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Muito Além do Peso! Dia Nacional de Luta Contra a Obesidade 19 de Maio 2018

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Muito Além do Peso!

Dia Nacional de Luta Contra a Obesidade 19 de Maio 2018

Obesidade:

Entre todas as alterações do nosso corpo, a obesidade é a mais complexa e a mais difícil de compreender (Fisberg, 1995). Existe, portanto, a necessidade de uma abordagem multidisciplinar do problema.

A obesidade é considerada uma síndrome multifatorial na qual a genética, o metabolismo e o ambiente interagem, assumindo diferentes quadros clínicos, nas diversas realidades sócio económicas (Caetano, Carvalho & Galindo, 2005). Atualmente é uma condição de elevada prevalência, que suscita a atenção do profissional de saúde, do investigador, assim como de todos os que trabalham na área social e sanitária (Caetano, Carvalho & Galindo, 2005).

A obesidade é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) um problema de saúde pública que tende a aumentar nos países industrializados, sendo que a obesidade mórbida é uma versão patológica desta. Classifica-se por um Índice de Massa Corporal igual ou superior a 40 Kg/m2 (IMC=peso/altura 2 ≥ 40 Kg/m2) e é considerada uma doença crónica com consequências nefastas para a saúde e qualidade de vida dos indivíduos (Travado, Pires, Martins, Ventura & Cunha, 2004).

A obesidade é, assim, uma doença crónica que requer esforços continuados para ser controlada, constituindo uma ameaça para a saúde e um importante fator de risco para o desenvolvimento e agravamento de outras doenças (Direção-Geral de Saúde, 2005).

Nutrição e Psicologia:

A psicologia e a nutrição são áreas do conhecimento separadas pela tradição da estrutura académica, mas que inevitavelmente se unem no contexto da saúde pública, particularmente quando se aborda o tratamento da obesidade (Sjöström, Yngve, Poortvliet, Warm & Ekelund, 1999). No domínio da psicologia, a atenção prestada à alimentação e nutrição desenvolveu-se, tradicionalmente, em torno de temas como:

• As consequências da malnutrição e dos défices específicos no desenvolvimento intelectual da criança e implicações em idades posteriores (Lozoff, 1988; 1989);

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• Perturbações do comportamento alimentar (Drotar, 1985; Bruch, 1982); • Fatores psicossociais e interativos associados (Viana et al., 1998).

Importa não esquecer que, sendo o comportamento o objeto de análise da psicologia, esta está diretamente associada ao comportamento dos sujeitos em diversos contextos normais de vida, nomeadamente aqueles que dizem respeito à saúde e à doença (Viana & Almeida, 1998). O comportamento alimentar é um dos aspetos do estilo de vida que, de forma inegável, maior influência apresenta na saúde e na doença (Viana & Almeida, 1998).

Sendo a obesidade uma doença tão complexa, interligando diferentes dimensões, faz sentido uma intervenção multidisciplinar. Contudo, nem todas as equipas têm este cariz sendo mais difícil intervir com sucesso.

Assim, os aspetos psicológicos devem, também, ser considerados, visto que os casos de obesidade causados por patologias endócrinas ou genéticas bem definidas constituem um percentual muito pequeno (Escrivão & Lopes, 1995). Como mostra a literatura, a obesidade pode estar relacionada a fatores psicológicos como o controlo, a perceção de si, a ansiedade e o desenvolvimento emocional de crianças e de adolescentes (Cataneo, Carvalho & Galindo, 2005).

De um modo geral, o obeso mórbido tem um longo historial de tentativas de redução de peso, algumas das quais sob a orientação de técnicos de saúde, consistindo, na sua maior parte, numa dieta e/ou no uso de fármacos (Travado, Pires, Martins, Ventura & Cunha, 2004). Apesar destes regimes terapêuticos proporcionarem uma redução de peso numa fase inicial, habitualmente não são satisfatórios. Este tipo de insucesso no tratamento da obsidade deve-se ao deve-seu carácter unimodal, em que deve-se privilegia uma intervenção biológica, bioquímica e prescritiva, característica do modelo biomédico, em detrimento dos aspetos psicossociais do indivíduo (Reis, 1998). As variáveis psicológicas, nomeadamente as de personalidade, parecem ter um importante papel nesta patologia (Grana, Coolidge, & Merwin, 1989), pelo que, uma abordagem terapêutica que contemple as dimensões biopsicossociais do indivíduo, através de uma equipa multidisciplinar, deve ser privilegiada de modo a assegurar o êxito do tratamento e a sua manutenção, contribuindo para a melhoria de saúde, qualidade de vida, bem-estar e satisfação dos indivíduos que dela sofrem (Travado, Pires, Martins, Ventura & Cunha, 2004).

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Vários autores referem a importância da avaliação psicológica e da adequação cognitiva e comportamental do paciente ao tratamento como fatores de prognóstico deste (DiGregorio & Moorehead, 1994; Glinski, Wetzler & Goodman, 2001; Sannen, Himpens & Leman, 2001). De facto, a existência de alterações psicopatológicas e/ou de personalidade com significado clínico têm sido descritas como podendo comprometer o tratamento, nomeadamente através da não adesão (Travado, Pires, Martins, Ventura & Cunha, 2004).

Reitera-se que, associado à obesidade, alguns indivíduos apresentam sinais de sofrimento e requerem orientação psicoterapêutica. Do ponto de vista psicológico, há que se enfatizar que ao se lidar com o problema da obesidade é preciso atenção especial à criação de condições para promover mudanças nos hábitos alimentares e esta não é uma tarefa simples (Cataneo, Carvalho & Galindo, 2005). É necessário entender que fatores individuais, além dos ambientais, promovem esta mudança (Cataneo, Carvalho & Galindo, 2005).

Do ponto de vista da assistência e tratamento, é preciso cautela no encaminhamento para a consulta psicológica, pois a necessidade não é generalizada. Ser gordo não significa ter problemas psicológicos. É preciso desmistificar esta crença, especialmente junto de pais que procuram justificar o excesso de peso dos filhos com problemas de ordem emocional (Cataneo, Carvalho & Galindo, 2005).

Existem, de facto, diversas influências de cariz psicológico que operam de formas importantes no desenvolvimento e manutenção da obesidade. A evidência científica indica que a obesidade aparece, às vezes, em conjunto com perturbações psicológicas e que mais tarde estas assumem a forma de perturbações neuróticas ou psicossomáticas (McReynolds, 1982). A obesidade aparece frequentemente na ausência de perturbações psicológicas e, na vasta população de pessoas obesas, trabalhadoras ou estudantes, livres de qualquer problema grave de saúde física, a perturbação mental é infrequente (McReynolds, 1982). A obesidade não protege contra perturbações psicológicas e a normalidade psicológica não protege contra a obesidade (McReynolds, 1982).

Entende-se, portanto, que as intervenções neste âmbito, como as desenvolvidas no Programa Nacional de Combate à Obesidade, devem ser multidisciplinares e fazerem-se sentir a nível individual, na mudança de comportamentos; nos grupos de influência, nas instituições e

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na comunidade, num contexto de suporte, não estigmatizante, que tenha em consideração as influências sociais, culturais, económicas e ambientais (Direção-Geral de Saúde, 2005).

O nosso comportamento:

Entre comportamentos promotores da saúde encontram-se, com especial impacto, os hábitos alimentares. Uma alimentação racional, que tenha em conta as necessidades do organismo e tome em consideração as propriedades preventivas de alguns alimentos, é hoje, um aspeto determinante de um estilo de vida saudável para as pessoas de diferentes grupos etários (Viana, 2002).

Escolher uma alimentação saudável não depende apenas do acesso a uma informação nutricional adequada. A seleção de alimentos tem a ver com as preferências desenvolvidas, relacionadas com o prazer associado ao sabor dos alimentos, as atitudes aprendidas desde muito cedo na família, e a outros fatores psicológicos e sociais (Viana, 2002). É necessário, portanto, compreender o processo de ingestão do ponto de vista psicológico e sociocultural e conhecer as atitudes, crenças e outros fatores psicossociais que influenciam este processo de decisão com o objetivo de se tornarem mais eficazes as medidas de educação para a saúde e de se melhorarem os hábitos e os comportamentos (Viana, 2002).

A OMS diz que a prevalência de obesidade em crianças reflete mudanças comportamentais que privilegiam dietas não saudáveis e inatividade física. A urbanização, o aumento da renda, a disponibilidade de fast food, o aumento das demandas educacionais e do tempo diante da televisão e de videogames, levaram a uma subida do consumo de alimentos ricos em gorduras, açúcar e sal e menores níveis de atividade física (ONUBR, 2017).

Dicas práticas:

A etiologia da obesidade é multifatorial, envolvendo interações complexas entre o passado genético, hormonas e diferentes fatores ambientais e sociais – a prevenção e redução do excesso de peso e obesidade dependem, em última instância, das mudanças individuais do estilo de vida (Chan & Woo, 2010).

Não existe um tratamento milagre – para manter o peso dentro de valores saudáveis a melhor opção é uma alimentação equilibrada e atividade física regular.

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O que pode fazer:

• Mudar os hábitos alimentares;

• Aumentar a atividade física, manter-se ativo;

• Manter a disciplina (não desistir do processo iniciado); • Compreender a ligação entre stress e vontade de comer; • Remover tentações e pensar antes de comer;

• Estabelecer objetivos semanais, possíveis de atingir; • Controlar o peso;

• Beber água;

• Realizar um check up médico pelo menos uma vez por ano; • Manter a comida não saudável fora da alimentação ao máximo; • Comer apenas quando sentir fome.

Enquanto comunidade (ADEXO, 2017):

• Monitorizar e respondaer ao impacto do bullying baseado no peso;

• Dar voz a crianças e jovens com obesidade e trabalhar com as famílias para criar uma saúde escolar centrada na família, com abordagens que fortaleçam a resiliência das crianças e considerem resultados positivos, incluindo, entre outros, o peso;

• Adotar as pessoas como primeiro elemento das frases nos sistemas de saúde e serviços de saúde pública, como um "paciente ou pessoa com obesidade" em vez de "paciente obeso";

• Envolver pessoas com obesidade no desenvolvimento de programas e serviços de saúde pública e de cuidados de saúde primários;

• Reconhecer que muitos utentes com obesidade tentaram perder peso repetidamente;

• Reconhecer a dificuldade de alcançar perda de peso sustentável e significativa; • Promover a resiliência da saúde mental e a positividade corporal entre

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Referências Bibliográficas:

ADEXO (2017). OMS - Consequências na saúde do estigma da obesidade. Consultado em: http://www.adexo.pt/noticias

Bruch, H. (1982). Anorexia nervosa: Therapy and theory. American Journal of Psychiatry, 139, 1531-1538.

Cataneo, C., Carvalho, A. M. & Galindo, E. M. (2005). Obesidade e Aspetos Psicológicos: Maturidade Emocional, Auto-Conceito, Locus de Controle e Ansiedade. Psicologia: Reflexão e Critica, 18 (1), 39-46.

Cavalcanti, A. P., Dias, M. R. & Costa, M. J. (2005). Psicologia e nutrição: predizendo a intenção comportamental de aderir a dietas de redução de peso entre obesos de baixa renda. Estudos de Psicologia, 10 (1), 121-129. Chan, R. S. & Woo, J. (2010). Prevention of Overweight and Obesity: How Effective is the Current Public Health

Approach. International Journal of Environmental Research and Public Health, 7, 765-783.

Crawford, D., Jeffery, R. W., & French, S. A. (2000). Can anyone successfully control their weight? Findings of a three year community based study of men and women. International Journal of Obesity, 24 (9), 1107-1110. Direção-Geral de Saúde (2005). Programa Nacional de Combate à Obesidade. Circular Normativa.

DiGregorio, J. M., & Moorehead, M. K. (1994). The psychology of bariatric surgery patients: A clinical report. Obesity

Surgery, 4, 361-369.

Drotar, D. (Ed.) (1985). New directions in failure to thrive: Implications for research and practice. New York: Plenum Press.

Escrivão, M. A. M. S. & Lopes, F. A. (1995). Prognóstico da obesidade na infância e na adolescência. Em M. Fisberg. (Org.), Obesidade na infância e adolescência (pp.146-148). São Paulo: Fundação BYK

Fisberg, M. (1995). Obesidade na infância e adolescência. Em M. Fisberg. (Org.), Obesidade na infância e na

adolescência (pp. 9-13). São Paulo: Fundação BYK

Glinski, J., Wetzler, S. & Goodman, E. (2001). The psychology of gastric bypass surgery. Obesity Surgery, 11, 581-588. Grana, A. S., Coolidge, F. L., & Merwin, M. M. (1989). Personality profiles of the morbidly obese. Journal of Clinical

Psychology, 45 (5), 762-765.

Kahtalian, A. (1992). Obesidade: Um desafio. Em J. Mello Filho (Org.), Psicossomática hoje (pp. 273-278). Porto Alegre: Artes Médicas

McReynolds, W. T. (1982). Toward a Psychology of Obesity: Review of Research on the Role of Personality and Level of Adjustment. International Journal of Eating Disorders, 2 (1), 37-57.

ONUBR (2017). OMS lança novas diretrizes de combate à obesidade infantil no mundo. Consultado em: https://nacoesunidas.org/oms-lanca-novas-diretrizes-de-combate-a-obesidade-infantil-no-mundo/ Sannen, I., Himpens, J. & Leman, G. (2001). Causes of dissatisfaction in some patients after adjustable gastric

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Sjöström, M., Yngve, A., Poortvliet, E., Warm, D., & Ekelund, U. (1999). Diet and physical activity-interactions for health; public health nutritionin the European perspective. Public Health Nutrition, 2, 453-459.

Travado, L., Pires, R., Martins, V., Ventura, C. & Cunha, S. (2004). Abordagem psicológica da obesidade mórbida: Caracterização e apresentação do protocolo de avaliação psicológica. Análise Psicológica, 3 (22), 533-550. Viana, V. (2002). Psicologia, saúde e nutrição: contributo para o estudo do comportamento alimentar. Análise

Psicológica, 4 (20), 611-624.

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