Ribeirão Preto, 2 de outubro de 2003 Aula Sacramentos 2 - Batismo
Na última aula falamos dos princípios gerais da teologia sacramental: que boa parte da graça de Deus entra no mundo através de todo o processo do mistério pascal: paixão morte e ressurreição de Cristo.
Essas graças são distribuídas aos homens de várias formas. Dentro dessas formas, a mais direta é a forma sacramental. É a chamada economia sacramental.
Resta agora que falemos de cada um dos sacramentos, procurando mostrar quais graças e de que modo elas são dispensadas através de cada um dos 7 sacramentos. 1. Estrutura geral dos sacramentos segundo o CC.
- Essa divisão não é a única possível mas é a adotada pelo CC de 1993; procura fazer uma analogia entre alguns aspectos da vida espiritual e da vida corporal, com se fosse um organismo: iniciação, cura e serviço.
- Sacramentos de iniciação: batismo, crisma e eucaristia - Sacramentos de cura: confissão, penitência ou reconciliação
- Sacramentos que se dirigem para o serviço e a comunhão do povo de Deus: matrimônio e ordem
2. Sacramentos de iniciação
- Consistem realmente num processo de nascimento para a graça, de nascimento, educação e nutrição da vida espiritual. Processo de nascimento espiritual: Jo 3,3 “1 Ora, havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus.
2 Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.
3 Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
4 Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
5 Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.”
- Esse processo de nascimento se dá de maneira diferente tratando-se de uma criança e de uma pessoa adulta: por que para nascer de novo, é necessário morrer. - Quem tem que morrer é aquele cidadão conhecido como homem velho, que dizia São Paulo: uma substituição, por um lado, de valores, do que é realmente importante na vida: - - saldo, sexo, saúde, status, segurança, vida mansa. Mediante um
processo de conversão esses valores vão tomando o lugar que lhes é devido o “posto de honra” que eles ocupavam vai sendo substituído por valores cristãos:
- serviço, caridade, fé, esperança em Deus e não no homem, perdão, justiça, sobriedade, modéstia, compreensão, fortaleza consigo mesmo, capacidade de se sacrificar pelo bem dos outros, sabedoria / conhecimento / cultura, respeito, amizade desinteressada etc.
- Não são valores exclusivamente cristãos: outras religiões pregam valores semelhantes, e mesmo os filósofos gregos já propunham esses valores; mas são valores que na pessoa de Cristo adquirem seu significado mais pleno e seu maior alcance. Teólogos, como S. Justino, falavam que esses mesmos valores contidos em tradições não-cristão são de fato sementes do Verbo Encarnado (semitas Verbum), que quando se deparam com a pregação Cristã florescem totalmente.
- De qualquer maneira, para um adulto que se converte, é necessária uma prévia “política de substituição de valores (c/ de importações)”; aí então a pessoa estará apta para nascer para a vida cristã realmente: mais propriamente, para receber as virtudes teologais (fé, esperança e caridade), verdadeiros paches na alma humana, que transformam a sua natureza mais íntima e permite que a alma humana possa alcançar a compreensão e a vivência no Ser de Deus: completam a inteligência, a finitude e a limitação da capacidade de amar.
- Esse processo de morteé o que se chama catecumenato.
- No caso de uma criança, não existe propriamente um homem velho com seus valores para morrer, por que o processo de formação dos valores está mal
começando. O que, sim, necessita de uma conversão é o núcleo mais íntimo da sua natureza humana ferida pelo pecado original, mas apenas isso.
- Deste modo, não é necessário o processo de conversão mediante o catecumenato, basta que a comunidade (os pais, padrinhos etc.) seja capaz de assegurar a efetiva formação, já desde o início, de um conjunto de valores cristãos: o que facilita
tremendamente as coisas. E além disso, e o que é mais importante, a graça de Deus na alma da criança já vai atuando, facilitando a aquisição dos valores cristãos e das virtudes correspondentes
- É interessante notar que existe um verdadeiro processo de geração, crescimento e educação levado a cabo pela Igreja, de maneira tal que a chamamos a nossa “santa madre Igreja”. S. Cipriano de Cartago, A unidade da Igreja Católica, 5: “Nascemos do seu seio, alimentamo-nos com seu leite e somos vivificados pelo seu Espírito”
3. Batismo
Christefidelis Laici: 10. Não é um exagero dizer-se que toda a existência do fiel leigo tem por finalidade levá-lo a descobrir a radical novidade cristã que promana do Baptismo, sacramento da fé, a fim de poder viver as suas exigências segundo a vocação que recebeu de Deus.
“Ide, pois, ensinai todas as nações batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (MT, 28,19)”; corresponde diretamente a um mandato de Cristo, absolutamente claro. E nos Atos dos Apóstolos existem inúmeras passagens narrando o batismo de um monte de gente.
O batismo é recebido, não se pode auto-administrar. Normalmente, confere quem recebeu o sacramento da ordem, em algum grau. Em caso de necessidade, qq. Pessoa, mesmo não batizada, desde que tenha a intenção de fazer o que a Igreja faz. VT, muitas imagens que revelam diversos significados do batismo: espírito que
pairava sobre as águas, dilúvio como batismo cósmico, travessia do mar Vermelho, Naamã 7 vezes no Jordão, batismo de JB como manifestação de uma vontade de conversão.
JC que se deixa batizar pelo JB, santificando a água e ele próprio recebendo o ES para realizar a sua missão e, em certo sentido, o seu batismo era uma prefiguração do mistério pascal, em que Cristo morre e ressuscita;
e o mesmo se aplica a todos os batizados
Lança no lado de Cristo do qual saiu sangue e água: batismo e a eucaristia. 4. Efeitos do batismo
Tamanha é a renovação interior que provoca o batismo que apaga o pecado original e todos os pecados pessoais cometidos até então.
Passamos a participar da intimidade da Smma. Trindade, através da graça santificante.
Nesse novo nascimento, passamos a ser filhos de Deus, de fato, e portanto herdeiros por direito dos bens eternos: salvação, o paraíso.
Se nascemos de novo, somos uma nova criatura, filhos de Deus chamados a se identificarem plenamente com o Filho de Deus, sendo santos.
filiação divina
CFL 11: Com o santo Baptismo tornamo-nosfiIhos de Deus no Seu Unigenito Filho, Jesus Cristo.Ao sair das águas da sagrada fonte, todo o cristão ouve de novo aquela voz que um dia se fez ouvir nas margens do rio Jordão: « Tu és o Meu Filho muito amado, em Ti pus todo o Meu amor » (Lc3, 22), e compreende ter sido associado ao Filho predilecto, tornando-se filho de adopção (cf. Gal4, 4-7) e irmão de Cristo. Isso não é brincadeira: através do Batismo, nos tornamos filhos de Deus, para valer, na batata, com todas as prerrogativas que um filho tem diante do seu pai.
Isso tem conseqüências diretíssimas na vida cotidiana do cristão: olha, talvez não valha esquentar de mais a cabeça com as coisas desse mundo, por que afinal de contas Deus é meu pai e não vai me deixar na pior.
Todo o Mistério Pascal, como sabemos, converge para um fato central: Ressurreição de Cristo. No fundo essa é a meta: sim, ser incorporado na filiação divina de Cristo, morrer com ele para o homem velho, mas para ressuscitar com Cristo. “Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação e vã a nossa fé, e somos os mais desgraçados dos homens”
« Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que na Sua grande misericórdia nos regenerou pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos para uma esperança viva, para uma herança incorruptível, que não pode contaminar-se, e imarcescível » (1 Ped1, 3-4).
Se somos irmãos de Cristo, teremos a mesma herança que Ele, isto é, a ressurreição. Portanto, o cristão é um homem que tem como um fato central da sua vida a virtude da esperança: olha, pode acontecer o que for. Mas a minha herança, o que meu Pai Deus reservou para mim é a ressurreição. O resto é papo furado. Pelo contrário, o pagão, a única coisa que pode esperar é a morte.... Esperança de quê?
chamados à santidade
CFL 35: A vida segundo o Espírito, cujo fruto é a santificação(Rom 6, 22; cf.Gal5, 22), suscita e exige de todos e de cada um dos baptizadoso seguimento e imitação de Jesus Cristo,no acolhimento das Suas Bem-aventuranças, na escuta e meditação da Palavra de Deus, na consciente e activa participação na vida litúrgica e
sacramental da Igreja, na oração individual, familiar e comunitária, na fome e sede de justiça, na prática do mandamento do amor em todas as circunstancias da vida e no serviço aos irmãos, sobretudo os pequeninos, os pobres e os doentes.
O Batismo é assim um processo de adoção que Deus faz de nós, tornando-nos filhos seus junto com Cristo, em união com o Filho, implica necessariamente numa
metanóia, numa transformação radical do nosso ser. Um cristão deve aspirar nada mais nada menos que a santidade. Menos que isso, é uma aberração, uma distorção, um rebaixamento da vida do cristão:
Como? Então normalidade é sinônimo de santidade? E ... as pessoas que nos
rodeiam, tão boas, tão amenas, tão cordiais? Em verdade, não são normais. Quando muito, serão subnormais. Normal é o santo.
Vianna Moog, Bandeirantes e pioneiros, 19a. ed., pg. 319
5. Rito
Possui uma rica simbologia, de que não vamos entrar no mérito. Essencialmente, consiste na tripla imersão ou ablução da água em quanto se diz: eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Padrinho: responsável subsidiário na educação cristã do neófito. Costume nacional de adiar o batismo por isso, como se fosse uma mera deferência social.
O batismo é necessário para a salvação: ‘Em verdade em verdade vos digo: quem não renascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus’
Batismo de desejo e de sangue.
Crianças que morrem sem serem batizadas.
Necessidade da renovação: diária, na experiência vivida, dizendo sim para Deus; anualmente, vigília pascal, e na confissão (mandamento da Igreja)
