DISCURSO
HISTÓRICO
;POLITICO
,
E
ECONÓMICO
Dos
progreíTos, c eftado adual daFilo-zofia Natural Portugueza,
acompa-nhado de algumas reflexoens
fobreo eftado do Brazil.
OFFERECIDO
A
SUA
ALTEZA
REAL
O
sereníssimo
príncipe
NOSSO
SENHOR
P
EL
OSEU MUITO
HUMILDE
VASSALLO
BALTHEZAR
DA
SILVA
LISBOA
Doutor em Leis pela Untverfidade de
Coimbra3 eOppoziwr aos lugarei
de Letras,
mÊ:
LISBOA
KA
OFFICINADE ANTÓNIO
GOMES.MDCCLXXXVI.
Neque
hxc iludia tantumadolcfccn-tiam alunt,fene£lutem obledant,
fecun-das res ornant; (Cie.) fed
unam
quam-que gentem eo magis cultam et civi-*
lem reddunt, quanto melius ibi philofo-phanturhomines :(Cartef. )adeoque tunc Êefpublicac funtbeatae,
cum
aut Philofo-pKi rcgnant, aut Reges philofophantur,{ Flato. )
sereníssimo senhor.
Afabilidade
com
que V^A,
R.
cojiuma acolher os cida-doens applicados,amantes
da
Pátria
,me
dd
'valor^
fará
que projlrado aosReaes
pés-de V.
A. R*
haja de apprezentara
-K
A.
efie papel.Nao
hemeu
am-mú),' Senhor, querer dar nelle
pla-nos^ pelos
quaesfe
condução algunsramos
interejfantes do Eftadoj ame-diocridade dos
meus
eftudos , apou-ia
experiência, que te?tho dos nego^^ios públicos
,f
ao fortes embaraços,que
me
impedem avançar
taÕ alto \porem
o infaciavel dezejo defer
útil
d
minha
Pátria
, e o aziloque
em
V* A.R,
achao todos osque
procurao
fer
úteisd
Sociedade^me
convidarão a privar-me
algum
tem-po dos ejiudosda
Jurisprudência , ededicar a V^ A,
R.
asprimícias dosmeus
trabalhos,O
gojlo5 e attençao ,com
queV» A.
R. fe
applica aos ejiudosda
Natureza
\ o belo conhecimento, quetem
das maravilho/asobras do Crea^ dor5d
perfpicaz intelligenciadas
necejfarias produçoens do Reino , e
das Colónias, das úteis, e das
que
faÕ
demero prazer
, tudo nosaiiun--cia felicidades
fem
numero^
que de'^Ê'F.
A. devem
feguir-fe ásSciencias^H
ds Artes,d
Agricultura, aoCoyiv-^^^
viercio5 e
a
todos osramos
deIn-duflria, que fervem de
mui
fortes columnasao ÈJiado,Defde
agora osfieis Portuguezes conhecem , e por
felicidade fua participaõ dos
pre--ciozos 5 efazonados fj^uSfos, que
/^»
A,
R,tem
colhido da incanfavel ap*pli-fUcaçaõ
ds Sciencias.Ba
Humani-dade
falo , que hojecaraãeriza os
mais
celebresMonarcas
da Europa.V.
A. R.
conhece, que as Scienciasfó
com
muito trabalhofe adquirem^
por
ijfo nao defpreza acolhercom
tao
Real
Humanidade
, eboafombra
,aos queforcejao polas adquirir;
an-tes como
amorozo
Pay
osconvida , e'anima
com
exemplos dignos de taúgrande
Príncipe,a
-vencer asdiffi-culdades, que poderiao afajlalos de
tao lonvaveis emprezas.
E
porque o exemplo de V-A.
foi o que
me
acendeo o efpiritopa-ra
entrar nejies ejludos,fao
ejlas -primícias, e amoftras delles,tribu-to devido a V^
A
e efte hmnilde^oferecimento
huma
pura
fatisfaçao domeu amor
, e daminha
vajfala-gem.
sereníssimo senhor.
Beija as
mãos
de V. A.R.
O
mais humilde vaííalloBalthezar da Silva Lisboa.
IS-\ [\
DISCURSO
HISTÓRICO
,POLITICO,
E
ECONÓMICO
Sobreos progreíTos , e eílado a£lual da
Fi-lozoíia Natural Portug;ueza
com
al-gumas reflexoens a refpeitodo Eftado do Brazil,
§
L
Enhuma
arteou
fcienciapode
mais eíEcafmentecon-tribuir para o
bem
com-mum
ycomo
a da FilofofiaNatural. Antiguamente foi conhecida aquella parte, que mais dizia
refpei-to a agricultura campeílre, e
pecuá-ria, a qual foi pelos
Romanos
levan-tada a ponto de confagrar-lhe
cul-tos , pois
que
pela(O
-?c politica íizeraô exiílir
Deozes
,que piezidiaò a cultura das terras ;
os íeus
Supremos
Magiítradoscom
asmefmas
maõs
,com
que vidloriozosacabavao dearrancar coroas das tef-tas dos Reis fcus inimigos,
volta-rão
para o arado : daqui nafcedi-zer o grande Cataõ , que o maior
elogio , que fe devia dar a
hum
Cidadão
Romano
, era chamar-lheLavrador; eílabelicimento que Cicero
(a) reputava pelo mais digno de
hum homem
nobre.§ II.
FIrmava-fe
porém
então a agri-cultura dos antigos povosunica-mente
em
huma
ferie de experiências,
que a diuturnidade dos tempos, fa-zia paliar áevidencia:
donde
os fcus
co-ra)
Omnium
.lutcm rcrum ex quibiisaliquid adquiriíur , nihil cft agricultura,
melius5níhil homine,nihillibero dignius,
(3)
conhecimentos a efte refpeito; tinhaâ fido
mui
limitados:porém
heTem
duvida, que aqueilas appjicaçoens
merecerão particular attençaô daquel-les Príncipes , que conheciaó ,
que
delias corriaó perenes fontes de
ri-quezas para o Eftado: da lii veio
a
grande eftimaçaó ,
em
que foraõti-tios aquelles vinte c oito livros de
agricultura , que acharão os
Roma-nos na
tomada
de Carthago ,com
osquaes prezenteavaõ aos Príncipes feus aliados , que fouberaÓ
unir á
virtu-de a alta dignidade , que poffuiao ;
no
que deraó heróicos teílemunhosCjro
omoço,
Atalo Philopator ,Hyeraõ,
e outros louvados porPlí-nio y e Xenofonte.
§ III.
AInvazao
, que íizeraóos
Bárba-ros na
Europa,
as difgraqas ,que
daquiemanarão
para todos ospovos reduzirão eíTes conheciínentos >
taes quaes entaô houveraô , a
hum
ef-C4>
cftado funeílo : parecia defde então
ter a Natureza perdido toda a lua
adlividade, até que as luzes da
Fi-lozofia Natural fecundando os
efpi-ritos
humanos
de conhecimentosin-tereíTantes á
Humanidade
, fez que fevilfem as importantes confequencias
produzidas pela agricultura ,
confi-derada já
como
baze da fubfiftcncia>já por objefto de
Commercio.
§1111.
SEguiraó-fe
logo por tantomui
vehementes, e fenfiveis cuidados
dos Principes efclarecidos para a ref-tabcleccr , c animar: he por efta
cau-za que ainda hoje fe ve
folemnemen-te confagrado
hum
dia no anno peloImperador da China , para eíFeito de
lavrar
com
fuásmãos
certa porqaôde
terreno, procurando por eílemo-do
animar, c augurartambém
a pe-»rene proiperidade dos feus Eftados*
Pratica quafi igualmente o mel
mo
o
Grande
Imperador daAlemanha
Jo-(?)
Jozéir.
Nao
fe corre o' Prineipe áeOfnabruc de cultivar elle
meímo
o
feu Jardim : equem
ignora quaesa efte refpeito foraõ, além de ou^ tros povos na França, os trabalhos
de Francifco I. , Carlos IX.,
Henri-que
IV. , LuizXIV.
&c. , e naEf-panha principalmente Carlos III., e
em
Portugal além dos dos SenhoresD.
Dinis ;D. Fernando
;D.
Mano-el ; os
do
SenhorD.
JozéI. ,
pu-blicados
em
fuás Leis eOrdenaço-ens?
§
V.
HOuve
pois fempreem
todasas gentes
da Europa
maisou
menos
goílo para os eíludos daNa-tureza, e naÓ fó no que diz
refpei-to á agricultura ,
mas
em
todas asmais partes da Filofofia Natural , as
quaes afficadamente cultivamos,
fen-do
conftante da noíTa hiftoria , queneftegénero haviaó exceli entes obras,
das quaes faz
menção
Manoel
(6)
rim
de Faria na vida de João de Barros,como
erahuma
hiftoriaNa-tural das plantas, e animaes
do
Ori-ente , feita por efte Hiftoriador ,
o
qual continua deíla maneira ,,
5,
Mais
em
lugar de Joãode
55 Barrob efcreveu das dro-5> gas
do
Oriente o noflb5,
Doutor
Gracia d'ortacom
55 grande louvor , cujos li-,5 vros faó muito eílimados
,
35 e andaô traduzidos
em
55 lingoa Latina por
Caro-?5 lo Crufio, impreílbs
em
55Amveri
no anno de 1523;í> e depois outro difcipulo
55
^o
meímo
Gracia d'orta^ 55chamado
Criílovaò daCof-5? ta, natural de
huma
das 55 noílas Colónias de Africa>í fcguio eíta
empreza
mais55 largamente no
Tratado
5)que
compóz
em
lingoa•
3, Caílelhana das drogas , e 53 medicinas
do
Orientecom
3J
<7)
OS retratos das itiefitias plantas,
o
qualno
feuTratado
do
Elefante diz,
que
também
tinha efcritooutro livro
de
todas asAves
5 eAnimaes
da
jíxzia• • • »
§ VI.
TAmbem
Barboza na BibliotecaLuzitana fez
menção
deXXIV.
differtaçoens fobre a Hiftoria Natural
do
Brazil, feitas por Caetano deBri-to de Figueredo, e recitadas na
Aca-demia
5 que naquelle Eftado
iníVi-tuio Vafco Fernandes Cezar de
Me-nezes 5
quando
foi Vice-Rei. Apon-ta omelmo
Autor
três Hiíloriasna-turaes
do
Brazil , manufcritas ,huma
do
Pará cMaranhão
por Fr.Criílo-vaõ
de Lisboa , outrado
PadreDio-go
Soares, e outra de Nicoláo deOliveira.
Al-< ^ >
§ VII.
r
ALguns
outros dos noflbs Efcií-tores contaõ que Ignacio Colaf-lo de Brito fora Prezidente da Juntada
Agricultura, e que cntaô com-puzera cinco livros fobre oPatri-mónio
Real, lizirias , e feusarren-damentos5 feitorias de linho
canlia-mo
em
Santarém eCoimbra
, parahaver enxárcia no
Reino
, e trezentasteccdeiras na
Commarca
do Portopara fazerem o velame para as náos.
Pelo que diz
Manoel
Severim de Fa-ria nos feus difcurfos femelhanteef-tabelicimento foi feito pelo
Senhor
Rey
D.
Manoel
, e durou até os noíTos dias.§ VIII.
DO
que hc manifeílo , que ateo
Reinado
principalmentedo
Se-nhorD.
Manoel
florcceu entre nóso
gofto da Filozofia Natural, ficando
de-(9)
depois dezáfortunadamente
cómò
fe*pultado pela perdição das Sciencias^
e por iffo fuccedeo, que
comeqaraõ
jnais tarde eftes conhecimentos a
manifeílaíno noífo paiz ( talves por
mais diftante) fuás brilhantes luzes ,
que
aproveitadasem
Inglaterra,Fran-ça, Rufia,
Alemanha &c.
fizeraó^ a época da riqueza,do
poder, ein-dependência de cada
hum
daquelleseftados.
§
Vim.
NAõ
falando por tanto nostem-__ pos
do
SenhorD.
Manoel
,e dealguns feus lUuftres fucceíTores, que
amando
aquella nobre fciencia,enri-quecerão o
Régio
Erário deriquiífi-mas
, e raras produçoens danatureza,
de que a mais precioza parte foi
man-dada
pelos Felippes para áEfpanha
;referiremos o
do Reinado do
SenhorD. JoaÓ V.
no qual felifmente fea-nunciaram entre nós os progreíTos da
Filozofia Natural. Confervava aquelr
(lo)
lePríncipe no feu Palácio
hum
rlquif-íimo
Muzeu
compofto de ricas, ema-ravilhozas produções dos três Reinos
da
Natureza, polluindo entre todas asbelezas,
hum
diamante de grandezaye valor até entaò nunca vifto, achado
na Ribeira
Milho
verde daCapita-nia
do
Cerrodo
Frio, que pezava doze onqas e meia , avaliadoem
vinte e dois milhoens de libras
efter-linas; e entre a conchilaria, além das
innumeraveis variedades de
Amira-Jes 5 tinha
o
mais rico Almirante ,que fe conhecia,
comprador
pelodi-to Soberano por 400(;í)oco reis ,
o
que tudo oinfauílo terremoto
do
i. deNovembro
de 175'). arruinouinteira-mente
;mas
logo aquellePreclaroRey
o
SenhorD.
Jozé I. entrou a formar outronovo
Muzeu
,com
o feuHor:o
Botânico,
em
o qual teve porInfpe-(flor ao Sábio Wandeli
meu
Meílre ,que
com
a fundação dos novoseíhi-dos foi creado lente de Hiftoria
Na-tural e
Chimica
em
a Univerfidadede
Coimbra.Co-<n)
§X.
COnhecia-mos
então muitosho*
mens
Patriotas , cheios deftesconhecimentos :de taes confiava
prin-cipalmente aquella Junta litteraria ,
que
formarão os Eílatuíos dareílau-raçaõ das Sciencias , e os
AA.
do
Compendio
Hiílorico ; dos quaes fe fervio aquelle Invidlo Soberano para taô magnificos eftabelecimentos , quedeviaóproduzir ao
menos
osmefmos
fruftos j que
acompanharão
osfeli-ces fucceíios das Sociedades
eftabeli-cidas fobre as Artes úteis
em
Ingla-terra;, Irlanda y e muitos outros
pai-zes -
da
Bretanha; Cantoens Suiílbs ,Bernej
Tofcana
; Dinai^iarca , ein-finitas Provincias da Alemanha.
XL
POrem
a pezar dos grandeseíla-belicimentos, que para á Scien-» cia dos conhecimentos da natureza.
fez aquelle Immortal Príncipe , já
mandando
edificar foberbos edifíciospara os Gabinetes da Hiíloria
Na-tural e Fyzica, que fendo mageftoza*
mente
preparados, reprezentariaô asimportantes confequencias, que daiii fahiriaôpara á publica felicidade
; já
creando
com
fabios Meftres ,hum
ex-»emplar Preladoj eaílim
também
hum
famozo
LaboratórioChimico
, ehum
efpaçozo Jardim Botânico, para
que
çípertaíTem a mocidade , e a
convi-daífem a goftar as profundas dilicias
de
huma
Sciencia, que fendobem
cul-tivada 5 decide da gloria da
Nação
,
e da opulência
do
Eftado.Os
eíFei-»tos todavia nao correfponderaó, cch
jíio era de de-zejar, á fua caufa,
ou
pela novidade e incerto êxito
do
ef-tabeliçimento5 que a corrupção das
Sciencias fazia perfuadir
novo
, anti-».gamcnte inaudito , e defneceffario :
razaô porque fó os eftudos da
Jurif-prudência Civil ,^ e Canónica ,
Theo-'.Jogia., e ainda' a
Medecina
deviaóíazer^X) alvo para fe obter ás hon-? '"'
( 13 )
ias,
O
Credito publico, e afufferfta-*çaõ; já por muitas outras razoens.
ForaÔ
contudo fempremui
frequen-tadas as aulas da Hiftoria Natural,e
dos outros ramos da Filozofia
, por
que
inculcando elles poríimefmo
fuásyentagens, attrahiaõ o
animo
deal-guns
mancebos
patriotas á lua ap-plicaçao\ além de que influia o maisque
podia fer o zelodo
feuRefor-mador
,movendo-os
porhuma
parte,e dezarreigando por outra as preo-'
cupaçoens, que poderiaó
embaraça-los ; de cujo zelo foraó enérgicos
teftemunhos as fabias
Reprezentaço-cns, que fez a S. Mageftade, já
fa-zendo doutorar féis daquelles
eílu-dantes, que os ProfeíTores inculcara
á
por
mais beneméritos; já inílnuando viagens , que fe deviao fazer dentro,
è fora
do Reino;
já reprezentado asconveniências dos trabalhos da
mina
de Carvão
de pedra dç Buarcos ,fuí^-tentados defde entaó até hoje pelo
inexplicável zelo
do
ExcellentiífHmo
Miniftro e Secretario de Eftado(14)
dos Negócios Ultramarinos ; já
pon-do
em
movimento o
LaboratórioCJii-mico
5promovendo
tudo quanto erade
promover,
aíTimcomo
aconftru-çaó dos cadilhos, retortas, &c. ,. de
cuja
bondade
íe fizeraó todas aspro-vas na Regia Fundição j e a
purifica-ção das argillas para fe obter,
como
íe obteve
huma
loiça melhor ,que
a ordinária do
Reino &c.
§ XII.
Dlílinguiraó-fe
muitos eíludantes,que íuppoíVo feguiíTem o objedlo das outras fciencias ,
amavaó
com
tudoas intimas rellaçoens defta ; taes
fo-rao oExcellentiílimoVifconde de
Bar-bacena, que defcobrio muitos
mármo-res nobres, e varias minas de ferro
nos contornos de
Coimbra
\Manoel
Joaquim
de Paiva , que pelas fuásin-canfciveis applicaçoens foi creado
Mcftre
do
LaboratórioChimico
;Eílacio Gularte^ o
Doutor Joaquim
Velozo ^ e o
Doutor
Alexandre Fer-rei-( If )
reira,e oscompanheiros das
expediço-cns Filozoficas Jozé da Silva Lisboa
fubftituto das cadeiras de
Grego
eHebraico
pela Univerfidade , e hojeProfeíFor
Régio
das de Filozofía eGrego
naCidade
da Bahia, fuaPá-tria;
Manoel
Luis Alvares deCarva-lhoj
o Doutor
Jozé António de Sá ;Joaó
Francifco de Oliveira; Jozé BentoLopes
; AntónioRamos
daSil-vaNogueira; o
Doutor Joaquim
JozéFerreira; o
Doutor
Joaquim
deAmo-rim
e Caftro, e vários outros.§ XIIL
HAviao
alguns particulares, quepara moftrarem o feu goílo ,
€ inclinação aos eftudos da Hiftoria
Natural, tinhaò pela continuação de alguns annos ajuntado muitas produ-çoens da Natureza para enriquecerem
os feus
Muzeos.
NaÒ
falonaquel-les5 que exiftiraó no
Reinado do
Se-jilior
D. Joaõ V.
?como
eraó odo
Con-Conde
de Ericeira(i)
Vlce-Rel daíndia; o
do
Conde
do AíTumar ; ( 2)€ o da
Duqueza
de Cadaval(3) da
caza de Lorena;
nem também
no daUniverfidade de
Coimbra
,principia-do
pelo feu primeiroReformador
, eelevado pelo zelo
dofegundo
ao maior ponto de grandeza, que íe podiade-zejar ; intereíTando-fe e procurando
o
dito
Reformador
em
todo otem-po
do
feu governo accrefcentarno-vas riquezas aos dois
Muzeos
, deque
fe
compunha
o fobredito Gabinete ^comprados
aoDoutor WsLnádi
^ e aWandequi
por
aquelleMagnânimo
Prin-CI) Continha muiras coizas perrencen*
tes á Hiftoria Natural
com huma
boa col-»leçaó de medalhas.
(2) Continha quazi o
mermo
no quepertencia á Hiftoria Natural ; era
fupe-rior porem na colleçaó dasmedalhas , que
era quazi toda de ouro.
(^) Confervava animaes de quazi
ro-dasas efpecies
com huma
grande colecçãode Bezoars. RefereD'Argenvillepag, 520.
(17)
Príncipe
o
SenhorD.
Jozé I. paradoar á referidaUniverfidade. Falo fim
no do
ExcellentiffimoMarques de
An-geja ; no
do
Advogado
FrancifcoMartins
Sampaio
:no
do
Confefforde El-Rei NoíTo Senhor, que para
acreditar
o
feuamor
patrióticoenri-queceo
o
feuConvento
das grandespreciozidades 5 que
unem
osconhe-cimentos
da
Religião ás neceíFidadesdo
Eftado.E
paranao referir algunsoutros igualmente famozos,
como
o
do
Doutor
António Jozé Guião;o
do
Cónego
JozéJacinto da Silveiraj e os Conchiologicos deMr.
Rey
, cde
Joaquim
Manoel
daRocha
; e asmagnificas colleçoens de medalhas
do
Excellentifilmo Bifpo de Beja , e
do
Doutor
Joaô deMagalhens
;conclui-rei
em
nomear
o maisfamozo
*, quallie o Gabinete do Serenifiimo
Princi-pe formado
, e dirigido peloSecre-tariodeEftado dos Negócios
Ultrama-rinos5 o qual pelo adiante nao
enveja-ráaos mais ricos da
Europa
pelamul-tiplicidade;, variedade, eraridade das
pro-II
(i8)
prodiicoens afUm naturaes ,
como
ef-,trangeiras, de que íe vai
enriquecen-do
5 que exalraôigualmente o zelo da-quelle fabio_ Miniftro Patriota,em
quem
efta Sciencia achou fempremui
particular amparo.
§
XIV.
LOgo
queoExcellentiíIimoBírpaConde
tomou
pofledo
feuRif-pado,
quiz quetambém
nelle feco-nheceíTem evidentemente os
impor-tantes fruclos da Filozofía Natural ,
ordenando viagens Filozofícaspor
to-dos os terrenos das luas Jurifdiçoens; então Coja , e muitas outras
Vil-las 5 e lugares circumvizinhos
def-cubrirao a iiiíloria dos feus paizes,
pelas defcubertas , e difFerentes
pref-crutaçoens das minas de
chumbo
no valle da Garcia ( i ) ^
Gandu-fo
(O
He
Kiima galena mineralizadaem
exçciTode arfcnio, e enxofre
, que na
fo
(2);
Sernalhozo(3)^
Chaá
deEgoa
(4)\ Vai de Cabras (5*),Pifcan-ceco (6) ; Caftanheira (7); e
em
vários outros lugares ; Cobalto
em
Cavalheiros ( 8 ) j
Antimonio
em
alguns ramos
do
AíTor (9 )Oiro
em
varias partes, onde regaó Zêzereç
o Alva
( 10 ) jCobre
em
Bo-tão
^e chumbo,principalmente quando a ope" raçaô docymaftica naõ he devidamente
tratada
com
os alkales fixos ; rende entaó50. por quintal. Aprezentaeíla galena as
mais ricas , c particulares criílalizafoens
em
differentes maneiras.(2) Contem
menos enxofre e arfeni-co; rende 70. por quintal ehuma
oita-va de prata por arrátel.
(^)Contemcobre e ferro juntamente, j
(4)
Rende 6. por quintal.(5)
He
fuperficial.{(5) Rende efta mina de chumbo an-timonial 90. por quintal.
(7^
He
fuperficial.(85
Rende 40. por quintal9 contemínuito arfenico , e enxofre.
(p) Rende 40. por quintal.
(20)
tad(ii) ô na Ribeira de Folques
; (12)
Molibdeno
naferrado
Carvalho (13);em
Miranda do Corvo
bitume fcliif^tozo
(i4)j
ferro nos contornos deCoimbra
(i^^ eem
Pedrogo(16)Ma-
xu-montanhas do Zêzere fe encontrão
fchif-tos quartfozos ,
com
veios de ouro de3(^000. de valor intrinfeco. (1
1
)
He
fuperficial dacfpecie cuprumcotaceum
(12)
He
da fpccicflavum, rende 30.por quintal.
(I
^)
He
da fpecie texttfra Kalibea.(14)
Contem
muita pyrites e flor deferro ; decompoílo pelo acido vitriolico,
na cri^ílalizaçaó oiFercce a Capa roza j o
carvaó pode depois fer aproveitado para
o ferviço das cozinhas, ou para os for-*
nos de telha Scc.
^ (15) Rende
25'. até 30. por quintal
á proporção da maiorou de menor riqueza dos bancos; heda fpecienigra, foUda
rr/-tura rubra.^
A
faltade lenhas impoífibilitaa extracção
^
(i5)
Rende
50, (ío , e mais porquintali proporção das riquezas dos bancos.
0$
denlos matos decepas aíTeguraó todooC21
)xuca
,6 Vendas
deMaria,
,epor to*da a Serra
do
Trovim
, que noMi-nifterio paíTado foraó contempladas ,
fde maneira que fó ceíTou a eftracçaÔ
pelas conveniências , que inculcava
a
mina
entaô deícuberta de ferrono
Reino
deAngola
pelas fuás rique-zas, e denfos mattos:{a)
enviando-? fe por eífa occaziao os mais experi-entes Mineiros daMaxuca com
alguns outros 5 que femandarão
bufcara Bif-caia 5 cuja extracção teriaõacompa-nhado
asmefmas
conveniências ,que
moftraraó a Inglaterra, a Suécia, e
aBifcaia, fuás minas de ferro, affim
pu-'
Maxuca eVendas de Maria as cazas
com
todo o trem do fabrico , e fornalhas,
on-de fe fundia o ferro extrahido das ditas
minas.
(^) Parece-me fer muito importante
cníinar a fundir o ferro aos Pretos
acof-tumados ao ar, e clima do paiz, e
in-cumbir a alguma Junta de
Comercian-tes, que pagaílem o quinto a S.
Magef-tade, todo o cuidado, defpezas, e
(22)
pudeflem os noíTos fupportar a
ingra-tidão
do
clima , ecom
fuás mortesnao cauzaíTe parar
huma
e outra ex-tracção 5 e léus frudlos.Mármores
nobres na Lagarteira (i );
Ega
(2)j
Soire(3) Lorvão (4)Bufarda
(5);
Ta-(i)
Conílaó dehuma
cor roxacom
diiferentes oneras moditicaçoens de bran-co, cinzento, amarelo &c. qne formão
differentes figuras , e paizes, que
confli-tuemos denominados mármores piclorios,
dcndriticos &c.
(2) Saó amarelos
com
veios dehum
preto tirando para o cinzento, formaó
em
alguns bancos horizontes
com
diverfas fombras, figuras de montanhas ,fortale-zas Scc. outros com dendritis ; e
matiza-dos diíFerentemente, outros
com
diverfas cores.(3) Contem muitas cores ; a
domi-nante porem he amarela.
(4) Conílaó de
hum
fundo tirandopara o cinzento
com
quadrados, eman-chas pretas j aflemelhaó-fc aos mármores
Africanos.
(5 ) Conílaó de
hum
verde cinzento(
n
) .Tapeus
(6)-perdigota (7);Povoa
(8);Ferrarias (9) de cujos bancos fe
tem
tiradomuitas peças para bancas (^)
,
Caixas j e para ás obras
da famoza
Cathedral de Coimbra»
§
XV.
PElo
mefmo
tempo
encarregouo
ExcellentilTimo Senhor Arcebifpo
de
Braga aJoaquim
VicentePerei-ra a
viagem
da Serrado
Gerez, peloque
pertencia ás observações Fi-lozo-(^)
Conílaó de pontinhos , e ocelos brancos, c encarnados, diverfamente ma-tizados.( 7 ) Saó os chamados mármores
fru-mentarios.
(8)
A
mais dominante he a amarelacom
fitas roxas , ecom
varias outrasco-res;
cm
diverfos bancos, formand9már-mores pi61:orios.
(9)0
fundo he amarellocom
multas outras cores diíFerentes.(íí)
Com
eftas tem a Aug.^Soberanacubertos os tremozes que ornaó as falas
lozofícas , eas Mathcmaticas ao
Dou-tor
Manoel
Joaquim
daMaia
,que
executarão
com
muito louvor,def-crevendo os diíFcrentes bazaltes , e
Javas Vulcânicas , de que eílà
cheia-a dita Serra;
como
as fuás aguasther-mas
y as differentes criflalizaçoés dequartfos , porphiros fpathozos ;
fpa-thos ; petrociles ; calcedonios ; po-ros Ígneos
&c.
cuja Colleçaô foire-metida pelo- dito ExcellentiiTimo
Ar-cebifpo j a feusAuguftos Irmãos,
que
tanto prezao eítas Sciencias , poisforaó os primeiros , que tiveraò
num
jardim Botânico de plantas exóticas.
§
XVI.
ENtre
tanto fc erigio naCidade-de Lisboa
huma
Regia
Acade-mia
5compoíla da mais iliuílre, eillu-minada
partedaNaçaó,
protegida pelaRainha N.
Senhora, e pouco depoisem
Coimbra
no lugar de Celas huma, pequena Sociedade de mancebospa-triotas
y que defejando fer úteis á
Pa-(
^S }
pátria, fe deftinavad a trabalhar
em
os diíFerentes ramosda
Filozoíia,
pa-ra cujo eíFeito fe dividirão
em
qua-tro claíTes , deítinadas para
com
maisfacilidade dirigirem as fuás applica-?
çoésá Hiftoria Natural; Agricultura;
Artes 'y e
Commercio
para as quaesdavaõ
as horas, que lhes fobejavaádos outços eftudos, e algumas
furta-das ao defcanço. Fazia ifto
em
pou
CO
tempo
ver taô grandesutilida-des5 quantasaquella
mocidade
excita-da
do
patriotifmo , e emulação / feenchia cada vez mais dos louváveis
fins , a que fe dirigiaó*, inculcadas
€m
muito belas reflexões ,acompa-nhadas das mais úteis experiências ,ja
a refpeito da tinturaria das lâas ,
do
Comercio
, e agricultura pelos Dire-flores , e mais focios&c.
A
fcpara-çaó
porém
daquelles, que mais
in-fluiaô
no
feuaugmento
a fez logod^cahir , nad fubfiftindo mais
que
dois qnnos.
§ XVII.
tt
FOi
a RealAcademia
femprefa-zendo rápidos progreflbs ,
mui
próprios dos
membros
5 que acompu-nhaó,
e parapromover
a indr.gaçaoda Natureza propóz annualmente
em
premio
a difcripçao fyzica , eeconó-mica de qualquer terreno ;
do
que
rezultou a prefcrutaçaó de muitos
braços das Serras
do
Maraó
eMar-vão ; defcubrindo-fe neftes as
minas
de antimonio e molibdeno , e
infini-dade de argilla holus ; e
naquel-les ferro,
chumbo
, cobre;antimo-nio : eftanho ( que
também
apparecenas vizinhanças de Vizeu, ou mais
antes para S. Pedro
do
Sul ,onde
também
ha alguns bazaltes) alémde
infinitas variedades de fpatho. Viao-fe
montanhas cheias de grutas ,
fabri-cadas pelos
Romanos
para a extraçaade minas, de que eraó conílantes
mo-numentos as medalhas , e antigos
daquelles povos.
Nao
(27)
falo na infinidade
de mármores
no-jbres deCintra
(^)
jMafra (^)
;Al-cântara (c)y
Montes
claros (J)•Min-de
(^); Eftremos (/) ;Arrábida (g")jBorba
(b)j Odivelas (/);Salema (/) j
-... - /
C
.Al-(^)
Conftaõ eftes mármores dehuma
cor de verde cinzento
com
manchas bran-casfpathofas.Çby Quazio
mefmo
que o antecedente.(c)
He hum
mármore fpathozocom
muitas cores de amarelo,rouxo Scc.,e dif-lerentemente maculozo nos diveríos
ban-1COS e eílratos,
(íí)He fpathozo de
hum
fundo negrocom
manchas.^ (e)
He
maculozo, eypi6lorioem
mui--tos bancos.
(/)
He
fpathozocom
muitas cores nos*diveríos bancos , branco maculozo ,
ne-^ro Scc,
(^)
Conftaó de muitas cores confuza*mente , branca, preta 8cc,
(^)
He
fpathozo amarelocom
diver*fas cores nos diverfos eftratos.
• (í)
He Kum
mármore maculozocom
-muitas cores.
(/) Participa de varias cores.
(28)
Alqueidaõ da Serra (w)-, Porto
fal-•vo
(«))
Runa
(<?) ;Trigaxe (p);
•Beja (.^)j Tavira
(r);
Oeyras(j-);Mouriienà
(/")); Paradela («
) ; Ba-jo\ic2i(x)-y Caranguejeira(z),
ede
infinidade deoutrospreciozos de
Via-
lon-I
-r
Tm)
He
dehuma
cor. totalmentene^^ra*Q?/)
He
hum
mármore maculozo cin*zento
com
diíFerences outras cores.(o)
Contem
variedade de cores, que formaóbem
galantes paizes. :^
(p)He
maculozocom
diverfas cores.,dendritico ,e nos diíFerentes citratos
ne-gro maculozo, cinzento 8cc.
(^)
He
maculozo dendritico.(.r).He negro maculozo. Variaõ muito nos mefmos eftratos as modificaçocns dt«
vcrfas das cores deíles mármores.
(í)
He
branco , maculozo, dendritico.(í)
He
maculozocom
variedade decores.
(/^)
O
mefmo
quazique o antecedente* r.r)O
mefmo.(z^
He
fpatozo dehum
amarelodef-maiado ,tirando para cinzento.
He
o quemais arefpciíodeíles mármores, conftâns
( i9 )
longa*, Villafria5 Cafcaes
&c.
col-ligidos poí Júlio Mattiazi para
o
JMLuzeu de fiia Alteza Real.
Nao
di-go
das curiozas^ e particulares crif-íalizaçoens para ornarem osgabine-tes
da
Hiftoria Natural ,nem
dasplantas, cujas culturas entereíTa a
Na-ção
,como
aRuiva,
que fe dá noscontornos de
Coimbra
, enos arenofosíerrenos das Caldas , e
em
outrospaizes j
o
lirio dos tintureirosj ofu-magre^
a graâ; a de que fe faz a Barrilha ;o
Salepe j e muitas outras,
que
ípontaneamente crcfcemem
o nof-fo continente,além
das curiozas, que
fíodem
bem
fatisfazero
gofto dos. ardineiros Botaniftas.§
XVIII.ERa
indubitável , que deviaoaquelles fublimes conhecimentos^
4a
natureza , fazer-nosevidente-mente comprehender
, o quanto ellestem
influído na confervaçaõ da vida fyzica dos Cidadoens úteis, que pela: ..
.
(3o>
imperícia dos médicos feríao alTacina*
dosy apezar de que elles geralmen-te nao
tem
para efta parte moftradoo
extremo das fuás inclinaçoens : febem
que naRealAcademia
dasSci-encias
tem
aparecidomui
importan-tes
Memorias
deManoel
Luis Alvaresde
Carvalho ; de Jozé Henriquesde
Paiva, e dealguns outros hábeis
Médi-cos5 concernentes aos eftudos Fyzicosda
Natureza, ainda que a todostem
excedido
Manoel
Joaquim
Henriquesde
Paiva pelos feus trabalhos littera-rios5 que depois de feremaprezenta-dos e aprovados pella
Real
Acade-mia
5 foraõ parte deftes , e algunsoutros impreffos, e publicados , co«
mo
fao os feus Elementos deChimi-ca ; fua
Farmacopea
Lisbonenfe ^ astaboas Zoológicas das efpecies dos
Animaes
; oDire(florio para fe fabero
modo
5 e otempo
de adminiílraro
alkalino volátil nas affixias ,mor-deduras , afogados &c.;
O
Confer-vador da faude,
ou
avifo aoPovo
acerca dos perigos , que lhe importa
€YÍ-evitar j para
&C
e muitas C 31 ) confervar-feem
faude outras.§
XVIIII.ENao
fò íizera6 ver fuásrella-çoens
com
a confervaçaõda vida fyzica,mas
a da moral pelaBonda^
de
publica;quem
,fem
fer infeníFivelá
Razão
, deixoude admirar, econhe-cer a neceííidade de fe reanimarem
osintereíTantesramos deinduftria,que
fe exercitarão no Real Cafteilo ,
on-de
em
virtude das leisda
Policia femandarão
recolher aquellas gentes ,que fendoinúteis ao Eftado pelo
de-plorável eftrago, a que fe achavao
pela pobreza, e mizeria reduzidos ,
importunamente
mendigando
aqui e ^lli5quando
naó attacavaô a vida, eafazenda , de
quem
imploravaõ fo-*corro5 e abrigo : cheios já de
induf--tria^, facudindo
o
jugo fatal,em
quejaziao5 raoftravaé , o quanto podia
nelles obrar a boapolicia ,
converten-do-os de Cidadoens inúteis , e
pre-
(
30
judiciaes5
em
úteis, e neceíTarlos áPátria , para
promoverem
a fua glo«ria
§
XX.
VIo-fe
também
em
confequencla da aplicação daquellesconJie-cimentos eílabelecerem-ie fabricas de panos ; cfguioens ; loiçaj xita ;
pól-vora &c.: extendcr-fe o noíFo
com-mercio, exercitado por peíToas
inílrui-das até
com
os últimos grdosda
Univeríidade ; c aíTim progrelTi
vãmen-te fe iIluminarão muitos corpos de induftria.
N
§
XXI.
Ao
falo naquella taofublí-me
rellaçao , que fe dirige a moílrar, dehuma
maneira a maisef-ficáz 5 os conhecimentos da Religião ,
para que confundidos os efpiritos
temerários , feja manifeíto ^ todo
o
mundo,
quam
immeníla he ado-(33)
dória; Grandeza ^
Bondade;
Gmm-Í)Otencia; e Providencia dehum
Deos
iipremo^ que adoramos.
§ XXII.
ENa
verdade fe eftas fobreditas rellaçoens, fendo maisuniver-falmente contempladas, foffem
culti-vadas5 e executadas portodos os que
mormente
conflituem aj3ublicaadmi-niftraçao•, com.o
em
coníequencia do^sprogreíTos da Filozofia Natural, fe
nao
veria geralmente florente a agri-cultura ;(^)
polidas,e perfeitas as
ar-(^)
Quem
vé a noíía agriculturaem
todos os géneros,
em
todas as terras , ecm
todas as pcvoaçoens , conheceexa-damenreo
ponto do feu abatimen.ro nosterrenos, e climas os mais aprazíveis da
Europa : fendo
em
confequencia aco-lheitados géneros amais mizeravel,
ain-da naquelles , que conftituei]i as
noílas
riquezas,como principalmente faó os vij
nhos, azeites &c. Todas as vinhas fao
(34)
artes;
augmentada
a povoação; íír^mes
os eftabelecimentos das fabricas;cm
cícolha das que faó boas , para na fer*
mentaçaõ fc obterem os mais generozos vinhos 5 e por eonrequencia as mais
eí-pirituozas agoardentcs ; fuccedendo
care-cermos dos de fora do Reino, que nos
introduzemos eílrangeiros raó falfificados
,
como
inficionados pelas differentesmif-turas de alguns outros corpos
heterogé-neos , de que particÍDaó principalmente
os vinagres y fabricados
com
pimenta,
7cnílbre5 faes metálicos &c.; o que
tam-bém
nos noíTos fe tem obfervado, oupor incúria,oupormalícia.
Mas
graças áPolicia, foraó eftes damnos acautelados
na prohibiçaó dos vinagres eílrangeiros
:
e a Academia Real das Sciencias para
o
melhoramento da cultura das vinhastem propoílo
hum
Prc^;rama, de cujaçxccupó hade nafcer toda a utilidade ,
que fe dezeja.
Os
mefmos inconvenientesacontecem na cultura das oliveiras , das quaes já mais fe efperou confeguir
fru-dos , fenaó depois de longos" annos ,
ouando cor
huma
induftrioza culturacm
dois fe deve alcançar. Ate agora o
aprovei-C
30
em
huma
palavra ,como
nao ferlaôos
homens
mais amigos dahumani-dade !
Nao
profanariaó certamentecom
tanta frequência o Sagradoda
Religião, e
o
daOrdem
publica. ,
Pa-rava tanto jquanto deviafer. Jáhoje oE^^
cellentillimo Martinho deMello eCaftra
tempelasfuásexperiências,cobfcrvaçoená'
feitona fua quinta
hum
exceilente azeite.Sobreefte artigo temaAcademia mui
ex-ceilentes memorias , como a de fe fazer
o azeite do Doutor Dolabela.
Donde
hede efperar dos cuidados económicos da
fobredita Academia fobre a cultura das
terras
, que muitas Províncias ,
principal-mente as do Sul de Portugal ,pelo exame,
que anualmente fazem alguns Sócios , lobre a fua organização , e conftituiçaó
fyzica 5 recolhaõ mui preciozos fruílos»
Ko
que poderá muito ajudar o zelo dos Magiílractos,que ínílruidosdos Teus
deve*-res 5 fizerem conhecer aos povos a-t
quelia verdade , que elles naõ
vem
,(36)
§
XXIIL
PArece
que por efta cauza osnof-fos íupremos Legisladores reque-riaó nos magiílradosaqiielles
conheci-mentos 5
quando
nas Ordenaçoensdo
Senhor
D.Manoel
prefcreveraoaquel-las taofabias Leis, que forao rranlcri-ptas para ás noviíTimas Filipinas na
Ord. do
Livro i. tit. 58. § 43. , e nasque conftiruem o Officio dos
Verea-dores , e
em
outras muitas.EUes
ad-vertirão 3 que para á
boa
economiados Povos 5 e do Eílado naò era
fo-mente baítante a Scicncia Juridica nos
Magiílrados , pois que ella
tem
,como
moílra a experiência, e infinuaô
al-guns Políticos5 multiplicado mil
lití-gios
com
total ruina dos Povos , edo
Eílado; por cuja razaómandou
o
Senhor
D.
JozcL
, que os EíludantesJuriftas verfaíTem pelo
menos
as aulasda HiíloriaNatural.
He
poíTuidotal-ves deftas verdades, que o
Intenden-te Geral da Policia, envia todos os
an-( 37 )
ântios cartas encyclicas a todos os
Magiílrados, para
promoverem
aagri-cultura, e as artes, que lhe
dizem
íefpeito.
§
XXIIII.POrem
a falta deftesconhecimen-tos faz inúteis todas as
provi-dencias daquelle Magiftrado , e
da
obfervancia das Leis
do
Reino
;fuc-cedendo porefta razaô viverem
qua-íi todos os povos inertes ; e ferem
fuás povoaçoens,
como
as eftradas pu-blicas5 afperas , e cançadas , quefer-vem
de confiantes barreiras, paraim-pedir todaa
communicaçao
com
os Po-vos, quedevem
entreter o feucom-mercio , para viverem na abundân-cia ; e daqui
vem
feremordinaria-mente
reputados osMagiílrados na ef^timaçaó vulgar, naõ
como
Pais, epro-teílores daJuíliçaj
mas
íimcomo
ini-migos. Se elles por tanto inverteííem
eíTe
máo
conceito dos povos,animan-do
a fua agricultura, explorando ana-(3n
natureza dos terrenos da fua Jurlfdí-Í:aó;
promovendo
a povoação,cregu-ando-a por liuma iabia, e prudente
educação j tendo muito
em
viftao
nafcimento, confervaçaò , e educaçaá
dos filhos &c.;
como
nao teriaó osnoíTos Auguftos Soberanos a Hiftoria
Natural
com
aMorai
e Politicade
todas as fuás
Comarcas
, Cidades,Vil-las
&c.
para nellasempregar
o feuamor
paternal, comvert endoem
pa-raizos5 lapas;
em
gentes úteis ao Ef»tado, Fovoaçoens çafaras,
§
XXV.
EQue
confequencias nao feriaoproduzidas no vafto Continente
da America
á três Séculos defcuber-to ?A
AuguftilIIma Soberana ,que
promove
a felicidade dos feus VaíTal-ios 5 dilatando a Gloriado
feuRei-nado
,tem
já expedido Naturalizas para a exploração daquellesim*
menlbs terrenos , cujos fruftos
deve-rão fer tao coníidcraveis ,
como
(39)
Sem
O
objeélo da referida expedição»§
XXVL
COm
eíFelto , feno tempOjquego-^vcrnava
o
Rio
deJaneiroo
Ex*
cellentillimo
Marquez
de Lavradio,poderão nafcer das eonfequencias
de
numa
Sociedade Filozoíica a hi entaó erigida, e por elieprotegida, naòme-íios prodigiozos fruílos, que os
de
conftituir aquella Capital mais
induf-trioza y mais populoza , e mais
flo-rente ; que fe naõ deve hoje efpe-rar?
He
certo, que fó depois de fuáinftituiçaõ foi, que a
Academia
de
Stokolmo
teve conhecimento das|>lantas
do
Brazil porhum
feleftoHortario Brazilienfe , que lhe
envia-rão
Manoel
Joaquim
de Paiva , eJozé Henriques dePaiva: he naõ
me-nos manifeíto , que a efta Sociedade lie
que
fe deve a culturado
anil;,coxonilha &c.
Até
entaó fe viahum
Commercio
taó limitado , que dallipartiaõ os Navios a bufcar carga á
Ba-(4o)
^ahia 5 e a
Pernambuco
para traze-»rem
para oReino
: defpois pelocon-trario abundou,até de géneros novos,
como
principalmente arroz , anil, e^afé , que
na
verdade iguala aode
Moca.
§
XXVII.
COmeqando
peloReino
vegetal,colheremos a maravilhoza
fpi-gelia , que tanto prezaõ os
Mof-covitas 5 que a
compraò
a pezo deouro5 porfer efpecifico remédio con-tra os vermes , que
roem
osintef-tinos daquelies povos
Septrentrio-naes; por cuja razão o
Doutor
Car-los Lineu eícreveo ao
Doutor
Wan-deli, aíTun por eftamaneira:
Archia-tri Petropolitani
comparant
fibifpigeliam
meam
j eaque curantJlu-pende vermes quoscumque
; dofisher-h£
venit ãucato uno.Tu
,qui habitas
in Lujltania , cui parent
Braji-lia5 ubi fpontanea pojjes
comparare
ingentem copiam, ^t venderc
funmio
(41)
lucro
per
Europam^
emptores nun^quam
defficer^nt, nec potejlcum
lu^ CTO in hortis coliy cuynferviàijjlynum^petit
cslum
: hac fola pojjes tibití^mparare thefauros.
§
XXVIIL
J:Á
felifmente tivemos efta planta
no Real Jardim, confervada pelos
cuidados de Júlio Mattiazi , iníigne
Botânico5 e amante das produçoens
da
natureza; ignoramos, quenome
obtém no
Brazil , que devefem
du-vida difcubrir-fenas obfervaqoens
Bo-tânicas
do
paiz.A
facilidade de fera-*panhada
noscampos, logo quefordcC»cuberta; a
comodidade
de atranf-{)ortar íeca; as ventagens, que
del-a veriaõ ao
commercio
,como
in-culcaó as palavras aíTima referidas
de
Lineu, nosfazem
ver a neceíiida^de
da Botânicaneítepaiz, para á def-^cuberta, e cultura daquelia maravi-í
Ihoza planta.
Mui-(40
§
XXVIIIL
^T>!^\
Muitas
outras inteiramente igno*ramos
; fabemos íim, que osíndios
conhecem
immenfas, quefer-vem
de efpeciíico antidpto contrain-numeraveis enfirmidadesj da qui
he
,
que
aHumanidade
tem
recebido tan-tos benscom
o Balíamo Peruviano yo
deCupaiva
: a Salfa parrilha ; aIpicacoenna; a Contraherva; a
Jala-pa; a Capiá; ( e prezcntemente
re-ceberá da
Quina
dePernambuco
) ;e de infinitas outras contra o
mal
ve*íiereo, e para vomitórios, febres po*
dres, gangrenas &c.
§
XXX.
SUpofto
feja unicamente a Holan-»da, que poílua aCanela, o
Cra-vo
, aNofnocada
, para fazer taógrof-fo
commercio
em
beneficio dacom-panhia Holandcza ;
quem como
nóspoderia adiantar efce
ramo
demer-t43)
ffíercio5 vlfto que
o
noíTocontinen-te lie' capas deproduzir os referidos
géneros ?
Quem
naõ fabe que a Ca?»nela fe dá
bem em
S.Thomé
, eno
Brazil, fupoíto feja pela indiíFerença ,
com
que nc tratada , inferior à finade
Ceilão ?O
Cravo
deMaranhão
fó na figura diíFere
do
de Molucas.A
pimentatambém
fe dábem
naBa-hiay
onde
ainda hoje fe confervahu-ma
pimenteira no Hofpicio daSenho-ra
do
Pilar, que produs infinitamente ,ainda que
com
eífeito he pelafal-ta
de
cultura maismiúda
que ada
Azia.§
XXXL
COnfta
das noíTasHiftoriastermospoíTuido todas aquellas drog.as
Baquelle Continente , exportadas
da
Azia
, que foraÓ arrancadas porhuma
Lei politica
do
SenhorD.Manoel.
E
naó
fó tivemos muitas produçoen^s das da Azia ^mas
ainda as deEu^
Topa, pois fe acha no Padre Vafcon-»
D
ce-'líi .
(
44
)cellos na fua chronica que havia6
ex-cellentes
Uvas
noRio
de Janeiro ,Santos 5 S. Vicente &c. , dizendo
o
citado
A.
que fe podiaó colherto-dos os mezes, fe
em
todos foíTemas vinhas podadas , e cultivadas»
§
XXXIL
MAs
hoje que nao poíTuimos a-quelles fruál:os dos trabalhosdosnoíTos antepaíTados
como
então, fe-ria de dezejarque feaperfeiçoaíTem a-quellesquepoílliimos.A
antigaculturado
aíTucartem
acazo a perfeiçãode-zejada ?
O
noffo he muito inferiorao de fora , e
contem
huma
menor
cultura*
Quem
crerá, que osIngle-zes na fua C^afra
do
anno paíTadoti-veífem i :
498
, 867. quintaes deaíTu-car *, e nos
com
os mais fecundosterrenos, e faudaveis climas , apenas
podemos
fazer ^oq). caixas , quere-putando-fe a 5'o. arrobas , ( que nun-ca lá chega ) conflitue o total de i ; jooí^)» arrobas, de que a maior par-» te
(45-)
te conftâ-de alTucar mafcavado ?
He
de
crer, que agrandiozamanobra
,€
trem das caldeiras(a)
das noffas fabricas embaraça iiaver hiima maiorcultura , que podia fer
promovida
,havendo
iacilidade ecomodidade
de
cada Jium particularmente poder fa-bricar
o
feu aíTucar,o
qual naohe
outra coiza, fenao
o
fal eíTencial da cana, reduzida a maíTa concreta pormeio
do
cozimento^ e criftalizaçaó ^em
cuja operação íedevem
atten-der algumas circunílancias, que todas coníiftem
em
reduzir a convenienteproporção o óleo,
o
acido, e a ter^ra abforvente por intermédio das
13 ii cães ,
(^) Podem bem
fuprir as caldeira? deferro as de cobre, ao
mefmo
paííb, quefera muito cómodo aos lavradores
po-bres5 c ainda aos rjcos fervirem-fe
def-te unicamente para o fundo, ou foco
daCaldeira, e compor o reílanre de
paf-tas argillozas,que
com
outrasdifFerente-mente miíluradas, e preparadas formariaó exceUentes vazos para o ferviço dafabri-«
ca.
1
(40
caes5 e cinzas , porque a terra
ab-forvente da agoa da cal, e
o
alKa-le fixo extrahido das cinzas , iriao
fenhorear-fe
do
acido fuperabundantedo
aíTucar , até que naò oencontran-do
mais5 agitariao fobre o óleoex-ceffivo,
formando
hum
comportofa-bonozo,
que no extremo calorvem
á fuperfície da caldeira
com
as maispartes craffas , que fe
devem
logocuidadozamente tirar
com
aefcuma-deira.
E
porque ascinzas quentespo-dem
communicar
hum
goftoempyreu-matico; o mais prudente feria uzar
da
lixivia friacom
a agoa da calfiltrada, e evaporada ao fogo.
He
ne-ceíFario fugir de
empregar
neftaope-ração 5
como mandão
alguns artiílas,o
antimonio, porque efte ,como
dia-forético,pode communicar
ao aílucarqualidades heterogéneas , das quaes
podem
nafcer perniciozos effeitos.Segue-íe a purificação , que por
meio
da
clarificação facilmente fe deveob-ter^ he defnecefifario falar da
refina-ção y e feus
methodos
, prefcriptos(
4f)
íiáEncycopledla no artigo Sucre^ por
vedarem-naneftes paizes as noíFasleis.
Mas
a neceíTidade defte género, viftôque
com
elle fe faz naEuropa
hum
taó grande
commercio
, aomefmó
tempo,
queninguém
melhordo
que noso
podia exercer , poíTuindo nef-tes paizes immenfas lenhas, farácom
que
aquella prohibiçaô fejapelo diantereftringida , e
mefmo
caíTadapeU
Rainha
Noífa Senhora,§
XXXIII.
A
Irregularidade, emá
conftruc-çaó , e direção das fornalhas
embaraça
também
haverhuma
maiorcultura.
He
incomprehenlivel aim-menfa
quantidade de lenhas , queinutilmente
confome
a faftura doaíTu-car pela conftruçcaó das fuás forna* lhas, pois que para
huma
carradade
can^ , fe requer outra de lenha.A
boa conílrucçao dos fornos deRe-verberio fanaria eíle mal , que
cau-^a
graviílimo prejuízo aos(48)
res e Senhores de
Engenho,
vindoa fucceder que aquelles, que naó
pof-fuem
grandes matas , nao fabriquem aíTucar , e os que as poíTuem , pelodiante deixaó
também
de trabalharosfeus
Engenhos
pela falta de lenhas, pois aílimo
confirma a experiência.§
XXXIIII.
O
Ignorarem ainda aquellespovos
o gráo de fogo , que
devem
applicar parao cozimentodo
feu af-fucar , faztambém
, que naôfabri-quem
aquella quantidade , quedeve-riao fabricar, porque o calor maior, que aplicarão fez queimar os
princi-pies eíTenciaes
do
aflucar, ou omef-mo
aíTucar , etem formado
aquellacalda empyreumatica , a que
chamao
melaíTo , que fendo fua abundância maior, ou
menor
, o aíTucar he mais,
ou
menos
claro.Como
porém
feap-plicaô cíles melaíTos para
aguarden-te, os lambiques deílillatorios
devem
fer mais
bem
deftinados,do
quefaò,pa-(49)
para fe tirar aquella conveniênciav
que
devem,
quando
as .aguardentestem
fubido a huni taõ alto preço.§
XXXV.
A
Faltade
economia, e direcçãodos trabalhos dos pretos, naò cauza
pequeno
prejuízo , cujosdam-nos
devem
fer reparados, fe aMeza
da
Infpeçaõcom
fabias e prudentes providencias deraos lavradores ainf-trucqaó de que carecem para a
boa
cultura dos íeus géneros,
animando,
c protegendo feus trabalhos.
§
XXXVL
NAó
toco na culturado
algo-dão
5 fe acazo fendo maior , emanufadlurada , haja de conílituir
hum
novo
, e mais poderozoramo
de induftria, ecommercio
, entretendo,€ diminuindo
huma
grande parte daociozidade , fubftituindo eíle
traba-lho, ao que exercitaó as negras ., e
mu-mulatas
em
feus inúteis bordados.A
Europa
todatem
aprovado o goftode femelhanres manufadluras , intro^
duzindo milhares de fabricas ao
mo-delo das da Azia. Naó. digo da
cul-tura
do
arroscom
os engenhosde
o
defcafcar.Naõ
falo na ferragem d^smadeiras por
Engenhos
, que devera J)oupar os longos , e pemveis traba-»hos dos pretos
em
tantos dias,pa-ra mais utilmente ferem
em
outrosempregados
, porque cadahum
def-tes artigos
haò
de entereçar as vif-tas5 e cuidados patrióticos daMeza
da
Infpeçaõ , e dos Generaes^ eMa-giílrados ^ que naquelles
continen-tes
tem
a honra de fervirem a Sua Mageítade.§
XXXVII.
EComo
he praticada a culturadas terras ?
O
maismizeravcl-mente
que he poííivel imaginar.Dcf-conheceílc o uzo
do
arado , e(
51
)ruas/, (í^)' porque delias náo
uz^
raô os antepaffados.
He
exercitadoo
(/t)
A
cauzaqueme
parece demonf-trativa do defuzo do arado, he a que
íe fegue, reprezentada pelo Excellentif-? íimo Vice-Rei do Eftado o Marquez do
Lavradio a feu fucceíTor nas palavras fer
guintes
„
Para melhor intelligencia deV.
,5Excellencia a refpeito do pouco
cuida-3,do, que tem devido aquellas Provindas ,5 aosque as tem até agora governado a
5,refpeito dofeuaugmento
em
Agricultura,„
Commercio, e Navegação, lembro que 5,tendo o SenhorReyD.Joaò
V.que fantá 5, gloria haja, mandado immenfidade de 35 inílrumentos , como enxadas , arados ,„
picaretas, e outros inílrumentosfeme-3, Ihantes , para fe repartirem pelas
gen-35tes pobres , a fim de poderem abrir
,
5,e cultivar as terras , fe executou if-^ 35 to por tal
modo
, que havendoim-„
menfa pobrezaem
todas aquellasPro-3, vincias, femterem meios, para fe
em-;, pregarem na Agricultura, fe confervau 3,nos armazéns3 a que S. Mageftade ti-^, nha mandado , repartindo-fe fó por
al-3, guns poucos afilhados , alguns dos
fo-3, breditos Inílrumentos, e o mais
o
trabalho pelos mizeraveis efcravos,
que
mal educados , nus ,tiraniza-dosy mortos muitas vezes de
fome
,como
haó
de entereíTar nas fortunasdo
Senhor ?Huma
melhor
educação,
e traélo dos fervos
pode
profperara
agriculturado
Brazil , e devefor-mar
mui
intereffantes Capitulos dasLeis moraes , e económicas , pelas
quaes fe produziriao neceíTariamente jnaravilhozas confequencias.
§
XXXVIIL
DEve-fe
em
I. lugar geralmenteeílabelecer
o
uzo de cazar osefcravos , por quanto os penliores
da
mulher, e filhos os ligarão
eftreita-mente
na familiado
Senhor,donde
nao
dezejaraó fahir,nem
entaõ jámais
„
dreceo, e fe encheo de ferrugem nos 55 armazéns , a onde na Ilha de Santa 3,Catherina o acharão agora osCaílelha-„
nos 5e no Rio grande de S. Pedromaisprofeguiriao nos crimes, e excef-fosdas paixoensfenfuaes, e
em
muitosoutros 5 que frequentemente praticaó.
Verfe hiao as crias
com
mais decorodas familias , as quaes fendo
acoftu-jnadas a ver os feus Senhores
com
a-mor
e refpeito , aquem
feus Paisigualmente fervem, amariaõ fervilos,
clhe augmentariaó fuás riquezas.
Ef-ta forte de efcravidao naó fera oíFen-liva á
Humanidade
, fe olhando osSenhores para á própria economia
(
quando
naó attendaó para os deve-res 5 a que os impelle a Religião ) ©s trataremcom
moderação
, e naonos criminozos exceíTos , de que
a-buzao a mais grande parte.
Nao
fa-lo naindifpenííavel obrigação de os fazer inítruir nos vivos fentimentosda
Religião queadoramos
, porquehe
evidente 5 queamando,
etemen-do
aDeos,
feraõ fieis aos feus Se-nhores.(
S4)
§
XXXVIIII.
NA6
hemenos
coníideravel amaneira,
com
que fe deve pro-ver á fuílentaçao: praticaóordinaria-mente
os Senhores deEngenho
con-cederem
a cada efcravo o diado
Sab-bado
, para que configaò pelostra-balhos y que nelle exercerem , a fua
fuítentaçaô, e veíluario.
Donde
fede-ve ponderar ,
havendo
refpeito ámo-ral, e á
economia
l. Seo trabalho dehum
diafomente
he bajlantepara
manter
hum
efcravo toda af
emana
?^f^foJ^
baftanteII.pela nimiaferti^ lídade do clima,
fe
deve o Senhorajjlm obrar , ou de perfi prover,
coyno Í7iculca o Senhor
Labat
,na
fujlentaçaõ dos feus efcravos ?
He
certo
5 que elles de ordinário incluem
uo
Sabbado
oDomingo
também
, violando fempre por neccíTidade a fan-titicaçaô defte preceito\ e ifto, ospretos briozos
, que os outros ío por
elles efperaó para paílarem ociozos
,