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TESTE DE TOLERÂNCIA AO CALOR EM BOVINOS LEITEIROS NA REGIÃO CENTRO-OESTE DO BRASIL

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Academic year: 2021

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TESTE DE TOLERÂNCIA AO CALOR EM BOVINOS LEITEIROS NA REGIÃO CENTRO-OESTE DO BRASIL

MACENA, Tânia Cristina1; BARROS, Bruno de Carvalho2; JACINTO, Renato Jesus3; RABELO, Leonardo Silva3; PASSINI, Roberta4

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Bolsista PIBIC/CNPq/UEG; 2Bolsista PBIC/UEG; 3Graduando do Curso de Engenharia Agrícola, Voluntário de Iniciação Científica – PVIC/UEG; 4Orientadora, Curso de Engenharia Agrícola, UnUCET – UEG.

RESUMO - Temperatura e umidade relativa do ar, radiação solar, grau de nebulosidade, ventos e pluviosidade são elementos climáticos mais significativos para o desempenho de animais nos trópicos. O clima age diretamente sobre o animal, sendo um fator limitante para a produção animal. O presente estudo teve como objetivo avaliar o Índice de Tolerância ao Calor (ITC) de BACCARI em bovinos leiteiros cruzados, buscando validar o uso de metodologia prática para a seleção de animais mais tolerantes ao clima quente. Foi usado um delineamento inteiramente casualizado, com um arranjo fatorial de tratamentos 2x2, sendo dois graus de consangüinidade para a raça Girolanda (meio-sangue e cinco-oitavos) e duas estações do ano (inverno e verão). Foram utilizados 10 animais de cada grupo genético, sendo o ITC aplicado em três dias não consecutivos, totalizando 29 repetições. Não houve interação entre os grupos genéticos e a estação do ano (P>0,05). Foi observada diferença estatística significativa para o ITC (P<0,05) para os dois grupos genéticos estudados, sendo os animais cinco-oitavos mais tolerantes ao calor do que os meio-sangue. Conclui-se que o ITC pode ser usado para a seleção de grupos genéticos mais adaptados ao clima quente, podendo ser considerado um parâmetro de medida de adaptação fisiológica ao estresse térmico.

Palavras-chaves: estresse térmico, gado de leite, tolerância ao calor.

INTRODUÇÃO

O Brasil possui a grande maioria de seu território, cerca de dois terços, situada na faixa tropical do planeta, onde predomina as altas temperaturas do ar, conseqüência da elevada radiação solar incidente (Ayoade, 1991).

Segundo Nããs (1989), os elementos climáticos mais relevantes para a produção animal são a temperatura e umidade relativa do ar, radiação solar, grau de nebulosidade, ventos e pluviosidade.

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Os bovinos são animais homeotérmicos, capazes de manter estável sua temperatura corporal através dos mecanismos de termorregulação. Considerando os problemas que o ajuste ao ambiente térmico causa ao desempenho produtivo e reprodutivo dos animais, têm sido propostos métodos de avaliação a priori das capacidades individuais de termorregulação, determinando dentro de uma mesma espécie e mesma raça aqueles indivíduos mais adaptados ou menos susceptíveis ao estresse térmico (Baccari Jr. et al., 1998).

Denomina-se “tolerância ao calor” a resistência por parte dos animais às altas temperaturas do ambiente e à intensa radiação solar próprias do clima tropical. A tolerância ao calor varia em grau de acordo com a espécie, a raça e dentro das raças, sendo a habilidade do animal em evitar conseqüências da ação direta do calor, ou pode ser entendida como a capacidade para suportar o calor quando outros elementos climáticos são constantes (LEE, 1954).

Em ambientes de clima quente, duas estratégias podem ser utilizadas para aumentar o desempenho animal: a primeira é utilizar raças que sejam geneticamente mais adaptadas ao ambiente tropical e a segunda é alterar o ambiente a fim de reduzir o estresse térmico pelo calor (Hansen & Arechiga, 1999).

Segundo Baccari Jr. (1986), o interesse por desenvolver uma técnica de alta confiabilidade para medir a tolerância ao calor desdobra-se nos aspectos: identificação das raças ou linhagens que mantenham o equilíbrio térmico próximo da neutralidade quando em estresse pelo calor e o conhecimento das características anatômicas e fisiológicas envolvidas na termólise. Assim, é particularmente importante inferir para cada animal e, posteriormente para cada raça, a capacidade de tolerar ambientes termicamente restritivos.

Desta forma, o presente estudo objetivou verificar a variabilidade da tolerância ao calor em bovinos leiteiros da raça Girolanda, para dois grupos genéticos (meio-sangue e cinco-oitavos) e em duas estações do ano (inverno e verão) através da aplicação do Índice de Tolerância ao Calor (ITC) de Baccari, buscando identificar grupos genéticos mais adaptados ao clima quente e validando o uso do teste como ferramenta prática para a seleção de animais nos trópicos.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na fazenda J.R., município de Luziânia-GO, localizada a 930m do nível do mar, na região leste do estado de Goiás.

Foram utilizadas 20 fêmeas da raça Girolanda (Holandês x Gir), sendo 10 animais meio-sangue e 10 animais com cinco-oitavos graus de consangüinidade. O delineamento

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experimental foi inteiramente casualizado, com um arranjo fatorial de tratamentos 2x2: sendo duas estações do ano (inverno e verão) e dois grupos genéticos (meio-sangue e cinco-oitavos). O teste de tolerância ao calor de Baccari (Baccari Jr., 1986) foi aplicado em três dias, não consecutivos, nos meses de dezembro de 2007 e janeiro de 2008 (verão) e maio de 2008 (inverno), o qual consistiu em reunir os animais em um curral sombreado, por duas horas, das 11h às 13h, tomando-se a primeira temperatura retal (TR1) às 13h. Posteriormente, os animais foram expostos ao ambiente descoberto e ensolarado, permitindo a incidência da radiação solar direta, por uma hora (das 13h às 14h), retornando em seguida ao curral sombreado e permanecendo por mais uma hora, das 14h às 15h, sendo tomada à segunda temperatura retal (TR2) às 15h. A diferença entre as duas temperaturas, aplicadas à equação ITC = 10 – (TR2 – TR1), resulta em um índice de tolerância ao calor, que varia de 0 a 10, o qual representa a capacidade dos animais dissiparem o calor absorvido durante a exposição ao sol.

Como variáveis fisiológicas foram mensuradas a freqüência respiratória (através da contagem visual dos movimentos do flanco) e a temperatura retal (mensurada utilizando-se um termômetro clínico veterinário), às 11h, 13h e 15h, nos dias e horários de aplicação do teste de tolerância ao calor.

As variáveis ambientais foram mensuradas por uma estação meteorológica sem cabos, modelo WMR928N da Oregon Scientific®, a qual permitiu verificar a temperatura do ar, umidade relativa, velocidade do vento, coletados às 09h, 11h, 13h, 15h e 18h nos dias da mensuração das variáveis fisiológicas e aplicação do teste. Foram registradas ainda as temperaturas máxima e mínima diárias.

As variáveis ambientais foram utilizadas para o cálculo do Índice de Temperatura e Umidade (ITU), o qual relaciona a temperatura e a umidade relativa do ar, dado pela equação: ITU = Ta + 0,36.Tpo + 41,5, onde Ta é a temperatura ambiente, em °C (bulbo seco) e Tpo é a temperatura de ponto de orvalho, em °C.

Os dados foram analisados pelo programa Statistica 6.0. Foi aplicado o procedimento ANOVA e o teste de Tukey para a comparação de médias, adotando um nível de significância de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os níveis de conforto e desconforto avaliados pelo ITU podem ser classificados conforme Du Preez et al. (1990a,b) da seguinte forma: ITU inferior a 70 (ausência de estresse), entre 70 e 72 (alerta, alcançando o nível crítico), entre 72 e 78 (alerta, acima do

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ponto crítico), de 78 a 82 (perigo) e superior a 82 (emergência). A Tabela 1 mostra as médias das variáveis climáticas observadas nas duas estações do ano, juntamente com os ITUs calculados.

Tabela 1. Médias diárias da temperatura do ar (Tar, oC), umidade relativa (UR, %), velocidade do vento (Vv, m/s), índice de temperatura e umidade (ITU) e temperaturas máxima (Tmáx, oC) e mínima (Tmín, oC) diárias.

Estações Dias do

Variáveis ambientais

do ano teste Tmáx Tmín Tar UR Vv ITU

1 33,5 18,2 28,6 59 3,5 77,1 Verão 2 32,0 19,0 24,5 80 0,5 72,7 3 27,4 19,4 25,4 67 2,7 72,9 Médias no verão 31,0 18,9 26,2 68,7 2,2 74,2 1 27,3 16,7 25,4 59 0,2 72,9 Inverno 2 30,4 16,9 23,7 68 0,3 71,4 3 27,8 16,5 25,5 29 1,8 68,9 Médias no inverno 28,5 16,7 24,9 52,0 0,8 71,1

Os valores de ITU máximos observados, para os dias 1, 2 e 3 de teste foram 78,8; 75,1 e 74,4 no verão, e 76,6; 75 e 70,6 no inverno, respectivamente. Verificam-se valores de ITU inferiores no inverno, em relação aos obtidos no verão, que se deve a redução da temperatura do ar em combinação com a baixa umidade relativa, comum neste período na região Centro-Oeste do Brasil.

Com base na literatura pode-se verificar que os valores de ITU observados na estação de verão se encontravam em situação de alerta, alcançando o nível crítico (70 a 72) ou situação de alerta acima do nível crítico (72 a 78), segundo Du Preez et al. (1990a,b).

O índice de temperatura e umidade (ITU) nos horários de realização do experimento das 11h, 13h e 15h demonstraram valores médios respectivos de 75,1; 76 e 73,8 no verão e 70,7; 72,2 e 74,1 no inverno.

Embora os ITUs calculados no inverno tenham sido inferiores aos observados no verão, não houve diferença entre o ITC aplicado nas duas estações do ano (P>0,05). Não houve interação entre as estações do ano e os grupos genéticos estudados (P>0,05). Foi observada diferença estatística significativa (P<0,05) para os dois grupos genéticos estudados, sendo que os animais cinco-oitavos se apresentaram mais tolerantes ao calor (ITC 9,7) em relação aos animais meio-sangue Girolando (ITC 9,5). A Tabela 2 mostra as médias obtidas para o ITC nos diferentes grupos genéticos e para as diferentes estações do ano estudadas.

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Tabela 2. Médias para os valores de ITC nas diferentes estações do ano e graus de consangüinidade estudados.

Tratamentos Médias Valor de P

Verão 9,62 NS Inverno 9,59 NS Meio-sangue 9,51 a 0,0031 Cinco - oitavos 9,70 b 0,0031 Estação x sangue - NS Média geral 9,61

Médias seguidas de letras diferentes diferem pelo teste de Tukey, ao nível de significância de 5%.

Em estudos com bovinos taurinos, Vieira (2003) observou os valores médios de ITC de 9,52 para a raça Angus; 9,50 para Blonde D’Aquitaine; 9,70 para Caracu; 8,71 para Limousin e 9,79 para Piemontês, utilizando o Teste de tolerância ao calor de Baccari.

Entre os grupos estudados foram observados valores de ITC mínimo e máximo de 8,4 e 10 para o grupo meio-sangue e, 8,8 e 10 para o grupo cinco-oitavos, respectivamente. Essa variabilidade individual é importante para a seleção de indivíduos mais tolerantes dentro dos grupos. Segundo NÃÃS (1989), a absorção e a reflexão da radiação solar variam entre raças, linhagens e indivíduos, desta forma, existem variabilidades individuais quanto à capacidade de dissipar e absorver calor.

Os valores de ITC obtidos neste estudo podem ser indicativos para uma futura seleção de animais ou linhagens mais tolerantes, obtendo animais mais resistentes e diminuindo a variabilidade de tolerância ao calor entre eles. A média dos valores obtidos de ITC, para os dois grupos genéticos estudados, indica alta adaptabilidade ao calor para estes cruzamentos. Tal fato pode estar relacionado à maior resistência ao calor das espécies zebuínas em relação às taurinas, transferindo, no cruzamento Holandês x Gir, esta característica desejável para a produção em ambientes tropicais.

Em condições tropicais, é notório que os zebuínos apresentam geralmente temperatura corporal mais elevada que os bovinos de origem européia (Silva, 2005). Corroborando tais estudos, Syrstad (1996) cita que o cruzamento de bovinos indianos com raças leiteiras européias pode ser largamente utilizado para aumentar o potencial dos animais para produção de leite nos trópicos, entretanto, não foram encontrados estudos na literatura validando o uso do teste de tolerância para bovinos leiteiros.

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CONCLUSÕES

Há diferença na tolerância ao calor para animais com diferentes graus de cruzamento da raça Girolanda, sendo os animais cinco-oitavos mais tolerantes do que os animais meio-sangue, independente da estação do ano.

É possível validar o uso do ITC como ferramenta de seleção de grupos ou linhagens mais tolerantes ao calor na bovinocultura leiteira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AYOADE, J.O. Introdução à climatologia para os trópicos. 3a Ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1991. 332p.

BACCARI Jr., F. Métodos e técnicas de avaliação da adaptabilidade dos animais nos trópicos. Fundação Cargill, In: XI Semana de Zootecnia, Anais, Pirassununga/SP, 1986, p.53-64.

BACCARI Jr., F.; MACHADO, M.A.; MARÇAL, W.S.; LIBONI, M.; FELIPETTO, L. Heat tolerance and growth rate of young buffalo bulls. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOMETEOROLOGIA, 1998. Goiânia. Anais...p.349-353.

DU PREEZ, J.H.; GIESECKE, W.H.; HATTING, P.J. Heat stress in dairy cattle under Southern African conditions. I. Temperature-humidity index mean values during the four main seasons. Journal of Veterinary Research, v.57, n.1, p.77-87, 1990a.

DU PREEZ, J.H.; GIESECKE, W.H.; HATTING, P.J. Heat stress in dairy cattle under Southern African conditions. II. Identifications of areas of potential heat stress in dairy heat stress summer by means of observed true and predicted temperature- humidity index mean values, Journal of Veterinary Research, v.57, n.3, p.183-187, 1990b.

HANSEN, P. J.; ARECHIGA, C. F. Strategies for managing reproduction in the heat-stressed dairy cow. Journal of Animal Science, v. 77, n. 2, p. 36 - 50, 1999.

LEE, D.H.K. Tolerancia de los animales domesticos al calor. [S.I.]: FAO, 1954. p.104-109. NÃÃS, I.A. Princípios de conforto térmico na produção animal. São Paulo:Ícone, 1989. 183p.

SILVA, R.G. Zoneamento bioclimático para animais de interesse zootécnico. In. Anais da 42a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Goiânia,GO: SBZ, p.388-394, 2005.

SYRSTAD, O. Dairy cattle crossbreeding in the tropics: choice of crossbreeding strategy. Tropical Animal Health Production, v.28, p.223-229, 1996.

VIEIRA, R.V. Teste de tolerância ao calor em bovinos de corte de raças européias utilizadas no cruzamento industrial no Brasil. 2003. 43p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, Pirassununga.

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