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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0016117-08.2016.8.19.0000 AGRAVANTE: ESTADO DO RIO DE JANEIRO

AGRAVADO: BAR E RESTAURANTE PONTO TRES DE XEREM LTDA RELATOR: DES. JUAREZ FERNANDES FOLHES

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. DECISÃO AGRAVADA QUE INDEFERIU O PLEITO DO EXEQUENTE/AGRAVANTE DE REALIZAÇÃO DE ARRESTO ON LINE DOS ATIVOS FINANCEIROS DA PARTE EXECUTADA/AGRAVADA, NOS TERMOS DO ARTIGO 655-A DO CPC. IRRESIGNAÇÃO DO DEMANDANTE QUE MERECE ACOLHIMENTO. DESNECESSIDADE DE ESGOTAMENTO DAS VIAS EXTRAJUDICIAIS PARA O DEFERIMENTO DA MEDIDA.

INFRUTÍFERA DILIGÊNCIA CITATÓRIA REALIZADA POR OFICIAL DE JUSTIÇA, JÁ QUE NO LOCAL FUNCIONA EMPRESA DIVERSA DA EXECUTADA. CONSULTA AO SISTEMA INFOJUD QUE INFORMOU O MESMO ENDEREÇO DA DILIGÊNCIA ANTERIOR. AUSÊNCIA DE EXIGÊNCIA DE PRÉVIA CITAÇÃO DO EXECUTADO COMO CONDICIONANTE À EFETIVAÇÃO DA MEDIDA ACAUTELATÓRIA PRETENDIDA. PROVIMENTO DO RECURSO PARA REFORMAR A DECISÃO RECORRIDA E DEFERIR A REALIZAÇÃO DO ARRESTO ON LINE NAS CONTAS DA PARTE AGRAVADA.

1. Inicialmente cabe esclarecer que a decisão ora agravada foi proferida em 04/02/2016, tendo sido aberta vista à Procuradoria do Estado em 09/03/2016, portanto, antes da entrada em vigor do Novo Código de Processo Civil (2016).

2. Trata-se de ação de execução fiscal, na qual objetiva o exequente a cobrança de crédito tributário decorrente de ICMS, tendo o Juízo de piso indeferido o pleito de realização de arresto on line dos ativos financeiros da parte executada/agravada.

3. Razão assiste ao recorrente, merecendo reforma a decisão agravada.

4. Inicialmente, ressalta-se que a menor onerosidade constante da norma do artigo 620 CPC não pode servir de impedimento à obtenção pelo credor da satisfação de seu crédito, violando-se, assim, outro princípio do processo executivo, o de que a execução deve se dar em benefício do credor, não se lhe impondo custos ou delongas desnecessárias.

5. Com o advento da Lei nº 11.382/06, que modificou a redação do artigo 655 do CPC e passou a utilizar o vocábulo “preferencialmente”, houve a relativização da ordem legal, assim como possibilitou ao credor recusar bem oferecido pelo devedor e indicar qualquer outro, bastando que sua escolha não seja excessivamente onerosa para este último.

6. A ordem legal de penhorabilidade dos bens, portanto, não é imperativa, sucumbindo ao melhor interesse do credor e menor onerosidade do devedor. Idêntica interpretação é aplicável ao artigo 11 da LEF.

7. Pois bem, o arresto mostra-se cabível naqueles casos em que não se logrou êxito na localização do executado para concretização da citação, nos termos do artigo 653 do Código de Processo Civil, de forma que não se há de falar em ilegalidade do arresto por ainda não ter sido concretizada a citação.

8. E isso, porque se tivesse sido realizado o ato citatório, mostrar-se-ia incabível o arresto pretendido, pois a medida constritiva a ser realizada seria a penhora.

9. Aliás, o Superior Tribunal de Justiça já firmou o entendimento no sentido de ser possível o arresto prévio on line no âmbito da execução fiscal, não sendo necessário o esgotamento das vias extrajudiciais dirigidas à localização de bens do devedor para o

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deferimento da medida, após a vigência da Lei nº 11.382/2006, hipótese dos autos.

10. Ressalte-se que o tema foi objeto de apreciação pelo Superior Tribunal de Justiça, no Resp nº 1.184.765/PA, processado na forma do artigo 543-C, do CPC.

11. Por fim, no que concerne ao esgotamento dos meios para localização do executado, a diligência citatória, por oficial de justiça, restou infrutífera, ante a informação de que no local funciona outra empresa. Bem como, em consulta ao sistema INFOJUD da Receita Federal do Brasil, foi obtido o mesmo endereço da diligência anterior.

12. Desta feita, tendo em vista que não há exigência de prévia citação do executado como condicionante à efetivação da medida acautelatória pretendida, é que deve ser provido o presente recurso.

AGRAVO DE INSTRUMENTO A QUE SE DÁ PROVIMENTO PARA REFORMAR A DECISÃO RECORRIDA E DEFERIR A REALIZAÇÃO DO ARRESTO

ON LINE NAS CONTAS DA PARTE

AGRAVADA.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 0016117- 08.2016.8.19.0000, entre as partes acima assinaladas, ACORDAM os Desembargadores da Décima Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em conhecer do agravo de instrumento e DAR-LHE PROVIMENTO, nos termos do voto do Desembargador Relator, como segue.

RELATÓRIO

Agravo de Instrumento interposto pelo ESTADO DO RIO DE JANEIRO contra decisão proferida pelo Juízo da Central da Dívida Ativa da comarca de Duque de Caxias, nos autos da execução fiscal, que indeferiu o pleito de realização de arresto

on line dos ativos financeiros da

parte executada/agravada, nos termos do artigo 655-A do CPC.

Afirma a agravante que não foi possível efetivar a citação do executado, uma vez que ele não se encontrava mais estabelecido no endereço constante no cadastro da Secretaria de Fazenda. Aduz que em consulta ao sistema INFOJUD foi constatado o mesmo endereço anteriormente diligenciado. Afirma que a Fazenda requereu ao juízo a obtenção das três últimas declarações de imposto de renda do executado com o objetivo de arrestar os seus bens, pleito que foi indeferido vez que o juízo

a quo considerou que não se esgotaram todos os meios para a

localização do executado. Sustenta que requereu também a realização de arresto de dinheiro nas contas bancárias do executado pelo sistema BACENJUD, tendo o MM. Juiz

a quo sido omisso a

respeito o que motivou a apresentação de embargos de declaração, que restaram rejeitados por entender que não havia na decisão qualquer omissão, obscuridade ou contradição. Afirma que o artigo 7º, III da Lei n° 6.830/80 trata de medida semelhante ao arresto previsto no artigo 830 do NCPC. Aduz que ambos são providências cabíveis quando há empecilhos à normal e imediata citação do devedor e não se submetem aos requisitos formais e procedimentais da tutela cautelar prevista no art. 305 do NCPC. Alega que o referido artigo 7º não exige, para a efetivação da medida, outro requisito que não o da objetiva configuração do empecilho para a imediata citação do executado, exatamente a situação retratada nos autos da execução fiscal. Sustenta que não há outro endereço nos autos que possa ser diligenciado para a citação do executado, uma vez que no único endereço informado aos órgãos competentes (Receita Federal, Secretaria de Fazenda e Junta Comercial) já foi diligenciado e ele não foi localizado, havendo fundados indícios de que tenha se dissolvido de forma irregular. Afirma que o arresto de dinheiro pelo sistema Bacen-Jud não ofende o princípio da menor onerosidade da execução. Ao revés, tal medida se encontra em perfeita conformidade com o ordenamento jurídico, o qual erigiu a constrição do dinheiro como meio preferencial para satisfação do credor.

Ao final requer:

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“Por todo o exposto, a Fazenda requer ao Excelentíssimo Desembargador Relator deste recurso que se digne em provê-lo monocraticamente, na forma do art. 932, V, do NCPC, para reformar a decisão vergastada e, por conseguinte, deferir o arresto de dinheiro pelo sistema Bacen-Jud em contas correntes e/ou investimentos existentes em nome do executado.

Se não isso, requer-se seja o agravo submetido ao julgamento do órgão colegiado, esperando o agravante que ele seja provido para o fim indicado no parágrafo acima.”

Informações prestadas pelo juízo

a quo (índice 000023) de que o agravante cumpriu o

artigo 526 do CPC e que a decisão guerreada foi mantida.

Sem contrarrazões ante a ausência de citação.

É relatório.

VOTO

Inicialmente cabe esclarecer que a decisão ora agravada foi proferida em 04/02/2016, tendo sido aberta vista à Procuradoria do Estado em 09/03/2016, portanto, antes da entrada em vigor do Novo Código de Processo Civil (2016).

O recurso é tempestivo e encontram-se presentes os demais requisitos de admissibilidade.

Trata-se de ação de execução fiscal, na qual objetiva o exequente a cobrança de crédito tributário decorrente de ICMS, tendo o Juízo de piso indeferido o pleito de realização de arresto

on line dos ativos financeiros da parte executada/agravada.

Razão assiste ao recorrente, merecendo reforma a decisão agravada.

Inicialmente, ressalta-se que a menor onerosidade constante da norma do artigo 620 CPC não pode servir de impedimento à obtenção pelo credor da satisfação de seu crédito, violando-se, assim, outro princípio do processo executivo, o de que a execução deve se dar em benefício do credor, não se lhe impondo custos ou delongas desnecessárias.

Com o advento da Lei nº 11.382/06, que modificou a redação do artigo 655 do CPC e passou a utilizar o vocábulo “preferencialmente”, houve a relativização da ordem legal, assim como possibilitou ao credor recusar bem oferecido pelo devedor e indicar qualquer outro, bastando que sua escolha não seja excessivamente onerosa para este último.

A ordem legal de penhorabilidade dos bens, portanto, não é imperativa, sucumbindo ao melhor interesse do credor e menor onerosidade do devedor. Idêntica interpretação é aplicável ao artigo 11 da LEF.

Pois bem, o arresto mostra-se cabível naqueles casos em que não se logrou êxito na localização do executado para concretização da citação, nos termos do artigo 653 do Código de Processo Civil, de forma que não se há de falar em ilegalidade do arresto por ainda não ter sido concretizada a citação.

E isso, porque se tivesse sido realizado o ato citatório, mostrar-se-ia incabível o arresto pretendido, pois a medida constritiva a ser realizada seria a penhora.

Aliás, o Superior Tribunal de Justiça já firmou o entendimento no sentido de ser possível o arresto prévio on line no âmbito da execução fiscal, não sendo necessário o esgotamento das vias

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extrajudiciais dirigidas à localização de bens do devedor para o deferimento da medida, após a vigência da Lei nº 11.382/2006, hipótese dos autos.

Ressalte-se que o tema foi objeto de apreciação pelo Superior Tribunal de Justiça, no Resp nº 1.184.765/PA, processado na forma do artigo 543-C, do CPC, conforme ementa a seguir:

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543-C, DO CPC. PROCESSO JUDICIAL TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA ELETRÔNICA. SISTEMA BACEN-JUD.

ESGOTAMENTO DAS VIAS ORDINÁRIAS PARA A LOCALIZAÇÃO DE BENS PASSÍVEIS DE PENHORA.

ARTIGO 11, DA LEI 6.830/80. ARTIGO 185-A, DO CTN. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INOVAÇÃO INTRODUZIDA PELA LEI 11.382/2006. ARTIGOS 655, I, E 655-A, DO CPC. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA DAS LEIS. TEORIA DO DIÁLOGO DAS FONTES. APLICAÇÃO IMEDIATA DA LEI DE ÍNDOLE PROCESSUAL.

1. A utilização do Sistema BACEN-JUD, no período posterior à vacatio legis da Lei 11.382/2006 (21.01.2007), prescinde do exaurimento de diligências extrajudiciais, por parte do exeqüente, a fim de se autorizar o bloqueio eletrônico de depósitos ou aplicações financeiras (Precedente da Primeira Seção: EREsp 1.052.081/RS, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, Primeira Seção, julgado em 12.05.2010, DJe 26.05.2010. Precedentes das Turmas de Direito Público: REsp 1.194.067/PR, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 22.06.2010, DJe 01.07.2010; AgRg no REsp 1.143.806/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 08.06.2010, DJe 21.06.2010; REsp 1.101.288/RS, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 02.04.2009, DJe 20.04.2009; e REsp 1.074.228/MG, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 07.10.2008, DJe 05.11.2008. Precedente da Corte Especial que adotou a mesma exegese para a execução civil: REsp 1.112.943/MA, Rel. Ministra Nancy Andrighi, julgado em 15.09.2010).

2. A execução judicial para a cobrança da Dívida Ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e respectivas autarquias é regida pela Lei 6.830/80 e, subsidiariamente, pelo Código de Processo Civil.

3. A Lei 6.830/80, em seu artigo 9º, determina que, em garantia da execução, o executado poderá, entre outros, nomear bens à penhora, observada a ordem prevista no artigo 11, na qual o

"dinheiro" exsurge com primazia.

4. Por seu turno, o artigo 655, do CPC, em sua redação primitiva, dispunha que incumbia ao devedor, ao fazer a nomeação de bens, observar a ordem de penhora, cujo inciso I fazia referência genérica a "dinheiro".

5. Entrementes, em 06 de dezembro de 2006, sobreveio a Lei 11.382, que alterou o artigo 655 e inseriu o artigo 655-A ao Código de Processo Civil, verbis: "Art. 655. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem: I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira; II - veículos de via terrestre; III - bens móveis em geral; IV - bens imóveis; V - navios e aeronaves; VI - ações e quotas de sociedades empresárias; VII - percentual do faturamento de empresa devedora; VIII - pedras e metais preciosos; IX - títulos da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com cotação em mercado; X - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado; XI - outros direitos. (...) Art. 655-A. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exeqüente, requisitará à autoridade supervisora do sistema bancário, preferencialmente por meio eletrônico, informações sobre a existência de ativos em nome do executado, podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado na execução. § 1º As informações limitar-se-ão à existência ou não de depósito ou aplicação até o valor indicado na execução. (...)"

6. Deveras, antes da vigência da Lei 11.382/2006, encontravam-se consolidados, no Superior Tribunal de Justiça, os entendimentos jurisprudenciais no sentido da relativização da ordem legal de penhora prevista nos artigos 11, da Lei de Execução Fiscal, e 655, do CPC (EDcl nos EREsp 819.052/RS, Rel. Ministro Humberto Martins, Primeira Seção, julgado em 08.08.2007, DJ 20.08.2007; e EREsp 662.349/RJ, Rel. Ministro José Delgado, Rel. p/ Acórdão Ministra Eliana Calmon, Primeira Seção, julgado em 10.05.2006, DJ 09.10.2006), e de que o bloqueio eletrônico de depósitos ou aplicações financeiras (mediante a expedição de ofício à Receita Federal e ao BACEN) pressupunha o esgotamento, pelo exeqüente, de todos os meios de obtenção de informações sobre o executado e seus bens e que as diligências restassem infrutíferas (REsp 144.823/PR, Rel.

Ministro José Delgado, Primeira Turma, julgado em 02.10.1997, DJ 17.11.1997; AgRg no Ag 33

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DJ 22.03.1999; AgRg no REsp 644.456/SC, Rel. Ministro José Delgado, Rel. p/ Acórdão Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado em 15.02.2005, DJ 04.04.2005; REsp 771.838/SP, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 13.09.2005, DJ 03.10.2005; e REsp 796.485/PR, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 02.02.2006, DJ 13.03.2006).

7. A introdução do artigo 185-A no Código Tributário Nacional, promovida pela Lei Complementar 118, de 9 de fevereiro de 2005, corroborou a tese da necessidade de exaurimento das diligências conducentes à localização de bens passíveis de penhora antes da decretação da indisponibilidade de bens e direitos do devedor executado, verbis: "Art. 185-A. Na hipótese de o devedor tributário, devidamente citado, não pagar nem apresentar bens à penhora no prazo legal e não forem encontrados bens penhoráveis, o juiz determinará a indisponibilidade de seus bens e direitos, comunicando a decisão, preferencialmente por meio eletrônico, aos órgãos e entidades que promovem registros de transferência de bens, especialmente ao registro público de imóveis e às autoridades supervisoras do mercado bancário e do mercado de capitais, a fim de que, no âmbito de suas atribuições, façam cumprir a ordem judicial. § 1º A indisponibilidade de que trata o caput deste artigo limitar-se-á ao valor total exigível, devendo o juiz determinar o imediato levantamento da indisponibilidade dos bens ou valores que excederem esse limite. § 2º Os órgãos e entidades aos quais se fizer a comunicação de que trata o caput deste artigo enviarão imediatamente ao juízo a relação discriminada dos bens e direitos cuja indisponibilidade houverem promovido."

8. Nada obstante, a partir da vigência da Lei 11.382/2006, os depósitos e as aplicações em instituições financeiras passaram a ser considerados bens preferenciais na ordem da penhora, equiparando-se a dinheiro em espécie (artigo 655, I, do CPC), tornando-se prescindível o exaurimento de diligências extrajudiciais a fim de se autorizar a penhora on line (artigo 655-A, do CPC).

9. A antinomia aparente entre o artigo 185-A, do CTN (que cuida da decretação de indisponibilidade de bens e direitos do devedor executado) e os artigos 655 e 655-A, do CPC (penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira) é superada com a aplicação da Teoria pós-moderna do Dialógo das Fontes, idealizada pelo alemão Erik Jayme e aplicada, no Brasil, pela primeira vez, por Cláudia Lima Marques, a fim de preservar a coexistência entre o Código de Defesa do Consumidor e o novo Código Civil.

10. Com efeito, consoante a Teoria do Diálogo das Fontes, as normas gerais mais benéficas supervenientes preferem à norma especial (concebida para conferir tratamento privilegiado a determinada categoria), a fim de preservar a coerência do sistema normativo.

11. Deveras, a ratio essendi do artigo 185-A, do CTN, é erigir hipótese de privilégio do crédito tributário, não se revelando coerente "colocar o credor privado em situação melhor que o credor público, principalmente no que diz respeito à cobrança do crédito tributário, que deriva do dever fundamental de pagar tributos (artigos 145 e seguintes da Constituição Federal de 1988)" (REsp 1.074.228/MG, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 07.10.2008, DJe 05.11.2008).

12. Assim, a interpretação sistemática dos artigos 185-A, do CTN, com os artigos 11, da Lei 6.830/80 e 655 e 655-A, do CPC, autoriza a penhora eletrônica de depósitos ou aplicações financeiras independentemente do exaurimento de diligências extrajudiciais por parte do exeqüente.

13. À luz da regra de direito intertemporal que preconiza a aplicação imediata da lei nova de índole processual, infere-se a existência de dois regimes normativos no que concerne à penhora eletrônica de dinheiro em depósito ou aplicação financeira: (i) período anterior à égide da Lei 11.382, de 6 de dezembro de 2006 (que obedeceu a vacatio legis de 45 dias após a publicação), no qual a utilização do Sistema BACEN-JUD pressupunha a demonstração de que o exeqüente não lograra êxito em suas tentativas de obter as informações sobre o executado e seus bens; e (ii) período posterior à vacatio legis da Lei 11.382/2006 (21.01.2007), a partir do qual se revela prescindível o exaurimento de diligências extrajudiciais a fim de se autorizar a penhora eletrônica de depósitos ou aplicações financeiras.

14. In casu, a decisão proferida pelo Juízo Singular em 30.01.2008 determinou, com base no poder geral de cautela, o "arresto prévio" (mediante bloqueio eletrônico pelo sistema BACENJUD) dos valores existentes em contas bancárias da empresa executada e dos co-responsáveis (até o limite do valor exeqüendo), sob o fundamento de que "nos processos de execução fiscal que tramitam nesta vara, tradicionalmente, os executados têm se desfeito de bens e valores depositados em instituições bancárias após o recebimento da carta da citação".

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15. Consectariamente, a argumentação empresarial de que o bloqueio eletrônico dera-se antes da regular citação esbarra na existência ou não dos requisitos autorizadores da medida provisória (em tese, apta a evitar lesão grave e de difícil reparação, ex vi do disposto nos artigos 798 e 799, do CPC), cuja análise impõe o reexame do contexto fático-probatório valorado pelo Juízo Singular, providência obstada pela Súmula 7/STJ.

16. Destarte, o bloqueio eletrônico dos depósitos e aplicações financeiras dos executados, determinado em 2008 (período posterior à vigência da Lei 11.382/2006), não se condicionava à demonstração da realização de todas as diligências possíveis para encontrar bens do devedor.

17. Contudo, impende ressalvar que a penhora eletrônica dos valores depositados nas contas bancárias não pode descurar-se da norma inserta no artigo 649, IV, do CPC (com a redação dada pela Lei 11.382/2006), segundo a qual são absolutamente impenhoráveis "os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal".

18. As questões atinentes à prescrição dos créditos tributários executados e à ilegitimidade dos sócios da empresa (suscitadas no agravo de instrumento empresarial) deverão se objeto de discussão na instância ordinária, no âmbito do meio processual adequado, sendo certo que o requisito do prequestionamento torna inviável a discussão, pela vez primeira, em sede de recurso especial, de matéria não debatida na origem.

19. Recurso especial fazendário provido, declarando-se a legalidade da ordem judicial que importou no bloqueio liminar dos depósitos e aplicações financeiras constantes das contas bancárias dos executados. Acórdão submetido ao regime do artigo 543-C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008.

(REsp 1184765/PA, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/11/2010, DJe 03/12/2010)

Nesse sentido traz-se à colação os seguintes julgados desta Corte:

0063675-44.2014.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 1ª Ementa - DES. MARCIA ALVARENGA - Julgamento: 03/02/2015 - DECIMA SETIMA CAMARA CIVEL

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA ON LINE. POSSIBILIDADE. Entendimento consolidado no E. STJ no sentido de ser possível o arresto prévio on line no âmbito da execução fiscal, não sendo necessário o esgotamento das vias extrajudiciais dirigidas à localização de bens do devedor para o deferimento da medida, após a vigência da Lei nº 11.382/2006. Na hipótese, diante da inércia dos executados, bem como em virtude do resultado positivo da precedente constrição, perfeitamente cabível o bloqueio eletrônico pelo sistema Bacenjud dos valores existentes em suas contas bancárias até o limite do montante da execução. RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO, COM FULCRO NO ART. 557, §1º-A, DO CPC.

0055795-35.2013.8.19.0000 - 1ª Ementa - AGRAVO DE INSTRUMENTO - DES. JOSE CARLOS PAES - Julgamento: 12/11/2013 - DECIMA QUARTA CAMARA CIVEL

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. ARRESTO ON LINE. POSSIBILIDADE. 1. O arresto mostra-se cabível naqueles casos em que não se logrou êxito na localização do executado, nos termos do artigo 653 do Código de Processo Civil, de forma que não se há de falar em ilegalidade do arresto por ainda não ter sido concretizada a citação. 2. E isso, porque se tivesse sido realizado o ato citatório, mostrar-se-ia incabível o arresto efetivado, pois a medida constritiva cabível seria a penhora. Não se sustenta, ainda, a alegação de que inexiste provocação do agravado, pois na inicial expressamente pugnou pela realização "do arresto, se for o caso". Aliás, a Corte Superior de Justiça já se pronunciou acerca da possibilidade do arresto via BacenJud na Execução Fiscal.

Precedente. 3. Deve-se salientar que o Juízo a quo diligenciou na localização do paradeiro do executado, ao efetuar consulta pelo sistema INFOJUD, sendo-lhe indicado o mesmo endereço anteriormente diligenciado. Precedentes do TJ/RJ. 4. Não se olvide, por oportuno, que nos termos do artigo 8º, inciso I, da Lei 6.830/1980, nas execuções fiscais a regra é que a citação seja feita pelo correio, com aviso de recepção, salvo "se a Fazenda Pública não a requerer por outra forma", motivo pelo qual não se mostra necessária a tentativa de citação por oficial de justiça, sendo certo que a editalícia será realizada tão somente após efetivado o arresto, nos termos do artigo 654 do Código de Processo Civil. 5. Recurso que não segue.

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0031792-50.2012.8.19.0000 - 1ª Ementa - AGRAVO DE INSTRUMENTO - DES. LETICIA SARDAS - Julgamento: 06/09/2012 - VIGESIMA CAMARA CIVEL

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE EXECUÇÃO FISCAL. PENHORA ON LINE. DECISÃO QUE INDEFERIU PENHORA/ARRESTO ON LINE. PEDIDO POSTERIOR À VATIO LEGIS DA LEI 11.382/2006 (21.01.2007). CABIMENTO. EXAURIMENTO DE DILIGÊNCIAS PARA BUSCA DE BENS DO DEVEDOR.

DESNECESSIDADE. ENTENDIMENTO CONSOLIDADO EM SEDE DE RECURSO REPETITIVO. SÚMULA 117 DO TJ/RJ. ATO DO RELATOR.1. A penhora é ato de constrição sobre o patrimônio do devedor para garantir a satisfação do direito do credor.2. Os princípios orientadores do processo de execução estabelecem a execução tanto no interesse do credor, como sem impor ao devedor encargos desnecessários à satisfação do direito do executado. 3. É cabível a penhora on line em conta corrente do devedor para satisfação do crédito. 4.No caso dos autos, o agravante propôs execução fiscal para cobrança do valor de R$ 319,98 (trezentos e dezenove reais e noventa e oito centavos), consubstanciada na certidão de dívida ativa do exercício de 2010, sendo que o agravado não foi encontrado no endereço fornecido ao fisco. 3. A penhora on line não ofende o princípio da execução menos gravosa, nos termos da Súmula nº 117 do nosso Tribunal.4. Eventual onerosidade excessiva ou impenhorabilidade deverá ser devidamente comprovada pelo devedor em sede de impugnação, não podendo ser presumida.5. Na seção de 22/09/2010, julgando o Resp nº 1.112.943/MA, Relatora Ministra Nancy Andrighi, o Superior Tribunal de Justiça pacificou a questão, nos termos do art. 543-C do CPC. Provimento do agravo de instrumento, por ato do relator.

Por fim, no que concerne ao esgotamento dos meios para localização do executado, como se verifica da exordial, foi indicado o endereço do devedor como sendo Rua Osmundo Bezerra Duarte s/n lt 01 Loja A – Xerém, Duque de Caxias - RJ, sendo infrutífera a diligência, conforme certidão do Sr. Oficial de Justiça (índice 000010 – fls. 11), ante a informação de que no local funciona outra empresa.

Nota-se, ainda, que foi requerido pelo exequente e deferido pelo juízo

a quo a consulta

pelo sistema INFOJUD da Receita Federal do Brasil, a fim de obter endereço atualizado do devedor, sendo-lhe informado, conforme documento de fls. 14 (índice 000013), que o endereço é o mesmo acima apontado.

Desta feita, tendo em vista que não há exigência de prévia citação do executado como condicionante à efetivação da medida acautelatória pretendida, é que deve ser provido o presente recurso.

Ante o exposto, voto no sentido de DAR PROVIMENTO ao agravo de instrumento, para reformar a decisão recorrida e deferir a realização do arresto on line nas contas da parte agravada.

Rio de Janeiro, 29 de junho de 2016.

DESEMBARGADOR JUAREZ FERNANDES FOLHES

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