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Perfil da Imigração Peruana em São Paulo, Brasil 1

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Academic year: 2021

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Perfil da Imigração Peruana em São Paulo, Brasil

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Rosana Baeninger2 Roberta Guimarães Peres3 Natália Belmonte Demétrio4

Palavras-chaves: migração internacional, imigração peruana, economias étnicas

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Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São Pedro/SP – Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014.

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Professora Livre-Docente do Departamento de Demografia e pesquisadora do Núcleo de Estudos de População Elza Berquó, da Universidade Estadual de Campinas, Brasil. baeninger@nepo.unicamp.br. Este texto é produto do Observatório das Migrações em São Paulo (NEPO-UNICAMP/FAPESP – 2014/04850 - CNPq).

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Pesquisadora do Núcleo de Estudos de População Elza Berquó, da Universidade Estadual de Campinas, Brasil. roberta@nepo.unicamp.br

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Doutoranda em Demografia. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/ Núcleo de Estudos de População Elza Berquó, da Universidade Estadual de Campinas, Brasil. natalia@nepo.unicamp.br

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Perfil da Imigração Peruana em São Paulo, Brasil Rosana Baeninger, Roberta Peres e Natália Demétrio

Introdução

O estudo busca inserir as migrações oriundas do Peru no contexto das migrações internacionais contemporâneas para São Paulo. Para uma primeira aproximação desses imigrantes, busca-se traçar seu perfil sociodemográfico, analisando a espacialização dessa imigração de acordo com a Região Metropolitana de São Paulo e o Interior de São Paulo.

Além disso, busca identificar diferentes grupos de imigrantes residentes em São Paulo, considerando aqueles que residem há menos de 3 anos e aqueles com mais de 3 anos de residência, a fim de que se possa estabelecer comparações entre os diferentes contingentes segundo o tempo de residência no estado.

Como principal fonte de informação acerca dos volumes e características do fluxo de peruanos para a Região Metropolitana de São Paulo e para o Interior de São Paulo, utiliza-se o Censo Demográfico de 2010. Aprofunda-se, com entrevistas qualitativas, o entendimento da situação atual de tais imigrantes em São Paulo. As análises empíricas se inserem no debate sobre a economia das migrações internacionais, em especial o debate das economias étnicas (Portes e Jensen, 1987, Sanders e Nee, 1987; Light e Gold, 2000).

O estoque de peruanos em São Paulo

Segundo Silva (2008) a imigração peruana para o Brasil remonta à década de 1950 em razão de acordos bilaterais que possibilitavam que estudantes frequentassem as universidades brasileiras, em cursos de graduação e pós-graduação. A partir da década de 1970, o contexto dos países sul-americanos é marcado pela crise econômica e política, forte êxodo rural, implicando em uma nova migração regional e tendo Argentina e Venezuela como os polos de absorção dessa imigração na América Latina (Baeninger, 2013), mas com indícios de que o Brasil começaria a receber imigrantes de países vizinhos.

O acirramento a partir dos anos 1980 da estagnação econômica e a instabilidade política em diferentes países latino-americanos, em concomitância com o processo de reestruturação produtiva internacional desde os anos 1990 para a América Latina, contribuíram para a chegada de outros contingentes de imigrantes do Peru para São Paulo

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na década de 1990. De fato, o gráfico 1, ilustra a distribuição da população peruana por período de chegada no Brasil, com o destaque para a década de 1990. O Peru contou ainda com um fator específico de ordem interna, nos anos 1980, que foi o período de violência política que assolou o país, produzido por grupos armados (Silva, 2008).

Gráfico 1.

Fonte: IMILA/CELADE.

O estoque de imigrantes peruanos em São Paulo situa-se em 3.254 pessoas na Região Metropolitana de São Paulo, em 2010, e 1.621 imigrantes no Interior paulista no mesmo ano, totalizando - de acordo com as informações do censo demográfico de 2010: 4.875 pessoas que declararam ter nascido no Peru em 2010.

As entrevistas qualitativas indicam que a origem dessa imigração peruana está concentrada nas cidades de Lima, a capital, e departamentos de Arequipa, Cusco, Callao, La Libertad, Cajamarca, Lambayeque, Ayacucho e Junin.

Estrutura etária e sexo

A imigração peruana dos anos 1990/2000 é caracterizada por Silva (2008) como de imigrantes jovens (faixa etária predominante é de 18-35 anos), do sexo masculino e feminino, solteiros e, em sua maioria, apresentando um grau de escolaridade médio - o que corresponde ao primeiro e segundo graus no Brasil.

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 Antes de 1901 - 1959 1960-1969 1970- 1979 1980-1989 1990-1999 2000

População peruana no Brasil por período de chegada

Geral Homens Mulheres

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Comparando-se esse perfil da imigração peruana dos estudos de Silva (2008) com a identificada a partir do censo demográfico de 2010, nota-se importantes alterações no perfil dessa população imigrante peruana, em especial, na estrutura etária, que passa a ser mais envelhecida entre 20-54 anos, em função da permanência de imigrantes peruanos em São Paulo. De fato, a pirâmide etária dos/das peruanos(as) na região Metropolitana de São Paulo (Gráfico 2) reflete , inclusive, maior concentração nas idades acima de 35 anos, indicando ser o fluxo mais antigo e que garantiu a permanência dessa imigração em décadas posteriores.

Essa nova distribuição por idade e sexo da imigração peruana é ainda mais diferenciada quando comparamos os imigrantes residentes na metrópole e no Interior segundo tempo de residência – menos de 3 anos (imigrantes recentes) e mais de 3 anos (imigrantes mais antigos) (gráfico 2). Os imigrantes recentes, em geral, são predominantemente jovens, em especial aqueles residentes na Região Metropolitana de São Paulo. Destaca-se que a predominância de peruanos homens na faixa de 25-29 anos corresponde ao maior percentual na Região Metropolitana de São Paulo, ao passo que esta é justamente a maior participação de mulheres no Interior de São Paulo.

Gráfico 2 – Distribuição por Idade e Sexo dos Imigrantes Peruanos por tempo de residência.Região Metropolitana de São Paulo e Interior de São Paulo, 2010.

Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2010. Observatório das Migrações em São Paulo (NEPO-UNICAMP/FAPESP-CNPq)

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Inserção laboral da imigração peruana

Na Região Metropolitana de São Paulo há certo equilíbrio entre os sexos, sendo que no Interior de São Paulo predominam os homens, mas a maior diferenciação na condição de ocupação no mercado de trabalho se refere ao caso das mulheres peruanas.

A distribuição etária da imigração peruana entre homens e mulheres, nos diferentes espaços metropolitanos e interioranos, está estreitamente relacionada ao tempo de residência desses imigrantes e sua inserção diferenciada nas atividades econômicas em São Paulo (Gráfico 3).

Gráfico 3- Imigrantes Peruanos segundo sexo, tempo de residência e condição de ocupação. Região Metropolitana de São Paulo e Interior de São Paulo, 2010.

Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2010. Observatório das Migrações em São Paulo (NEPO-UNICAMP/FAPESP-CNPq)

No caso da RMSP, independentemente do tempo na metrópole, predomina entre os imigrantes peruanos a condição de empregado por conta própria, com destaque para os

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homens. Nota-se, contudo, que entre os imigrantes com mais de 3 anos de residência a condição de empregado com carteira assinada é a segunda categoria de ocupação tanto para os peruanos quanto para as peruanas.

No caso dos imigrantes peruanos com menos de 3 anos de residência na RMSP há concentração na condição empregado por conta própria, aparecendo inclusive participação de mulheres na categoria empregado não remunerado.

Já para o interior de São Paulo é maior a participação das mulheres ocupadas em comparação com os homens peruanos, destacando-se a condição de conta própria e com carteira assinada, para aquelas com mais de 3 anos, inclusive na categoria empregador.

Outra especificidade da imigração peruana no Interior de São Paulo, captada pelo censo demográfico de 2010, é que os imigrantes com menos de 3 anos ou estão na condição de conta própria ou de empregado com carteira assinada; concentrando os homens na condição de empregado com carteira assinada e as mulheres na de conta própria, indicando as dificuldades de inserção das mulheres peruanas quando de sua recente chegada ao Interior de São Paulo.

Na Região Metropolitana de São Paulo, de acordo com Silva (2008) os peruanos se dirigem em grande parte para o comércio, particularmente, de artesanato e bijuterias. Além disso, há os que se dedicam à educação e ao setor de serviços – demandas domésticas: babás, diaristas, cozinheiras. Há aqueles que vão trabalhar no setor de costura da cidade (Freitas, 2014)

O rendimento médio mensal dos imigrantes peruanos está concentrado de 0 a 3 salários mínimos, tanto na metrópole quanto no Interior, a diferença fundamental consiste na importância do tempo de residência para que os imigrantes peruanos possam auferir maiores salários.

Assim, entre os imigrantes com mais de 3 anos de residência em São Paulo pode-se obpode-servar, nos Mapas 1 e 2, a prepode-sença de imigrantes com rendimento médio mensal superior a 10 salários mínimos, em especial fora do município de São Paulo e no Interior.

Quando o grupo imigrante peruano tem menos de 3 anos de residência somente se pode identificar, no censo demográfico de 2010, a predominância e presença de imigrantes percebendo até 3 salários mínimos.

As informações censitárias indicam tendências e apontam tanto para a realocação da imigração peruana no estado, com sua presença em diferentes cidades do Interior de São Paulo, quanto para a precariedade das condições de vida dessa população imigrante nos primeiros anos de sua instalação na sociedade receptora. Os imigrantes com

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rendimentos superiores a 10 salários mínimos em 2010, estão menos concentrados na metrópole, inclusive estão distribuídos por cidades com forte presença de universidades, como São José dos Campos, São Carlos, Sorocaba, Marília, além do corredor da Rodovia Anhanguera/Bandeirantes com as cidades de Vinhedo, Valinhos, Campinas.

Mapa 1

Mapa 2

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O Mapa 3 a seguir apresenta a distribuição do estoque de imigrantes peruanos na Região Metropolitana de São Paulo, segundo rendimentos em salários mínimos. De acordo com os dados censitários, entre os imigrantes peruanos residentes há mais tempo no estado há uma maior concentração de rendimentos acima de dez salários mínimos. No entanto, conforme anteriormente observado, a maior parte desses imigrantes em 2010 residia no interior do Estado de São Paulo, e não em sua Região Metropolitana.

Mapa 3: Estoque de imigrantes peruanos na Região Metropolitana de São Paulo, segundo rendimentos em salários mínimos.

Fonte: FIBGE, Censo Demográfico 2010. Observatório das Migrações em São Paulo (FAPESP-CNPq/ NEPO/Unicamp).

A localização espacial dos peruanos na cidade de São Paulo tem relação com o tipo de atividade desenvolvida por eles, de acordo com Silva (2008). Peruanos se reúnem em bairros de tradicional concentração hispano-americana, como é o caso do Brás, Pari e Bom Retiro - lugares estes antigamente habitados por italianos, judeus entre outros. Começam a estar presentes em outros bairros na Zona Central relacionados com a atividade de comércio, como Santa Ifigênia e Parque Dom Pedro - onde se localiza a 25 de Março, famosa rua de atacadistas de São Paulo. É também no centro de São Paulo que se

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localiza a Rua Aurora, já reconhecida como um importante espaço da migração peruana na cidade.

Nos anos recentes, é possível verificar um espraiamento dessa imigração peruana, que além dos bairros tradicionais, já marcam sua presença na Zona Leste, Norte e Oeste de São Paulo; já é possível encontrá-los também na Zona Sul da cidade e em municípios da Grande São Paulo, como Diadema, Santo André, Ribeirão Pires, Osasco, Barueri, São Roque, Guarulhos e outros mais distantes, como Francisco Morato, Jundiaí, Campinas, Sumaré, Americana, Araçatuba, São Carlos, Ribeirão Preto, Ourinhos, entre outros. A imigração peruana, portanto, estando tão vinculada ao setor do comércio e de serviços, apresenta forte processo de interiorização de seus fluxos migratórios em São Paulo, com destaque para a imigração de mulheres peruanas, inclusive, no serviço doméstico (Gráficos 4 e 5).

Gráfico 4

Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2010. Observatório das Migrações em São Paulo (NEPO-UNICAMP/FAPESP-CNPq) 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Comerciantes Serviços Domésticos

Confecção Artesãos Garçons e Cozinheiros

Outros serviços

Imigrantes peruanos na Região Metropolitana de São Paulo, segundo ocupação e tempo de residência. RMSP, 2010

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Gráfico 5

Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2010. Observatório das Migrações em São Paulo (NEPO-UNICAMP/FAPESP-CNPq)

A arregimentação de trabalhadores desde o país de origem para São Paulo é bastante enfatizada no estudo de Silva (2008), a qual é feita por compatriotas, direcionando a mão-de-obra, ainda no país de origem, para setores específicos do mercado de trabalho do país de destino. Quando não caem nestas redes, resta aos imigrantes “a opção de inserirem-se no comércio ambulante de artesanato ou de alimentos, como é o caso dos peruanos” (Silva, 2008:26). A atividade comercial desempenhada em grande parte pelos imigrantes peruanos é realizada no esquema de produção.

É nesse contexto da sociedade receptora que surgem as denominações de “economias étnicas” (Portes e Jansen, 1987, Sanders e Nee, 1987, Bonacich, 1973, Waldinger, 1986), como o “empreendedor étnico” (Light 1972 apud Portes, 1995) e/ou como “minoria intermediária” (Bonacich, 1973). A perspectiva do empreendedor étnico aponta as vantagens das solidariedades étnicas para acomodar os compatriotas nas sociedades de destino; já a perspectiva da minoria intermediária de Bonacich (1973) aponta a funcionalidade da imigração para a etapa atual do capitalismo e seus agentes intermediários na subcontratação de compatriotas.

A presença da imigração peruana em São Paulo parece indicar que essas situações de “economias étnicas” não são excludentes e se interconectam em torno das

0 50 100 150 200 250 300 350 Comerciantes Serviços Domésticos

Confecção Artesãos Garçons e Cozinheiros

Outros serviços

Imigrantes peruanos no Estado de São Paulo, exceto RMSP, segundo ocupação e tempo de residência. São Paulo, 2010

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“solidariedades étnicas”. Há o empreendedor étnico para os restaurantes e há os imigrantes no setor do comércio e de costura vinculados a processos que compartilham as mesmas circunstâncias entre trabalhadores superexplorados.

O centro de São Paulo abriga hoje diferentes espaços dessas “solidariedades étnicas”. A Rua Aurora é exemplo do empreendedorismo étnico e de especificidades da presença peruana em São Paulo ligadas a inserções em nichos distintos dos observados entre outros grupos de imigrantes latino americanos. Os restaurantes peruanos instalados nesta rua são uma das marcas deste fluxo migratório, que já ganha outros espaços na cidade. A Revista Menu, especializada em gastronomia, dedicou uma edição aos “novos imigrantes” em São Paulo em março de 2014:

Os peruanos investem em gastronomia de forma mais empreendedora que os bolivianos. Na Rua Aurora, em São Paulo, há vários restaurantes especializados em comida peruana, um ao lado do outro. Apesar de a maioria das casas ser voltada para os próprios peruanos, muitas recebem brasileiros de braços abertos, como o Riconcito Peruano e o Tierra Madre, que foi aberto em 2013. E há restaurantes instalados em bairros mais nobres da capital, como o Killa Novoandino, em Perdizes, ou o La Mar Cebicheria Peruana, filial do restaurante do renomado chef Gastón Acurio no Itaim Bibi, para atrair um público formado em sua maioria por brasileiros (Marques, 2014, p. 28).

Não é apenas em restaurantes que os peruanos tem se inserido de forma diferenciada no setor da gastronomia. Em entrevista de campo realizada em 2012 no âmbito do projeto temático “Observatório das Migrações em São Paulo” (Fapesp-CNPq/NEPO-Unicamp), observou-se diferentes estratégias empreendedoras no setor. Maria5, uma migrante peruana residente em São Paulo há 4 anos, trabalhava como cozinheira num restaurante da Rua Aurora. Casou-se e perdeu o emprego ao engravidar. Ela conta sua trajetória laboral desde então:

Quando fui mandada embora, comecei a fazer comida em casa e vender marmita na rua, aqui no centro mesmo. As encomendas foram crescendo e meu marido, que era garçom, pediu demissão para me ajudar nas vendas. Quando meu filho nasceu eu não saía de casa para ficar com ele. Então eu cozinhava e meu marido é que vendia. Hoje vendemos só na rua 25 de Março e já temos mais duas pessoas trabalhando com a gente” (Maria, imigrante peruana, 38 anos).

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O depoimento de Maria reforça a hipótese de que há, entre os imigrantes peruanos, diferentes “economias étnicas” e que elas não se anulam. Os restaurantes da Rua Aurora voltados para os próprios migrantes são um retrato deste “empreendedorismo étnico”; ao mesmo tempo, estabelecimentos renomados em áreas nobres da metrópole também fazem parte deste sistema. Ambos são perpassados pela “solidariedade étnica”, seja no caso de Maria, que passou pela Rua Aurora como cozinheira e o marido como garçom e hoje empregam dois trabalhadores peruanos, seja no caso de restaurantes requintados voltados ao público brasileiro, mas que buscam compor sua equipe também com peruanos.

De acordo com Zhou (1992:4 apud Freitas, 2014:50), “ a economia de enclave, bem como seu mercado de trabalho, é estruturado de um jeito similar à economia mais ampla, mas funciona no sentido de dar suporte aos empreendimentos étnicos e ajudá-los a competir de maneira mais bem sucedida no sistema econômico mais amplo”. Assim a passagem de restaurantes para compatriotas – num primeiro momento - para restaurantes que exalta a cultura peruana na cidade de São Paulo representa uma nova etapa de inserção do fluxo migratório e desse contingente “empreendedor imigrante” em sua relação com a metrópole paulistana.

Já a arregimentação para o trabalho de grupos “multiétnicos” (Green, 1998) no setor de confecção e no comércio, onde a presença peruana vem se destacando tanto na RMSP quanto no Interior (Oliveira e Baeninger, 2014) parece indicar a perspectiva de Bonacich (1973) das “minorias intermediárias” recrutadas para o trabalho precário e super exploração, reproduzindo relações de dominação tradicionais, mesmo em torno das solidariedades étnicas.

Conclusões

A inserção dos imigrantes peruanos na cidade e no Interior de São Paulo ocorre no contexto de reestruturação produtiva no Brasil e do consequente aumento do setor informal, com o comércio de artesanato e bijuterias e serviços domésticos.

A imigração peruana para São Paulo reveste-se de características particulares, por ser um fluxo de origem urbana, reproduzindo no Brasil as atividades de serviços e comércio existentes em seu país. No âmbito dos processos de reestruturação da economia internacional, Sassen (1991) chama a atenção para o aumento dos fluxos migratórios internacionais, em especial de latino-americanos, nas cidades globais; cenário que já se

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vislumbra no Brasil, em especial por se constituir em fenômeno do século 21 na metrópole paulista. No contexto da sociedade contemporânea (Castells, 1999), a imigração peruana para São Paulo tem se alimentado através das redes sociais; espaços de vida (Courgeau, 1994) que se conformam entre o lugar de origem e de destino. Desse modo, a nova face da metrópole de São Paulo convive com a intensificação da imigração peruana, mesclando-se com os demais migrantes na formação social paulista no século 21.

Referências Bibliográfica

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