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Psytrance: o ritornelo da alegria : comunicação, design sonoro, música eletrônica

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO CAMPUS DE BAURU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO MIDIÁTICA. PSYTRANCE: O RITORNELO DA ALEGRIA COMUNICAÇÃO. DESIGN SONORO. MÚSICA ELETRÔNICA.. Sabrina Maia Lemos. Bauru 2006.

(2) Sabrina Maia Lemos. PSYTRANCE: O RITORNELO DA ALEGRIA COMUNICAÇÃO. DESIGN SONORO. MÚSICA ELETRÔNICA.. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Midiática da Faculdade deArquitetura, Artes e Comunicação da UNESP/Campus de Bauru, como requisito à obtenção do título de Mestre em Comunicação. Orientadora: Profa. Dra. Solange Bigal. Bauru 2006.

(3) F. O. L. H. PSYTRANCE:. A. D. E. A P R O V A Ç Ã O. Sabrina Maia Lemos O RITORNELO DA. ALEGRIA. COMUNICAÇÃO. DESIGN SONORO. MÚSICA ELETRÔNICA.. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Midiática da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP/Campus de Bauru, como requisito à obtenção do título de Mestre em Comunicação.. Banca Examinadora:. Orientadora Profa. Dra. Solange Bigal Titular. Profa. Dra. Adriana da Rosa Amaral. Titular. Profa. Dr. Hélio Rebello Cardoso Júnior. Bauru, 15 de. Setembro. de 2006..

(4) LEMOS, Sabrina Maia. Psytrance: o ritornelo da alegria. Comunicação. Design Sonoro. Música Eletrônica. 2006. 67f. Dissertação (Mestrado em Comunicação). Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, UNESP, Bauru, 2006.. resumo Uma escuta contemplativa dos acontecimentos sonoros do Psychedelic TranceǯȱŽ—Œ’ŠŠœȱ ™˜›ȱ Ž•Žž£Žȱ Žȱ žŠĴŠ›’ǰȱ desde a gênese da música eletrônica, as afecções bergonianas nietzscheanas e espinosanas se desdobram em Psytrance, uma composição afectivo-sonora da mídia eletrônica. palavras-chave –øœ’ŒŠȱŽ•Ž›â—’ŒŠǰȱŽ•Ç›’˜ǰȱŠę›–Š³¨˜ǰȱŠ•Ž›’Šǯ. abstract A contemplative audition of the sonorous events of the Psychedelic Trance. By the texture of Deleuze and Guatarri meaning, since the eletronic music genesis, the Bergson, ’Ž£œŒ‘Žȱ Š—ȱ œ™’—˜œŠȱ ŠěŽŒ’˜—œȱ ž—˜•ȱ ’—ȱ Psytrance, an ŠěŽŒ’ŸŽȬœ˜—˜›˜žœȱŒ˜–™˜œ’’˜—ȱ˜ȱ‘ŽȱŽ•Ž›˜—’Œȱ–Ž’Šǯ key-words Ž•ŽŒ›˜—’Œȱ–žœ’ŒǰȱŽ•’›’ž–ǰȱŠĜ›–Š’˜—ǰȱ“˜¢ǯ.

(5) ... ... S. 1.. U. M. Á. R. I. C o n v e r s a ç õ e s. 2.. Do nascimento: cosmos, filosofia e música eletrônica Concert de bruits 4’33’’ Marteau sans Maître. 3. 4.. Sternklang. Psytrance como música da afirmação De cores, icaros e delírios O ritornelo sonoro-psicodélico Electro-ética: a radiância da alegria. Corpus (artist/track/album/label/year) Astrix/Artcore/Atcore/Hommega Records/2004. System Nipel/Steal the robot/Deep into matter/Noga Records/2006 Dj set Datura/------/Pangea Psy/Chromanova/2006. 5. 6.. Síntese Bibliografia. O. 07 10. 11 14 17 25. 31 32 40 47. 53 53 54 55. 56 59.

(6)

(7) C c. o. n. v. e. r. s. a. ç. õ. e. s. . 07.

(8) ȱ ŽœŽȱ’Ž››ŽȱŒ‘ŠŽěŽ›ǰȱ

(9) ˜‘—ȱŠŽǰȱ’Ž››Žȱ˜ž•Ž£ȱŽȱ Š›•‘Ž’—£ȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ǰȱŽ—›Žȱ˜ž›˜œǰȱŠȱ–øœ’ŒŠȱŽ•Ž›â—’ŒŠȱœŽȱŒ˜–™äŽȱŽȱ plásticas sonoras que, se por um lado nasceram e se concretizaram da criação de processos midiáticos de composição sintética, por outro, estenderam-se para além deles. A Música Eletrônica Viva 1ǰȱŽœ™ŽŒ’Š•–Ž—ŽȱŠȱŽȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ǰȱ·ȱ™›ŽŒž›œ˜›Šȱ˜ȱPsychedelic Trance, ž–ȱŽœ’•˜ȱ–žœ’ŒŠ•ȱŒž“Šȱ’œ™˜œ’³¨˜ȱœ˜—˜›ŠȱŽœ¤ȱŽ–ȱŠŽŠ›ȱŽŽ’ŸŠȱŽȱŒ˜–™˜œ’’ŸŠ–Ž—Žȱ˜ȱ˜žŸ’—ŽǰȱŽȱ–Š—Ž’›Šȱ˜›ŠȱŠ›Žœœ’ŸŠǰȱ˜›Šȱ˜ŒŽǯȱ Essa disposição é claramente manifesta nos praticantes ou adeptos ao Psy: sorrisos largos, roupas coloridas, leveza, descontração, peles tatuadas, piercings, drogas. As festas acontecem na natureza, ao amanhecer, na transição noite/dia. E o ambiente Psy chama-se rave - do inglês delirar. A apoteose Psychedelic Tranceȱ˜Œ˜››Žȱœ’–ž•Š—ŽŠ–Ž—ŽȱŠȱ˜’œȱ–˜–Ž—˜œȱŽœ™ŽŒÇꌘœȱ˜ȱŒ˜—Ž–™˜›¦—Ž˜ǰȱŠȱœŠ‹Ž›DZȱŗǼȱž–ȱ–˜–Ž—˜ȱ em que o culto a alegria vem acentuando-se como um elemento constitutivo de comunicação cada vez mais raro, o que é perfeitamente visível nas mídias eletrônicas, impressas e digitais, independentemente do público no targetDzȱŘǼȱž–ȱ–˜–Ž—˜ȱŽ–ȱšžŽȱŠȱ’•˜œ˜ęŠȱŠȱ ’Ž›Ž—³ŠǰȱŒ›’ŠŠȱ™˜›ȱ ’••ŽœȱŽ•Žž£ŽȱŽȱ·•’¡ȱ žŠŠ››’ǰȱŒ˜•˜ŒŠȱŽ–ȱŽœŠšžŽȱŽ¡ŠŠ–Ž—Žȱ˜ȱ™›˜“Ž˜ȱŠę›–Š’Ÿ˜ȱŽȱŒ˜–™˜œ’’Ÿ˜ȱŠȱꕘœ˜ęŠȱ e ontologia modernas, quando atualiza especialmente o pensamento de Bergson, Nietzsche e Espinosa, dentre outros. Ora, se o Psy é realmente uma maneira de expressar o afeto compositivo - como o próprio movimento propõe - e, ainda, se essa expressão devém esse encontro Ȭȱ™•Š—Ž“Š˜ȱ˜žȱŒŠœžŠ•ȱȮȱŒŠ‹Žȱ›ŽĚŽ’›ȱœ˜‹›ŽȱšžŠ’œȱ˜œȱŠŒ˜—ŽŒ’–Ž—˜œȱœ˜—˜›˜œȱŒŠ™Š£ŽœȱŽȱŽœ’–ž•Š›ȱŽȱ™›˜–˜ŸŽ›ȱœžŠȱŽŽžŠ³¨˜ǯȱŽœœŽœȱ termos, supõe-se que: 1. Aquilo que o Psy estimula contemplar é o próprio delírio da matéria vibrante; 2. O ritornelo, no Psy, aparece como uma versão sonoro-psicodélica; 3. O Psy, em suas latitude e longitude, está conectado especialmente à afecção compositiva e ao afecto de alegria; ȱ –™˜›Šȱ™Š›ŠȱŽœœŠȱ™Žœšž’œŠȱŒ›’Š›ȱ™Ž•˜ȱ–Ž—˜œȱž–ȱŽœ‹˜³˜ȱ˜ȱŽœŽ—‘˜ȱœ˜—˜›˜ȱŠę›–Š’Ÿ˜ȱšžŽȱ˜ȱPsychedelic Trance parece estimular, não como solução de um problema, evidentemente, mas como um exercício permanente de relações midiáticas compositivas, quem œŠ‹Žȱž–ȱ‘¤‹’˜ǰȱ›Žœœ’—’ęŒŠ—˜ǰȱŒ˜—œŽšžŽ—Ž–Ž—ŽǰȱŠȱ™›à™›’Šȱ–Ǎ’ŠǰȱŽ—¨˜ǰȱŒ˜–˜ȱŠ¹—Œ’ŠȱŽȱ˜–Ž—˜ǯ. .. 1 Chamada também de Música Eletroacústica em tempo real, a Música Eletrônica Viva é uma estética implicada à compactação de chips e transistores, criada a partir do uso de aparelhos e sintetizadores portáteis nos mais variados espaços de contemplação que não apenas os dos concertos e das salas. 08.

(10) ȱ Ž—‘ž–Šȱ˜ž›Šȱ“žœ’ęŒŠ’ŸŠȱ™˜Ž›’ŠȱœžœŽ—Š›ȱž–Šȱ™Žœšž’œŠȱŒ˜–˜ȱŽœœŠȱœŽ—¨˜ȱŠšžŽ•ŠȱšžŽȱ·ȱ’–Š—Ž—Žȱ¥ȱ™›à™›’Šȱ–øœ’ŒŠȱšžŽȱ Šȱ’—œ™’›ŠǯȱȱœŠ‹Ž›ǰȱ–Žœ–˜ȱ—˜œȱ–Ž’˜œȱŒ’Ž—ÇꌘœȱŽȱꕘœàꌘœȱŒ˜—Ž–™˜›¦—Ž˜œǰȱ‘¤ȱ–ž’˜ǰȱ“¤ȱ·ȱŒ˜—œŽ—œ˜ȱšžŽȱŠȱŠ•Ž›’Šȱ›Ž“žŸŽ—ŽœŒŽȱŠœȱ células do corpo e tem poder curador. Os seguintes pensadores e suas respectivas posturas conceituais, propõem uma atitude criativa em lugar de uma metodologia Žȱ™Žœšž’œŠDZȱŽ›œ˜—ǰȱŒ˜–ȱŠȱ’–Ž—œ¨˜ȱ˜—˜•à’ŒŠȱ˜ȱŽ–™˜ȱŽȱœžŠœȱ’—ę—’ŠŽœȱŽȱ̞¡˜œȱŽȱž›Š³äŽœDzȱ’Ž£œŒ‘ŽǰȱŒ˜–ȱ˜ȱŽŽ›—˜ȱ›Ž˜›—˜ǰȱ ŠȱŸ˜—ŠŽȱŽȱ™˜Ž›ȱŽȱŠȱ˜›³ŠȱŠę›–Š’ŸŠDzȱœ™’—˜œŠǰȱŒ˜–ȱŠȱ1’ŒŠȱŠȱŠ•Ž›’ŠȱŽȱ˜ȱ™›à™›’˜ȱ™•Š—˜ȱŽȱŒ˜–™˜œ’³¨˜ǯȱŽȱŠ’œȱŽ—Œ˜—›˜œȱŽŸŽ–ȱ œŽ›ȱŠŽ—Œ’Š˜œȱ™˜›ȱŽ•Žž£ŽȱŽȱ žŠĴŠ›’ȱ·ȱ™˜›šžŽȱœžŠȱ˜›’Ž—Š³¨˜ȱ·ȱŠ•Š–Ž—ŽȱŽœ’–ž•Š—ŽȱŽȱ˜Šȱœ˜›ŽȱŽȱ–˜Ÿ’–Ž—Š³äŽœȱꕘœàꌘȬ musicais possíveis, no caso contemporâneo. Exatamente por isso, o andamento da pesquisa promete três movimentos principais: 1) testar a afecção bergsoniana, nietzscheana e espinosana na gênese da música eletrônica ancestral ao Psytrance; 2) desdobrar essas conexões até as variáveis sonoras do Psytrance ™›˜™›’Š–Ž—Žȱ’˜ǰȱŒŠ›˜›ŠŠ—˜Ȭ˜ȱœŽž—˜ȱ˜œȱ–Žœ–˜œȱŠŽ˜œȱšžŽȱ˜ȱŒ˜–™äŽȱ˜žȱ˜ȱŠ›ŠŸŽœœŠ–Dzȱꗊ•–Ž—Žǰȱ›ŽŠ•’£Š›ȱŠȱ™Ž›ŒŽ™³¨˜ȱŽœŠœȱ conexões, agora, como audição do corpus sonoro. A disposição afecto-compositiva do Psytrance como um todo abre o precedente para que se possa escolher as músicas: Artcore, Steal the robot e um fragmento de um mix da Chromanova, respectivamente, dos produtores Astrix, System Nipel e do dj set Datura, como corpus de análise. A análise, por sua vez, deve se apresentar como o relato de algo como pura contemplação das causas sonoras do Psy. Causa de si, diria Espinosa.. . 09.

(11) C c. a. p. í. t. u. l. o. Do nascimento: cosmos, filosofia e música eletrônica. 1. . 10.

(12) Concert de bruits ...não mais com o jogo dos números e os segundos do metrônomo, mas com os pedaços de tempo arrancados do cosmos 2. Em meio às reverberações decompositivas das bombas atômicas e às descobertas iminentes de transplantes, lasers, DNA e œŠ·•’Žœǰȱ —ŠœŒŽȱ Šȱ žœ’šžŽȱ ˜—Œ›¸Žȱ Žȱ ’Ž››Žȱ Œ‘ŠŽěŽ›ǯȱ Šȱ Š’˜’ěžœ’˜—ȱ ›Š—³Š’œǰȱ Œ˜–ȱ ž–ȱ ™›Š˜ȱ ™Š›Šȱ ›ŠŸŠ³¨˜ȱ Žȱ šžŠ›˜ȱ ™Š›Šȱ Šȱ›Ž™›˜ž³¨˜ȱŽȱŠŒŽŠ˜œǰȱž–Šȱ–ŽœŠȱŽȱšžŠ›˜ȱŒŠ—Š’œǰȱž–ŠȱŒ¦–Š›ŠȱŽȱŽŒ˜œȱŽȱž–Šȱž—’ŠŽȱ–àŸŽ•ȱŽȱ›ŠŸŠ³¨˜ǰȱŒ‘ŠŽěŽ›ȱ˜›—ŠŸŠȱ audíveis os primeiros sons de uma pan-música 3 : a Música Eletrônica. Com samples 4 de vagões, maquinistas e pára-choques da estação de Batignolles, orquestras, piano, vozes humanas e de locomotivas, ressoava pelas ondas de rádio do dia 5 de Outubro de 1948 o Concert de bruits, o primeiro tratado sonoro de uma nova Ž›Šȱ–žœ’ŒŠ•ȱŽȱ˜žŸ’˜œȱŽȱŽ—ŒŠ—˜œȱ™›à™›’˜œǯȱ›šžŽœ›Š˜œȱŽȱ›Ž’˜œȱ™˜›ȱŽ—Ž—‘Ž’›˜œǰȱ–øœ’Œ˜œȱŽȱ™˜ŽŠœǰȱ˜œȱ˜‹“Ž˜œȱœ˜—˜›˜œȱȮȱŠ•ȱšžŠ•ȱ Œ‘ŠŽěŽ›ȱŒ‘Š–ŠŸŠȱ˜œȱ‘Š‹’Š—ŽœȱŠȱ–øœ’ŒŠȱŒ˜—Œ›ŽŠȱȮȱ™žŽ›Š–ȱœŽȱ•’‹Ž›Š›ȱŠœȱŽœŒ›’ž›ŠœȱŽȱŠœȱŒ˜–™˜œ’³äŽœȱ‘Š‹’žŠ’œǯȱ–‹˜›Šȱ˜œȱ métodos de composição empregados pela vertente francesa possibilitassem uma “transmutação atômica da matéria sonora”, nada na música concreta provinha de máquinas ou osciladores sintéticos como na vertente alemã, chamada de Elektronische Musik ou Música Eletrônica Pura. ȱ. Œ‘ŠŽěŽ›ȱŽȱœŽžœȱŒ˜–™Š—‘Ž’›˜œǰȱŽ–ȱ˜™˜œ’³¨˜ȱ¥ȱ–øœ’ŒŠȱ›ŠŒ’˜—Š•’œŠȱŽȱŠ‹œ›ŠŠȱŽȱ ˜•—ȱǻ˜•â—’Šǰȱ•Ž–Š—‘ŠǼǰȱŽœŽ“ŠŸŠ–ȱŠȱŒ›’Š³¨˜ȱ. de algo incontestavelmente novo que não negasse a linguagem musical clássica, uma evolução sem negação, um rompimento sem Žœ›ž’³¨˜DZȱŠ£Ž›ȱŒ˜Ž¡’œ’›ǰȱ™ŠŒ’ęŒŠ–Ž—Žǰȱ™Š›’ž›ŠœȱŽȱ—˜Š³äŽœȱ–žœ’ŒŠ’œȱŽȱ™›˜ŒŽœœ˜œȱŽȱŒŠ™Š³¨˜ȱŽȱŽȱ–Š—’™ž•Š³¨˜ȱŽ•Ž›â—’Œ˜œȱ˜œȱ sons. 2. .. ȱ’Ž››ŽȱŒ‘ŠŽěŽ›ȱǻapud MENEZES, 1996, p. 20). Termo usado por Flô Menezes para designar a música concreta francesa, onde todo e qualquer evento sonoro, desde um ruído, um estalo ou um vento a notas Žȱ™’Š—˜ȱ™˜Ž›’Š–ȱ™Š›’Œ’™Š›ȱŽŽ’ŸŠ–Ž—ŽȱŽȱž–Šȱ–øœ’ŒŠǰȱŒŠœ˜ȱŠœœ’–ȱŽœŽ“ŠœœŽȱ˜ȱŒ˜–™˜œ’˜›ȱǻIdem, p. 18). 4 Amostragens sonoras. 11 3.

(13) O ruído, assim como o silêncio, teria se tornado uma obsessão para os músicos eletrônicos. A precariedade dos aparelhos os obrigava a conviver com os constantes murmúrios e sussurros imanentes às máquinas de captação e de reprodução musicais dos estúdios de rádio. Para além de simples fenômenos físicos, de uma perturbação na transmissão da mensagem, os compositores eletrônicos viam nos ruídos uma potência única, acontecimentos sonoros que tendiam para momentos-fronteiras 5ȱȱœ’—’ęŒŠ’Ÿ˜œDZȱŠȱ passagem ou o desvelamento de uma força anônima com a qual poderiam compor se a dominassem a partir de sua constituição mais elementar, caso conseguissem acessar as vizinhanças transitórias daquilo que nos remete às singulares manifestações da vida em sua ŸŠ›’ŽŠŽȱ’—ę—’Šǯ ȱ ȱ—˜Ÿ˜ȱ–ŠŽ›’Š•ȱŽ•Ž›â—’Œ˜ȱ™˜œœ’‹’•’ŠŸŠȱ˜ȱ–Š—žœŽ’˜ȱŽȱŠȱŠž’³¨˜ȱŽȱŽœ›žž›Šœȱ–ž’˜ȱꗊœǰȱŸŠ›’¤ŸŽ’œȱŠ·ȱ˜ȱ’—Ž›’˜›ȱŠȱ–Š·›’Šǰȱ ora mais granulares ora mais líquidas, ora mais secas ora mais suaves. Por mais que tais estruturas fossem uma espécie de ruído e se apresentassem como tal, diria Henri Pousseur que se tratava, sobretudo, de “ruídos que penetram a luz do espírito criador” 6, de ruídos que poderiam nos conduzir a regiões inimagináveis de uma escuta consciente dos segredos mais escondidos do cosmos. Concomitantemente à elaboração de Traité des objets musicaux 7, em 1965, nas localidades próximas de Princeton, EUA, Robert Wilson e Arno Penzias captariam, através de uma antena de rádio, um ruído extremamente fraco (mas extremamente persistente) Ššž’•˜ȱšžŽȱœŽ›’Šȱ’˜ȱ™˜œŽ›’˜›–Ž—ŽȱŒ˜–˜ȱŠȱŽœŒ˜‹Ž›Šȱ–Š’œȱœ’—’ęŒŠ’ŸŠȱ˜œȱø•’–˜œȱŽ–™˜œȱŠȱŒ’¹—Œ’ŠDZȱ˜œȱȃŽŒ˜œȱàœœŽ’œȱ˜ȱ’ȱ Š—Ȅȱ˜žȱŠȱ˜˜›ŠęŠȱœ˜—˜›ŠȱŠȱ’—¦—Œ’Šȱ˜ȱ—’ŸŽ›œ˜ȱǻ  ǰȱŗşşŝǰȱ™ǯȱřŞŚǼǯȱ˜ȱ’—Ÿ·œȱŽȱŽ—Œ˜—›Š›ȱŠȱ›Š’Š³¨˜ȱ˜œȱ›Žœ˜œȱ˜ȱŒ˜›™˜ȱ de uma supernova, Robert e Arno encontraram uma perturbação ruidosa homogênea, quase-silenciosa, que provinha de todas as partes do Universo: o som-ruído do nascimento do cosmos. Concert de bruits (“Concerto de ruídos”) e outras tantas composições Ž•Ž›â—’ŒŠœȱŽ›Š–ȱ—¨˜ȱœàȱŽ’ŠœȱŽȱ™ŽŠ³˜œȱŽȱŽ–™˜ȱŠ››Š—ŒŠ˜œȱ˜ȱŒ˜œ–˜œǰȱŠ•ȱšžŠ•ȱœž™ž—‘ŠȱŒ‘ŠŽěŽ›ǰȱ–ŠœȱŠ–‹·–ȱŽȱ‹•˜Œ˜œȱœ˜—˜›˜œȱ da radiação cósmica de fundo universal. 5. .. ȱŠ•ȱšžŠ•ȱ˜ȱŽ–™˜ȱœ’—’ęŒŠŸŠȱ™Š›Šȱ‘’Ž‘ŽŠȱŠȱ™ŠœœŠŽ–ȱŠȱŠž›Ž£ŠǰȱȃŠȱ’œ›’‹ž’³¨˜ȱŠœȱŒ˜—Ž¡äŽœǰȱ˜œȱ—Ž¡˜œǰȱ˜œȱ›ŽŽ—Œ˜—›˜œȱŠœȱ˜ŒŠœ’䎜ȱŠžŠ’œȄǯȱŽ›ȱŽ–ȱ PINHAS, Richard. De Nietzsche ao Techno – Manifesto pelas máquinas-pensamento vindouras, para G. Deleuze e J.P. Manganaroǯȱ’œ™˜—ÇŸŽ•ȱŽ–DZȱǀ‘Ĵ™DZȦȦ   ǯ›’£˜–Šǯ net/interna.php?id=153&secao=esquizofonia>. Acesso em: 20 dez. 2005. 6 POUSSEUR, Henri. Estrutura do novo material eletrônico in MENEZES, Flô. Música Eletroacústica. São Paulo, Edusp, 1996. 7 ȱȃ›ŠŠ˜ȱ˜œȱ˜‹“Ž˜œȱ–žœ’ŒŠ’œȄǰȱŽȱŒ‘ŠŽěŽ›ǰȱ™ž‹•’ŒŠ˜ȱŽ–ȱŗşŜŜǯ 12.

(14) ȱ ȱ Ž›–˜ȱ Ž¡™Ž›’¹—Œ’Šȱ ˜žȱ ȃŽœŒžŠȱ ŠŒžœ–¤’ŒŠȄȱ šžŽȱ Œ‘ŠŽěŽ›ȱ ˜–˜žȱ ™Š›Šȱ ŒŠ›ŠŒŽ›’£Š›ȱ Šȱ œžŠȱ –øœ’ŒŠǰȱ ›ŽŽ›ŽȬœŽȱ Šȱ ž–Šȱ ŽœŒžŠȱ contemplativa da Antiguidade, quase mítica, na qual a causa ou a fonte sonora de um ruído é sempre omitida: voz sem dono, verbo œŽ–ȱ˜›’Ž–ǯȱŒžœ–¤’Œ˜œȱ˜›Š–ȱ˜œȱ’œŒÇ™ž•˜œȱŽȱ’¤˜›Šœǰȱę•àœ˜˜ȱ›Ž˜ȱŒŽ›ŒŠ˜ȱŽȱ–’œ·›’˜œDZȱŽœŒžŠŸŠ–ȱ˜ȱ–Žœ›Žǰȱ˜Œž•˜ȱ™˜›ȱž–ȱ véu, falar-lhes por anos, no mais absoluto silêncio, como quem ouvia uma espécie de “revelação”. Emprestando o véu de Pitágoras, Œ‘ŠŽěŽ›ȱŽ£ȱŽ•Žȱž–Šȱ–Ž¤˜›Šȱ™Š›Šȱ˜ȱ–Ž’˜ȱŠ—Š•à’Œ˜ǰȱŽœŸŽ—Š—˜ȱž–ŠȱŽœŒžŠȱ¥ȱšžŠ•ȱ“¤ȱŽœ¤ŸŠ–˜œȱ‘Š‹’žŠ˜œȱȮȱŠȱŸ˜£ȱŠ˜ȱŽ•Ž˜—Žǰȱ Šȱ–øœ’ŒŠȱ—Šȱ›¤’˜ȱ˜žȱ—˜ȱŠŒŽŠ˜ǯȱ•Žȱ—¨˜ȱŠŒ›Ž’ŠŸŠǰȱ—˜ȱŽ—Š—˜ǰȱŠœœ’–ȱŒ˜–˜ȱ’¤˜›Šœȱ˜žȱ Ž™•Ž›ǰȱšžŽȱŠȱ–øœ’ŒŠȱ˜‹ŽŽŒ’ŠȱŠȱ›Š£äŽœȱ matemáticas divinas, mas propôs, com as suas técnicas de audição e de estruturação sonoras, um outro modo de se ouvir a voz da continuidade do tempo cósmico, um outro modo de se compor com esse continuum vibrante que é o mundo dos sons, daquilo que é ao mesmo tempo permanente e variável, impenetrável e moldável. Os novos processos de composição diziam não mais de um ouvido absoluto, mas de um ouvido impossível 8 : tornar audíveis forças e materialidades que não são audíveis por si mesmas, compor com as mínimas vibrações ou estremecimentos da matéria nas œžŠœȱ’—Ž—œ’ŠŽœȱŽȱž›Š³äŽœǯȱŠ•ŸŽ£ȱ’¤˜›ŠœȱŽœ’ŸŽœœŽȱŒ˜››Ž˜ȱŠ˜ȱŠę›–Š›ȱšžŽȱ—¨˜ȱŽœŒžŠ–˜œȱŠȱøœ’ŒŠȱŠœȱœŽ›Šœȱ 9ȱ™˜›ȱŽ›–˜œȱ“¤ȱ nascidos nela e sermos parte dela: um contraponto no texto polifônico do Universo. Os ruídos fósseis com seus marulhos estiveram Ššž’ȱ Žȱ Š•’ȱ ŽœŽȱ œŽ–™›Žǰȱ Šȱ –øœ’ŒŠȱ ·ȱ Šȱ Ž¡™›Žœœ¨˜ȱ Ÿ’ŸŠȱ ˜ȱ –ž—˜ȱ Žȱ ˜ȱ –ž—˜ǰȱ –øœ’ŒŠȱ Œ˜›™˜›’ęŒŠŠǰȱ ’›’Šȱ Œ‘˜™Ž—‘ŠžŽ›ȱ 10. Tornar audível, compor ou tornar visível são membranas de uma mesma problematização: criar aparelhos de captura ou de síntese por onde o cosmos possa passar. ȱ ȱ’—œ’œ¹—Œ’ŠȱŽȱŒ‘ŠŽěŽ›ȱ—Šȱ’·’ŠȱŽȱž–Šȱ™›’–Š£’Šȱ˜ȱ˜žŸ’˜ǰȱŽȱšžŽȱ˜ȱŒ˜—Œ›Ž˜ȱ™›ŽŒŽŽ›’Šȱ˜ȱŠ‹œ›Š˜ȱŽȱŽȱšžŽȱ˜œȱ’—œ›ž–Ž—˜œȱ não poderiam ser abandonados em favor de uma linguagem estritamente sintética, levou-o a uma oposição categórica frente a Elektronische MusikǯȱŠ›ŠȱŽ•Žȱ˜œȱŠ™Š›Ž•‘˜œȱœ’—·’Œ˜œȱŽȱŠŒŽ•Ž›Š³¨˜ǰȱœ˜‹›Ž™˜œ’³¨˜ǰȱ–˜—ŠŽ–ǰȱꕝ›ŠŽ—œȱŽȱ›ŽŸŽ›‹Ž›Š³äŽœȱŠ›’ęŒ’Š’œȱ—¨˜ȱ. 8. Ler em: ¿ Por qué nosotros, no-músicos? de Gilles Deleuze. A música das órbitas dos astros celestiais, que a matemática poderia tornar audível. 10 Mundo como Vontade e Representação, vol. I, p. 309 (apud NIETZSCHE, 1983, p. 15). 9. . 13.

(15) passavam de truques de engenheiros “... quando muito bons para sonorizar desenhos animados” 11 . E não era mentira! Estávamos prestes a adentrar a era ecstasyanteȱŽȱž–Šȱ꜒ŒŠ•’ŠŽȱœ˜—˜›ŠȱŽȱ‹›’—ŒŠ•‘˜—ŠȱŽȱHz, modulações, arpeggios e osciladores. Divergências Šȱ™Š›Žǰȱ–ž’˜ȱŽ–‹˜›ŠȱœŽžœȱŽœž˜œȱŽœ’ŸŽœœŽ–ȱ›ŽŒ‘ŽŠ˜œȱŽȱ’—ø–Ž›˜œȱ™›˜‹•Ž–ŠœȱŒ˜—ŒŽ’žŠ’œȱŽȱ™›¤’Œ˜œǰȱ·ȱŒŽ›˜ȱšžŽȱŒ‘ŠŽěŽ›ǰȱŒ˜–ȱ todos os seus morfones e fonogênios cromáticos e contínuos, teria sido “um DJ techno meio século à frente de seu tempo” (PALOMBINI, 1999).. 4’33’’ ... eliminar todos os pensamentos que separam a música da vida 12. Os concertos de música concreta, eletroacústica e mesmo os de eletrônica pura haviam se tornado repetitivos e pouco criativos devido ao seu caráter única e exclusivamente reprodutivo das composições. Era preciso, então, que músico e música se libertassem da inscrição rígida dos gravadores e dos auto-falantes, que eles fossem, ambos, acontecimentos sonoros na malha vibracional que se desenrolava: “operadores de eventualidades”, tal qual queria Boulez 13ȱǯȱ–ȱž–ŠȱœŽ—œ’‹’•’ŠŽȱ˜žȱ™•¤œ’ŒŠȱœ˜—˜›Šǰȱ

(16) ˜‘—ȱŠŽȱŽœŽ“ŠŸŠȱ eliminar os pensamentos que separavam a música da vida e o som do silêncio. ȱ. —ĚžŽ—Œ’Š˜œȱ™Ž•ŠȱÇœ’ŒŠȱŠœȱ™Š›ÇŒž•Šœȱǻǜ’ŒŠȱž¦—’ŒŠǼȱŽȱ™Ž•Šȱꕘœ˜ęŠȱ˜›’Ž—Š•ǰȱ˜œȱ–øœ’Œ˜œȱŽ•Ž›â—’Œ˜œȱŠ’œȱŒ˜–˜ȱ Š›•‘Ž’—£ȱ. ˜Œ”‘ŠžœŽ—ǰȱ ’Ž››Žȱ ˜ž•Ž£ǰȱ žŒ’Š—˜ȱ Ž›’˜ȱ Žȱ ˜ȱ ™›à™›’˜ȱ ŠŽǰȱ ŽœŽ—Ÿ˜•ŸŽ–ȱ Šȱ øœ’ŒŠȱ •ŽŠà›’Šǰȱ —Šȱ šžŠ•ȱ ˜ȱ ŠŒŠœ˜ȱ œŽȱ ˜›—Š›’Šȱ ž– 11. .. ȱ  ǰȱŠ›•˜œǯȱ’Ž››ŽȱŒ‘ŠŽěŽ›ǰȱŗşśřDZȱ™˜›ȱž–Šȱøœ’ŒŠȱ¡™Ž›’–Ž—Š•ǯȱŽŸ’œŠȱ•Ž›â—’ŒŠȱŽȱžœ’Œ˜•˜’Šǰȱ˜•ǯřȦžž‹›˜ȱŽȱŗşşŞǯȱ’œ™˜—ÇŸŽ•ȱŽ–ȱǀ‘Ĵ™DZȦȦ    ǯ‘ž–Š—Šœǯž™›ǯ‹›Ȧ›Ž–Ȧ›Ž–ǯȱŗȦŸ˜•řȦŒ‘ŠŽěŽ›ǯ‘–•ǁǯȱŒŽœœ˜ȱŽ–DZȱŘŚȱ“Š—ǯȱŘŖŖŜǯ 12 John Cage (1987, p. 116). 13 ŽŒ•Š›Š³¨˜ȱŽȱ˜ž•Ž£ȱŽ–ȱž–ŠȱŽ—›ŽŸ’œŠȱ¥ȱ›ŽŸ’œŠȱ¢—Š¡’œȱǻ—’ŸŽ›œ’ŠŽȱŽȱŽ—Ž›’ŽǰȱŗşŞŞǼǰȱ—ŠȱšžŠ•ȱŽ•ŽȱŒ˜–Ž—ŠȱŠȱ’—Ěž¹—Œ’ŠȱŽȱŠ••Š›–·ȱ—ŠœȱœžŠœȱ˜‹›ŠœȱŽȱ cunho improvisador. 14.

(17) Œ˜–™˜—Ž—Žȱ ’—›Ç—œŽŒ˜ȱ Žȱ œž‹œŠ—Œ’Š•ȱ Šȱ ™›à™›’Šȱ –Š·›’Šȱ œ˜—˜›Šǯȱ œȱ ’—Ěž¹—Œ’Šœȱ Šȱ Œ’¹—Œ’Šȱ Žȱ Šȱ ꕘœ˜ęŠȱ —Šȱ –øœ’ŒŠȱ Ž•Ž›â—’ŒŠȱ promoveriam mudanças radicais tanto nos modos de se compor quanto nos modos de se ouvir música, mesmo porque o próprio —ŠœŒ’–Ž—˜ȱŠȱ–øœ’ŒŠȱŽ•Ž›â—’ŒŠȱŽ›Šȱ“¤ȱž–Šȱȃ–Š—’ŽœŠ³¨˜ȱœ˜—˜›ŠȄȱŠœȱ£˜—ŠœȱŽȱ’—ŒŽ›Ž£Šȱ˜œȱquanta energéticos, da potência sonora ˜ȱ—’ŸŽ›œ˜ȱšžŽȱŠȱ™›à™›’ŠȱŒ’¹—Œ’ŠȱŸ’›’ŠȱŠȱŽœŒ˜‹›’›ȱ—˜ȱœ·Œž•˜ȱœŽž’—Žǯȱšž’•˜ȱšžŽȱŠȱŠ›ŽȱŽȱŠȱꕘœ˜ęŠȱŒ›’Š–ȱ˜žȱŒŠ™Š–ȱ˜ȱŒ˜œ–˜œȱ nas suas forças de sensação e de conceito, a ciência constata em suas leis e funções, em que um elemento não aparece sem que outro, –Žœ–˜ȱŽœŒ˜—‘ŽŒ’˜ȱ˜žȱŠ’—Šȱ’—ŽŽ›–’—Š˜ǰȱŽœŽ“Šȱ™˜›ȱŸ’›ǰȱŒ˜–˜ȱ’›’Š–ȱŽ•Žž£ŽȱŽȱ žŠĴŠ›’ȱ14. ȱ ŠŽȱ ’—›˜ž£’›’Šȱ —Šȱ –øœ’ŒŠȱ ˜Œ’Ž—Š•ǰȱ Šœœ’–ȱ Œ˜–˜ȱ ˜Œ”‘ŠžœŽ—ǰȱ Šȱ ›Š’³¨˜ȱ –Çœ’ŒŠȱ Žȱ Žœ™’›’žŠ•ȱ ˜ȱ ˜›’Ž—Žǰȱ ›Š£Ž—˜ȱ šžŽœäŽœȱ ™Ž›’—Ž—Žœȱ ™Š›Šȱ Šȱ –øœ’ŒŠǰȱ Œ˜–˜ǰȱ ™˜›ȱ Ž¡Ž–™•˜ǰȱ ˜ȱ ŽœŽ“˜ȱ Žȱ œŽȱ ˜žŸ’›ȱ ˜ȱ œ’•¹—Œ’˜ȱ šžŽǰȱ œŽž—˜ȱ Šȱ ꕘœ˜ęŠȱ oriental, é o som mais elementar da vida. Foi assim que Cage, depois de muitos anos de estudo e experimentações eletroacústicas, compôs 4’33’’ (quatro minutos e trinta e três segundos), uma composição em três movimentos de pausas. ȱ. Šȱ œžŠȱ ™›’–Ž’›Šȱ Š™›ŽœŽ—Š³¨˜ȱ Š˜ȱ ŽŠ›˜ǰȱ Ž–ȱ ŗşśŘǰȱ œŽ—˜žȬœŽȱ Š˜ȱ ™’Š—˜ȱ Žȱ ꌘžȱ Š•’ȱ ™Š›Š˜ǰȱ ›˜–™Ž—˜ȱ ˜ȱ œ’•¹—Œ’˜ȱ Š™Ž—Šœȱ ™Š›Šȱ. seguir as páginas da partitura e para encerrar um movimento e começar outro, fechando e abrindo a tampa do piano. 4’33’’ não era uma composição esvaziada, pois mesmo o silêncio tem seus próprios burburinhos e passageiros. No instante da criação dessa obra (1951), Cage a teria ouvido na Câmara Anecóica do laboratório de Ampex, hermeticamente isolada de qualquer ruído: 4’33’’, na sua concepção mais elementar, era uma composição dos ruídos insilenciáveis do próprio corpo, das altas freqüências do cérebro e das baixas freqüências dos pulsos do coração 15 , apenas alternâncias elétricas e cadência rítmica bombeando a vida, e nada mais. ȱ. œœŠȱŽ¡™Ž›’¹—Œ’Šȱœ˜—˜›Šȱ•ŽŸŠ›’ŠȱŠŽȱŠȱŒ˜—Œ•ž’›ȱšžŽȱ˜ȱœ’•¹—Œ’˜ȱ·ȱž–ȱŒ˜—“ž—˜ȱŽȱ›žÇ˜œȱ—¨˜ȱ˜›Š—’£Š˜œǰȱž–Šȱ–˜Ÿ’–Ž—Š³¨˜ȱ. inquieta de uma matéria vibrante, e nunca ausência ou vazio. O que é o som senão uma espécie de silêncio, e uma espécie muito rara? 16ȱȱšžŽȱœ¨˜ȱŠœȱ›ŽŸŠœǰȱŽ–ȱœŽžȱ–˜Ÿ’–Ž—˜ȱ˜žȱ™›˜›ŽœœäŽœȱŽȱ•’—‘ŠœȱŽȱꐞ›Šœȱ˜™ŠŒŠœǰȱœŽ—¨˜ȱŠȱ•ž£ȱŽ–ȱž–ȱŽȱœŽžœȱŽŸŠ—Ž’˜œȱ 14. .. Sobre isso ver em “Do Caos ao Cérebro”, em ȱšžŽȱ·ȱŠȱ’•˜œ˜ęŠǰȱŽȱŽ•Žž£ŽȱŽȱ žŠĴŠ›’ȱǻŗşşŘǼǯ ANTUNES, Jorge. O Silêncioǯȱ’œ™˜—ÇŸŽ•ȱŽ–ȱǀ‘Ĵ™DZȦȦ   ǯŠ—™™˜–ǯ’Š›ǯž—’ŒŠ–™ǯ‹›Ȧ˜™žœȦ˜™žœŜȦŠ—ž—Žœǯ‘–ǁǯȱŒŽœœ˜ȱŽ–DZȱŘŖȱ“Š—ǯȱŘŖŖŜǯ 16 ȱŠ›Š›ŠœŽŠ—˜ȱ’Ž£œŒ‘ŽȱǻŗşŞřǰȱ™ǯȱŗşşǼȱŽ–ȱœžŠȱŠę›–Š³¨˜DZȱȃžŠ›Ž–˜Ȭ—˜œȱŽȱ’£Ž›ȱšžŽȱŠȱ–˜›Žȱ·ȱ˜™˜œŠȱ¥ȱŸ’ŠǯȱȱŸ’ŸŽ—Žȱ·ȱœ˜–Ž—Žȱž–ŠȱŽœ™·Œ’ŽȱŽȱ–˜›˜ǰȱŽȱ uma espécie muito rara”. 15 15.

(18) noturnos? Talvez fossem essas coisas que Cage tivesse tentado nos dizer: que para além ou para aquém de qualquer coisa, de qualquer pensamento, de qualquer som, há sempre um novo universo prestes a se tornar sensível. ȱ. ŚȂřřȂȂȱŽ›Šȱž–ȱŒ˜–™˜œ’³¨˜ȱ–ø•’™•ŠǰȱŽȱ’—ę—’Šœȱ™˜œœ’‹’•’ŠŽœȱŽȱ’—œ›ž–Ž—˜œǰȱŸ˜£Žœǰȱ›žÇ˜œȱŽȱž›Š³äŽœDZȱŠ˜—ŽȱšžŽ›ȱšžŽȱŽ•Šȱ. fosse entoada, sempre haveria algo para preenchê-la ou atravessá-la. Mais interessante é que, contrariamente às composições comuns, em 4’33’’ o som é que é uma espécie de silêncio ou de intervalo. O espelho sonoro de Cage o levaria, então, a pensar que os intervalos ™˜œœžŽ–ȱœ’—’ęŒŠ˜œǰȱšžŽȱ—¨˜ȱœ¨˜ȱ™›˜™›’Š–Ž—Žȱœ˜—œǰȱȃǯǯǯȱ–Šœȱ’–™•’ŒŠ–ȱŽ–ȱœžŠœȱȱ™›˜›ŽœœäŽœȱž–ȱœ˜–ȱ—¨˜ȱ›ŽŠ•–Ž—ŽȱŠ™›ŽœŽ—Š˜ȱ aos ouvidos, mas à mente” 17. ȱ œȱ–·˜˜œȱŽȱŒ˜–™˜œ’³¨˜ȱŽȱ’Ž››ŽȱŒ‘ŠŽěŽ›ȱ“¤ȱ’–™•’ŒŠŸŠ–ȱ˜ȱŽœŽ“˜ȱŽȱ˜›—Š›ȱŠžÇŸŽ•ȱ˜ȱœ’•¹—Œ’˜ǰȱŠ›ŠŸ·œȱ˜ȱ™›˜ŒŽœœ˜ȱŽȱ repetição e de saturação de uma molécula sonora até as suas camadas mais profundas: fazer dos “sussurros da duração acusmática” uma zona singular de intersecção de forças. Para Murray Schafer (apud ANTUNES, idem),“o silêncio é a característica mais cheia de possibilidades da música. Mesmo quando ele cai depois de um som, reverbera com a matéria deste e essa reverberação continua até šžŽȱ˜ž›˜ȱœ˜–ȱ˜ȱŽœŠ•˜“Žǰȱ˜žȱŠ·ȱšžŽȱŽ•ŽȱœŽȱ™Ž›ŒŠȱ—Šȱ–Ž–à›’Šǯȱ˜˜ǰȱ–Žœ–˜ȱŽ—Œ˜‹Ž›˜ǰȱ˜ȱœ’•¹—Œ’˜ȱœ˜ŠȄǯ ȱ ˜–˜ȱž–ȱŒ˜—›Š™˜—˜ȱ—˜ȱ™Ž—œŠ–Ž—˜ǰȱ˜ȱœ’•¹—Œ’˜ȱ·ȱž–ȱ“˜˜ȱŽȱŽŒ˜œȱŽȱŽȱŠ™Š›’³äŽœDZȱ˜ȱ›˜—Œ˜ȱ˜Œ˜ȱ˜ȱŠ–‹˜›ǰȱŠȱŸ˜£ȱŽȱ˜ȱŠ—³Š›’—˜ǰȱ ˜œȱ™·œȱŽȱ˜œȱ™Šœœ˜œǰȱ˜ȱ˜žŸ’˜ȱŽȱŠȱ™Ž•Žǯǯǯȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ȱ’£’ŠȱœŽ–™›ŽȱšžŽȱŽ›Šȱ™›ŽŒ’œ˜ȱ™Ž—Ž›Š›ȱ™›˜ž—Š–Ž—ŽȱŠȱŽœœ¹—Œ’Šȱ˜œȱœ˜—œȱšžŠ—˜ȱ no instante das suas criações, que para além de uma atividade mental ou intelectual, a música é para ser pensada com o corpo, sentida como os orientais a sentem. A ressonância que a música eletrônica fez pulsar entre os ouvidos oriental e ocidental, fez com que os músicos (eletrônicos) revissem toda a estrutura musical do ocidente. O tempo musical passaria a ser entendido à maneira de uma duração ou de uma pulsação interna imanente a cada composição ou ser sonoro, e a memória, como uma memória absoluta, cósmica, aquela mesma de que fala Deleuze (2005, p. 115) invocando Foucault.. 17. CAGE (ibidem).. . 16.

(19) ȱ 1ȱ—ŽœœŽȱœŽ—’˜ȱšžŽȱŚȂřřȂȂȱŽœŸŽ•Šȱhecceidades 18 , individualidades plenas das quais nada se pode acrescentar ou subtrair, tempo anônimo ou no mans land capaz de conter todos os presentes vivos do cosmos. Uma hecceidade é uma coletividade de moléculas, œŽ–™›ŽȱŽ–ȱ‹Š—˜œDZȱ·ȱž–ȱ–¤¡’–˜ȱŽȱ˜›³Šœȱ™Š›Šȱ˜ȱ–Ž—˜›ȱ˜œȱŽœ™Š³˜œȱ’—ę—’Žœ’–Š’œDzȱŽ–ȱŽ›–˜œȱœ˜—˜›˜œȱ·ȱŒ•Š›˜ȱšžŽȱhecceidade é um máximo de vozes para o menor dos intervalos, um máximo de vibrações para o menor dos silêncios. ȱ ȱšžŽ–ȱ’œœŽȱšžŽȱŚȂřřȂȂȱ—¨˜ȱ·ȱž–ŠȱŒ˜–™˜œ’³¨˜ȱŽ•Ž›â—’ŒŠǰȱ˜žȱ–Ž•‘˜›ǰȱŽ•·›’ŒŠǵȱŠ•ŸŽ£ȱ—¨˜ȱ‘Š“Šȱ—ŠŠȱ–Š’œȱœ˜—˜›˜ȱ˜ȱšžŽȱ˜ȱ nosso próprio corpo, êthosȱŽȱ™ŠœœŠŽ—œȱŽȱŠ››Š—“˜œȱ–˜•ŽŒž•Š›ŽœȱŽȱž–Šȱ–ž•’™•’Œ’ŠŽȱŽȱ™˜Ÿ˜Š–Ž—˜œȱŒ˜•Ž’Ÿ˜œǰȱšžŽȱ˜ȱ˜–Š–ȱŒ˜–˜ȱ tenda de dança. Se o próprio contexto de nascimento da música eletrônica viria a descobrir a potência sonora de tais forças plásticas, certamente seria somente com a música pós-eletroacústica, com o Psytrance, em especial, que tal plasticidade alcançaria toda a sua singularidade, como se verá mais adiante.. Marteau sans Maître ... cordas em atrito, pinceladas ou percutidas; instrumentos de sopro de forma cônica ou cilíndrica, soados com palheta ou bocal; madeira, metal e pele (...) 19. Sintetizar e cristalizar toda uma zoologia sonora a partir da síntese aditiva de freqüências puras: assim nasce a Elektronische MusikȱŽȱ ˜•—ǰȱ•Ž–Š—‘ŠǰȱšžŽȱ’—‘ŠȱŒ˜–˜ȱ™›’—Œ’™Š’œȱŒ˜–™˜œ’˜›ŽœDZȱ Š›•‘Ž’—£ȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ȱŽȱ’Ž››Žȱ˜ž•Ž£ǯȱ˜—›Š›’Š–Ž—Žȱ¥ȱŸŽ›Ž—Ž francesa, a escola de Música Eletrônica Pura não pensava em termos de matéria e de forma sonoras, mas em termos de material e 18. .. Conceito que Duns Scot cria a partir de HaecDZȱȃŽœŠȱŒ˜’œŠȄǯȱ–Šȱ‘ŽŒŒŽ’ŠŽȱ·ȱž–ȱ–˜˜ȱŽȱ’—’Ÿ’žŠ³¨˜ȱ–ž’˜ȱ’Ž›Ž—ŽȱŠšžŽ•ŽȱŽȱž–ȱœž“Ž’˜ǰȱŽȱž–Šȱ™Žœœ˜Šȱ ou de uma substância, pois tudo nele se dá a partir de relações de movimento e de repouso, de choque ou de encontro de moléculas que designam forças ou acontecimentos. Ver em DELEUZE, 1997, p. 47. 19 BOULEZ (MENEZES, idem, p. 94). 17.

(20) Žȱ˜›³ŠœǰȱŽȱŸŽ˜›ŽœȱŽȱŽȱ•’—‘Šœȱœ˜—˜›Šœǯȱ˜’ȱŒ‘Š–ŠŠȱŠ–‹·–ȱŽȱœŒ˜•ŠȱŽ—˜’Š•ǰȱ™˜’œȱ˜ȱœŽžȱŽœŽ“˜ȱŽ›Šȱ˜ȱŽȱŽœŒž•™’›ȱ˜—Šœȱœ˜—˜›Šœȱ nas suas constituições mais atômicas e imperceptíveis. Pela primeira vez a estrutura de um som se tornaria parte da estrutura da obra segundo os seus elementos constitutivos: pela primeira vez pôde se falar em compor um som, em sintetizá-lo segundo timbres, ž›Š³äŽœǰȱŠ•ž›ŠœȱŽȱ’—Ž—œ’ŠŽœȱŽœ™ŽŒÇꌊœǯ A Música Eletrônica Pura e seus aparelhos sintéticos puderam proporcionar aos músicos uma verdadeira emancipação tanto dos intérpretes quanto da escritura instrumental, para eles limitante. A obsessão pela síntese de um continuum timbrístico nas séries encontrou na Música Eletrônica Pura o apogeu da sua realização, mas não sem críticas e resistências, como a de Robert Beyer (idem, p. 36), que teria abandonado o Nordwestdeutscher Rundfunk por não concordar com a atitude criadora dos serialistas: “no fundo os compositores seriais não se preocupam de modo algum com o material, nem com o velho, nem com o novo; eles se preocupam, isto sim, somente com o que se deixa racionalizar e calcular, com as proporções e as séries.” Se era verdade que os músicos alemães tinham em suas mãos um novo material para trabalhar novas sonoridades, é bem ŸŽ›ŠŽȱ Š–‹·–ȱ šžŽȱ œžŠœȱ Œ˜–™˜œ’³äŽœȱ Ž›Š–ȱ Ž¡›Ž–Š–Ž—Žȱ ›ŠŒ’˜—Š•’œŠœȱ Ȯȱ ˜˜ȱ Žȱ šžŠ•šžŽ›ȱ ŠŽŒ˜ȱ Ž›Šȱ ™ž›Š–Ž—Žȱ –ŠŽ–¤’Œ˜ȱ Žȱ intelectual: contas e mais contas numéricas que, na grande maioria das vezes, nem chegariam a se tornar perceptíveis (música para músicos). ȱ. ˜œȱ™˜žŒ˜œǰȱ“¤ȱŠȱ™Š›’›ȱŠȱ·ŒŠŠȱŽȱśŖǰȱŠȱœŽ›’Š•’£Š³¨˜ȱ˜œȱ’–‹›Žœȱ˜’ȱœŽ—˜ȱŠ‹Š—˜—ŠŠȱŽȱŽ—¨˜ȱŠȱøœ’ŒŠȱ•Ž›â—’ŒŠȱž›Šȱ. começaria a encontrar outros caminhos, libertando-se do seu purismo inicial e envolvendo-se com outras estéticas e processos de composição que não somente o da síntese de ondas senoidais: é quando nasce a Música Eletroacústica. ȱ ŽœŠ—ȱŽ›ȱ

(21) û—•’—ȱǻŗşśśȬśŜǼȱ˜žȱȃȱŠ—˜ȱ˜œȱ˜•ŽœŒŽ—ŽœȄǰȱŽȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ǰȱ–Š›ŒŠȱ˜ȱ’—ÇŒ’˜ȱŠœȱŒ˜–™˜œ’³äŽœȱŽ•Ž›˜ŠŒøœ’ŒŠœȱ ˜žȱŠȱȃŒ˜—Œ›Ž’£Š³¨˜ȄȱŠȱøœ’ŒŠȱ•Ž›â—’ŒŠȱž›ŠȱŠ•Ž–¨ǰȱŠȱ™›’–Ž’›Šȱ™›˜™˜œŠȱȮȱ›Ž—ŽŠŠȱ™Ž•˜œȱ‹’œ™˜œȱȮȱŽȱž–Šȱ–’œœŠȱŽ•Ž›â—’ŒŠȱ™Š›ŠȱŠȱ. .. ŠŽ›Š•ȱŽȱ ˜•—ǯȱŽ•ŠǰȱŠȱŸ˜£ȱŽȱž–ȱŠ˜•ŽœŒŽ—Žǰȱ“ž—Š–Ž—ŽȱŒ˜–ȱœ˜—œȱœ’—·’Œ˜œȱŽȱŽ›Š˜›ŽœȱŽȱ˜—ŠœǰȱŽ—˜Š›’Š–ȱ˜ȱ¦—’Œ˜ȱ˜œȱ›¹œȱ

(22) ˜ŸŽ—œȱ—Šȱ˜›—Š•‘Šȱ›Ž—Žǰȱ˜ȱ’Ÿ›˜ȱŽȱŠ—’Ž•ǯȱŽ–ȱ–Žœ–˜ȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ȱŽœ™Ž›Š›’Šȱ™Ž•˜ȱŒŠ–’—‘˜ȱšžŽȱŽ•Žȱ™›à™›’˜ȱ’›’Šȱ›’•‘Š›ȱ–Š’œȱ 18.

(23) adiante com a Música Eletrônica Viva, na qual os encontros de composição e de contemplação da música eletrônica se transformariam em verdadeiros rituais entoados nos templos e altares abertos da Natureza. Cada vez mais se caminhava para uma supressão das oposições entre as escolas em favor de um continuum musical de vozes, ŽœŒ›’ž›ŠœǰȱŽ–™˜œȱŽȱ˜žŸ’˜œȱ–ø•’™•˜œǯȱȱŸ˜£ȱ‘ž–Š—Šǰȱ˜ȱø—’Œ˜ȱȃ’—œ›ž–Ž—˜Ȅȱǻ™Š›ŠȱžœŠ›ȱŠœȱŽ›–’—˜•˜’ŠœȱŽȱŒ‘ŠŽěŽ›ǼȱŒ˜–ž–ȱŠȱ todos os povos, passaria a ser o elo principal entre mais variadas vertentes da música eletrônica. Em Visage (1961), Luciano Berio fará desaparecer os liames entre voz e som sintético, e em KontakteȱǻŗşśşȬŜŖǼǰȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ȱŠ›¤ȱŠœȱ›Žšû¹—Œ’Šœȱ™ŠœœŠ›ȱŠȱ›’–˜œȱŽȱŸ’ŒŽȬŸŽ›œŠǰȱ em um continuum entre microtempo e macrotempo musicais.. 01 / KontakteȱȮȱ–’Œ›˜Ž–™˜ȱŽȱ–ŠŒ›˜Ž–™˜ȱ–žœ’ŒŠ’œ. . 19.

(24) A potência de canto, coro ou coral do cosmos passaria então a atravessar as composições tanto pelas linhas ou dobras atômicas das ondas sonoras (microestruturas, microtempos) quanto pelo desenrolar temporal de toda a obra em sua formalidade (macroestruturas, macrotempos): são os antecessores dos desenhos sonoros da música eletrônica do século seguinte, implicada aos œ˜Ğ Š›Žœȱ Žȱ Œ˜–™˜œ’³¨˜ȱ Œ˜–™žŠŒ’˜—Š’œǯȱ Ž™Ž’›ǰȱ œŠž›Š›ǰȱ œ˜‹›Ž™˜›ǰȱ Ž¡›Š’›ǰȱ –˜ž•Š›ǰȱ ꕝ›Š›ǰȱ ’œ˜›ŒŽ›ȱ ŽŒǯȱ œ¨˜ȱ ŸŽ›‹˜œȱ šžŽȱ Žȱ Š˜ȱ servem para cartografar ou sintetizar acontecimentos em qualquer linguagem, mas na música eletrônica, principalmente a partir dos sintetizadores (déc. 70), esses verbos sonoros se tornariam as próprias imagens ou aparições dos processos de composição: os parâmetros ou as unidades compositivas de cada ser sonoro (fabrica). Os seres da música, a partir da música eletrônica, seriam entendidos como os átomos de faraday: “centros de forças” em que œŽȱ Œ›ž£Š–ȱ •’—‘Šœȱ Žȱ ˜›³Šȱ ’—Žę—’Šœȱ šžŽȱ œŽȱ ’››Š’Š–ȱ ™Ž•˜ȱ Žœ™Š³˜ǯȱœȱ ŽœŒž•ž›Šœȱ Šâ–’ŒŠœȱ ˜ȱ –ŠŽ›’Š•ȱ œ˜—˜›˜ȱ Šȱ ŸŽ›Ž—Žȱ Š•Ž–¨ȱ precisavam se tornar sensíveis, de modo que de nada adiantaria se o novo material eletrônico, com toda a complexidade de desenhos sonoros que ele proporcionava, não pudesse ser trabalhado ao nível da nossa percepção auditiva. ȱ œœŠœȱ˜›Š–ȱŠœȱ’œŒžœœäŽœȱ’—Ž•ŽŒžŠ’œȱŽȱ˜ž•Ž£ǰȱšžŽȱ›Š›’Šȱ›Š—ŽœȱŒ˜—›’‹ž’³äŽœȱꕘœàꌊœȱ™Š›ŠȱŠȱŒ˜–™›ŽŽ—œ¨˜ȱ˜ȱŽ–™˜ȱŽȱ da duração sonoras sob uma nova perspectiva, a dizer, bergsoniana. Diria Deleuze que os seres da música são como os viventes de Ž›œ˜—ǰȱȃšžŽȱŒ˜–™Ž—œŠ–ȱœžŠȱŒ•Šžœž›Šȱ’—’Ÿ’žŠ—Žȱ™˜›ȱž–ŠȱŠ‹Ž›ž›ŠȱŽ’ŠȱŽȱ–˜ž•Š³¨˜ǰȱ›Ž™Ž’³¨˜ǰȱ›Š—œ™˜œ’³¨˜ǰȱ“žœŠ™˜œ’³¨˜ǯǯǯȄ20 Quando se adentra essa continuidade movente bergsoniana, tudo passa pela compreensão do movimento e do estremecimento da –Š·›’Šǰȱ™˜’œȱŒ˜–˜ȱ’Œ‘ŠŽ•ȱ Š›ȱǻŗşşŜǰȱ™ǯȱŗŝřǼȱŠę›–ŠǰȱȃŽ›œ˜—ȱ—¨˜ȱ™Ž›ž—Šȱ ˜ȱšžŽȱ·ȱ˜ȱœŽ›ǰȱ–ŠœȱŒ˜–˜ȱŽ•ŽȱœŽȱ–˜ŸŽȄǰȱŒ˜–˜ȱ·ȱŠȱ ™›˜›Žœœ¨˜ȱŽȱ˜ȱ̞¡˜ȱŠœȱœžŠœȱ’Ž›Ž—³Šœȱ’—Ž›—Šœǰȱ˜ȱœŽžȱ’—Š–’œ–˜ǰȱŠȱœžŠȱšžŠ•’ŠŽǯ O desenho da contemplação bergsoniana, tal qual o desenho da música eletrônica é um movimento rítmico de contração e ’œŽ—œ¨˜ȱŽȱ–’•‘Š›ŽœȱŽȱ™Š›ÇŒž•ŠœȱŽ•Ž–Ž—Š›ŽœDZȱ–’Œ›˜Ÿ’‹›Š³äŽœȱŽ›ž’Šœȱœ˜‹ȱŠœȱ‹ŠœŽœȱ̞’ŠœȱŽȱž–ȱser-tempo, de onde os viventes derivam como centros de indeterminação, prisma ou ponto cinético de desvio que, como uma rocha ou um mineral, é qualquer. 20. DELEUZE e GUATTARI, 1992, p. 245.. . 20.

(25) coisa de memória, lembrança, silêncio e muitas vozes 21. Na dimensão ontológica do tempo, em dermos deleuzeanos, há somente uma multiplicidade de durações, modos de ser no tempo, ritmos de existência pelos quais as coisas diferem, por natureza, de si mesmas e das outras coisas, onde tudo muda e permanece ao mesmo tempo. Vê-se porque os alemães direcionaram seus estudos para a síntese do material e da força do som. Boulez viu-se diante da —ŽŒŽœœ’ŠŽȱŽȱ›Ž™Ž—œŠ›ȱ˜ȱŽ–™˜ǰȱŠŠœȱŠœȱ™›˜ž—Šœȱ–˜’ęŒŠ³äŽœȱ—˜œȱ–˜˜œȱŽȱ›Ž’œ›˜ȱŽȱŽȱŒ˜–™˜œ“³¨˜ȱ–žœ’ŒŠ’œǯȱŽœœŠœȱ›ŽĚŽ¡äŽœǰȱ ele teria se deparado com uma questão muito similar a de Bergson: a da existência de uma duração ou de um tempo absoluto (não pulsado). Tal duração, no contexto musical bouleziano, não se referia mais aquele relativo aos tempi entre si ou à permanência de certos andamentos, mas tratava-se, sobretudo, de um tempo liberado de medidas cadenciais, métricas ou logarítmicas. A música seria —¨˜ȱŒ˜–˜ȱž–ȱ̞¡˜ȱŽȱ—˜Šœǰȱ–ŠœȱŒ˜–˜ȱ˜ȱ̞¡˜ȱŽȱž–ȱ›’˜ȱ˜œŒ’•Š—ŽȱŽȱ˜—ŽȱœŽȱŽœ™›Ž—Žȱž–Šȱœ·›’ŽȱŽȱŽ–™˜œȱ—¨˜ȱ™ž•œŠ˜œǰȱ˜›³Šœȱ ou partículas inaudíveis: é como se procurássemos a vida para além da linguagem, e a duração e o tempo para além da música.. 02 / ̞žŠ³äŽœȱ–žœ’ŒŠ’œȱ—Šȱ¤žŠ 21. Qualquer rocha ou mineral e, especialmente os cristais (que transformam vibrações sonoras em ondas eletromagnéticas, gerando campos elétricos), possuem uma espécie de memória sonora. Ao ouvirȱž–ȱŽŽ›–’—Š˜ȱœ˜–ǰȱŽ•Žœȱ™Ž›–Š—ŽŒŽ–ȱ–ž˜œȱ˜žȱœ’•Ž—Œ’˜œ˜œȱ™˜›ȱŠ•ž—œȱ’—œŠ—ŽœȱȮȱŒž“Šȱž›Š³¨˜ȱŽ™Ž—ŽȱŠȱœžŠȱ Žœ›žž›ŠȱŒ›’œŠ•’—Šȱ’—Ž›—ŠȱȮȱŽǰȱ•˜˜ȱŽ™˜’œǰȱ›ŽŠŽ–ǰȱŽŸ˜•ŸŽ—˜ȱŠȱŸ’‹›Š³¨˜ȱ¥ȱœžŠȱ˜—Žȱ˜›’’—Š•ǯȱȱŒ’¹—Œ’ŠȱŠ’—Šȱ—¨˜ȱŒ˜—œŽžŽȱŽ¡™•’ŒŠ›ȱ™˜›šžŽȱŽ–ȱž–ȱŽŽ›–’nado instante esses cristais acumulam tanta energia que tudo tende a colapsar, a caminhar em marcha à ré, fazendo com que as cargas retornem aos seus pontos Žȱ˜›’Ž–ȱŽȱ’–™Ž•’—˜ȱ˜ȱŒ›’œŠ•ȱŠȱŸ’‹›Š›ȱ—˜ŸŠ–Ž—ŽȱȮȱ—¨˜ȱ·ȱœŽ–ȱ›Š£¨˜ȱšžŽȱ˜œȱŒ›’œŠ’œȱœ¨˜ȱ™Ž³Šœȱž—Š–Ž—Š’œȱ—ŠœȱŽ—Ž—‘Š›’ŠœȱŽȱ¤ž’˜ǰȱŒ˜–˜ȱ—Šœȱ™•ŠŒŠœȱŽȱœ˜–ȱ Œ˜—ŸŽ›œ˜›Šœȱ’’Š•ȬŠ—Š•à’Œ˜ȱŽȱŠ—Š•à’Œ˜Ȭ’’Š•ǯȱŽ›ȱŽ–ȱ›’œŠ•ȱ™˜œœž’ȱ–Ž–à›’Šȱœ˜—˜›Šǯȱ’œ™˜—ÇŸŽ•ȱŽ–ȱ‘Ĵ™DZȦȦ   ǯ’—˜ŸŠŒŠ˜ŽŒ—˜•˜’ŒŠǯŒ˜–ǯ‹›Ȧ—˜’Œ’ŠœȦ—˜’Œ’Šǯ™‘™ǵŠ›’˜ƽŖŗŖŗŜŖŖŘŗŖŘśǯȱŒŽœœ˜ȱŽ–DZȱŖŝȱ“ž•ǯȱŘŖŖśǯ 21. ..

(26) Curiosamente, meio século depois de Boulez, a própria cosmomogia usaria dessa mesma imagem como força poética para Ž—Š›ȱŽ—Ž—Ž›ȱŠȱ–˜Ÿ’–Ž—Š³¨˜ȱŠȱ•ž£ȱ—˜ȱŽœ™Š³˜ǯȱȱŠ—Š•˜’ŠȱŽ—›Žȱ˜ȱ–˜Ÿ’–Ž—˜ȱŽȱ˜—Šœȱœ˜—˜›ŠœȱŽ–ȱž–ȱ̞’˜ȱŽȱ˜ȱŒ˜–™˜›Š–Ž—˜ȱ das ondas de luz no espaço, sugere que o Universo é um tipo de éter molecular, ao contrário do que supõe a teoria da relatividade einsteineana, em sua estrutura de campos elétricos e magnéticos oscilantes. Haveria então, sons quânticos e equivalentes acústicos para os acontecimentos luminosos do espaço-tempo 22: nada que um artista, e especialmente um músico, não pudesse sentir ou intuir. Boulez teria descoberto que aquilo que se soa em uma música não é nunca uma forma ou uma nota, mas, diríamos, é antes um estado ou um desenho sonoro de mudanças de tensão ou de energia das partículas. Tais mudanças dizem, propriamente, de um tempo não pulsado que o compositor deve fazer audível a partir do seu material sonoro: para adentrá-lo, somente com poesia. Boulez, que se encantava com o modo de como tal tempo se incorporava nas vozes de um poema, tinha para si que os melhores textos sobre o poder da música eram de poetas. René Char teria sido o personagem do primeiro encontro da música bouleziana com a poesia, que levaria o próprio Boulez a compor Marteau sans MaîtreȱǻȃŠ›Ž•˜ȱœŽ–ȱŽœ›ŽȄǰȱŗşśŚǼǯȱŽ•ŠǰȱŽ•Žȱ›Š‹Š•‘Šȱ˜ȱŽ–™˜ȱ–àŸŽ•ȱŠȱ–øœ’ŒŠȱŒ˜–ȱ˜ȱŽ–™˜ȱę¡˜ȱ˜ȱ™˜ŽŠǰȱ em nove peças divididas em três ciclos, com linhas rítmicas e melódicas que atravessariam toda a composição, em uma espécie de Ž–™˜ȱ̞žŠ—ŽȱŽȱž›Š³äŽœȱ–ø•’™•Šœǯȱœœ’–ȱŒ˜–˜ȱ˜ȱ›žÇ˜ȱŽȱ˜ȱœ’•¹—Œ’˜ȱŽ›’Š–ȱœ’˜ȱ™›˜‹•Ž–¤’ŒŠœȱŽȱ›Š—Žȱ™Š›Žȱ˜œȱŒ˜–™˜œ’˜›Žœȱ eletrônicos, para além do ruído e do silêncio, em Pierre Boulez tudo gravitava em torno do tempo. Não se poderia deixar de notar, —ŠœȱœžŠœȱ˜‹›ŠœȱŽȱ™Ž—œŠ–Ž—˜œǰȱŠȱ’—Ěž¹—Œ’ŠȱŠȱꕘœ˜ęŠȱ—’Ž£œŒ‘ŽŠ—ŠǰȱŠ™˜—ŠŠȱ™˜›ȱŽ•ŽȱŒ˜–˜ȱ˜ȱœŽ–’—Š•ȱ›ŽŸ˜•žŒ’˜—¤›’˜ȱŽȱž–ȱ—˜Ÿ˜ȱ pensamento musical. ȱ. ȱꕘœ˜ęŠȱ›Š—œ–žŠ˜›ŠȱŽȱœ’—·’ŒŠȱŽȱ’Ž£œŒ‘Žǰȱ˜žȱŠȱȃ–øœ’ŒŠȱ˜ȱŽŽ›—˜ȱ›Ž˜›—˜ȄǰȱŒ˜–˜ȱŠȱŒ‘Š–Š›Ž–˜œǰȱ“¤ȱŽ›’ŠȱœŽȱ˜›—Š˜ȱ. .. ŠžÇŸŽ•ȱ ŽœŽȱ Šȱ øœ’ŒŠȱ ˜—Œ›ŽŠǰȱ Œ˜–ȱ ˜œȱ œŽžœȱ ™›˜ŒŽœœ˜œȱ Žȱ ›Ž™Ž’³¨˜ȱ Žȱ Žȱ œŠž›Š³¨˜ȱ ˜œȱ Ž•Ž–Ž—˜œȱ œ˜—˜›˜œȱ Ȯȱ Ž–ȱ ‹žœŒŠȱ Žȱ ž–Š 22. ȱŽ›ȱŽ–ȱ

(27) ǰȱ‘Ž˜˜›ŽȱǯȱŽȱ ǰȱŽ—Šžǯȱ›˜™ŠŠ³¨˜ȱ—˜œȱž›ŠŒ˜œȱŽ›˜œǯȱŒ’Ž—’ęŒȱ–Ž›’ŒŠ—ȱ›Šœ’•ǯȱ˜›žŠ•ǰȱŠ—˜ȱŚǰȱ—ǯȱŚŚǰȱ™™ǯȱŚŘȬŚşǰȱ“Š—ǯȱ 2006. 22.

(28) ™ž•œŠ³¨˜ȱ˜›’’—Š•ȱȮȱ˜žȱ–Žœ–˜ȱ—Šȱøœ’ŒŠȱ•ŽŠà›’ŠǰȱŒž“˜ȱŠŒŠœ˜ȱœŽ›’ŠȱŒ˜—ŒŽ‹’˜ȱŒ˜–˜ȱŽ•Ž–Ž—˜ȱ’—›Ç—œŽŒ˜ȱŠ˜ȱ–ŠŽ›’Š•ȱœ˜—˜›˜ǯȱꛖŠ›ȱ ˜ȱŠŒŠœ˜ȱŽȱ˜ȱŒ’Œ•˜ȱ™Š›ŠȱŠ£Ž›ȱŠžÇŸŽ•ȱŠȱ–øœ’ŒŠȱ̞žŠ—ŽȱšžŽȱŽ—Ž—›Šȱž–ȱž›‹’•‘¨˜ȱŽȱŠ›ŽŠ˜œȱœ˜—˜›˜œȱŽ–ȱœŽžœȱŽ—›ŽŒ›ž£Š–Ž—˜œȱŽȱ Ž—œäŽœDZȱŽ’œȱ˜ȱšžŽȱ’Ž£œŒ‘ŽȱŠ›¤ȱ›Žœœ˜Š›ȱ—˜œȱ™›’–à›’˜œȱŠȱ–øœ’ŒŠȱŽ•Ž›â—’ŒŠȱȮȱ—ž–ŠȱŸ’¹—Œ’Šȱœ˜—˜›ŠȱȬȱŠ››ŠœŠ—˜Ȭ—˜œȱŒŠŠȱŸŽ£ȱ–Š’œȱ para uma massa de forças (caos) onde pulsa toda nota e todo silêncio, plano mágico de quebras e rachaduras com o qual se poderia compor com o cosmos ou compor um cosmos, desta feita, sonoro. ȱ. 1ȱ—ŽœœŽȱœŽ—’˜ȱšžŽȱœŽȱ™˜Žȱ’£Ž›ǰȱŽ–ȱŽ›–˜œȱ—’Ž£œŒ‘ŽŠ—˜œǰȱšžŽȱŠȱ–øœ’ŒŠȱ·ȱŠȱŽ¡™›Žœœ¨˜ȱŠœȱ™ž•œäŽœȱŽȱ’˜—’œ˜ǰȱŠȱŠ—³ŠȱŠȱ metamorfose ou as ondulações de zoé 23 . Como um fenômeno primordial, somente a música pode fazer-nos compreender a potência da arte dionisíaca, aquela que é diretamente apreendida de maneira inteligível, imediata e legitimamente estética 24: Aion ou a verdade ŽŽ›—Šȱ˜ȱŽ–™˜ȱŽ–ȱœžŠȱ˜›–ŠȱŸŠ£’Šǰȱȃǯǯǯȱ’•’–’Š˜ȱŒ˜–˜ȱ˜ȱžž›˜ȱŽȱ˜ȱ™ŠœœŠ˜ǰȱ–Šœȱꗒ˜ȱŒ˜–˜ȱ˜ȱ’—œŠ—ŽȄȱǻǰȱŘŖŖŖǰȱ™ǯȱŗŝŖǼǰȱ Šà™’Œ˜ȱŒ˜–˜ȱŽ•Žǯȱ˜–˜ȱŠŒ›Ž’ŠŸŠ–ȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ȱŽȱ˜ž•Ž£ǰȱŠȱ–øœ’ŒŠȱ·ȱž–ŠȱŠ›ŽȱŠ‹œ›ŠŠȱ™˜›ȱŽ¡ŒŽ•¹—Œ’ŠǰȱŽȱœŽȱœŽȱ™˜Žȱ’£Ž›ȱšžŽȱŽ•Šȱ·ȱ representativa, é somente no sentido de que ela não pode representar outra coisa senão a si mesma, sendo, portanto, auto-referente Žȱž–ȱŠ—˜ȱ–Š’œȱŒ˜–™•Ž¡Šȱ˜ȱšžŽȱŠšž’•˜ȱšžŽȱœŽȱŽ’¡Šȱ—˜Š›ȱ˜žȱę¡Š›ȱ—ŠœȱŽœŒ›’ž›ŠœǰȱŽœŒŠ™Š—˜ȱ¥œȱŽŽ›–’—Š³äŽœȱŽȱ–Ž’³äŽœȱ™›ŽŒ’œŠœȱ que queiramos lhe impor. ȱ ˜ž•Ž£ȱ’—‘ŠȱŠȱ–øœ’ŒŠȱŒ˜–˜ȱž–Šȱ™˜Žœ’Šȱǻ˜žȱŠȱ™˜Žœ’Šȱ–øœ’ŒŠǵǼǰȱ–ŠœȱœŽȱŽ•ŽȱŠę›–ŠŸŠȱ’œœ˜ȱŽ›Šȱœ˜–Ž—Žȱ—˜ȱœŽ—’˜ȱŽȱšžŽȱ‘¤ȱ Š–‹·–ȱ—Šȱ™˜Žœ’Šȱž–ȱŽ–™˜ȱ—¨˜ȱ™ž•œŠ˜ȱšžŽȱ’—œ’œŽȱ—Šœȱ™Š•ŠŸ›ŠœǰȱŠ•ȱšžŠ•ȱ‘¤ȱ—Šȱ–øœ’ŒŠȱž–ȱŽ–™˜ȱ—¨˜ȱŒ˜—ꐞ›Š˜ȱšžŽȱ™ž•œŠȱ—Šœȱ —˜Šœǯȱȱ –øœ’ŒŠǰȱ Š—˜ȱ šžŠ—˜ȱ Šȱ ™˜Žœ’Šǰȱ ·ȱ ž–Šȱ •’—žŠŽ–ȱ ŒŠ™Š£ȱ Žȱ ž–Šȱ ™›ŽŒ’œ¨˜ȱ ’—ę—’Šȱ Žȱ –ž•’™•’ŒŠ›ȬœŽǰȱ ’›’Šȱ ’Ž£œŒ‘Žȱ ǻapud LYNCH, 1998): “Melhor não é a palavra mesma, mas o tom, a intensidade, a modulação, o ritmo com o qual uma série de palavras é. 23. .. Dionísio, o deus da metamorfose, é a imagem arquetípica de zoéǰȱ™Š•ŠŸ›ŠȱšžŽȱ—˜ȱ›Ž˜ȱœ’—’ęŒŠȱž–Šȱvida indeterminada, indestrutível, sem limites ou contornos, à qual se oporia bios, uma vida contornadaǰȱŒŠ›ŠŒŽ›’£ŠŠȱŽȱꗒŠǯȱZoéǰȱšžŽȱœàȱ™˜ŽȱŒ˜—ŒŽ‹Ž›ȬœŽȱŒ˜–˜ȱž–ȱȃœŽ–ȱę–Ȅǰȱȃǯǯǯȱ·ȱ˜ȱę˜ȱŠȱšžŽȱŒŠŠȱ‹’˜œȱ’—’Ÿ’žŠ•ȱœŽȱ ™Ž—ž›ŠȄȱǻ Ž›·—¢’ǰȱŘŖŖŘǰȱ™ǯǼDZȱž–ȱ–Ç—’–˜ȱŽȱŸ’Šȱ™Š›Šȱž–ȱ–¤¡’–˜ȱŽȱŸ’ŸŽ—Žœǯȱ•˜’—˜ȱŠȱŒ‘Š–ŠŸŠȱŽȱȃŽ–™˜ȱŠȱŠ•–ŠȄȱŽȱœ™’—˜œŠǰȱ™˜›ȱœžŠȱŸŽ£ǰȱŽȱȃŽŽ›—’dade”. 24 NIETZSCHE, 1983, p. 21. 23.

(29) ȱ ȱ. ȱ ȱ. ™›˜—ž—Œ’ŠŠȱ Ȯȱ Ž–ȱ œž–Šǰȱ Šȱ –øœ’ŒŠȱ ™˜›ȱ Ž›¤œȱ Šœȱ ™Š•ŠŸ›Šœǰȱ Šœȱ ™Š’¡äŽœȱ ™˜›ȱ Ž›¤œȱ Šȱ –øœ’ŒŠǰȱ Šȱ ™Ž›œ˜—Š•’ŠŽȱ ™˜›ȱ Ž›¤œȱȱ Žȱž–Šȱ™Š’¡¨˜DZȱ˜žȱœŽ“Šǰȱž˜ȱ˜ȱšžŽȱ—¨˜ȱ™˜ŽȱœŽ›ȱŽœŒ›’˜ǯȱ˜›ȱŽœœŠȱ›Š£¨˜ȱ˜ȱŽœŒ›ŽŸŽ›ȱŽ–ȱ¨˜ȱ™˜žŒŠȱ’–™˜›¦—Œ’ŠǯȄ. Procurar o tempo não pulsado que insiste no pulsado, ouvir o ritmo que se desprende das cadências e das métricas, tornar visível ou audível uma duração absoluta que está para além daquilo que é visto ou ouvido e que, no entanto, não pode se fazer sensível senão pela linguagem. Na medida em que nada pode representar a música, ela não pode ser entendida senão como uma linguagem dos afectos ou do enlace dos sentimentosDZȱŽœœŽȱ·ǰȱ™˜›ȱŽ¡ŒŽ•¹—Œ’Šǰȱ˜ȱŽŒ˜ȱ˜ȱŒ˜œ–˜œǯȱ›™’—Š•’”ǰȱž–ȱ¡Š–¨ǰȱ™˜ŽŠȱŽȱŒŠ³Š˜›ȱŽœšž’–àǰȱ’›’ŠȱšžŽ. ȱ ȱ. ȱ ȱ. “Canções são pensamentos, cantados com a respiração quando as pessoas são movidas por grandes forças & quando a Š•Šȱ ˜›’—¤›’Šȱ —¨˜ȱ ·ȱ –Š’œȱ œžęŒ’Ž—Žǯȱ ȱ ‘˜–Ž–ȱ ·ȱ –˜Ÿ’˜ȱ Œ˜–˜ȱ Šȱ ‹Š—šž’œŠȱ Žȱ Ž•˜ȱ œ’—›Š—˜ȱ ¥ȱ Ž›’ŸŠȱ ™Ž•Šȱ Œ˜››Ž—Ž£Šǯ Žžœȱ ™Ž—œŠ–Ž—˜œȱ œ¨˜ȱ ’›’’˜œȱ ™˜›ȱ ž–Šȱ ˜›³Šȱ šžŽȱ ̞’ȱ šžŠ—˜ȱ Ž•Žȱ œŽ—Žȱ Š•Ž›’Šǰȱ šžŠ—˜ȱ Ž•Žȱ œŽ—Žȱ –Ž˜ǰȱ šžŠ—˜ȱ Ž•Žȱ œŽ—Žȱ tristeza” 25. ȱ Š•ȱŒ˜–˜ȱ™Š›Šȱ›™’—Š•’”ǰȱ™Š›Šȱ˜ž•Ž£ȱ—¨˜ȱ‘ŠŸ’Šȱ–Š’œȱ’Ž›Ž—³ŠȱŽ—›Žȱ–øœ’ŒŠȱŽȱ™Ž—œŠ–Ž—˜ǰȱŽ—›Žȱ–˜ž•Š›ȱ˜žȱœ’—Ž’£Š›ȱœ˜—œȱ e palavras, notas e letras. E se as discussões bergsonianas e mesmo nietzscheanas encontravam-se condensadas nos encontros que ˜ž•Ž£ȱ˜›Š—’£ŠŸŠȱŽ—›ŽȱŠȱ–øœ’ŒŠȱŽȱŠȱ™˜Žœ’Šǰȱ™Š›Šȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ȱŽ•ŠœȱŽŒ•˜’›’Š–ȱŽȱž–ȱ˜ž›˜ȱ™˜—˜ǰȱŠȱœŠ‹Ž›ǰȱŠœȱŒ˜–™˜œ’³äŽœȱœ’—·’ŒŠœȱ e seus processos abertos e labirínticos, bem como do desvelamento de uma potência afectiva e compositiva da música eletrônica: o encontro com Espinosa.. 25. .. Retirado de Technicians of the SacredǰȱŽȱ

(30) Ž›˜–Žȱ˜‘Ž—‹Ž›ǯȱ’œ™˜—ÇŸŽ•ȱŽ–DZȱǀ‘Ĵ™DZȦȦ™Š’—ŠœǯŽ››ŠǯŒ˜–ǯ‹›ȦŠ›ŽȦ˜™˜¡Ȧ›˜‘Ž—‹Ž›Řǯ‘–ǁǯȱŒŽœœ˜ȱŽ–DZȱŘŚȱ“Š—ǯȱŘŖŖŜǯ 24.

(31) Sternklang ...durante um verão cálido e tépido, sob um céu iluminado pelas estrelas e, de preferência, no período de lua cheia 26. Os modos de ser no tempo, os ritmos de existência, as intensidades e as pulsações internas dos seres vivos da música eletrônica Š—‘Š›’Š–ǰȱŒ˜–ȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ǰȱž–ȱ—˜Ÿ˜ȱ–˜˜ȱŽȱœŽ›Ž–ȱŠŽ—Œ’Š˜œȱŽȱŒ˜—Ž–™•Š˜œȱ—Šȱž›˜™ŠDZȱŠȱøœ’ŒŠȱ•Ž›â—’ŒŠȱ’ŸŠȱ˜žȱøœ’ŒŠȱ Eletroacústica em tempo real. A compactação de chips e transistores tornou possíveis performances eletroacústicas e eletrônicas cada ŸŽ£ȱ–Š’œȱŒ˜–™•Ž¡ŠœǰȱšžŠ—˜ȱŽ—¨˜ȱ˜œȱŒ˜—ŒŽ›˜œȱ™žŽ›Š–ȱœŠ’›ȱ˜ȱŒ˜—ę—Š–Ž—˜ȱŠœȱœŠ•Šœȱ˜žȱ˜œȱŽœø’˜œȱŽȱŠ•ŒŠ—³Š›ȱ˜œȱ–Š’œȱŸŠ›’Š˜œȱ espaços de contemplação, proporcionando aos compositores eletrônicos ambientações sonoras múltiplas. A chegada dos sintetizadores fez nascer um tipo de designȱ ›¤ęŒ˜ȱ Žȱ manchas e rasgos sonoros, circuitos e modulações das –˜•·Œž•Šœȱœ˜—˜›Šœȱ¥ȱ–Š—Ž’›ŠȱŽȱž–ȱšžŠ›˜ȱŽȱ˜›³ŠœȱšžŽȱ—¨˜ȱ™˜Ž›’Šȱ–Š’œȱŒ˜–™˜›Š›ȱœŽ—¨˜ȱ•’—‘ŠœȱŽȱ™˜—˜œȱŽȱ’—ĚŽ¡¨˜ǰȱ˜‹›Šœǰȱ distorções e fronteiras tensionantes, tal qual em Mikrophonie IǰȱŠȱ™›’–Ž’›ŠȱŒ˜–™˜œ’³¨˜ȱŽȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ȱ™Š›ŠȱŠȱøœ’ŒŠȱ•Ž›â—’ŒŠȱ’ŸŠǯ. 03 / Mikrophonie I (1964) 26. ˜Œ”‘ŠžœŽ—ȱǻapud MOTTA, 1992).. . 25.

(32) Em termos deleuzeanos, retomando questões foucaultianas, pode-se chamar esse design sonoro de diagrama: aquele que Š™›ŽœŽ—ŠȱŠœȱ›Ž•Š³äŽœȱŽȱ˜›³ŠœȱŽȱž–Šȱ˜›–Š³¨˜ǰȱŠȱ–’œž›ŠȱŽȱ™ž›Šœȱž—³äŽœȱŽȱ–Š·›’Šœȱ—¨˜ȱ˜›–Š•’£ŠŠœǰȱ˜žȱœŽ“ŠǰȱŠœȱ›Ž•Š³äŽœȱŽȱ ™˜Ž›ȱšžŽȱ™Ž›™ŠœœŠ–ȱŽœœŠȱ˜žȱŠšžŽ•ŠȱŒ˜–™˜œ’³¨˜ǯȱšž’ȱŠ–‹·–ȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ȱœŽȱŽ—Œ˜—›ŠȱŒ˜–ȱ’Ž£œŒ‘ŽDZȱŠȱ–øœ’ŒŠȱŽ•Ž›â—’ŒŠȱŒ˜–˜ȱ uma potência ou vontade de poder sonoro no enlace dos dados de novas forças, o que quer dizer novos modos de sentir. A síntese das forças sonoras dava à música eletrônica o poder de adentrar os segredos mais sutis das microvibrações e dos microintervalos do material sonoro, estendendo-se para além dele: “trabalhar no interior de materiais muito limitados e integrar aí ˜ȱ—’ŸŽ›œ˜ȱŠ›ŠŸ·œȱŽȱž–Šȱ›Š—œ˜›–Š³¨˜ȱŒ˜—Ç—žŠȄǰȱ’›’Šȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ȱǻapud Deleuze, 1997a, p. 160). A música eletrônica, a partir Šȱøœ’ŒŠȱ•Ž›â—’ŒŠȱ’ŸŠȱŽȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ǰȱœŽ›’ŠȱŽ—Ž—’ŠȱŒ˜–˜ȱž–Šȱ˜™˜›ŠęŠȱŠœȱŒŠ–ŠŠœȱœ˜—˜›Šœȱ˜ȱŒ˜œ–˜œǰȱŒ˜–™˜œ’³äŽœȱ˜žȱ melodias genealógicas de uma constelação de coexistências como uma variação contínua das forças: o labirinto. As composições —¨˜ȱŽ›’Š–ȱ–Š’œȱ™Š›’ž›Šœǰȱ–Šœȱȃ™›˜ŒŽœœ˜œȄǰȱ“˜˜œȱŽȱŒ˜—Ž¡äŽœȱŽ—Ž›·’Œ˜ȬŽ•·›’ŒŠœǰȱ̞žŠ³äŽœȱ–žœ’ŒŠ’œȱ¥ȱ–Š—Ž’›ŠȱŽȱž–ŠȱŸ’ŠŽ–ȱ ’˜—’œÇŠŒŠǰȱŠšžŽ•ŠȱšžŽȱ—¨˜ȱŒ˜—‘ŽŒŽȱ˜ž›ŠȱŠ›šž’Žž›ŠȱœŽ—¨˜ȱŠȱȃ˜œȱ™Ž›Œž›œ˜œȱŽȱ›Š“Ž˜œȄȱǻŽ•Žž£ŽǰȱœȦǰȱ™ǯȱŗŘŖǼǯ ȱ ˜–˜ȱž–ȱŽœŽžȱ¥œȱŠŸŽœœŠœǰȱ˜ȱ–øœ’Œ˜ȱŽ•Ž›â—’Œ˜ȱ“¤ȱ—¨˜ȱ™˜Ž›’Šȱ–Š’œȱŒ˜–™˜›ȱœŽ–ȱœŽžœȱꘜȱŽȱ–Š™ŠœȱŽœŒ˜–™›˜–Ž’˜œȱŽȱ šžŠ•šžŽ›ȱ™›’—ŒÇ™’˜ȱ˜žȱę–ȱšžŽǰȱŠ˜ȱ’—Ÿ·œȱŽȱ’›Š›Ȭ•‘Žȱ˜ȱ•Š‹’›’—˜ǰȱ’—œŽ›’ŠȬ˜ȱŒŠŠȱŸŽ£ȱ–Š’œȱ—Ž•ŽDZȱ–Šœȱ—¨˜ȱ–Š’œȱ˜ȱ•Š‹’›’—˜ȱŠȱŠ˜—’ŠȱŽȱ˜œȱ Š›˜œȱŽȱ—Ž–ȱ–Žœ–˜ȱ˜ȱ˜žŸ’˜ȱ˜ȱ–Ž˜ȱŽȱ˜ȱ›ŽŒŽ’˜ȱȮȱŠȱ–øœ’ŒŠȱŒ˜–˜ȱarte da penumbraǰȱ’›’Šȱ’Ž£œŒ‘ŽȱȮǰȱ–Šœȱ˜ȱ•Š‹’›’—˜ȱ˜ȱ›Ž˜£ħ˜ȱŽȱ Šȱ•ŽŸŽ£Šǰȱ‹Ž–ȱŒ˜–˜ȱ˜ȱ˜žŸ’˜ȱŠȱ•ž£ȱ˜ȱ’Šǰȱ˜ȱȃ·Š•˜ȱŠȱŠę›–Š³¨˜Ȅȱ27. Tal qual Dioniso, mas não sem Espinosa, a música eletrônica šžŽȱœŽȱŽœ™˜—ŠŸŠȱ—˜ȱꗊ•ȱ˜ȱœ·Œž•˜ȱŠ—ž—Œ’ŠŸŠȱž–Šȱ—˜ŸŠȱ˜›–ŠȱŽȱœŽȱŒ˜–™˜›ȱǻŒ˜–ǼȱŠȱŸ’ŠDZȱȃŠ•’Ÿ’Š›ȱ˜ȱšžŽȱŸ’ŸŽǰȱŠ—³Š›ǰȱŒ›’Š›ǯȄ O tempo ontológico, tal qual para o pensamento bergsoniano, ou ainda a força, o poder e o afecto, tal qual para o pensamento —’Ž£œŒ‘ŽŠ—˜ȱ Žȱ Žœ™’—˜œŠ—˜ǰȱ œŽ–™›Žȱ ˜›Š–ȱ ’œŒžœœäŽœȱ ’—›Ç—œŽŒŠœȱ Š˜ȱ ™•Š—˜ȱ –žœ’ŒŠ•ǰȱ ‹Ž–ȱ Œ˜–˜ȱ œŠ‹’Š–ȱ Œ‘ŠŽěŽ›ǰȱ ŠŽǰȱ ˜ž•Ž£ǰȱ ˜Œ”‘ŠžœŽ—ȱ Žȱ Š—˜œȱ ˜ž›˜œȱ ™Ž—œŠ˜›Žœȱ Žȱ ™›˜ž˜›Žœȱ Šȱ –øœ’ŒŠȱ Ž•Ž›â—’ŒŠǰȱ Œ˜—Ž–™˜›¦—Ž˜œȱ ˜žȱ —¨˜ȱ Šȱ Ž•Žœǯȱ 1ȱ ™˜›ȱ ŽœœŠȱ ›Š£¨˜ȱ šžŽȱ Ž•Žž£ŽȱŽȱ žŠĴŠ›’ȱŠȱ’—Ÿ˜ŒŠ›’Š–ȱ™Š›Šȱ’•žœ›Š›ȱŠšž’•˜ȱšžŽȱŽ•ŽœȱŒ‘Š–Š›’Š–ȱŽȱȃ™•Š—˜ȱŽȱŒ˜–™˜œ’³¨˜Ȅȱ˜žȱŽȱŒ˜—œ’œ¹—Œ’Šǰȱ˜—Žȱ˜˜œ. 27. Idem, p. 281.. . 26.

(33) ˜œȱŠŒ˜—ŽŒ’–Ž—˜œȱœŽȱŠ›’Š–ȱ¥ȱ–Š—Ž’›ŠȱŽȱž–ȱŠŽ—Œ’Š–Ž—˜ȱ–žœ’ŒŠ•ǰȱŽ–ȱœŽžœȱŒ˜›™˜œȱŽȱ˜›³ŠœȱŠ—â—’–ŠœDZȱŠȱꕘœ˜ęŠȱŒ˜–˜ȱœ’—Ž’£Š˜›ȱ de pensamentos. ȱ. Š—˜ȱšžŠ—˜ȱŽ•Žž£ŽȱŽȱ žŠĴŠ›’ȱ›ŽŒ•Š–ŠŸŠ–ȱž–Šȱ—˜ŸŠȱꕘœ˜ęŠǰȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ȱ›ŽŒ•Š–ŠŸŠȱž–Šȱ—˜ŸŠȱŒ˜–™›ŽŽ—œ¨˜ȱ™Š›ŠȱŠȱ—˜ŸŠȱ. música que se despontava. A musicologia acadêmica ou clássica não poderia mais dar conta das novas questões levantadas pelas ’—ę—’Šœȱ™˜œœ’‹’•’ŠŽœȱŠȱœÇ—ŽœŽȱœ˜—˜›ŠǰȱŠœȱ—˜ŸŠœȱ–¤šž’—ŠœȱŽ—Ž›·’ŒŠœȱšžŽȱ—ŠœŒ’Š–ǰȱ’—Žę—ÇŸŽ’œȱ’–Ž’ŠŠ–Ž—Žǯȱȱ—˜Ÿ˜ȱ™•Š—˜ȱ –žœ’ŒŠ•ȱšžŽȱŽœ™˜—ŠŸŠȱ›Ž“Ž’ŠŸŠȱšžŠ•šžŽ›ȱ’™˜ȱŽȱ–Ž¤˜›ŠǰȱŽȱ–˜˜ȱšžŽǰȱŒ˜–˜ȱ˜ȱ™›à™›’˜ȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ȱ’›’Šǰȱž–Šȱ˜ž›Šȱ–Ž˜˜•˜’Šȱ se fazia necessária para entendê-la, uma “outra literatura sobre o ritmo que passe as métricas e os compassos e nos explique ritmos irregulares, micro-intervalos, novas articulações rítmicas. Não há, nem nunca houve, ‘ciências musicais’; há sim uma explicação da –øœ’ŒŠȱŠ›ŠŸ·œȱŽȱ˜ž›ŠœȱŒ’¹—Œ’Šœȱǻ–ŽŒ¦—’ŒŠǰȱŠŒøœ’ŒŠǰȱ’—˜›–¤’ŒŠǰȱ‘’œà›’Šǰȱ꜒˜•˜’ŠǰȱŽŒǯǼȄȱ28. ȱ Œ›ŽœŒŽ—ŽȬœŽȱŠÇȱŠȱꕘœ˜ęŠȱȬȱŠœȱšžŽœäŽœȱ™Š›Š•Ž•Šœȱ˜žȱ›Š—œŸŽ›œŠ’œȱšžŽȱœŽȱ™˜Žȱ›Š³Š›ȱŽ—›ŽȱŠȱ–øœ’ŒŠȱŽ•Ž›â—’ŒŠȱŽȱ˜ȱ™Ž—œŠ–Ž—˜ȱ Œàœ–’Œ˜ȱŽȱŽ•Žž£ŽȱŽȱ žŠĴŠ›’ǰȱŽ–ȱŽ›–˜œȱ‹Ž›˜—’Š—˜œǰȱ—’Ž£œŒ‘ŽŠ—˜œȱŽȱŽœ™’˜—Š–˜œȱ—˜œȱ’£Ž–ȱŽȱž–Šȱ–Žœ–ŠȱšžŠ•’ŠŽȱ–˜ŸŽ—Žȱ ou atividade dos corpos da música e do pensamento: plano imanente de composições diagramáticas ou geométricas que só pode ser cartografado a partir dos afectos e dos devires que o atravessam, a partir das relações de velocidade e lentidão, movimento e repouso das partículas ou moléculas que nele insistem ou transitam. A partir da Música Eletrônica Viva ou eletronic live, cada vez mais os seres da música estariam comprometidos a afectos de luz e de temperatura, mais à maneira dos animais e das aves canoras do que dos compositores e freqüentadores de concertos: o canto ao Sol, a música do entardecer ou a canção noturna. Aos poucos e intensamente, a profundidade intelectual da dita “música dos civilizados” ȮȱšžŽȱŒ‘ŠŽěŽ›ȱŽŽ—’ŠȱŒ˜–ȱž—‘ŠœȱŽȱŽ—ŽœȱȮȱŽ—Œ˜—›Š›’Šȱ˜ȱ’—ÇŒ’˜ȱŽȱž–Šȱ—˜ŸŠȱŠŸŽ—ž›Šȱ–žœ’ŒŠ•ǰȱŠ˜›ŠǰȱŽœŒ˜–™›˜–’œœŠŠȱŠȱ academia, pulsando sob outras vontades e poderes, composições e prolongamentos.. 28. .. ȱǰȱ

(34) ˜›Žȱ’–Šǯȱ—›ŽŸ’œŠȱŠȱ Š›•‘Ž’—£ȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ǯȱ’œ™˜—ÇŸŽ•ȱŽ–DZȱǀ‘Ĵ™DZȦȦ‘˜–Ž™ŠŽǯ–ŠŒǯȱŒ˜–ȦŸ’˜›ǯ›žŠȦ’‹•˜ȦȱŜřřŝřŚśŚřȦŗřŖŝŞŜŖŝŖȦǁǯȱŒŽœœ˜ȱ Ž–DZȱŘŘȱ“Š—ǯȱŘŖŖŜǯ 27.

(35) ȱ ŠŠȱž–ŠȱŠœȱ–ø•’™•ŠœȱŸŽ›Ž—ŽœȱȮȱŠ’œȱŒ˜–˜ȱ˜ȱTechno, o House, o Electro e o próprio TranceǰȱŽ—›Žȱ˜ž›ŠœȱȮȱšžŽȱ—ŠœŒŽ›’Š–ȱ˜›Šȱ do contexto da racionalidade intelectual na qual a música eletrônica teria nascido, trariam consigo uma certa qualidade e quantidade de gestos e passos, linhas e dobras sintéticas implicadas em certas atmosferas de contemplação mais ou menos estelares, mais ou menos doces, animais, velozes ou lentas. Cada vertente operará, assim, com um regime de luz de “cores” sonoras distintas, com um modo pelo qual se poderia existir com mais ou menos intensidade, com mais ou menos energia: é como se cada uma delas pudesse ŠŒŽœœŠ›ȱž–ȱ™•Š—˜ȱŽœ™ŽŒÇꌘȱ˜œȱŠŽŒ˜œȱŽȱ˜œȱŽŸ’›Žœȱ˜ȱŒ˜œ–˜œǰȱŠ˜œȱ—Šœȱž›Š³äŽœǰȱ’—Ž—œ’ŠŽœȱŽȱ›Ž•Š³äŽœȱ’—Ž›ŸŠ•Š›Žœȱ’—Ž›—Šœȱ ˜œȱ’–™ž•œ˜œȱ˜žȱ™˜—˜œȱŽȱŽ—Ž›’ŠȱŽȱž–Šȱ˜‹›Šȱœ˜—˜›ŠǰȱŽ—Ž—’˜œȱŠšž’ȱŠ—˜ȱ–žœ’ŒŠ•–Ž—ŽȱšžŠ—˜ȱꕘœ˜ęŒŠ–Ž—Žǯ. 04 / constelação de Sírius. O próprio nascimento da música eletrônica, bem como as discussões ontológicas que a afetam e que são afetadas por ela, traz Œ˜—œ’˜ȱ˜ȱŽœŽ—‘˜ȱŠœȱ–¤œŒŠ›Šœȱœ˜—˜›ŠœȱŽȱŠœȱŒŠ›˜›ŠęŠœȱ›Ç–’ŒŠœȱŠȱŠž›Ž£ŠDZȱ˜ȱŽœ‹˜³˜ȱŽȱž–ȱŽ—Œ˜—›˜ȱ–Š›ŒŠ˜ȱŽ—›Žȱ™ŠœœŠ˜ȱŽȱ žž›˜ǰȱ˜›’Ž—ŽȱŽȱ˜Œ’Ž—Žǯȱ˜˜œȱ˜œȱŽœ˜›³˜œȱ˜œȱ™›˜ž˜›ŽœȱŽȱ–øœ’ŒŠȱŽ•Ž›â—’ŒŠȱŽŸŽ›’Š–ȱœŽ›ȱ’›’’˜œǰȱœŽž—˜ȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ǰȱ™Š›Šȱ o resgate da potência da música ocidental para o transe, para a adoração e para o êxtase, potência essa abundante na música sacra ou nas músicas elementar, tribal ou xamânica originárias.. . 28.

(36) ȱ ˜–ȱ ˜ȱ ™›˜™àœ’˜ȱ Žȱ Š£Ž›ȱ ŠžÇŸŽ•ȱ Šȱ ž—’ŠŽȱ ˜ȱ Ž–™˜ȱ –žœ’ŒŠ•ǰȱ Šȱ Ÿ˜£ȱ ˜žȱ ˜ȱ ȃ›’–˜ȱ ˜ȱ —’ŸŽ›œ˜Ȅǰȱ ˜Œ”‘ŠžœŽ—ȱ Œ˜–™˜›’Šȱ Sternklang ou “Som das Estrelas” (1971), talvez a composição precursora do PsytranceȱŽ–ȱŽ›–˜œȱŠŽŒ’Ÿ˜œǯȱŽž—˜ȱŠž•ȱ ›’Ĝ‘œȱ (apud MOTTA, 1992), Sternklang trouxe para a música eletrônica o desenho de “uma celebração pública da harmonia, com cinco ›ž™˜œȱŠę—Š˜œȱŽ—›Žȱœ’ȱ™˜›ȱŠŒ˜›ŽœȱŽœ™ŽŒÇꌘœǰȱŒŠŠȱž–ȱœŽȱŒ˜–ž—’ŒŠ—˜ȱŒ˜–ȱ˜œȱŽ–Š’œȱ™˜›ȱ’—Ž›–·’˜ȱŽȱœ’—˜œȱ–žœ’ŒŠ’œǰȱŽȱ™˜›ȱ pessoas que circulam entre eles carregando tochas incandescentes, pessoas estas que, esporadicamente, entoam nomes de constelações estelares”. ȱ ˜–ȱ˜œȱ™˜›Š’œȱŠ‹Ž›˜œȱ™Ž•Šȱøœ’ŒŠȱ•Ž›â—’ŒŠȱ’ŸŠǰȱŽœ™ŽŒ’Š•–Ž—ŽȱŠȱŽȱ˜Œ”‘ŠžœŽ—ǰȱ˜ȱPsychedelic Trance ou Psytrance poderia devolver à música eletrônica, dita dionisíaca e cósmica, labiríntica e estética, o templo aberto da Natureza por onde as variações de duração e de intensidade das dobras sonoras passariam a engendrar afectos compositivos, vivos e cristalizados nos devires que o ˜–Š›’Š–ǰȱ’›ÇŠ–˜œǰȱŒ˜–˜ȱž–Šȱȃ–øœ’ŒŠȱŠȱŠę›–Š³¨˜Ȅǯ. . 29.

(37) Solaris Um dos maiores festivais de Psytrance do Brasil. . 20 3 9.

(38) C c. P s y t r a n c e. a. p c o m o. í m ú s i c a. t. u d a. l. o. a f i r m a ç ã o. 2. . 21 3 9.

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