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O HUMOR EM MAFALDA E A VIOLAÇÃO DAS MÁXIMAS CONVERSACIONAIS

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Academic year: 2021

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O HUMOR EM MAFALDA E A VIOLAÇÃO DAS MÁXIMAS CONVERSACIONAIS Mônica Lopes Smiderle de OLIVEIRA (Universidade Federal do Espírito Santo)

Abstract: This article has for objective analyze the humor production strategies in the strips´comics of Mafalda. Basing itself in notions of the Pragmatics, especially with regard to the violation of the maxims conversacionais of the Cooperation Principle (Grice, 1975), it will be analyzed 2 strips´s comics, published in the book All Mafalda, of authorship of the Argentine Quino. It is observed as well, the relation between not obedience to the maxims and the side positive/negative elaboration (Goffman, 1986 and Brown & Levison, 1987) in the composition of the message. This research it proposes introduce a way differentiated from reading texts of this kind of textual gender, going besides a just semantic interpretation.

Keywords: pragmatics, humor, cartoons

1. Introdução

O presente trabalho tem por objetivo mostrar como as máximas conversacionais se tornam um importante veículo para a produção de humor nas tiras de quadrinhos. Os quadrinhos são pequenas narrativas que interligam o texto com a imagem, ampliando assim a compreensão do fato ocorrido; além do que a linguagem utilizada é de fácil compreensão (Rama, 2004).

Nesse trabalho estará circunscrito aos mecanismos discursivos produtores de efeitos considerados “humorísticos”. Centramos nossos estudos sobre o humor e no Principio da Cooperação de Grice (1975), que mostra que, por trás de uma afirmativa quase sempre há algo “encoberto” (implicatura), e que para avaliar as implicaturas, Grice analisa as afirmativas por meio de quatro máximas conversacionais: Quantidade, Qualidade, Relevância e Modo.

Selecionamos duas tiras da publicação Toda Mafalda, de autoria do argentino Quino, da editora Martins Fontes – 1991, para que pudéssemos analisá-la de acordo com as teorias citadas anteriormente.

2. O Humor

Buscamos em quatro autores a ajuda pra compreendermos as definições para o humor. Veremos, sucintamente, como Bérgson, Freud, Raskin e Possenti desenvolveram seus trabalhos a respeito do referido tema.

Em O riso (1980), Bergson defende a tese de que o riso é provocado pela rigidez mecânica, pelo automatismo. Rimos de situações que se repetem, como nos programas humorísticos que nos fazem rir por meio de expressões que são usadas em todos os programa.

A vida e a sociedade exigem do ser humano uma atenção e uma elasticidade do espírito e do corpo para se adaptar às constantes mudanças de situação, como alguém que cai por não ter visto uma pedra no caminho, ao invés de desviar, continua seguindo reto, tropeça e cai, era preciso observar o obstáculo e mudar a rota. A sociedade espera que sejamos perfeitos, que não cometamos erros, e quando se comete surge o riso.

O riso é, portanto, uma espécie de gesto social que reprime as excentricidades e procura corrigir certa rigidez do corpo, do espírito e do caráter que a sociedade gostaria de

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eliminar dos seus membros. É uma represaria e um aviso para que a pessoa fique atenta para não cometer o mesmo erro, pois se cometer será punida com o riso.

Bergson (1980) vai buscar na infância, depositária da maioria de nossos sentimentos alegres, as leis fundamentais do cômico. É observando os brinquedos infantis: o boneco de mola; o fantoche a cordões; a bola de neve, que o filósofo elabora os processos fundamentais do riso: a repetição, a inversão, a interferência de séries e a transposição.

Outra, é a direção de Freud (1969), que, em sua teoria psicanalítica, vincula o riso ao princípio do prazer. Freud, ao dedicar-se à interpretação dos sonhos, percebeu que havia estreita semelhança entre a linguagem dos sonhos e a dos chistes. Em seu estudo, O chiste e sua relação com o inconsciente, através de vários exemplos, ele comprova que os processos de condensação e deslocamento, presentes na elaboração onírica, também fazem parte da elaboração do chiste.

As possibilidades mais simples de se inventar estórias cômicas nascem do aproveitamento do erro. Rimos das pessoas que caem porque elas não se comportam segundo a norma humana. De um gesto errado nascem estórias às quais são acrescentadas personagens também erradas.

Muniz nos mostra outro estudioso desse tema que é Raskin. Para ele, o humor é uma forma de comunicação social, é a habilidade de fazer julgamento relativo ao que é ou não engraçado. Raskin apresenta os atos de fala (Searle, 1969) como ato de humor. Cada ato de humor ocorre em uma determinada cultura pertencente a uma determinada sociedade. O autor traz à tona os termos de humor não intencional e humor intencional o primeiro, espontâneo e percebido como engraçado; o segundo é artificial, estereotípico, intelectual criado para fazer rir.

Não poderíamos deixar de citar, Possenti (2002) que ressalta a importância e a utilidade do humor, especialmente das piadas, pois se pode analisar, por meio delas, os valores e problemas da nossa sociedade. Para compreender qualquer piada, é necessário ao leitor “mover-se” de certa forma no texto, já que as piadas, como dito anteriormente, operam com ambigüidades, sentidos indiretos, implícitos. Assim, pode-se notar o quanto existe de atividade na produção da leitura de textos de humor, pois o leitor não é mero receptor de informações do autor. Cabe ao leitor fazer operações epilingüísticas, além de conhecimentos sobre a língua, sobre comportamento lingüístico que se espera de um sujeito em determinada situação, sobre o contexto em que se produziu o texto.

De acordo com Possenti (1998), o que caracteriza o humor é muito provavelmente o fato de que ele permite dizer alguma coisa mais ou menos proibida, mas não necessariamente crítica, no sentido corrente, isto é, revolucionária, contrária aos costumes arraigados.

Vejamos, então, o princípio da cooperação. 3. O Princípio da Cooperação

Para o filósofo Paul Grice, a linguagem é um instrumento para o locutor comunicar ao seu destinatário suas intenções e é nessas intenções que está embutido o sentido. Baseado na distinção entre dito (significado expresso em termos literais ou como proposição em seu valor semântico) e implicado (significado derivado a partir do contexto da conversação e apreendido pelo receptor através de um raciocínio lógico e dedutivo), Grice desenvolveu a teoria das implicaturas, cuja característica é um sistema conceitual formado por quatro categorias (qualidade, quantidade, relação e modo), cada uma delas compostas por máximas conversacionais, constituindo o princípio da cooperação. O princípio da cooperação de Grice constitui-se das categorias: Qualidade, Quantidade, Relação e Modo. Pela primeira máxima,

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pressupõe-se que tudo que o interlocutor diz é verdadeiro; pela segunda, que ele só diz o necessário; pela terceira, que só diz o que é pertinente para aquela comunicação e, por fim, o faz do melhor modo possível. As máximas conversacionais são explicitadas da seguinte maneira:

I Categoria da qualidade

Supermáxima: Tente fazer sua contribuição verdadeira 1a. máxima: Não diga o que acredita ser falso;

2a. máxima: Não diga algo de que você não tem adequada evidência II Categoria da quantidade:

1a. máxima: Faça sua contribuição tão informativa quanto necessária (para os propósitos reais da troca de informações);

2a. máxima: Não faça sua contribuição mais informativa do que o necessário. III Categoria da relação:

Máxima: Seja relevante IV Categoria de modo Supermáxima: Seja claro

1a. máxima: Evite a obscuridade de expressão; 2a. máxima: Evite a ambigüidade;

3a. máxima: Seja breve (evite prolixidade desnecessária); 4a. máxima: Seja ordenado.

Essas categorias de Grice servem para explicitar o fenômeno do implícito. O ouvinte procura um sentido para o enunciado que esteja de acordo com as máximas estabelecidas anteriormente, considerando o que a informação literal pode estar dizendo de cooperativo, verdadeiro, relevante para uma determinada situação discursiva. Caso não haja um sentido literal, então é preciso encontrar um sentido que responda tais princípios. Quando ocorre quebra de máximas, o enunciado problematiza o dito e o leitor talvez não consiga perceber o que está implícito naquele texto.

A partir de quaisquer palavras, compreendemos o que foi dito, entretanto, falta compreendermos o que o falante quis dizer com aquelas palavras. Ou seja, qual a intenção por detrás das legendas. Se o ouvinte, ou leitor, falha em relacionar o dito e o implícito,

automaticamente inicia uma série de cálculos mentais a fim de buscar uma interpretação para tal enunciado (Sartori, 1999, p.95) (apud, Dascal,1982).

Grice defende a existência de um sentido literal, intimamente relacionado ao significado convencional das palavras (da sentença) que está usando. "Dizer", para Grice, diz respeito aos sons emitidos e a informação veiculada, descartando a interferência que os implícitos e os pressupostos – visíveis na teoria de Ducrot. A ironia, as expressões ambíguas, a metáfora, entre outras constituem, para Grice, uma violação do Princípio de Cooperação ou, pelo menos, de uma máxima conversacional.

O significado do falante, não estando totalmente subordinado ao código, pode ser inferido por processos diferenciados da decodificação gramatical e lexical. Neste sentido, é central o conceito de implicatura: uma inferência sobre a intenção do falante, que resulta da decodificação de significados e da aplicação de princípios conversacionais. Ou seja, as implicaturas do tipo conversacional são inferências não convencionais e não marcadas

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discursivamente por conectivos como "portanto", sendo fruto da capacidade racional dos falantes (Grice, 1980).

Grice considera o contexto fundamental à análise do significado. O autor entende contexto como "conhecimento de mundo"; além disso, Grice não investigou em que consiste este conhecimento, limitando-se a apontar mecanismos dedutivos racionais, independentes da "situação de fala" específica. Estes fatores resultam na idealização da categoria "contexto". 4. Polidez

O contato com o outro constitui potencialmente uma ameaça e contém sempre uma dose de imprevisibilidade. Ao interagirem em sociedade, ao protagonizarem cenas, os indivíduos se preocupam em manter um certo controle da situação e via de regra se esforçam para anular possíveis agressões e conflitos. Submete-se às chamadas regras de polidez.

Todos tentam se comportar de forma que não agride aos outros e nem a si próprio. Usamos as regras de bom convívio para nos mantermos em contato com a sociedade e para que não possamos ser excluídos do convívio social.

Ao estudarem a polidez, Brown & Levinson (1987) distinguiram entre estratégias de polidez positiva – aquelas que mostram a proximidade entre falante e ouvinte – e estratégias de polidez negativa – aquelas que mostram a distância social entre os interagentes. Exemplificando: o uso de epítetos carinhosos é uma estratégia de polidez positiva. O uso de orações condicionais em promessas, possivelmente, é uma estratégia de polidez negativa, pois trazem imposições ao ouvinte e, muitas vezes, evidenciam quem tem mais poder na escala social.

Por isso, quando alguém no decorrer do seu discurso apresenta uma fala inesperada, às vezes, até mesmo infringindo as regras de boa conduta estabelecidas, ocorre o desvio na linguagem. Tanto um quanto o outro deixa a face de um dos interlocutores ou de ambos ameaçada. Portanto, no discurso, o homem recorre a diferentes recursos/estratégias a fim de não comprometer a si mesmo e/ou aquele a quem se dirige.

Podemos indicar alguns atos que ameaçam a face, tanto do ouvinte, quanto do falante. Esses atos ameaçadores da face podem ser:

1) atos que ameaçam a face negativa do ouvinte (ex.: pedidos, avisos, ameaças, advertências); 2) atos que ameaçam a face positiva do ouvinte (ex.: queixas, críticas, desaprovação, levantamento de assuntos “tabu”);

3) atos que ameaçam a face negativa do falante (ex.: aceitar um oferecimento, aceitar um agradecimento, prometer relutantemente) e

4) atos que ameaçam a face positiva do falante (ex.: pedidos de desculpa, aceitar elogios, confessar-se).

Lakoff (1973, apud Lins, ?) explica que as diferença óbvia entre um comportamento polido e um rude é que o polido traz às pessoas uma sensação confortável de harmonia, enquanto que o rude distancia o falante do seu ouvinte. Com isso, o autor estabeleceu três regras formais de polidez, às quais os falantes devem seguir quando desejam ser polido.

Regra 1: ‘não se imponha’. Essa regra é considerada apropriada em situações em que há uma diferença reconhecida de poder e de status entre os participantes.

Regra 2: ‘ofereça opções’. É apropriada para situações em que os participantes desfrutem do mesmo status social ou poder equivalentes, porém não são íntimos socialmente.

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Regra 3: ‘encoraje sentimentos de camaradagem’. Essa regra é apropriada para amigos muito próximos, porque de modo geral, o falante evita uma comunicação direta para não ‘quebrar o laço de amizade que há entre ele e o ouvinte’. 5. Mafalda e a quebra das máximas conversacionais: Análise das tiras

As máximas conversacionais, que compõem o principio da cooperação, como vimos anteriormente são quatro: Quantidade, Qualidade, Relação e Modo. A análise que se segue visa a enfocar quando há a quebra de uma dessas máximas.

Observemos as tiras a seguir: Tira1:

As ações praticadas via enunciados são de modo geral chamadas de atos de fala, e, mais especificamente, de pedido, cumprimento, desculpa, convite, promessa, resposta, e outros. Esses diferentes tipos de atos de fala estão relacionados à intenção comunicativa do falante, quando produz seu enunciado. O falante espera que sua intenção comunicativa seja reconhecida por seu ouvinte. Portanto, Quino espera que o leitor possa entender a mensagem proposta pela tira.

Podemos entender a fala da Mafalda somente por meio de um contexto, até mesmo no sentido dado por Aristóteles de “lugar comum”, que permite saber a que questão a afirmação está respondendo. É preciso recorrer à memória social, ou seja, se lembrar que essa tira foi feita na época da ditadura argentina e remete a um fato que ocorreu, em que algumas pessoas foram mortas injustamente, só porque não atendiam a mesma ideologia que os ditadores pregavam.

Na frase “Que mal fizeram as galinhas? NENHUM”. Notamos que o termo

galinhas se refere metaforicamente a pessoas, gente inocente que estava sendo

assassinada, como exemplo para que outras pessoas não fizessem o mesmo. O pronome

NENHUM afirma que essas pessoas não fizeram nada de errado, e que estariam pagando

com suas vidas.

Em “De que as galinhas são culpadas? DE NADA”. Podemos observar mais uma vez a injustiça cometida com pessoas totalmente inocentes. Elas não eram culpadas de nada, não fizeram nada que pudesse infringir a lei. E mesmo que tivessem feito algo, deviriam ter um julgamento e não serem sentenciadas à morte sem um julgamento prévio.

Assim, como no primeiro e no segundo quadro aparecem em caixa alta as palavras NENHUM e DE NADA, para dar mais ênfase a crítica, para salientar que as pessoas assassinadas cruelmente não tiveram culpa alguma.

E por fim, podemos notar que a palavra Mãe está metaforicamente lembrando alguém que tem o poder, alguém que impõe, que oprime e castiga, nesse caso, o

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Governo. Quino usou o sentido figurado para criticar a ditadura e para driblar a censura. Ele apela naturalmente para a memória do leitor para que este compreenda “Caldo de

inocentes” e remeta a expressão sangue dos inocentes. O leitor é convidado a

interpretar, não o que está dito, mas o que está implicado por atrás dessas afirmações:

“Que mal fizeram as galinhas? NENHUM”, “De que as galinhas são culpadas? DE NADA” e “Caldo de inocentes”.

Mafalda viola a máxima do modo (seja claro) quando metaforiza as pessoas como galinhas, pois como todos já sabem que ela detesta sopa, pode ser que ela queira deixar claro que também não gosta que sua mãe mate as galinhas para fazer a sopa. Ela poderia querer defender as aves. E quando usa a metáfora acima, ela deixa de ser clara e pretende que o leitor interprete o que ela diz, para então, construir sobre essa metáfora um significado semântico adequado à situação e ao contexto.

Além do que, há também, a violação da máxima de qualidade (fale a verdade), pois a menina diz algo que não é verdadeiro; não são galinhas que estavam sendo mortas, mas sim, o povo argentino e não era sua mãe que as estava matando e sim o governo.

Quino convida o leitor a interpretar o que está implicado por atrás dessas metáforas, ele espera que o leitor entenda o implícito e não o dito, já que não podia falar abertamente, o seu ponto de vista, pois o país estava em plena ditadura militar e se ele expressasse sua opinião, provavelmente seria a próxima “galinha” que seria morta. A tira se torna engraçada, para os que não conhecem o contexto e ao mesmo tempo crítica para aqueles que conheceram a realidade sócio-política da Argentina.

Tira 2

Para realizar uma leitura completa e competente da tira 2, o leitor não pode chegar a ela sem conhecimentos prévios da história mundial. Nas décadas de 60 e 70, quando a tira foi produzida, o mundo estava econômica e politicamente dividido em capitalismo, comandado pelos Estados Unidos e socialismo que era comandado pela extinta União Soviética. O leitor precisa saber ainda, que a sede do governo da Rússia era o Kremlin e o Pentágono é a sede do departamento de Defesa dos Estados Unidos. O edifício tem forma de pentágono. Após esses conhecimentos podemos analisar a tira.

Como vemos, no primeiro quadro a professora começa a desenhar uma figura geométrica na lousa e diz aos alunos que hoje eles vão estudar o pentágono, se referindo a figura desenhada no quadro. Mafalda imagina que eles vão estudar não só a forma geométrica do pentágono, mas tudo sobre o Pentágono, sede do departamento de Defesa dos Estados Unidos, e faz uma sugestão à professora dizendo que se eles vão estudar, hoje, o pentágono, amanhã eles poderiam estudar o kremlim, já que os alunos vão aprender tudo sobre o capitalismo por que não estudar, também, sobre o socialismo?

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Ao dar essa sugestão, Mafalda põe em risco sua própria face porque a professora poderia se ofender com a sugestão e achar que a menina não a respeitou como professora, como alguém que é superior naquele momento. Essa intromissão inoportuna é fonte de embaraço, tanto que a menina fica constrangida, podemos ver isso por sua expressão facial, e ela tenta salvar sua face se justificando “quer dizer pra equilibrar”. Para que eles pudessem estudar tanto o capitalismo quanto o socialismo.

Mafalda quebra a máxima do modo (seja claro), pois só quem compreende a tira, é aquele que tem um conhecimento de mundo, que sabe que o mundo estava dividido política e economicamente em socialismo e capitalismo.

5. Considerações Finais

Neste trabalho, tivemos o propósito de analisar como as tiras em quadrinhos utilizam as máximas conversacionais para produzir humor e crítica. Verificamos que Quino, autor das tiras que analisamos, faz uso constante das máximas conversacionais (qualidade, quantidade, relação e modo).

Vimos que quando há quebra de máximas conversacionais, o enunciado problematiza o dito e o leitor talvez não consiga perceber o que está implícito naquele texto. Se o ouvinte, ou leitor, neste caso, falha em relacionar o dito e o implícito, automaticamente inicia uma série de cálculos mentais a fim de buscar uma interpretação para tal enunciado. Mafalda utiliza, muitas vezes, das máximas para proferir suas falas para produzir humor ou crítica. Como qualquer outro gênero textual, as tiras de humor não surgem isentas de influências sócio-históricas e ideológicas: vemos que o humor, os conflitos da época e as frustrações da vida humana são os ingredientes fundamentais para que o quadrinhista desenvolva a tira.

E por fim, podemos dizer que as tiras escolhidas são sobretudo, textos nos quais se podem evidenciar uma postura reflexiva, polêmica e crítica da realidade retratada através do humor. Esse humor tanto serve para divertir , quanto para criticar.

Referências

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