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Sumário. Tribunal da Relação do Porto Processo nº 74300/15.9YIPRT.P1

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 74300/15.9YIPRT.P1 Relator: FERNANDO SAMÕES Sessão: 14 Junho 2016

Número: RP2016061474300/15.9YIPRT.P1 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: CONFIRMADA

OMISSÃO DE PRONÚNCIA

REGRA DE SUBSTITUIÇÃO DO TRIBUNAL RECORRIDO

CASO JULGADO AUTORIDADE DO CASO JULGADO

Sumário

I - Padecem de nulidades, por omissão de pronúncia e por falta de

fundamentação, os despachos ou sentenças que omitam, por completo, a apreciação de uma questão suscitada nos articulados e a especificação dos factos provados.

II - Verificadas tais nulidades, devem ser supridas pelo Tribunal da Relação, mediante o conhecimento da questão omitida e a especificação dos factos provados, segundo a regra da substituição do tribunal recorrido.

III - A remessa ao tribunal competente de um procedimento de injunção, face à apresentação da oposição, e a posterior tramitação como acção de processo comum fazem precludir qualquer questão atinente aos requisitos da injunção, o que impossibilita a verificação, nesse caso, da excepção dilatória inominada por inadequação processual.

IV - A excepção do caso julgado, como excepção dilatória, reflectindo a função negativa do caso julgado, pressupõe a verificação da tríplice identidade de sujeitos, pedidos e causas de pedir, nos termos do art.º 581.º do CPC.

V - Já a autoridade do caso julgado, diferente daquela, exerce a função positiva do caso julgado e tem a ver com a existência de prejudicialidade entre

objectos processuais, tendo como limites os que decorrem dos próprios termos da decisão, como se depreende dos art.ºs 619.º e 621.º, ambos do mesmo Código.

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VI - Não se verifica a excepção dilatória do caso julgado entre uma acção de simples apreciação e uma acção de condenação, resultante da transmutação de um procedimento de injunção, fundado no mesmo direito de crédito.

VII - No entanto, a autoridade do caso julgado da sentença proferida na primeira acção impõe-se na segunda, quanto à verificação do crédito ali apreciado e reconhecido, pelo que, nada sendo alegado relativamente à extinção desse direito pelo réu, a sua condenação é inevitável logo no despacho saneador.

Texto Integral

Processo n.º 74300/15.9YIPRT.P1

Da Comarca do Porto – Instância Central do Porto – 1.ª Secção Cível – J2, onde deu entrada em 3/7/2015.

Relator: Fernando Samões 1.º Adjunto: Dr. Vieira e Cunha 2.º Adjunto: Dr.ª Maria Eiró

*

Acordam no Tribunal da Relação do Porto – 2.ª Secção:

I. Relatório

B…, Lda., requereu procedimento de injunção contra C…, SA, ambas melhor identificadas nos autos, pedindo o pagamento da quantia de 143.700,87 €, correspondente ao capital de 109.007,29 €, 34.540,58 € de juros de mora vencidos e 153,00 € de taxa de justiça.

Alegou, para tanto e em resumo, que, no exercício da sua actividade, no período compreendido entre 15/10/2010 e 16/12/2012, no âmbito de dois contratos de subempreitada entre ambas celebrados, executou para a ré trabalhos de movimento de terras na obra de Construção do Reservatório, Redes de Rega, Viária e Drenagem do D…, do Aproveitamento E…, Fundão, cuja dona é a Direção Geral de Agricultura e Pescas, como discriminou em doze facturas emitidas em conformidade com os autos de medição elaborados e aprovados; bem como alugou máquinas e equipamentos para a mesma obra, conforme 28 facturas que emitiu. As facturas, no valor total de 427.007,20 €, foram enviadas à ré e foram por ela aceites, mas não foram integralmente pagas, pois só pagou a quantia de 314.515,91€, ficando a dever a importância de 119.007,29 € que, depois de deduzida a quantia retida a título de garantia, ficou reduzida a 109.007,29 €, dívida que já foi reconhecida na acção de

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simples apreciação n.º 326/12.0TBFND, por sentença transitada em julgado.

A requerida deduziu oposição, excepcionando o caso julgado e a

impropriedade do meio utilizado, bem como impugnando, no essencial, o início do prazo da contagem dos juros moratórios, afirmando que as facturas se venciam no prazo de 90 dias a contar da sua recepção, nos termos contratuais, concluindo pela sua absolvição.

Apresentados os autos à distribuição e distribuídos como acção com processo comum, foi ordenada a notificação da contestação à autora e, depois,

convidada a “responder à excepção invocada pela ré”, o que fez, sustentado que inexiste qualquer excepção, quer por a referida sentença ter sido

proferida numa acção de simples apreciação, quer por o meio ser o adequado, na medida em que invocou a prestação de serviços no âmbito dos contratos celebrados que ainda não foram pagos.

Após junção de certidão da petição inicial e da sentença proferida na acção n.º 326/12.0TBFND, foi realizada audiência prévia e, em 8/2/2016, foi lavrado saneador-sentença, onde se decidiu julgar improcedente a excepção dilatória do caso julgado e “parcialmente procedente a acção, condenando a ré C… SA a pagar à autora, B… Lda., a quantia de 109.165,66 euros (cento e nove mil cento e sessenta e cinco euros e sessenta e seis cêntimos), acrescida dos juros de mora legais para operações comerciais vencidos desde a notificação para a presente acção bem como vincendos à mesma taxa legal até integral

pagamento”.

Inconformada com essa decisão, a ré interpôs recurso para este Tribunal e apresentou as suas alegações que culminaram nas seguintes conclusões:

“1ª) Compulsada a oposição/contestação constata-se que, para além da exceção de caso julgado, a Ré suscitou a impropriedade/incompetência do meio processual utilizado pela A. (a injunção);

2ª) Ora, o saneador-sentença não se pronunciou quanto a tal invocação, e que era questão de direito fundamental;

3ª) Não se tendo pronunciado quanto a questão que deveria apreciar, o saneador-sentença é nulo nos termos da al. d), do nº 1, do art. 615º do Cód.

Proc. Civil;

4ª) Compulsado saneador-sentença verifica-se que a decisão não discrimina os factos que considera provados, nem efetua a análise crítica das provas (art.

607º-3 do CPC), o que importa, também por aqui, nulidade que se invoca (art.

615º-1 b) do CPC);

(4)

5ª) Por outro lado, resulta dos autos (desde logo, da decisão recorrida) que a presente ação vem estribada no antecedente processo n.º 326/12.0TBFND, que pendeu pela 4ª Vara Cível do Porto, ou seja, a causa de pedir é a ação declarativa de simples apreciação, o reconhecimento de um direito efetuado por sentença, e não o cumprimento de uma obrigação pecuniária emergente de contrato;

6ª) Assim, o presente processo, iniciado como injunção (D.L. 269/98, de 01 de Setembro), não é o próprio, o que deveria ter determinado que a Ré fosse absolvida da instância;

7ª) Por outro lado, ainda, deveria ter sido julgada procedente a exceção de caso julgado já que, ocorre identidade de causas entre o Proc. 326/12.0TBFND e os presentes autos, tanto assim que, servindo-se da primitiva decisão, o

saneador-sentença recorrido limitou-se a concluir que a acção apenas poderia improceder se a Ré tivesse alegado ou demonstrado “o pagamento dessa quantia” (cfr. fls…);

8ª) Ou seja, por ser causa idêntica, limitou-se o Mmº Juiz “a quo” a proferir sentença baseando-se no caso julgado anterior, e sem efetuar julgamento;

9ª) Assim das duas uma: ou a causa é uma repetição de outra anterior, e deveria a exceção de caso julgado ter sido julgada procedente com as legais consequências, ou a causa é diversa, e a acção deveria ter prosseguido para julgamento para conhecimento dos factos controvertidos objeto de

impugnação na oposição;

10ª) Pelo exposto, revogando-se a decisão recorrida deverá, “data venia”, absolver-se a recorrente da instância ou ordenar-se o prosseguimento dos autos para julgamento e conhecimento dos factos controvertidos;

11ª) Foi violado o disposto nos artºs 278, 576, 577º, 607º e 615º do Cód. Proc.

Civil e art. 1º do D.L. 269/98, de 01 de Setembro.

TERMOS EM QUE, dando-se provimento ao presente recurso, deve ser revogada a decisão recorrida, e substituída por outra que julgue em conformidade com as conclusões anteriores, tudo com as legais consequências.

ASSIM SE FARÁ JUSTIÇA”

Não foram apresentadas contra-alegações.

O recurso foi admitido como apelação, com subida imediata, nos próprios autos e com efeito meramente devolutivo, modo de subida e efeito que foram mantidos por este Tribunal.

No despacho que admitiu o recurso, o M.mº Juiz do Tribunal a quo pronunciou-se pela inexistência das nulidades arguidas.

(5)

Tudo visto, cumpre apreciar e decidir o mérito do presente recurso.

Sabido que o seu objecto e âmbito estão delimitados pelas conclusões da recorrente (cfr. art.ºs 635.º, n.º 4 e 639.º, n.ºs 1 e 2, ambos do NCPC, aqui aplicável, doravante apenas CPC), não podendo este Tribunal de 2.ª instância conhecer de matérias nelas não incluídas, a não ser em situações excepcionais que aqui não relevam, e tendo presente que se apreciam questões e não

razões, as questões que importa dirimir consistem em saber:

1. Se o saneador-sentença padece de nulidades por omissão de pronúncia ou por falta de fundamentação;

2. Se existe a excepção da inadequação processual;

3. Se ocorre a excepção do caso julgado;

4. E se os autos devem prosseguir.

II. Fundamentação 1. De facto

No saneador-sentença recorrido, não foram dados como provados quaisquer factos, pelo que se relega para momento posterior, após conhecimento da correspondente nulidade arguida, a sua descrição, se for caso disso.

2. De direito

2.1. Das nulidades da sentença

O art.º 615.º, n.º 1, do CPC dispõe que a sentença é nula, entre outras

situações para aqui irrelevantes, quando “Não especifique os fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão” [al. b)] ou quando “O juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar” [al. d), 1.ª parte].

Esta causa de nulidade está em correlação com o disposto na 1.ª parte do n.º 2 do art.º 608.º do CPC que impõe ao juiz “resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação, exceptuadas aquelas cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a outras”.

Reporta-se à falta de apreciação de questões que o tribunal devesse apreciar e não de argumentações, razões ou juízos de valor aduzidos pelas partes, aos quais não tem de dar resposta especificada ou individualizada, conforme tem vindo a decidir uniformemente a nossa

Jurisprudência[1], temos vindo a decidir em vários acórdãos que proferimos e assim tem sido entendido pela doutrina[2].

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Daí que possa afirmar-se que a nulidade da sentença com fundamento na omissão de pronúncia só ocorre quando uma questão que devia ser conhecida nessa peça processual não teve aí qualquer tratamento, apreciação ou decisão (e cuja resolução não foi prejudicada pela solução dada a outras).

No presente caso, constata-se que o Sr. Juiz não apreciou a excepção dilatória inominada da inadequação processual, suscitada pela ré na contestação, mais precisamente no art.º 11.º, como devia no despacho saneador, atento o

disposto no art.º 595.º, n.º 1, al. a) do CPC, limitando-se a escrever que “o processo é o próprio”.

Esta afirmação genérica não pode considerar-se, de forma alguma, um

conhecimento daquela excepção, porquanto não contém qualquer tratamento, apreciação ou decisão da mesma.

Por isso, ocorre a arguida nulidade do despacho saneador, com fundamento em omissão de pronúncia, vício da sentença extensível aos despachos nos termos do n.º 3 do art.º 613.º do CPC.

A outra nulidade invocada pela recorrente baseia-se na falta de

fundamentação de facto, prevista na al. b) do art.º 615.º, acima transcrita.

Esta causa de nulidade consiste na falta absoluta de fundamentação da

decisão, não bastando que ela seja deficiente, incompleta ou não convincente.

Quanto aos fundamentos de facto, não é a falta de exame crítico das provas que basta para preencher aquela nulidade, tornando-se antes necessário que o juiz não concretize os factos que considera provados e coloca na base da

decisão.

Relativamente aos fundamentos de direito, importa salientar que a

fundamentação contenta-se com a indicação das razões jurídicas que servem de apoio à solução adoptada pelo julgador e que não é indispensável a

especificação das disposições legais que fundamentam a decisão. Fundamental é que sejam mencionados os princípios, as regras, as normas em que a decisão se apoia[3].

Trata-se de um vício estrutural da sentença, cuja causa, em rigor, seria caso de anulabilidade e não de verdadeira nulidade, devendo entender-se esta no sentido lato de invalidade, a qual apenas ocorre quando falte em absoluto a indicação dos fundamentos de facto ou a indicação dos fundamentos de direito da decisão, em desrespeito pelo disposto no art.º 607.º, n.º 3, do CPC[4].

No caso em análise, verifica-se a absoluta falta de fundamentação de facto que esteve na base da decisão.

Como já se referiu, o saneador-sentença não contém qualquer facto provado e, não obstante, foi nele conhecido do mérito da acção, com apreciação da

excepção dilatória do caso julgado à mistura, ainda que com fundamento na autoridade do caso julgado.

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Seja como for, era necessário que o Sr. Juiz concretizasse os factos que considerou provados e colocou na base da decisão que proferiu.

Não o tendo feito, omitindo, por completo, a especificação dos factos provados, cometeu a indicada nulidade.

Verificadas as nulidades arguidas, importa, agora, supri-las, mediante o conhecimento da aludida questão, cuja apreciação foi omitida, que também é questão suscitada na apelação, e especificando os factos que se consideram provados, segundo a regra da substituição do tribunal recorrido, estabelecida nos n.ºs 1 e 2 do 665.º do CPC, o que se irá fazer de seguida.

2.2. Da excepção dilatória inominada da inadequação processual

O art.º 7.º do anexo ao DL n.º 269/98, de 1/9, dá a seguinte noção de injunção:

“Considera-se injunção a providência que tem por fim conferir força executiva a requerimento destinado a exigir o cumprimento das obrigações a que se refere o artigo 1.º do diploma

preambular, ou das obrigações emergentes de transacções comerciais abrangidas pelo Decreto-Lei n.º 32/2003, de 17 de Fevereiro”[5].

O art.º 1.º do diploma preambular do DL n.º 269/98[6] alude aos

procedimentos (especiais) destinados a exigir o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior a € 15 000, cujo regime consta dos art.ºs 1.º a 5.º do seu anexo.

Por sua vez, o art.º 2 do citado DL n.º 32/3003[7] prescreve:

“1- O presente diploma aplica-se a todos os pagamentos efectuados como remunerações de transacções comerciais.

2- São excluídos da sua aplicação:

a) Os contratos celebrados com consumidores;

b) Os juros relativos a outros pagamentos que não os efectuados para remunerar transacções comerciais;

c) Os pagamentos efectuados a título de indemnização por responsabilidade civil, incluindo os efectuados por companhias de seguros”.

E o art.º 3.º seguinte dá as definições para efeitos desse diploma, entendendo por:

“a) “Transacção comercial” qualquer transacção entre empresas ou entre empresas e entidades públicas, qualquer que seja a respectiva natureza, forma ou designação, que dê origem ao fornecimento de mercadorias ou à prestação de serviços contra uma remuneração.

b) “Empresa” qualquer organização que desenvolva uma actividade económica ou profissional autónoma, mesmo que exercida por pessoa singular.

c) […]”.

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Decorre do exposto que, para que a providência de injunção possa ser decretada, mediante a aposição da fórmula executória, é necessário:

- ser reclamado o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior a 15.000 € ou créditos de natureza contratual emergentes de transacções comerciais que deram origem ao fornecimento de mercadorias ou à prestação de serviços;

- essas transacções devem ter-se processado entre empresas ou entre

empresas e entidades públicas, mas já não com consumidores, considerando- se empresas aquelas organizações que desenvolvem uma actividade

económica ou profissional autónoma, mesmo que exercida por pessoa singular.

O mérito da decisão do procedimento em análise é a injunção de pagamento da quantia reclamada traduzida na fórmula “este documento tem força

executiva” que constitui título executivo [cf. art.º 14.º, n.º 1 do DL n.º 269/98 e art.º 703.º, n.º 1, al. d) do CPC].

Para isso poder acontecer e o credor obter a pretendida injunção, terá que se verificar o conjunto dos aludidos requisitos de natureza substantiva.

Sendo deduzida oposição, a injunção já não será aposta pelo secretário, o qual

“apresenta os autos à distribuição que imediatamente se seguir”, nos termos do art.º 16.º, n.º1, do regime anexo ao DL n.º 269/98.

E, de harmonia com o disposto no art.º 7.º, n.º 2 do citado DL n.º 32/2003[8], “ para valores superiores à alçada da Relação, a dedução de oposição e a

frustração da notificação no procedimento de injunção determinam a remessa dos autos para o tribunal competente, aplicando-se a forma de processo

comum”.

No caso dos autos, porque foi deduzida oposição, foram os mesmos

apresentados à distribuição, tendo sido distribuídos como acção de processo comum.

Na oposição, a ré invocou a impropriedade do procedimento de injunção, porque a causa de pedir “não se relaciona com o cumprimento de uma obrigação pecuniária emergente de contrato mas com o reconhecimento de um direito, efectuado por sentença” (cfr. art.º 11.º).

No recurso, reincide nessa sua arguição.

É óbvio que não se trata de uma obrigação pecuniária emergente de contrato de valor não superior a 15.000 € para cair na previsão do art.º 1.º do DL n.º 269/98.

Porém, também nos parece evidente que a causa de pedir invocada não é a sentença proferida na acção ordinária n.º 326/12.0TBFND, ainda que seja referida no requerimento inicial, mas os contratos de subempreitada e de aluguer e os créditos que originaram a prestação de serviços pela autora à ré, que são empresas comerciais, e cujo pagamento pretende.

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Trata-se, por conseguinte, do cumprimento de obrigações emergentes de transacções comerciais abrangidas pelo Decreto-Lei n.º 32/2003, as quais podiam constituir objecto do procedimento de injunção.

De qualquer modo, o pedido de injunção, a partir do momento em que foi deduzida oposição, deixou de pode ser efectivado pela aposição da dita fórmula executória, ficando definitivamente afastado tal procedimento.

E tendo os autos sido distribuídos como acção com processo comum, deixou de fazer qualquer sentido ou ter relevância prática a arguição da

impropriedade do procedimento de injunção.

Mesmo que o crédito invocado não se enquadrasse na transacção comercial a que aludem os art.ºs 2.º, n.º 1 e 3.º, als. a) e b) do DL n.º 32/2003, tal

circunstância nenhuma influência exerceria no processado posterior, já que não tem qualquer correlação com a forma de processo a tramitar em momento subsequente.

Tratando-se, como se trata, de uma acção com processo comum em que se transmutou o procedimento de injunção, inviabilizado o pedido nele feito face à oposição deduzida, o objectivo da oposição não pode deixar de ser o de contestar o crédito reclamado.

E, situando-nos já no âmbito da acção declarativa comum, “não releva, enquanto facto obstativo do conhecimento de mérito, a prova de que a

transação comercial que constitui causa de pedir não está inserida no âmbito das transações comerciais que permitem o recurso à providência de injunção;

pois, ainda que a transação invocada não pudesse permitir que fosse

decretada a injunção, ela não obsta a que o crédito seja reconhecido visto que em ação declarativa ordinária é indiferente a natureza da transação que deu origem ao crédito, não exercendo qualquer influência na tramitação da causa”.[9]

Inexiste, assim, a impropriedade do meio escolhido, contrariamente ao sustentado pela ré/recorrente, não se verificando, por conseguinte, uma

excepção dilatória inominada por inadequação processual que imponha, neste caso, a absolvição da ré da instância.

2.3. Dos factos provados

Com base na confissão, por ausência de impugnação, nos termos do n.º 2 do art.º 574.º do CPC, e nas cópias das certidões de fls. 57 a 82, consideram-se provados os seguintes factos:

1- A autora é uma sociedade comercial por quotas de responsabilidade limitada, cujo objecto, para além do mais, é a realização de trabalhos de terraplanagens e aluguer de máquinas e equipamento;

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2 - Por seu lado, foi adjudicada à ré, que se dedica, entre outros, à realização de obras públicas, a empreitada da obra de Construção do Reservatório, Redes de Rega, Viária e Drenagem do D…, do Aproveitamento E…, sita na área do concelho do Fundão, cujo dono da obra é a Direcção Geral de Agricultura e Pescas;

3 - Enquanto adjudicatária da referida obra, a ré celebrou com a autora dois contratos através dos quais se obrigou a executar os trabalhos da

Subempreitada de Movimento de Terras fase 1 e fase 2 da obra referida no número anterior, bem como vários contratos de aluguer de máquinas para essa mesma obra;

4 - Por tais trabalhos efectuados, a autora emitiu, em conformidade com os autos de medição elaborados e devidamente aprovados pela ré, as seguintes facturas:

- Factura n.º … emitida em .. de Março de 2010 no valor de 14.239.00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Abril de 2010 no valor de 19.491,76€;

- Factura n.º … emitida em .. de Maio de 2010 no valor de31.277,53,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Junho de 2010 no valor de 29.383,06€;

- Factura n.º … emitida em .. de Julho de 2010 no valor de 19.928,99€;

- Factura n.º … emitida em .. de Julho de 2010 no valor de 26.524,42€;

- Factura n.º … emitida em .. de Agosto de 2010 no valor de 32.795,55€;

- Factura n.º … emitida em .. de Setembro de 2010 no valor de 12.277,33€;

- Factura n.º … emitida em .. de Novembro de 2010 no valor de 32.449,27€;

- Factura n.º … emitida em .. de Janeiro de 2011 no valor de 4.542,88€;

- Factura n.º … emitida em .. de Janeiro de 2011 no valor de 3.062,82€;

5 - Pelos alugueres de máquinas e equipamentos à ré para a obra acima referida, a autora emitiu as seguintes facturas:

- Factura n.º … emitida em .. de Fevereiro de 2010 no valor de 3.284,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Março de 2010 no valor de 10.204,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Abril de 2010 no valor de 15.572,55€;

- Factura n.º … emitida em .. de Maio de 2010 no valor de 8.088,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Maio de 2010 no valor de 10.522,50€;

- Factura n.º … emitida em .. de Junho de 2010 no valor de11.334,50€;

- Factura n.º … emitida em .. de Junho de 2010 no valor de 7.982,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Julho de 2010 no valor de 11.472,50€;

- Factura n.º … emitida em .. de Julho de 2010 no valor de 12.452,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Agosto de 2010 no valor de 11.269,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Agosto de 2010 no valor de 12.184,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Setembro de 2010 no valor de 9.287,50€;

- Factura n.º … emitida em .. de Setembro de 2010 no valor de 6.885,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Outubro de 2010 no valor de 5.600,00€;

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- Factura n.º … emitida em .. de Outubro de 2010 no valor de 6.300,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Novembro de 2010 no valor de 5.287,50€;

- Factura n.º … emitida em .. de Novembro de 2010 no valor de 6.318,50€;

- Factura n.º … emitida em .. de Dezembro de 2010 no valor de 4.855,00€;

- Factura nº … emitida em . de Janeiro de 2011 no valor de 5.985,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Janeiro de 2011 no valor de 4.245,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Janeiro de 2011 no valor de 3.915,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Fevereiro de 2011 no valor de 4.385,50€;

- Factura n.º … emitida em .. de Fevereiro de 2011 no valor de 3.687,00€;

- Factura nº … emitida em .. de Março de 2011 no valor de 5.377,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Maio de 2011 no valor de 552,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Agosto de 2011 no valor de 6.808,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Setembro de 2011 no valor de 4.941,00€;

- Factura n.º … emitida em .. de Dezembro de 2011 no valor de 2.240,00€;

6 - Tais facturas foram enviadas à ré tendo sido por ela aceites;

7 - A autora recebeu o valor de parte das facturas emitidas, no montante de 314.515,91€, através de contratos de cessão de créditos e de confirming celebrados com a F… e com o Banco G…, cujas despesas e pagamento adiantado de juros ficaram a cargo da ré;

8 - O valor de tais despesas e juros perfazem o total de 6.516,00€;

9 – Em 7/5/2012, a autora intentou contra a ré acção declarativa com processo ordinário, de simples apreciação, distribuída ao 2.º Juízo do Fundão, depois remetida às Varas Cíveis do Porto, onde foi distribuída à 4.ª Vara Cível, com o n.º 326/12.0TBFND, alegando os créditos decorrentes nos aludidos contratos, bem como a emissão das facturas supra descritas em 4 e 5, no montante total de 119.007,29 €, ainda em dívida, pedindo que “seja declarado e reconhecido à A que a R lhe deve a quantia de 119.007,29 € e a exigir desta o respectivo pagamento”.

10 – Por sentença de 17/7/2013, transitada em julgado em 7/10/2013, a acção foi julgada parcialmente procedente, tendo-se decidido “declaro e reconheço que a Autora é titular de um crédito sobre a Ré no valor de € 109.165,66, como proveniente do contrato identificado no item 2.º dos factos provados”.

2.4. Da excepção do caso julgado

Como é sabido e já tivemos ocasião de escrever noutras ocasiões[10] a

excepção dilatória do caso julgado pressupõe a repetição de uma causa depois de a primeira, entre as mesmas partes, sobre o mesmo objecto e baseada na mesma causa de pedir, ter sido decidida por sentença que não admita recurso ordinário, obsta ao conhecimento do mérito da causa e importa a absolvição

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da instância (cfr. art.ºs 576.º, n.º 2, 577.º, al. i), 580.º, n.º 1, 581.° e 619.°, n.º 1, todos do CPC).

Os seus requisitos, de verificação cumulativa, estão previstos no citado art.º 581.º nos seguintes termos:

“1. Repete-se a causa quando se propõe uma acção idêntica a outra quanto aos sujeitos, ao pedido e à causa de pedir.

2. Há identidade de sujeitos quando as partes são as mesmas sob o ponto de vista da sua qualidade jurídica.

3. Há identidade de pedido quando numa e noutra causa se pretende obter o mesmo efeito jurídico.

4. Há identidade de causa de pedir quando a pretensão deduzida nas duas acções procede do mesmo facto jurídico. Nas acções reais a causa de pedir é o facto jurídico de que deriva o direito real; nas acções constitutivas e de

anulação é o facto concreto ou a nulidade específica que se invoca para obter o efeito pretendido.”

Reporta-se, assim, à tríplice identidade relativa aos sujeitos, ao pedido e à causa de pedir.

A identidade dos sujeitos não suscita quaisquer dúvidas, face ao disposto no n.º 2 do citado art.º 581.º, já que “as partes são as mesmas sob o ponto de vista da sua qualidade jurídica”, não havendo sequer necessidade de atender à extensão subjectiva da eficácia do caso julgado.

Na definição da identidade do pedido, “há que atender ao objecto da sentença e às relações de implicação que a partir dele se estabelecem”, sendo que “à identidade de efeito jurídico referida

no n.º 3 basta … uma identidade relativa, abrangendo, «não só o efeito preciso obtido no primeiro processo, como qualquer que nesse processo houvesse estado implicitamente mas necessariamente em causa» (Castro Mendes, idem, p. 350). Por outro lado, apresentando-se o pedido determinado material e processualmente …, interessa fundamentalmente ao conceito de repetição o efeito jurídico de direito material, mas a função do caso julgado não impede que, com base na decisão anteriormente proferida, se peticione um efeito processual não abrangido pela decisão proferida: pode, por exemplo, pedir-se a condenação do réu no cumprimento da obrigação reconhecida em acção de simples apreciação”[11].

Daí que se possa afirmar que ocorre identidade de pedido quando o efeito prático-jurídico pretendido pelo autor em ambas as acções é substancialmente o mesmo.

A causa de pedir é o acto ou o facto jurídico em que o autor se baseia para fundamentar o seu pedido[12].

A mesma radica no facto oferecido pela parte e não na valoração que se lhe

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atribui, sendo que também não se deve confundir com os meios de que a parte se serve para o sustentar ou demonstrar[13], pois os meios são as provas e os argumentos por via dos quais se procura estabelecer a existência do facto jurídico que serve de fundamento à acção[14].

Para que ela ocorra é necessário que a pretensão deduzida nas duas acções proceda do mesmo facto jurídico, podendo, quando muito, haver divergência no seu enquadramento jurídico.

Diferente da excepção do caso julgado, com a qual não se confunde (ou, pelo menos, não deve ser confundida, embora a prática nem sempre o confirme), é a autoridade do caso julgado.

Este radica nos art.ºs 619.º, n.º 1, e 621.º, ambos do CPC, dispondo o primeiro que “Transitada em julgado a sentença ou o despacho saneador que decida do mérito da causa, a decisão sobre a relação material controvertida fica a ter força obrigatória dentro do processo e fora dele nos limites fixados pelos artigos 580.º e 581.º, sem prejuízo do disposto nos artigos 696.º a 702.º”; e o segundo que “A sentença constitui caso julgado nos precisos limites e termos em que julga (…).”

Ambos respeitam ao caso julgado material e pressupõem o trânsito em julgado da decisão (cfr. art.º 628.º).

A excepção do caso julgado, enquanto excepção dilatória, tem que ver com

“um fenómeno de identidade entre relações jurídicas, sendo a mesma relação submetida sucessivamente a apreciação jurisdicional, ignorando-se ou

desvalorizando-se o facto de essa mesma relação já ter sido, enquanto objecto processual perfeitamente individualizado nos seus aspectos subjectivos e objectivos, anteriormente apreciada jurisdicionalmente, mediante decisão que transitou em julgado.

Pelo contrário, a figura da autoridade do caso julgado tem a ver com a

existência de relações – já não de identidade jurídica – mas de prejudicialidade entre objectos processuais: julgada, em termos definitivos, certa matéria numa acção que correu termos entre determinadas partes, a decisão sobre o objecto desta primeira causa, sobre essa precisa questio judicata, impõe-se

necessariamente em todas as outras acções que venham a correr termos entre as mesmas partes – incidindo sobre um objecto diverso, mas cuja apreciação dependa decisivamente do objecto previamente julgado, perspectivado como verdadeira relação condicionante ou prejudicial da relação material

controvertida na segunda acção. Ou seja, estamos aqui confrontados com a chamada função positiva do caso julgado …, mediante a qual a vinculatividade própria do instituto do caso julgado impõe que o objecto da primeira decisão funcione como pressuposto indiscutível da nova decisão de mérito, a proferir na segunda causa, incidente sobre relação jurídica diversa, mas dependente

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ou condicionada pela anteriormente apreciada, em termos definitivos, pelo tribunal[15].

Como se afirma no acórdão de 19/2/09 do STJ, proferido no processo n.º 09B0081, citado no acórdão identificado na nota anterior:

“A excepção de caso julgado visa evitar que o tribunal se veja colocado na alternativa de contradizer ou reproduzir uma decisão anterior. A autoridade de caso julgado significa que, decidida com força de caso julgado material uma determinada questão de mérito, não mais poderá ela ser apreciada numa acção subsequente, quer nela surja a título principal, quer se apresente a título prejudicial, e independentemente de aproveitar ao autor ou ao réu.

Assim, em primeiro lugar, essa imutabilidade ou indiscutibilidade da decisão judicial definitiva impede que a questão que foi objecto da decisão proferida e inimpugnável (ou não tempestiva e adequadamente impugnada) possa voltar a ser, ela própria, na sua essencial identidade, recolocada à apreciação do

tribunal: se tal ocorrer, por força da figura da excepção de caso julgado – que reflecte a chamada função negativa da figura do caso julgado - deve o juiz abster-se de voltar a apreciar a matéria ou questão que se mostra já

jurisdicionalmente decidida, em termos definitivos, como objecto de uma anterior acção.”

O instituto do caso julgado exerce, assim, duas funções: uma função positiva e uma função negativa.

A função positiva é exercida através da autoridade do caso julgado. A função negativa é exercida através da excepção dilatória do caso julgado, a qual pressupõe a repetição de uma causa já decidida por sentença transitada em julgado e tem por fim evitar contradições ou reproduções (cfr. art.º 580.º, n.ºs 1 e 2 do CPC).

A autoridade de caso julgado de sentença que transitou e a excepção de caso julgado são, assim, efeitos distintos da mesma realidade jurídica.

O Prof. Lebre de Freitas também escreveu: “A excepção de caso julgado não se confunde com a autoridade do caso julgado; pela excepção visa-se o efeito negativo da inadmissibilidade da segunda acção, constituindo-se o caso julgado em obstáculo a nova decisão de mérito”, enquanto que “a autoridade do caso julgado tem antes o efeito positivo de impor a primeira decisão, como pressuposto indiscutível de segunda decisão de mérito. (...). Este efeito

positivo assenta numa relação de prejudicialidade: o objecto da primeira decisão constitui questão prejudicial na segunda acção, como pressuposto necessário da decisão de mérito que nesta há-de ser proferida”[16].

No mesmo sentido, propugna o Prof. Miguel Teixeira de Sousa que escreveu:

“a excepção de caso julgado visa evitar que o órgão jurisdicional duplicando as decisões sobre idêntico objecto processual, contrarie na decisão posterior o

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sentido da decisão anterior ou repita na decisão posterior o conteúdo da decisão anterior”, já “quando vigora como autoridade de caso julgado, o caso julgado material manifesta-se no seu aspecto positivo de proibição de

contradição da decisão transitada: a autoridade de caso julgado é o comando de acção, a proibição de omissão respeitante à vinculação subjectiva à

repetição do processo subsequente do conteúdo da decisão anterior e à não contradição no processo posterior do conteúdo da decisão anterior”[17].

Tem sido entendido que a autoridade do caso julgado, diversamente da

excepção de caso julgado, pode funcionar independentemente da verificação da tríplice identidade a que alude o art.º 581.º do CPC, mas pressupondo a decisão de determinada questão que, por isso, não pode voltar a ser discutida [18].

Acresce que, tal como é referido no último acórdão citado, é entendimento dominante que a força do caso julgado material abrange, para além das questões directamente decididas na parte dispositiva da sentença, as que sejam antecedente lógico necessário à emissão da parte dispositiva do julgado [19]. Como afirma Miguel Teixeira de Sousa, citado no último acórdão do STJ, referido na nota anterior, “não é a decisão, enquanto conclusão do silogismo judiciário, que adquire o valor de caso julgado, mas o próprio silogismo considerado no seu todo: o caso julgado incide sobre a decisão como conclusão de certos fundamentos e atinge estes fundamentos enquanto pressupostos daquela decisão”[20].

Feitas estas considerações, vejamos o caso dos autos.

A vertente da figura do caso julgado que está aqui em causa é a relativa à excepção dilatória de caso julgado, pois foi essa a que foi julgada

improcedente no despacho saneador recorrido e é contra esse entendimento que se insurge a apelante, qualificando-a como tal, no recurso que interpôs, sustentando que “há identidade de causas”.

Porém, com o devido respeito por tal entendimento, parece ser evidente que não se verifica a excepção do caso julgado.

Embora haja identidade de sujeitos e de causas de pedir, não há identidade de pedidos, visto serem diferentes os efeitos jurídicos pretendidos em ambas as acções.

Na acção com processo comum e forma ordinária n.º 326/12.0TBFND, a autora pediu que fosse “declarado e reconhecido à A. que a R. lhe deve a quantia de 119.007,29 € e a exigir desta o respectivo pagamento”. Através deste pedido, a autora limitou-se a pedir a declaração da existência de um direito de crédito sobre a ré. Trata-se, por conseguinte, de uma acção de simples apreciação, para efeitos de reclamação no processo administrativo, nos termos do art.º 225.º, n.º 3, do DL n.º 59/99, de 2/3[21], como fez questão

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de esclarecer no intróito da petição

inicial. Como acção de simples apreciação que é, teve por fim obter

unicamente a declaração da existência desse direito [cfr., o art.º 4.º, n.º 2, al.

a) do CPC de 1961, vigente na data da propositura da acção[22]], o que logrou alcançar na sentença referida supra, no n.º 10 dos factos provados.

Na presente acção, apesar de resultante da transmutação de um procedimento de injunção, na impossibilidade de o obter face à apresentação da oposição, já está em causa o pedido de condenação no pagamento de determinada quantia, mais precisamente da que foi objecto do pedido de injunção. Estamos, assim, perante uma acção de condenação, onde a autora, em consequência da

violação de um direito, pretende que o tribunal condene a ré a pagar-lhe tal quantia [cfr. art.º 10.º, n.º 3, al. b) do CPC].

Este efeito jurídico pretendido através da condenação impossibilita a

verificação da identidade dos pedidos, nada impedindo que se peticione e se obtenha, visto não estar abrangido pela decisão anteriormente proferida.

Assim, cremos não haver dúvidas de que não há identidade de pedidos entre as duas acções.

De resto, a própria recorrente admite que nem sequer há identidade de causas de pedir, na medida em que sustentou, a propósito da inadequação processual, que esta acção está baseada na sentença proferida na acção n.º

326/12.0TBFND.

Não se verifica, por conseguinte, a excepção dilatória do caso julgado que, assim, se julga improcedente, tal como a julgara o tribunal recorrido.

Improcedem, deste modo, as correspondentes conclusões.

2.5. Do prosseguimento da acção

A recorrente pugna pelo prosseguimento da acção “para julgamento para conhecimento dos factos controvertidos objecto de impugnação na oposição”.

Porém, sem razão.

A matéria controvertida, eventualmente relevante, respeita unicamente ao início do prazo da contagem dos juros moratórios.

Mas estes não foram considerados na sentença, tendo a ré sido condenada apenas no pagamento dos que se venceram a partir da citação, os quais sempre seriam devidos, com ou sem audiência, sendo que, quanto aos

vencidos até essa data, a recorrente não é parte vencida para poder exigir o seu pagamento, no que não estará interessada, certamente.

Quer isto dizer que a realização da audiência redundaria na prática de um acto inútil que a lei proíbe (art.º 130.º do CPC).

Acresce que, relativamente à existência do direito, o tribunal já emitiu o seu

(17)

juízo, aquando da prolação da sentença de 17/7/2013, supra referida em 10, transitada em julgado, estando agora em causa somente a condenação na prestação decorrente da sua verificação e violação.

Quanto à existência do direito nada mais há a dizer, havendo apenas que extrair as consequências da autoridade do caso julgado formado com tal sentença.

Como já se referiu, a autoridade do caso julgado é diferente da excepção do caso julgado. E a autoridade do caso julgado não carece da tripla identidade de sujeitos, pedido e causa de pedir, exigida pela excepção do caso julgado.

Verificada a existência do direito de crédito invocado e não tendo a ré alegado, muito menos provado, qualquer facto extintivo desse direito, nomeadamente o pagamento, como devia nos termos dos art.ºs 342.º, n.º 2 e 799.º, ambos do Código Civil, o mérito da causa podia e devia ser conhecido no saneador, atento o disposto no art.º 595.º, n.º 1, al. b) do CPC, e a acção tinha de proceder, como procedeu, nos termos nele exarados.

Improcedem, por conseguinte, as restantes conclusões da apelação, pelo que, não obstante os vícios invocados e supridos, acima referidos, o saneador- sentença impugnado deve ser mantido.

Sumariando em jeito de síntese conclusiva:

1. Padecem de nulidades, por omissão de pronúncia e por falta de

fundamentação, os despachos ou sentenças que omitam, por completo, a apreciação de uma questão suscitada nos articulados e a especificação dos factos provados.

2. Verificadas tais nulidades, devem ser supridas pelo Tribunal da Relação, mediante o conhecimento da questão omitida e a especificação dos factos provados, segundo a regra da substituição do tribunal recorrido.

3. A remessa ao tribunal competente de um procedimento de injunção, face à apresentação da oposição, e a posterior tramitação como acção de processo comum fazem precludir qualquer questão atinente aos requisitos da injunção, o que impossibilita a verificação, nesse caso, da excepção dilatória inominada por inadequação processual.

4. A excepção do caso julgado, como excepção dilatória, reflectindo a função negativa do caso julgado, pressupõe a verificação da tríplice identidade de sujeitos, pedidos e causas de pedir, nos termos do art.º 581.º do CPC.

5. Já a autoridade do caso julgado, diferente daquela, exerce a função positiva do caso julgado e tem a ver com a existência de prejudicialidade entre

objectos processuais, tendo como limites os que decorrem dos próprios termos da decisão, como se depreende dos art.ºs 619.º e 621.º, ambos do mesmo

(18)

Código.

6. Não se verifica a excepção dilatória do caso julgado entre uma acção de simples apreciação e uma acção de condenação, resultante da transmutação de um procedimento de injunção, fundado no mesmo direito de crédito.

7. No entanto, a autoridade do caso julgado da sentença proferida na primeira acção impõe-se na segunda, quanto à verificação do crédito ali apreciado e reconhecido, pelo que, nada sendo alegado relativamente à extinção desse direito pelo réu, a sua condenação é inevitável logo no despacho saneador.

III. Decisão

Pelo exposto, julga-se a apelação improcedente e confirma-se o saneador- sentença recorrido.

*

Custas pela apelante.

*

Porto, 14 de Junho de 2016 Fernando Samões

Vieira e Cunha Maria Eiró ____

[1] Cfr., v.g. Acs. do STJ de 11/11/87, BMJ n.º 371, pág. 374, de 7/7/94, BMJ n.º 439, pág. 526, de 25/2/97, BMJ n.º 464, pág. 464 e de 6/5/2004, in

www.dgsi.pt

[2] Cfr., v.g. Abrantes Geraldes, Recursos em Processo Civil, Novo Regime, 2.ª edição revista e actualizada, pág. 91, em face do CPC anterior, que continha os correspondentes art.ºs 668.º, n.º 1, d) e 660.º, n.º 2, de igual teor, e os nossos acórdãos de 29/9/2015, processo n.º 6938/13.8TBMAI.P1, de 23/2/2016,

processo n.º 586/14.T8PNF-E.P2 e de 19/4/2016, processo n.º

3943/15.3T8MTS.P1que aqui quase que reproduzimos, nesta parte.

[3] Cfr. Antunes Varela e outros, Manual de Processo Civil, 2.ª ed. revista, 1985, págs. 687 e 688).

[4] Cfr. José Lebre de Freitas, Montalvão Machado e Rui Pinto, Código de Processo Civil anotado, volume 2.º, 2.ª edição, pág. 703 e doutrina e

jurisprudência aí citadas, embora referindo-se ao art.º 659.º, n.º 2, do CPC de 1961, nesta parte de igual teor.

[5] Na redacção dada pelo art.º 8.º deste mesmo Decreto-Lei.

[6] Na redacção dada pelo art.º 6.º do DL n.º 303/2007, de 24/8.

[7] Entretanto revogado, com excepção dos artigos 6.º e 8.º, pelo Decreto-Lei n.º 62/2013, de 10 de Maio – com entrada em vigor em 1 de Julho de 2013 –

(19)

mantendo-se, no entanto, em vigor no que respeita aos contratos celebrados antes dessa data.

[8] Com a redacção dada pelo DL n.º 107/2005, de 1 de Julho.

[9] Cfr. acórdão do STJ de 14/2/2012, processo n.º 319937/10.3YIPRT.L1.S1, disponível em www.dgsi.pt.

[10] Nomeadamente no acórdão de 22/10/2013, proferido no processo n.º 272/12.8TBMGD.P1, publicado em www.dgsi,pt e na CJ, ano XXXVIII, tomo IV, págs. 199 a 202, bem como no acórdão de 11/11/2014, processo n.º

3725/13.7TBMAI.P1.

[11] Cfr. Lebre de Freitas, Montalvão Machado e Rui Pinto, Código de Processo Civil anotado, vol. 2.º, 2.ª edição, págs. 348 a 352.

[12] Neste sentido, José Alberto dos Reis, Comentário ao CPC, vol.2. pág. 370.

[13] Cfr. Ac. da RC de 22/2/2005 na CJ, ano XXX, tomo 1, pág.37.

[14] Cfr. José Alberto dos Reis in CPC anotado, vol. 3, pág. 121.

[15] Cfr. acórdão do STJ de 24/4/2013 do processo n.º 7770/07.3TBVFR.P1.S1, disponível em www.dgsi.pt.

[16] Cfr. Código de Processo Civil Anotado, vol. 2.º, 2.ª ed., pág. 354.

[17] In O Objecto da Sentença e o Caso Julgado Material, BMJ 325, págs. 49 e sgs.”.

[18] Cfr., neste sentido, entre outros, acórdãos do STJ de 13/12/2007, processo n.º 07A3739; de 6/3/2008, processo n.º 08B402 e de 23/11/2011, processo n.º 644/08.2TBVFR.P1.S1 e de 21/3/2013, processo n.º 3210/07.6TCLRS.L1.S1, todos disponíveis em www.dgsi.pt., referentes ao anterior art.º 498.º, a que corresponde aquele, sem alterações.

[19] Cfr. para além daquele, o Ac. do STJ de 12/7/2011, processo 129/07.4.TBPST.S1, em www.dgsi.pt.

[20] In Estudos sobre o Novo Processo Civil, pág. 579.

[21] Com o seguinte teor: “3 - Havendo contestação, dela será dado

conhecimento aos reclamantes dos créditos contestados, avisando-os de que só serão retidas as quantias reclamadas caso, no prazo de 22 dias, seja

proposta acção no tribunal competente para as exigir e ao serviço liquidatário seja enviada, nos 11 dias seguintes à propositura da acção, certidão

comprovativa do facto”. Este diploma que estabelecia o Regime Jurídico das Empreitadas de Obras Públicas foi revogado pelo DL n.º 18/2008, de 29/1, que aprovou o Código dos Contratos Públicos, excluindo dele várias contratações (cfr. art.º 5.º).

[22] A que corresponde o art.º 10.º, n.º 3, al. a), do actual CPC, nesta parte, de igual teor.

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