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D 6º Concurso Nacional de Arte Educação do MST

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Academic year: 2019

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(2)

Como

faze ..

a escola

t..ansfo .. mando a llist6ria?

-· .

(3)

Expediente:

'Arte da Capa: Gisele Barbieri

Elaboração: Setor de Educação e Coletivo de Cultura

Redação: Adenilsa Monteiro, Ana Cláudia Pessoa, Antônia Vanderlúcia Simplício, Evelaine Martines, Marcos Gehrke e Rafael Villas Bôas.

Arte e Projeto Gráfico: Nilde Almeida

Impressão :

(4)

Elogio do aprendizado

Aprenda o mais simples! Para aqueles Cuja hora chegou

Nunca

é

tarde demais! Aprenda o ABC; não basta, mas

Aprenda! Não desanime! Comece!

É

preciso saber tudo! Você tem que assumir o comando!

Aprenda, homem no asilo! Aprenda, homem na prisão! Aprenda, mulher na cozinha!

Aprenda, ancião!

Você tem que assumir o comando! Frequente a escola, você que não tem casa!

Adquira conhecimento, você que sente frio! Você que tem fome, agarre o livro:

é

uma arma.

Você tem que assumir o comando.

Não se envergonhe de perguntar, camarada! Não se deixe convencer

Veja com seus olhos! O que não sabe por conta própria

Não sabe. Verifique a conta

É

você que vai pagar. Ponha o dedo sobre cada item

Pergunte: O que é isso? Você tem que assumir o comando.

(5)

SUMÁRIO

Apresentação ... 7

11 Parte - Orientações gerais para o 6º Concurso Nacional de Arte-Educação do MST .... 9

1.1 Sobre o tema do concurso: Como fazer a escola transformando a história? ... 9

1 .2 Objetivos ... 9

1.3 Metas ... 9

1.4 Metodologia do trabalho ... 10

1 .5 Categorias e modalidades ... 11

1 .6 Critérios de avaliação e seleção dos trabalhos ... ... 12

1.7 Orientações sobre a entrega dos trabalhos ... 12

1 .8 Calendário ... ... 13

21 Parte - Encontros dos núcleos de base ... : ... 15

Primeiro Encontro: Todos e todas discutindo educação nos núcleos de base ... 15

Segundo Encontro: Como a escola está fazendo educação? ... 19

Terceiro Encontro: Planejando as mudanças na escola, transformando a realidade ... 23

3ª Parte - Orientação para nossos educadores e educadoras ... 23

3.1 Os concursos em perspectiva histórica, e eixos norteadores do 6º concurso ... 23

3.2 O papel da arte na Educação do Campo ... 26

(6)

APRESENTAÇÃO

Companheiros e companheiras, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na luta pela conquista da Reforma Agrária e transformação social de nosso país, nos traz o desafio do estudo, por isso Todas e Todos Sem Terra Estudando!

Com essa chamada o MST quer fortalecer e envolver toda base Sem Terra -as famíli-as acampad-as e -assentad-as, setores do movimento, escol-as dos acampamentos e assentamentos, educadoras e educadores -, no debate sobre o direito

à

educação, garantindo o acesso ao estudo e

à

escola. O que implica em fazermos a luta e reforçarmos o debate sobre a escola que precisamos para transformar a história. Para tanto, estamos propondo um trabalho massivo em nossos núcleos de base sobre os rumos da nossa escola.

Nesse sentido, queremos apresentar a proposta do 6º Concurso Nacional de Arte-Educação do MST, com o tema Como fazer a escola transformando a

história? O concurso será um dos resultados do trabalho de base.

Este caderno está organizado em três partes: a primeira apresenta as orientações de todo o processo metodológico, desde o trabalho ,de base até a realização do concurso propriamente dito, a segunda orienta sobre a realização dos três encontros a serem desenvolvidos nos núcleos de base e, a terceira parte, traz uma análise do processo vivido nos cinco concursos anteriores, e apresenta subsídios teóricos e metodológicos para o trabalho dos educadores e educadoras, e para quem mais se envolver na realização do concurso.

Portanto, tenhamos o empenho militante daqueles que sabem que a transformação da sociedade passa também pela escola, por isso, todos e todas Sem Terra estudando, e transformando!

612 Concurso Nacional de Arte-Educação do MST

(7)

-1

1

PARTE

ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O

6g

CONCURSO NACIONAL DE

ARTE-EDUCAÇÃO DO

MST

1.1

Sobre o tema do concurso: Como fazer a escola

transformando a história?

Ao partirmos do pressuposto de que o tema deve nos convidar para uma reflexão exigente e compromissada com a consolidação da organicidade em todas as nossas áreas, optamos nessa edição do concurso por fazer uma pergunta para nossos educandos e educandas, e famílias acampadas e assentadas: como fazer a escola transformando a história?

Com essa indagação propomos que nos coloquemos dialeticamente como sujeitos da história, responsáveis pelo destino de nossas vidas e de nossa coletividade, e vinculemos essa reflexão

à

necessidade de pensarmos a escola como um espaço de transformação rumo

à

libertação do ser humano de todas as formas de discriminação. Entendemos que essa caminhada já vem de longo tempo, que não começamos do zero, e que o acúmulo do que já foi feito e elaborado deve ser respeitado e estudado. Por isso, entendemos que estamos num processo de construção permanente, que antes do 6º concurso já existia, e que vai continuar

existindo depois dele, com mais qualidade e comprometimento popular.

Que esse tema nos instigue a fazer a escola transformando a história, com arte e educação!

1.2 Objetivos

a) Envolver os núcleos de base no processo de discussão, compreensão e comprometimento com o projeto de educação do MST.

b) Provocar e fortalecer a participação da família Sem Terra na produção da escola dos assentamentos e acampamentos, com mística e arte.

c) Envolver toda comunidade escolar no processo de reflexão sobre a escola que temos, projetando a escola que precisamos ter no movimento.

d) Trabalhar as linguagens artísticas como recurso pedagógico num processo de intervenção na realidade, por meio da realização do concurso.

1.3 Metas

a) Fazer lançamento do 6º Concurso de Arte-Educação do MST em todos os espaços do movimento: cursos, encontros, reuniões das instâncias, festividades, escolas, etc.

b) Garantir que todos os estados realizem esta discussão nos núcleos de base. c) Envolver todos os cursos formais neste processo, dedicando tempo durante as

etapas para conhecer e estudar a proposta.

(8)

d) Garantir que este estudo aconteça por dentro da organicidade do movimento, seja por meio dos núcleos de base, grupos de família, assentamentos ou acampamentos - o fundamental é acontecer.

e) Realizar os estudos durante o ano de 2006, e primeiro semestre de 2007, e participar do 6º concurso no segundo semestre de 2007.

f) Realizar atividades de formação e capacitação para o processo, coordenadas pelos setores de educação e cultura, envolvendo os demais.

g) Garantir que aconteçam, no mínimo, os três encontros dos núcleos de base.

É

importante ressaltar que os núcleos tem toda a liberdade e incentivo para que realizem mais encontros de estudo e debate, caso julguem necessário.

h) Potencializar as produções das diversas linguagens artísticas, preferencialmente de forma coletiva.

1.4 Metodologia do trabalho

O 6º Concurso Nacional de Arte-Educação do MST, cujo tema

é

Como fazer

a escola transformando a história? será trabalhado durante o período de

setembro de 2006 até outubro de 2007.

O processo será realizado, por meio do trabalho de base, envolvendo momentos distintos, com dinâmicas apropriadas para cada etapa.

Antes de descrever os momentos, queremos deixar claro que essa metodologia é a estrutura norteadora que estabelece a unidade nacional da realização do concurso, em termos de etapas e datas, mas cada estado tem autonomia para fazer a mais, ou adaptar elementos da proposta para melhor ajustá-la

à

sua realidade específica. Por exemplo: que tal fazer programas de rádio, promover assembléias, noites culturais para lançamento do concurso, distribuir folhetos, realizar oficinas de arte-educação nos locais? Enfim, a idéia é colocar os núcleos de base em movimento e contribuir na transformação da escola.

a) Momentos:

·;...

O concurso será desenvolvido em dois momentos distintos.

• 112

momento:

No primeiro momento serão realizados três encontros dos núcleos de base, no decorrer de 2006 e 2007, de acordo com a organicidade do movimento em cada local. Essa tarefa é de todos os coordenadores e coordenadoras dos núcleos de base, coletivos de educação e de cultura, educadoras e educadores, militantes e dirigentes, enfim, de todos e todas Sem Terra.

Estes deverão ser momentos de encontro da comunidade para estudar, problematizar a educação nas escolas dos assentamentos e acampamentos do Movimento Sem Terra, discutir a importância da arte no processo de formação, e tirar encaminhamentos.

Observação: fica aberta a possibilidade para que a comunidade escolar organize suas turmas, e coletivos de educadores em núcleos de base para realizar os três estudos, caso queiram se envolver nesse debate. Achamos que essa

é

uma boa providência!

611 Concurso Nacional de Arte-Educação do MST

10

(9)

• 22 momento:

Serão elaboradas as produções de arte-educação envolvendo a comunidade e a escola na produção de trabalhos artísticos para o 6º Concurso, conforme as orientações de categorias e modalidades que seguem.

A responsabilidade principal por articular as atividades desse momento é do coletivo de educadores da escola, em conjunto com os militantes dos setores de cultura e educação.

b) Orientações para quem vai coordenar os encontros dos núcleos

de base e também as atividades de produção do 6

2

"concurso":

- os setores de cultura e educação nos estados, nas brigadas, e nos núcleos de base, deverão ler e conhecer a proposta, para a partir disso planejar o processo do trabalho de base (montar o calendário de lançamento do concurso nos diversos locais e instâncias, organizar os estudos, e garantir que o máximo de pessoas participe);

- para cada encontro os militantes da educação e da cultura deverão se empenhar em construir formas artísticas para dar início à discussão: por exemplo, poesias, músicas, a construção coletiva de um painel, uma cena teatral que problematize a questão da educação no movimento, sempre fazendo o esforço de vincular essa apresentação ao tema central proposto para o encontro;

- o coletivo de educadores, juntamente com os militantes dos setores de cultura e educação, deverão preparar uma metodologia de trabalho com arte-educação para conduzir as atividades de produção artística do concurso, de acordo com os critérios de categorias e modalidades, e estando atentos para as questões levantadas nos textos da 3ª parte desse caderno de subsídios;

após a etapa de produção artística, organizar espaços de exibição da produção, tais como mostras, feiras, festivais, ou momentos culturais, na escola e nos espaços comunitários dos acampamentos e assentamentos. Essa socialização da produção deve ser encarada como mais um momento formativo do concurso, e pode ser pensada como uma forma de incluir a comunidade no processo de seleção das obras que representarão a comunidade no concurso.

1.5 Categorias e modalidades

Categorias são os agrupamentos possíveis que podemos escolher para participar do concurso de Arte-Educação. São elas:

a) Construções coletivas envolvendo os assentamentos e acampamentos:

Pode ser um núcleo de base, pode ser um conjunto de núcleos de base, o acampamento, ou o assentamento, comunidades ou toda a brigada. b) Comunidade escolar:

Podem ser formados coletivos para produção de obras, envolvendo uma turma inteira, ou dividindo a turma em grupos, ou reunindo todas as turmas, ou de acordo com os cursos existentes numa escola.

(10)

c) Produções individuais:

Além de termos todas as possibilidades listadas acima, é possível também participar por meio de produções individuais. Podem participar dessa categoria todos os Sem Terra: crianças, jovens e adultos, educandos da escola, ou não.

Observação:

a participação em uma categoria não descarta a possibilidade de participação em outra, ou seja, aquela pessoa que se envolveu numa composição coletiva, pode também apresentar uma produção individual.

Modalidades

Visando a potencialização do uso de diversas formas de expressão e linguagens artísticas, optamos por dois eixos de possibilidades: a literatura e as artes plásticas. O importante é que essas formas artísticas expressem o nexo com a vida social e toda a temática proposta pelo concurso.

Literatura: textos em prosa (contos, crônicas, causos, etc) e em verso (poemas), textos teatrais e letras musicais.

Artes plásticas: desenho, colagem, fotografia, painéis e muralismo (pode ser a fotografia da obra), esculturas com diversos materiais, etc.

1.6 Critérios de avaliação e seleção dos trabalhos

- Criatividade e originalidade, avaliadas por meio da capacidade da obra refletir criticamente o tema proposto.

- Coerência com o tema e o processo proposto.

- Relato escrito do processo de criação, como anexo de cada obrçi..

1. 7 Orientações sobre a entrega dos trabalhos

-~

Para o processo de seleção local, estadual e nacional, considerar que o conjunto das obras selecionadas contemple as diferentes faixas etárias (infância, adolescência, juventude, fase adulta), e priorozem a diversidade de linguagens previstas nas modalidades.

- Cada estado poderá selecionar até 1 O trabalhos por modalidade.

- Todos os trabalhos deverão ser acompanhados do relato do processo de produção da obra.

- Os trabalhos enviados não poderão ser de tamanho superior ao de uma folha de papel ofício. No caso de produções de tamanho superior, orientamos para que enviem uma fotografia da obra, ou enviem uma versão reduzida do trabalho, informando o tamanho da obra no relato do processo de construção.

- No caso de utilização de sementes, tratá-las previamente para evitar a danificação da obra.

- O trabalho deverá ser devidamente identificado:

611 Concurso Nacional de Arte-Educação do MST

(11)

-Se individual:

- nome completo, idade, nome do assentamento ou acampamento, município, estado. E endereço postal de referência.

Se coletivo :

- nome do núcleo, ou escola, ou acampamento, ou assentamento, ou brigada; e nome dos participantes. E endereço postal de referência.

1.8 Calendário

Lançamento: setembro de 2006.

Trabalho de base: com realização dos três encontros e demais atividades que se desdobrarem, de setembro de 2006 a junho de 2007.

Seleção local: julho/agosto de 2007.

Seleção estadual: setembro/outubro de 2007. Seleção nacional: novembro de 2007.

Para que isso seja possível, os trabalhos devem ser enviados

até o dia 30 de

outubro de 2007

para o Escritório Nacional do MST/ Brasília.

SCS Quadra 06 Bloco A Edifício Carioca 7ª andar Sala 708 CEP: 70306-000 Brasília/ DF.

6° Concurso Naciona l de Arte-Educação do MST 13

-'!'

(12)

2

1

PARTE

ENCONTRO DOS NúCLEOS DE BASE

Este material apresenta como sugestão a proposta de que sejam realizados ao menos três encontros para discussão nos núcleos de base. Lembramos que para realização desses encontros deverão ser consideradas as orientações já apresentadas na primeira parte desse caderno.

1

2

Encontro: Todos e todas discutindo educação nos núcleos

de base

a) Organização do local e mística: nesse caso, pode ser realizada de forma que recupere a memória (através de fotografias, depoimentos, encenações ... ) da luta e da organização da educação no acampamento/assentamento.

b) Saudação dos coordenadores. c) Apresentando os objetivos:

- Conhecer a história da educação e descobrir porque fomos excluídos historicamente do processo.

- Conhecer a história da educação no MST e sua luta para incluir todos e todas. d) Apresentação do causo e debate sobre as questões propostas.

e) Apresentação da imagem do funil, de Paulo Freire, e dos dados,, e debate sobre

as questões propostas. "

(13)

-Chuva no barco da vida

Lá pras bandas do norte, onde chove todo dia e as pessoas viajam muito mais de barco do que de ônibus, ou outros meios, chegou um certo dia, uma pesquisadora. Com seus malotes de livros e óculos alinhados ela perguntou ao camponês:

- Como as coisas estão atrasadas por aqui, não é?

O camponês, acostumado

à

sua lida e sabendo que já se aproximava a hora da chuva disse:

- Sei não senhora, só sei que já, já vai chover e eu preciso estar lá do outro lado do rio, quando cair o toró ...

A pesquisadora olhou meio descrente e disse: - Com esse sol? O senhor está brincando comigo?

- Não senhora, é que a gente daqui conhece os sinais da natureza e tenta não contrariar ela, mas se a senhora quiser ficar eu aconselho procurar abrigo, porque a chuva é forte e pode estragar suas coisas.

A pesquisadora respondeu já se aproximando do barco:

- Não, eu não pretendo ficar. E, muito lentamente, arrumou as coisas no barco para ir com o camponês para a outra margem do rio, onde iria iniciar uma pesquisa com as plantas da floresta.

Na viagem, resolve testar os conhecimentos do caboclo pra ver até onde ia tanto desconhecimento. E começou a perguntar:

- Senhor, o senhor sabe o índice das chuvas nessa região? - Sei não senhora.

- Senhor, o senhor sabe o nome do prefeito da cidade? - Também num sei.

- E do governador do estado? - Num sei ...

- Ah, mas tenho certeza que do presidente o senhor sabe o nome e sobrenome ...

- Sei nada, sei não senhora.

A pesquisadora olhou sem entender aquele homem e soltou o comentário: - Como pode alguém perder tanto tempo sem aprender essas coisas? O caboclo, olhando por baixo do chapéu surrado, matutou e falou sem pressa e sem rancor:

- A senhora se importava se eu perguntasse umas coisas pra senhora? Ela já se achando envaidecida por ele buscar informações dela, respondeu simpática:

- Claro que pode, e se souber lhe respondo. Então ele pegou um peixe e perguntou

à

moça: -A senhora sabe que peixe é esse?

- Não senhor, eu não conheço.

- Esse é o pirarucu. E esse? Esse aqui é um peixe nobre que a senhora deve comer, lá no seu lugar ...

- É bem bonito mesmo, mas não sei o nome.

612 Concurso Naciona l de Arte-Ed ucação do MST

(14)

-- Ah, mas tem um que qualquer pessoa conhece, porque é pequenininho, mas é muito apreciado como tira-gosto, mesmo para os pobres é uma boa mistura, senhora sabe que peixe

é

esse?

A moça já incomodada deu um sorriso amarelo e disse:

- Não tenho dessas coisas onde moro, com tanta freqüência, então não sei. Dizendo isso ela fez menção de se encostar pra descansar, e o camponês satisfeito de ter provocado seguiu levando o barco, que era seu trabalho. No meio da viagem, o temporal caiu e o barco não resistiu, começou a entrar água, e a moça se desesperando, vendo que o camponês se preparava pra pular na água

gritou:

- E minhas coisas como vai ser? O camponês disse:

- Eu sei fazer outro barco, a senhora não sabe fazer outro livro? Ela, vendo que já estava tudo perdido, assumiu:

- Eu não sei nadar! O camponês gritou: - Pule que eu lhe ajudo!

Chegando ao outro lado do rio, depois de resgatar a pesquisadora, o camponês disse:

- A senhora não me leve a mal, mas se eu perdi tempo, a senhora quase perde a vida ...

(adaptação de causo popular, por Ana Cláudía)

Questões para reftexlo:

a) Nós estamos valorizando os conhecimentos das P,êssoas de nossa

comunidade?

~

b) A sociedade valoriza

0s

conhecimentos da população camponesa?

e) A escola tem considerado nossos saberes no momento de educar nossos filhos?

d) Qual a nossa responsabilidade com a definição dos conteúdos abordados na

escola?

(15)

-Como funciona a educação na sociedade, ou,

nesse funil só passa um.

Vejamos no quadro abaixo como estão distribuídas as escolas no Brasil, entre campo e cidade.

Nível de ensino oferecido

pelas escolas Brasil Urbana Rural

Ensino Fundamental somente até 119.023 escolas 31.023 escolas 88.000 escolas a 4ª série

Fundamental somente de 5ª a 8ª 11 .319 escolas 10.067 escolas 1.252 escolas série

Fundamental Completo 42.166 escolas 30.082 escolas 12.084 escolas

Ensino Médio 21.304 escolas 20.356 escolas 948 escolas

Fonte: MEC/INEP 2002

(16)

-1

Questões para reflexão:

a) A partir da comparação do significado da imagem, com os dados da pesquisa, discuta no grupo e descubram em que lugar nos encontramos, e por quê.

b) O que nós estamos fazendo concretamente em nosso acampamento ou assentamento para enfrentar essa situação e transformar essa realidade?

c) O que podemos aprender com a história de luta pela educação que o MST vem fazendo?

Observação:

lembrem-se que vocês podem utilizar músicas, o cartaz, cadernos e cartilhas, ou outros materiais, para ilustrar como o Movimento faz a luta pelo direito a educação.

2

2

Encontro: Como a escola está fazendo educação?

a) Organização do local e mística.

b) Saudação dos coordenadores.

c) Apresentação criativa do tema (músicas, poesias, teatro de acordo com a realidade de cada local. .. ).

d) Apresentando os objetivos:

- Compreender o papel transformador da escola. - Perceber a potencialidade mobilizadora da escola. e) Apresentação

e

debate das imagens.

f) Apresentação e debate sobre o poema.

6° Concurso Nacional de Arte-Educação do MST

t 9

-·L;

.

·•

(17)

- --- - -

--Questões para reflexão:

a) Ao olhar para as duas imagens vocês percebem diferenças de projetos de escola? Em caso positivo, quais? Para ajudar a discussão, façam uma lista em duas colunas comparando os dois projetos.

b) Agora vamos olhar para escola em que nossos filhos estudam: como ela é? Ela se parece com alguma das imagens acima?

Vamos, nesse momento, ler o poema abaixo:

Texto 2:

IMAGINE

(Adaptação a partir de poema de Roseli Salete Caldart)

Imagine uma escola diferente ... Imagine uma escola com muitas crianças ... Todas elas podendo trazer para dentro da escola,

Seus sonhos, seus desejos, suas perguntas, seus problemas ... Imagine uma escola que se preocupe em educar as crianças

para um mundo novo, um mundo de justiça e de ternura ... que misture sonho e realidade; que ajude as pessoas a entender como

é

possível fazer o sonho virar realidade. Imagine uma escola onde as crianças não apenas estudem ...

Uma escola onde elas estudem, trabalhem, se divirtam, se amem ... uma escola onde se preparem e se organizem

611 Concurso Nacio nal de Arte-Educação d o MST

(18)

-para assumir a luta do seu povo ...

Imagine uma escola onde não seja o professor aquele Que tudo sabe, tudo ensina, tudo manda ...

Imagine uma escola onde os alunos sejam os comandantes ... Organizados, responsáveis, capazes de decidir o que fazer,

Para que fazer e como fazer as atividades dentro e fora da sala de aula ... Imagine um professor que é capaz de ser

companheiro de seus alunos:

Que os ajude a se tornar sujeitos; que seja firme nas orientações, duro no cumprimento das decisões,

terno no relacionamento com todos ...

Imagine uma escola onde não haja castigos, caras feias; intolerância.

Uma escola onde todos se sintam companheiros. Alunos, professores e pais ...

Companheiros a tal ponto que consigam abrir mão de pequenas alegrias individuais,

sempre que isso seja necessário para o avanço e o bem estar do coletivo ... Imagine uma escola que faça diferença, enfim,

na vida das pessoas: na vida das crianças,

dos professores; na vida da comunidade, na luta por essa vida ...

uma escola onde as pessoas da comunidade entrem e participem sem receio; tragam seus problemas e também

suas experiências de vida para ensinar as crianças ... para aprender com as crianças ...

Agora, juntos, deixemos de imaginar .. ~

Vamos

à

luta! Vamos

à

prática companheiros! Façamôs esta escola.

Questões para reflexão:

a) Comparando a escola que temos com a escola apresentada pelo poema, o

que lhes chama atenção?

b) Diante disso, queremos construir a escola que imaginamos, ou manter a que

nós temos hoje?

62 Concurso Nacional d e Arte-Educação do MST

21

(19)

3

2

Encontro: Planejando as mudanças na escola, transformando

a realidade

a) Organização do local e mística. b) Saudação dos coordenadores. c) Apresentação criativa do tema. d) Apresentando os objetivos:

- Encaminhar possibilidades de todas e todos Sem Terra estudarem. - Garantir a participação do assentamento na escola.

- Planejar a participação do núcleo de base no concurso nacional. e) Leitura e discussão do poema/música.

Construtores do futuro

Eu quero uma escola do campo Que tenha a ver com a vida, com a gente

Querida e organizada E conduzida coletivamente Eu quero uma escola do campo Que não enxergue apenas equações

Que tenha como "chave mestra" O trabalho e os mutirões Eu quero uma escola do campo Que não tenha cercas que não tenha muros

Onde iremos aprender A sermos construtores do futuro Eu quero uma escola do campo Onde o saber não seja limitado Que a gente possa ver o todo E que possa compreender os lados

Eu quero uma escola do campo Onde esteja o ciclo da nossa semeia

Que seja como a nossa casa Que não seja como a casa alheia.

611 Co ncurso Nacio na l de Arte-Educação do MST

22

(20)

Questões para reflexão:

* Para realizar essa discussão e planejamento é importante considerar a opinião dos diferentes sujeitos envolvidos na escola, por isso sugerimos que sejam montados grupos de discussão separados pelos critérios de gênero e faixa etária, e que seja realizada posteriormente a socialização e debate das reflexões. - A partir do que estudamos até aqui, que ações estamos dispostos a fazer para

transformar essa escola na que necessitamos? Ou conquistarmos a escola que queremos?

- Como garantir todos e todas estudando, seja na escola, nos cursos da cooperativa, nas turmas de EJA, nos cursos do movimento? E por que não na universidade? Que possibilidades podemos criar para garantir a escola no acampamento, assentamento, ou entre assentamentos, para atender a juventude?

6° Concurso Naciona l de Arte-Edu cação do MST 23

-'

~

(21)

3

1

PARTE

ORIENTAÇÃO PARA NOSSOS EDUCADORES E EDUCADORAS

Por sabermos que estamos desenvolvendo uma metodologia de concurso que envolve a ampliação do esquadro de participantes para toda a comunidade dos acampamentos e assentamentos do movimento, sejam educandos formais, estudantes da escola, ou não, nós nos empenhamos em socializar nos três textos que seguem abaixo as reflexões geradas em discussões coletivas no interior do movimento, e o acúmulo da troca de experiência do movimento com grupos e artistas da sociedade, que nos motivaram a tomar essa providência de abrir as possibilidades de participação e incentivar mais dimensões da criação artística.

Temos consciência do desafio que será quantificar a participação, e ao mesmo tempo qualificar a experiência de trabalho conjunto entre arte e educação. Por isso, aqueles que vão conduzir o processo precisam ter muito claro quais são as linhas políticas norteadoras dessa proposta de pedagogia socialista da arte-educação, que estamos empenhados em desenvolver.

Nesse sentido, recomendamos que as pessoas que coordenarão os trabalhos façam leituras coletivas dos textos, e se for possível, analisem as produções dos concursos anteriores, e reflitam sobre suas práticas pedagógicas, no sentido de estimular a criatividade e participação, incentivando a reflexão sobre os nexos entre vida social e formas artísticas, e evitando toda e qualquer forma de cerceamento, seja por meio de noções pré-estabelecidas de padrões de beleza estética, seja por insegurança na forma de conduzir o processo. ,

Por fim, estaremos todos juntos nessa jornada, compa·rtilhando desse conhecimento costurado por muitas mãos, por isso é importante que o processo seja registrado e avaliado, e que sejam compartilhados os impasses e os avanços da metodologia, para que possamos dar saltos de qualidade na elaboração de nossa pedagogia socialista de arte-educação.

3.1 Os concursos em perspectiva histórica, e eixos norteadores

do 6Q concurso.

Revolução cultural é cultura revolucionária. (Genivaldo Basílio)

É

com muita alegria que nosso movimento dá a largada para mais uma jornada do Concurso Nacional de Arte-Educação do MST, cujo tema desta edição

será Como fazer a escola transformando a história?

Até a quarta edição, essa atividade era chamada de "concurso nacional de redações e desenhos". A quinta edição veio com o nome "concurso nacional para estudantes do MST", e a palavra arte-educação aparecia pela primeira vez na capa,

611 Concurso Nacional de Arte-Educação do MST

(22)

-embora não no título. E na sexta edição optamos por incluir a expressão arte-educação no nome do concurso. Certamente, nos cabe explicar o por quê dessa mudança.

Há algum tempo o Setor de Educação e o Coletivo de Cultura alimentam a intenção de elaborar um método de arte-educação voltado para as necessidades do movimento e afinado com nosso objetivo de formação de seres humanos emancipados. Como já existe um trajeto percorrido pela educação e pela cultura, com várias experiências acumuladas, consideramos que está na hora de nos desafiarmos a colocar as mãos na massa e construir coletivamente esse método.

Nesse sentido, nada melhor do que a realização do 6º concurso para socializarmos essa intenção com todas as companheiras e companheiros, e começarmos a construir juntos os referenciais teóricos e as diretrizes que nortearão a prática dessa metodologia. Portanto, com o 6º concurso está lançado o desafio. Para que possamos executar essa tarefa, naturalmente não vamos começar do zero, pois o ponto de partida é o estudo sobre o que já fizemos, por exemplo, sobre os cadernos dos concursos anteriores.

É

sobre eles que queremos falar brevemente, apontando algumas questões para reflexão e algumas diretrizes do que consideramos importante mantermos em nossa prática.

Na primeira edição do concurso, em 1998, cujo tema era O Brasil que

queremos, todas as manifestações plásticas foram em forma de desenho, e as

literárias foram em forma de redação.

Já na segunda edição do concurso, em 1999, com o tema em comemoração dos 15 anos que o MST fazia na época, há um incentivo

à

experimentação de outras possibilidades nas artes plásticas e na literatura, daí aparecem poesias de diversas formas - textos com conotação mais literária, fugindo ao caráter formal da redação - e, nas artes plásticas aparecem escultura em argila, colagens, instalações em madeira, além da permanência dos desenhos.

Na terceira edição, de 2000, com o tema Brasil quantos anos você tem?há a

manutenção da criatividade da esfera literária, mas surpreendentemente, nas artes plásticas, há um recuo para a forma do desenho como único meio de expressão.

No quarto concurso, de 2002, cujo tema foi Terra e Vida, a linha regressiva

em termos de padrão criativo se mantém, acreditamos que em função do tema, que apesar de seu inegável interesse, não foi apresentado em forma de indagação, e por isso mostrou-se pouco convidativo

à

reflexão, e talvez em função do pouco estímulo para a exploração de diversas formas de expressão artística.

E na quinta edição do concurso, já notamos uma retomada das experimentações estéticas, tanto plásticas quanto literárias, no uso de colagens, instalações, experimentação de cores, e no processo de construção coletiva, que aparece em cinco manifestações estéticas.

Pois bem, ao avaliarmos esses cadernos e identificarmos pontos de interesse no processo de produção e no resultado das obras, nós esquematizamos as seguintes diretrizes, que consideramos importantes para refletirmos, para que possamos dar continuidade a elaboração do nosso método socialista de arte-educação:

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-- Incentivo ao processo coletivo de produção artística.

Sabemos da potencialidade formativa da arte no desenvolvimento da personalidade, e acreditamos que o incentivo ao trabalho coletivo na produção artística pode sensibilizar os educandos para a importância do trabalho coletivo em todas as esferas da vida. Isso não exclui o valor do trabalho individual, por isso, criamos categorias que contemplam todas essas dimensões de trabalho (vejam descrição das categorias no item 1.5).

Sabemos que a transformação da história só pode ocorrer por conseqüência do empenho coletivo de muitas pessoas, e nesse sentido, a escola só pode se tornar aquilo que queremos se nós trabalharmos juntos para concretizar nossos objetivos. Por isso, achamos importante que sejam realizados trabalhos envolvendo diversas dimensões de coletividade: toda a turma de educandos, toda comunidade que atua na escola (educadores, educandos e funcionários), a comunidade escolar somada a comunidade do assentamento, ou seja, os núcleos de base.

- Arte como intervenção na realidade.

Para nós, a arte é uma arma apontada para o futuro, pois deve estar comprometida com a transformação social e com a crítica ao mundo desagregado regido pelo capital.

Por isso, acreditamos que as produções artísticas podem ser formativas pela conscientização a partir do processo coletivo de construção e pela modificação do meio ambiente no qual elas sejam construídas e instaladas. Por exemplo, uma turma pode elaborar e pintar um painel numa das paredes ou muros da escola, e essa intervenção vai ficar permanentemente como a memória ativa daquela reflexão e trabalho coletivo. O mesmo pode acontecer com a letra de uma poesia, elaborada em conjunto, e posteriormente pintada. Peças de teatro, ou músicas, podem ser elaboradas e depois apresentadas na escola e nas comunidades ao seu redor. Podem ser construídas obras de artes plásticas, como esculturas, para embelezar os jardins da escola.

Enfim, são muitas as possibilidades, mas o fundamental é que para nós arte e política, beleza e consciência, prazer estético e aprendizado não são pólos opostos. Para nós, o aprendizado deve ser encarado como um prazer, uma brincadeira.

- Necessidade de discutirmos o padrão estético dominante de beleza. que hierarquiza cores e formas .

Para não incorporarmos e reproduzirmos os preconceitos que estruturam a sociedade em que vivemos devemos estar sempre atentos para o modo como eles se manifestam. Por isso, construímos o texto Padrões hegemônicos de

representação da realidade, que foi incluído nos anexos desse material, para orientar

principalmente os educadores, para estarem atentos a esses elementos no momento de orientarem as produções artísticas, para que a função daquele que educa seja realmente instigante, emancipatória, e não cerceadora.

Embora a arte não faça, por si só, a revolução, é certo que uma revolução não

pode ser sustentada sem uma transformação cultural radical, dos hábitos, valores

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-e costumes de uma sociedade. Por isso, acreditamos que a arte deve apontar as

contradições do presente, para que seja possível a construção de um futuro emancipador.

Esse caderno reúne as informações sobre toda metodologia que será usada na sexta edição do concurso. Com essa iniciativa esperamos trabalhar em conjunto com todas as escolas e núcleos de base do MST, com cada Sem Terrinha, mulher e homem envolvidos nessa luta libertadora. Esperamos que esse concurso colabore para o fortalecimento de nossa organicidade, e que fortaleça o papel da escola em nossa grande estratégia de transformação da sociedade. Seguimos construindo a escola e transformando a história!

3.2 O papel da arte na Educação do Campo

Pensar a arte na Educação do Campo é pensar a dimensão da criatividade no processo educativo, por isso, não cabe o fortalecimento do individualismo, nem a prática da competição que favoreça o estrelismo e o oportunismo, nem tampouco o fortalecimento da supremacia do dom, como instrumento de projeções particulares que não favorecem a coletividade, nem a formação da consciência.

A Arte é trabalho e pesquisa, mas também é a possibilidade de produzir linguagens cada vez mais próximas das pessoas, que são únicas e se reconhecem na beleza das palavras/idéias cantadas, recitadas, ilustradas, e postas em movimento, através das linguagens artísticas.

Através da arte, podemos pensar e acompanhar o desenvolvimento das

potencialidades humanas ao longo da vida, de como determinam e são determinadas socialmente, trazendo para a Educação do Campo, uma formação coerente com as necessidades humanas e o desenvolvimento histórico e tecnológico da humanidade.

E, como não poderia deixar de ser, um instrumento pedagógic<? que favorece a práxis pedagógica, e, por conseguinte dá força a um modo de educação coerente com a luta e com a organização popular. .

A arte na escola pode tomar dois sentidos complementares:

-A arte vivida desde o espaço, as vivências cotidianas da mística, da leitura teatral, da música e animação, da forma dinâmica de se apresentar trabalhos escolares, da possibilidade de expandir as vivências educativas para além da sala e da escola, mas principalmente a atitude de buscar, questionar, modificar e adequar. A arte não pode se limitar as linguagens, mas se expandir para as atitudes, onde a consciência estética seja parte do horizonte a ser buscado pela escola, e esta não acontece sem a contextualização sócio histórica dos acontecimentos e conhecimentos ...

- A Arte como exercício direcionado, com intencionalidade pedagógica própria, como no caso de concursos, mostras, jornadas culturais etc; estas atividades, porém podem e devem explorar dimensões pessoais da individualidade sem perder o vínculo com a coletividade. Por exemplo: um concurso de poesia não deve servir apenas para estimular e fortalecer as habilidades já conhecidas, mas possibilitar a circulação de idéias e o desafio de fazer sempre melhor o que está se provocando a fazer.

(25)

-.l

Então como fazer do concurso um canal para estimular a produção, leitura, interpretação e adaptação de poesias dentro das nossas escolas e das nossas áreas? Como criar espaços de intercâmbio? Como dar vida e prazer

à

busca do conhecimento, e trazer a ciência para perto de nós, uma vez que a produção de conhecimento na escola (pública principalmente) tornou-se mesquinha repetição, uma fábrica de adaptação que transporta a escola para outra dimensão, como se fosse possível uma escola sem política, uma escola sem ideologia, uma escola sem tomar partido.

A escola do campo deve formar para um outro imaginário, para a valorização do movimento do corpo e da história, que entenda a educação como caminho para o humano ser mais, e não para o comprador consumir mais, ser mais suscetível ao apelo do mercado.

A vivência da arte deve promover a sociabilidade, a comunicação, o prazer, a riqueza da imaginação, mas também o domínio técnico; sendo capaz de levar a autonomia do pensar e do agir, além de fortalecer os valores do trabalho, do estudo, da cultura, da coletividade, da beleza e da lutá

A escola do campo pode através da arte, ser também a educação do trabalho, dos sentidos e da contra hegemonia ao modelo massificado hoje instalado.

As lições dos concursos passados são, a nosso ver, principalmente as de

que a criatividade faz parte de um processo educacional para a liberdade e de que é necessário criar canais que favoreçam a criatividade , sem estimular o individualismo e a disputa.

O MST tem criado referências importantes nas práticas estéticas novas do/no campo com a mística, os painéis, os ambientes, os grupos de teatro e sua atuação política e lúdica, os músicos animadores, sobretudo quando reforça as coletividades e trata os eventos como instrumentos e não como fim .

Penso que é possível e salutar propor ações que envolvam a comunidade antes, durante e depois da ação, e que não se distanciem do currículo da escola, mas sejam partes integrantes de sua estrutura. E que os valores (artistas populares) da comunidade devem ter seu espaço na escola do campo, não como visitas folclorizadas, mas como alma da comunidade que aprende com a cultura escrita, mas também com a cultura oral, com as mobilizações, com o processo produtivo e a conjuntura mais ampla da sociedade.

E

preciso formar nossas crianças e jovens para que saibam ver o que olham,

saber ler é imprescindível para saber escrever, escutar o que ouvem e sentir o que

tocam, sabendo integrar os sentidos sempre que necessário seja. Saber ouvir é imprescindível para saber falar, saber ver é imprescindível para avaliar um fato, circunstância, espaço ... Sem perder a totalidade que permite uma avaliação. E saber utilizar-se dos conhecimentos construídos para forjar um fato ou situação desejada.

O mais importante é fazer entender que arte não é privilégio, e que pode ser feita de forma coletiva, valorizando nesse processo as habilidades individuais. O processo permite que as pessoas se sintam parte de uma coletividade maior, com a qual a arte pode e deve contribuir muito, formando uma nova cultura e fazendo da nossa identidade um sentimento ainda mais forte.

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-3.3 Padrões hegemônicos de representação da realidade.

Ao analisarmos os desenhos selecionados nos cinco concursos realizados, e grande parte dos painéis pintados por artistas plásticos do MST ou a ele vinculados, pudemos observar que há uma tendência predominante de representar as pessoas sem terra como sendo majoritariamente de cor branca, jovens, e magras. Por quê será?

Por quê em nossa representação elegemos um padrão de beleza predominante quando, na verdade, a composição social do MST é plural, do ponto de vista de diversidade étnica, de hábitos, culturas, cores? Qual o motivo de nosso padrão de representação não contemplar democraticamente todas as etnias brasileiras?

Para avançarmos nessa discussão, em primeiro lugar, temos que reconhecer que estamos diante de uma contradição que precisa ser enfrentada. Embora tenhamos conseguido avançar na conscientização da importância da reforma agrária, por meio da luta contra os latifúndios, para a construção de um regime democrático no Brasil, nós ainda não avançamos como poderíamos na concepção estética que queremos para as crianças, mulheres e homens que toparam participar desse grande projeto de transformação social que começa com a reforma agrária. Para ilustrar o que queremos dizer, nada melhor do que um exemplo concreto. No ano de 2003, um grupo de militantes com habilidade em artes plásticas se reuniu e pintou um enorme painel que seria usado num encontro dos sem terrinha. De um lado do painel estava a parte "escura", com poluição de rios, lixo no chão, fumaça das chaminés das indústrias e uma grande águia representando o imperialismo. Do outro lado estava a representação ideal da vida num assentamento, com abundante natureza, uma casa, a produção agrícola, etc. Mas o que nos chamou a atenção é que bem no meio do painel, em primeiro plano, foi pintada a imagem de uma menina loira, de olhos azuis, com cabelos presos ao estilo da Xuxa. Em segundo plano foi pintada a imagem de uma:·menina negra, e em terceiro plano a imagem de uma menina índia. ·

Até aí, qual o problema? Aparentemente nenhum. Porém, se pensarmos que naquele estado a maioria da população pobre era composta de pessoas negras, e que, portanto, a maioria das crianças sem terrinha eram negras, poderemos notar que aquele grupo estava elegendo um padrão de beleza, em primeiro plano, que não contemplava a maioria daquelas crianças.

E o que acontece quando as crianças negras, ou índias, ou orientais, não vêem sua aparência representada na televisão, nos filmes, nos livros, nas revistas, nas músicas, nos desenhos, com o mesmo valor com que é representada a pessoa de cor branca? Como a construção da personalidade da criança é um processo em movimento, e depende das relações de significações que estão ao seu redor, ela entende que a cor branca é que é boa, e por isso passa a querer ser branca, e a rejeitar sua própria cor, se achar feia, fica desestimulada.

É

comum em grupos de discussões o relato de pais que dizem que seus filhos passam mais tempo no banho tentando se esfregar para clarear a pele, ou de pessoas, inclusive adultas, que passam água oxigenada na pele, ou nos cabelos, com a esperança de que sua cor vá clarear. Isso para não falarmos do costume de

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-alisamento de cabelos crespos, feito por gente que aprendeu que o cabelo crespo é"ruim".

O fato de, muitas vezes, o racismo não ser explicitado verbalmente, não o torna menos presente e agressivo no dia-a-dia dos alunos e alunas negros(as), pois há muitas outras maneiras pelas quais ele se manifesta na cultura brasileira: privilegiam-se os brancos, reconhece-se esse biótipo como aquele que representa a beleza estética e intelectual da raça humana e ainda acha-se normal que esacha-se acha-segmento da população detenha o poder político, econômico, cultural e religioso; como se fosse algo natural e não resultado da organização histórica capitalista, discriminatória e excludente da sociedade brasileira. (SOUSA: 2005, p. 106)

Podemos notar, pela pesquisa de Francisca Sousa, que essa hegemonia do padrão branco de representação está diretamente ligada a manutenção de uma ordem de classe e etnia no país, que privilegia uma minoria, enquanto a maioria permanece sub-representada, ou, representada de forma equivocada, estereotipada, como afirma a pesquisadora Heloisa Lima:

Geralmente, quando personagens negros entram nas histórias aparecem vinculados à escravidão. As abordagens naturalizam o sofrimento e reforçam a associação com a dor. As histórias tristes são mantenedoras da marca da condição de inferiorizados pela qual a humanidade negra passou. Cristalizar a imagem do estado de escravo torna-se uma das formas mais eficazes de violência simbólica. Reproduzi-la intensamente marca, numa única referência, toda a população negra, naturalizando-se, assim, uma interiorização datada. A eficácia dessa mensagem, especialmente na formatação brasileira, parece auxiliar no prolongamento de uma dominação social real. O modelo repetido marca a população como perdedora e atrapalha uma ampliação dos papéis sociais pela proximidade com essa caracterização, que embrulha noções de atraso. (LIMA: 2005, p. 103)

Se refletirmos sobre nossas místicas e cenas teatrais, toíl"!ando por base essas informações, poderemos notar que em muitos casos a negritude

é

escravizada na condição escrava, como se isso fosse um dado histórico natural, como se eles não tivessem resistido, lutado por liberdade, se organizado em quilombos. Em muitas místicas a conquista da liberdade acontece por força de um agente externo a auto-organização do povo negro - por exemplo, com a passagem de bandeiras de movimentos sociais que os livram das correntes da escravidão - nesse caso há equívoco de anacronismo, entre outros.

Voltando ao exemplo do painel com a menina branca no centro, quando perguntamos para os autores da obra porque eles tinham feito essa opção, diante da maioria das crianças negras que participariam do encontro, eles disseram, sinceramente, que não tinham se dado conta dessa relação, e que fizeram aquilo para resolver uma questão técnica: tinham que clarear o painel já que ele estava ficando muito escuro.

O que pudemos notar pela sincera resposta dos autores, é que eles não foram sensibilizados para essa delicada questão da representação democrática de nossas etnias, provavelmente, porque durante seus processos de aprendizado, os professores também não estavam atentos para essas questões, porque por sua

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(28)

-vez, eles não foram ensinados a percebe-las. Podemos tirar duas lições desse exemplo real:

1 ª) Em nenhuma hipótese a técnica pode ser dissociada da compreensão política do contexto e da forma como pode ser usada, ou seja, o uso da técnica não é neutro politicamente. Ele deve estar a serviço de uma percepção emancipadora da realidade.

2ª) Decorrente da primeira lição, é preciso entendermos que precisamos treinar o nosso olhar para perceber as relações de poder implícitas numa imagem (desenho, cartaz, fotografia, programa de TV, etc) ou num discurso (poesia, música, programa de TV, etc).

É

importante também estarmos atentos para os padrões de representação do corpo. Para sensibilizar os educandos para a riqueza de nossas diferenças é importante mostrar como o padrão de beleza varia de acordo com o contexto histórico. Tempos atrás, por exemplo, as mulheres gordas eram consideradas belas e as magras feias, porque pouco peso era associado a falta de saúde, e o inverso à saúde vigorosa. É comum encontrarmos pessoas acima de sessenta anos que usam esse critério para medir a beleza de alguém: se encontram uma pessoa mais gorda do que antes, dizem que ela está forte e vistosa, e quando a encontram mais magra, logo perguntam se ela está doente.

É

relativamente recente a moda do corpo magro associado

à

beleza. A indústria de cosméticos e de produtos "light" (com menos calorias) é a grande responsável por impor cotidianamente nas propagandas esse padrão de beleza. Quem não é jovem e magro deve se penitenciar, deve fazer tudo que for possível (ou oferecido) para entrar no padrão: daí a quantidade de gente preocupada em fazer academia de ginástica, em comprar produtos "light", em fazer cirurgia plástica, etc. O consumismo incentiva o policiamento coletivo: todos se vigiam e se punem para que estejam no padrão. O sentimento de culpa induz ao con$umo, como uma espécie de desencargo de consciência. O grau de sofrimento individual envolvido nessas manobras comerciais é intenso. .:

Como não fomos ensinados a perceber essas questões: ficamos insensíveis a elas, ou quando a notamos não nos sentimos seguros para levantar a discussão e conduzi-la de forma pedagógica. Nosso silêncio é uma forma de conivência, por sermos omissos ao debate acabamos sendo cúmplices com a perpetuação dos preconceitos. Esperamos que nossa atitude coletiva seja de maior consciência para essa questão e que isso se reflita na qualidade estética e política dos trabalhos de arte-educação que produziremos daqui por diante.

Por fim, é importante deixarmos claro que esse texto é apenas uma provocação para que todas as educadoras e os educadores percebam a importância do tema e tomem providência para aprofundar seus conhecimentos, e adquirir segurança para conduzir essas discussões com responsabilidade na sala de aula, e fora dela. Fica, portanto, o desafio de cada um de buscar materiais de estudo, e se predispor para lidar com a difícil questão: como poderemos trabalhar a diversidade humana presente em nossos acampamentos e assentamentos de modo que as crianças, jovens e adultos percebam a riqueza dessa pluralidade, de

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-diferenças de aparências, de sotaques, de vestimentas, de penteados, de adornos, de religiões, culinária, etc?

Sugestão de possibilidades para lidar com o assunto, em sala de aula e fora dela:

• Discutir com os educandos sobre a forma como negros, índios, as mulheres (em suas diversas aparências) são representados nos programas da TV (desenhos animados, telenovelas, telejornais, filmes, etc), nos livros didáticos, etc. E analisar comerciais de televisão com o intuito de chamar atenção para a manipulação e imposição de todas as formas de padrão de beleza (aparência, faixa etária, forma física ... ).

• Como exercício, pedir para todos desenharem o acampamento, ou assentamento onde moram, e depois analisar com eles as formas como eles representaram as pessoas, o local e as simbologias.

• Propor para que o grupo reflita e procure fontes bibliográficas para entender dilemas como o seguinte: o Brasil é o país que tem o maior número de pessoas que descendem do continente africano; esse é o país que tem uma das maiores concentrações de renda do planeta, e a concentração agrária é determinante para esse processo; é o país com a maior biodiversidade do mundo. Como entender a dinâmica social brasileira, que equaciona esses dados de forma segregadora e exploratória? Explorar os vínculos entre a questão agrária e a questão da formação da população brasileira (dando ênfase a origem da discriminação sócio-racial no Brasil).

• Incentivar a produção artística (músicas, poemas, peças de teatro, desenhos, painéis, etc) que aborde criticamente a temática dos padrões de beleza, das relações de poder e formas de discriminação. Isso pode ser feito, inicialmente, com discussões de obras artísticas, como por exemplo, a letra da música do companheiro Abrao Godóis, um militante artista, ou artista militante, do Setor de Comunicação do MST do Rio Grande do Sul, que aborda diretamente a questão que estamos discutindo:

UM LAVRADOR QUE CANTA

Eu não sou modelo alto Não tenho olho esverdeado

Meu carro é de boi carreiro Ele não é importado Não sou tipo musculoso

Eu trabalho no arado Eu planto para comer E ainda sobra um bocado

Eu tenho meu violão Que é pra espantar a tristeza

Para não cantar sozinho

(30)

Eu canto com a natureza Estou fora dos padrões Nos conceitos de beleza

No arado e no violão Eu garanto o pão na mesa

Sou um lavrador que canta O doce perfume da terra

O grito da natureza O broto da primavera

Canto a chuva no roçado Que faz nascer a semente O orvalho molhando a vida Que a terra acolhe em seu ventre

Eu não sou a fantasia Do teu mundo imaginário Eu não sou aquele artista

Da foto no teu diário O meu mundo é verdadeiro

desdo canto do canário Ilusões capitalistas Não cabem no meu armário

Saia do mundo da lua Vem pra vida de verdade

Venha sentir o ar puro Distante dessa cidade

Saia da poluição Onde tudo

é

falsidade

Venha lavar tua alma Na fonte da liberdade

.

..

(Composição de Abrao Godóis)

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-Referências bibliográficas

LIMA, Heloisa Pires. Personagens negros: um breve perfil na literatura infanto-juvenil. ln Superando o racismo na escola. Kabengele Munanga, organizador. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

SOUSA, Francisca Maria do Nascimento. Linguagens escolares e reprodução do preconceito. ln Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal nº 10.639/03. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

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Referências

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