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Revista

INVESTIGAÇÃO

medicina veterinária

REVISÃO DE LIETERATURA |

RESUMO

A evolução das técnicas de criação e o uso de biotecnologias da reprodução vêm melhorando os índices de produtividade dos rebanhos bovinos, porém algumas condições têm sido associadas ao maior aparecimento de enfermidades que acarretam impacto negativo na produção, dentre as quais as distocias têm importância signifi cativa. Distocias são caracterizadas por uma complicação ou difi culdade do parto de ser realizado de maneira natural, e são uma das condições obstétricas mais importantes de competência de médicos veterinários na bovinocultura. Essa revisão de literatura teve como objetivo relacionar o processo de intensifi cação da produção e o advento das biotecnologias da reprodução com a incidência de distocias em bovinos. Foram abordadas as principais vantagens e difi culdades na implantação das das principais biotécnicas reprodutivas utilizadas comercialmente, entre elas a inseminação artifi cial, transferência de embriões, produção e fertilização de embriões in vitro (PIV) e clonagem. Concluiu-se que de forma geral a intensifi cação da produção, a modernização dos sistemas, o controle zootécnico do rebanho, o controle do escore dos animais e a capacitação de mão-de-obra vêm contribuindo de forma positiva para a diminuição da incidência de distocias nos rebanhos, desde que as boas práticas de manejo sejam realizadas. Porém, a aplicação comercial das biotecnologias reprodutivas ainda enfrenta algumas limitações práticas. Baseado nos dados dessa revisão conclui-se que quanto mais avançada a biotecnologia, maiores são os problemas em sua aplicação e maior a incidência de distocias.

Palavras-chave: Distocia, IA, TE, PIV, Clonagem.

Iggor Kallyl Tavares e Azevedo1, Larissa Fernandes Magalhães2, Flávia Cristina De Oliveira3, Gabriela Piovan Lima3, Geórgia Modé Magalhães1

A RELAÇÃO DA EVOLUÇÃO DAS

TÉCNICAS DE CRIAÇÃO E O ADVENTO

DAS BIOTECNOLOGIAS DA REPRODUÇÃO

COM A INCIDÊNCIA DE DISTOCIAS EM

BOVINO

THE RELATIONSHIP OF TECHNICAL DEVELOPMENTS

IN CREATION AND THE ADVENT OF BIOTECHNOLOGY

REPRODUCTION WITH CATTLE DYSTOCIA INCIDENCE

1. Programa de Pós-graduação em Ciência Animal; 2. Residência de Patologia Animal e Patologia Clínica em Medicina Veterinária; 3 Graduação em Medicina Veterinária. Universidade de Franca (UNIFRAN), Franca - São Paulo, Brasil. E-mail: iggorkallyl@hotmail.com

Grandes Animais

ABSTRACT

The evolution of creation techniques and the use of biotechnology reproductive have improved the cattle herds productivity. However, some conditions has been associated to higher incidence of diseases that cause negative impact on production, including the dystocia, which has signifi cant importance. Dystocia is characterized by a complication or diffi culty on giving birth naturally. It’s one of the major obstetrical conditions of veterinarian’s competence on cattle raising. This literature review aimed to relate the process production intensifi cation as well the advent of reproductive biotechnologies with the incidence of

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INTRODUÇÃO

dystocia on cattle. The main advantages and diffi culties in the implementation of major reproductive biotechnologies commercially used were approached, including artifi cial insemination, embryo transfer, production and fertilization in vitro embryos (IVP) and cloning. It was concluded that, in general, the production intensifi cation, modernization of systems, the breeding herd’s control, animal score control and the training of skilled labor have contributed positively to reducing the incidence of dystocia in herds, since that good management practices are carried out. But the commercial application of reproductive biotechnologies still faces some practical limitations. Based on the data of this review it Is possible to conclude that as higher advanced biotechnology, the greater the application problems as well the higher incidence of dystocia.

Keywords: Dystocia, AI, ET, IVP, Cloning.

A evolução das técnicas de criação, a introdução de raças mais precoces e especializadas e o uso de biotecnologias da reprodução vêm melhorando os índices de produtividade dos rebanhos bovinos, porém algumas condições tem sido associadas ao maior aparecimento de enfermidades que acarretam impacto econômico negativo na produção, dentre as quais as situações de distocias têm importância signifi cativa (COSTA et al., 2003; MCCLINTOCK, 2004).

A bovinocultura brasileira vem modernizando e profi ssionalizando seus processos, evoluindo para sistemas mais produtivos (STOCK et al., 2008; OLIVEIRA, 2015). Nesse contexto as biotecnologias que envolvem o melhoramento genético e reprodutivo do rebanho estão cada vez mais difundidas comercialmente, inicialmente com o uso da inseminação artifi cial (IA), depois da transferência de embriões (TE) e produção de embriões in vitro (PIV), que atualmente já contribui com parcela signifi cativa dos embriões comercialmente transferidos, e mais recentemente com o uso da clonagem ou transferência nuclear com células somática (TNCS) (SCHMIDT, 2007).

Mediante a essa evolução no modelo de criação, o advento das biotécnicas reprodutivas trouxe diversos benefícios à produtividade dos rebanhos, porém foram correlacionadas ao aumento de afecções obstétricas e reprodutivas. Essa revisão de literatura tem como objetivo relacionar o processo de

intensifi cação da produção e o advento das biotecnologias da reprodução com a incidência de distocias em bovinos.

DISTOCIAS

Distocia signifi ca “parto difícil” (VATTI, 1969) e é caracterizada por uma complicação ou difi culdade do parto de ser realizado de maneira natural, sendo uma das condições obstétricas mais importantes de competência de médicos veterinários na bovinocultura de leite e corte (ROBERTS, 1971). Existem diversos tipos e graus de distocias, que podem variar de um ligeiro atraso no desencadeamento do parto a até a completa incapacidade de parir.

São um importante problema para a bovinocultura, pois geralmente estão associadas a diversos prejuízos como aumento na mortalidade de bezerros e vacas, custos com veterinários e medicamentos e transtornos reprodutivos como demora no retorno ao estro e menor taxa de prenhez (ANDERSEN et al., 1993; MATURANA et al. 2007; TENHAGEN et al. 2007, SILVA et al. 2008).

Há grande variação nas médias de ocorrência de distocias relatadas em rebanhos bovinos no Brasil, que variam de 3,7% até 17,5% de toda casuística veterinária (BORGES et al., 2006; XIMENES, 2009; SILVA FILHO et al., 2014). Diversos fatores podem estar relacionados a essa variação, como o modelo de criação,

genética, alimentação, clima, entre outros. Com relação às raças, a ocorrência de distocias é mais comum em vacas com aptidão leiteira, principalmente Girolanda e Holandesa (BORGES et al., 2006; XIMENES, 2009; SILVA FILHO et al. 2014).

Os casos de distocias estão relacionados a problemas de origem materna, fetal ou ambos. Devem ser analisados 3 fatores durante o parto: o canal do parto, o feto e as forças de expulsão; quando um ou mais destes fatores não permitirem o nascimento do produto, será caracterizada a distocia (BORGES et al., 2006; RICE, 1994).

Estudos em distocia bovina têm identifi cado diversos fatores associados a sua ocorrência: raça, peso corporal e conformação da vaca e do reprodutor, número de parições, duração da gestação da fêmea, apresentação e postura do feto, número de fetos no útero, época do parto, sexo do bezerro e peso ao nascer (BELCHER & FRAHM, 1979).

Um dos fatores de maior importância na determinação de distocias em bovinos é o peso do bezerro ao nascer (BELLOWS et al., 1971; MEIJERING, 1984; BERGLUND, 1987; MCDERMOTT et al., 1992; RICE, 1994). Autores relatam o aumento da probabilidade da ocorrência de distocias correlacionada ao peso do bezerro ao nascer (NIX et al., 1998; JOHANSON & BERGER, 2003), porém o peso do bezerro e a relação com a ocorrência de distocias é dependente de raça, ordem de parição, e, portanto, não é possível de ser controlado de forma genérica.

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MODERNIZAÇÃO E INTENSIFICAÇÃO DA BOVINOCULTURA

ADVENTO DAS BIOTECNOLOGIAS DA REPRODUÇÃO

A bovinocultura no Brasil vem passando por um processo de modernização e profi ssionalização dos processos, evoluindo de sistemas menos produtivos para sistemas de produção de maior produtividade e consequentemente com processos tecnológicos mais sofi sticados (STOCK et al., 2008). Especialmente na produção leiteira, os sistemas mais produtivos vêm intensifi cando a produção, e cada vez os produtores vem optando por sistemas de produção intensivos ou semi-intensivos (OLIVEIRA, 2015). Nos sistemas mais tecnifi cados, os produtores vem implantando o controle zootécnico do rebanho com registro do estoque de animais, dados reprodutivos, como datas de coberturas, partos, perdas reprodutivas, além de outros dados importantes para a atividade como controle de custos e receitas. Com o registro das datas de coberturas é possível o produtor prever as datas de parto, e é cada vez mais comum principalmente em propriedades leiteiras a separação de fêmeas no fi nal de gestação em piquetes maternidade, que são piquetes que fi cam em locais onde as fêmeas podem ser observadas várias vezes ao dia. Essa prática vem auxiliando o monitoramento de fêmeas no momento do parto, e pode ser um fator que vem facilitando uma melhor assistência ao parto e uma maior rapidez nas intervenções no caso de ocorrência de distocias (TUPY et al. 2006).

A ocorrência de distocias está diretamente relacionada ao baixo escore corporal das vacas (GEARHART et al. 1990; RUEGG et al. 1992; MARKUSFELD et al. 1997), e isso pode explicar a maior incidência em vacas criadas em sistema extensivo, pois estas são mais susceptíveis as alterações climáticas e consequentemente à escassez de alimentos no período seco (BORGES et al., 2006; SILVA FILHO et al., 2014; CARNEIRO, 2014).

Diversos autores também relataram sazonalidade na ocorrência de distocias, que apesar de ocorrerem durante todo ano, a incidência é signifi cativamente maior no período seco, fato que também está relacionado à má condição corporal das vacas nesse período (BORGES et al., 2006).

Com a implantação de sistemas intensivos e semi-intensivos, os animais recebem alimentação controlada, e isso diminui os efeitos do período seco no escore dos animais e consequentemente, a incidência de distocias nesses sistemas, especialmente no intensivo é mais baixa (SILVA FILHO et al.; 2014). O elevado escore corporal, especialmente em novilhas, também leva a uma maior incidência de distocias devido ao acúmulo de gordura na cavidade pélvica, e essa situação pode ser mais facilmente encontrada em sistemas de produção intensivos, se o escore corporal não for devidamente controlado (MEIJERING, 1984; RICE, 1994).

Além disso, diversos estudos apontam que a grande maioria dos casos de distocia atendidos por médicos veterinários já haviam sido anteriormente manipulados por proprietários leigos, o que muitas vezes gera lesões nos fetos e no trato reprodutivo das vacas, além de retardar o atendimento veterinário, ocasionando aumento signifi cativo na mortalidade de vacas e fetos, quando comparados aos casos sem manipulação prévia. Com a capacitação e conscientização da mão-de-obra e produtores esse problema pode ser reduzido, porém isso não é uma ação simples de ser feita, devido difi culdade na mudança de características culturais históricas da população. Em propriedades assistidas por médicos veterinários esse problema é minimizado (SILVA et al. 2000; BORGES, 2006; SILVA FILHO et al.; 2014).

Conclui-se que a intensifi cação da produção, a modernização dos sistemas, o controle zootécnico do rebanho, o controle do escore dos animais e a capacitação de mão-de-obra vêm contribuindo de forma positiva para a diminuição da incidência de distocias nos rebanhos, desde que as boas práticas de manejo sejam realizadas (SILVA FILHO et al.; 2014).

As biotecnologias que envolvem o melhoramento genético e reprodutivo do rebanho estão cada vez mais difundidas comercialmente, inicialmente com o uso da inseminação artifi cial (IA), depois da transferência de embriões (TE) e da fecundação e produção de embriões in vitro (PIV) e mais recentemente com o uso da clonagem ou transferência nuclear com células somática (TNCS). Esse estudo abordará as principais vantagens e difi culdades na implantação dessas técnicas, destacando a relação das mesmas com a incidência de distocias em bovinos (SCHMIDT, 2007).

INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

A IA é a biotécnica reprodutiva mais antiga, simples e de maior impacto na produção animal, sendo amplamente difundida em todo o mundo como um instrumento efi caz e econômico de melhoramento genético tanto na bovinocultura de corte como de leite (REICHENBACH et al., 2008).

Com o advento dessa técnica, são utilizados para a reprodução touros de alto valor genético para características produtivas, que quando acasalados com fêmeas de pelve de pequenas dimensões, podem imprimir com muita ênfase a característica

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CPRODUÇÃO IN VITRO DE EMBRIÕES (PIV)

de peso ao nascer ao bezerro, ocasionando problemas de distocias (BELLOWS et al., 1971; MCDERMOTT et al., 1992; RICE, 1994). Estudos têm buscado relacionar o controle genético das distocias visando a seleção de animais para características como peso, área pélvica e peso do bezerro ao nascer (OLIVEIRA, 2008). Fatores ambientais e genéticos infl uenciam o peso ao nascer de bezerros. O touro e a vaca têm a mesma importância na transferência de informação genética ao feto, porém, o ambiente fetal é fornecido completamente pela fêmea, o que signifi ca que esta possui maior infl uência do peso ao nascer do que o macho. Mas, quando é avaliado o impacto sob o ponto de vista do rebanho, os touros possuem infl uência muito maior no peso ao nascer dos produtos, devido ao número de fi lhos que os mesmos podem gerar (RICE, 1994).

Uma das soluções que surgiram visando diminuir a incidência de distocias relacionadas ao tamanho dos bezerros, especialmente em novilhas, foi o uso de touros selecionados para fornecer sua genética para um bezerro mais leve, prática que tem sido cada vez mais utilizada, e que vem obtendo resultados satisfatórios, com redução nas taxas de distocias de até 60% (RICE, 1994). Porém, o uso desses touros dentro do rebanho não deve ser realizado de forma indiscriminada, pois isso levará a uma diminuição do porte das fi lhas e consequentemente essas fêmeas terão facilidade de parto menor (RICE, 1994).

É de extrema importância que o produtor avalie as características da matriz, como tamanho, peso e medidas pélvicas no momento de seleção do touro (OLIVEIRA, 2008). A incompatibilidade feto-pélvica é o principal fator na ocorrência de distocias na espécie bovina (RICE, 1994; COLBURN, 1997), que pode ocorrer devido a bezerros pesados ao nascer, a fêmeas com medidas pélvicas abaixo da média ou a ambos os fatores (MEIJERING, 1984).

Portanto, a seleção de touros baseado na avaliação das características das matrizes é uma excelente ferramenta na diminuição da incidência de distocias, e é uma prática que vem sendo difundida de forma crescente no Brasil e no mundo.

TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES

A TE em bovinos é uma das técnicas mais práticas e econômicas para aumento de taxas reprodutivas de fêmeas de alto valor genético, pois uma fêmea pode produzir um número de descendentes muito superior ao que poderia obter de forma natural durante toda a sua vida reprodutiva. Além disso, pode ser utilizada para a obtenção de descendentes de fêmeas incapacitadas de ter uma prenhez a termo devido a distúrbios reprodutivos adquiridos (NEVES et al., 2010). O Brasil tornou-se referência na área da reprodução animal devido aos avanços e à vasta aplicação dessa técnica, havendo um aumento signifi cativo no número de TEs realizadas no país (VIANA & CAMARGO, 2007). Assim como descrito na IA, os bezerros nascidos de TE são produtos de cruzamentos entre fêmeas e machos de alto valor genético, e isso pode ocasionar problemas de distocias relacionadas a bezerros com peso ao nascer elevado (RICE, 1994). Portanto, para o sucesso dessa técnica também é de extrema importância a seleção de receptoras com características adequadas, como tamanho, peso e medidas pélvicas para receberem o produto oriundo da TE (OLIVEIRA, 2008).

O Brasil é um dos países mais ativos nas tecnologias relacionadas a produção de embriões, porém a produção de embriões in vitro (PIV) ainda enfrenta diversas limitações para sua efetiva aplicação na bovinocultura (PONTES et al., 2009). Os embriões produzidos in vitro são considerados inferiores em qualidade quando comparados com aqueles produzidos in vivo (LONERGAN & FAIR, 2008), apresentando alterações metabólicas, morfológicas, no tempo de desenvolvimento, na criotolerância e na expressão gênica (LAZZARI et al., 2002).

A produção de embriões in vitro está relacionada à Síndrome da Cria Grande, que é caracterizada pelo nascimento de bezerros com tamanho incomum, além do nascimento de bezerros com diversas anormalidades em órgãos (YOUNG et al., 1998; FARIN et al., 2006). Essa síndrome também é caracterizada por aumento na duração da gestação, além de elevada incidência de abortos, distocias e mortalidade neonatal (LAZZARI et al. 2002).

Stacchezzini et al. (1997) relataram que vitelos nascidos após transferência de embriões produzidos in vitro nasceram 9 kg mais pesados que os oriundos de TE produzidos in vivo, uma diferença signifi cativa que ocasionou em um aumento na incidência de distocias de 20 para 60%. Estudos comparando bezerros oriundos de PIV com bezerros oriundos de IA chegaram a resultados semelhantes. Portanto, a PIV tem um efeito direto no aumento do peso dos vitelos, que parece interagir com o genótipo dos embriões, uma vez que há um incremento muito elevado de peso nas raças grandes e um incremento muito pequeno nas raças pequenas (NUMABE et al.,1997).

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peso dos vitelos em raças pequenas, a PIV pode ser utilizada sem inconvenientes quanto a incidência de distocias e ao bem estar dos animais nessas raças (HORTA, 1999).

A incidência da Síndrome da Cria Grande está comumente relacionada ao emprego de soro e do co-cultivo durante as etapas da PIV (LANDIM-ALVARENGA, 2006), porém a diversidade de fenótipos e o nascimento de bezerros normais tornam difícil uma melhor identifi cação das suas causas (YOUNG et al., 1998). Novos estudos ainda são necessários para identifi car os fatores associados à PIV que induzem as alterações nos embriões que aceleram o seu crescimento no útero, e também a defi nição de técnicas alternativas visando a diminuição da incidência dessa síndrome e consequentemente a diminuição da incidência de distocias e mortalidade neonatal.

CLONAGEM

A clonagem ou transferência nuclear com célula somática (TNCS) é uma biotécnica em que o núcleo (DNA) da célula do indivíduo a ser clonado é transferido para dentro de um oócito em fase de metáfase II, com o objetivo de gerar um animal geneticamente idêntico ao animal doador da célula somática (CAMPBELL, 1996). As principais aplicações da clonagem na bovinocultura visam criar cópias de animais de alto valor genético, além de ser utilizada para produzir cópias de animais cuja linhagem é especialmente demandada nos programas de cruzamento (MARTINS, 2011). Apesar da evolução, a taxa de sucesso de clonagem bovina ainda é baixa, sendo a percentagem de clones nascidos vivos em relação ao número de embriões transferidos para as receptoras em torno de 7% para fêmeas e 12% para machos (BERTOLINI & ANDERSON, 2002; MEIRELLES et al., 2006; PANARACE et al., 2007)

As taxas de gestação de embriões produzidos por TNCS ainda são muito inferiores quando comparadas às taxas de produzidos por PIV, além de alta taxa de morte embrionária em todas as fases da gestação (WELLS et al., 2004). Outro problema é a alta taxa de mortalidade nos períodos peri-natal e pré-natal, fator que limita a efi ciência da clonagem em bovinos (CHAVATTE-PALMER et al., 2004; WELLS et al., 2004).

A ocorrência de distocias é uma alteração bastante comum em partos de animais clonados, e a incidência normalmente está associada ao excessivo tamanho dos fetos, sendo comum a realização de cesariana (KATO et al. 1998). Além disso, relatos apontam que fetos com crescimento anormal dentro do útero, que nascem com peso muito superior ou inferior ao tamanho ideal têm maiores difi culdades na adaptação pós-parto, e a ocorrência de distocias tem sido relacionada à redução da sobrevivência neonatal (GARRY et al. 1996). Além de fetos de tamanhos anormais, alterações placentárias e a incidência de hidropsia em vacas receptoras de animais clonados também são alterações frequentes, sugerindo que gestações de clones de desenvolvimento normal representam casos de exceções (HANSEN et al., 2005; MIGLINO, 2004; MIGLINO et al., 2007). A mortalidade de bezerros após o nascimento também pode atingir até 30% dos animais nascidos vivos, e essas perdas estão relacionadas à uma série de problemas, entre eles o desenvolvimento de defi ciências como a síndrome da membrana hialina, difi culdade de regulação da glicemia, desenvolvimento anormal dos rins e a esteatose hepática (CHAVATTE-PALMER et al., 2004).

A clonagem ainda é uma biotecnologia recente, que ainda precisa de maior investimento científi co e resoluções legislativas para sua aplicação. É uma biotécnica que apresenta diversas

vantagens comerciais, porém o grande número de perdas gestacionais, no peri e pós-parto ainda tem limitado a expansão da técnica comercialmente. É imprescindível que a comunidade científi ca continue aprofundando os estudos sobre a técnica, visando o seu aperfeiçoamente e diminuição das perdas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que de forma geral a intensifi cação da produção, a modernização dos sistemas, o controle zootécnico do rebanho, o controle do escore dos animais e a capacitação de mão-de-obra vêm contribuindo de forma positiva para a diminuição da incidência de distocias nos rebanhos, desde que as boas práticas de manejo sejam realizadas. Porém, a aplicação comercial das biotecnologias reprodutivas ainda enfrenta algumas limitações práticas. Baseado nos dados dessa revisão conclui-se que quanto mais avançada a biotecnologia, maiores são os problemas em sua aplicação e maior a incidência de distocias.

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Referências

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