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Síndrome de burnout em enfermeiros atuantes em uma Unidade de Terapia Intensiva

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Síndrome de burnout em enfermeiros atuantes

em uma Unidade de Terapia Intensiva

Burnout syndrome in nurses in an Intensive Care Unit

Faustino Eduardo dos Santos1, Joubert Araujo Alves2, Andrea Bezerra Rodrigues3

rESUMo

objetivo: Identificar se os enfermeiros que atuam na área de terapia intensiva cardiológica e geral apresentavam burnout e correlacionar

dados demográficos e ocupacionais com o burnout. Métodos:

Esse é um estudo descritivo-exploratório, transversal, prospectivo e correlacional que utilizou os recursos da abordagem quantitativa. A amostra foi composta por 34 enfermeiros que responderam o inventário de Maslach e Jackson (MBI-HSS) contendo 22 questões, além de um questionário com dados demográficos e ocupacionais. O estudo foi realizado em um hospital particular, de grande porte, localizado em São Paulo. resultados: Dos 34 enfermeiros, nove apresentaram elevado nível de desgaste emocional; nove alto nível de despersonalização e dez apresentaram alto nível de incompetência profissional, sendo que esses enfermeiros apresentaram alterações

em mais de uma dimensão do burnout. Conclusões: Grande parte da

amostra apresentou burnout, e houve correlação positiva entre ela e as seguintes variáveis: sexo, especialização na área, tempo de trabalho na área, carga horária, e trabalhar em mais de uma instituição. Descritores: Esgotamento profissional; Equipe de enfermagem; Unidades de terapia intensiva; Estresse

AbStrACt

objective: To identify if nurses working in cardiac and general Intensive Care Units are subject to burnout, correlating it with

demographic and occupational information. Methods: This

is a descriptive exploratory, cross-sectional, prospective and correlational study utilizing quantitative resources. The sample was composed of 34 nurses who answered the Maslach and Jackson inventory (MBI-HSS), which consists of 22 questions plus a questionnaire on demographic and occupational data. The study was carried out at a large private hospital in the city of São Paulo,

Brazil. results: Of 34 nurses, nine had high emotional exhaustion, nine high depersonalization and ten had a high score of reduced professional accomplishment (decreased personal fulfillment at work). Most nurses presented alterations in more than one dimension

regarding burnout. Conclusions: The majority of nurses presented

burnout and there was a positive correlation between burnout and the variables: sex, advanced professional degrees, time working in nursing, workload and working at more than one hospital.

Keywords: Burnout, professional; Nursing, team; Intensive care units; Stress

introDUÇÃo

No mundo do trabalho têm ocorrido muitas mudanças no que concerne à tecnologia, aos estilos de gestão or-ganizacionais, à transformação do emprego e ao cresci-mento na importância do setor de serviços no cenário econômico. Cada vez mais há uma variedade, complexi-dade e responsabilicomplexi-dades atribuídas ao trabalhador que demandam novas exigências de qualidade na execução das tarefas, mais qualificação e novas competências do trabalhador(1). Dessa forma, torna-se cada vez mais emergente avaliar o nível de estresse do profissional(2).

Em meio à evolução dos estudos sobre o estresse, surgiram estudos sobre a síndrome de burnout, uma sín-drome na qual o trabalhador perde o sentido da sua rela-ção com o trabalho e faz com que as coisas já não tenham mais importância, qualquer esforço parece ser inútil(3).

O burnout é um conceito desenvolvido na década de 1970, que tem como autores pioneiros Herbert J.

Freu-Trabalho realizado no Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.

1 Enfermeiro intensivista da Unidade de Terapia Intensiva Cirúrgica do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – INCOR/HC-FMUSP, São Paulo

(SP), Brasil; especialista em Enfermagem de Terapia Intensiva pela Faculdade do Hospital Israelita Albert Einstein – FEHIAE, São Paulo (SP), Brasil.

2 Enfermeiro; especialista em Enfermagem de Terapia Intensiva pela Faculdade do Hospital Israelita Albert Einstein – FEHIAE, São Paulo (SP), Brasil; enfermeiro do Pronto Atendimento Sacomã da

Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina – SPDM, São Paulo (SP), Brasil.

3 Enfermeira; especialista em Enfermagem Oncológica pela Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein – FEHIAE, São Paulo (SP), Brasil; mestre em Enfermagem pela Universidade

de São Paulo – USP, São Paulo (SP), Brasil; doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo – USP, São Paulo (SP), Brasil; professora da Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein – FEHIAE, São Paulo (SP), Brasil.

Autor correspondente: Faustino Eduardo dos Santos – Rua dos Mascarinos, 20 – Jardim IAE – CEP 05868-830 – São Paulo (SP), Brasil – Tel.: 11 5821-9797 – e-mail: fawstedu@hotmail.com

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denberger, psicanalista e Cristina Maslach, psicóloga social. Em 1974, esse termo foi utilizado pela primeira vez por Freudenberger(3-4).

Pela conceituação de Maslach e Jackson(5), o

bur-nout é “uma síndrome caracterizada por três dimensões

básicas”. A primeira delas é a exaustão emocional, na qual o contato frequente e intenso com pessoas que vi-vem em situações de sofrimento gera uma enorme carga emocional. O profissional sente-se esgotado, sem ener-gia, pouco tolerante, facilmente irritável e “nervoso” no ambiente de trabalho. A segunda é a despersonalização, na qual o profissional assume uma atitude desumana. Progressivamente, ocorre um distanciamento emocio-nal que traz frieza e indiferença diante das necessidades dos outros. Ele perde a capacidade de identificação e empatia com as pessoas que precisam de ajuda e não as trata como seres humanos e, sim, como “coisas”. A terceira, e última, é a redução da realização pessoal e profissional. No decorrer do tempo desenvolve-se um sentimento de decepção e frustração por não estar de-senvolvendo o que tinha planejado para a sua vida, seus sonhos, suas ambições. Consecutivamente, surge redu-ção da autoestima, que pode chegar à depressão(5).

Gil-Monte(6) reforçando a afirmativa de França e Rodrigues(2) sobre as consequências do burnout, descre-ve que, dentre os custos pessoais, pode hadescre-ver sentimen-tos de solidão, alienação, ansiedade e impotência; apa-tia, agressividade e cinismo; isolamento, distúrbios do humor e irritabilidade frequente; problemas cardiovas-culares como: taquicardia, hipertensão e palpitações ou respiratórios como: crise asmática e taquipneia; imuno-lógicos, com probabilidade maior de adquirir infecções, os musculares como: cervicalgias e dores lombares, en-tre outros. Denen-tre as consequências para a organização situam-se a diminuição na qualidade assistencial, o ab-senteísmo elevado, a diminuição do interesse e esforço para realizar atividades profissionais, o aumento dos conflitos interpessoais com colegas de trabalho, ou até mesmo uma tendência ao abandono do emprego(6).

A síndrome de burnout tem sido considerada um problema de extrema relevância e vem sendo estudada em vários países. O interesse que burnout está desper-tando na atualidade vem ocasionando uma ampliação de seu campo de estudo, no início as investigações eram centradas em profissionais de ajuda. Agora passou a ou-tros âmbitos profissionais e recentemente têm sido rea-lizados estudos até com estudantes da área da saúde(7). Considerando-se que cada dia é mais exigido do en-fermeiro a capacidade técnico-científica em um sistema capitalista, que oferece em contrapartida uma baixa re-muneração e sobrecarga de trabalho, pode-se observar, em nosso ambiente de trabalho, alterações psíquicas que levam muitos funcionários a um estado de exaustão emo-cional, perda de interesse pelas pessoas que teriam que

ajudar; e por fim baixo rendimento profissional e pessoal, com a crença de que o trabalho não vale a pena e, institu-cionalmente, não se podem mudar as coisas e que não há possibilidade de melhorar pessoalmente(8-11).

obJEtiVo

Este trabalho teve como objetivos identificar se en-fermeiros que atuavam na área de terapia intensiva em cardiologia e Unidade de Terapia Intensiva Geral apresentavam burnout e, correlacionar dados demo-gráficos e ocupacionais com o burnout.

MÉtoDoS

Esse é um estudo descritivo-exploratório, transversal, prospectivo e correlacional que utilizou os recursos da abordagem quantitativa. O estudo foi desenvolvi-do em uma Unidade de Terapia Intensiva em Cardio-logia e Unidade de Terapia Intensiva Geral de um hospital geral, privado e de grande porte, localizado no município de São Paulo. A população do estudo foi composta pelos enfermeiros que atuavam como intensivistas na Unidade de Terapia Intensiva de Car-diologia e Geral citada no campo de estudo em seus diversos turnos de trabalho.

Os critérios de inclusão para participar no estudo fo-ram aceitar participar do estudo, preencher e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido; ser funcio-nário há, no mínimo, um ano na unidade descrita onde foi realizado o estudo. Para o levantamento dos dados, foram utilizados dois instrumentos, sendo um deles ela-borado pelos autores da pesquisa contendo duas partes: a parte 1 aborda dados demográficos, como sexo, idade, estado civil e filhos; e a parte 2 aborda características profissionais como titulação, turno de trabalho, tempo de experiência profissional, tempo de experiência na ins-tituição hospitalar, carga horária semanal no trabalho, número de pacientes que atende diariamente e se traba-lha exclusivamente na instituição. O outro instrumento é o inventário de Maslach e Jackson (Maslach Burnout Inventory – MBI – versão HSS – Human Services Sur-vey) desenvolvido por Maslach e Jackson para avaliar a síndrome de burnout em suas três dimensões(5).

No Brasil, o inventário MBI-HSS foi traduzido e validado por Liana Lautert em 1997(12). Nesse estudo ela verificou os escores de burnout em relação aos sen-timentos pessoais e atitudes do profissional em seu tra-balho e frente aos pacientes e demais profissionais da equipe de saúde.

Esse inventário contém 22 questões, sendo nove itens relacionados à exaustão emocional; cinco relacio-nados com a despersonalização e oito itens relaciorelacio-nados à baixa realização pessoal no trabalho. Cada item indica

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a frequência das respostas em uma escala de pontuação que vai de zero (0) a quatro (4). Sendo (0) para “nun-ca”, (1) para “algumas vezes ao ano”, (2) para “algumas vezes ao mês”, (3) para indicar “algumas vezes na sema-na” e (4) para indicar “diariamente”(12).

Como não existe consenso na literatura para a inter-pretação da pontuação do inventário MBI-HSS foram utilizados tanto os critérios de Ramirez et al.(13) e Grun-feld et al.(14). Os primeiros definem burnout pela presen-ça das três dimensões em níveis altos, enquanto que os segundos aceitam apenas uma, independente de qual seja, para fazer o diagnóstico de síndrome de burnout. Os dados foram coletados no decorrer do segundo se-mestre do ano de 2007, após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do hospital onde os dados foram coletados. Após a confirmação e o preenchimento do termo de consentimento livre e esclarecido, esses enfer-meiros preencheram o instrumento de caracterização da amostra e o inventário MBI-HSS, respectivamente.

Os instrumentos foram aplicados para os enfermei-ros de todos os turnos de trabalho, sendo preenchidos no local e recolhidos em seguida, garantindo assim maior número e maior confiabilidade. A correlação entre as variáveis demográficas e ocupacionais foi fei-ta utilizando-se o teste de associação pelo χ2 ou Fisher para as variáveis qualitativas e o teste de diferença de médias para as variáveis quantitativas.

rESUltADoS

A população foi, em sua maioria, composta por mu-lheres (85%) na faixa etária compreendida entre 31 e 37 anos de idade (47%), e o estado civil predominante foi o casado (50%), especialistas na área (80%), com tempo de trabalho na área de seis a dez anos (41,2%), tempo de trabalho na instituição de um a cinco anos (47%) e carga horária semanal de 36 horas (70%).

A confiabilidade do inventário de burnout para a po-pulação estudada foi verificada por meio do coeficiente de confiabilidade alfa de Cronbach. Os coeficientes de Cronbach foram acima de 0,70 (0,930, 0,792 e 0,895) para as dimensões: desgaste emocional, despersonali-zação e incompetência profissional respectivamente; o que caracteriza estes indicadores como confiáveis.

Pode-se observar na Tabela 1 a distribuição dos enfermeiros segundo o nível de cada uma das di-mensões do burnout. Uma porcentagem desses en-fermeiros apresentou baixo/moderado nível em duas dimensões do burnout concomitantemente: desgaste e despersonalização (73,53%). Por outro lado, nove enfermeiros (26,47%) apresentaram alto nível em, pelo menos, uma das duas dimensões. Dez enfermei-ros (29,41%) apresentaram alto nível na dimensão incompetência profissional.

Os enfermeiros com alto nível em pelo menos uma das dimensões do burnout totalizaram 28 enfermeiros. Com alto nível em desgaste emocional foram nove (26,47%); alto nível em despersonalização também fo-ram nove (26,47%); e alto nível em incompetência pro-fissional, totalizaram dez (29,41%).

Dos 29 enfermeiros do sexo feminino, nove (31%) apresentaram desgaste emocional e despersonalização em alto nível, contra zero (0,0%) dos cinco enfermeiros do sexo masculino. Na dimensão incompetência profis-sional, ambos se equipararam (20% para cada).

A Tabela 2 mostra que dos 11 enfermeiros casados, quatro (36,4%) possuíam um alto nível de desgaste emo-cional, três (27,3%) alto nível em despersonalização, e três (27,3%) na dimensão incompetência. Em contrapartida, dos 17 enfermeiros solteiros, três apresentaram alto nível de desgaste emocional (17,6%); três despersonalização e (17,6%) e dois incompetência profissional (11,8%).

indicadores n %

Baixo/moderado nível em duas dimensões do burnout 25 73,53

Alto nível de desgaste emocional 9 26,47

Alto nível de despersonalização 9 26,47

Baixo/moderado nível de incompetência profissional 24 70,59 Alto nível de incompetência profissional 10 29,41

total 34 100,0

tabela 1. Distribuição dos enfermeiros segundo apresentação de desgaste,

despersonalização e incompetência profissional

Estado civil

Desgaste

emocional Despersonalização incompetência Alto baixo Alto baixo Alto baixo

Solteiro 3 14 3 14 2 15

Casado 4 7 3 8 3 8

Divorciado 1 3 1 3 2 2

Amasiado 0 1 1 0 0 1

Outros 1 0 1 0 0 1

tabela 2. Associação entre desgaste emocional, despersonalização,

incompetência e o estado civil

número de filhos

Desgaste emocional Despersonalização incompetência Alto baixo Alto baixo Alto baixo

Nenhum 5 19 6 18 6 18

1 2 3 3 2 1 4

2 1 2 0 3 0 3

3 ou mais 1 1 0 2 0 2

tabela 3. Associação entre desgaste emocional, despersonalização e

incompetência profissional e a variável número de filhos

Na Tabela 3 visualiza-se que 24 enfermeiros não pos-suem filhos. Destes, cinco (20,8%) deles tinham um alto nível de desgaste emocional, seis (25%) em despersona-lização e seis (25%) em incompetência profissional. Já os que possuíam um filho (cinco enfermeiros), dois (40%) possuíam um alto nível de desgaste emocional, três (60%) em despersonalização e um (20%) em incompetência.

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Na Tabela 4 verifica-se a titulação do enfermeiro em associação às três dimensões do burnout. Pode-se ver que os enfermeiros que possuíam especialização apresenta-ram níveis maiores nas dimensões do burnout, ou seja, dos 28 especialistas, nove apresentaram alto níveis de desgaste emocional; oito despersonalização e cinco incompetência, quando comparados com os que não possuíam titulação. Nota-se que alguns enfermeiros especialistas apresenta-ram alteração em mais de uma das dimensões de burnout.

titulação Desgaste emocional Despersonalização incompetência Alto baixo Alto baixo Alto baixo

Nenhuma 0 3 1 2 1 2

Especialista 9 19 8 20 5 23

Mestre 0 2 0 2 0 2

Doutor 0 1 0 1 1 0

tabela 4. Associação entre desgaste emocional, despersonalização e

incompetência profissional e a variável titulação

tempo de trabalho na área

Desgaste emocional Despersonalização incompetência Alto baixo Alto baixo Alto baixo

0 a 5 anos 1 5 1 5 1 5

6 a 10 anos 4 10 3 11 2 12

11 a 15 anos 2 7 3 6 3 6

16 a 20 anos 1 2 1 2 1 2

Mais de 20 anos 1 1 1 1 0 2

Total (de casos

estudados) 34 34 34 34 34 34

tabela 5. Associação entre desgaste emocional, despersonalização,

incompetência profissional e a variável tempo de trabalho na área

tempo de trabalho na instituição

Desgaste emocional Despersonalização incompetência Alto baixo Alto baixo Alto baixo

1 a 5 anos 2 13 3 12 2 13

6 a 10 anos 4 8 4 8 3 9

11 a 15 anos 3 3 2 4 2 4

16 a 20 anos 0 1 0 1 0 1

tabela 6. Associação entre desgaste emocional, despersonalização,

incompetência e a variável tempo de trabalho na instituição

Na Tabela 7 encontra-se descrita a relação da car-ga horária semanal com as três dimensões de burnout. Percebe-se que os enfermeiros com maior alteração nas três dimensões de burnout foram aqueles com car-ga horária semanal de 36 horas. Desta forma, dos 24 enfermeiros que trabalhavam 36 horas semanais, seis apresentaram alto nível de desgaste emocional, cinco despersonalização e quatro incompetência; quando comparados com aqueles que tinham uma carga horá-ria maior. Aqui, também é possível observar que alguns enfermeiros apresentaram alteração em mais de uma dimensão de burnout.

Carga horária semanal

Desgaste emocional Despersonalização incompetência Alto baixo Alto baixo Alto baixo

36 horas 6 18 5 19 4 20

40 horas 1 6 6 5 2 5

75 horas 2 1 1 1 1 2

tabela 7. Associação entre desgaste emocional, despersonalização,

incompetência e a variável carga horária semanal

A Tabela 8 demonstra a correlação entre trabalhar em mais de uma instituição com as três dimensões de

burnout. Observa-se que os enfermeiros com maior

alte-ração nas três dimensões de burnout foram aqueles que trabalhavam apenas em uma instituição. Desse modo, dos 30 enfermeiros que tinham apenas um vínculo de traba-lho, nove apresentaram alto nível de desgaste emocional, nove despersonalização, e cinco incompetência. Aqui também é possível observar que alguns dos enfermeiros tiveram alteração em mais de uma das dimensões.

A Tabela 9 apresenta a associação entre as três di-mensões do burnout e o número de pacientes cuidados pelos enfermeiros por dia. Percebe-se que aqueles que cuidavam de cinco a seis pacientes por dia apresenta-vam maior alteração nas três dimensões de burnout. Assim, dos 15 enfermeiros que cuidavam de cinco pa-cientes por dia, três apresentaram alto nível de desgaste

trabalha em mais de uma instituição

Desgaste emocional Despersonalização incompetência Alto baixo Alto baixo Alto baixo

Não 9 21 9 21 5 25

Sim 0 4 0 4 2 2

tabela 8. Associação entre desgaste emocional, despersonalização,

incompetência e a variável trabalhar em mais de uma instituição

Na Tabela 5 observa-se a associação entre o tempo de trabalho na área com as três dimensões de burnout. Verifica-se que os enfermeiros que possuíam tempo de trabalho na área entre 6 e 15 anos apresentaram maior alteração nas três dimensões de burnout. Assim, dos 14 enfermeiros que tinham de seis a dez anos de trabalho, quatro apresentaram alto nível de desgaste emocional, três despersonalização e dois incompetência. Dos en-fermeiros que tinham de 11 a 15 anos de trabalho, dois apresentaram desgaste emocional, três despersonaliza-ção e três incompetência; sendo que alguns deles apre-sentaram alteração em mais de uma das dimensões.

A Tabela 6 refere-se ao tempo de trabalho na insti-tuição correlacionado com as três dimensões de burnout. Desta forma, pode-se ver que os enfermeiros com maior alteração nas três dimensões foram aqueles com 6 a 10 anos de trabalho na instituição. Assim, dos oito en-fermeiros com seis a dez anos de trabalho na instituição, quatro apresentaram alto nível de desgaste emocional, quatro despersonalização e três incompetência. Contu-do, aqueles que possuíam até cinco anos e aqueles com 11 a 15 anos de trabalho na instituição apresentaram maior alteração em uma das dimensões do burnout.

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DiSCUSSÃo

Para determinar as alterações nas dimensões do

bur-nout

foram verificados, a princípio, os escores de cada dimensão. O escore apresentado pelos enfermeiros nas três dimensões do

burnout

é bastante semelhante ao encontrado na pesquisa de validação do instrumento MBI-HSS no Brasil(12).

Os enfermeiros com alto nível em pelo menos uma das dimensões do

burnout

totalizaram 28, sendo assim distribuídos: desgaste emocional (nove; 26,47%); des-personalização (nove; 26,47%); e incompetência profis-sional (10; 29,41%).

Alguns pontos devem ser destacados com relação às características demográficas e ocupacionais da população estudada. Um deles é que a maior parte da população era composta por mulheres, o que é relatado em alguns estu-dos como um fator predisponente ao burnout(15-17). Assim, verificou-se que, dos 29 enfermeiros do sexo feminino, a maioria apresentou desgaste emocional e despersonali-zação em alto nível. Os enfermeiros do sexo masculino apresentaram desgaste emocional e despersonalização em baixo nível; já com relação à dimensão incompetên-cia profissional os dois gêneros se equipararam.

Sendo assim foi constatado que as mulheres são mais estressadas. Isto pode ser decorrente da dedicação às atividades relacionadas à vida em família e atividades domésticas.

No que se refere à idade, a maior parte do grupo analisado possuía entre 31 a 37 anos de idade, ou seja, indivíduos relativamente jovens, o que é relatado em alguns estudos sobre o burnout como um fator que pre-dispõe à síndrome, já que pessoas mais jovens teriam alta expectativa frente ao trabalho(18-20).

Com relação ao estado civil, obteve-se que entre os enfermeiros casados, a maioria apresentou altos níveis

de burnout. Esse resultado vai em direção contrária ao que relata a literatura, em que o estado civil casado ser-ve como um fator protetor contra o burnout(21-22).

A maioria não possuía filhos, mas apresentavam des-vios nas dimensões do burnout para altos níveis. Propor-cionalmente, os enfermeiros com filhos apresentaram pequena discrepância nas dimensões de burnout em des-gaste emocional e despersonalização e baixa incompetên-cia quando relacionados com aqueles que não possuem filhos. Isto se contrapõe aos achados da literatura, que demonstram que sujeitos com filhos apresentam menor índice de exaustão emocional e descrevem que a estabili-dade afetiva e o fato de ser pai ou mãe melhoram o equilí-brio do indivíduo para resolver situações conflitantes(21-22). Acreditamos, porém, que neste estudo torna-se difícil a comparação, já que o número de enfermeiros sem filhos foi muito superior ao de enfermeiros com filhos, fato que poderia estar influenciando o resultado.

Com relação ao tempo de trabalho na área, os en-fermeiros que possuíam tempo de trabalho entre 6 e 15 anos apresentaram mais alterações nas três dimensões de burnout. Isto corrobora os dados da literatura sobre o

burnout, que evidencia uma relação entre um maior

tem-po de atuação e o desenvolvimento da síndrome. Alguns autores descreveram que após um tempo maior de atu-ação na profissão, o profissional pode entrar em um pe-ríodo de sensibilização, tornando-se mais vulnerável. Essa sensibilização deve-se ao fato de que, após esse tempo de exercício profissional, já houve a transição das expectati-vas idealistas iniciais da profissão para a prática cotidiana, visualizando-se que as recompensas pessoais, profissionais e econômicas não são as mesmas daquelas esperadas(13,23). Com relação à titulação na área de enfermagem a maioria dos enfermeiros possuía especialização em en-fermagem. Os especialistas apresentaram mais desvios nas dimensões do burnout (níveis mais altos), sendo nove deles em desgaste emocional, oito em despersona-lização e cinco em incompetência.

Nesta pesquisa identificou-se que os enfermeiros especialistas na área apresentaram mais alterações no

burnout, o que vai em direção contrária ao relatado em

literatura. Pode ser que o que leva estes enfermeiros ao burnout não esteja diretamente relacionado à essên-cia do trabalho, já que possuir espeessên-cialização na área atuaria como um fator protetor contra o burnout. Ou-tros fatores poderiam influenciar no desenvolvimento da síndrome, como o excesso de cobranças por parte da administração e chefia ou os resultados e fatores in-trínsecos ao trabalho, e outras variáveis que não foram estudadas nesta pesquisa(24).

Com relação à carga horária percebe-se que os en-fermeiros com maior alteração nas três dimensões de

burnout foram aqueles com carga horária semanal de

36 horas, quando comparados com aqueles que tinham número de

pacientes por dia

Desgaste emocional Despersonalização incompetência Alto baixo Alto baixo Alto baixo

5 3 13 4 12 3 13 6 4 5 3 6 3 6 7 1 1 1 1 1 1 8 0 1 1 0 0 1 11 0 5 0 5 0 5 22 1 0 0 1 0 1

tabela 9. Associação entre desgaste emocional, despersonalização,

incompetência com o número de pacientes cuidados por dia

emocional, quatro despersonalização, três incompe-tência; e dos nove enfermeiros que cuidavam de mais pacientes (seis) por dia, quatro apresentaram alto nível de desgaste emocional, três despersonalização e três in-competência. Alguns destes enfermeiros apresentavam alteração em mais de uma das dimensões.

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uma carga horária maior, embora esses últimos fossem em menor número. Os achados da literatura indicam que uma dupla jornada de trabalho, que poderia aumentar a carga horária semanal, levaria a um desgaste emocional maior(25). Esse resultado ocorreu em função da diferença entre o número de enfermeiros com carga horária menor e maior, o que torna difícil a comparação.

Mesmo sendo a maior parte dos enfermeiros traba-lhadores em somente uma instituição, a maioria teve desvios nas dimensões do burnout. Desses enfermeiros, a maioria apresentou algum tipo de desvio nas dimensões. Com relação ao número de pacientes cuidados per-cebe-se que aqueles que cuidavam de cinco a seis pa-cientes por dia apresentavam maior alteração nas três dimensões de burnout do que aqueles que cuidavam de mais pacientes. Pode-se inferir que não é o número de instituições em que se trabalha ou o número de pa-cientes cuidados que leva esses profissionais ao burnout, mas talvez outras variáveis estejam atuando(26-27).

ConClUSÕES

Quanto à identificação de burnout, concluiu-se que nove enfermeiros (26,47%) apresentam alto nível de desgaste emocional; nove (26,47%) enfermeiros apre-sentam alto nível de despersonalização e 10 (29,41%) enfermeiros apresentam alto nível de incompetência profissional. Quanto à identificação de burnout corre-lacionando os dados demográficos e ocupacionais, con-cluímos que dos 29 enfermeiros do sexo feminino, nove (31%) apresentaram desgaste emocional e despersona-lização em alto nível, e dos cinco enfermeiros do sexo masculino nenhum apresentou desgaste emocional e despersonalização em alto nível.

Com relação à dimensão incompetência profissional, os dois sexos se equipararam (20% cada em nível alto). Quanto ao estado civil, dos 11 enfermeiros casados, 10 possuíam alto nível em alguma das dimensões. Dos 17 enfermeiros solteiros, oito apresentaram alto nível em alguma dimensão. Dos cinco enfermeiros que possuíam um filho, houve seis alterações nas dimensões. Dos 24 enfermeiros que não possuíam filhos, houve 17 altera-ções nas dimensões do burnout. Referente à especiali-zação dos três enfermeiros que não possuíam titulação na área de enfermagem, dois apresentaram alteração.

rEFErÊnCiAS

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Referências

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