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Fisioterapia e complicações físico-funcionais após tratamento cirúrgico do câncer de mama

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Fisioterapia e complicações físico-funcionais após tratamento

cirúrgico do câncer de mama

Physical therapy and physical-functional complications after breast

cancer surgical treatment

Adriane Pires Batiston

1

, Silvia Maria Santiago

2

Fisioterapeuta; Mestre em Saúde Coletiva pela U n i c a m p ; Profa. do Curso de Fisioterapia da Universidade Católica Dom Bosco ( U C D B ) Profa. Dra. do Depto. de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médicas ( F C M ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) (orientadora)

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA

Adriane P. Batiston R. Robert Spengler 42 Jardim Monte Líbano 79004-070 Campo Grande M S e-ma/7: apbatiston@ucdb.br; santiago@fcm.unicamp.br Artigo extraído da dissertação de mestrado em saúde coletiva apresentada por Adriane P. Batiston ao Depto. de Medicina

Preventiva e Social da F C M da Unicamp em 7 maio 2003.

Trabalho apresentado sob forma de pôster e destacado com menção honrosa no V I Congresso Brasileiro de Epidemiologia realizado em Recife, 19-23 jun. 2004.

ACEITO PARA PUBLICAÇÃO

maio 2005

RESUMO: Sabe-se que o tratamento cirúrgico do câncer de mama ( C M ) pode p r o p i c i a r o surgimento d e c o m p l i c a ç õ e s f í s i c o - f u n c i o n a i s no b r a ç o homolateral, devido à dissecção dos linfonodos axilares. O objetivo deste estudo foi verificar a relação entre a freqüência de tais complicações e o momento do encaminhamento para programa de recuperação fisioterápica. Foram estudadas as fichas de avaliação fisioterapêutica de 160 pacientes encaminhadas ao Setor de Fisioterapia pelo Serviço de O n c o l o g i a do Hospital Universitário da U F M S entre janeiro de 1998 e dezembro de 2 0 0 1 , verificando-se o momento do encaminhamento ao fisioterapeuta e sua relação com as complicações observadas; os dados foram submetidos a estatística descritiva, com significância de 5 % . As complicações observadas foram: limitação do movimento do ombro (61,9%), dor (32,5%), linfedema (29,4%), aderência cicatricial (3,1%) e alterações sensitivas (2,5%); 19,4% das mulheres não apresentavam c o m p l i c a ç õ e s . O s encaminhamentos médicos foram em maioria para tratamento de complicações instaladas ( 7 6 , 9 % ) , mais d o q u e para p r e v e n ç ã o ( 2 3 , 1 % ) . A a s s o c i a ç ã o entre complicação e encaminhamento tardio foi significativa para limitação do m o v i m e n t o , d o r e l i n f e d e m a . E n t r e as m u l h e r e s e n c a m i n h a d a s precocemente, a maioria não apresentava c o m p l i c a ç ã o . Embora sejam sabidos os riscos de c o m p l i c a ç õ e s e m decorrência da cirurgia para o tratamento do C M , muitas mulheres só são encaminhadas à fisioterapia quando já apresentam complicação instalada, diminuindo as possibilidades de uma completa recuperação fisico-funcional.

DESCRITORES: N e o p l a s i a s m a m á r i a s / c i r u r g i a ; N e o p l a s i a s m a m á r i a s / complicações; Técnicas de fisioterapia; Neoplasias

ABSTRACT: Breast cancer (BC) surgical treatment is knowingly liable to bring about physical-functional complications at the homolateral arm/shoulder, as a result of axillary lymph node dissection. This study aimed at examining the relationship between frequency of such complications and the moment of patients' referral to physical therapy. The physiotherapeutic records of 160 patients referred to the Physical Therapy Sector by the Oncology Service of the University Hospital between January, 1998 and December, 2001 were analysed in order to check the moment of referral and its relation to observed c o m p l i c a t i o n s , the data being submitted to descriptive statistics with significance set at 5 % . O b s e r v e d complications w e r e shoulder motion limitation (61,9%), pain (32,5%), lymphedema (29,4%), scar adherence (3,1 % ) and sensitive alterations (2,5%); 19,4% of the w o m e n didn't present any complication. In most cases patients were referred after complications took place (76,9%) rather than to prevent them (23,1 % ) . Association between delayed referral and complication w a s significant for shoulder motion limitation, pain, and lymphedema. Amongst the early-referred w o m e n , most did not present any complication. Although the risks of complications following B C surgery are well known, many w o m e n are only referred to physical therapy after complication is installed, thus reducing chances of full physical-functional recovery.

K E Y WORDS-. Breast neoplasms/surgery; Breast n e o p l a s m s / c o m p l i c a t i o n s ; Physical therapy techniques; Neoplasms

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Complicações físico-funcionais após cirurgia da mama Batiston& Santiago

do membro envolvido são freqüen-temente observados e relatados p e l a s m u l h e r e s o p e r a d a s da m a m a4'5'7 9, e são considerados as

mais difíceis conseqüências do tratamento do câncer de mama, já que interferem na qualidade de vida das m u l h e r e s4 1 0.

O desenvolvimento de c o m -plicações físicas no membro su-perior homolateral após a cirurgia pode ser reduzido se as mulheres tiverem um suporte pós-operatório. U m programa fisioterapêutico ini-ciado precocemente reduz o risco de aparecimento dessas c o m -p l i c a ç õ e s1 1'1 2. Camargo e M a r x1 3

enfatizam que avanços significa-tivos foram observados na tera-pêutica do câncer de mama, sina-lizando para a necessidade da abordagem interdisciplinar das pacientes, visando não somente a cura do câncer mas sua completa reabilitação, nos âmbitos físico, psicológico, social e profissional. Segundo Shea, Kleban e Knauer1 4,

o objetivo da reabilitação física deve ser a restauração da faixa pré-morbida de m o v i m e n t o do ombro, manutenção da função da extremidade envolvida e retorno à postura pré-operatória. A mobi-lização do ombro, quando reali-zada p r e c o c e m e n t e , auxilia no restabelecimento da função do membro e desperta na mulher o sentimento de i n d e p e n d ê n c i a , além de estimular sua percepção em relação a importância da qua-lidade de vida no processo de tra-tamento do câncer de mama.

Diversos autores c o n c o r d a m que o tratamento fisioterapêutico pós-operatório é decisivo na pre-venção das complicações decor-rentes da dissecção axilar para tra-tamento do câncer de m a m a1 1 1 2.

A atuação fisioterápica deve c o -meçar o mais precocemente pos-sível, sendo que a introdução da cinesioterapia nos primeiros dias após a cirurgia pode trazer inúme-ras vantagens para a p a c i e n t e , como prevenção do linfedema, de retrações miotendíneas, dor e di-m i n u i ç ã o f u n c i o n a l do odi-mbro, além do encorajamento ao retor-no precoce de suas a t i v i d a d e s1 5 1 6.

A l é m da reabilitação física, a fi-sioterapia desempenha um impor-tante papel na recuperação da mulher operada da mama, forne-cendo informações e suporte de forma a ajudar a paciente a atin-gir um sentimento de controle, numa situação que ameaça seu mundo emocional e físico1 4.

A partir da década de 70, sur-giu um maior interesse nos progra-mas de reabilitação que utilizam exercícios. Esses programas, com o passar do tempo, tiveram seu caráter reabilitativo substituído pelo preventivo, visando a mini-m i z a ç ã o do a p a r e c i mini-m e n t o d e c o m p l i c a ç õ e s , r e s u l t a n d o e m melhoria da qualidade de vida das pacientes1 6.

Embora a necessidade do acom-panhamento fisioterapêutico após a cirurgia da mama seja amplam e n t e c o n h e c i d a , amplamuitas amplam u -lheres são encaminhadas ao fi-sioterapeuta tardiamente, quando já apresentam complicações ins-taladas, diminuindo as chances de uma completa recuperação físico-funcional.

O objetivo deste estudo foi v e r i f i c a r a r e l a ç ã o e n t r e a f r e -qüência de complicações físico-funcionais decorrentes do trata-mento c i r ú r g i c o do c â n c e r de mama e o momento de encami-nhamento de pacientes à fisiote-rapia, c o m base na hipótese do papel do início precoce da reabi-litação fisioterápica na prevenção de tais complicações.

METODOLOGIA

Foram estudados os prontuários m é d i c o s e fichas de a v a l i a ç ã o fisioterapêutica de 160 mulheres submetidas a tratamento cirúrgi-co de câncer de mama, atendidas no Ambulatório de Fisioterapia do Serviço de Oncologia do Hospi-tal Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da Universidade Fede-ral de Mato Grosso do Sul. Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo do tipo transversal, onde foram coletadas informações referentes às m u l h e r e s e n c a m i -nhadas ao setor de fisioterapia no O câncer de mama

apresenta-se como um grave problema de saúde pública em todo o mundo e no Brasil é a neoplasia maligna mais incidente na população fe-minina1. N o Mato Grosso do Sul o

Instituto N a c i o n a l d e C â n c e r ( I N C A ) estimou q u e , e m 2 0 0 3 , seriam diagnosticados 460 novos casos da doença, sendo 240 na c a p i t a l2.

U m importante fator prognóstico do câncer de mama é o diagnós-tico precoce. Q u a n d o detectado e m estádio inicial, o tumor apresenta altos índices de cura; e n -tretanto, no Brasil, cerca de 6 0 % dos diagnósticos iniciais do c â n -cer de mama são realizados em estádios avançados1, sendo a

abor-dagem cirúrgica inevitável para o tratamento da doença.

A v a n ç o s significativos foram observados nas últimas décadas no que se refere ao tratamento cirúrgico do câncer de mama, a partir da mastectomia clássica descrita por Halsted e m 1894. Modificações das técnicas cirúr-gicas foram realizadas c o m méto-dos q u e preservam o m ú s c u l o grande peitoral (Patey e Dyson) ou ambos os peitorais (Madden), que passaram a ser conhecidas c o m o mastectomia radical modificada3,

chegando até as cirurgias conser-vadoras, mais conhecidas c o m o quadrantectomia e tumorectomia, sendo as técnicas radicais então substituídas por procedimentos menos mutilantes, q u e propor-cionam melhores resultados esté-ticos e psicológicos.

Independente da técnica radi-cal ou conservadora, a dissecção axilar tem sido um tratamento c i -rúrgico padrão para o câncer de mama. Esse procedimento, quan-do realizaquan-do d e forma isolada, mas principalmente em conjunto com a radioterapia pós-operatória, pode causar morbidade severa no membro superior homolateral à cirurgia4 6. Problemas c o m o

linfe-dema, dor, parestesias, diminuição da força muscular e redução da amplitude de movimento ( A D M )

(3)

período entre janeiro de 1998 e dezembro de 2 0 0 1 .

Para coleta sistemática dos da-dos, foi elaborada uma ficha onde foram registradas as informações necessárias, tais c o m o : idade no momento do diagnóstico, estadia-mento clínico do câncer de mama, tipo de cirurgia realizada, mo-mento do e n c a m i n h a m e n t o ao acompanhamento fisioterápico; e presença de complicações físico-funcionais avaliadas pelo fisiote-rapeuta e relatadas pela própria paciente e m caso de subjetivi-dade, como dor e parestesia.

O projeto de pesquisa foi apro-v a d o pelo C o m i t ê de Ética e m Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas.

O s dados c o m p i l a d o s foram submetidos à análise estatística descritiva e testes n ã o p a r a m é -tricos como o Qui-quadrado e o teste exato de Fisher, com nível de significância de 5 % .

RESULTADOS

A idade média das mulheres e s t u d a d a s no m o m e n t o d o diagnóstico do câncer de mama foi de 52,3 anos de idade (28-85). Em relação à forma de detecção da doença, 78,8% dos tumores foram detectados pela própria pa-ciente, 17,5% pelo exame clíni-co das mamas realizado por mé-dico ou profissional de saúde ha-bilitado, e 3,7% dos casos foram d i a g n o s t i c a d o s por m e i o d e mamografia. A grande maioria dos tumores foi diagnosticada em es-tádios II e III ( 8 6 , 1 % ) , s e n d o 11,9% detectados precocemente (estádio I); 1,9% das mulheres apresentavam a d o e n ç a já dis-seminada (estádio I V ) . O trata-mento cirúrgico radical foi reali-zado em 68,8% das mulheres e 3 1 , 2 % foram submetidas a pro-cedimento cirúrgico conservador. A radioterapia pós-operatória foi realizada em 86,2% das pacientes.

Entre as complicações físicof u n c i o n a i s o b s e r v a d a s , a l i m i -tação da A D M estava presente em 61,9% das mulheres; 3 2 , 5 %

re-T a b e l a 1 D i s t r i b u i ç ã o d a s p a c i e n t e s a t e n d i d a s s e g u n d o a c o m p l i c a ç ã o d e s e n v o l v i d a C o m p l i c a ç ã o F r e q ü ê n c i a P e r c e n t u a l L i m i t a ç ã o d a A D M 99 61,9 D o r 52 32,5 L i n f e d e m a 47 29,4 A d e r ê n c i a c i c a t r i c i a l 5 3,1 A l t e r a ç õ e s sensitivas 2,6 3,3 N e n h u m a 31 19,4 T a b e l a 2 D i s t r i b u i ç ã o d a s p a c i e n t e s a t e n d i d a s e o t i p o d e c i r u r g i a r e a l i z a d a s e g u n d o a c o m p l i c a ç ã o d e s e n v o l v i d a ~ ,. ~ c. . r • i T i p o d e c i r u r g i a C o m p l i c a ç ã o f i s i c o - f u n c i o n a l r ° C o n s e r v a d o r a (%) R a d i c a l ( % ) p - v a l o r L i m i t a ç ã o d e m o v i m e n t o 87,2 72,2 0,07 D o r 4 1 , 0 4 0 , 0 0,91 L i n f e d e m a 28,2 4 0 , 0 0,20 A d e r ê n c i a c i c a t r i c i a l 0,0 5,5 0,13 A l t e r a ç õ e s sensitivas 2,6 3,3 0,82 N e n h u m a 2 2 , 0 18,2 0,57 T a b e l a 3 D i s t r i b u i ç ã o d a s p a c i e n t e s a t e n d i d a s se£ d o e n c a m i n h a m e n t o a o fisioterapeuta ^undo a c o m p l i c a ç ã o e m o m e n t o C o m p l i c a ç ã o f í s i c o - f u n c i o n a l M o m e n t o d o e n c a m i n h a m e n t o P r e c o c e Tardio p-valor L i m i t a ç ã o d e A D M 13,5 76,4 < 0 , 0 0 0 1 * D o r 8,1 39,8 < 0,0001 * L i n f e d e m a 2,7 37,4 < 0,0001 * A d e r ê n c i a c i c a t r i c i a l 0,0 4,1 0,26 A l t e r a ç õ e s sensitivas 2,7 2,4 0,43 N e n h u m a 78,4 1,6 < 0 , 0 0 0 1 *

lataram dor e 2 9 , 4 % apresenta-v a m linfedema. J á a a d e r ê n c i a c i c a t r i c i a l estava presente e m 3 , 1 % das mulheres; 2 , 5 % apre-sentavam alterações sensitivas e 19,4% das mulheres não apresen-tavam c o m p l i c a ç õ e s (Tabela 1). O tipo de cirurgia não esteve re-lacionado ao desenvolvimento de c o m p l i c a ç õ e s físico-funcionais (Tabela 2). Em relação ao momen-to d o e n c a m i n h a m e n t o d a s pacientes à intervenção fisiotera-pêutica, os encaminhamentos por parte dos médicos foram em maio-ria realizados objetivando o tra-tamento de complicações instala-das (76,9%), quando comparados aos encaminhamentos para pre-v e n ç ã o das mesmas (23,1%) (p-<0.0001).

O encaminhamento tardio apre-sentou a s s o c i a ç ã o significativa c o m a presença da limitação da A D M (p<0,0001), dor (p<0,0001) e linfedema (p<0,0001), e o início p r e c o c e da reabilitação fisioter á p i c a a s s o c i o u s e s i g n i f i c a t i

vamente com a ausência de c o m -plicações (p<0,0001), como des-crito na Tabela 3. N ã o foi obser-vada relação entre uso da radio-terapia e d e s e n v o l v i m e n t o d e linfedema (p=0,45) ou de limita-ção da A D M (p=0,84).

DISCUSSÃO

Q u a n d o s u b m e t i d a s à d i s -secção axilar para tratamento do câncer de mama, as mulheres ope-radas aumentam o risco de desen-volver c o m p l i c a ç õ e s físico-fun-cionais no membro superior homolateral à cirurgia. O d e s e n -volvimento de complicações pós-operatórias pode variar de acordo c o m a técnica empregada, mas seu aparecimento independe da técnica cirúrgica utilizada6.

Nas pacientes incluídas no pre-sente estudo, o b s e r v o u - s e q u e grande parte das mulheres apre-sentaram limitação da A D M do ombro homolateral. Essa compli-c a ç ã o tem sido descompli-crita compli-c o m o

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bastante comum entre as subme-tidas à cirurgia, e parece ser in-fluenciada por fatores como a ex-tensão da abordagem cirúrgica axilar, a realização da radiote-rapia pós-operatória e infecções4 5.

A dor e o medo ao realizar cinesiote-rapia no período pós-operatório imediato podem contribuir para a instalação dessa complicação, que pode evoluir para uma deformidade permanente quando não tratada5 1 7.

Em seu estudo, Tengrup ef a / .1 7

relatam que 4 9 % das pacientes avaliadas desenvolveram proble-mas na mobilidade do ombro após a cirurgia. A radioterapia pode ocasionar diversas complicações imediatas e tardias, sendo a fibrose juncional do ombro intimamente ligada ao déficit de movimento do ombro e n v o l v i d o1 8. Conforme já

descrito, a grande maioria das pacientes estudadas foi submeti-da à radioterapia; no entanto, não foi encontrada associação signifi-cativa entre o uso da terapêutica e limitação da A D M .

A informação quanto à exten-são da abordagem cirúrgica axi-lar (número de linfonodos e níveis retirados) não estava disponível, não sendo possível associar qual-quer tipo de complicação à dis-secção axilar.

A limitação da A D M é a c o m -plicação pós-cirúrgica que mais justifica o encaminhamento para o fisioterapeuta, na opinião de médicos e das próprias pacientes, principalmente naquelas mulheres que serão submetidas à radiote-rapia, pois a posição ideal para a irradiação é uma abdução c o m -binada com uma rotação externa do ombro a 9 0 ° . Para alcançar em tempo hábil essa postura apro-p r i a d a apro-p a r a a r e a l i z a ç ã o da radioterapia, é imprescindível que os encaminhamentos sejam reali-zados precocemente.

Outras três complicações e n -contradas neste estudo foram dor, alterações sensitivas e aderência cicatricial. As duas primeiras c o n -dições freqüentemente têm início no período pós-operatório e po-dem ser agravadas c o m a imobili-dade do ombro acometido.

O linfedema foi observado em 29,4% das pacientes deste estu-do. N ã o há consenso na literatura quanto à incidência dessa c o n -d i ç ã o . B r e n n a n , D e p o m p o l o e G a r d e m1 9 relatam que a incidência

do linfedema varia de 5,5% a 80%; para Petrek e H e e l a n1 0, essa

in-cidência varia entre 15 e 20%; e M o n d r y2 0 acredita que 6 % a 3 0 %

das mulheres irão desenvolver um linfedema em algum momento de sua vida após a cirurgia para cân-cer de mama. Diante do exposto, é i m p o r t a n t e ressaltar q u e o linfedema é uma condição crôni-ca e pode aparecer a qualquer mo-mento após a dissecção axilar2 1.

Alguns fatores influenciam o aparecimento do linfedema, tais c o m o extensão da abordagem c i -rúrgica axilar, infecções e a radi-o t e r a p i a4'5 2 2. C o m o já descrito, a

extensão da abordagem axilar não foi a v a l i a d a , i m p o s s i b i l i t a n d o comprovar a associação c o m o desenvolvimento do linfedema; e, quanto à radioterapia, não foi ob-s e r v a d a m a i o r p r e v a l ê n c i a d e linfedema nas mulheres a ela sub-metidas, quando comparadas com mulheres que não realizaram essa terapêutica. D e v e - s e considerar que o linfedema é uma condição bastante complexa, sendo neces-sário um estudo específico para melhor compreender o comporta-mento dessa patologia. Brennan, Depompolo e G a r d e m1 9 enfatizam

que o aparecimento de um leve aumento do volume do membro nos primeiros dias após a cirurgia é inevitável, e pode ser minimi-zado com elevação do membro e cinesioterapia precoce.

A ausência de qualquer uma das complicações investigadas foi observada em um número redu-zido de pacientes.

O tipo de cirurgia não apre-sentou relação c o m desenvolvi-mento de complicações, visto que as mesmas foram observadas tanto nas mulheres submetidas à c i -rurgia r a d i c a l , c o m o nas q u e conservaram a mama. Nesse sen-tido, a extensão da abordagem cirúrgica axilar pode estar relacio-nada com o desenvolvimento das

complicações descritas.

O principal fator investigado foi o momento do encaminhamento d a s m u l h e r e s à r e a b i l i t a ç ã o fisioterápica. O ideal é que o pro-grama de reabilitação fisioterápi-ca tenha início o mais precoce-mente possível, visando prevenir o aparecimento de tais complica-ções. N o entanto, esta pesquisa evidenciou que, no serviço estuda-do, a maior parte das pacientes é encaminhada para o tratamento com complicações já instaladas.

Foi constatado que as mulheres que apresentaram limitação de A D M , dor e l i n f e d e m a f o r a m e n c a m i n h a d a s tardiamente, ou seja, para tratamento de compli-cações, sendo estas passíveis de s e r e m p r e v e n i d a s c o m inter-venção fisioterapêutica precoce. A forte associação entre o início p r e c o c e da abordagem fisiote-rápica e a ausência de compli-cações físico-funcionais reforça a efetividade dessa a ç ã o na pre-venção de tais complicações.

Deve-se considerar que o aten-dimento fisioterapêutico no setor de Oncologia do Hospital Univer-sitário da U F M S teve início em janeiro de 1998, não sendo possí-vel, anteriormente a este período, um acompanhamento preventivo. Entretanto, evidencia-se a neces-sidade de disseminação de infor-mações em relação à importân-cia do acompanhamento fisiote-rapêutico após a cirurgia por cân-cer de mama entre os demais pro-fissionais de saúde do setor, pa-cientes e seus familiares e, princi-palmente, entre os médicos res-ponsáveis pelos tratamentos cirúr-gico e clínico das pacientes, pois a proporção de encaminhamentos m é d i c o s é s i g n i f i c a t i v a m e n t e maior para tratamento de compli-cações instaladas do que para a prevenção das mesmas.

CONCLUSÃO

Embora sejam conhecidos os riscos de d e s e n v o l v i m e n t o d e complicações em decorrência da cirurgia para o tratamento do cân-cer de mama, muitas mulheres são

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encaminhadas ao fisioterapeuta quando já apresentam uma c o m -plicação instalada, diminuindo as possibilidades de uma completa recuperação fisico-funcional. A alta freqüência de complicações físico-funcionais entre as mulhe-res estudadas está associada ao

momento do início do programa de reabilitação fisioterápica. Desta forma, muiDestas das c o m p l i c a -ções observadas poderiam ter sido prevenidas mediante a interven-ção precoce do fisioterapeuta.

C o m o d e s e n v o l v i m e n t o d e novas técnicas diagnosticas e

te-rapêuticas, grande parte das mu-lheres irão sobreviver ao câncer de mama. N o entanto, é impor-tante que essa sobrevivência seja plena, ou seja, que a mulher ope-rada da m a m a tenha acesso a uma completa reabilitação clí-nica, física, psicológica e social.

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(6)

Efeitos de um programa de exercícios físicos na tolerância ao esforço

de indivíduos com tuberculose pulmonar

Effects of a physical exercise program in the effort tolerance by

patients with pulmonary tuberculosis

l i t /

Viviane Viegas Rech

1

, Daisy Bervig

2

, Lenice Ferreira Rodrigues

2 ,

Cristiano Sanches

2

, Roberto Frota

2

1 Fisioterapeuta; Espec. em Ciências do Esporte e em Fisioterapia Pneumofuncional; Profa. do Curso de Fisioterapia da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) 2 Graduandos em Fisioterapia na ULBRA, vinculados ao Serviço de Fisioterapia do Hospital Sanatório Partenon, da Secretaria Estadual de Saúde, Porto Alegre (RS)

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA

Viviane Viegas Rech Av. João W a l l i g , 857/301 Bairro Passo da Areia 91340-000 Porto Alegre RS e-mail: vvrech@terra.com.br daisy.bervig@hotmail.com.br; lenicerf@Dol.com.br; cristianofisio@ig.com.br; r.frota@ig.com.br

ACEITO PARA PUBLICAÇÃO

iul. 2005

RESUMO: A tuberculose (TB) pulmonar é uma doença infecto-contagiosa que apresenta sintomas respiratórios c o m o tosse, expectoração purulenta, hemoptise, dispnéia e dor torácica. Poucos estudos têm considerado a limitação da c a p a c i d a d e de realizar exercícios na presença de doença pulmonar não-obstrutiva. Este estudo visou comparar a sensação de dispnéia, a saturação d e oxigênio e a distância percorrida durante o teste de caminhada de seis minutos em indivíduos c o m TB pulmonar hospitalizados. Participaram 50 indivíduos, 27 no grupo controle e 23 no grupo tratamento. A avaliação foi realizada pelo teste de caminhada dos 6 minutos quanto à distância percorrida, a freqüência respiratória e cardíaca, a saturação de oxigênio e a percepção de dispnéia. O grupo tratamento foi submetido a um programa de exercícios físicos (de 22 a 24 atendimentos), após o que foi realizada a r e a v a l i a ç ã o de a m b o s os grupos. Q u a n t o à distância percorrida, o grupo tratamento apresentou diferença estatisticamente significativa entre as duas avaliações, utilizando-se o teste t de Student, com uma média de 347,7m na a v a l i a ç ã o para 414,2m na reavaliação, e n q u a n t o no grupo c o n t r o l e não h o u v e d i f e r e n ç a estatisticamente significativa. Q u a n t o à dispnéia percebida, o grupo tratamento também apresentou diferença significativa. Conclui-se que indivíduos hospitalizados com T B pulmonar ativa melhoram seu condicionamento físico, quanto à distância percorrida na caminhada e à sensação de esforço percebido. DESCRITORES: Tuberculose pulmonar/reabilitação; Dispnéia; Teste de esforço;

Terapia por exercício

ABSTRACT: Pulmonary tuberculosis (TB) is an infectious, contagious disease with respiratory symptoms such as cough, purulent expectoration, hemoptysis, dyspnea, and thoracic pain. Few studies have considered the limitation of capacity to make exercises in the presence of non-obstructive pulmonary disease. The aim of this study was to compare dyspnea index, oxygen saturation and w a l k e d distance by pulmonary T B inpatients. Fifty patients w e r e distributed into two groups, 27 in the control group and 23 in the treatment group. The evaluation was made by the 6-minute walking test as to walked distance, respiratory and cardiac frequency, oxygen saturation and dyspnea index. The treatment group was submitted to a physical exercise program (from 22 to 24 days), after w h i c h patients of both groups were again submitted to evaluation. Following comparative statistical analysis (by means of the t-Student test) between the two evaluations for both groups, the treatment group showed significant difference in the walked distance (mean 347,7m at the first evaluation and 414,2m at the second one), whereas the control group showed no significant difference. As to dyspnea, the treatment group also presented statistically significant difference. Thus it may be said that pulmonary TB inpatients improved their physical condition, having increased walk distance and perceived less dyspnea after the exercise program. KEYWORDS: P u l m o n a r y tuberculosis/rehabilitation; D y s p n e a ; Exercise test;

Referências

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