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Teresa Cristina Melo da Silveira

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Academic year: 2021

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Teresa Cristina Melo da Silveira teca.ensinodearte@centershop.com.br

UFU - Universidade Federal de Uberlândia / FACED – Faculdade de Educação / PPGE – Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado

Comunicação - Relato de Pesquisa

Objetivando estudar a constituição dos saberes docentes na interface entre o individual e o social, optamos por desenvolver uma Pesquisa Qualitativa, pois na nossa opinião ela é a que melhor atende aos propósitos por nós traçados. Esta escolha deve-se principalmente pelo caráter participativo do pesquisador na construção do conhecimento e por tratar-se da investigação de um fenômeno que não pode ser conhecido diretamente, mas sim por intermédio de produções, opiniões, pensamentos e afetos de sujeitos e de relações intersubjetivas.

Por conseguinte, para investigarmos as influências do grupo de estudo de Ensino de Arte da Rede Municipal de Educação de Uberlândia-MG na formação dos saberes dos professores que o compõem, torna-se relevante dar voz a tais docentes, reconhecendo neles a sua própria humanidade de sujeitos e outorgando-lhes um papel relevante na investigação.

O nosso estudo têm por objetivo compreender significados e sentidos que alguns professores de Arte produzem em relação à sua participação em um grupo de estudos; consideramos que tais sujeitos são integrantes de uma determinada coletividade, capazes de tecer um diálogo com a pesquisadora e de participar da investigação não apenas como informantes, mas também como colaboradores na produção do conhecimento. Compreendemos também que os sujeitos de nossa de pesquisa, individual e coletivamente, não são indiferentes às produções de saber que lhe concernem, podendo resistir a elas, capazes de interagir como os dispositivos de análise e de intervenção que lhes serão aplicados, interferindo diretamente no seu funcionamento.

Dessa forma, na perspectiva científica por nós escolhida trabalhamos com alguns princípios epistemológicos básicos, a partir de González Rey (2002), ao considerar o conhecimento como uma produção construtiva-interpretativa, sendo tecido a partir de um caráter interativo entre pesquisador e sujeitos pesquisados e tendo a significação da singularidade como nível legítimo de sua produção.

O caráter construtivo-interpretativo deve-se ao fato de que na pesquisa qualitativa não há como predizer os acontecimentos partindo de princípios ou leis universais, mas, ao contrário, nela o pesquisador possui liberdade para dar sentido às expressões dos sujeitos

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pesquisados. Desse modo, não caberia na nossa investigação unicamente a descrição dos professores de Arte que compõem o grupo de estudos do CEMEPE1, ou um relatório, mesmo que minucioso, das atividades ali realizadas. O que nos interessa, acima de tudo, é buscar compreender como os saberes docentes se constituem nas relações estabelecidas naquele espaço-tempo de estudos e formação continuada, como as relações ali tecidas interferem nas atividades pedagógicas dos professores participantes do grupo, se estes percebem as influências do grupo na sua prática de sala de aula e se costumam pensar e refletir sobre isto. Sob esta ótica, o pesquisador tem participação ativa na produção dos significados que, a partir dos indícios e das evidências encontradas, constroem o trabalho científico.

Como fora mencionado anteriormente, para investigarmos a constituição dos saberes docentes dos professores de Arte na relação com seus pares no grupo de estudo da Rede Municipal de Ensino, partiremos do princípio de que tais saberes são plurais e diversos, podendo ser estudados a partir de diferentes pontos de partida e de chegada, atentando principalmente para as teias de relações e conexões ali estabelecidas..

Compreendemos que os sujeitos de nossa pesquisa possuem saberes da experiência adquiridos no decorrer de sua trajetória profissional e que agregados a estes estão vários outros saberes oriundos de diversas fontes e de natureza distinta. É perceptível que os conhecimentos de um professor provêm tanto de sua família como da escola e universidade que o formou, dos cursos e de momentos de formação continuada, dos grupos aos quais pertence, enfim, de sua história e cultura pessoal. Contudo, tais saberes pessoais acontecem de modo geral na confluência com vários outros advindos da coletividade, incluindo o encontro com outros professores.

Dessa forma, acreditamos que o estudo da subjetividade dos professores de Arte se apresenta como uma possibilidade para se compreender a constituição dos saberes específicos às suas funções docentes. Entretanto, estudar a subjetividade dos professores, neste sentido, não se resume somente em atentar para o modo como organizam a sua prática docente a partir de suas vivências, de sua história de vida ou de seus valores pessoais, mas é, contudo, considerá-los como sujeitos históricos, cuja vida se desenvolve em sociedade, compondo determinados sistemas de relações que interferem diretamente naquilo que são e no que fazem. Assim, compreendendo a subjetividade como uma dimensão onde o indivíduo projeta o modo como se apropria do social e como o mediatiza, o filtra e o retraduz (SOUZA & KRAMER, 1996), é no encontro com seus pares, na socialização dos seus diversos saberes, na

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constante troca de idéias, bem como na discussão coletiva das práticas adotadas em sala de aula, que o professor poderá encontrar mecanismos importantes para a reflexão da sua práxis2 educativa. Os professores de Arte e o grupo de estudo, sujeitos de nossa pesquisa, tem proporcionado esses momentos e a sua subjetividade se constitui como foco principal da nossa investigação.

O nosso estudo possui um caráter etnográfico, já que possui diversas características da pesquisa etnográfica, tais como: a observação participante, a entrevista intensiva e a análise documental; o preceito da interação constante entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa; a ênfase no processo dos acontecimentos e não no produto final; a preocupação com o significado e a visão dos sujeitos sobre si e o mundo que os cerca; o trabalho de campo, onde o pesquisador mantém um contato direto com as pessoas, as situações e os eventos, observando-os em sua manifestação natural; a descrição densa3 das situações, pessoas, ambientes, depoimentos e diálogos, com transcrições literais; e, finalmente, a formulação de hipóteses, conceitos, abstrações e teorias, advindas de um trabalho aberto e flexível, onde são revistos e reavaliados, constantemente, os fundamentos teóricos, os instrumentos, as técnicas de coleta de dados e os focos da pesquisa. Tudo isto, visando a descoberta de novos conceitos, novas relações e novas formas de entendimento da realidade. Contamos também com algum apoio quantitativo neste estudo, no intuito de levantar dados referentes aos sujeitos investigados.

Realizamos, desse modo, uma observação participante, além de fazemos parte do objeto de estudo de nossa pesquisa, pois pertencemos também ao grupo de estudo de professores de Arte investigado. Este fato oferece grandes vantagens à nossa pesquisa, pois permite o acesso a eventos privativos que poderiam ser negados para um observador estranho, e também possibilita a verificação de comportamentos, opiniões, atitudes e sentimentos dos participantes do grupo, além de superar a problemática causada pela presença do observador4. O uso desse instrumento metodológico combina simultaneamente observação e introspecção, participação direta, entrevistas com os informantes e análise documental. Sobre esta última, enfatizamos também na nossa investigação a análise das ajudas-memória do referido grupo de estudo, das atas das reuniões, das Diretrizes Curriculares para o Ensino de Arte da Rede Municipal, bem como de outros documentos significativos para a obtenção de informações,

2 Práxis enquanto processo epistemológico implica a relação dialética entre teoria e prática, assim como a

relação dos homens entre si. Isto é, as ações desenvolvidas pelos homens de hoje, por um lado, implicam necessariamente todo o processo desenvolvido pelos seres humanos no passado e, por outro lado, alicerçam e projetam as ações dos homens do futuro. (FLEURI, 1986, p.31)

3 Cf. GEERTZ, Clifford. A interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. p.13-321. 4 VIANNA, 2003.

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servindo para a contextualização do fenômeno, para explicitar suas vinculações mais profundas e para completar as informações obtidas através das outras fontes.

Por estar imerso em um contexto histórico-político-social-cultural, o nosso estudo pretende também fornecer os detalhes desse “lugar” onde se encontram não apenas os sujeitos da pesquisa, como também a própria pesquisadora. Queremos que todo o processo de investigação seja uma prática social, feita por seres humanos contextualizados e não por pessoas genéricas e a-históricas.

No modelo de pesquisa pelo qual optamos é importante evidenciar não apenas o percurso da construção do conhecimento como também as impressões, análises, sentimentos e sensações da pesquisadora acerca do mesmo. E, levando-se em conta os nossos objetivos, consideramos também imprescindível atentar para a inter-relação entre o indivíduo e seu ambiente, compreendendo-o como um ser contextualizado, uma organização viva, um sistema aberto.,

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