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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.870.836 - RS (2019/0357575-3) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : MOACIR ALVES DA SILVA FILHO

ADVOGADO : EDUARDO HEITOR PORTO - RS045729 RECORRIDO : PATRICIA ORTIZ MOHLECKE

RECORRIDO : ALDA LUPATINI DURIGON

ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS - SE000000M RECORRIDO : WALDOMIRO DURIGON

ADVOGADO : TERRISSON STADTLOBER - RS070686 EMENTA

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INOCORRÊNCIA. DIREITO DE PREFERÊNCIA. ART. 1.795 DO CC/02. CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS A TERCEIROS. COERDEIROS.

PRÉVIA NOTIFICAÇÃO. AUSÊNCIA. EXERCÍCIO JUDICIAL DO DIREITO POTESTATIVO. DEPÓSITO DOS VALORES DA NEGOCIAÇÃO. NATUREZA JURÍDICA. EXPEDIÇÃO DE GUIAS. EXAME JUDICIAL. OMISSÃO NÃO IMPUTÁVEL AO AUTOR. PREJUÍZO AO TITULAR. IMPOSSIBILIDADE.

DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA.

1. Cuida-se de ação de preferência na cessão direitos sucessórios a terceiros, fundada no art. 1.795 do CC/02, ajuizada dentro do prazo decadencial, mas sem o efetivo depósito dos valores envolvidos na cessão de direitos hereditários, embora houvesse pedido expresso de expedição das guias necessárias para tanto na inicial.

2. Recurso especial interposto em: 19/06/2019; concluso ao gabinete em:

24/03/2020; aplicação do CPC/15.

3. O propósito recursal consiste em determinar: a) em relação ao direito de preferência ou preempção, qual a natureza jurídica do depósito dos valores envolvidos na negociação de direitos sucessórios; e b) se o coerdeiro que formula pedido de expedição de guias para depósito da referida quantia pode ser prejudicado pela omissão judicial no exame de sua requisição.

4. Devidamente analisadas e discutidas as questões de mérito, e fundamentado corretamente o acórdão recorrido, de modo a esgotar a matéria em debate, não há que se falar em negativa de prestação jurisdicional.

5. O art. 1.794 do CC/02 prevê uma limitação à autonomia da vontade do coerdeiro que deseja ceder sua quota-parte a terceiros, impondo-lhe que ofereça anteriormente esses direitos aos demais coerdeiros, para que manifestem seu interesse em adquiri-los nas mesmas condições de preço e pagamento.

6. O exercício desse direito de preferência ocorre, pois, em regra,

independentemente da atuação jurisdicional, bastando que, notificado, o

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coerdeiro adquira os direitos hereditários por valor idêntico e pelas mesmas condições oferecidas ao eventual terceiro estranho interessado na cessão.

7. Todavia, uma vez ultimado o negócio sem observância da notificação prévia do coerdeiro, a solução da questão somente pode se dar na via judicial, pela ação de preferência c.c. adjudicação compulsória. Precedente.

8. Nos termos da jurisprudência da Terceira Turma, a prova do depósito do preço para adjudicação do bem, na petição inicial, é condição de procedibilidade da referida ação. Precedente.

9. Por se tratar de condição de procedibilidade, a omissão do autor em depositar o valor da cessão de direitos hereditários deve ensejar a oportunidade de correção do citado defeito processual, em homenagem aos princípios da instrumentalidade das formas e da economia processual.

10. Portanto, sobretudo na hipótese em que a ação é ajuizada antes do termo final do prazo decadencial de 180 (cento e oitenta), sendo corrigido o defeito, com o depósito da quantia, o exercício do direito deve retroagir à data do ingresso em juízo.

11. Nessas condições, a demora do Judiciário no exame do pedido de depósito dos valores formulado na inicial não pode prejudicar o autor e não justifica o acolhimento da alegação de decadência. Aplicação analógica da Súmula 106/STJ.

12. Recurso especial provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 13 de outubro de 2020(Data do Julgamento)

MINISTRA NANCY ANDRIGHI

Relatora

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.870.836 - RS (2019/0357575-3) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : MOACIR ALVES DA SILVA FILHO

ADVOGADO : EDUARDO HEITOR PORTO - RS045729 RECORRIDO : PATRICIA ORTIZ MOHLECKE

RECORRIDO : ALDA LUPATINI DURIGON

ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS - SE000000M RECORRIDO : WALDOMIRO DURIGON

ADVOGADO : TERRISSON STADTLOBER - RS070686

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI:

Cuida-se de recurso especial interposto por MOACIR ALVES DA SILVA FILHO, com fundamento nas alíneas "a" e “c” do permissivo constitucional.

Ação: de preferência na cessão direitos sucessórios a terceiros, ajuizada pelo recorrente em face de PATRICIA ORTIZ MOHLECKE e OUTROS, por meio da qual requer o reconhecimento de seu direito de preempção, adquirindo para si a quota alienada, nos termos do art. 1.795 do CC/02.

Sentença: julgou improcedentes os pedidos, ao fundamento de que o recorrente não realizou o efetivo depósito do preço dentro do prazo decadencial de 180 (cento e oitenta) dias, contados da data do ajuizamento da ação, previsto no mencionado dispositivo legal, a despeito da omissão jurisdicional no exame do pedido de expedição das correspondentes guias, formulado à inicial.

Acórdão: negou provimento à apelação interposta pelo recorrente.

Embargos de declaração: opostos pelo recorrente, foram rejeitados.

Recurso especial: aponta, além de divergência jurisprudencial, a violação dos arts. 489 e 1.022 do CPC/15; 504, 1.794 e 1.795 do CC/02.

Sustenta ter ocorrido negativa de prestação jurisdicional.

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Aduz que, na hipótese dos autos, requereu, dentro do prazo decadencial de 180 (cento e oitenta) dias, a expedição da guia para o depósito do preço de alienação dos direitos sucessórios, mas que seu pleito não foi apreciado pelo magistrado do primeiro grau de jurisdição.

Alega que não pode ser prejudicado pela omissão jurisdicional no exame do citado pedido, formulado de maneira expressa, sendo, nessas circunstâncias, permitido o depósito da correspondente quantia após o prazo decadencial.

Argumenta que a guia para depósito não pode ser expedida pelo cartório, sendo indispensável para tanto a autorização do magistrado e o número do processo, o que só ocorre após a distribuição e o despacho inaugural, sob pena de se inviabilizar o exercício de seu direito de preferência.

Decisão de admissibilidade: o TJ/RS negou seguimento ao recurso especial.

Agravo: interposto pelo recorrente, determinei sua reautuação como recurso especial.

É O RELATÓRIO.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.870.836 - RS (2019/0357575-3) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : MOACIR ALVES DA SILVA FILHO

ADVOGADO : EDUARDO HEITOR PORTO - RS045729 RECORRIDO : PATRICIA ORTIZ MOHLECKE

RECORRIDO : ALDA LUPATINI DURIGON

ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS - SE000000M RECORRIDO : WALDOMIRO DURIGON

ADVOGADO : TERRISSON STADTLOBER - RS070686 EMENTA

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INOCORRÊNCIA. DIREITO DE PREFERÊNCIA. ART. 1.795 DO CC/02. CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS A TERCEIROS. COERDEIROS.

PRÉVIA NOTIFICAÇÃO. AUSÊNCIA. EXERCÍCIO JUDICIAL DO DIREITO POTESTATIVO. DEPÓSITO DOS VALORES DA NEGOCIAÇÃO. NATUREZA JURÍDICA. EXPEDIÇÃO DE GUIAS. EXAME JUDICIAL. OMISSÃO NÃO IMPUTÁVEL AO AUTOR. PREJUÍZO AO TITULAR. IMPOSSIBILIDADE.

DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA.

1. Cuida-se de ação de preferência na cessão direitos sucessórios a terceiros, fundada no art. 1.795 do CC/02, ajuizada dentro do prazo decadencial, mas sem o efetivo depósito dos valores envolvidos na cessão de direitos hereditários, embora houvesse pedido expresso de expedição das guias necessárias para tanto na inicial.

2. Recurso especial interposto em: 19/06/2019; concluso ao gabinete em:

24/03/2020; aplicação do CPC/15.

3. O propósito recursal consiste em determinar: a) em relação ao direito de preferência ou preempção, qual a natureza jurídica do depósito dos valores envolvidos na negociação de direitos sucessórios; e b) se o coerdeiro que formula pedido de expedição de guias para depósito da referida quantia pode ser prejudicado pela omissão judicial no exame de sua requisição.

4. Devidamente analisadas e discutidas as questões de mérito, e fundamentado corretamente o acórdão recorrido, de modo a esgotar a matéria em debate, não há que se falar em negativa de prestação jurisdicional.

5. O art. 1.794 do CC/02 prevê uma limitação à autonomia da vontade do coerdeiro que deseja ceder sua quota-parte a terceiros, impondo-lhe que ofereça anteriormente esses direitos aos demais coerdeiros, para que manifestem seu interesse em adquiri-los nas mesmas condições de preço e pagamento.

6. O exercício desse direito de preferência ocorre, pois, em regra,

independentemente da atuação jurisdicional, bastando que, notificado, o

coerdeiro adquira os direitos hereditários por valor idêntico e pelas mesmas

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condições oferecidas ao eventual terceiro estranho interessado na cessão.

7. Todavia, uma vez ultimado o negócio sem observância da notificação prévia do coerdeiro, a solução da questão somente pode se dar na via judicial, pela ação de preferência c.c. adjudicação compulsória. Precedente.

8. Nos termos da jurisprudência da Terceira Turma, a prova do depósito do preço para adjudicação do bem, na petição inicial, é condição de procedibilidade da referida ação. Precedente.

9. Por se tratar de condição de procedibilidade, a omissão do autor em depositar o valor da cessão de direitos hereditários deve ensejar a oportunidade de correção do citado defeito processual, em homenagem aos princípios da instrumentalidade das formas e da economia processual.

10. Portanto, sobretudo na hipótese em que a ação é ajuizada antes do termo final do prazo decadencial de 180 (cento e oitenta), sendo corrigido o defeito, com o depósito da quantia, o exercício do direito deve retroagir à data do ingresso em juízo.

11. Nessas condições, a demora do Judiciário no exame do pedido de depósito dos valores formulado na inicial não pode prejudicar o autor e não justifica o acolhimento da alegação de decadência. Aplicação analógica da Súmula 106/STJ.

12. Recurso especial provido.

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.870.836 - RS (2019/0357575-3) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : MOACIR ALVES DA SILVA FILHO

ADVOGADO : EDUARDO HEITOR PORTO - RS045729 RECORRIDO : PATRICIA ORTIZ MOHLECKE

RECORRIDO : ALDA LUPATINI DURIGON

ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS - SE000000M RECORRIDO : WALDOMIRO DURIGON

ADVOGADO : TERRISSON STADTLOBER - RS070686

VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):

O propósito recursal consiste em determinar: a) em relação ao direito de preferência ou preempção, qual a natureza jurídica do depósito dos valores envolvidos na negociação de direitos sucessórios; e b) se o coerdeiro que formula pedido de expedição de guias para depósito da referida quantia pode ser prejudicado pela omissão judicial no exame de sua requisição.

Recurso especial interposto e m : 19/06/2019 Concluso ao gabinete e m : 24/03/2020

Aplicação do CPC/15

1. DA VIOLAÇÃO DOS ARTS. 489 E 1.022 DO CPC/15

O recorrente aponta negativa de prestação jurisdicional, porquanto, apesar de ter suscitado em seus embargos que os pedidos de depósito e de expedição de guia seriam suficientes para assegurar o direito de preferência quando tais requerimentos não são analisados ou há demora na sua apreciação, referida tese não teria sido enfrentada pelo Tribunal de origem.

Contudo, ainda que a recorrente alegue a omissão no exame de

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referidas teses, tem-se que as questões de mérito foram devidamente analisadas e discutidas pelo TJ/RS, que fundamentou suficientemente o acórdão recorrido, de modo a esgotar a matéria em debate.

Ademais, apesar de ter concluído em sentido oposto ao pretendido pela recorrente, essa circunstância não configura negativa de prestação jurisdicional, não havendo, assim, que se falar em violação dos arts. 489, § 1º, II a IV, e 1.022, I e II, do CPC/15.

2. DA CESSÃO DA QUOTA HEREDITÁRIA A TERCEIROS E O DIREITO DE PREFERÊNCIA DOS COERDEIROS (ARTS. 1.794 E 1.795 DO CC/02)

O herdeiro pode transmitir a outro coerdeiro ou a terceiro todo o seu quinhão ou parte dele, isto é, pode ceder os direitos sucessórios que lhe assistem – sua quota-parte – na sucessão patrimonial a que faz jus.

De fato, por meio da cessão de direitos hereditários, que é negócio jurídico bilateral, não necessariamente oneroso, o coerdeiro transmite a sua quota-parte da herança a outra pessoa.

Essa transmissão de direitos sucessórios deve ser negociada após a abertura da sucessão, ante a vedação do art. 426 do CC/02, e concluída antes da partilha – porquanto, a partir então, os quinhões de cada herdeiro já estarão devidamente individualizados (PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. VI, 24ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2017, livro digital).

2.1. Da cessão de direitos hereditários e da preferência de coerdeiros

Como, por força do art. 1.791, parágrafo único, do CC/02, a natureza

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da herança é a de bem indivisível, o que perdura até a partilha, de forma que, havendo pluralidade de herdeiros, eles serão equiparados, até o referido momento, a coproprietários dos direitos hereditários.

Nessas circunstâncias, a cessão de direitos hereditários justifica o direito de preferência ou de preempção, impondo limites à liberdade do herdeiro em alienar sua quota-parte a terceiros.

De fato, o art. 1.794 do CC/02 prevê uma limitação à autonomia da vontade do coerdeiro que deseja ceder sua quota-parte a terceiros, impondo-lhe que ofereça anteriormente esses direitos aos demais coerdeiros, para que manifestem seu interesse em adquiri-los nas mesmas condições de preço e pagamento oferecidas ao terceiro.

Diante dessa limitação, e por aplicação do princípio da boa-fé objetiva, o herdeiro cedente deve “notificar o condômino coerdeiro para que se manifeste, em prazo razoável, sobre o interesse em adquirir o bem transmitido” (TARTUCE, Flávio. Direito Civil, Direito das Sucessões, vol. VI, 8ª ed, São Paulo: Método, pág.

52).

A jurisprudência desta 3ª Turma acolhe esse entendimento, consignando que o herdeiro cedente deve oferecer aos coerdeiros sua quota parte

“possibilitando a qualquer um deles o exercício do direito de preferência na aquisição, 'tanto por tanto', ou seja, por valor idêntico e pelas mesmas condições de pagamento concedidas ao eventual terceiro estranho interessado na cessão” (REsp 1620705/RS, Terceira Turma, DJe 30/11/2017, sem destaque no original).

2.2. Do descumprimento da obrigação de notificação

A normal forma de exercício do direito de preferência independe da

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atuação judicial, haja vista que, como regra, “o coerdeiro cedente deverá notificar os demais coerdeiros de forma expressa e específica quanto a valor, forma de pagamento e demais condições oferecidas ao terceiro” (NERY JÚNIOR, Nelson;

NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado, 11ª ed., São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, pág. 2.063).

Não sendo, todavia, dada a devida notificação, o art. 1.795 prevê que o direito de preferência do coerdeiro pode ser exercido forçadamente, se requerido até 180 dias após a transmissão.

Trata-se de espécie de direito potestativo, por meio do qual o coerdeiro sujeita o cessionário e o cedente ao seu poder jurídico de haver para si a quota dos direitos hereditários cedida indevidamente a pessoa alheia à sucessão.

2.3. Do exercício judicial do direito de preferência

Realmente, não sendo os demais coerdeiros notificados, qualquer deles “que, no prazo decadencial de cento e oitenta dias após a transmissão, depositar a quantia, haverá para si a herança cedida” (PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. VI, 24ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 82, sem destaque no original), cuidando-se, para a maior parte da doutrina, de

“direito potestativo à adjudicação da fração alienada” (PELUZO, Cezar (coord.). Código Civil Comentado. 4ª ed., Barueri: Manole, p. 560, sem destaque no original).

Citado escólio doutrinário é, entretanto, incompleto, devendo-se

obtemperar que, segundo a jurisprudência desta Terceira Turma, para o exercício

desse direito potestativo, não é suficiente o depósito do valor correspondente,

sendo necessária a atuação jurisdicional, estando o ajuizamento da ação

correspondente submetido a prazo decadencial de 180 (cento e oitenta) dias.

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Sob este prisma, não bastará a manifestação pura e simples de vontade do coerdeiro e o correspondente depósito do valor de alienação para que as cotas cedidas a terceiros sejam a ele adjudicadas, sendo indispensável, para tanto, a manifestação jurisdicional constitutiva desse direito.

De fato, esta e. Terceira Turma, interpretando o direito de preempção previsto de forma análoga no art. 504 do CC/02 entende que “uma vez ultimado o negócio sem observância da notificação prévia do condômino, a solução da questão somente pode se dar na via judicial, pela ação de preferência c.c. adjudicação compulsória” (REsp 1324482/SP, Terceira Turma, DJe 08/04/2016, sem destaque no original).

Dessa forma, “o coerdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até 180 (cento e oitenta) dias após ter sido cientificado da transmissão” (REsp 1620705/RS, Terceira Turma, DJe 30/11/2017, sem destaque no original)

Portanto, caberá ao coerdeiro, por analogia à previsão do art. 504 do CC/02, demonstrar a ocorrência de três condições “indivisibilidade do[s direitos sucessórios], reclamação dentro do prazo legal e depósito do preço” (REsp 1324482/SP, Terceira Turma, DJe 08/04/2016, sem destaque no original).

3. DA NATUREZA JURÍDICA DO DEPÓSITO DOS VALORES PARA O EXERCÍCIO DO DIREITO DE PREFERÊNCIA

A respeito dos requisitos para o exercício do direito de preferência ou

de preempção, esta e. Terceira Turma, examinando a previsão análoga do Estatuto

da Terra, consignou que “o exercício do direito de preferência do arrendatário

não notificado está submetido a dois requisitos, o depósito do preço para

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adjudicação do bem e que a ação seja ajuizada no prazo de seis meses”, de forma que “a prova do depósito do preço para adjudicação do bem, na petição inicial, é condição de procedibilidade da ação” (REsp 824.023/MS, Terceira Turma, DJe 18/06/2010, sem destaques no original).

Ressaltou-se, nessa ocasião, que a natureza de condição de procedibilidade do depósito do preço se deve “à necessidade de demonstração da disponibilidade do valor para efetivação da adjudicação do bem pelo arrendatário, objetivo do feito” (REsp 824.023/MS, Terceira Turma, DJe 18/06/2010, sem destaque no original).

Referida orientação foi reafirmada em julgado mais recente, tendo sido, no entanto, flexibilizadas suas consequências.

Com efeito, a situação fática examinada no julgado mais recente foi a na qual o titular do direito potestativo “ajuizou a ação de preempção no prazo legal e permaneceu no aguardo da decisão do juízo de origem para efetuar o depósito do valor devido”, tendo havido, no entanto, “mora do Judiciário na entrega da prestação jurisdicional” (REsp 1566006/RS, Terceira Turma, DJe 29/09/2016, sem destaque no original).

Concluiu-se, à luz dessa moldura fática, que “a demora na prestação jurisdicional não pode ensejar a perda do direito do arrendatário à preferência estabelecida em lei” (REsp 1566006/RS, Terceira Turma, DJe 29/09/2016, sem destaque no original).

3.1. Das “condições de procedibilidade”, sua ausência e as correspondentes consequências

As condições de procedibilidade encontram sua definição na doutrina

do Direito Processual Penal, no qual são conceituadas como pressupostos

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especiais e específicos que, em certas circunstâncias, subordinam o próprio exercício da ação penal.

Essa é a lição da CARREIRA ALVIM, que acrescenta que “algumas das condições da ação são genéricas, indispensáveis ao exercício de qualquer ação, inclusive a ação penal, devendo coexistir – interesse de agir e legitimatio ad causam –, e outras são específicas, necessárias apenas num ou noutro caso, condicionando o exercício de determinada ação” (ALVIM, J. E.

Carreira Alvim. Teoria Geral do Processo. 21ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2018, livro digital).

Dessa forma, as condições de procedibilidade, assim como as condições da ação genéricas, se colocam em uma posição intermediária entre o direito processual e o direito material, representando um exame ainda hipotético da possibilidade da obtenção de uma sentença válida de mérito.

Assim, a consequência da ausência das “condições de procedibilidade”

é, como nas demais condições da ação, a denominada “carência de ação”, que acarreta a extinção do processo sem resolução de mérito, nos termos do art. 485 do CPC/15.

3.2. Da necessidade de se conceder ao autor a possibilidade de sanar vício procedimental e da impossibilidade de a parte ser prejudicada pela omissão judicial no exame de pedido expresso

Como salientado, o entendimento adotado pela jurisprudência desta Corte é de que o depósito da quantia referente à cessão dos direitos a terceiros é condição de procedibilidade da ação de preferência.

Diante desses fatores, a conjugação da orientação jurisprudencial

desta Terceira Turma com as consequências da ausência de condições de

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procedibilidade, que é a extinção do processo sem resolução do mérito, resulta na conclusão de que, se depósito do valor da cessão de direitos hereditários é condição – específica, ou seja, de procedibilidade – da ação de preempção, a omissão do titular a esse respeito deve ensejar a notificação para a correção desse vício procedimental.

Com efeito, seja em observância ao art. 317 do CPC/ 15, seja, na vigência do CPC/73, por “homenagem aos princípios da economia processual e das instrumentalidade das formas” (EDcl no AREsp 298.431/DF, Quarta Turma, DJe 24/06/2014; REsp 1746047/PA, Terceira Turma, DJe 31/08/2018; REsp 1473280/ES, Terceira Turma, DJe 14/12/2015; RESP 1.074.066/PR, Terceira Turma, DJ de 13/5/2010), deve ser dada à parte a oportunidade de corrigir o erro na instrução de sua ação.

Portanto, nessas condições, se deve ser concedido ao autor a oportunidade de sanar vício procedimental, a parte que ajuíza a ação de preferência dentro do prazo, mas não realiza o depósito, não pode ser prejudicada pela demora do Judiciário de processar a referida ação e de examinar o pedido de expedição das correspondentes guias, realizado em juízo, sendo vedado, nessas circunstâncias, o reconhecimento de decadência, conforme decidido nos autos do REsp 1566006/RS, Terceira Turma, DJe 29/09/2016.

De fato, mesmo à luz do CPC revogado, a jurisprudência desta Corte já se orientava pela impossibilidade de “ocorrer a decadência, quando não houver sido efetivada a citação por motivo alheio à vontade da parte interessada”, pois

“no que diz com a eficácia do ingresso da petição inicial em juízo, [...] este

Tribunal tem se manifestado [...], valorizando o comportamento da parte em

praticar o ato que está ao seu dispor, que é o de promover a ação, não

podendo ser prejudicado com a demora do serviço, sobre o qual não tem

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ingerência” (REsp 40.112/MG, Quarta Turma, DJ 18/10/1999).

Nesse mesmo sentido, foi editada a Súmula 106/STJ, que consigna que “proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifica o acolhimento da argüição de prescrição ou decadência” (sem destaque no original); entendimento que é aplicado em julgados recentes (AgInt no REsp 1728021/MG, Quarta Turma, DJe 01/04/2020; AgInt no REsp 1370898/SC, Terceira Turma, DJe 09/08/2016), e que pode ser replicado por analogia na hipótese concreta.

Nessa situação, portanto, a eventual satisfação da condição de procedibilidade, com o eventual depósito da quantia envolvida na negociação dos direitos sucessórios, deve retroagir à data do ajuizamento da ação, pois a demora no processamento da ação e no exame do pedido de depósito em juízo não pode ser atribuído à parte autora.

4. DA HIPÓTESE CONCRETA

Na presente hipótese, o Tribunal de origem manteve a sentença que julgou improcedente o pedido de preferência sob o fundamento de que o prazo decadencial havia se exaurido, porquanto não realizado o depósito dos valores correspondentes à negociação dentro de 180 dias da data de ajuizamento da ação.

O acórdão recorrido consignou, no entanto, que “é verdadeira alegação de que a parte requereu a expedição de guias para depósito pedido este que não foi atendido pelo Magistrado” (e-STJ, fl. 434, sem destaque no original).

Declarou que, a despeito do pedido expresso do recorrente para que

o juiz indicasse a conta corrente bancária para o depósito, “poderia a parte ter

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depositado a quantia em dinheiro em conta, bancária destinada a tal fim, bem como poderia ter requerido ao cartório a expedição das guias ou até mesmo, poderia a parte ter depositado o valor diretamente na conta que guarda os depósitos judiciais perante o BANCO BANRISUL” (e-STJ, fls. 434-435).

O entendimento da Corte de origem acarreta, entretanto, a impossibilidade do exercício do direito de preferência garantido ao recorrente, mesmo que ele tenha se proposto, já na inicial, a efetuar o depósito da quantia referente à cessão dos direitos hereditários.

Com efeito, na hipótese dos autos, o recorrente ajuizou a presente ação dentro do prazo legal, não tendo depositado o valor correspondente à cessão das quotas hereditárias a terceiros por ter aguardado o julgador do primeiro grau de jurisdição examinar o pedido de expedição das guias para tanto.

Como o depósito do valor envolvido na cessão dos direitos hereditários possui, nos termos da jurisprudência desta e. Terceira Turma, natureza jurídica de condição de procedibilidade, o juízo de origem deveria ter examinado a questão, até mesmo para oferecer oportunidade ao autor de regularizar o defeito procedimental no ajuizamento da ação de preferência.

Dessa forma, nas circunstâncias dos autos, não pode o recorrente ser prejudicado pela omissão do julgador em examinar seu pedido expresso de expedição das guias para depósito, formulado logo na oportunidade do ingresso da ação, e tampouco a decadência pode ser reconhecida, haja vista que a parte não pode ser responsabilizada pela demora do Judiciário à qual não deu causa.

Portanto, a sentença e o acórdão, que reconheceram a decadência, devem ser reformados.

Considerando, todavia, que já se passou considerável tempo desde o

ajuizamento da ação e a data do presente julgamento e, ainda, que a correção

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monetária nada acrescenta ao pedido, representando mera recomposição do valor da moeda, o recorrente deve, caso ainda possua a intenção, fazer o depósito devido com a devida correção monetária a contar da data do ingresso em juízo, permitindo, assim, o exame de seu pedido de adjudicação.

5. CONCLUSÃO

Forte nessas razões, DOU PROVIMENTO ao recurso especial,

determinando o retorno dos autos ao primeiro grau de jurisdição para que se

possibilite ao recorrente o direito de depositar a quantia envolvida na negociação

de direitos hereditários, com correção monetária dos referidos valores desde a

data do ajuizamento da ação até a data do efetivo depósito, e para que se prossiga

no exame de mérito da ação, da forma como se entender de direito.

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Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2019/0357575-3 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.870.836 / RS

Números Origem: 00008367820158210036 00913076420198217000 01729929320198217000 02699764220198217000 03131348420188217000 1729929320198217000 2699764220198217000 3131348420188217000 70079479226 70081193989 70082010836 70082980673 8367820158210036 913076420198217000

PAUTA: 13/10/2020 JULGADO: 13/10/2020

Relatora

Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Presidente da Sessão

Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO Subprocurador-Geral da República

Exmo. Sr. Dr. OSNIR BELICE Secretária

Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA AUTUAÇÃO RECORRENTE : MOACIR ALVES DA SILVA FILHO ADVOGADO : EDUARDO HEITOR PORTO - RS045729 RECORRIDO : PATRICIA ORTIZ MOHLECKE

RECORRIDO : ALDA LUPATINI DURIGON

ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS - SE000000M RECORRIDO : WALDOMIRO DURIGON

ADVOGADO : TERRISSON STADTLOBER - RS070686 ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Coisas - Propriedade - Condomínio

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Terceira Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.

Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino (Presidente), Ricardo Villas Bôas Cueva,

Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Referências

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