais dos mestres modernistas, e por apresentar estudos mais abrangentes em arquitetura, paisagismo e urbanismo. Isso de modo algum significa que tais escritos sejam neutros, livres de ideologias. Certamente esses escritos refletem as crenças de seus autores de que as disciplinas do projeto podem avançar na direção de uma base intelectual mais rigorosa, fundada em pesquisas científicas ou quase-científicas. Esse movimento não empolgou os educadores, e desde então também é possível apontar uma verdadeira regressão aos tempos mais “simples” e menos pretensiosos, em muitas escolas por todo o mundo.

O Futuro

Há uma considerável preocupação acerca da lacuna existente entre a informação que a pesquisa sobre o projeto ambiental gera e a habilidade dos projetistas para utilizar essa informação (Windley e Weisman, 1977). Respostas práticas e expeditas foram sugeridas por algumas pessoas. Em geral, elas foram dirigidas à apresentação dos achados de pesquisa na forma de especificações, recomendações e diretrizes – isto é, como afirmações normativas – porque essa é uma apresentação que atrai o interesse dos arquitetos. O mais conhecido dentre essas apresentações foi a compilada por Christopher Alexander e seus colegas, no livro Linguagem de Padrões (A

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Pattern Language, Alexander et alii, 1977). No entanto, as lacunas entre as ciências comportamentais e as profissões do projeto parecem ser bem maiores que tais tentativas.

Seria fácil explicar a ausência de uma conversação eficaz e continuada entre arquitetos e cientistas do comportamento pela justificativa de que os projetistas retêm a noção de que os ambientes que eles concebem são simplesmente uma expressão de suas próprias crenças acerca do mundo. Se essa postura for adotada, então um corpo de teoria explícita, positiva, é amplamente desnecessário para as disciplinas do projeto. Alguns arquitetos sentem-se ameaçados com o desafio a muitas de suas crenças, a seus credos sociais, aos seus hábitos de desenvolvimento de projetos, que os achados das pesquisas e a teoria daí resultante apresentam, num desenvolvimento que é fundamentado na observação controlada e repetida, na análise lógica, nas normas da argumentação disciplinada. As razões mais importantes, no entanto, parecem se fundar na continuada confusão que as profissões do projeto têm acerca de suas próprias atividades e seus propósitos, bem como na visão que os cientistas, por outro lado, têm do ato criativo do projeto.

A tese fundamental deste livro é que há proveito em distinguirmos com clareza entre o que é teoria positiva e o que é teoria normativa. Nem sempre é fácil fazer essa distinção. Uma teoria relaciona-se à outra. Os projetistas devem ser instruídos acerca da contribuição das ciências comportamentais. Ao mesmo tempo em que as ciências comportamentais podem esclarecer os problemas que devem ser considerados quando do desenvolvimento de uma posição normativa, e que podem esclarecer as bases das teorias normativas existentes, não podem, por definição, dizer ao projetista qual deve ser o propósito do projeto. As ciências comportamentais podem nos ajudar a compreender o presente e quais são as tendências que podem ser constatadas na sociedade, podendo ainda prever - melhor do que nós conseguimos na atualidade - determinadas conseqüências de nossos propósitos de projeto. A criação dessa ordem de propósitos não, e nem pode ser, uma tarefa da ciência. Se os projetistas esperarem que algo assim lhes seja dado, ficarão profundamente desapontados.

A ciência, como foi mostrado anteriormente, implica em um modo de desenvolvimento de descrições e explicações. Aqueles aspectos da teoria do projeto ambiental que se voltam para a descrição e explanação de fenômenos e processos irão beneficiar-se das teorias e dos métodos de pesquisa das ciências sociais. Freqüentemente, no entanto, há explicações que competem com respeito aos mesmos fenômenos; há teorias que competem entre si. Os projetistas devem reconhecer essa ambigüidade, e devem tornar-se capazes de trabalhar em meio a ela. Não é mais cabível para os projetistas simplesmente adotarem uma teoria e desenvolverem uma posição normativa a partir dela, sem que reconheçam que esta – ou qualquer outra – teoria tem limitações.

Os arquitetos de interiores, os arquitetos em geral, os paisagistas, os urbanistas, todos estão sempre lidando com o futuro. Eles sempre estarão tomando decisões em meio à incerteza. As ciências comportamentais podem

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reduzir essa incerteza, mas não podem eliminá-la. Gerar um modelo organizado para a teoria do projeto ambiental é um importante requisito para tornar clara a base intelectual das disciplinas do projeto. Sem tal modelo, persistirá a confusão acerca do papel das ciências comportamentais no desenvolvimento da teoria do projeto.

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LEITURAS ADICIONAIS

Alexander, Christopher, et. al. A Pattern Language. Londres: Oxford University Press, 1977.

Bailey, Joe. Social Theory for Planning. Londres e Boston: Routledge e Kegan Paul, 1975.

Churchman, Arza, & Yona Ginsberg. “The Uses of Behavioral Science Research in Phisical Planning: Some Inherent Limitations”. Journal of Architectural and Planning Research, 1, nº 1 (junho de 1984): 57-66.

Gombrich, E. H. Art History and Social Sciences. Oxford: Oxford University Press, 1975.

Gutman, Robert. “The Questions Architects Ask”. Em R. Gutman (editor), People and Buildings. Nova York: Basic Books, 1972, pp. 337-369.

Levy-LeBoyer, Claude. Psychology and Environment. Beverly Hills, Califórnia: Sage, 1982.

Lindblom, Charles, & Davis Cohen. Usable Knowledge: Social Sciences and Social Problem Solving. New Haven: Yale University Press, 1979.

Michelson, William (editor). Behavioral Research Methods in Environmental Design. Stroudsburg, Peensylvania: Dowden, Hutchinson & Ross, 1975.

Pipkin, John S., Mark E. La Gory, & Judith Blau. Remaking the City: Social Sciences Perspectives in Urban Design. Albany, Nova York: SUNY Press, 1983.

Proshanky, Harold M. “Environmental Psychology and the Design Professions”. Em Jon Lang e outros (editors) Design for Human Behavior: Architecture and the Behavioral Sciences”. Stroudsburg, Pennsylvania: Dowden, Hutchinson and Ross, 1974, pp. 72-80.

Windley, Paul G., & Gerald Weisman. “Social Science and Environmental Design: The Translation Process”. Journal of Architectural Education, 31, nº 1 (setembro de 1977): 16-19.

Zeisel, John. Sociology and Architectural Design. Nova York: Russel Sage, 1975.

Referências

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