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IGOR OLIVEIRA DA SILVA

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Academic year: 2022

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DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA

IGOR OLIVEIRA DA SILVA

ANÁLISE DE DOMÍNIO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DOS NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS

NATAL - RN 2021.1

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ANÁLISE DE DOMÍNIO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DOS NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS

Monografia de graduação apresentada ao Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia.

Orientadora: Profa. Dra. Nancy Sánchez Tarragó

NATAL - RN 2021.1

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ANÁLISE DE DOMÍNIO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DOS NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS

Monografia apresentada ao curso de Biblioteconomia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia.

Aprovada em: 10/09/2021.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________

Profa. Dra. Nancy Sánchez Tarragó Orientadora

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________

Profa. Dra. Gabrielle Francinne De Souza Carvalho Tanus Membro interno

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________

Profa. Dra. Jacqueline Aparecida De Souza Membro interno

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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profissionais e pesquisadores da informação para contribuir com as lutas dos Novos Movimentos Sociais (NMS). Em relação aos objetivos específicos, este trabalho pretende: (I) Descrever as características e aplicações da Análise de Domínio na Ciência da Informação; (II) Entender os integrantes dos Novos Movimentos Sociais como produtores e sujeitos informacionais e (III) Refletir sobre aplicações da Análise de Domínio para contribuir com as reivindicações dos movimentos sociais. Para isso, utiliza como aporte teórico a Análise de Domínio, desenvolvida por Birger Hjørland e Hanne Albrechtsen, no ano de 1995, que pensa as comunidades discursivas como parte da divisão social do trabalho. Domínio se compreende como o entramado de relações entre documentos, canais de comunicação, práticas de produção e comunicação, conceitos, relações sociais entre os membros, a forma como se estruturam e se organiza em um contexto social. A investigação se constitui de uma pesquisa bibliográfica, de natureza qualitativa, que utiliza a produção de pesquisadores já consagrados na área para justificar a expansão da Análise do Domínio do campo científico para o campo social. Mostra que, para além dos campos científicos, os Novos Movimentos Sociais e as percepções dos integrantes desses grupos, dotados de sentimentos e anseios, podem ser materializadas e transformadas em informação, tornando possível relacionar a Análise de Domínio com os Novos Movimentos Sociais, enquanto comunidade discursiva. Como resultados, se descrevem as características e aplicações da Análise de Domínio na ciência da informação. Também se analisa como os Novos Movimentos Sociais se tornam produtores e consumidores de informação. A partir da criação de categorias se apontam exemplos de canais de comunicação utilizados pelos NMS no Brasil. O estudo apresentou categorias segundo três tipos de canais de comunicação a) canais formais:

Periódico Científico, Sites de ONG’s; b) canais semiformais: Central de atendimento, Conferências, palestras e encontros nacionais desenvolvidos por órgãos federais, e c) canais informais: Mídias Sociais. Ao identificar categorias e canais de comunicação, mostrou-se que os NMS podem ser delimitados como domínios, com vocabulários e práticas de produção e circulação de informação específicas, susceptíveis de ser estudadas pelos profissionais da informação. Como terceiro resultado, a pesquisa reflete sobre algumas aplicações da análise de domínio para contribuir com as reivindicações dos movimentos sociais, como a implantação de políticas de informações voltada para o público específico e uso de sistemas de organização do conhecimento que contribuem para minimizar as práticas discriminatórias e excludentes.

Finalmente, considera, a partir dos elementos apresentados, que os Novos Movimentos Sociais se constituem importante domínio que pode se tornar objeto de estudo para o desenvolvimento social da Ciência da Informação.

Palavras-chave: Informação e Sensibilidade, Movimento antirracista, Movimento Feminista, Movimento LGBTQ+, análise de domínio

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This work aims to understand how Domain Analysis can be used by information professionals and researchers to contribute to the struggles of New Social Movements (NSM). In relation to the specific objectives, this work intends to: (I) Describe the characteristics and applications of Domain Analysis in Information Science; (II) Understand the members of the New Social Movements as producers and informational subjects and (III) Reflect on the applications of Domain Analysis to contribute to the demands of social movements. For this, it uses as theoretical support the Domain Analysis, developed by Birger Hjørland and Hanne Albrechtsen, in 1995, which considers discursive communities as part of the social division of labor. Domain is understood as the entanglement of relationships between documents, communication channels, production and communication practices, concepts, social relationships between members, the way they are structured and organized in a social context. The investigation consists of bibliographical research, of a qualitative nature, which uses the production of researchers already established in the area to justify the expansion of Domain Analysis from the scientific field to the social field. It shows that, beyond the scientific fields, the New Social Movements, and the perceptions of the members of these groups, endowed with feelings and anxieties, can be materialized, and transformed into information, making it possible to relate the Domain Analysis with the New Social Movements, as a community discursive. As results, the characteristics and applications of Domain Analysis in information science are described. It also analyzes how the New Social Movements become producers and consumers of information. From the creation of categories, examples of communication channels used by NSM in Brazil are pointed out. The study presented categories according to three types of communication channels a) formal channels: Scientific Journal, NGO Sites; b) semi-formal channels: Call center, Conferences, lectures and national meetings developed by federal agencies, and c) informal channels: social media. By identifying categories and communication channels, it was shown that the NMS can be delimited as domains, with specific vocabularies and practices of production and circulation of information, susceptible to be studied by information professionals. As a third result, the research reflects on some applications of domain analysis to contribute to the demands of social movements, such as the implementation of information policies aimed at specific audiences and the use of knowledge organization systems that help to minimize discriminatory practices.

Finally, it considers, based on the elements presented, that the New Social Movements constitute an important domain that can become an object of study for the social development of Information Science.

Keywords: Information and Sensitivity, Anti-racist Movement, Feminist Movement, LGBTQ+

Movement, Domain analysis.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...07

1.1 Objetivos...09

1.2 Justificativa...10

1.3 Estrutura do trabalho...11

2 REFERENCIAL TEORICO...12

2.1 Análise de Domínio...12

2.2 Novos Movimentos Sociais: sensibilidades e produção de informação em comunidades discursivas...17

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...23

4 RESULTADOS DA PESQUISA...27

4.1 Novos Movimentos Sociais como produtores e sujeitos informacionais: canais de comunicação...27

4.2. As contribuições da Análise de Domínio para estudar o protagonismo dos Novos Movimentos Sociais...34

5 CONCLUSÕES...39

REFERÊNCIAS...41

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1 INTRODUÇÃO

A Ciência da Informação, ao buscar expandir seus estudos, propôs uma nova abordagem durante a década de 1990, denominada Análise de Domínio (HJØRLAND;

ALBRECHTSEN, 1995). Para sua estruturação, autores como Saracevic (1975) e Mann (1993), foram predecessores dessa nova abordagem. No entanto, esse pensamento só foi descrito com detalhes e efetivado como uma abordagem teórica por meio de trabalho desenvolvido por Hjørland e Albrechtsen (1995). Para esses autores, a Ciência da Informação deve estudar os domínios do conhecimento como comunidades de pensamento ou discurso, elucidando aspectos conceituais e teóricos que são compartilhados/produzidos por uma comunidade, bem como as práticas sociais, métodos e instrumentos através das quais se produzem o conhecimento. Nesse sentido, a Análise de Domínio permite identificar e entender as formas de produção, canais de comunicação, a circulação e uso das informações nestas comunidades.

Antes da estruturação dessa abordagem na Ciência da Informação, a Sociologia passou a analisar os Novos Movimentos Sociais (NMS), que surgiram na Europa e nos Estados Unidos da América em meados de 1970. Autores como Touraine (1983), Pichardo (1997), Habermas (1981) e Melucci (1989) se debruçaram sobre esses novos movimentos estritamente modernos e que se diferenciam dos tradicionais movimentos realizados pelas classes operárias da produção econômica conforme a teoria marxista, pois neles os conflitos de classes são substituídos pelos conflitos culturais que permeiam os valores identitários dos sujeitos. Os NMS “não buscam ganho econômico material ou maior participação no sistema, mas tentam criar ou preservar espaços de autonomia”

(GOODWIN; JASPER; POLLETTA, 2000, p. 72, tradução nossa), eles são compostos por indivíduos que vivenciam sentimentos e as emoções negativas em decorrência da rejeição instaurada pelos grupos dominantes. Como respostas, os indivíduos excluídos se unem aos demais membros – que enfrentam os mesmos problemas - para se fortalecerem e assumirem o protagonismo de implementar mudanças sociais até então não concretizadas.

No Brasil, os movimentos sociais surgem no contexto Pós-Ditadura Militar (SADER, 2001), como uma tentativa de reatar as relações sociais que foram fragilizadas no período ditatorial. Desde então, eles passaram a se estruturar e ganhar destaque em decorrência de seu caráter político, a exemplo das Diretas Já (1983 - 1984). No entanto,

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os movimentos só ganharam respaldo com a Constituição Federal de 1988, que passou a assegurar o direito de manifestação, a partir do artigo 5º, inciso XVI do documento1. Após essa conquista, outras mobilizações aconteceram, como os Caras Pintadas (1992) e a Jornada de Junho de 2013. Ainda nesse contexto, surgem os NMS, reivindicando direitos pertencentes aos grupos “minoritários”, como a igualdade entre mulheres e homens, a união entre pessoas do mesmo sexo e outros direitos ainda não consolidados na sociedade contemporânea.

Tendo em vista que os Novos Movimentos Sociais são comumente objeto de estudo de sociólogos como Habermas (1981) e Castells (2013), pretende-se deixar claro que esta pesquisa não se trata de um trabalho histórico e sim de um trabalho que visa trazer para a Ciência da Informação os NMS como objeto que pode compor parte dos estudos desenvolvidos dentro do paradigma social, campo explorado na CI por autores como Meirelles (2013), Martins (2015) e Sanches (2018). Assim, este trabalho apresenta o campo de estudo das sensibilidades, ainda pouco trilhado na Ciência da Informação, mas que já possui relevância em outros campos do conhecimento. De acordo com Goodwin, Jasper e Polletta (2000, p. 66, tradução nossa) “analistas de movimentos sociais estão tratando as emoções com mais seriedade nos dias de hoje, e desejamos incentivar essa tendência”.

No campo da historiografia, as sensibilidades é uma vertente que surgem durante a terceira geração da escola dos Annales, período em que estudos culturais passam a ser objeto de estudo de historiadores. Essa vertente, visa se ater, para além dos estudos materiais, as abordagens imateriais dos sujeitos, caracterizado, dentre outros fatores, pela identidade, saudade, medo, emoção e demais subjetividades passiveis de serem evidenciada na análise historiográfica. Para isso, busca compreender as implicações que os sentimentos são estabelecidos dentro da dimensão corporal de cada indivíduo e como são contribuídos socialmente.

Este trabalho enfatiza a natureza social do conhecimento, característica primária da proposta de Análise de Domínio, e a vincula às sensibilidades que permeiam a identidade e a cultura dos NMS existentes na sociedade pós-industrial (TOURAINE, 1983), onde a informação transcende a economia dos países desenvolvidos e passa a ser vista como um mecanismo de transformação social. Assim, pautado na noção de

1 XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

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comunidades discursivas, os membros integrantes dos novos movimentos, são agentes dotados de sentimentos como aflições e se unem em defesa de uma causa, tornando-se usuários e produtores de informação, utilizadores, por exemplo, de canais de comunicação para canalizar estes anseios. As práticas de produção e circulação de informação, os vocabulários empregados, podem ser específicos destes domínios. Por isso, devem ser levadas em consideração pelos pesquisadores da Ciência da Informação para que esses indivíduos possam encontrar seu lugar de fala e consigam também se mobilizar para que as mudanças sociais almejadas aconteçam.

Diante dessa conjuntura, esta pesquisa pretende responder a seguinte questão:

Como os profissionais e pesquisadores vinculados à Ciência da Informação podem utilizar a Análise de Domínio para estudar aspectos informacionais relacionados com os Novos Movimentos Sociais,

1.1 Objetivos

Dessa forma, este trabalho tem por objetivo geral: compreender como a Análise de Domínio pode ser utilizada pelos profissionais e pesquisadores da informação para contribuir com as lutas dos Novos Movimentos Sociais. Ao focar nos movimentos sociais contemporâneos, a pesquisa parte da premissa de que a sensibilidade é uma construção social e por isso passível de se tornar objeto de estudos científicos, buscando entender a partir dos vínculos que os indivíduos estabelecem com os movimentos, a necessidade do registro informacional, uma vez que, a priori, as sensações partem de uma individualidade subjetiva que tem o potencial de se materializar para ser transformada em informação.

Em relação aos objetivos específicos, este trabalho pretende: (I) Descrever as características e aplicações da Análise de Domínio na Ciência da Informação; (II) Entender os integrantes dos Novos Movimentos Sociais como produtores e sujeitos informacionais e (III) Refletir sobre aplicações da Análise de Domínio para contribuir com as reivindicações dos movimentos sociais.

Diante dessa conjuntura, destaca-se que os objetivos aqui expostos visam ampliar o escopo de estudo da Ciência da Informação, predominantemente voltada para a informação científica e tecnológica, mas que também possui a responsabilidade com o desenvolvimento social, evidenciando as múltiplas demandas advindas dos grupos sociais que constantemente representam, apropriam e fazem uso da informação.

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1.2 Justificativa

O interesse pelo desenvolvimento desta pesquisa surge a partir das práticas de violências contra a pessoa humana existentes no Brasil e mundo nos últimos anos. O caso de George Floyd, negro que foi assassinado, em 2020, por um policial branco nos Estados Unidos da América e o caso de agressão sofrida por João Alberto, espancado até a morte, no Brasil, desencadearam uma série de manifestações sociais em várias partes do mundo.

As manifestações socias tomaram conta das ruas, repercutindo de forma positiva na sociedade, ocasionando a derrubada de símbolos escravocratas como Edward Colston (na Inglaterra), Cristóvão Colombo (nos Estados Unidos) e Borba Gato (no Brasil). A partir da luta empreendida por ativistas, os símbolos deixaram de ocupar os espaços públicos e, por conseguinte, de representar os interesses de luta empreendido pelos movimentos sociais.

Para não se limitar aos movimentos antirracista, também optamos por trazer o movimento feminista e o movimento LGBTQ+, como uma forma de ampliar a análise dos grupos que lutam pela defesa de seus direitos. Mesmo constituídos por movimentos diferentes, eles possuem alto gral de interseccionalidade onde o fenômeno informacional permeia toda diferenciação existente entre os grupos e uma vez disseminado na sociedade, permite que os anseios de lutas, reconhecimentos e melhorias almejadas possam ter visibilidade, contribuindo para a efetivação dos seus direitos.

A partir dessa conjuntura, a presente pesquisa visa trazer para o debate científico as questões que permeiam os movimentos sociais de igualdade, contribuindo com a produção bibliográfica no campo da Ciência da Informação, em uma perspectiva interdisciplinar, possibilitando a formação de novos conhecimentos que possam vir a auxiliar na produção de futuras pesquisas no âmbito científico e viabilizar o aperfeiçoamento dos trabalhos relacionados a responsabilidade social da Ciência da Informação.

Por fim, evidencia-se a formação primária deste pesquisador na área de História e seu interesse pelas temáticas sociais. Nesse sentido, ao desenvolver este trabalho, torna- se possível problematizar as causas da divisão social e apontar caminhos que os profissionais da informação podem trilhar para criar mecanismos que minimizem os problemas existentes na sociedade.

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1.3 Estrutura do TCC

Para traçar uma linha organizacional investigativa e facilitar a compreensão do leitor, optou-se por dividir este trabalho em quatro seções: esta primeira seção introdutória apresenta a questão de investigação, bem como os antecedentes e as justificativas que motivaram a pesquisa. Na segunda seção, será apresentado o referencial teórico que fundamenta como os sentidos são construídos socialmente e como eles podem ser analisados sob a ótica informacional. Em seguida, os aspectos metodológicos aplicados na pesquisa. Na quarta seção, apresentam-se os resultados da pesquisa, a partir de um quadro com exemplos dos canais de comunicação utilizados pelos movimentos e as formas com as quais os profissionais da informação podem contribuir com as lutas empreendidas pelos movimentos. Por fim, na quinta e última seção, apresentam-se as conclusões inferidas com o desenvolvimento desta pesquisa.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Análise de Domínio

A Análise de Domínio surge no âmbito da Ciência da Informação por meio de trabalho desenvolvido por Hjørland e Albrechtsen (1995). Posteriormente, outros trabalhos foram desenvolvidos, dentre eles, Hjørland e Hartel (2003), que definem três dimensões na constituição dos domínios, que podem ser analisados de forma articuladas, visando refletir as implicações que cada uma delas apresenta para as comunidades.

O primeiro enfoque, está associado as teorias e conceitos ontológicos sobre os objetos da atividade humana. Nessa dimensão, a ontologia contribui para a compreensão da realidade humana e como ela é estruturada, possui também uma estreita relação como a metafisica e forma com ela se materializa no mundo. Para os autores, “hoje a ontologia recuperou seu status como um campo importante, que funcionam em uma capacidade de organização semelhante como sistemas de classificação em biblioteconomia e Ciência da Informação” (HJØRLAND; HARTEL, 2003, p. 239, tradução nossa).

A segunda dimensão está relacionada com as teorias epistemológicas e conceitos sobre o conhecimento e as formas de adquirir conhecimento, implicando princípios metodológicos sobre as formas como os objetos são investigados. Nessa dimensão, a observação das tradições, linguagens a valores empregados para a produção do conhecimento deve contribuir para a compreensão da realidade a fim de produzir teorias cientificas a partir dos fatos sociais. Nesse contexto, Hjørland e Hartel (2003) incluem a epistemologia feminista como campo potencial para a produção do conhecimento.

A última dimensão relaciona conceitos sociológicos sobre os grupos de pessoas preocupados com os objetos de estudo e suas abordagens. Conceitos como disciplina, subdisciplina, profissões e especialidades, são fatores que contribuem para a divisão social do trabalho.

Essas dimensões são aplicadas a um domínio que é delimitado a um grupo discursivo para uma análise mais especializada. Esse grupo demarcado, entendido como comunidade discursiva, não envolve apenas grupos científicos ou profissionais, mas também outros grupos sociais que possuem uma estrutura comunicacional responsável por estreitar as relações entre os membros. Thelefissem e Thelefissem (2004), contribuem com a ideia apresentada, ao afirmarem que as comunidades que compõem o domínio podem estar vinculadas às atividades diárias, pois “um domínio do conhecimento deve ser entendido como uma demarcação de um determinado conhecimento, ancorado em um

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contexto profissional ou não profissional” (THELEFISSEM; THELEFISSEM, p. 179, 2004, tradução nossa).

Um domínio produz informações indispensáveis para articular suas ideias e gerar novos conhecimentos que venham contribuir com o desenvolvimento das atividades desempenhadas dentro da estrutura social a qual está inserida. Por isso, optou-se por utilizar o termo domínio ao invés de comunidade discursiva, pois julga-se mais adequado entender um domínio como uma dimensão que vai para além das comunidades discursivas entendidas como um conjunto de indivíduos com objetivos em comum, formalmente expressos ou não (ARANHA, 2009). Ao destacar o domínio, para além dos grupos de indivíduos, Amorim e Café (2016, p. 14), destacam que,

Domínio é um grupo de usuários, uma disciplina ou um campo amplo de conhecimento, responsável pela definição dos limites interpretativos dos conceitos, já que o conhecimento de manifesta de forma específica.

Assim, são os domínios que condicional a produção dos conhecimentos, também são por si só um conjunto de conhecimentos já produzidos. (AMIRIM; CAFÉ, 2016 p.14)

Ainda sobre a amplidão do conceito de domínio, Hjørland (2017), destaca a relação que existe entre os domínios e a produção da informação. Para ele, um domínio produz um corpo total de informações que visam resolver um problema,

[O] domínio é o corpo total de informações para o qual, idealmente, se espera que uma resposta a esse problema seja responsável. Em particular, se o problema requer uma "teoria" como resposta, o domínio constitui o corpo total de informações que devem, idealmente, ser explicadas por uma teoria que resolva esse problema. ( HJØRLAND apud SHAPERE, 2017, online, tradução nossa).

O corpo total de informações a qual Hjørland se refere, pode estar associado a documentos, aos canais de comunicação, as práticas de produção e comunicação, as relações entre os membros, a forma como se estruturam e se organizam, enfim, as diversas possibilidades para obter resolução de problema.

Tennis (2003), ao propor-se a desenvolver procedimentos de operacionalização, estabelece dois eixos que podem ser úteis para analisar um domínio delineado, são eles:

Áreas de Modulação e Graus de Especialização. No primeiro eixo, o pesquisador deve identificar os parâmetros e a extensão do domínio. Para o autor, “as Áreas de Modulação, eixo um, são uma declaração explícita do nome e extensão do domínio examinado. Ele indica o que está incluído, o que não está incluído e como o domínio é chamado”

(TENNIS, 2003, p. 193, tradução nossa). Assim, esse eixo – grau de modulação - compreende a definir o escopo total do que o pesquisador irá cobrir em sua pesquisa.

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Por sua vez, o segundo eixo, denominado de Grau de Especialidade, qualifica e define a intenção de um domínio por meio do foco e da interseção. Para o autor, “os graus de especialização oferecem um caminho para a análise do domínio qualificar um domínio.

Foco e Interseção aumentar a intenção de um domínio. E, ao fazer isso, delineia o que é estudado em uma Análise de Domínio” (TENNIS, 2003, p. 194, tradução nossa). Ao discorrer sobre o foco, ele afirma que não é viável descrever um domínio inteiro, apontando que o foco é necessário para estabelecer parâmetros que permita aumentar sua intenção e diminuir sua extensão.

Segundo Tennis (2012), existem dois tipos de Análise de Domínio, quais sejam:

descritivo e instrumental. De acordo com o autor, a primeira tipologia é utilizada pelos pesquisadores que buscam evidenciar seus interesses de pesquisas. Por exemplo, uma análise de domínio descritiva pode permitir aos pesquisadores conhecer melhor o domínio (quem são os integrantes, quais práticas tem, com quais grupos se relacionam, quais os conceitos e interrelaciones). Por sua vez, a segunda tipologia, raramente utilizada (TENNIS, 2012), é utilizada para desenvolver sistemas de organização do conhecimento que para o público em geral possui pouca valia (TENNIS, 2012). De acordo com Tennis (2012),

A primeira é usada, e útil, somente em pesquisas básicas, e a última, instrumental, é usada para criar sistemas de organização do conhecimento. Os dois tipos servem a funções distintas e, como consequência, a públicos distintos. Isto significa que deveríamos esperar que elas fossem diferentes – uma vez que são de gêneros diferentes (TENNIS, 2012, p. 6)

Todavia, Smiraglia (2012, p. 114) destaca a importância da análise de domínio nessa vertente instrumental para a criação de sistemas de organização de conhecimento, pois o domínio seria um grupo que possui uma base ontológica e compartilha teorias, propósitos, consensos epistemológicos sobre enfoques metodológicos e uma semântica social. A partir do exame de quase 100 pesquisas na área de Organização do conhecimento, Smiraglia (2015) identificou que a análise de domínio estava sendo usada como paradigma metodológico pelos pesquisadores dessa área para levantar as bases ontológicas e epistemológicas dos domínios, assim como para estudar a evolução das comunidades científicas.

Hjørland (2002) propôs 11 abordagens metodológicas para que possa trabalhar Análise de Domínio na Ciência da Informação. A primeira abordagem, produção de guias de literatura ou portais de assuntos, enfatiza a produção de fontes de informação e listas de referências que descrevem os recursos informacionais de uma determinada área. Uma

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de suas características é a seletividade dos assuntos que oferece base para seleção de obras que serão utilizadas em cursos ou seleção de livros de autoajuda para usuários. Conforme o autor,

Os guias de literatura organizam fontes de informação em um domínio de acordo com tipos e funções atendidos. Eles enfatizam descrições ideográficas de fontes de informação e descrições de como as fontes complementam uns aos outros, geralmente em uma espécie de perspectiva de sistemas (HJØRLAND, 2002, p. 450, tradução nossa) A segunda maneira consiste em construir classificações especiais e tesauros. Essa proposta se diferencia dos tradicionais esquemas classificações que predominantemente são entendidos como esquemas universais. Os tesauros, por sua vez, são vocabulários específicos de um domínio e podem ser vistos como um mecanismo que ajuda a compreender as linguagens utilizadas por um domínio. Para Hjørland (2002, p. 450, tradução nossa), “classificações especiais e tesauros (especialmente os baseados em facetas, abordagens) organizam as estruturas lógicas de categorias e conceitos em um domínio, bem como as relações semânticas entre os conceitos”.

A terceira forma refere-se à indexação e recuperação de especialidades. Aqui, ressalta-se que os procedimentos de indexação realizado nas bases de dados, de forma adequada, contribuem para uma recuperação satisfatória. No entanto, a grande quantidade de materiais indexados mensalmente pelos profissionais da informação e alto grau de especialidade de muitos desses documentos, leva, muitas vezes, a práticas inadequadas que precisam ser identificadas com o intuito de aprimorá-las. De acordo com Hjørland (2002) “as especialidades de indexação e recuperação organizam documentos únicos ou coleções para otimizar a capacidade de recuperação e visibilidade de ‘potenciais epistemológicos’ específicos” (HJØRLAND, 2002, p. 450, tradução nossa)

A quarta categoria é denominada de estudos empíricos de usuários. Esses estudos surgiram no âmbito da psicologia aplicada e foram trazidos para a Ciência da Informação.

Eles consistem em uma investigação empírica e abrange o comportamento do usuário frente as demandas e necessidades de informação em fontes informais e formais. Para Hjørland “estudos empíricos de usuários podem organizar domínios de acordo com as preferências ou comportamento ou modelos mentais de seus usuários” (HJØRLAND, 2002, p. 450, tradução nossa).

O quinto método, estudos bibliométricos, a partir das citações expressas em documentos publicados em artigos de periódicos científicos ou outros meios de comunicação, resultam na elaboração de mapas bibliométricos. Nas palavras de Hjørland

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(2002) “os estudos bibliométricos organizam padrões sociológicos de reconhecimento entre documentos individuais” (HJØRLAND, 2002, p. 450, tradução nossa), cujo objetivo é mostrar as conexões estabelecidas entre autores, documentos, temáticas trabalhadas e regiões geográficas.

A sexto categoria se volta para os estudos históricos, pouco utilizados na Ciência da Informação (HJØRLAND, 2002). De acordo com o autor, os estudos históricos organizam tradições, paradigmas e documentos e formas de expressão e suas influências mútuas. Dessa forma, se um pesquisador se propõe a estudar sistemas de classificação é necessário realizar um apanhado histórico para uma melhor compreensão da conjuntura em que o sistema foi criado e desenvolvido. Posto isso, pode-se perceber que “os estudos históricos enfatizando o desenvolvimento de terminologia, categorias, literaturas, gêneros, sistemas de comunicação etc” (HJØRLAND, 2002, p. 436, tradução nossa).

A sétima forma de abordar a Análise de Domínio é por meio dos estudos de documentos e gêneros. Para Hjørland (2002) “os estudos de documentos e gêneros revelam a organização e estrutura de diferentes tipos de documentos em um domínio”

(HJØRLAND, 2002, p. 451, tradução nossa). Esses estudos possuem relação com a arquitetura da informação e os sistemas utilizados para recuperar documentos baseados em HTML na Internet. Leva em consideração também os tipos especiais de documentos como partituras, mapas, almanaques, dentre outros.

A oitava categoria são os estudos epistemológicos e críticos. Esses estudos, são relevantes pois cada pesquisa é regida por diferentes tipos de suposições e teóricas. Na Ciência da Informação, por exemplo, diferentes paradigmas e abordagens coexistem, de forma que “tais paradigmas tendem a desenvolver seus próprios periódicos e estrutura de comunicação, e suas necessidades de informação e critérios de relevância estão em um grau muito alto implícito no quadro teórico” (HJØRLAND, 2002, p. 439, tradução nossa), com isso, o estudo das ‘escolas’ e suas correntes de pensamentos podem contribuir para a produção de conhecimento sobre as abordagens desenvolvidas dentro dessas comunidades.

A nona categoria, é denominada de estudos terminológicos, linguagem para fins especiais (LSP), bancos de dados semânticos e estudos de discurso. Estes estudos sempre tiveram relação intima com as funções desempenhadas pelos profissionais da informação, que sempre trabalharam com relações semânticas e linguagens controladas. De acordo com o autor, “estudos terminológicos, LSP (línguas para fins especiais) e estudos do discurso organizam palavras, textos e enunciados em um domínio de acordo com critérios

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semânticos e pragmáticos” (HJØRLAND, 2002, p. 451, tradução nossa). Assim, estes estudos contribuem para minimizar os problemas relacionados à terminologia nas múltiplas áreas do conhecimento.

O decimo método, estruturas e instituições na comunicação científica, consiste na produção dos modelos de comunicação existente no âmbito científico. Alguns modelos de comunicação já foram elaborados por instituições como a UNESCO que desenvolveu o modelo UNISIST, posteriormente revisado por Søndergaard, Andersen e Hjørland, no ano de 1971. Vale destacar que o modelo UNISIST é apenas um dos muitos modelos de comunicação existente. Para Hjørland “estudos de estruturas e instituições em comunicação científica organizam os principais atores e instituições de acordo com os divisão do trabalho no domínio” (HJØRLAND, 2002, p. 451, tradução nossa).

Por fim, a decima primeira categoria é denominada de cognição científica, conhecimento especializado e inteligência artificial (AI). Esses conceitos, advindos da Ciência da Computação procuram aprimorar os sistemas desenvolvidos pela engenharia de softwares. “Análise de Domínio em cognição profissional e inteligência artificial fornece modelos mentais de um domínio ou métodos de conhecimento para produzir sistemas especialistas” (HJØRLAND, 2002, p. 451, tradução nossa). Esse modelo contribui para melhorar a eficiência do desenvolvimento dos sistemas, permitindo maior interação entre máquinas e seres humanos.

2.2 Novos Movimentos Sociais (NMS): sensibilidades e produção de informação em comunidades discursivas

Com o propósito de compreender como os Novos Movimentos Sociais (NMS) são passíveis de serem considerados comunidades discursivas, faz-se necessário compreender que a sensibilidade vivenciada pelos integrantes dos grupos é uma construção social e que por isso pode estar inserida em um dado domínio. Dessa forma, a sensibilidade não é uma construção cognitiva que parte apenas do indivíduo, mas sim uma construção social, ela não é apenas aquilo que vem de dentro do indivíduo, mas vem de fora e é internalizada.

Para compreender o processo de interiorização dos sentimentos, deve-se observar como começa a formação dos sujeitos. Ao nascer, uma criança se insere em uma sociedade com valores preestabelecidos e logo nos primeiros anos de vida inicia-se um constante processo de aprendizagem para assimilar os padrões comportamentais anteriormente instaurados. O processo de adquirir hábitos já na primeira infância é

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chamado pelos antropólogos de endoculturação e está relacionado à socialização da aprendizagem cultural, que acontece por meio da interiorização dos sentidos, tornando a criança um membro partícipe da sociedade, existindo assim uma proximidade entre sentimento e cultura.

Para que a assimilação dos valores possa acontecer de forma satisfatória, a linguagem é um mecanismo fundamental para a construção dos sentidos, pois ela permite que a transmissão de informação se torne possível para que os indivíduos interajam com os demais e produzam imagens do mundo real. Para Castells (2013, p. 9), “a constituição de redes é operada pelo ato de comunicação. Comunicação é o processo de compartilhar significado pela troca de informações”.

Assim, os indivíduos aprendem por meio da linguagem a nomear o mundo e associam signos e significados, dando sentido às coisas com as quais estão em contato direto. Desse modo, a informação e o sinal, portanto, já estabeleceram suas diferenças (AZEVEDO NETTO, 2002). Autores do campo da educação como Piaget, que elaborou a Teoria do Construtivismo, nos ajudam a compreender como acontece o processo de ensino-aprendizagem. Nessa teoria, sujeito e objeto estão em constante interação para construção das estruturas cognitivas, de forma que a linguagem contribui para a interiorização do conhecimento que são aprendidos mediante uso dos sentidos.

Nesse contexto, os sentimentos não são adquiridos por meio de uma reprodução social, mas sim desenvolvidos através de uma construção individual aprimorada no processo de aprendizagem mediante a ‘práxis cognitiva’. Mas o que seria a sensibilidade?

O termo sensibilidade possui uma alta carga semântica e está presente em nosso cotidiano, comumente associado a duas realidades distintas relacionadas à dimensão da existência humana: uma realidade objetiva e outra subjetiva. A primeira delas está associada a uma realidade objetiva dos aspectos físicos e das reações corporais. Os seres humanos são sensíveis, pois possuem sentidos e os sentidos se expressam pelas faculdades do corpo, por meio deles é possível aprender a sentir o mundo ao entorno.

Ainda tratando da primeira dimensão (realidade objetiva), os indivíduos são educados socialmente a interiorizar os sentidos do corpo provenientes da visão, do tato, da audição, do paladar e do olfato. Para Le Breton (2016), as sociedades ocidentais valorizam os sentidos advindos da visão e da audição. Em se tratando da audição, percebe-se que uma criança, constantemente, em seu dia a dia, recebe orientações para identificar de onde vêm os sons por meio da audição. Ela recebe orientação sobre o que é possível, ou não, ouvir e em qual volume se deve ouvir. Por conseguinte, consegue

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identificar se os sons soam como agradáveis ou não. A partir dessa educação, ela aprende também a quem ouvir e entende que ouvir os mais velhos e seguir seus ensinamentos é uma forma de melhor viver em sociedade. Assim, a escuta é um sentido internalizado mediante o processo de aprendizagem.

A visão, por sua vez, é outro sentido majoritário utilizado para perceber mundo exterior. Nesse sentido, não se trata apenas da visão advinda do sistema ocular, mas também das normativas sociais do que é possível, ou não, ver. Nessa conjuntura, o discurso dominante orienta que não se pode visualizar determinada cena/situação por ser imprópria ou por transmitir sentimento de medo que gere traumas, limitando os sentidos de melhor interpretar o mundo. De acordo com Thellefsen e Thellefsen (2004, p. 179), o indivíduo interpreta conhecimento, mas a interpretação é baseada em um contexto que, nesse caso, é o discurso do domínio do conhecimento.

Como uma extensão da dimensão objetiva, a sensibilidade está associada a uma segunda dimensão, que é a subjetiva. Nesse segundo aspecto, os indivíduos possuem uma forte relação com as percepções emocionais manifestadas na mente humana. Essas manifestações estão associadas à fragilidade, à paixão, à solidão (MINOIS, 2019), às lágrimas (VINCENT-BUFFAULT, 1988), ao desejo e à sexualidade (GAY, 1989;

FOUCAULT, 1977).

Com esse entendimento, pode-se perceber que o estudo da sensibilidade não está limitado aos aspectos físicos e sociais, mas também aos aspectos subjetivo e cognitivo.

Nesse sentido, os sujeitos cognoscentes, além de aprender por meio da linguagem a interiorizar e aperfeiçoar os sentidos, também estão carregados de uma dimensão subjetiva. Para Pensavento (2008, p. 56),

As sensibilidades corresponderiam a este núcleo primário de percepção e tradução da experiência humana no mundo. O conhecimento sensível opera como uma forma de apreensão do mundo que brota não do racional ou das elucubrações mentais elaboradas, mas dos sentidos, que vêm do íntimo de cada indivíduo. Às sensibilidades compete essa espécie de assalto ao mundo cognitivo, pois lidam com as sensações, com o emocional, com a subjetividade.

Longe de haver uma indissociabilidade entre corpo e subjetividade, as duas dimensões devem ser analisadas de forma imbricada e pertencentes à mesma dimensão ontológica. Os indivíduos são corpo e mente e um fator não determina o outro, de forma que ao sermos afetados no corpo temos afeção subjetiva que altera a normalidade

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psíquica. Essas duas dimensões não se concluem em si e não são expressões limitadas aos indivíduos. Entre essas duas dimensões, o conhecimento é considerado um estado mental do indivíduo.

Para além das dimensões objetivas e subjetivas, deve-se atentar para a dimensão social, uma vez que o homem é um ser social que vive em conjunto com outros indivíduos. Para Elias (1994), a sociedade é uma acumulação aditiva de sujeitos, onde cada indivíduo apresenta particularidades que os diferenciam de outros. Assim, as sensibilidades estão associadas a uma construção social que norteia os valores aceitos e possíveis de se realizarem dentro dos aspectos comportamentais, ela proporciona a criação de vínculos com o mundo, com a sociedade e com os demais membros. Segundo a concepção interacionista, o indivíduo ao atingir outros níveis de maturidade, cria autonomia para aprovar e desaprovar ações da vida cotidiana.

Trazendo essa realidade para os movimentos sociais, Castells (2013, p. 22) afirma que “os movimentos sociais agora, e provavelmente ao longo da história (o que está além do domínio da minha competência), são constituídos de indivíduos”. De forma que o acúmulo de indivíduos, suas produções e necessidades informacionais, passíveis de serem objeto de estudo de pesquisadores da Ciência da Informação que têm empreendido uma corrente denominada responsabilidade social da CI. Assim, os pesquisadores de Análise de Domínio, devem despertar interesse pela sensibilidade, buscando estimular a produção da informação acerca das relações subjetivas e materiais, tal como postula o paradigma social de Capurro (2007), onde o conhecimento estaria inserido em um processo cultural, social e histórico.

Nesse contexto, os movimentos sociais são considerados domínios, compostos por protagonistas, antes socialmente isolados, mas que se unem para ampliar vínculos e compartilhar conhecimentos, dores e sofrimentos, como também para lutar em prol de mudanças sociais. Segundo Castells (2013, p. 30), “em qualquer movimento social há múltiplas expressões de necessidades e desejos. Há momentos de liberação, em que todos esvaziam sua sacola de frustrações e abrem a caixa mágica de seus sonhos”.

Compactuando com o mesmo pensamento, os integrantes produzem um discurso que norteia suas atividades militantes, que possui uma divisão do trabalho não hierarquizada, mas sim horizontal. Ou seja, são movimentos horizontais que não necessitam da figura de um líder. Para isso, eles se utilizam de um sistema de informações que mobiliza a sociedade para reconhecer a necessidade de mudanças, ao mesmo tempo em que fornecem informações necessárias para a proteção da pessoa humana. Conectados

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em rede, os protagonistas são indivíduos que não estão isolados, mas de forma conjunta constituem grupos de força e resistência que estão em constante processo de comunicação. Eles não apenas fazem uso das informações oficiais elaboradas por instituições governamentais (sendo consumidores), como também produzem (prosumer) e disseminam novas informações que apresentem a real necessidade dos membros dos grupos.

Para Castells (2013), os movimentos sociais possuem um plano individual que é caracterizado pelos aspectos emocionais. Os seres humanos são movidos por sentimentos, no entanto, eles podem não ser condizentes com aqueles construídos socialmente, isso porque, a partir das relações que os indivíduos estabelecem com os outros no decorrer da vida, novos valores são estabelecidos por meio das trocas culturais. Nesse processo de ressignificação, as sensibilidades podem ser contestadas, de forma que os indivíduos conseguem conhecer novas sensações que vão sendo adquiridas cotidianamente.

À medida que os indivíduos vão amadurecendo, eles vão se transformando. As informações estão associadas à forma de comportamento, ao que é permitido e também ao que não é permitido. No entanto, ao descobrirem a possibilidade de quebrar paradigmas, mudanças e transformações vão acontecendo, gerando uma série de choques culturas e de informações que são contestadas mediante disputas ideológicas, permitindo que os indivíduos criem novas formas de pensar e assumam novos papéis sociais, pois como afirmam Hjørland e Hartel (2003, p. 240),“diferentes epistemologias têm diferentes pontos de vista sobre os ‘papéis’”.

Assim, os membros integrantes das comunidades discursivas, uma vez apoderados das mentes e dos corpos, se opõem à lógica aceita e se tornam rebeldes diante dos sistemas sociais vigentes, quebrando os padrões legítimos construídos a partir de um discurso hegemônico imposto aos sujeitos. A partir de uma superioridade hierárquica de um domínio, grupos hegemônicos constroem valores que ferem os sentimentos de outros grupos. Dotados do sentimento de injustiça, se torna possível lutar para conquistar a liberdade de realizar suas escolhas. Bachelard (1994, p. 8) diz que devemos escapar da rigidez dos hábitos, pois “é preciso que cada um destrua, mais cuidadosamente ainda que suas fobias, suas ‘filias’, suas complacências com as instituições primeiras”.

Ao fazer uso da informação produzida por instituições oficiais – como as escolas e instituições militares que se utilizam da coerção – torna-se possível a interiorização dos valores estabelecidos, além de reproduzir para outros membros. Mas também viabiliza a criação de novos mecanismos de representação, visto que a informação não está

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cristalizada e sua manipulação pode acontecer para outras finalidades benéficas ou não.

Os movimentos sociais são espaços, por excelência, para criarem novos valores e novas normas que atendam às necessidades das minorias e organizando a vida dos indivíduos.

Dessa forma, os movimentos sociais exercem o contrapoder, construindo-se, em primeiro lugar, mediante um processo de comunicação autônoma, livre do controle dos que detêm o poder institucional.

As novas representações das informações, geram novos conhecimentos muitas vezes pouco disseminados e aceitos na sociedade. Na análise de domínio, deve-se considerar pontos de vistas diferentes, pois de acordo com Hjørland e Hartel (2003, p.

242), as pessoas em geral, assim como os pesquisadores, tendem a perceber a visão dominante como sendo a visão natural e a única possível ou séria. É importante considerar diferentes horizontes.

Nesse contexto, a sensibilidade como um fenômeno aparentemente subjetivo e desvalorizado de uma dada comunidade discursiva, deve possuir relevância para profissionais da informação, pois por mais que os sentimentos estejam predominantemente no campo da subjetividade, eles são uma construção social que direcionam o comportamento dos indivíduos da sociedade. Ao transformar o sentimento vivenciado por eles em informação, publicizando os casos de agressão, registrando as ocorrências de racismo, homofobia e feminicídios, analisando as fichas de atendimento nas instituições que acolhem os integrantes dos grupos, fazendo uso de linguagem adequada e, dentre outras formas, torna-se possível combater as desigualdades e injustiças causadas pelos grupos detentores do saber-poder.

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A Análise de Domínio pode ser utilizada para o estudo de campos ou áreas de conhecimento de diversas maneiras. No entanto, Tennis (2003, p. 191) afirma que “o ato de analisar um domínio parece mais fácil de ser definido que seu objeto de investigação - o próprio domínio”. Assim, para fins deste trabalho, o domínio, unidade de estudo analisado, é constituído pelos Novos Movimentos Sociais, predominantemente estudados por sociólogos, mas que também pode tornar-se objeto de estudo na Ciência da Informação, visto que esses movimentos produzem um discurso a ser comunicado à sociedade com efeito de gerar uma mobilização para implementar conquistas. Em suma, eles produzem e consomem informação.

Este trabalho, que objetiva compreender como a Análise de Domínio pode ser utilizada pelos profissionais e pesquisadores da informação para contribuir com as lutas dos Novos Movimentos Sociais, tratam-se de uma pesquisa bibliográfica que utilizou os eixos operacionais propostos por Tennis (2003) - área de modulação e graus de especialização - usados para a operacionalização da definição de um domínio. Nesse sentido, a área de modulação é o composto pelos movimentos humanitários de emancipação no Brasil, limitados a três, a saber: o movimento antirracista, feminista e LGBTQ+2.

A escolha desses movimentos se justifica pela intensificação de reivindicações de direitos humanitários empreendidas ao longo dos anos. O Movimento antirracista foi escolhido, por entender que se trata de um dos primeiros movimentos sociais a ser criado no Brasil e no mundo, com o intuído de combater o entendimento comum da superioridade racial. A propagação desse pensamento, gera a discriminação e combate-lo é uma necessidade para promover a igualdade entre raças. Já o movimento feminista, também se tornou um movimento integrante para análise desse trabalho, por compreender que as conquistas existentes desde as reivindicações das sufragistas no século XIX não foram o suficiente para consolidação das lutas. Percebe-se que ainda nos dias atuais, existe um alto índice de violência sofrida pelas mulheres, existindo assim a necessidade de conquistarem o respeito dos demais sujeitos, não só no ambiente familiar como também nos demais espaços ocupados por elas.

2 LGBTQ+ é uma sigla que significa Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgênero, Queer e demais intitulações.

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O Movimento LGBTQ+, também é um grupo que vive em vulnerabilidade social, apensar das conquistas paulatinas nos últimos anos. Dentre elas, pode mencionar as datas alusivas às lutas empreendidas pela comunidade, como o Dia do Orgulho LGBTQ+, que no Brasil começou a ser comemorado no ano de 1995 e que ao longo dos anos ganha um maior número de adeptos, trazendo conquistas sociais como, por exemplo, a descriminalização por orientação sexual e identidade de gênero e a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

O grau de especialização é dividido em foco e interseção. O foco é caracterizado pelos sentimentos subjetivos vivenciados pelos protagonistas e interseção estabelece a relação entre domínios. Por exemplo, uma mulher pertencente ao movimento feminista, pode-se sentir excluída também como negra, de forma que, mulheres e negros, mesmo pertencentes a movimentos distintos, compartilham do mesmo sentimento de exclusão social, a partir de perspectivas diferentes. Uma característica dos Novos Movimentos Sociais é o seu caráter plural. Apesar de serem constituídos por pequenos grupos, os movimentos sociais não são separados, estão imbricados e se intercruzam. A partir dos eixos apresentados, a pesquisa está estruturada da seguinte forma (Quadro 1):

Quadro 1: Eixos do domínio dos Novos Movimentos Sociais (NMS)

DOMINIO ÁREA DE MODULAÇÃO GRAU DE ESPECIALIDADE Novos

Movimentos Sociais

Movimento antirracista Sensações e emoções dos protagonistas engajados na militância dos movimentos

sociais Movimento feminista

Movimento LGBTQ+

Fonte: Elaborado pelo autor (2021)

A partir do Quadro 1, é possível visualizar o domínio investigado na pesquisa que, em conjunto com os dois eixos (modulação e especialização), formam a tríade deste trabalho. Para Tennis (2013), esses eixos podem ser usados por um analista de domínio na operacionalização de sua definição de domínio, para que outros analistas de domínio possam trabalhar com uma definição mais transferível.

Com os eixos delineados, é possível iniciar o processo de análise que acontecerá a partir das fontes utilizadas, tida como um conjunto de publicações produzidas por outrem e resultados de pesquisas que discorrem sobre temáticas transversais ao que abordamos. Vale destacar, que este trabalho não objetiva realizar uma Análise de Domínio, mas sim, apresentar possíveis caminhos para os pesquisadores que pretendem utilizar a Análise de Domínio como recurso metodológico para investigar uma comunidade específica.

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Para cumprir o objetivo específico de descrever as características e aplicações da Análise de Domínio na Ciência da Informação se realizou uma pesquisa bibliográfica nas obras dos autores atuantes na área como Birger Hjørland (2004), Anne Altbretchen (1995), Jenna Hartel (2003), Joseph Tennis (2003) e Richard Smiraglia (2015).

Para atingir o segundo objetivo (Entender os integrantes dos Novos Movimentos Sociais como produtores e sujeitos informacionais) realizou-se uma pesquisa bibliográfica com autores da área de Sociologia que dialogam com os aspectos sociais e as sensibilidades dos Novos Movimentos Sociais, entre eles Manuel Castell (2013), Nelson Pichardo (1997) e Goodwin, Jasper e Polletta (2000).

Levando em conta que um domínio pode ser analisado mediante as formas de comunicação de seus integrantes, se realizou pesquisa com fontes netnográficas, para identificar exemplos de espaços e canais de comunicação utilizado pelos movimentos sociais. Os canais de comunicação se classificaram em formal, semiformal e informal seguindo Targino (2010). Os canais de comunicação formal são aqueles nos quais a informação é registrada por escrito, armazenada, permitindo sua posterior recuperação.

Já nos canais informais a transferência da informação ocorre através de contatos interpessoais e de outros recursos sem formalismo, como reuniões científicas, participação em associações profissionais e colégios invisíveis. Na fronteira entre estes dois tipos, os canais semiformais têm “características informais na sua forma de apresentação oral e nas discussões que provocam, e características formais na sua divulgação através de cópias ou da edição de anais” (TARGINO, 2020, p. 21).

As fontes netnográficas são aquelas disponíveis mediante uso da Tecnologia digitais da Informação, cujo acesso acontece mediante o uso de computadores e demais tecnologias disponíveis. A netnografia pode ser entendida como,

uma ferramenta metodológica que amplia as possibilidades oferecidas pela etnografia tradicional ao permitir o estudo de objetos, fenômenos e culturas que emergem constantemente no ciberespaço a partir do desenvolvimento e da apropriação social das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) (CORRÊA; ROZADOS, 2017, p. 02).

Para isto se estabeleceram os seguintes critérios de seleção: o primeiro foi a amplidão, optou-se por canais de abrangência nacionais, tipificados em formais (impressos), semiformais (impressos/orais) e informais (orais). Além dele, também se optou por canais pertencentes apenas a uma área de modulação, desconsiderando a interseção entre domínios.

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A partir desta exploração se criaram categorias que permitem analisar o domínio dos Novos Movimentos Sociais (Quadro 2). Neste trabalho se apresentam exemplos desses canais.

Quadro 2: Categorias de análise de canais de comunicação dos Novos Movimentos Sociais Comunicação formal

Periódico Científico Sites de ONG’s Comunicação semiformal Central de atendimento

Conferências, palestras e encontros nacionais desenvolvidos por órgãos

federais Comunicação informal

Mídias Sociais (Instagram e facebook) Fonte: dados da pesquisa

Finalmente, o terceiro objetivo de refletir sobre aplicações da Análise de Domínio para contribuir com as reivindicações dos movimentos sociais foi atingido mediante a triangulação dos objetivos 1 e 2, junto com o referencial teórico.

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4 RESULTADOS

4.1 Novos Movimentos Sociais como produtores e sujeitos informacionais: canais de comunicação

Ao analisar alguns grupos sociais ao longo da história, é possível identificar a existência de alguns grupos subalternos que possuíam pouca representatividade e sofreram com sentimentos de repressão. Compõem esses grupos, mulheres, vítimas de uma sociedade patriarcal, que as fez sofrer diversos tipos de violências (física e psicológica), além de restrições sociais (trabalho), que as tornaram marginadas das ocupações sociais; negros afrodescentes, que desde os tempos da escravidão sofrem com exclusão racial e os LGBTQ+, vítimas de homofobia por terem orientação sexual que vai de encontro aos padrões sociais estabelecidos, sofrem opressões em decorrência da não aceitação.

A partir das vivências desses grupos em ambientes públicos e/ou privados, pode- se questionar: Quais são as emoções que envolvem esses indivíduos para lutarem por conquistas sociais? Quais as sensações subjetivas desses indivíduos para além das que são proporcionadas pelo corpo? Como os profissionais da informação podem contribuir para a concretização das lutas empreendidas?

Presume-se que os sentimentos experimentados por esses indivíduos não são prazerosos, mas inevitavelmente de incômodo. Assim, eles estão em uma constante relação de dominação e exploração, o que favorece sensações não prazerosas, como a repressão, que provoca o desconforto mental dos seres. No entanto, essas sensibilidades se fortificam mediante a unidade que os indivíduos criam. Com a ausência de lugar de fala, eles conseguem criar mecanismos para encontrar representatividade e compartilhar experiências. A sensibilidade desses indivíduos é potencializada pela força. Com isso, elas não suprimem os próprios sentimentos, mas os expõem por meio do comportamento de combate à exclusão.

Nesse contexto, os NMS que contemplam as comunidades discursivas compostas por movimentos de antirracistas, feministas e LGBTQ+, contribuíram para realização de grandes conquistas históricas. Nos NMS, os indivíduos encontram espaço, representatividade e podem falar por si, expressando suas emoções da forma que lhes convém. Eles possuem a especificidade de provocar mudanças sociais que são importantes para combater as desigualdades, unir o grupo e formar uma comunidade discursiva e se reconhecer como membros dela.

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Para Castells (2013), o big-bang de um movimento social começa quando a emoção se transforma em ação. Nesse contexto, os grupos de ativistas que se mobilizam para a realização protestos, revolta e até revolução, almejam expressar suas insatisfações e contribuir para obter conquistas sociais. Vale ressaltar que “os participantes não gostam de protestar, são compelidos a isso por suas necessidades e impulsos internos”.

(GOODWIN; JASPER; POLLETTA, 2000, p. 69, tradução nossa). Dessa forma, os militantes possuem um importante papel para manter os integrantes unidos e articulados entre si. Eles percebem as mazelas sociais, e se propõem a combater as injustiças sociais.

Em tese, são seres altruístas que percebem o mundo de forma crítica.

No Brasil, os NMS emergiram no contexto da Ditadura Militar com o objetivo de combater a desigualdade vivenciada por grupos minoritários. Dentro do Movimento Negro, o Movimento Unificado contra a Discriminação Racial,3 criado no ano de 1978, foi importante para combater a morte de negros e a exclusão de espaços públicos em decorrência do racismo. Consciente de suas emoções em comunicar e denunciar a realidade vivenciada de desprestígio, esse grupo cria espaços para expor angústias em jornais periódicos, dentre eles destacam-se: Tição (1978), Jornegro (1978) Quilombhoje (1978) e Simba (1988), veículos utilizados para denunciar as opressões vivenciadas por negros e afrodescendentes.

O movimento feminista, tido como um dos mais importantes movimentos do século XX, também passou a conquistar seu espaço na sociedade para obtenção de melhorias. Após anos sendo excluídas, as mulheres conseguiram de forma paulatina ampliar o seu espaço na sociedade, conquistando direitos e garantias fundamentais. Na década de 1980, surgem os debates feministas e de gênero. A fim de obter maior representatividade, o grupo feminista fez uso de jornais para poder expressar os sentimentos vivenciados e se mobilizar, dentre eles vale destacar o Chanacomchana (1981-1989?), Mulherio, (1981-1988); e Fêmea, (1992-2014). No contexto da Constituinte de 1988, os grupos feministas lutaram para serem representados no documento ora elaborado. Já nos últimos anos, também é possível identificar conquistas de direitos fundamentais, como a Lei Maria da Penha (2006) e a Lei do Feminicídio (2015). Como espaço de proteção à mulher, destaca-se a Primeira Delegacia de Defesa da Mulher – DDM, implantada em 1985 no estado de São Paulo, levando outros estados a implementar suas próprias delegacias especializadas. Esses marcos são importantes para

3 Posteriormente denominado apenas de Movimento Negro Unificado (MNU).

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atentar aos avanços ocasionados ao longo dos anos, pois, “de particular interesse para os estudantes de movimentos sociais é como as emoções das mulheres [...] caracterizam-se de maneira a atenuar os desafios que montam” (GOODWIN; JASPER; POLLETTA, 2000, p. 74, tradução nossa).

Por sua vez, o movimento LGBTQ+ também tem demonstrado tentativas para conseguir implementar modificações diante da insensibilidade social em aceitar o outro por não se enquadrar nos padrões vigentes. Nesse contexto, o grupo Somos – grupo de afirmação homossexual – criado no ano de 1978 e o Grupo Gay da Bahia (GGB), fundado em 1980, que contribuíram para a despatologização dos homossexuais, tornando-se exemplos de um empreendimento que mobilizou uma parcela da sociedade para reenvidar direitos do grupo. Nesse cenário, destaca-se a figura de João Antônio Mascarenhas (1927 – 1998), importante ativista na luta pelos direitos humanos, que defendeu a diversidade sexual durante a Constituinte de 1988.

Assim como o movimento feminista, o movimento LGBTQ+ soube fazer uso dos veículos de comunicação, para produção de conhecimentos úteis para denunciar a realidade vivenciada pelos homossexuais. Dentre os periódicos voltados para a comunidade, destaca-se O Lampião da Esquina, que foi um jornal voltado para os homossexuais fundado em 1978. Por meio de canais de comunicação como este, o grupo conseguiu organizar algumas mobilizações, desembocando no que se transformou na parada do Orgulho LGBT, movimento que dá visibilidade ao grupo, atraindo inclusive turistas de vários países. No ano de 2021, por exemplo, a parada foi realizada somente pela internet4, por meio de transmissões ao vivo que chegaram a 11 milhões de visualizações.

Hodiernamente, os movimentos fazem uso do imperativo tecnológico que se apresenta como uma nova ferramenta que facilita a mobilização dos grupos, o compartilhamento e troca de informações para o fortalecimento das comunidades discursivas. Com isso, em uma quantidade de tempo reduzida, é possível atingir um amplo alcance e mobilizar milhões de pessoas, pois, como afirma Castells (2013, p. 10),

“os movimentos espalharam-se por contágio num mundo ligado pela internet sem fio e caracterizado pela difusão rápida, viral, de imagens e ideias”. Nessa nova forma de militância, todos desempenham um papel preponderante na composição organizacional para articulação do grupo que não se assemelha à divisão hierárquica do trabalho. Na

4 Em decorrência do período pandêmico causado pelo Covid-19.

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contemporaneidade, os movimentos sociais atuam por meio de redes sociais. “As emoções apareceram primariamente como os laços afetivos que tornam as redes sociais mecanismos tão importantes para o recrutamento” (GOODWIN; JASPER; POLLETTA.

p. 74, 2000, tradução nossa). Da mesma forma, para Castells, com o uso dos meios de comunicação de massa, “os cidadãos da era da informação tornam-se capazes de inventar novos programas para suas vidas com as matérias primas de seu sofrimento, suas lágrimas, seus sonhos e esperanças” (CASTELLS, 2013, p. 18).

Assim, o uso das mídias sociais com o objetivo de disseminar informação relacionada aos movimentos sociais, pode ser entendido como uma visão contemporânea do domínio caracterizada pelo uso informal. Além do uso das mídias, também deve-se destacar outros canais que contribuem para proporcionar uma melhor comunicação entre os integrantes do grupo. Ao enfatizar os canais formais de comunicação, destacam-se os periódicos científicos especializados em temáticas especificas, que constantemente reúnem dossiês com resultados de pesquisa obtidas por meio de estudo voltado para as comunidades minoritárias. Além deles, mencionam-se os websites das organizações não governamentais (ONGs), que são instituições da sociedade civil, sem fins lucrativos, cujo propósito é defender e promover uma causa social. Por último, evidenciam-se os canais semiformais de comunicação, caracterizado pelas centrais de atendimento que recebem ligações e registram ocorrência de denúncias referentes à violação dos Direitos Humanos.

Também vale destacar, os eventos como congressos e seminários desenvolvidos por instituições oficiais ligados às esferas federais e estaduais.

Os canais de comunicação devem ser perenes e eficazes, permitindo que os usuários busquem informações ou registrem suas necessidades de melhorias, bem como registrar os anseios vivenciados por esses indivíduos, permitindo a implementação de políticas que possam trazer melhorias sociais. Ao atender a importância dos canais de comunicação, Martins (2015, p. 79) afirma que no âmbito da discussão sobre os novos movimentos sociais, o espaço da comunicação se apresenta como lócus de luta política decisivo.

A partir dessa premissa, apresentam-se a seguir exemplos de canais de comunicação que são atualmente utilizados de acordo com cada movimento que compõe NMS no Brasil. O quadro 3 sintetiza esta informação e está estruturado de acordo com os tipos de comunicação: formal, semiformal e informal.

Nos canais formais, aqueles que armazenam e recuperam informação (TARGINO, 2010), temos os periódicos científicos eletrônicos de acesso livre e gratuito e os websites

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