MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Rubrica FL.
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PARECER MPC Nº 1816/2013
Processo nº 2251-0200/13-4
Relator: CONSELHEIRO IRADIR PIETROSKI
Matéria: EMBARGOS DECLARATÓRIOS
Órgão: EMPRESA PÚBLICA DE TRANSPORTE E CIRCULAÇÃO S/A – EPTC
Interessado: VANDERLEI LUIS CAPPELLARI
EMBARGOS DECLARATÓRIOS. CONHECIMENTO. IMPROVIMENTO.
Em atendimento ao despacho de fl. 7, do Eminente Conselheiro-Relator, o processo epigrafado, após a análise do Serviço de Instrução Municipal I (SIM I), vem para manifestação deste Ministério Público de Contas.
I – A Embargante sustenta seu recurso alegando omissão no
decisum de fls. 1650/1651 do Processo nº 3423-02.00/12-0, que concedeu
medida liminar acautelatória nos seguintes termos:
que a Empresa Pública de Transporte e Circulação, ao efetuar o cálculo da tarifa a ser implantada em 2013, abstenha-se de considerar a frota total, utilizando apenas a frota operante, na apuração do Percurso Médio Mensal, bem como considere os efeitos da desoneração tributária promovida pela Lei Federal nº 12.715/2012, em conformidade aos termos adotados no Relatório de Inspeção Especial (fls. 853 a 984), contemplando os diferentes aspectos relacionados à composição tarifária do transporte coletivo urbano de passageiros de Porto Alegre.
Refere que a cautelar teria decorrido das conclusões do Relatório de Inspeção Especial, consignadas às fls. 973 a 984, bem como do Parecer
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MPC nº 1254/2013, que estariam a sugerir que a EPTC passasse a
“considerar a frota operacional no cálculo do custo total por quilômetro, como determina a Lei, e não mais a Frota Total (...)”.
Em seu entendimento, a omissão suscitada decorreria do fato de não constar “se no cálculo da tarifa deverá ser observado o disposto na Lei
Municipal nº 5891/87, ou caso assim não entenda, qual o quantitativo deverá ser utilizado correspondente à frota operante”.
Transcreve o caput e os incisos I e II do art. 6º da Lei nº 5.891/1987, para evidenciar “que no cálculo do PMM seja utilizado o total de
veículos exigidos pelo órgão técnico do Município” – que no seu
entendimento corresponderia à frota total –, o que estaria a conflitar com a determinação da Casa para a utilização da frota operante.
Contesta a metodologia adotada pela Equipe de Auditoria para a identificação da frota operante, afirmando:
O relatório de inspeção especial ... indica como valor da frota operante, a ser utilizada no cálculo do Percurso Médio Mensal, a frota que consta do cálculo do fator de utilização (FU) para a relação jornada de trabalho de motorista e cobrador, versus, veículos ônibus em circulação, dando a entender que esta frota deva ser considerada como sendo a frota operante do sistema de transporte de Porto Alegre.
Entretanto, diversamente ..., a frota operante não é decorrente do FU. Os dados e valores descritos nas planilhas de FU ... correspondem a maior utilização de veículos numa determinada faixa horária.”
Consigna, por fim, que a Equipe de Auditoria teria se equivocado, à fl. 976, ao “utilizar a frota de 1.459 ônibus, pois tal dado corresponde à
base de 2010 e não de 2011 (como constou). Sendo assim, a simulação deveria considerar 1491 ônibus, resultantes do FU.”
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II – Ao analisar as razões recursais, o SIM I entendeu inexistente a omissão suscitada, opinando “pelo conhecimento do presente Recurso de
Embargos Declaratórios, por preencher os requisitos de admissibilidade e, no mérito, pelo seu improvimento, face à absoluta inexistência de omissão, obscuridade ou contradição na referida decisão”.
III – Embora concordando com o posicionamento externado pelo Serviço Instrutivo no que diz com a inexistência de omissão, este Parquet entende necessárias algumas considerações adicionais.
Nesse sentido, consigna-se, preliminarmente, que os termos exatos da cautelar concedida, no que pertine à apuração do PMM, correspondem àqueles transcritos anteriormente (que a Empresa Pública de
Transporte e Circulação ... abstenha-se de considerar a frota total, utilizando apenas a frota operante), e não aos que, entre aspas, a Embargante fez
constar de suas razões (considerar a frota operacional no cálculo do custo
total por quilômetro, como determina a Lei, e não mais a Frota Total)
fazendo crer tratar-se de transcrição literal.
No mesmo sentido, aliás, a sugestão da Equipe de Auditoria, constante do Relatório de Inspeção Especial1, bem como o Parecer MPC nº 1254/20132.
1
“propondo-se a determinação de Medida Acautelatória, na esfera de competência deste Tribunal de
Contas do Estado, para que a EPTC não encaminhe qualquer reajuste tarifário do transporte coletivo municipal de Porto Alegre, sem que adote, na metodologia de cálculo tarifário, a Frota Operante como divisor da Quilometragem Total no cálculo do Percurso Médio Mensal – PMM, ao invés da Frota Total, bem como não deixe de observar a desoneração tributária inserida pela Lei Federal nº
12.715/2012.” (Grifou-se) – fl. 984.
2
“Isto posto, este Ministério Público de Contas opina pela concessão de medida cautelar, para que a
Empresa Pública de Transporte e Circulação, ao efetuar o cálculo da tarifa a ser implantada em 2013, abstenha-se de considerar a frota total, utilizando apenas a frota operante, na apuração do Percurso Médio Mensal, bem como considere os efeitos da desoneração tributária promovida pela
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Cristalina, portanto, a determinação exarada pelo Conselheiro-Relator quanto ao parâmetro a ser utilizado para o cálculo do PMM: A
FROTA OPERANTE.
De outra banda, tem-se como incabível invocar-se, em sede de Embargos Declaratórios, como origem da pretensa omissão, a Lei
Municipal nº 5.891/1987, que sequer foi mencionada no Relatório de
Inspeção Especial correspondente e, tampouco, no Parecer Ministerial.
E há de se ressaltar que a referida lei não deixou de ser abordada por equívoco ou omissão, mas pelo fato de se encontrar expressamente revogada pelo art. 7º da Lei Municipal nº 7.958/1997 (fl.
50).
Veja-se, a propósito, que até mesmo a Assessoria Jurídica da EPTC, ao manifestar-se acerca do histórico da tarifa social única (fls. 707 a 711), elencou diversas normas, sem fazer qualquer referência à Lei nº 5.891/1987, e finalizou com a Lei nº 7.958/1997.
Ademais, como ficou amplamente evidenciado na Representação Ministerial e no Relatório de Inspeção Especial, o principal normativo que regula o cálculo tarifário é o Decreto nº 14.459, de 30 de janeiro de 2004, forte no art. 5º da mesma Lei nº 7.958/1997 e no art. 3º da Lei nº 8.023/1997, que estabeleceram, respectivamente:
Art. 5º - O Executivo Municipal regulamentará esta Lei no prazo máximo de 60 dias.
Art. 3º - O Executivo Municipal regulamentará esta Lei, através de Decreto, no prazo máximo de 60(sessenta) dias, em especial no que respeita à utilização da planilha de custos e parâmetros operacionais do sistema de transportes no cálculo tarifário.
Em que pese a inobservância dos mencionados prazos de 60 dias, fato é que as matérias constantes da revogada Lei nº 5.891/1987
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encontram-se contempladas pelo Decreto nº 14.459/2004, cujos parâmetros vêm, comprovadamente, sendo utilizados para a elaboração da planilha de cálculo tarifário anual.
Evidenciada, portanto, a revogação do dispositivo legal suscitado pela Embargante como motivador da suposta omissão, restam, também por esse motivo, insubsistentes as razões por ela declinadas.
Contudo, para que qualquer eventual dúvida possa ser afastada, tem-se que o raciocínio proposto pela EPTC não mereceria acolhida, mesmo quando a lei revogada ainda vigorava.
Isto porque, a parte por ela invocada como justificativa à utilização da frota total no cálculo do PMM, em detrimento da frota operante, encontrava-se assim grafada (art. 6º, inciso II):
A quilometragem será apurada por veículo, considerando-se o número de viagens e a extensão de cada linha e a frota será constituída do
número total de veículos exigidos pelo órgão técnico do Município.
(Grifou-se)
Diante do texto legal, necessário seria conhecer-se o número total de veículos exigidos pelo Município, informação que não consta em qualquer normativo (e nem poderia, uma vez que variável de acordo com a demanda) e que tampouco se encontra consignada em edital licitatório ou nos contratos decorrentes, visto que inexistentes.
De outra banda, verifica-se que a lei revogada sequer contemplava os conceitos de frota operante e frota reserva. Já o Decreto nº 14.459/2004, em seu art. 6º, limita a frota reserva a 10% da frota operante3.
A conclusão que se extrai das disposições mencionadas, é que o número total de veículos exigidos pelo Município, é aquele necessário à
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prestação dos serviços, nos moldes convencionados, limitando-se a frota reserva – destinada a garantir a regularidade dos serviços diante de situações atípicas – a 10% da frota operante.
E essa limitação deve-se, justamente, ao fato de que a frota reserva onera a tarifa, relativamente à depreciação dos respectivos veículos, remuneração de capital investido, etc.
Tanto que o parágrafo único do mesmo art. 6º do Decreto mencionado, estabelece que “A EPTC poderá, a qualquer momento, excluir
frota dos consórcios operacionais a fim de manter o equilíbrio econômico-financeiro do sistema”.
No que pertine à contestação da Embargante acerca da metodologia utilizada pela Equipe de Auditoria para a identificação da frota operante, incumbe registrar, preliminarmente, o entendimento de que a rediscussão dessa matéria se afigura indevida em sede de Embargos Declaratórios.
Inobstante, também no intuito de contribuir para a superação de eventuais dúvidas, entende-se oportuno transcrever excerto do Anexo II do Decreto nº 14.459/2004 (fl. 803 do Proc. 3423-02.00/12-0):
O passo seguinte é identificar a maior quantidade de veículos utilizada em uma faixa horária, o que deve ocorrer em um dia útil, e considerar
esse valor como sendo 100% (cem por cento) da frota operante.
(Grifou-se)
Veja-se, portanto, que a metodologia utilizada no Relatório de Inspeção Especial guarda estreita consonância com o normativo editado pelo Município.
Por derradeiro, quanto ao alegado equívoco da Equipe de Auditoria, relativamente ao número de veículos integrantes da frota operante no exercício de 2011, o Serviço Instrutivo consignou “a ausência de
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demonstração do dado apresentado pelo Embargante, de que a Frota Operante, em 2011, teria sido de 1.491 ônibus”.
Acrescente-se o fato de que tal dado revela-se absolutamente irrelevante ao cálculo tarifário do exercício de 2013, sendo igualmente impróprio, além de inócuo, trazer-se tal matéria à baila em sede de Embargos Declaratórios.
IV – Isto posto, este Ministério Público de Contas opina pelo
conhecimento do presente recurso e, no mérito, pelo seu improvimento.
É o Parecer.
MPC, em 25 de fevereiro de 2013.
GERALDO COSTA DA CAMINO, Procurador-Geral.