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Observatório Covid-19

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Academic year: 2022

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06 07

fevereiro de 2022

PORTAL.FIOCRUZ.BR/OBSERVATORIO-COVID-19

INFORMAÇÃO PARA AÇÃO

o analisar o conjunto de indicadores que têm sido adotados para o monitoramento e a avaliação da evolução da pande- mia, em diferentes fases, é importante ter em consideração, para a formulação de políticas públicas e na implementação de ações, que os indicadores mostram um quadro heterogêneo no Brasil, que é extremamente desigual em vários níveis e inclusive nas condições de acesso à saúde. Esse é o destaque central do primeiro texto (A iniquidade da pandemia: entre o iate e o remo, como escapamos todos?), que traz a imagem da pandemia como uma tempestade, lembrando que não estão todos no mesmo barco.

Assim, qualquer discussão e decisão sobre o quadro atual e os possíveis cenários futuros terão de considerar que seus impactos não são iguais para todos, com muitos não só sofrendo ainda por algum tempo os riscos de infecção e agravamento (principalmente os que ainda não completaram o esquema vacinal), mas também os impactos da Covid Longa (principalmente para os grupos sociais e populacionais com piores condições sociais e econômicas).

Neste contexto, mais do que nunca, as políticas públicas do Estado brasileiro precisam estar em consonância com o objetivo da Consti- tuição de 1988 de redução das desigualdades sociais e promoção do bem de todos, bem como com os princípios do SUS de acesso universal à saúde, com equidade e integralidade nos cuidados.

Se no último Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz foi possível fazer uma análise geral da evolução da pandemia no Brasil1, com diferentes fases, é importante destacar que nem todos os espaços geográficos, territórios e populações a vivenciaram ao mesmo tempo e com a mesma intensidade. Este quadro é revelado pelos indicadores de casos, internações e óbitos para Síndromes Respiratórias Agudas Graves e Covid-19, principalmente nos municí- pios mais distantes das capitais (o que inclui, em muitas situações, áreas e populações indígenas e quilombolas) e mais pobres, assim como nas favelas dos grandes centros urbanos. A desigualdade também se repetiu em termos de disponibilidade e acesso aos leitos UTI para Covid-19, uma vez que a distribuição dos recursos, desde o

A

início da pandemia, se deu de modo bastante desigual2.

Embora o cenário geral seja bastante promissor, tanto pela tendência de queda dos principais indicadores como pelo avanço na cobertura vacinal, além da chegada de medicamentos para o tratamento da Covid-19, é importante sublinhar que a pandemia ainda não acabou. Assim, torna-se fundamental a combinação de políticas, estratégias e ações para a proteção da saúde da população, principalmente para os grupos que estão mais expostos e vulneráveis.

Dentre os mais expostos se destacam todos aqueles adultos que não completaram o esquema vacinal, como também, e principalmente, as crianças e adolescentes, tanto nos grandes centros urbanos como nos municípios menores e mais pobres, onde a cobertura vacinal para primeira e segunda doses chega a ser 20%

menor3. Isto exige combinar políticas de combate às fake news com busca ativa dos não vacinados pela Atenção Primária à Saúde e outras estratégias de ampliação de horário das unidades de Saúde, com campanhas de vacinação nas escolas, atingindo crianças, pais e professores. Além da busca ativa e maior oferta de possibilidades de vacinação, políticas públicas que considerem o “passaporte de vacina” nos locais de trabalho, para trabalhadores de empresas privadas e públicas, e motoristas de transporte de pessoas, como ônibus, taxis e aplicativos, devem ser avaliadas.

Por fim, este Boletim também recomenda que, enquanto o país caminha para níveis ótimos de cobertura vacinal, medidas de distanciamento físico, uso de máscaras e higienização das mãos sejam mantidas, mesmo em ambientes abertos onde possa ocorrer maior concentração e aglomeração de pessoas – o que, embora não seja desejável, poderá ocorrer durante o Carnaval. E que festas privadas ou bailes em casas de festas, clubes ou outros ambientes só sejam realizadas com exigência do compro- vante de vacinação.

Certamente que este Carnaval não vai ser igual àquele que passou, mas a pandemia ainda não acabou e cuidados e proteção continuam necessários.

1. https://portal.fiocruz.br/noticia/covid-19-balanco-de-dois-anos-da-pandemia-aponta-vacinacao-como-prioridade

2. Nota técnica: Limites e possibilidades dos municípios brasileiros para o enfrentamento dos casos graves de COVID19. Disponível em:

https://portal.fiocruz.br/documento/nota-tecnica-limites-e-possibilidades-dos-municipios-brasileiros-para-o-enfrentamento-dos 3. Nota técnica: Desigualdades na vacinação contra Covid-19. Disponível em: https://bigdata-covid19.icict.fiocruz.br/nota_tecnica_23.pdf

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Observatório Covid-19

SEMANASEPIDEMIOLÓGICAS

06

e

07

de 6 a 19 de

fevereiro de 2022 P.2

O escritor Damian Barr, membro da Royal Society of Arts, da Inglaterra, a respeito da pandemia, disse: “Não estamos todos no mesmo barco. Estamos todos na mesma tempestade. Alguns estão em super-iates. Alguns tem apenas um remo”. Ainda que o poema que deu origem a este trecho seja uma ode ao não julgamento dos outros, ele expõe um cenário rotineiro na descri- ção da pandemia no mundo, seja qual for a escala: nenhum lugar é igual a outro. A comparação da dinâmica da pandemia entre lugares não é tarefa simples. Mas necessária. Ela aponta princi- palmente as diferentes formas de enfrentamento da pandemia, que alteram o curso da história natural da Covid-19 em variadas escalas de análise.

O Brasil é um país continental. Ele reúne mais de 5,6 mil municípios, que apresentam uma grande heterogeneidade, criada por diferenças estruturais, demográficas, geográficas, políticas e sociais. Em razão desta realidade, na Constituição de 1988 são destacados como objetivos fundamentais de um projeto de nação o de se construir uma “sociedade justa e solidária” e um

“desenvolvimento nacional combinado com erradicação da pobreza, redução das desigualdades sociais e promoção do bem de todos”. As políticas públicas devem ser pautadas nestes objeti- vos fundamentais, de modo que devem ser criadas na tentativa de reduzir o impacto das desigualdades estruturais presentes na formação social brasileira. A política de saúde, neste contexto, não foge à regra. Princípios doutrinários como a universalidade do acesso e a hierarquização dos níveis de atenção operam em paralelo a princípios fundamentais de equidade e a regionaliza- ção. Por tudo isso, pode-se dizer que o enfrentamento da pande- mia deve considerar o panorama geral do país e igualmente estar atento a perfis absolutamente heterogêneos e desiguais quando se amplia o campo de visão ao nível subnacional.

A título de exemplo, foram selecionados os indicadores de casos, óbitos e cobertura vacinal do Brasil e quatro estados:

Pará, Maranhão, São Paulo e Rio Grande do Sul. As duas primei- ras unidades da Federação pertencem territorialmente ao Norte e Nordeste brasileiros e têm história conhecida de maior popula-

A iniquidade da pandemia: entre o

iate e o remo, como escapamos todos?

ção em níveis de pobreza, maior nível de desigualdade social e menor IDH. São Paulo e Rio Grande do Sul pertencem ao Sudes- te e Sul, regiões conhecidas por indicadores com níveis mais favoráveis de riqueza, urbanização e facilidade de acesso a equipamentos sociais e serviços de saúde.

A diferença entre eles é notável (figura 1). O indicador de casos novos em nível Brasil mostra que o país ultrapassou há algumas semanas o pico da onda provocada possivelmente pela introdução da variante Ômicron. A tendência acompanha os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul que, vale mencionar, têm volume notadamente maior que outras unidades da Federa- ção. Desta forma, o padrão apresentado pela curva brasileira é bastante influenciado por esses estados. No entanto, um olhar cuidadoso sobre o Pará mostra que, aparentemente, o estado ainda não chegou ao pico da curva. O Maranhão, por sua vez, apresenta um platô do que pode representar um pico, ainda com incertezas sobre esse comportamento.

Situação semelhante ocorre para os óbitos. Em que pese o fato de que o comportamento da mortalidade tem uma defasagem em comparação à curva dos casos novos, não se pode deixar de notar que a curva de mortes no Brasil parece entrar numa fase de estabi- lidade e, caso siga a tendência de fases anteriores, tenderá ao declínio nas próximas semanas. Esta tendência é percebida igualmente para São Paulo e Rio Grande do Sul, mas não no Pará e no Maranhão, onde a curva ainda parece ascendente. É equivo- cado, portanto, pensar em estratégias homogêneas de recuo na provisão de leitos e insumos para unidades de média e alta comple- xidade, assim como reduzir a indução da testagem em massa e o desincentivo ao uso de máscaras no país como um todo.

A situação da vacinação não é diferente. Análise anterior1 já evidenciou a enorme desigualdade da cobertura vacinal contra a Covid-19 nos estados. O que se observa (figura 2) é que, de forma sistemática, São Paulo e Rio Grande do Sul estiveram acima da média nacional em todo o período desde o início da vacinação, em oposição a Pará e Maranhão, que se mantiveram abaixo do nível brasileiro igualmente em todo o período. É impor-

tante ressaltar que o Pará, particularmente, apresentou períodos de crescimento nulo ao longo do período (para primeira e segun- da doses), assim como o Rio Grande do Sul ao final de 2021 (para dose de reforço), sugerindo a irregularidade da disponibili- dade da vacina para a população desses locais. A diferença aumenta gradativamente a cada dose e a diferença entre as unidades da Federação para a dose de reforço ratifica as

enormes diferenças entre os estados.

De fato, não estamos todos no mesmo barco. A pandemia evidenciou – e acentuou – desigualdades estruturais do país. A coexistência de no mínimo dois Brasis, um do Norte e outro do Sul, é destacada na análise comparativa. A mesma relação é estabele- cida em escalas estaduais e eventualmente municipais. A política de saúde brasileira, no limite, deve garantir recursos universais,

mas proporcionais ao nível de desvantagem relativa aos entes federativos. Não é possível pensar na mitigação da pandemia no Brasil como um todo utilizando indicadores globais do país sem um olhar atento para outras escalas. Enquanto houver descontrole dos indicadores em um único município a pandemia não terminará.

À mesma maneira que descreve as desigualdades da pande- mia, Barr encerra seu poema, que traduz não apenas a esperan-

ça de dias melhores, mas uma mensagem que deve ser refletida nas políticas públicas do país: “Estamos passando por um momento em que nossas percepções e necessidades são completamente diferentes. E cada um emergirá, à sua maneira, desta tempestade. (...) Estamos em navios diferentes procuran- do sobreviver. Que cada um percorra seu caminho com respeito, empatia e responsabilidade”.

1. Como superar a estagnação da curva de cobertura vacinal de primeira dose contra covid-19 no Brasil? Disponível em: https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.3380 Banksy, We’re Not All In The Same Boat (Não Estamos Todos No Mesmo Barco), grafite sobre muro em Calais, França, 2015, apropriando-se de A jangada da Medusa, de Théodore Géricault / Museu do Louvre, Paris, França.

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O escritor Damian Barr, membro da Royal Society of Arts, da Inglaterra, a respeito da pandemia, disse: “Não estamos todos no mesmo barco. Estamos todos na mesma tempestade. Alguns estão em super-iates. Alguns tem apenas um remo”. Ainda que o poema que deu origem a este trecho seja uma ode ao não julgamento dos outros, ele expõe um cenário rotineiro na descri- ção da pandemia no mundo, seja qual for a escala: nenhum lugar é igual a outro. A comparação da dinâmica da pandemia entre lugares não é tarefa simples. Mas necessária. Ela aponta princi- palmente as diferentes formas de enfrentamento da pandemia, que alteram o curso da história natural da Covid-19 em variadas escalas de análise.

O Brasil é um país continental. Ele reúne mais de 5,6 mil municípios, que apresentam uma grande heterogeneidade, criada por diferenças estruturais, demográficas, geográficas, políticas e sociais. Em razão desta realidade, na Constituição de 1988 são destacados como objetivos fundamentais de um projeto de nação o de se construir uma “sociedade justa e solidária” e um

“desenvolvimento nacional combinado com erradicação da pobreza, redução das desigualdades sociais e promoção do bem de todos”. As políticas públicas devem ser pautadas nestes objeti- vos fundamentais, de modo que devem ser criadas na tentativa de reduzir o impacto das desigualdades estruturais presentes na formação social brasileira. A política de saúde, neste contexto, não foge à regra. Princípios doutrinários como a universalidade do acesso e a hierarquização dos níveis de atenção operam em paralelo a princípios fundamentais de equidade e a regionaliza- ção. Por tudo isso, pode-se dizer que o enfrentamento da pande- mia deve considerar o panorama geral do país e igualmente estar atento a perfis absolutamente heterogêneos e desiguais quando se amplia o campo de visão ao nível subnacional.

A título de exemplo, foram selecionados os indicadores de casos, óbitos e cobertura vacinal do Brasil e quatro estados:

Pará, Maranhão, São Paulo e Rio Grande do Sul. As duas primei- ras unidades da Federação pertencem territorialmente ao Norte e Nordeste brasileiros e têm história conhecida de maior popula-

ção em níveis de pobreza, maior nível de desigualdade social e menor IDH. São Paulo e Rio Grande do Sul pertencem ao Sudes- te e Sul, regiões conhecidas por indicadores com níveis mais favoráveis de riqueza, urbanização e facilidade de acesso a equipamentos sociais e serviços de saúde.

A diferença entre eles é notável (figura 1). O indicador de casos novos em nível Brasil mostra que o país ultrapassou há algumas semanas o pico da onda provocada possivelmente pela introdução da variante Ômicron. A tendência acompanha os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul que, vale mencionar, têm volume notadamente maior que outras unidades da Federa- ção. Desta forma, o padrão apresentado pela curva brasileira é bastante influenciado por esses estados. No entanto, um olhar cuidadoso sobre o Pará mostra que, aparentemente, o estado ainda não chegou ao pico da curva. O Maranhão, por sua vez, apresenta um platô do que pode representar um pico, ainda com incertezas sobre esse comportamento.

Situação semelhante ocorre para os óbitos. Em que pese o fato de que o comportamento da mortalidade tem uma defasagem em comparação à curva dos casos novos, não se pode deixar de notar que a curva de mortes no Brasil parece entrar numa fase de estabi- lidade e, caso siga a tendência de fases anteriores, tenderá ao declínio nas próximas semanas. Esta tendência é percebida igualmente para São Paulo e Rio Grande do Sul, mas não no Pará e no Maranhão, onde a curva ainda parece ascendente. É equivo- cado, portanto, pensar em estratégias homogêneas de recuo na provisão de leitos e insumos para unidades de média e alta comple- xidade, assim como reduzir a indução da testagem em massa e o desincentivo ao uso de máscaras no país como um todo.

A situação da vacinação não é diferente. Análise anterior1 já evidenciou a enorme desigualdade da cobertura vacinal contra a Covid-19 nos estados. O que se observa (figura 2) é que, de forma sistemática, São Paulo e Rio Grande do Sul estiveram acima da média nacional em todo o período desde o início da vacinação, em oposição a Pará e Maranhão, que se mantiveram abaixo do nível brasileiro igualmente em todo o período. É impor-

Casos Novos Mortes

São Paulo

Rio Grande do Sul

Brasil

Pará

Maranhão

0 50000 100000 150000 200000

3/3/20 4/3/20 5/3/20 6/3/20 7/3/20 8/3/20 9/3/20 10/3/20 11/3/20 12/3/20 1/3/21 2/3/21 3/3/21 4/3/21 5/3/21 6/3/21 7/3/21 8/3/21 9/3/21 10/3/21 11/3/21 12/3/21 1/3/22 2/3/22

Casos

Data

0 200 400 600 800 1000

3/3/20 4/3/20 5/3/20 6/3/20 7/3/20 8/3/20 9/3/20 10/3/20 11/3/20 12/3/20 1/3/21 2/3/21 3/3/21 4/3/21 5/3/21 6/3/21 7/3/21 8/3/21 9/3/21 10/3/21 11/3/21 12/3/21 1/3/22 2/3/22

Óbitos

Data

0 5000 10000 15000 20000

3/3/20 4/3/20 5/3/20 6/3/20 7/3/20 8/3/20 9/3/20 10/3/20 11/3/20 12/3/20 1/3/21 2/3/21 3/3/21 4/3/21 5/3/21 6/3/21 7/3/21 8/3/21 9/3/21 10/3/21 11/3/21 12/3/21 1/3/22 2/3/22

Casos

Data

0 100 200 300 400

3/3/20 4/3/20 5/3/20 6/3/20 7/3/20 8/3/20 9/3/20 10/3/20 11/3/20 12/3/20 1/3/21 2/3/21 3/3/21 4/3/21 5/3/21 6/3/21 7/3/21 8/3/21 9/3/21 10/3/21 11/3/21 12/3/21 1/3/22 2/3/22

Óbitos

Data

0 5000 10000 15000 20000

3/3/20 4/3/20 5/3/20 6/3/20 7/3/20 8/3/20 9/3/20 10/3/20 11/3/20 12/3/20 1/3/21 2/3/21 3/3/21 4/3/21 5/3/21 6/3/21 7/3/21 8/3/21 9/3/21 10/3/21 11/3/21 12/3/21 1/3/22 2/3/22

Casos

Data

5000 10001500 20002500 30003500

3/3/20 4/3/20 5/3/20 6/3/20 7/3/20 8/3/20 9/3/20 10/3/20 11/3/20 12/3/20 1/3/21 2/3/21 3/3/21 4/3/21 5/3/21 6/3/21 7/3/21 8/3/21 9/3/21 10/3/21 11/3/21 12/3/21 1/3/22 2/3/22

Óbitos

Data

5000 10001500 2000 25003000 3500

3/3/20 4/3/20 5/3/20 6/3/20 7/3/20 8/3/20 9/3/20 10/3/20 11/3/20 12/3/20 1/3/21 2/3/21 3/3/21 4/3/21 5/3/21 6/3/21 7/3/21 8/3/21 9/3/21 10/3/21 11/3/21 12/3/21 1/3/22 2/3/22

Casos

Data

0 50 100 150 200

3/3/20 4/3/20 5/3/20 6/3/20 7/3/20 8/3/20 9/3/20 10/3/20 11/3/20 12/3/20 1/3/21 2/3/21 3/3/21 4/3/21 5/3/21 6/3/21 7/3/21 8/3/21 9/3/21 10/3/21 11/3/21 12/3/21 1/3/22 2/3/22

Óbitos

Data

0 500 1000 1500 2000 2500

3/3/20 4/3/20 5/3/20 6/3/20 7/3/20 8/3/20 9/3/20 10/3/20 11/3/20 12/3/20 1/3/21 2/3/21 3/3/21 4/3/21 5/3/21 6/3/21 7/3/21 8/3/21 9/3/21 10/3/21 11/3/21 12/3/21 1/3/22 2/3/22

Casos

Data

0 10 20 30 40 50

3/3/20 4/3/20 5/3/20 6/3/20 7/3/20 8/3/20 9/3/20 10/3/20 11/3/20 12/3/20 1/3/21 2/3/21 3/3/21 4/3/21 5/3/21 6/3/21 7/3/21 8/3/21 9/3/21 10/3/21 11/3/21 12/3/21 1/3/22 2/3/22

Óbitos

Data

tante ressaltar que o Pará, particularmente, apresentou períodos de crescimento nulo ao longo do período (para primeira e segun- da doses), assim como o Rio Grande do Sul ao final de 2021 (para dose de reforço), sugerindo a irregularidade da disponibili- dade da vacina para a população desses locais. A diferença aumenta gradativamente a cada dose e a diferença entre as unidades da Federação para a dose de reforço ratifica as

enormes diferenças entre os estados.

De fato, não estamos todos no mesmo barco. A pandemia evidenciou – e acentuou – desigualdades estruturais do país. A coexistência de no mínimo dois Brasis, um do Norte e outro do Sul, é destacada na análise comparativa. A mesma relação é estabele- cida em escalas estaduais e eventualmente municipais. A política de saúde brasileira, no limite, deve garantir recursos universais,

Fonte: eSUS notifica, 2022

federativos. Não é possível pensar na mitigação da pandemia no Brasil como um todo utilizando indicadores globais do país sem um olhar atento para outras escalas. Enquanto houver descontrole dos indicadores em um único município a pandemia não terminará.

À mesma maneira que descreve as desigualdades da pande- mia, Barr encerra seu poema, que traduz não apenas a esperan-

nas políticas públicas do país: “Estamos passando por um momento em que nossas percepções e necessidades são completamente diferentes. E cada um emergirá, à sua maneira, desta tempestade. (...) Estamos em navios diferentes procuran- do sobreviver. Que cada um percorra seu caminho com respeito, empatia e responsabilidade”.

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FIGURA 2 - SÉRIES HISTÓRICAS DE COBERTURA VACINAL SEGUNDO DOSE EM ESTADOS SELECIONADOS. BRASIL, 2020-2022

Fonte: eSUS notifica, 2022

Observatório Covid-19

SEMANASEPIDEMIOLÓGICAS

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de 6 a 19 de

fevereiro de 2022 P.4

O escritor Damian Barr, membro da Royal Society of Arts, da Inglaterra, a respeito da pandemia, disse: “Não estamos todos no mesmo barco. Estamos todos na mesma tempestade. Alguns estão em super-iates. Alguns tem apenas um remo”. Ainda que o poema que deu origem a este trecho seja uma ode ao não julgamento dos outros, ele expõe um cenário rotineiro na descri- ção da pandemia no mundo, seja qual for a escala: nenhum lugar é igual a outro. A comparação da dinâmica da pandemia entre lugares não é tarefa simples. Mas necessária. Ela aponta princi- palmente as diferentes formas de enfrentamento da pandemia, que alteram o curso da história natural da Covid-19 em variadas escalas de análise.

O Brasil é um país continental. Ele reúne mais de 5,6 mil municípios, que apresentam uma grande heterogeneidade, criada por diferenças estruturais, demográficas, geográficas, políticas e sociais. Em razão desta realidade, na Constituição de 1988 são destacados como objetivos fundamentais de um projeto de nação o de se construir uma “sociedade justa e solidária” e um

“desenvolvimento nacional combinado com erradicação da pobreza, redução das desigualdades sociais e promoção do bem de todos”. As políticas públicas devem ser pautadas nestes objeti- vos fundamentais, de modo que devem ser criadas na tentativa de reduzir o impacto das desigualdades estruturais presentes na formação social brasileira. A política de saúde, neste contexto, não foge à regra. Princípios doutrinários como a universalidade do acesso e a hierarquização dos níveis de atenção operam em paralelo a princípios fundamentais de equidade e a regionaliza- ção. Por tudo isso, pode-se dizer que o enfrentamento da pande- mia deve considerar o panorama geral do país e igualmente estar atento a perfis absolutamente heterogêneos e desiguais quando se amplia o campo de visão ao nível subnacional.

A título de exemplo, foram selecionados os indicadores de casos, óbitos e cobertura vacinal do Brasil e quatro estados:

Pará, Maranhão, São Paulo e Rio Grande do Sul. As duas primei- ras unidades da Federação pertencem territorialmente ao Norte e Nordeste brasileiros e têm história conhecida de maior popula-

ção em níveis de pobreza, maior nível de desigualdade social e menor IDH. São Paulo e Rio Grande do Sul pertencem ao Sudes- te e Sul, regiões conhecidas por indicadores com níveis mais favoráveis de riqueza, urbanização e facilidade de acesso a equipamentos sociais e serviços de saúde.

A diferença entre eles é notável (figura 1). O indicador de casos novos em nível Brasil mostra que o país ultrapassou há algumas semanas o pico da onda provocada possivelmente pela introdução da variante Ômicron. A tendência acompanha os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul que, vale mencionar, têm volume notadamente maior que outras unidades da Federa- ção. Desta forma, o padrão apresentado pela curva brasileira é bastante influenciado por esses estados. No entanto, um olhar cuidadoso sobre o Pará mostra que, aparentemente, o estado ainda não chegou ao pico da curva. O Maranhão, por sua vez, apresenta um platô do que pode representar um pico, ainda com incertezas sobre esse comportamento.

Situação semelhante ocorre para os óbitos. Em que pese o fato de que o comportamento da mortalidade tem uma defasagem em comparação à curva dos casos novos, não se pode deixar de notar que a curva de mortes no Brasil parece entrar numa fase de estabi- lidade e, caso siga a tendência de fases anteriores, tenderá ao declínio nas próximas semanas. Esta tendência é percebida igualmente para São Paulo e Rio Grande do Sul, mas não no Pará e no Maranhão, onde a curva ainda parece ascendente. É equivo- cado, portanto, pensar em estratégias homogêneas de recuo na provisão de leitos e insumos para unidades de média e alta comple- xidade, assim como reduzir a indução da testagem em massa e o desincentivo ao uso de máscaras no país como um todo.

A situação da vacinação não é diferente. Análise anterior1 já evidenciou a enorme desigualdade da cobertura vacinal contra a Covid-19 nos estados. O que se observa (figura 2) é que, de forma sistemática, São Paulo e Rio Grande do Sul estiveram acima da média nacional em todo o período desde o início da vacinação, em oposição a Pará e Maranhão, que se mantiveram abaixo do nível brasileiro igualmente em todo o período. É impor-

tante ressaltar que o Pará, particularmente, apresentou períodos de crescimento nulo ao longo do período (para primeira e segun- da doses), assim como o Rio Grande do Sul ao final de 2021 (para dose de reforço), sugerindo a irregularidade da disponibili- dade da vacina para a população desses locais. A diferença aumenta gradativamente a cada dose e a diferença entre as unidades da Federação para a dose de reforço ratifica as

enormes diferenças entre os estados.

De fato, não estamos todos no mesmo barco. A pandemia evidenciou – e acentuou – desigualdades estruturais do país. A coexistência de no mínimo dois Brasis, um do Norte e outro do Sul, é destacada na análise comparativa. A mesma relação é estabele- cida em escalas estaduais e eventualmente municipais. A política de saúde brasileira, no limite, deve garantir recursos universais,

mas proporcionais ao nível de desvantagem relativa aos entes federativos. Não é possível pensar na mitigação da pandemia no Brasil como um todo utilizando indicadores globais do país sem um olhar atento para outras escalas. Enquanto houver descontrole dos indicadores em um único município a pandemia não terminará.

À mesma maneira que descreve as desigualdades da pande- mia, Barr encerra seu poema, que traduz não apenas a esperan-

ça de dias melhores, mas uma mensagem que deve ser refletida nas políticas públicas do país: “Estamos passando por um momento em que nossas percepções e necessidades são completamente diferentes. E cada um emergirá, à sua maneira, desta tempestade. (...) Estamos em navios diferentes procuran- do sobreviver. Que cada um percorra seu caminho com respeito, empatia e responsabilidade”.

PRIMEIRA DOSE

SEGUNDA DOSE

DOSE DE REFORÇO

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

1/17/21 1/31/21 2/14/21 2/28/21 3/14/21 3/28/21 4/11/21 4/25/21 5/9/21 5/23/21 6/6/21 6/20/21 7/4/21 7/18/21 8/1/21 8/15/21 8/29/21 9/12/21 9/26/21 10/10/21 10/24/21 11/7/21 11/21/21 12/5/21 12/19/21 1/2/22 1/16/22 1/30/22 2/13/22

Cobertura D1

Data

São Paulo Rio Grande do Sul Brasil Maranhão Pará

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

1/17/21 1/31/21 2/14/21 2/28/21 3/14/21 3/28/21 4/11/21 4/25/21 5/9/21 5/23/21 6/6/21 6/20/21 7/4/21 7/18/21 8/1/21 8/15/21 8/29/21 9/12/21 9/26/21 10/10/21 10/24/21 11/7/21 11/21/21 12/5/21 12/19/21 1/2/22 1/16/22 1/30/22 2/13/22

Cobertura D2

Data

São Paulo Rio Grande do Sul Brasil Maranhão Pará

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

1/17/21 1/31/21 2/14/21 2/28/21 3/14/21 3/28/21 4/11/21 4/25/21 5/9/21 5/23/21 6/6/21 6/20/21 7/4/21 7/18/21 8/1/21 8/15/21 8/29/21 9/12/21 9/26/21 10/10/21 10/24/21 11/7/21 11/21/21 12/5/21 12/19/21 1/2/22 1/16/22 1/30/22 2/13/22

Cobertura D3

Data

São Paulo Rio Grande do Sul Brasil Maranhão Pará

(5)

Casos e óbitos por Covid-19

Observatorio Covid−19 | Fiocruz

Os dados registrados nas duas últimas semanas epidemiológi- cas (6 a 19 de fevereiro) mostram a diminuição do número de casos de Covid-19, no entanto com a permanência de valores ainda altos de óbitos. Foi registrada uma média de 120 mil casos diários, representando um decréscimo de 0,3% em relação às duas semanas anteriores (23 de janeiro a 5 de fevereiro). Por outro lado, houve um ligeiro aumento no número de óbitos no mesmo período. Foi registrada uma média diária de 860 óbitos, cerca de 0,2 % acima dos valores das semanas anteriores. É importante ressaltar que a tendências das curvas de casos e de óbitos são defasadas em alguns dias, devido à dinâmica da própria doença. Ao longo de 2021, essa defasagem era de uma semana e, nas primeiras semanas de 2022, passou a ser de duas ou três semanas, o que provavelmente é consequência de um novo padrão da evolução clínica da doença, que é atenuada com a predominância da variante Ômicron e da efetividade das campa- nhas de vacinação em curso no país.

Apesar das dificuldades de acesso a dados de teste (muitos estados não apresentam dados recentes), percebe-se uma ligeira redução no índice de positividade dos testes, isto é, a proporção dos testes de diagnóstico por RT-PCR realizados que apresentam resultados positivos. Portanto, se espera para as próximas sema- nas uma redução também dos indicadores que mais preocupam a população e os serviços de saúde: a mortalidade e a internação em UTI por Covid-19. Esses e outros dados sobre a transmissão de Covid-19 podem ser visualizados no sistema MonitoraCovid-- 19, disponibilizado pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz).

A evolução dos indicadores de transmissão da Covid-19 vem se alterando em todo o mundo e o novo quadro epidemiológico é atribuído à circulação rápida e muito contagiosa da variante Ômicron em meio a uma grande parcela da população imunizada.

Nesse sentido, se percebe uma alta taxa de incidência de Covid-- 19 na Europa, Sudeste Asiático, Américas do Sul e do Norte, mas uma maior letalidade da doença em países com baixa cobertura de vacinação, como alguns países da Europa Oriental, principal- mente na região dos Bálcãs, nos EUA, no México e em quase a totalidade do continente africano, regiões que vêm enfrentando problemas nas campanhas de vacinação. De fato, a taxa de letalidade por Covid-19 no Brasil alcançou valores baixos e compatíveis com os padrões internacionais, de cerca de 0,8%, após vários meses oscilando entre 2% e 3%. Essa redução se deve principalmente à vacinação de grande parte da população alvo no país. A ampliação da vacinação, atingindo regiões com baixa cobertura (ver nota técnica1), e doses de reforço em grupos populacionais mais vulneráveis podem reduzir ainda mais os impactos da pandemia sobre a mortalidade e internações.

Como nas demais ondas epidêmicas da Covid-19, o espalha- mento do vírus no território nacional se dá de forma desigual em direção ao interior, cidades remotas e áreas rurais. A combinação desses dois novos aspectos é preocupante. Ao mesmo tempo em que começam a cair os indicadores de transmissão nas capitais e regiões metropolitanas, a difusão do vírus em direção a regiões com baixa cobertura de vacinação e precária infraestrutura de serviços de saúde pode gerar quadros epidemiológicos perigosos, com um aumento de casos graves e mesmo óbitos nas próximas semanas.

TAXAS DE INCIDÊNCIA E MORTALIDADE (CASOS POR 100.000 HAB.)

AC

AL AP

AM BA

CE

DF

ES

GO

MA

MT MS

MG

PA

PB PR

PE PI

RJ RN

RS RO

RR

SC SP

SE TO

0.2 0.4 0.6

50 100 150 200

Taxa de incidência de casos

Taxa de mortalidade

1. Desigualdades na vacinação contra Covid-19. https://bigdata-covid19.icict.fiocruz.br/nota_tecnica_23.pdf

(6)

Os mapas têm como objetivo apontar tendências na incidência de casos e de mortalidade nas últimas duas semanas epidemiológicas. O valor acima de 5% indica uma situação de alerta máximo; variação entre a -5 e +5% indica estabilidade e manutenção do alerta e menor que -5% indica redução, mesmo que temporária, da transmissão.

Observatório Covid-19

P.6

Observatorio Covid−19 | Fiocruz

07

SEMANAS

EPIDEMIOLÓGICAS

06

e de 6 a 19 de fevereiro de 2022

Tendência Redução Manutenção Crescimento TENDÊNCIA DE INCIDÊNCIA DE COVID-19 - CRESCIMENTO MÉDIO DIÁRIO DO NÚMERO DE CASOS (%) NAS DUAS ÚLTIMAS SEMANAS

Tendência Redução Manutenção Crescimento

Observatorio Covid−19 | Fiocruz

TENDÊNCIA DE MORTALIDADE POR COVID-19 - CRESCIMENTO MÉDIO DIÁRIO DO NÚMERO DE ÓBITOS (%) NAS DUAS ÚLTIMAS SEMANAS -2,3

-0,9

-6,7 0,7

1,1 -12,8

-5,9 -0,4

-3,3 -12,7

-1,4 -0,7 0,1 0,3 -2,2 -7,6

-4,5

-8,4

-6,6 -0,9

-3,7 -3,5 -2,8 1,5 -3,2

-1,1 -7,0

RO AC

AM RR

PA AP

TO MA

PI CE

RN

PB

PE

AL BA SE

MG

ES

RJ SP

PR

SC

RS MS MT

GO DF

10,2 0,8

-8,5 4,2

1,7 6,5

6,9 4,1

0,8 -1,2

1,2 -1,0 1,2 5,5 2,8 1,6

-0,9

0,5

2,8 -1,1

1,9 -0,7 0,3 0,3 -1,5

-0,7 1,0

RO AC

AM RR

PA AP

TO MA

PI CE

RN

PB

PE

AL BA SE

MG

ES

RJ SP

PR

SC

RS MS MT

GO DF

(7)

Níveis de atividade e incidência de SRAG

TENDÊNCIAS DA INCIDÊNCIA E DA MORTALIDADE POR COVID-19

Observatorio Covid−19 | Fiocruz

O quadro de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) no Brasil, analisado com dados até a Semana Epide- miológica 7 (19/2), aponta para um declínio no número de casos. A taxa nacional de incidência atualmente se encontra estimada pouco abaixo de 5 casos por 100 mil habitantes na média móvel (Infogripe/Fiocruz). Os indicadores relacionados às SRAG têm sido bastante importantes desde o início da pandemia por concentrarem os casos de hospitalização e óbito, uma vez que a proporção de casos de SRAG com confirmação de Sars-CoV-2 chega a exceder 95% do total de casos positivos desde o início da pandemia e acima de 90% nas últimas quatro semanas. A redução atual deve-se por múltiplos fatores, dentre os quais o fato de terem ocorrido muitos casos de Covid-19 pela variante Ômicron, em circulação no momento, e pela vacinação, além de outros fatores.

De forma muito similar ao cenário nacional, a grande maio- ria dos estados apresenta tendência clara de redução de casos SRAG, ao se analisar as últimas semanas epidemiológicas.

Apenas no Piauí e Acre se observou uma tendência de aumento da incidência de SRAG. Em Rondônia, Roraima e Amapá as taxas se encontram em estabilidade. Nos demais estados se observa tendência de diminuição. Contudo, vale acrescentar

que as taxas de incidência de SRAG ainda são altas de forma geral. No Acre, Roraima, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Sergipe, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal tais taxas excedem 5 casos por 100 mil habitantes. Nos demais estados as taxas são inferiores, mas ainda excedem 1 caso por 100 mil habitantes, com a exceção do Maranhão, onde se estima 0,8 casos por 100 mil habitantes. Portanto, será impor- tante manter a tendência de redução nas próximas semanas.

O balanço geral é bastante positivo. Entretanto, deve-se permanecer em alerta com as atividades da vigilância para monitorar as próximas semanas. Mesmo diante de um cenário de redução, os indicadores ainda são altos, de modo que muitas pessoas em situação de vulnerabilidade encontram-se em risco, diante de um evento de infecção, para uma possível evolução para caso grave. Portanto, é importante aumentar as coberturas vacinais com o esquema completo com duas doses de vacina ou dose única e avançar também com a dose de reforço para as pessoas elegíveis. As vacinas são bastante efetivas para a prevenção de casos graves de Covid-19.

As estimativas de incidência de SRAG são realizadas no projeto Infogripe (PROCC/Fiocruz), por meio de técnica de nowcasting em modelo estatístico, com dados do Sivep-Gripe.

Região UF Casos % Óbitos % Taxa de casos Taxa de óbitos

Norte Rondônia -2,3 10,2 125,2 0,5

Norte Acre -0,9 0,8 87,1 0,5

Norte Amazonas -6,7 -8,5 47,2 0,2

Norte Roraima 0,7 4,2 71,4 0,2

Norte Pará 1,1 1,7 30,5 0,2

Norte Amapá -12,8 6,5 46,4 0,3

Norte Tocantins -5,9 6,9 81,3 0,3

Nordeste Maranhão -0,4 4,1 14,3 0,1

Nordeste Piauí -3,3 0,8 29,3 0,4

Nordeste Ceará -12,7 -1,2 49,3 0,4

Nordeste Rio Grande do Norte -1,4 1,2 62,9 0,4

Nordeste Paraíba -0,7 -1,0 81,1 0,4

Nordeste Pernambuco 0,1 1,2 47,1 0,1

Nordeste Alagoas 0,3 5,5 48,4 0,2

Nordeste Sergipe -7,6 1,6 58,5 0,3

Nordeste Bahia -2,2 2,8 43,2 0,3

Sudeste Minas Gerais -4,5 -0,9 91,9 0,4

Sudeste Espírito Santo -8,4 0,5 205,4 0,6

Sudeste Rio de Janeiro -6,6 2,8 58,5 0,4

Sudeste São Paulo -0,9 -1,1 31,0 0,6

Sul Paraná -3,7 1,9 133,5 0,4

Sul Santa Catarina -3,5 -0,7 96,4 0,4

Sul Rio Grande do Sul -2,8 0,3 118,3 0,5

Centro-Oeste Mato Grosso do Sul 1,5 0,3 102,8 0,6

Centro-Oeste Mato Grosso -3,2 -1,5 92,0 0,5

Centro-Oeste Goiás -1,1 -0,7 74,2 0,3

Centro-Oeste Distrito Federal -7,0 1,0 114,0 0,3

(8)

Observatório Covid-19

P.8

NÍVEIS DE ATIVIDADE E INCIDÊNCIA DE SÍNDROMES RESPIRATÓRIAS AGUDAS GRAVES (SRAG)

Observatorio Covid−19 | Fiocruz

07

SEMANAS

EPIDEMIOLÓGICAS

06

e de 6 a 19 de fevereiro de 2022

NÍVEL DE SRAG (E INCIDÊNCIA DE CASOS POR 100.000 HAB.)

Observatorio Covid−19 | Fiocruz

Pré-epidêmica Epidêmica Alta Muito alta Extremamente Alta

Nível

Região UF Casos Taxa Nível

Norte Rondônia 2,5 Alta

Norte Acre 6,2 Muito alta

Norte Amazonas 2,1 Alta

Norte Roraima 6,0 Muito alta

Norte Pará 2,5 Alta

Norte Amapá 1,5 Alta

Norte Tocantins 2,7 Alta

Nordeste Maranhão 0,8 Epidêmica

Nordeste Piauí 4,9 Alta

Nordeste Ceará 2,7 Alta

Nordeste Rio Grande do Norte 3,4 Alta

Nordeste Paraíba 3,3 Alta

Nordeste Pernambuco 2,6 Alta

Nordeste Alagoas 2,8 Alta

Nordeste Sergipe 5,6 Muito alta

Nordeste Bahia 2,4 Alta

Sudeste Minas Gerais 7,7 Muito alta

Sudeste Espírito Santo 1,3 Alta

Sudeste Rio de Janeiro 2,9 Alta

Sudeste São Paulo 5,1 Muito alta

Sul Paraná 5,3 Muito alta

Sul Santa Catarina 4,5 Alta

Sul Rio Grande do Sul 5,9 Muito alta

Centro-Oeste Mato Grosso do Sul 8,7 Muito alta

Centro-Oeste Mato Grosso 2,1 Alta

Centro-Oeste Goiás 4,2 Alta

Centro-Oeste Distrito Federal 6,3 Muito alta

2,5 6,2

2,1 6,0

2,5 1,5

2,7 0,8

4,9 2,7

3,4 3,3 2,6 2,8 2,4 5,6

7,7

1,3

2,9 5,1

5,3 4,5 5,9 8,7 2,1

4,2 6,3

RO AC

AM RR

PA AP

TO MA

PI CE

RN

PB

PE

AL BA SE

MG

ES

RJ SP

PR

SC

RS MS MT

GO DF

(9)

FIGURA 1: DISTRIBUIÇÃO DE MÉDIA E MEDIANA DE IDADE PARA INTERNAÇÕES CLÍNICAS, INTERNAÇÕES EM UTI E ÓBITOS POR COVID-19 SEGUNDO SEMANA EPIDEMIOLÓGICA. BRASIL, 2022

Fonte: Sivep-Gripe, 2022

Perfil demográfico

A pandemia por Covid-19, ao contrário das emergências de saúde pública que a antecederam, foi inteiramente monitorada, descrita e comunicada diariamente à população, graças às ferramentas da epidemiologia e do jornalismo de dados. A elas foi somada a análise demográfica, uma abordagem importante considerando os diferenciais por idade das circunstâncias de agravamento da doença, que requereram internações clínicas, de terapia intensiva e, eventualmente, levaram quase 650 mil pessoas à morte. Aspectos como o comportamento social e as intervenções diferenciadas de saúde pública marcaram as diferenças entre estes grupos – crianças, adultos jovens e idosos. A onda caracterizada pela explosão de casos novos vivida no Brasil desde o final de 2021, e que ainda persiste em alguns locais do país, ocorreu em um cenário de um tímido avanço na vacinação de reforço entre idosos, assim como o início da vacinação de crianças de 5 a 11 anos cerca de 30 dias após o uso da vacina ser recomendado pela Anvisa. É impor- tante, portanto, descrever o comportamento de internações e óbitos ao longo desta fase da pandemia no Brasil.

A transmissão comunitária da variante Ômicron fez crescer o número de casos em níveis impressionantes desde o fim de dezembro de 2021, ainda com repercussão agora. A análise atual compreende este período, incluindo dados entre a Semana Epidemiológica (SE) 50/2021 (12 a 18 de dezembro de 2021) até a SE 6/2022 (6 a 12 de fevereiro de 2022)1. O que se observa é que a idade média das internações, assim como a mediana de idade, seja em leitos clínicos ou em terapia intensi- va, segue crescendo ao longo das últimas semanas. Fenômeno semelhante ocorre com os óbitos, cujos indicadores de idade são sistematicamente mais altos que das internações. Na SE 6/2021, metade das internações ocorreu em pessoas entre 71

anos (leitos clínicos) e 72 anos (UTI). Sobre os óbitos, metade dos eventos ocorreu em pessoas com no mínimo 78 anos (figura 1). Esta evidência reforça a ideia de que a população, principalmente a mais longeva, possui maior vulnerabilidade às formas graves e fatais da Covid-19.

O deslocamento da curva de distribuição das internações e óbitos é notável. À medida em que a onda provocada pela transmissão comunitária da variante Ômicron crescia em número de casos novos – e, consequentemente, em número de internações – observou-se também um padrão cada vez mais envelhecido, semana após semana, das formas graves da doença (figura 2).

Houve, neste sentido, uma completa reversão do processo de rejuvenescimento experimentado ao longo do primeiro semestre de 2021, resultado do efeito protetor da vacina atingindo de forma mais homogênea toda a população. A este respeito, é importante mencionar que a variabilidade em torno da idade média aumentou durante essa fase da pandemia. Isto significa que, ao mesmo tempo em que casos graves e fatais ficam mais concentrados nas idades mais avançadas, cresce a contribuição de grupos mais jovens, principalmente de crian- ças, no quantitativo total de número de casos. Isto se expressa no número absoluto de internações entre crianças (figura 3), assim como na contribuição proporcional desta faixa etária nas internações (figura 4). Por um lado, a idade se estabelece como um fator de risco independente para o agravamento, demons- trada pela elevada ocorrência de internações e óbitos entre idosos. Por outro lado, a maior vulnerabilidade das crianças, provocada principalmente pela baixa adesão deste grupo à vacinação, compromete igualmente o grupo que se encontra no extremo oposto da pirâmide etária.

1. A análise inclui dados até a semana epidemiológica 6/2022. Os dados da semana epidemiológica 7 ainda se encontram em processamento, pois muitos casos permanecem abertos, ainda em investigação e/ou tratamento hospitalar (portanto, sem desfecho).

MÉDIA MEDIANA

55 60 65 70 75 80

50/2021 51/2021 52/2021 1/2022 2/2022 3/2022 4/2022 5/2022 6/2022

Semana Epidemiológica

Internação Clínica UTI Óbito

55 60 65 70 75 80

50/2021 51/2021 52/2021 1/2022 2/2022 3/2022 4/2022 5/2022 6/2022

Semana Epidemiológica

Internação Clínica UTI Óbito

(10)

FIGURA 2 - DISTRIBUIÇÃO DE INTERNAÇÕES CLÍNICAS, INTERNAÇÕES

EM UTI E ÓBITOS POR FAIXA ETÁRIA, SEGUNDO SEMANA EPIDEMIOLÓGICA. BRASIL, 2022

Fonte: Sivep-Gripe, 2022

Observatório Covid-19

SEMANASEPIDEMIOLÓGICAS

06

e

07

de 6 a 19 de P.10 fevereiro de 2022

INTERNAÇÕES CLÍNICAS

INTERNAÇÕES EM UTI

ÓBITOS 0.0%

1.0%

2.0%

3.0%

0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54 57 60 63 66 69 72 75 78 81 84 87 90 93 96 99 102 105 108 112 115

%

Idade 50/2021 07/2022

0.0%

1.0%

2.0%

3.0%

4.0%

0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54 57 60 63 66 69 72 75 78 81 84 87 90 93 96 99 102 105 108 112 115

%

Idade 50/2021 07/2022

0.0%

1.0%

2.0%

3.0%

4.0%

5.0%

0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54 57 60 63 66 69 72 75 78 81 84 87 90 93 96 99 102 105 108 112 115

%

Idade 50/2021 07/2022

Se os adultos – e principalmente os idosos – têm enorme contribuição relativa nas internações e óbitos, devido à concomi- tância de comorbidades e da própria imunosenescência, as crianças representam uma preocupação para o enfrentamento da pandemia. Trata-se de um grupo com intensa interação social com outros grupos, contribuindo de forma importante para a dinâmica da transmissão da doença. Além disso, elas se torna- ram particularmente vulneráveis por estarem cercadas de pesso- as já com esquema vacinal completo, ou em curso, tornando-se alvo do vírus, que não encontra nelas barreiras para a sua multiplicação. Finalmente, um aumento de casos sintomáticos graves em crianças cria uma situação de colapso com maior facilidade, uma vez que há uma histórica baixa disponibilidade de leitos de UTI neonatal e principalmente de CTI pediátrico no país.

Finalmente, pode-se dizer que o ponto de mudança da Covid-19 de pandemia para endemia será definido a partir de muitos indicadores, e um deles é a letalidade. Quando a ocorrên- cia de formas graves que requerem internação seja suficiente- mente pequena para gerar poucos óbitos e não criar pressão sobre o sistema de saúde, saberemos que se trata de uma

doença para a qual é possível assumir ações de médio e longo prazos sem precisar contar com estratégias de resposta rápida. O que se observa, para a letalidade hospitalar (probabilidade de morte entre aqueles que demandaram por internações), é uma tendência de queda nas duas últimas semanas, independente- mente do grupo etário (figura 5). Convém mencionar ainda que há um gradiente na relação entre a letalidade e a idade. Ou seja, a letalidade hospitalar cresce à medida em que progride a idade dos grupos etários.

A ocorrência de internações tem sido, portanto, consistente- mente maior entre idosos, quando comparado aos adultos. No entanto, crescem em níveis preocupantes as internações entre crianças. Vale mencionar que a internação entre crianças é maior no grupo entre 0 e 4 anos, que ainda não está incluído na popula- ção elegível para a vacinação. A distribuição etária das formas mais graves, portanto, ainda é um indicador importante para uma melhor organização da rede assistencial, assim como para a definição de novos protocolos de prevenção, principalmente com a celeridade da aprovação da vacinação para população abaixo de 5 anos e busca ativa de crianças entre 5 e 11 anos.

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