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O INSTITUTO DO DANO MORAL DECORRENTE DA RELAÇÃO DE TRABALHO

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DEPARTAMENTO DE DIREITO PROCESSUAL CURSO DE DIREITO

MILENA PINHEIRO LIMA

O INSTITUTO DO DANO MORAL DECORRENTE DA RELAÇÃO DE TRABALHO

(2)

MILENA PINHEIRO LIMA

O INSTITUTO DO DANO MORAL DECORRENTE DA RELAÇÃO DE TRABALHO

Monografia submetida à Coordenação do Curso de Graduação em Direito, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Fernando Ferraz

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MILENA PINHEIRO LIMA

O INSTITUTO DO DANO MORAL DECORRENTE DA RELAÇÃO DE TRABALHO

Monografia submetida à Coordenação do Curso de Graduação em Direito, da Universidade Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Aprovada em 19 / 12 / 2006.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________ Prof. Fernando Ferraz (Orientador)

Univerdade Federal do Ceará - UFC

___________________________________________ William Paiva Marques Junior - Examinador

(4)

A

AGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS

Primeiramente, agradeço a Deus, que esteve e está presente em tudo que realizo e, que nos momentos mais difíceis, de alguma forma me consolou e me mostrou o melhor caminho a seguir.

Agradeço aos meus pais por terem se mostrado tão solícitos e tão carinhosos em todos os momentos decisivos de minha vida. Em especial, ao meu pai, que mesmo não estando mais presente, vive intensamente em meu coração. Aos irmãos e amigos pelo apoio e estímulo. Ao meu namorado que sempre depositou muita confiança e credibilidade no meu trabalho.

Agradeço, ainda, ao professor Fernando Basto Ferraz, pela orientação na realização da pesquisa e desenvolvimento deste trabalho, pela disponibilidade e atenção.

(5)

"Minha honra é minha vida; meu futuro de ambas depende, Serei homem morto, se me privarem da honra."

(6)

RESUMO

O Direito do trabalho é campo fértil e propício para o surgimento de situações passíveis de reparação por dano moral, uma vez que deve conferir especial atenção à tutela da personalidade do trabalhador empregado, baseada no caráter de pessoalidade, subordinação e durabilidade da prestação de serviço. Este trabalho trata especificamente do instituto do dano moral decorrente das relações de trabalho. Assim, abordaremos uma idéia geral a respeito de responsabilidade civil, conceituando-a, bem como a dividindo em espécies e explicando cada um de seus elementos. Trataremos especificamente sobre o dano moral, focando, sobretudo, seus efeitos na relação de trabalho, quando se indaga a quem cabe a responsabilidade sobre o dano causado ao empregado. Discutiremos os pontos mais relevantes e de maiores controvérsias, enfocando os principais questionamentos e expondo situações que ensejam o direito à reparação por danos morais.

(7)

ABSTRACT

The Employment and Labor Relations Law is a fertile and propitious field for the sprouting of situations about moral damage repair, once you must confer special

attention to employed worker’s personality, based on personal character, subordination

and durability of the services rendering. This scientific study specifically deals with the institute of work relations moral damage. Thus, we will approach a general idea of civil liability, appraising it, as well as dividing it in species and explaining each one of its elements. We will specifically discuss about moral damage, aiming at, over all, its effects in the work relation, when it is inquired to who fits the responsibility about the damage caused to the employee. We will argue the most important subjects and its bigger controversies, wondering to focus on the main questions and exposing situations that brings the rights to moral damage repair about.

(8)

LISTA DE ABREVIATURAS

CCB - Código Civil Brasileiro

CF/88 - Constituição Federal de 1988 CP – Código Penal

CPC – Código de Processo Civil STF - Supremo Tribunal Federal STJ - Superior Tribunal de Justiça TRT – Tribunal Regional do Trabalho TST – Tribunal Superior do Trabalho Relª/ Relº - Relator (a)

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...10

2 RESPONSABILIDADE CIVIL...13

2.1Espécies de Responsabilidade Civil...14

2.1.1 Responsabilidade Contratual...14

2.1.2 Responsabilidade Extracontratual...14

2.1.3 Responsabilidade Objetiva...15

2.1.4 Responsabilidade Subjetiva...15

2.1.5 Responsabilidade Direta...16

2.1.6 Responsabilidade Indireta...16

2.2 Elementos da Responsabilidade Civil...16

2.2.1 Ação...17

2.2.2 Culpabilidade (Dolo ou Culpa)...18

2.2.3 Dano...18

2.2.4 Nexo de Causalidade...20

3 DANO MORAL...22

3.1 Evolução Histórica...26

3.2 Legislação Brasileira...28

4 DANO MORAL DECORRENTE DA RELAÇÃO DE TRABALHO...35

4.1 Legitimidade...38

4.2 Prova...39

4.3 Quantificação...41

4.4 Competência da Justiça do Trabalho...44

4.5 Prescrição...49

5 SITUAÇÕES QUE ENSEJAM REPARAÇÃO POR DANO MORAL...54

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS. ...66

REFERÊNCIAS...69

(10)

1 INTRODUÇÃO

No presente trabalho, abordaremos o fenômeno do dano moral no direito do trabalho e suas repercussões. Veremos, ainda que de forma perfunctória, todos os institutos necessários à compreensão do presente estudo.

A globalização e o sistema econômico geraram conseqüências nas relações de trabalho, como a flexibilização, terceirização, redução dos custos e automação, entre outros. Tais conseqüências refletiram nas relações entre empregado e empregador, ampliando as situações ensejadoras do dano moral. O trabalhador está mais exposto às ofensas morais do que qualquer outro indivíduo, uma vez que se encontra em situação de subordinação ao empregador, arriscando, diariamente, seus bens pessoais, como a vida, a integridade física, a honra e a dignidade.

Apenas nas duas últimas décadas o instituto do dano moral passou a ser regulamentado, não obstante ser tão antigo. Assim, o estudo do Dano Moral na relação de trabalho é de suma importância para o Direito, não apenas no âmbito trabalhista, já que as relações de trabalho estão cada vez mais complexas, tornando-se campo propício para o surgimento de situações que ensejam reparação por dano.

O instituto do dano moral no Direito do Trabalho tem como princípios o dever de respeito à dignidade do trabalhador e o direito à personalidade do mesmo. Encontra sedimentada uma idéia de manutenção da segurança e ordem pública e, portanto, a proteção àqueles que sofrem os efeitos de fatos danosos nas relações de trabalho.

Os objetivos fundamentais do Direito do Trabalho são assegurar a honra e dignidade do trabalhador, minimizar as injustiças decorrentes do capitalismo e do mercado de trabalho sobre a pessoa do trabalhador. Vê-se, assim, que o Direito do trabalho é social por excelência.

O dano moral precisou percorrer um árduo caminho, seguindo em frente e retrocedendo algumas vezes, até atingir as condições que hoje se encontra, com a possibilidade de reparação, e ainda na busca de uma forma justa e adequada.

(11)

subordinados no desenvolvimento das atividades laborais. A análise da responsabilidade civil se faz essencial, uma vez que o dano moral é seu principal elemento.

Com relação à normatização do dano moral percebe-se que o legislador, durante algum tempo, não percebeu que a falta de previsão no ordenamento jurídico, por certo, refletiria em inúmeras decisões díspares, causando, também, aumento significativo de demandas judiciais indenizatórias a serem apreciadas nos diversos juízos e tribunais. Atualmente, não resta dúvida sobre a possibilidade de tal indenização, no Direito do Trabalho

Essa pesquisa possui a árdua tarefa de tentar compreender o instituto em análise, no âmbito trabalhista, que talvez seja um dos institutos mais polêmicos na Justiça do Trabalho, principalmente após a Emenda Constitucional n.45, esclarecendo o que a jurisprudência entende acerca do assunto, bem como quais as situações ou atividades em que o empregador deverá arcar objetivamente com os prejuízos decorrentes de uma atividade de risco.

Tem-se, então, como objetivo geral, demonstrar a relevância da reparação por dano moral nas relações de trabalho, sob os mais variados aspectos e seus reflexos jurídico-culturais na sociedade, verificando suas características e requisitos a serem analisadas pelos operadores do direito e sob quais situações essa responsabilidade poderá ocorrer, levando-se em conta as legislações vigentes.

No primeiro capítulo, apresenta-se o conceito de responsabilidade civil, além de sua evolução e finalidade. Demonstram-se as diferenças entre responsabilidade objetiva e subjetiva, contratual e extracontratual e, finalmente, as cláusulas excludentes de referido instituto.

(12)

No terceiro capítulo, trata-se do dano moral e seu envolvimento nas relações de trabalho, versando sobre todos os elementos que configuram nesta reparação. Especificam-se todos os efeitos e as questões importantes e controvertidas em relação a cada elemento processual do instituto, abordando o importante papel dos juízes no deferimento e fixação da indenização, bem como o entendimento jurisprudencial sobre tais assuntos.

Por fim, destacaremos inúmeras situações que podem acarretar indenização, colhendo julgados pertinentes a cada situação, mostrando o entendimento jurisprudencial, em cada fase do contrato de trabalho.

O ponto principal desse trabalho é, pois, demonstrar a importância da ampliação dos casos de incidência da responsabilidade civil, especificamente, nas relações de trabalho, como forma de garantir os direitos e deveres inerentes aos envolvidos no pacto laboral, possibilitando a segurança jurídica dentro da sociedade diante das relações de trabalho.

(13)

2 RESPONSABILIDADE CIVIL

É ínsito da personalidade humana a necessidade de viver em sociedade, desempenhando atividades diversas, em conjunto com outros homens. Contudo, o ser humano, em virtude de seu livre arbítrio, pode praticar atos que causam dano a outrem. Assim, no desempenho de tais atividades, os homens são responsáveis pelos atos que praticam, respondendo pelos mesmos, devendo reparar o dano a que deu origem.

Foram várias as formas buscadas para tentar dirimir e reparar tais danos, passando por diversos estágios e sempre acompanhando a evolução humana. Foram surgindo, assim, os princípios gerais que norteiam a responsabilidade civil.

O estudo da Responsabilidade Civil é fundamental, não só para o Direito Civil, mas para diversos ramos do direito, pois seu objetivo é manter a ordem pública e tentar restabelecer o statos quo ante. Podemos afirmar, então, que a responsabilidade pode se apresentar sob inúmeros aspectos, sendo ela de natureza civil, penal ou administrativa. Atualmente, é essencial no campo do Direito do Trabalho, em virtude da relação de subordinação entre empregador e empregado. Assim, a análise de tal instituto será primordial para nosso estudo.

A origem da palavra Responsabilidade vem do latim, respondere, que significa responder por algo, por um ato praticado. Da prática de um ato ilícito decorre a necessidade de reparabilidade pelo agente causador do dano. Importante, ainda, ressaltar que um mesmo ato pode, ao mesmo tempo, caracterizar um crime e um ato ilícito civil.

Ensina Rui Stoco:

Se resumir for possível, pode-se dizer que a responsabilidade civil traduz a obrigação da pessoa física ou jurídica ofensora de reparar o dano causado por conduta que viola um dever jurídico preexistente de não lesionar (neminem laedere) implícito ou expresso em lei.1

1

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Antigamente, não havia necessidade do elemento culpa, ocorria apenas a compensação do dano. Com o passar do tempo, surgiu a lex aquilia, ou responsabilidade aquiliana, na qual é punida a culpa por danos provocados injustamente, independente de relação obrigacional preexistente.

Culpa é a inobservância de um dever que o indivíduo deveria observar e ter conhecimento. Trata-se da negligência, imprudência ou imperícia.

2.1 Espécies de Responsabilidade Civil

A responsabilidade civil apresenta-se sob várias espécies, conforme a perspectiva analisada. Assim, quanto ao seu fato gerador poderá ser: responsabilidade contratual ou responsabilidade extracontratual; quanto ao agente, divide-se em responsabilidade direta ou responsabilidade indireta; e quanto ao seu fundamento, em responsabilidade subjetiva e responsabilidade objetiva.

2.1.1 Responsabilidade Contratual

Trata-se da responsabilidade decorrente do contrato, acordo firmado entre as partes. Dispõe o artigo 389 do Código Civil Brasileiro: “não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”.

Ocorre, portanto, quando alguém deixa de cumprir obrigação expressa em contrato.

2.1.2 Responsabilidade Extracontratual

Também conhecida como aquiliana, se resulta do inadimplemento normativo, ou seja, da prática de um ato ilícito por pessoa capaz ou incapaz. Assim, não havendo contrato, a responsabilidade é extracontratual.

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Quanto ao ônus da prova, na responsabilidade contratual, incumbe ao devedor provar que não se houve com culpa, uma vez demonstrado o inadimplemento; na responsabilidade aquiliana, como regra geral,cabe à vítima provar a culpa do causador do dano.2

2.1.3 Responsabilidade Objetiva

Em determinadas circunstâncias, é difícil para o ofendido comprovar a existência de culpa do agente causador do dano, deixando, muitas vezes, o lesado sem a devida reparação. Assim, foi surgindo a doutrina objetiva, que trata da culpa presumida.

Presume-se o comportamento culposo do causador do dano, em certas ocasiões, cabendo-lhe demonstrar a ausência de culpa para se eximir da obrigação de reparar.

Maria Helena Diniz dispõe que “é irrelevante a conduta culposa ou dolosa do causador do dano, uma vez que bastará a existência do nexo causal entre o prejuízo sofrido pela vítima e a ação do agente para que surja o dever de indenizar.” 3

A responsabilidade objetiva, também conhecida como Teoria do Risco, leva em conta o dano, independente de dolo ou culpa. Neste caso, suficiente para indenização o dano e nexo causal. Contudo, a teoria do risco não chegou a substituir a Teoria da Culpa nos sistemas jurídicos. Ambas podem conviver para buscar soluções melhores para os litígios.

O empregador, de acordo com os arts. 932, III e 933 do CCB/02, responde de forma objetiva pelos atos praticados por seus prepostos - empregados, no exercício do trabalho.

2.1.4 Responsabilidade Subjetiva

A responsabilidade subjetiva configura-se com a teoria da culpa, ou seja, para que haja dever de indenizar, é necessário que a culpa seja comprovada. O artigo

2

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 4º ed., São Paulo: Atlas, 2004, pág. 491.

3

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186 do Código Civil trata do assunto: “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Frise-se que a Teoria da Culpa configura regra geral da responsabilidade civil e a Teoria do Risco se dá nos casos específicos, expressos em lei.

2.1.5 Responsabilidade Direta

Responsabilidade Direta se configura quando é proveniente da própria pessoa, o agente causador do dano responderá pelos próprios atos. A própria pessoa lesionante praticou o ato.

2.1.6 Responsabilidade Indireta

Na responsabilidade indireta, a responsabilidade advém de ato praticado por terceiros, sob os quais deveria ter vigilância. Portanto, uma pessoa, sem ter praticado o ato, responde pelos prejuízos causados por outrem, trata-se da presunção relativa de culpa derivada da lei.

Aplicando tal entendimento ao Direito do Trabalho, pode-se afirmar que o empregador não responde, civilmente, só por seus atos dolosos ou culposos, mas também por atos praticados pelos empregados ou prepostos, ainda que não haja culpa de sua parte.

2.2 Elementos da Responsabilidade Civil

Os elementos são essenciais para configurar o dever de indenizar, quando determinada pessoa sofre certo dano. Maria Helena Diniz afirma “bastante difícil é a caracterização dos pressupostos necessários à configuração da responsabilidade civil,

ante a grande imprecisão doutrinária a respeito.”4

Verifica-se, pela afirmação doutrinária, uma vasta gama de classificações de tais elementos. Assim, iremos adotar quatro elementos como sendo essenciais para

4

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configuração da responsabilidade civil: ação, culpabilidade (dolo ou culpa), dano e nexo de causalidade.

Para responsabilização por danos morais, tais elementos devem estar presentes. Sobre tal questão, vale registrar:

DANO MORAL - REQUISITOS - Para que o responsável pelo ato danoso possa ser responsabilizado pelo evento, é imprescindível a comprovação de alguns requisitos, a saber: a) que seja antijurídico o ato praticado ou o fato acontecido; b) que este possa ser imputado a alguém; c) que dele tenham resultado danos; d) que tais danos possam ser juridicamente considerados como causados pelo ato ou fato praticado. Comprovados esses requisitos, deferir a indenização por danos morais é medida que se impõe. (TRT 12ª R. - RO-V 00441-2005-008-12-00-0 - (13134/2005) - Florianópolis - 1ª T. - Rel. Juiz Edson Mendes de Oliveira - J. 17.10.2005)

2.2.1 Ação

Para configuração do primeiro elemento de responsabilidade civil, uma conduta humana e voluntária deve ser praticada. A conduta se dá através de uma ação omissiva ou comissiva.

A omissão é uma conduta negativa, alguém deixou de realizar algo, determinada ação que deveria fazê-lo. Comissão é uma conduta positiva, alguém fez algo que não deveria fazer, tal evento não deveria ter acontecido. A ação ou omissão deve constituir a base do resultado lesivo. Portanto, nem toda ação ou omissão é passível de ensejar reparação, mas apenas aquela que causa lesão a um bem jurídico.

Assim, não há que se falar em responsabilidade civil se o comportamento humano não é contrário à ordem jurídica. O artigo 186 do Código civil dispõe que apenas comete ato ilícito aquele indivíduo que viola direito e causa dano. O ato ilícito, portanto, configura-se apenas com a violação de um direito, independente da existência do dano. E mais, o artigo 927 CCB dispõe que o ato ilícito enseja também reparação por danos morais.

(18)

Assim, conforme previsto no artigo citado, prevalece, em nosso ordenamento, a responsabilidade subjetiva.

2.2.2 Culpabilidade (Dolo ou Culpa)

Quando se fala em culpabilidade, no campo civil, devem-se analisar esses dois componentes: dolo e culpa. A culpabilidade pouco aparece como elemento da responsabilidade civil nas classificações doutrinárias, consistindo na presença do dolo ou da culpa. Importante a classificação de tais institutos para nosso estudo. Assim, o dolo configura-se como a vontade e a consciência de realizar um ato ilícito e contrário ao Direito. É a ofensa a um direito, de forma consciente.

A culpa, stricto sensu, trata-se de uma atitude equivocada, decorrente de um comportamento negligente, imprudente ou imperito. De acordo com Sílvio Venosa, “em sentido amplo, culpa é a inobservância de um dever que o a gente devia conhecer e observar” 5. Quando há culpa concorrente da vítima e do agente causador do dano, a

responsabilidade, bem como a indenização, é repartida.

Importante destacar que esses dois aspectos são totalmente diferentes entre si. Contudo, em sede de reparação e indenização, possuem conseqüências idênticas.

2.2.3 Dano

Outro elemento essencial para configuração da responsabilidade civil é o dano. Trata-se de requisito essencial à responsabilização do agente causador da lesão, pois o indivíduo só possui a obrigação de indenizar o lesionado se causar-lhe dano.

O dano não pode ser hipotético, devendo ser atual e certo. É classificado em patrimonial ou moral. O dano patrimonial é aquele que atinge diretamente os bens materiais da vítima, os diminuindo ou deteriorando.

A indenização por danos patrimoniais abrange os lucros cessantes, que configura o que a pessoa deixou de lucrar, e os danos emergentes, aquilo que a vítima efetivamente perdeu. Alguns doutrinadores incluem nesta caracterização a perda da

5

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chance como um terceiro gênero do dano, já que não está incluído nem nos danos emergentes e nem nos lucros cessantes. A perda de chance é a possibilidade de incerteza do dano.

O CCB possui um dispositivo que estabelece limites aos danos emergentes e lucros cessantes. O art. 402 dispõe “salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidos ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.”

O dano patrimonial, como se pode observar, é suscetível de avaliação pecuniária, sendo reparado em dinheiro. A reparação, neste caso, tem como finalidade repor as coisas lesionadas ao estado anterior ou, pelo menos, possibilidade de comprar um novo, semelhante.

Américo Luís Silva6 ensina que a definição dos bens lesionados e que ocasionam o dano moral se dá pela oposição do que seja bem patrimonial. Assim, o dano moral é a lesão a bens não-patrimoniais, tais como a honra, a imagem, intimidade, integridade, etc.

Importante salientar que a dor, a angústia e o sofrimento são conseqüências do dano e não o dano moral em si, como definido por alguns autores. A reparação por dano moral possibilita apenas uma compensação para sua dor íntima.

A diferença do dano patrimonial e do dano moral se dá pelo efeito da lesão, um atinge bens materiais, o outro atinge os bens não materiais. A lesão pode acarretar dano moral ou material. Da violação de determinado direito pode resultar, ao mesmo tempo, lesão de natureza patrimonial e moral.

Há autores que acreditam que a diferença entre dano patrimonial e dano moral se dá pela forma de reparação, uma vez que a reparação do dano material, na maioria dos casos, repõe o objeto lesado, enquanto do dano moral, apenas compensa a lesão.

6

(20)

Vale destacar, conforme dito anteriormente, que não havendo dano, não há direito a indenização.

2.2.4 Nexo de Causalidade

O último requisito proposto é o nexo de causalidade. Só haverá obrigação de indenizar por parte do agente causador de um dano, se houver ligação entre a ação do agente e o dano causado ao lesionado.

É, assim, a relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado. Para configuração de tal elemento, deve-se verificar se ocorreria dano se a violação ao direito não tivesse ocorrido. Conforme explica Demogue, “é preciso esteja certo que,

sem este fato, o dano não teria acontecido. Assim, não basta que uma pessoa tenha contravindo a certas regras; é preciso que sem esta contravenção, o dano não ocorreria.” 7

Há, ainda, que se falar em excludentes de responsabilidade. Excludentes de responsabilidade são fatos que impedem que o nexo causal se concretize. São exemplos: a culpa exclusiva da vítima, o fato de terceiro, o caso fortuito e a força maior e a cláusula de não indenizar.

Com a culpa da vítima desaparece a relação de causa e efeito entre o dano e o seu causador. Sendo a culpa concorrente da vítima e do agente, a responsabilidade, e, consequentemente, a indenização são devidas.

Em algumas circunstâncias, é importante verificar se há culpa exclusiva de terceiro, que se trata de pessoa diversa da vítima e do agente causador do dano. Havendo a culpa exclusiva de terceiro, não haverá o nexo causal. O agente deverá demonstrar que o fato era inevitável e imprevisível. Contudo, deve-se verificar se o agente também concorreu com o dano. A jurisprudência admite, apenas em casos excepcionais, a exclusão de responsabilidade quando culpa de terceiros. De acordo com a Súmula 187 do Supremo Tribunal Federal - STF, a tendência é alargar a responsabilidade do agente, cabendo ação regressiva contra terceiro, in verbis: ”a

7

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responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.”

Ainda, dispõe o art. 934 do Código Civil que o terceiro tem direito também a ação regressiva contra o agente causador do dano, quando arcar com a indenização:

“aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.”

Em relação ao caso fortuito e força maior, as conseqüências no campo de responsabilidade civil são as mesmas, contudo não são sinônimos, mas institutos diferentes. O primeiro é decorrente de forças da natureza, independente da vontade humana. O segundo deriva de atos humanos, mas imprevisíveis. Os efeitos são imprevisíveis e impossíveis de evitar ou impedir.

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3 DANO MORAL

O ser humano, ao viver em sociedade, está sujeito às regras e obrigações sociais, assumindo o dever de não causar dano a outrem e nem lhe causar prejuízo, sob pena de ser obrigado a reparar o dano.

Dano, latim dammum, é o prejuízo ou estrago causado a alguém ou a algo. Moral, latim moralis, significa princípios e valores que regem as normas de honestidade e pudor.8

Rui Stoco conceitua dano moral:

O chamado dano moral corresponde à ofensa causada à pessoa a parte subjecti, ou seja, atingindo bens e valores de ordem interna ou anímica, como a honra, a imagem, o bom nome, a intimidade, a privacidade, enfim, todos os atributos da personalidade.9

Para Sílvio Venosa, “dano moral consiste em lesão ao patrimônio psíquico ou ideal da pessoa. Somente a pessoa natural pode ser atingida nesse patrimônio.” 10

Ainda, dispõe Yussef Said que:

Na realidade, multifacetário o ser anímico, tudo aquilo que molesta gravemente a alma humana, ferindo-lhe gravemente os valores fundamentais inerentes à sua personalidade ou reconhecidos pela sociedade em que está integrado, qualifica-se, em linha de princípio, como dano moral.11

A jurisprudência também define o que seja dano moral:

DANO MORAL – Importam em dano moral o vexame, a humilhação, o sofrimento e/ou dor que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflição, angústia e desequilíbrio do seu bem estar. (TRT 5ª R. – RO 00623-1998-133-05-00-7 –

(7.970/05) – 5ª T. – Redª Juíza Delza Karr – J. 26.04.2005)

Apesar de encontrarmos inúmeros conceitos, trata-se de um instituto de difícil definição. Contudo, para fins de estudo, podemos definir dano moral como uma espécie de dano aos bens não materiais, não patrimoniais, como a honra, imagem, etc. Enfim, relaciona-se com direito personalíssimo. Importante ressaltar que, antigamente,

8

Dicionário da Língua Portuguesa. Editora Moderna.

9

STOCO, Rui. Op. Cit., pág. 130

10

VENOSA, Sílvio. Op. Cit. , pág. 203

11

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havia grande relutância da doutrina e jurisprudência em aceitar o direito à indenização por danos morais, em reparar os danos exclusivamente morais. Tal instituto foi, durante muito tempo, ignorado, ganhando ampla divulgação e passando a existir em nosso ordenamento a partir da Constituição de 1988, art. 5º, nos incisos V e X, diretamente ligado ao humanismo constitucional, presente no artigo 1º.

De início, consideravam indenizáveis apenas os danos provocados aos bens materiais, em virtude da possibilidade de serem efetivamente avaliados e por ser, tal dano, determinável e suscetível de ressarcimento, de forma pecuniária. Negavam, assim, o direito à indenização por danos morais. As justificativas eram inúmeras, conforme relatado por Reginald Felker:

Os argumentos para tal posição eram variados, em geral pode ser resumidos nos seguintes: falta de efeito penoso duradouro; incerteza de um verdadeiro direito violado e da existência de um dano real; a dificuldade de se descobrir o dano; a indeterminação do número de pessoas lesadas; a impossibilidade de uma avaliação em dinheiro; o ilimitado poder conferido ao juiz; o escândalo da discussão em juízo de aspectos íntimos da pessoa;a imoralidade que consistira em pretender compensar uma dor moral em dinheiro; essa reparação pretendida, na realidade, constituiria uma fonte de enriquecimento sem causa; (...) 12

Portanto, os opositores à reparação do dano moral alegavam que havia grande dificuldade em se provar a existência do dano moral; que era impossível avaliar, determinar exatamente em dinheiro o correspondente a ofensa moral; e que seria imoral a compensação da dor em dinheiro.

Contudo, tais alegativas foram refutadas. Ora, o dano moral é conseqüência irrecusável do evento danoso e se prova por si só, levando-se em consideração a

pessoa “normal”, que sente e sofre nos padrões esperados na comunidade em que vive.

Não há equivalência entre o prejuízo e a compensação. A indenização não tem de ser equivalente ao perigo, entretanto deve-se levar em consideração o reflexo na vida pessoal, bem como o prejuízo patrimonial causado, uma vez que a compensação não tem objetivo de compensar a dor, mas atenuá-la ou eliminá-la.

Encontramos decisões neste sentido:

12

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Recurso extraordinário; seu desprovimento. Juros compostos; quando não são admissíveis. Dano moral; não é ressarcível perante o nosso direito. Não é indenizável o dano moral considerado em si mesmo, conforme reiterada jurisprudência desta Corte. (STF -RE 42723 / MG - Minas Gerais, Relator(a): Min. NELSON HUNGRIA, Publicação:DJ 03-09-1959)

Deste modo, percebemos que havia grande relutância dos magistrados em reconhecer a reparação por danos morais. Contudo, apesar de tal resistência, os julgados foram se modificando, passando a admitir a reparação por dano moral quando decorresse de dano patrimonial ou quando expressamente previsto em lei.

Acórdão que considera indenizável dano moral diante do disposto no art. 667, par 1, do código civil.- Inexistência de dissídio com acórdão que, em casos diferentes, afirmam o princípio genérico de não ser indenizável o dano moral sem repercussão econômica.- Embargos de divergência incabíveis.- agravo regimental não provido. (STF - RE-embargos-AgR 75627 / GB – GUANABARA, Relator(a): Min. RODRIGUES ALCKMIN, Publicação: DJ 13-06-1975.)

Num primeiro momento, os tribunais não admitiam a cumulação do dano material com o dano moral. Todavia, a partir da década de 90, tal entendimento foi renovado. Assim, cessou definitivamente o entendimento existente em torno da reparabilidade do dano moral puro, bem como sua cumulatividade com o dano material. Conforme expressamente proclamado pela Súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça

– STJ: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do

mesmo fato”. A possibilidade de acumulação emerge também da Constituição, no art.

5º, inciso V: “É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da

indenização por dano material, moral ou à imagem.”

Finalmente, os Tribunais passaram a admitir a reparação por danos morais. De início, afirmavam fazer jus à indenização apenas a pessoa física ou natural, por acreditarem que somente esta sente dor ou sofrimento íntimo. A jurisprudência refletia

esta orientação: “Indenização – Dano Moral – Cabimento independente de comprovação dos prejuízos materiais. (TJ SC – 2º CAM – AP 31.239 – 14.08.90)”

E mais,

(25)

disposto no artigo 20, § 4º, do CPC. (TJMT - ReexSen-AC 17543/2002 - 2ª C.Cív. - Rel. Des. Odiles Freitas Souza - J. 10.12.2002)

A Súmula 491 do Supremo Tribunal Federal – STF confirma entendimento de que existe indenização por danos morais independente de reflexos patrimoniais: “É

indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho

remunerado.”

Com o passar do tempo, reconheceu-se também o dano moral contra pessoa jurídica. É o que trata a Súmula 227 do STJ: “Apessoa jurídica pode sofrer dano moral.”

Salienta-se que, conforme definição de dano moral apregoada anteriormente, que o professor Sílvio Venosa não admite a possibilidade de a pessoa jurídica sofrer dano moral, quando dispõe que somente a pessoa natural pode ser atingida nesse patrimônio. Alguns doutrinadores ainda possuem tal entendimento, afirmando que o dano moral tem como pressuposto ontológico a dor, pertinente apenas à pessoa física, única dotada de percepção sensorial.

Entretanto, a pessoa jurídica pode sofrer dano moral através de ato que abale o prestígio da própria estrutura empresarial, como a reputação e o crédito. Existem danos morais subjetivos, relativos às dores físicas e sofrimentos do espírito, suportado apenas por pessoa física, é a dor sentida pela própria pessoa. Existem, ainda, os danos morais objetivos, relativos ao bom nome, à reputação e à imagem, trata-se da dor sentida pelo ente em relação à sociedade, como é suportada perante esta, sendo suportado por pessoas físicas e jurídicas. Nosso ordenamento traz alguns direitos inerentes à personalidade da pessoa jurídica, compatíveis com esta natureza, como a inviolabilidade da honra e imagem, o bom nome comercial e civil, etc.

A difamação de uma empresa pode não gerar dano patrimonial, contudo não podemos dizer que a ofensa derrogada não abala e nem compromete os atributos e qualidades da entidade, afetando seu prestígio, imagem e boa fama perante a sociedade.

(26)

Além da incidência do dano moral para pessoas jurídicas, passou-se a reconhecer o Dano Moral Coletivo. Tal instituto ocorre bastante na Justiça do Trabalho, nos casos de redução do trabalhador à condição similar de escravo, quando da exigência de atestado de esterilização para contratação de mulheres e nos casos de adoção de medidas discriminatórias pela empresa.

3.1 Evolução Histórica

Em toda a história da humanidade sempre existiram ações, ou omissões, que acarretaram danos ou prejuízos a outrem. Com efeito, a idéia de uma reação a uma ofensa é natural e instintivo do homem. Entretanto, nos primórdios da civilização, imperava a vingança coletiva. Assim, no início, não se falava em uma restauração do equilíbrio moral e patrimonial, mas apenas uma reação diante do dano sofrido.

Em verdade a questão não é recente, posto que o reconhecimento e a conseqüente reparação do dano de ordem moral já vinham sendo sugeridos por inúmeros séculos antes de Cristo. Na mais antiga codificação, o Código de Ur-Nammu, havia dispositivos que adotavam os princípios da reparabilidade.

O Código de Hamurabi13, monarca babilônico (1728–1688 a.C.), consagrava a Lei de Talião, cujo preceito “olho por olho, dente por dente” era a melhor forma de

reparar o dano. Era o direito de vingança, com pena ao agente causador do dano, na qual as ofensas pessoais eram reparadas mediante ofensas idênticas. Tal código já previa a reparação por dano moral em alguns dos seus dispositivos:

Art. 138 – Se um homem quiser se separar de sua esposa que não lhe deu filhos, ele deve dar a ela a quantia do preço que pagou por ela e o dote que ela trouxe da casa de seu pai, e deixá-la partir.

139. Se não tiver havido preço de compra, ele deverá dar a ela uma mina em ouro como presente de libertação.

Ainda,

156. Se um homem prometer uma donzela a seu filho deflorar a moça, sem que seu filho a conheça, ele deverá pagar a ela ½ mina em ouro, e compensá-la pelo que fez à casa do pai dela. Ela poderá casar com o homem de seu coração.

13

(27)

Assim, percebe-se a existência de significativos exemplos de indenização por danos morais na Lei de Talião. Na religião mulçumana, através do Alcorão, verifica-se a adoção de alguns princípios do Código de Hamurabi, com preceitos expressos de indenização:

“Versículo 178 - Ó fiéis, está-vos preceituado o talião para o homicídio: livre por livre, escravo por escravo, mulher por mulher. Mas, se o irmão do morto perdoar o assassino, devereis indenizá-lo espontânea e voluntariamente. Isso é uma mitigação e misericórdia de vosso Senhor. Mas quem vingar-se, depois disso,

sofrerá um doloroso castigo.”14.

Alguns autores afirmam que na Grécia Antiga existiram fatos históricos que demonstravam a existência do direito de reparação por dano moral.

O Código de Manu, da Índia antiga e posterior ao Código de Hamurabi, demonstra alguma referência à indenização por danos morais, mostrando indiscutível avanço em relação ao de Hamurabi. Entretanto, tratava a reparabilidade do dano em pecúnia, muito diferente do anterior, que reparava a lesão por outra lesão de igual valor. No Direito Romano, a Lei das XII Tábuas (Lex duodec tabularum), primeira lei escrita romana, dispunha que se alguém causasse dano a outro indivíduo e as

partes não entrassem em acordo, seria aplicada a Lei de Talião. Tábua VII § 11: “se

alguém fere a outrem, que sofra pena de Talião, salvo se existiu acordo” (Si, membrum rupsit, ni cum eo pacit, tálio esto). Verificam-se, assim, resquícios da pena de Talião.

Entretanto, os romanos adotaram a reparação por dano moral, ainda que precariamente. Prova de tal fato encontra-se na Lei das XII Tábuas, Tábua VII – De delictis, com o seguinte texto:

“§ 1º Se um quadrúpede causa qualquer dano, que o seu proprietário indenize o valor desses danos ou abandone o animal ao prejudicado.

§ 2º Se alguém causa um dano premeditadamente que o repare;

(...)

§ 9º Aquele que causar dano leve indenizará 25 asses;

(...)

14

(28)

§ 12. Aquele que arrancar ou quebrar um osso a outrem deve ser condenado a uma multa de 300 asses, se o ofendido é homem livre; e 150 asses, se o ofendido é um escravo;

§ 13. Se o tutor administra com dolo, que seja destituído como suspeito e com infâmia; se causou algum prejuízo ao tutelado, que seja condenado a pagar o dobro ao fim da gestão;”

Na Bíblia encontramos também o instituto do dano moral. O antigo testamento, em Deuteronômio (Capítulo XXII: 13 a 20), versa sobre a obrigação do homem de indenizar quando acusar, injustamente, sua esposa de péssima reputação ou quando desonrar donzela virgem antes do casamento.

No Brasil, esse tema passou despercebido por inúmeras décadas, talvez por acreditar ser a honra e a dignidade do ser humano coisas sem prioridade. As normas que regulamentavam o sistema brasileiro, até a instituição do Código Civil de 1916, eram regidas pelo Código de Direito Canônico (Lei de 06.10.1784). Tal sistema abordava poucas questões sobre dano moral, com por exemplo o instituto dos esponsais. Era prevista uma condenação para os casos de ruptura do casamento. Assim, aquele que não cumprisse o ajuste feito era obrigado a reparar à outra parte os danos ocasionados.

Houve uma forte resistência por parte da doutrina e da jurisprudência, em relação ao ressarcimento de danos morais através de indenização. Contudo, tal entendimento foi mudando, seguindo o rumo da história e adequando-se ao cotidiano.

3.2 Dano Moral na Legislação Brasileira

A legislação trabalhista não se ocupou, expressamente, do Direito da Personalidade do Trabalhador. Assim, para o estudo do dano moral decorrente da relação de trabalho, é necessária a análise do conjunto da legislação brasileira que trata de tal instituto.

(29)

Já a Lei 10.803, de 11 de dezembro de 2003, que alterou o art. 149 do CP, deu um caráter mais abrangente ao conceito de trabalho escravo, incluindo o trabalho forçado e degradante, dispondo a pena para tais infrações.

O Decreto 2.681, de 7 de dezembro de 1912 – Responsabilidade Civil das Estradas de Ferro – trata também da questão de reparação do dano moral.

Percebe-se que a reparação por dano moral no Brasil foi bastante desprezada, não sendo aceita, de início, pela doutrina e maior parte dos magistrados. Até a vigência do Código Civil Brasileiro de 1916, negava-se o direito a tal reparação ou, em alguns casos, considerava indenizável o dano moral apenas nos casos em que afetava o patrimônio da vítima.

Não havia dispositivo expresso que tratasse sobre dano moral no Código Civil de 1916. Entretanto, alguns artigos traziam, implicitamente, o direito à indenização por dano.

O art. 1538 CC/1916, quando dispunha sobre aimportância da multa no grau médio da pena criminal correspondente, dizia respeito à indenização por danos morais. O art. 1547 CC/16 determinava a reparação de danos contra a honra, estabelecendo que se a vítima não pudesse provar prejuízo material, pagar-lhe-ia o ofensor o dobro da multa no grau máximo de pena criminal respectiva.

O Código Civil Brasileiro, vigente desde 2003, dispõe expressamente sobre o direito à indenização por danos morais. Os artigos 11 a 21 versam sobre o Direito de Personalidade. O artigo 186 trata expressamente sobre dano moral. Já o art. 187:

“também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou

pelos bons costumes”, ligado diretamente ao dano moral, estabelece os limites para caracterização do abuso de direito.

(30)

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

(...)

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.

O Código Brasileiro de Telecomunicações – Lei 4.117 de 27 de agosto de 1962 – dispõe expressamente sobre a reparação dos danos morais. Os arts. 81 a 88 tratavam sobre o dano moral decorrente de ofensas sofridas por determinada pessoa em virtude de calúnia, injúria ou difamação através dos veículos de radiodifusão.

Art. 81 Independentemente da ação penal, o ofendido pela calúnia, difamação ou injúria cometida por meio de radiodifusão, poderá demandar, no Juízo Cível, a reparação do dano moral, respondendo por este, solidariamente, o ofensor, a

concessionária ou permissionária, quando culpada por ação ou omissão, e quem quer que, favorecido pelo crime, haja de qualquer modo contribuído para ele.

Nesta indenização, o juiz levava em conta a posição social ou política do ofendido, situação econômica do ofensor, intensidade do ânimo de ofender e gravidade ou repercussão da ofensa. A indenização não podia ser inferior a 5 salários mínimos nem superior a 100.

Contudo, o Decreto-lei 236, de 28 de fevereiro de 1967,através do art. 3º, revogou os arts. 58 a 99 da referida lei e os novos artigos não mais tratam da reparação por dano moral.

A Lei de Imprensa (Lei 5.250 de 09 de fevereiro de 1967) admite, em seu artigo 49, a reparação por danos causados a outrem, através dos meios de divulgação. Verifica-se que tratou da reparação dos morais de forma mais profunda que o Código de Telecomunicações.

O Código Eleitoral (Lei 4.737 de 15 de julho de 1965) também faz referência expressa ao dano moral em relação à calúnia, injúria e difamação decorrentes de propagandas eleitorais. Pode o partido político ser responsabilizados solidariamente:

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autoridade pública. § 1º O ofendido por calúnia, difamação ou injúria, sem prejuízo e independentemente da ação penal competente, poderá demandar, no Juízo Civil a reparação do dano moral respondendo por este o ofensor e, solidariamente, o partido político deste, quando responsável por ação ou omissão a quem que favorecido pelo crime, haja de qualquer modo contribuído para ele.

E mais, além da reparação em pecúnia, há possibilidade de reparação do dano moral in natura, através do direito de resposta.

A Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, que regulamenta os direitos autorais, afirma que os autores têm direito de gozar e dispor de sua obra. Assim, com a violação de tais direitos, faz jus à indenização por danos morais e materiais. O autor é titular de direitos morais e patrimoniais sobre a obra que produziu.

Diversas outras leis versam sobre dano moral, como: Lei 7.716 de 1989 (sobre preconceito de raça e cor), Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078 de 1990), Lei 9.029 de 1995 (Atestados de gravidez e esterilização e outras práticas discriminatórias, para efeitos admissionais ou de permanência da relação jurídica de trabalho), Código de Propriedade Industrial (Lei 9.279 de 1996) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069 de 1990).

Hoje, importa reconhecer que, sob o aspecto do direito positivo, a reparabilidade do dano moral é incontroversa conforme do disposto na Constituição Federal de 1988 – CF/88, art. 5º, V e X:

"Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes:

...

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

...

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;"

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detrimento do interesse particular do lucro, atendendo a propriedade ao interesse da função social. Importante, portanto, citar o que rezam os artigos 170 e 193 da Constituição Federal:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.

Após a Constituição Federal de 1998, dúvida não há sobre a admissão da reparação por dano moral, isolada ou cumulativamente com a reparação por dano material, quando advindo de violação da intimidade, da vida privada e da imagem das pessoas.

Há, ainda, no legislativo dois projetos que versam sobre Dano Moral. O primeiro, Projeto Lei 7.124/02 dispõe sobre o Dano Moral e sua Reparação, de autoria do Senador Antônio Carlos Valadares. Contudo, necessário tecer alguns comentários sobre este projeto. Os dispositivos presentes não são indispensáveis, pois trata de instituto já previsto em outras legislações, como Constituição Federal e Código Civil, sob pena de se fazer repetitivo.

O artigo 1º tenta definir o instituto do dano moral, não o fazendo a contento. O dano moral pode ocorrer por diversas e inimagináveis ações ou omissões, sendo mais prudente deixar a conceituação aos doutrinadores e magistrados, nos casos concretos. Não faz referência ao dano moral coletivo, mesmo tendo este sido admitido pela jurisprudência pátria, através de inúmeras ações civis públicas. E mais, a

referência aos “entes políticos” é desnecessária, uma vez que estes são classificados

como pessoas jurídicas, sejam de direito público ou de direito privado. Alias, a possibilidade de pessoas jurídicas sofrerem dano moral está prevista na Súmula 227 do STJ, conforme disposto anteriormente.

(33)

O art. 6º dispõe sobre um princípio já consolidado em nosso ordenamento jurídico, indo além do que versa o art. 37º, § 6º da CF/88: “As pessoas jurídicas de

direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o

direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.”

O mais polêmico artigo do projeto de lei é o art.7º, que fixa valores para indenização do dano moral. Ora, a Carta Maior não fixou limites, nem estabeleceu valores para quantificar tal indenização. O sistema adota pelo país é o sistema aberto, com valor a ser arbitrado pelo juiz e não o sistema tarifário. Ainda, quantias fixas em moeda corrente atual estarão desatualizadas num futuro próximo.

O art. 8º dispõe que prescreve em 6 (seis) meses o prazo para ajuizamento da ação de indenização por danos morais. A matéria de prescrição já está regulada no CC/02, contudo com promulgação posterior ao projeto. Não obstante já haver lei que regula a prescrição, não há fundamento tal artigo, uma vez que dispõe prazo ínfimo para indenização do dano. Seria ilógico que a indenização por responsabilidade civil de um acidente de trânsito, por exemplo, prescrevesse em 3 (três) anos – art. 206, § 3º, inciso V – e uma reparação por dano moral prescrevesse em apenas 6 (seis) meses.

Por fim, desnecessário o comentário sobre o art. 9º, pois o mesmo se refere, ao já revogado, Código Civil de 1916.

O Projeto Lei 1.914/2003, com autoria do Deputado Marcus Vinicius, tem o seguinte texto:

“ALTERA A REDAÇÃO DO ART. 953 DA LEI N. 10.406 DE 10 DE JANEIRO DE 2002,

QUE INSTITUI O CÓDIGO CIVIL.”

Art. 1º - “Esta lei fixa parâmetros para fixação da indenização por danos morais, previsto no art. 953 da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 –Código Civil”

(34)

Art. 953 ...

§ 1º. Se o ofendido não puder provar o prejuízo material, caberá ao juiz fixar, equitativamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias do caso e de acordo com o disposto no parágrafo seguinte;

§ 2º. Na fixação da indenização por danos morais, o juiz, a fim de evitar enriquecimento indevido do demandante, levará em consideração a situação econômica do ofensor, a intensidade do ânimo de ofender, a gravidade e repercussão da ofensa, a posição

social e política do ofendido, bem como o sofrimento por ele experimentado.”

Tal projeto tem por objetivo dar nova redação ao art. 953 do CC/02. Seria mais indicado estabelecer tais afirmações em dispositivos independentes, uma vez que o art. 953 diz respeito, exclusivamente, ao dano moral decorrente da injúria, difamação e calúnia e há outras situações que podem ensejar reparação por dano moral.

As disposições do parágrafo segundo já vêm sendo adotadas pela doutrina e pelos magistrados, sem qualquer divergência.

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4 DANO MORAL DECORRENTE DA RELAÇÃO DE TRABALHO

Ab initio, importante destacar que o trabalhador, como qualquer outra pessoa, é passível de sofrer danos morais em decorrência da relação de trabalho. E, talvez, de forma mais contundente que as demais, em virtude de seu trabalho, por exercê-lo mediante subordinação ao empregador, que é uma das características essenciais da relação de emprego.

Deste modo, o empregado, subordinado juridicamente ao empregador, possui maior possibilidade do que qualquer outro indivíduo de ser moralmente atingido, em razão da própria hierarquia interna em que se submete à direção, a qual o trata, na maioria das vezes, como alguém submisso às ordens, de forma arbitrária. Para estes trabalhadores submetidos a situações constrangedoras e humilhantes é assegurado o direito de reparação por danos morais.

O dano moral trabalhista consiste na transgressão do dever de não praticar ato lesivo contra a honra e a boa fama, por ato das partes que compõe a relação de trabalho. O empregador é obrigado a indenizar o dano provocado pelo seu empregado, preposto ou serviçal, a outro empregado, consoante se infere da simples leitura dos artigos 932 e 933 do Código Civil, citados anteriormente.

Basta que o empregador tenha praticado o ato lesivo dentro da relação de subordinação existente entre ele e o trabalhador, para ensejar responsabilidade. Da mesma forma, provada a culpa do preposto pelo prejuízo da vítima, haverá culpa do patrão, desde que o empregado se encontre a serviço, no exercício do trabalho, ou por ocasião dele.

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O art. 927 do CC/02 dispõe ser devida a reparação por danos, independente de culpa, à vítima cuja atividade desenvolvida caracteriza-se como perigosa. Contudo,

não há definição, na legislação, sobre “atividade de risco”. Como se nota, foi ratificada a conclusão, já exposta acima, de que existe a responsabilidade sem culpa quando há lei especificamente prevendo a hipótese.

Nestes casos, cabe ao magistrado analisar se a atividade desempenhada configura atividade perigosa ou de risco. Assim, se o Juiz julgar a atividade como normal, ou seja, não perigosa, a vítima deverá provar a existência de culpa para ter o direito a reparação, fazendo incidir a responsabilidade subjetiva.

A Consolidação das Leis Trabalhistas contempla, mesmo que indiretamente, a reparação por dano moral em decorrência da ruptura do contrato de trabalho por atos praticados tanto pelo empregado, como pelo empregador nos seus artigos 482, incisos J e K e 483, E, que dispõem o seguinte:

Art. 482. Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador:

(...)

j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;

k) ato lesivo da honra e boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;

Art. 483. O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando:

(...)

e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama;

Importante destacar jurisprudência majoritária, que admite a reparação por danos morais, além da rescisão do contrato de trabalho, quando presente as situações dispostas nos artigos citados acima:

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482, "j" e "k") ou pelo empregador (art. 483, "d"). Embora essas hipóteses não esgotem a possibilidade de outras ocorrências danosas à moral, em todas elas é necessária a prova da ofensa, e da intenção premeditada de ofender, e a demonstração do dano moral sofrido, como resultado daquele ato, sem o qual o dano não teria ocorrido. A simples denúncia do ato faltoso, por si só, não constitui dano moral. (TRT 2ª R. - RO 25814200290202002 - (20020690678) - 9ª T. - Rel. Juiz Luiz Edgar Ferraz de Oliveira - DOESP 05.11.2002)

RESCISÃO INDIRETA - CARACTERIZAÇÃO - Configura hipótese de prática de ato lesivo à honra e boa-fama, por parte do empregador, a ensejar a rescisão indireta do contrato de trabalho, à luz do art. 483, "e"/CLT, o fato de o obreiro ter sido afastado do desempenho de suas funções, sob suspeita de furto, não provada, constituindo obstáculo à continuidade da relação empregatícia. DANO MORAL. CABIMENTO. REPARAÇÃO. Restando provado ter o empregado sido atingido injustamente e de forma arbitrária, em sua honra e boa fama, por suspeita de furto, caracterizando dano moral, tanto mais quando sem prova da materialidade do suposto delito, e tendo como conseqüência, seu afastamento, com o contrato rescindido, é imperativo o dever da empresa de repará-lo à luz do art. 5º, incs. I, V e X, da CR. (TRT 11ª R. - RO 7048/2004-002-11-00 - (2015/2005) - Relª Juíza Francisca Rita Alencar Albuquerque - J. 31.05.2005)

Ressalta-se que também é possível o empregado ou preposto causar danos contra o empregador, quando decorrentes de ofensa ao bom nome, ofensa à reputação, atentando à imagem da empresa e etc. Não obstante tal possibilidade, não se ouve falar de empregador que, além da rescisão por justa causa, pleiteou uma compensação pelos danos morais causados pelo empregado ou preposto, mesmo tendo direito. Tal fato não ocorre, talvez, pela situação financeira do empregado, que, na maioria das vezes, não dispõe de grandes recursos.

Em relação aos empregados, a falta de conhecimento de seus direitos faz com que não recorram à justiça especializada para haver compensação do dano moral. Estando o contrato em vigor, silenciam-se diante da ofensa para não deteriorar a relação com o patrão e virem a perder o emprego, o que seria desastroso no momento atual de recessão e desemprego. Contudo, mesmo depois de rescindido o contrato, a omissão fica pela dificuldade em se provar o ocorrido.

Assim, percebe-se que o dano moral pode ocorrer de ato do empregador contra empregado, bem como do empregado contra empregador, atingindo pessoa física, jurídica ou coletiva.

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emprego, mas qualquer atividade decorrente da relação de trabalho. Deste modo, é irrelevante que exista um vínculo empregatício ou subordinação. O empregado eventual que pratica ato danoso também poderá ser responsabilizado. Deve-se observar se o agente praticou a conduta no exercício do trabalho.

4.1 Legitimidade

Possui legitimidade ativa a pessoa prejudicada pelo ato danoso, ou seja, a própria vítima. Contudo, podem ser legítimas também as pessoas ligadas ao ofendido. Neste caso, deve-se ter cuidado para que a indenização não seja fonte de abuso e aproveitamento da dor alheia.

Com a Súmula n. 227 do STJ, não restam dúvidas sobre a legitimidade ativa e passiva tanto da pessoa física quanto da pessoa jurídica para figurar como parte nas ações de reparação por dano moral.

Sabe-se que a personalidade morre com o indivíduo. Assim, a problemática surge acerca da sucessão do empregado e empregador, se esta é possível de figurar como parte nas ações de dano moral. A doutrina mostrava-se controvertida sobre tal questão. Alguns sustentavam a não transmissão dos direitos decorrentes do dano moral. Outros exigiam a prova da dor moral sofrida pela família.

A partir do CCB/02, o sistema jurídico brasileiro passou a admitir a transmissão desses direitos aos familiares, nos casos expressos em lei. Assim, determina o art. 12:

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

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Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

Deve-se analisar quem foi atingido em seus sentimentos anímicos, em razão do dano. É, portanto, fundamental identificar nestas pessoas lesão aos valores não patrimoniais, que tenham causado dor, sofrimento e tristeza.

Diante do exposto, podemos afirmar que o direito da ação por danos morais constitui crédito de sucessão, sendo parte legítima os herdeiros do ofendido.

4.2 Da Prova

A doutrina acredita que o dano independe de prova específica, uma vez que a dor moral não pode ser materialmente provada. Acreditam que a ofensa moral dispensa prova quanto ao dano em si, que o mesmo dano é presumível em decorrência da simples ofensa. Para tanto, o juiz deve levar em consideração um homem médio e os valores de determinada sociedade.

Fala-se em danos com conseqüência presumida e danos com conseqüência a ser provada. Assim, a vítima deve provar o fato que ocasionou o dano e o nexo causal, já as conseqüências, como a dor e o abalo psíquico são presumidos. Assim, quando o tratamento vexatório origina constrangimento, a vítima deve provar o fato ocorrido que sofreu, mas as conseqüências são presumidas.

A presunção é necessária em virtude da impossibilidade de se viabilizar meio de prova, por ser o emocional algo bastante subjetivo.

Contudo, há os que afirmam que o dano moral exige prova não só de sua ocorrência, mas ainda de sua repercussão na esfera moral. Alguns Tribunais ainda exigem a prova do fato e do dano sofrido:

DANO MORAL - O dano moral passível de reparação exige prova robusta da prática do ilícito, além da ampla demonstração do prejuízo sofrido. (TRT 5ª R. - RO 00262-2004-013-05-00-5 - (16.359/05) - Relª Desª Sônia França - J. 02.08.2005)

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reclamado. 3. Recurso conhecido e provido parcialmente. (TRT 10ª R. - RO 00907-2004-009-10-00-3 - 2ª T. - Rel. Juiz Brasilino Santos Ramos - J. 03.11.2005)

O contrato de trabalho gera, muitas vezes, responsabilidade objetiva do empregador, de acordo com art. 933 CCB, independente de culpa, conforme exposto anteriormente. Há casos em que ainda não se concretizou o contrato de trabalho, mas que, mesmo assim, podem ensejar reparação por dano moral. Tal entendimento também é utilizado para os casos após a extinção de contrato.

Se o dano moral for de responsabilidade contratual, ou seja, advém do contrato de trabalho, terá como fundamento o disposto no art. 389 CCB e o ônus de provar que não fez o que está sendo alegado é do ofensor (devedor). O ofendido terá que comprovar apenas a existência do contrato e do fato.

Sendo a responsabilidade extracontratual, terá como fundamento os arts. 186, 187 e 927 do CCB. Neste caso, a prova caberá ao ofendido.

Reginald Felker acredita que “o dano moral, na relação de trabalho, independe de prova do dano, mister se fazendo apenas a prova do fato que enseja o dano.” 15

A questão da prova, no Direito do Trabalho, apresenta um problema de natureza processual, principalmente com o advento da Reforma do Judiciário, Emenda Constitucional n. 45. Houve um deslocamento definitivo da competência das ações de danos morais para a Justiça do trabalho. Um dos problemas apresentados é com relação ao número máximo de testemunhas, sendo em 3 (três) o número de testemunhas na Justiça do Trabalho. Neste caso, digamos que em uma mesma ação fossem requeridas várias verbas e que cada pedido necessitasse de uma testemunha diferente, teríamos uma restrição à possibilidade de prova, uma vez que as testemunhas são limitadas. Assim, a solução seria ingressar com uma ação para cada pedido, contudo tal acarretaria um acúmulo de processos na Justiça Laboral. Tal fato serve apenas a título informação, uma vez que, na prática, a testemunha apresentada possui o mesmo conhecimento sobre a parte fática da ação e os pedidos.

15

(41)

Diante do exposto, verifica-se a necessidade de se adaptar novos procedimentos processuais à Justiça do Trabalho, principalmente com relação à instrução processual.

4.3 Quantificação

DANO MORAL - CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO - O dano moral é lesão imaterial cuja reparação não permite o retorno das partes ao status quo ante, mas visa à punição de quem cometeu o ato ilícito e a amenização da dor sofrida. Os critérios para fixar a indenização serão mais seguros se orientados por fatos objetivos, tais como, repercussão e gravidade dos fatos, do que pela dor interior e angústia sofrida pelo lesado. A suscetibilidade individual, diante da manifesta subjetividade, não é parâmetro seguro, até porque, é circunstância de difícil comprovação. (TRT 2ª R. - RO 02867-2001-001-02-00 - (20050409675) - 8ª T. - Rel. p/o Ac. Juiz Rovirso Aparecido Boldo - DOESP 05.07.2005)

DANO MORAL DECORRENTE DA RELAÇÃO DE EMPREGO –

CARACTERIZAÇÃO E VALOR DA INDENIZAÇÃO – CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO

– DESVINCULAÇÃO DO TEMPO DE SERVIÇO E DO SALÁRIO PERCEBIDO

PELO OBREIRO – O valor da indenização por dano moral deve ser arbitrado levando-se em conta a gravidade da ofensa, apenas, sem se considerar o tempo de serviço ou a remuneração percebida pelo obreiro, sob pena de perpetrar-se a injustiça de, para empregados igualmente ofendidos, fixarem-se indenizações diferentes apenas porque um deles tem mais tempo de serviço ou recebe remuneração superior ao outro, principalmente porque a dor moral não tem peso, odor, forma, valor ou tratamento eficaz. A indenização a ela correspondente, contudo, não objetiva ressarcir ao empregado prejuízo de todo incomensurável, mas, enquanto pena pecuniária e pedagógica que é, impor sanção ao agressor para que este, atingido no seu patrimônio, possa redimir-se do ato faltoso praticado, além de compensar o ofendido em pecúnia, pelo prejuízo moralmente experimentado. (TRT 5ª R. – RO 00265-2003-341-05-00-1

– (5.856/05) – 4ª T. – Relª Juíza Débora Machado – J. 05.04.2005)

As decisões acima conseguiram estabelecer a questão referente à fixação do quantum indenizatório da reparação do dano moral. Tal fixação deve ser fundamentada no princípio da razoabilidade, tendo como base a experiência e o bom senso do julgador, que considera inúmeros fatores para obter medida razoável para indenização.

(42)

Há dois tipos de sistemas para fixação do quantum indenizatório: o tarifário (fechado) e o ilimitado (aberto). O sistema tarifário fixa valores máximos e mínimos para quantificar a indenização, desconsiderando a pessoa do ofensor e do ofendido. Os que defendem a adoção do sistema tarifário argumentam que, como o dano moral é o mesmo, independente da pessoa, se rico ou pobre, o valor da condenação deveria ser o mesmo. Afirmam também que a condição do ofensor não deveria ser fator para configuração do dano, pois tais condições são irrelevantes para medir o dano. O sistema tarifário está previsto no Código de Telecomunicações e na Lei de Imprensa.

O CCB de 1916 previa indenização tarifária em seu art. 1547, estipulando o dobro da multa no grau máximo de respectiva pena criminal. O novo Código não traz dispositivo correspondente. O juiz deve, para fixar o quantum indenizatório, levar em consideração a intensidade do sofrimento do ofendido, a gravidade e repercussão da ofensa, a posição social e política do ofendido, a intensidade do dolo e da culpa do ofensor, bem como sua situação política e econômica.

A Súmula n. 281 do STJ determina que: ”A indenização por dano moral não

está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa.”

Encontramos, ainda, regras específicas nos arts. 944 a 954 do CCB. Contudo, não há regra definida expressamente sobre o valor da indenização. Prevê o

art. 944: “A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir,

eqüitativamente, a indenização.”

Assim, caberá ao juiz fixar o quantum indenizatório, em termos razoáveis. O sistema atualmente adotado para fixação da reparação por dano moral se dá pelo arbitramento do juiz. Salienta-se que não se trata de arbitrariedade, uma vez que o juiz leva em consideração critérios e pressupostos para fixação do dano.

Referências

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