• Nenhum resultado encontrado

Análise da infidelidade partidária na jurisprudência do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Análise da infidelidade partidária na jurisprudência do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará"

Copied!
75
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

MARLLA ARAÚJO PONTES MEIRA

ANÁLISE DA INFIDELIDADE PARTIDÁRIA NA JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ

(2)

MARLLA ARAÚJO PONTES MEIRA

ANÁLISE DA INFIDELIDADE PARTIDÁRIA NA JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL

REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ

Monografia apresentada ao Curso de Direito a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. M.Sc. William Paiva Marques Júnior

FORTALEZA

(3)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca Setorial da Faculdade de Direito

M515a Meira, Marlla Araújo Pontes.

Análise da infidelidade partidária na jurisprudência do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará / Marlla Araújo Pontes Meira. – 2015.

72 f. ; 30 cm.

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2015.

Área de Concentração: Direito Eleitoral.

Orientação: Prof. Me. William Paiva Marques Júnior.

1. Partidos políticos - Brasil. 2. Justiça eleitoral - Brasil. 3. Filiação partidária – Brasil. I. Marques Júnior, William Paiva (orient.). II. Universidade Federal do Ceará – Graduação em Direito. III. Título.

(4)

MARLLA ARAÚJO PONTES MEIRA

ANÁLISE DA INFIDELIDADE PARTIDÁRIA NA JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL

REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Aprovada em _______/_______/_______

BANCA EXAMINADORA

Prof. M.Sc. William Paiva Marques Júnior (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC)

Profa. M.Sc. Fernanda Cláudia Araújo da Silva

Universidade Federal do Ceará (UFC)

Prof. M.Sc. Álisson José de Maia Melo

(5)

AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me concedido saúde e força para superar as dificuldades.

A esta universidade, seu corpo docente, direção e administração que

oportunizaram todos os mecanismos para engrandecer meus conhecimentos.

Ao meu orientador, William Paiva Marques Júnior, por sua atenção no pouco

tempo que lhe coube, pelas suas correções e incentivos.

Aos professores Fernanda Cláudia Araújo da Silva e Álisson José de Maia Melo,

que gentilmente aceitaram meu convite.

À minha família, em especial, ao meu marido, Edísio Meira, pelo amor e apoio

incondicional.

Aos meus amigos Thiago Alberine e Ana Camila Araújo, pelo incentivo e

amizade de sempre.

E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu

(6)

RESUMO

A fidelidade partidária tem íntima relação com o Estado Democrático de Direito, uma vez que

o mandatário é vinculado, inevitavelmente, a um partido político. Porém, era comum, após a

eleição, a troca de partido em razão de interesse exclusivamente privado e sem que houvesse

qualquer consequência, causando perplexidade no eleitor e no partido ao qual era filiado o

mandatário. Havia a concepção de que o mandato pertenceria ao político eleito, e não ao

partido. Após definição pelo Tribunal Superior Eleitoral de que o mandato pertence ao

partido, e em decorrência da edição da Resolução TSE nº 22.610/2007, a fidelidade partidária

foi disciplinada, e aqueles que migrassem de partido sem justa causa perderiam o mandato.

Objetiva-se, com o presente trabalho, investigar a jurisprudência do Tribunal Regional

Eleitoral do Ceará e sua evolução em relação às hipóteses de justa causa para a infidelidade

partidária previstas na citada Resolução. Verifica-se, pelos Acórdãos analisados, que o

TRE/CE se posiciona a favor da citada Resolução, decreta a perda do mandato ao político

infiel e resguarda o mandato quando ocorrer justa causa para a desfiliação.

(7)

ABSTRACT

The party loyalty has a close relationship with the Democratic Rule of Law, since the agent is

bound inevitably to a political party. However, it was common after the election, the exchange

of party because of exclusively private interest and without there any consequences, causing

confusion in the voter and the party to which he was affiliated the agent. There was an

conception that the mandate belonged to the elected candidate, not to the party. However the

Superior Electoral Court decided that the mandate belongs to the party, not the elected

candidate, by the TSE Resolution No. 22.610 / 2007, the party loyalty was disciplined, and

those who migrate party without plausible cause, may lose the mandate. Our intention with

this work is to investigate the jurisprudence in similar cases on the Regional Electoral Court

of Ceará, as its evolution, in order to compare with what is accepted as plausible cause to

configurate the party infidelity on the mentioned resolution. It appears, by the analyzed

judgments, that the TRE/CE stands in favor of the aforementioned resolution, declares the

removal from office to the infidel political and protects the mandate when there is just cause

for disaffiliation

(8)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...8

2 DELIMITAÇÃO CONCEITUAL DE PARTIDOS POLÍTICOS...10

2.1 Origem...11

2.2 Características dos partidos políticos...13

2.3 Natureza jurídica...14

2.4 Breve histórico sobre os partidos políticos no Brasil...16

2.5 Partidos políticos na Constituição Federal...19

2.6 Princípios constitucionais e partidos políticos...20

2.6.1 Princípio da autonomia partidária...20

2.6.2 Princípio da soberania nacional...21

2.6.3 Princípio do regime democrático...21

2.6.4 Princípio do pluripartidarismo...23

2.6.5 Princípio da moralidade eleitoral....24

2.6.5.1Ausência de definição e de obediência ao programa partidário...25

2.6.5.2 Desvirtuação da busca pelo poder...25

2.6.5.3 Corrupção eleitoral...26

2.6.5.4 Estelionato eleitoral...27

2.6.5.5 Voto nominal versus voto partidário...28

2.6.5.6 Partidos políticos “de aluguel”...29

3 FIDELIDADE PARTIDÁRIA...30

3.1 A fidelidade partidária no ordenamento jurídico...31

3.2 Definição de fidelidade partidária...34

3.3 Fidelidade partidária e a evolução do posicionamento jurisprudencial...36

3.4 Análise da Resolução TSE Nº. 22.610/2007...37

3.4.1 Constitucionalidade da Resolução Nº 22.610/07 do TSE...40

3.4.2 Aplicação da perda de mandato por infidelidade partidária para os cargos majoritários...42

3.4.3 Críticas à orientação do TSE e do STF com relação à fidelidade partidária...43

(9)

3.5.1 Incorporação ou fusão do partido...45

3.5.2 Criação de novo partido...47

3.5.3 Mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário...48

3.5.4 Grave discriminação pessoal......50

3.6 Outras hipóteses de justa causa para desfiliação partidária...51

4 A JUSTIÇA ELEITORAL CEARENSE E A FIDELIDADE PARTIDÁRIA...52

4.1 Posicionamento da Justiça Eleitoral cearense em relação à constitucionalidade da Resolução 22.610/07...52

4.2 Análise da jurisprudência do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará em relação às hipóteses previstas na Resolução 22.610/07 como justa causa para desfiliação partidária...53

4.2.1. Decisões relativas à incorporação ou fusão do partido político...54

4.2.2 Decisões relativas à razão da criação de novo partido político...56

4.2.3. Decisões relativas à mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário...58

4.2.4. Decisões relativas à grave discriminação pessoal...59

4.2.5. Cabimento de hipóteses não previstas na resolução, mas consideradas pela corte cearense como justa causa para desfiliação partidária...63

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...66

(10)
(11)

1 INTRODUÇÃO

A fidelidade partidária deve ser elemento inerente aos partidos políticos, já que a

própria Constituição atribuiu aos mesmos a definição, em seus estatutos, das punições para os

casos de infidelidade partidária. Entretanto, não era da tradição política brasileira a

manutenção do eleito ao partido que o elegeu, nem a punição ao mandatário infiel, resultado

da frágil tradição democrática e da transposição generalizada, pelos políticos brasileiros, dos

interesses individuais sobre os interesses coletivos.

Em algumas democracias, todas as decisões políticas envolvem comprometimento

partidário, ainda que o partido seja governo ou o apoie, ou ainda que seja oposição. A

sociedade requer, a todo o momento, decisões políticas para solução de questões sociais, as

quais devem ser feitas por políticos eleitos democraticamente, em razão do sistema

representativo. Entretanto, para eleição dos mandatários, a legislação prevê que é

indispensável a filiação do mesmo a um partido político, sendo este, por sua ideologia e

programa, o elo entre a vontade do eleitor e as decisões políticas dos mandatários do poder.

A fidelidade partidária, portanto, possui relevância ao Estado Democrático de

Direito. O ordenamento jurídico, de maneira efetiva, apenas recentemente através da

Resolução nº 22.610/2007 do Tribunal Superior Eleitoral, fixou regras para evitar a prática

impune de infidelidade partidária e determinar a perda do mandato do político infiel,

devolvendo-o ao partido.

O objetivo geral da pesquisa é analisar as consequências jurídicas em razão da

infidelidade partidária, levando em consideração a Resolução nº 22.610/07 do Tribunal

Superior Eleitoral, suas alterações, a jurisprudência do TSE que aborda o referido assunto, e

as decisões proferidas pela Justiça Eleitoral do Estado do Ceará.

Os objetivos específicos consistem em verificar, segundo o Supremo Tribunal

Federal, a constitucionalidade da Resolução nº 22.610/07 do Tribunal Superior Eleitoral, que

disciplina o processo de perda de cargo eletivo e de justificação de desfiliação partidária.

Analisar as obrigações de um candidato eleito em relação ao estipulado nos Estatutos dos

partidos sobre fidelidade às orientações partidárias e comparar as decisões do Tribunal

Superior Eleitoral com as do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará e relatar como vem sendo

aplicada a resolução n° 22.610/07 no Estado do Ceará.

Importante ressaltar que antes de adentrar especificamente na questão da

fidelidade partidária, faz-se feita uma explanação sobre os partidos políticos e como os

(12)

Os princípios constitucionais, que fundamentam e justificam a aplicação da perda

de mandado eletivo por infidelidade partidária sem justa causa, serão assunto do capítulo 3,

com ênfase ao princípio da moralidade eleitoral, já que sua ausência dá ensejo a uma série de

vícios que prejudicam o correto andamento do processo eleitoral, tais como: ausência de

definição e de obediência ao programa partidário, desvirtuação da busca pelo poder,

corrupção eleitoral, estelionato eleitoral, voto nominal versus voto partidário e partidos

políticos de aluguel.

No quarto capítulo, haverá a abordagem do assunto da fidelidade partidária, onde

será relatado seu conceito e como o mesmo se apresenta no ordenamento jurídico brasileiro,

explanando-se sua evolução na jurisprudência.

O quinto capítulo é de fundamental importância para o desenvolvimento de toda a

referida pesquisa, pois relata de forma objetiva o surgimento e a necessidade de pôr em

prática a Resolução nº 22.610/07, que disciplina o processo de perda de cargo eletivo e de

justificação de desfiliação partidária, a qual permanecerá vigente até que seja editada lei

complementar que regule a matéria, competindo exclusivamente à União legislar sobre

Direito Eleitoral, conforme Art. 22, I, da Constituição Federal.

O sexto e último capítulo é o ponto primordial da pesquisa, onde se faz uma

investigação, através de uma pesquisa jurisprudencial, sobre como o Tribunal Regional

Eleitoral do Ceará vem se posicionando acerca da aplicação da referida Resolução, sua

constitucionalidade, sobre quais fatos ocorre subsunção às hipóteses de justa causa para

desfiliação partidária e se a Corte cearense acompanhou as decisões dos tribunais superiores,

especificamente, do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral.

A metodologia utilizada será realizada através de pesquisa doutrinária, histórica,

legislativa e jurisprudencial eleitoral.

(13)

2 DELIMITAÇÃO CONCEITUAL DE PARTIDOS POLÍTICOS

Os partidos políticos se constituem pessoas jurídicas de direito privado e são

essenciais ao regular funcionamento do regime democrático.

Conceituar partido político não se constitui tarefa simples, visto que evoluiu à

medida que a democracia se consolidou no mundo, alterando suas características.

Lecionando sobre o tema, Norberto Bobbio et al 1 afirma:

Segundo a famosa definição de Weber, o Partido político é "uma associação... que visa a um fim deliberado, seja ele 'objetivo' como a realização de um plano com intuitos materiais ou ideais, seja 'pessoal', isto é, destinado a obter benefícios, poder e, consequentemente, glória para os chefes e sequazes, ou então voltado para todos esses objetivos conjuntamente". Esta definição põe em relevo o caráter associativo do partido, a natureza da sua ação essencialmente orientada à conquista do poder político dentro de uma comunidade, e a multiplicidade de estímulos e motivações que levam a uma ação política associada, concretamente à consecução de fins "objetivos" e/ou "pessoais". Assim concebido, o partido compreende formações sociais assaz diversas, desde os grupos unidos por vínculos pessoais e particularistas às organizações complexas de estilo burocrático e impessoal, cuja característica comum é a de se moverem na esfera do poder político. Para tornar mais concreta e específica esta definição é usual sublinhar que as associações que podemos considerar propriamente como partidos surgem quando o sistema político alcançou um certo grau de autonomia estrutural, de complexidade interna e de divisão do trabalho que permitam, por um lado, um processo de tomada de decisões políticas em que participem diversas partes do sistema e, por outro, que, entre essas partes, se incluam, por princípio ou de fato, os representantes daqueles a quem as decisões políticas se referem. Daí que, na noção de partido, entrem todas as organizações da sociedade civil surgidas no momento em que se reconheça teórica ou praticamente ao povo o direito de participar na gestão do poder político. É com este fim que ele se associa, cria instrumentos de organização e atua.

Segundo Nildo Viana2:

A dificuldade surge, em primeiro lugar, da diversidade de partidos políticos que carregam inúmeras diferenças entre si. Em segundo lugar, a relação e semelhança entre partido político e outras instituições que exercem funções políticas podem ofuscar a compreensão da especificidade desta forma de organização política. A noção de partido que se manifesta na expressão “partido de César” é demasiadamente ampla e significa o mesmo que “posição”. Quando Marx escreveu o famoso Manifesto do Partido Comunista não se referia aos “partidos comunistas” existentes hoje, pois não utilizava a noção moderna de partido. Tal Manifesto se referia à posição dos indivíduos que se denominavam comunistas. Portanto, partido político não é nem parte, nem posição política. Também não é “um grupo cujos membros se propõem a agir de comum acordo na luta de concorrência pelo poder

político” (Schumpeter), pois um grupo de guerrilheiros não é um partido político e

possui estas mesmas características. Também não pode ser compreendido simplesmente como uma “máquina organizativa mais um programa político” (Cerroni), pois inúmeras organizações da sociedade civil (por exemplo, sindicatos,

1 BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. Brasília:

Editora Universidade de Brasília, 1998.p.898.

2 VIANA, Nildo. O que são partidos políticos? Goiânia, Germinal: 2003 .Extraído de

(14)

movimentos sociais) podem possuir, e muitos efetivamente possuem, tais elementos em sua composição. Mas, afinal, o que é um partido político? Os partidos políticos são organizações burocráticas que visam à conquista do Estado e buscam legitimar esta luta pelo poder através da ideologia da representação e expressam os interesses de uma ou outra classe ou fração de classe existentes.

Manifesta-se Aroldo Mota3:

A noção de partido político está associada ao sentido de repartição. Pode ser entendido como divisões de grupos que, unidos em ideias e pensamentos, formam um partido visando colocar em prática seus projetos. Procede-se afirmar que ao objetivo de todo partido político é alcançar o poder, no mesmo permanecer e impor suas ideias através das decisões político-administrativas.

Alcides Abreu 4diz:

É em torno da doutrina que o partido reúne adeptos e forma quadros. A realização da doutrina é o que impulsiona a ação do partido e de seus membros. Então, o objetivo – síntese do partido é a posse do Poder e a permanência no comando da sociedade nacional, com a consequente disposição dos cargos públicos.

Fávila Ribeiro5 define: “O partido político é um grupo social de relevante amplitude destinado à arregimentação coletiva, em torno de ideias e de interesses, para levar

seus membros a compartilharem do poder decisório nas instâncias governativas.”

Pode-se dizer, portanto, que são organizações agregadoras de interesses e de

ideias de classes e grupos sociais destinados a obter aprovação na vontade popular como

instrumento de impor suas vontades aos demais cidadãos.

Nas democracias representativas, assumem os partidos políticos função essencial

de concretização de seus princípios, pois se constituem o elo entre as aspirações populares e

as decisões políticas.

Cada partido apresenta suas características, sendo que a ideologia defendida no

programa partidário e propagada por seus apoiadores, aproxima o eleitor do partido e do

político a ele filiado.

2.1 Origem

A existência de partidos políticos, em seu conceito descrito, deve estar associada à

possibilidade de manifestação política e, por consequência, a uma maior consciência política

da pessoa como cidadão e das funções do Estado. Portanto, razoável concluir-se pela

3 MOTA, Aroldo. Direito eleitoral na constituição, na jurisprudência e na legislação. Fortaleza: ABC, 2002.

p. 181.

4 ABREU, Alcides. Análise sistêmica dos partidos políticos.Porto Alegre, RS: UDESC, 1997.

5 RIBEIRO, Fávila. Origens e transferência da democracia e dos partidos políticos. Themis, Revista ESMEC, v.

(15)

inexistência dos partidos político no período medieval, onde a figura do cidadão estava

substituída pela do súdito, o qual devia obediência plena ao rei e cuja opinião contrária às

decisões políticas do Estado Feudal poderia ser punida com a morte.

Neste sentido:

No transcorrer da Idade Média, a constituição de qualquer forma de organização política de indivíduos encontrava fortes obstáculos na organização sociopolítica feudalista. Naquelas circunstâncias, somente algumas camadas privilegiadas, como os senhores feudais e o clero, acabavam exercendo algum tipo de influência na tomada de decisões políticas da Coroa. As demais camadas, principalmente os servos, campesinos e mais tarde a burguesia ascendente, acabavam completamente excluídas de qualquer participação nas deliberações sobre políticas públicas.6

Conclui-se, portanto, que a origem dos partidos políticos se confunde com os

ideais democráticos advindos do Iluminismo e das revoluções e movimentos sociais do século

XVIII.

No entanto, não se pode confundir o conceito contemporâneo de partido político

com a expressão “partido” anteriormente utilizada em determinadas fases históricas.

Como expressa Nildo Viana7, ”em primeiro lugar, devemos ter em conta que os partidos políticos são fenômenos modernos, ou seja, são produtos típicos da sociedade

moderna, capitalista. É com a formação do modo de produção capitalista e do Estado que lhe

é correspondente, o Estado burguês, que surgem os partidos políticos. ”

E continua o autor:

As organizações operárias (sindicatos, por exemplo) e socialistas forneceriam a base e seriam o embrião da formação dos primeiros partidos socialdemocratas (também chamados de “socialistas”, trabalhistas, “operários”, dos “trabalhadores”, etc.). O primeiro grande partido de massas da história seria o partido socialdemocrata alemão, formado pela fusão de “lassalistas” (seguidores de Ferdinand Lassale, ideólogo reformista) e “marxistas” (seguidores de Marx, que foram criticados por ele, ainda vivo nesta época). Em 1914, este partido possuía mais de um milhão de filiados. A formação de vários partidos socialdemocratas na Europa Ocidental ocorria no contexto de inexistência de democracia representativa-partidária. A luta pelo sufrágio universal e a radicalização do movimento operário e a necessidade da classe capitalista de legitimar sua dominação, além da necessidade de racionalização advinda do processo de produção, provocaria o surgimento da democracia burguesa partidária. No início ela funcionava de forma restrita, só podendo votar quem tinha um certo nível de renda, que excluía as classes exploradas (proletariado, campesinato, etc.) e as mulheres e jovens. Esta é a chamada democracia censitária, que seria substituída pela democracia partidária liberal. O critério da renda, devido a pressões populares, seria abolido, mas o de idade e sexo, entre outros, permaneceriam. Somente na década de 30 do século 20 é que as mulheres conquistaram o direito ao voto. As “sociedades de pensamento”, os comitês

6 MEZZAROBA, Orides. O partido político como órgão mediador da representação política. In: ROCHA,

Fernando Luiz Ximenes; MORAES, Filomeno (Coord.). Direito constitucional contemporâneo: estudos em

(16)

eleitorais, os clubes políticos formavam a base e o embrião dos futuros partidos burgueses.

Na Inglaterra, no século XVIII, se criaram pela primeira vez instituições de direito

privado com o objetivo de congregar partidários de uma ideia política: o partido Whig e o

partido Tory. Na França, os primeiros partidos políticos formaram-se no decorrer da nova

ordem liberal implantada pela Revolução de 1789. A partir da Carta Constitucional outorgada

em 1814, deu-se a formação de dois poderosos partidos, o Conservador e o Liberal. Na

Alemanha, as primeiras formações partidárias datam da Revolução de 1848, também sob as

denominações Conservador e Liberal, nos moldes clássicos da política inglesa. Nos Estados

Unidos da América do Norte, o primeiro partido era denominado Partido Democrático, mais

tarde, em 1854, surgiu definitivamente o Partido Republicano8.

Para José Afonso da Silva9, a origem dos partidos políticos foi: em primeiro lugar, da criação de grupos parlamentares; depois, da aparição dos comitês eleitorais; finalmente, do

estabelecimento da ligação permanente entre esses dois elementos. A partir da universalização

do sufrágio, que requer entidade permanente que organize e coordene a vontade popular, os

partidos foram-se firmando como instituições políticas indispensáveis na estrutura do Estado

contemporâneo.

2.2 Características dos partidos políticos

Nildo Viana 10 apresenta quatro elementos que caracterizam os partidos políticos: a) organização burocrática;

b) objetivo de conquistar o poder do Estado;

c) ideologia da representação como base de sua busca de legitimação; e

d) expressão dos interesses de classe ou fração de classe.

Pode-se acrescentar, ainda, como característica dos partidos políticos a existência

de conteúdo programático, pois, considerando o partido como agregador de ideologias

políticas, é indispensável a existência programa devidamente registrado em Cartório e no

Tribunal Superior Eleitoral que inclua as principais questões políticas e sociais e as soluções

8 ALVIM, Frederico. A evolução histórica dos partidos políticos. Revista eletrônica Escola Judiciária

Eleitoral n. 6, ano 3. Publicada em 12 de novembro de 2013. Extraído de <http://www.tse.jus.br/institucional/escola-judiciaria-eleitoral/revistas-da-eje/artigos/revista-eletronica-eje-n.-6-ano-3/a-evolucao-historica-dos-partidos-politicos.> Acesso em abril de 2015.

9 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24 edição. São Paulo: Malheiros, 2005. p.

395.

(17)

que os partidários entendem adequadas. Pinto Ferreira11 leciona: “Sem dúvida, o programa é a identidade do partido.”

2.3 Natureza jurídica

Até a Constituição de 1988, os partidos políticos eram pessoas jurídicas de direito

público interno, com o objetivo de assegurar o interesse do regime democrático, a

autenticidade do sistema representativo e de defender os direitos humanos fundamentais

definidos na Constituição de 1946.

A Constituição Federal de 1988, porém, retirou dos partidos políticos

personalidade jurídica de direito público. O Art. 17 da Carta Magna disciplina que é livre a

criação, fusão, incorporação e a extinção de partidos políticos, resguardados a soberania

nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa

humana. Assegurou sua autonomia para definir a estrutura interna, organização e

funcionamento, bem como, manteve a exigência do caráter nacional da agremiação.

Determina a norma, ainda, que seus estatutos estabeleçam normas de fidelidade e disciplina

partidárias.

Importante ressaltar que os partidos políticos não são mais órgãos estatais ou

instituições de direito público, embora lhes seja constitucionalmente atribuída uma função

política, pois nenhum cidadão poderá ter acesso a cargo político eletivo sem a indispensável

filiação partidária, nos termos do Art. 14, §3º, V da Constituição Federal.

Pode-se afirmar que são essenciais ao regime democrático brasileiro, pois se

constituem o liame entre o poder político e a população, inclusive interagindo com a opinião

pública e as ações de governo, mas, também, por abrigarem as diversas ideologias existentes

em nossa sociedade plural, concretizando o pluralismo político previsto no Art. 1º, V da

Constituição Federal.

De maneira formal, o partido político está definido na Lei Orgânica dos Partidos

Políticos LOPP (Lei nº 9.096/95), no seu Art. 1°: “O partido político, pessoa jurídica de

direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do

sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição”.

Destinam-se, portanto, os partidos políticos, a assegurar a autenticidade do

sistema representativo e a defender os direitos fundamentais da Constituição.

(18)

A autenticidade do sistema representativo se dará, de maneira efetiva, através da

higidez e clareza de programas partidários e da conduta de seus membros em respeitá-los, sem

desvirtuá-los em razão de interesses pessoais. Nesta hipótese, haverá fraude ao sistema

representativo e, por consequência, ao sistema democrático. A conduta dos membros

partidários reflete diretamente no modelo social e em seus avanços ou retrocessos.

A natureza jurídica de direito privado concede aos partidos políticos a autonomia

necessária para definir sua estrutura interna, se autogerir e se autoadministrar, obedecidos os

ditames legais e constitucionais.

A organização formal de um partido é representada pelo estatuto partidário, o

qual, após obter personalidade jurídica na forma da lei civil, submete seu registro ao Tribunal

Superior Eleitoral. Ressalte-se que o partido é livre para fixar, no programa partidário, seus

objetivos políticos e para estabelecer, em seu estatuto, a sua estrutura interna, organização e

funcionamento, inclusive as obrigações de seus filiados.

Outro reflexo da natureza jurídica privada é quanto à competência jurisdicional

para conhecer de ações relativas aos casos que discutem estatutos, regras e procedimentos

partidários referentes à filiação, convenções e demais atos “interna corporis” dos partidos, sendo a competência da Justiça Comum Estadual, a qual foi reconhecida reiteradas vezes pelo

Superior Tribunal de Justiça.

CIVIL. CONVENÇÃO PARTIDÁRIA. CANDIDATOS. DESFILIAÇÃO. DESAVENÇAS ESTATUTÁRIAS. PERÍODO ANTERIOR AO PROCESSO ELEITORAL. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. 1 - Ajuizada a demanda por filiados a partido político que, durante convenção do diretório municipal, teriam sido desligados da agremiação, em período anterior ao processo eleitoral e em decorrência de assuntos interna corporis, relativos à apresentação de chapas (candidatos), a competência é da Justiça Comum Estadual. 2 - Conflito conhecido para declarar competente o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte, suscitado. (CC 105.387/RN, Rel. Min.FERNANDO GONÇALVES, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/11/2009, DJe 23/11/2009).

São previstas duas exceções à competência da Justiça Comum para querelas

relativas a partidos políticos: durante o período eleitoral (definido em Resolução do TSE)12 e em razão do estabelecido na Resolução nº 22.610/2007, que definiu competência da Justiça

Eleitoral para julgar representações para decretação de perda de mandato eletivo e para

justificação de desfiliação, cabendo aos Tribunais Regionais Eleitorais as decisões relativas a

mandatos municipais e estaduais, e ao Tribunal Superior Eleitoral para mandatos em nível

federal.

12 "A competência da Justiça eleitoral só se caracteriza após o início do procedimento eleitoral". Superior

(19)

2.4 Breve histórico sobre os partidos políticos no Brasil 13

A existência de partidos políticos no Brasil passou por várias fases distintas,

conforme a evolução ou involução democrática e social do Estado.

A primeira fase ocorreu na Monarquia, onde ocorreu o surgimento de dois

partidos políticos antagônicos: O Partido Conservador e o Partido Liberal, um favorável à

orientação do monarca e outro, adversário.

Posteriormente, com a abdicação de D. Pedro I, o País passou a ser governado

através de regenciais: a Regência Trina Provisória (1831 - 1832), a Regência Trina

Permanente (1832 - 1835), sendo que neste período surgiram três grupos partidários: o

Partido Conservador (chamados de chimangos), que apoiava o governo; o Partido Liberal

(conhecidos como farroupilhas), que pregava a Proclamação da República e a aplicação das

ideias liberais; e o Partido Restaurador, conhecidos como monarquistas ou caramurus, que

defendiam o retorno de D. Pedro I ao poder.

Através do Ato Adicional de 1835 à Constituição Imperial de 1824, Padre

Antônio Diogo Feijó foi eleito Regente Único (1835 - 1837), e em razão de forte oposição,

tentou criar, sem sucesso, o Partido Progressista, destinado a dar-lhe apoio político. Em

oposição a Feijó foi criado o Partido da Ordem, que deu origem, posteriormente, ao Partido

Conservador. Com a renúncia de Feijó, iniciou-se a Regência Una de Araújo Lima (1837 -

1840), tendo os seguidores de Feijó fundado o Partido Liberal.

Até o ano de 1862, os partidos Conservador e Liberal mantinham união e

dominaram o cenário partidário brasileiro. Em junho de 1864, alguns membros do Partido

Liberal se rebelaram contra o domínio do Partido Conservador, aliados a dissidentes do

Partido Conservador, criaram a Liga Progressista, ou Partido Liberal Progressista, passando a

estrutura política a contar com três partidos.

Em 1870, liberais históricos, radicais e republicanos fundam o Clube

Republicano, o qual se utilizava do jornal “A República” como instrumento de divulgação de

suas ideias. Posteriormente, a união política entre fazendeiros e elementos do Clube

Republicano fez surgir, 1873, o Partido Republicano Paulista (PRP). Alguns meses após é

13 Texto fundamentado nos artigos: http://www.tse.jus.br/hotSites/CatalogoPublicacoes/pdf/eleicoes-no-brasil-

uma-historia-de-500-anos-2014.pdf e

(20)

fundado o Partido Republicano Mineiro (PRM), em Ouro Preto (MG), e em 1882, em Porto

Alegre, surge o Partido Republicano Rio Grandense.

Com a Proclamação da República em 1889, ocorreu o fim da monarquia

parlamentar, tendo início a República e sendo extintos os Partidos Imperiais.

Na chamada Primeira República (1889 a 1930), sugiram os partidos estaduais,

como fortalecimento dos partidos políticos regionais, o Partido Republicano Mineiro (PRM) e

Partido Republicano Paulista (PRP) passaram a atuar com grande força no Congresso

Nacional, possuindo função nacional e originando a política do “café com leite”.

Em 1922 surge o Partido Comunista Brasileiro (PCB), agregando sindicalistas

revolucionários e intelectuais progressistas, sendo em junho do mesmo ano declarado ilegal.

Conquistando a legalidade em 1927, elege Azevedo Lima para a Câmara dos Deputados,

entretanto, em agosto do mesmo ano volta a ser considerado ilegal.

Em maio de 1925 são fundados o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido

Democrático, este formado por dissidentes do Partido Republicano Paulista (PRP).

Em 1932 foi promulgado o Decreto nº 21.076/32, que regulava as eleições e o

funcionamento dos Partidos Políticos, onde havia duas espécies de partidos: os permanentes,

que adquiriam personalidade jurídica nos termos do Art.18 do Código Civil de 1916, e os

provisórios ou efêmeros, que existiam apenas na época das eleições e não adquiriam

personalidade jurídica. Nesta fase, associações de classes equivaleriam a partidos políticos,

sendo permitida, ainda, a candidatura sem vinculação a agremiação partidária.

A Constituinte de 1934 manteve a estrutura de partidos estaduais, com elevado

grau de coronelismo, evidenciando-se os Partidos Progressistas Republicanos Mineiro e

Paulista, os quais, objetivando estender suas ações a nível nacional, deram origem à Aliança

Integralista Brasileira (AIB) e à Aliança Nacional Libertadora (ANL), sendo esta considerada

a terceira fase partidária brasileira.

Em 1937, o presidente Getúlio Vargas outorgou a Constituição Federal,

extinguindo os partidos políticos durante o chamado Estado Novo (1937-1945). Porém,

sofrendo intensa pressão interna a partir de 1943, especialmente em razão do Manifesto dos

Mineiros, exigindo liberdade de pensamento, no início de 1945, Getúlio Vargas reforma a

legislação partidária e eleitoral, criando dois partidos políticos por ele controlados: o Partido

Social Democrático (PSD), para apoiar o governo, posto que formado por pessoas que se

beneficiavam como centralismo do Estado Novo, Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), cujos

líderes eram dirigentes sindicais que controlavam verbas previdenciárias, compartilhadas com

(21)

partido nacional, a União Democrática Nacional (UDN), fundado em abril de 1945, e era

oposição à ditadura.

Em 1946, iniciou-se a redemocratização nacional com o período denominado de

“Quarta República”, tendo como característica a Constituição de 1946, que vedava a

organização, registro e funcionamento de qualquer partido político ou associação que

contrariasse o regime democrático, além da necessidade de filiação partidária para concorrer a

cargo eletivo.

A quinta fase partidária brasileira iniciou-se com o golpe militar de 1964, onde a

existência de partidos políticos foi novamente proibida pelo Ato Institucional nº. 2. Porém,

em 1966, foi instituído no Brasil o bipartidarismo com a criação de duas siglas: a Aliança

Renovadora Nacional ARENA, formada por apoiadores do governo, e o Movimento

Democrático Brasileiro, MDB, como oposição, mas sujeita ao regime militar de cassação de

mandatos.

Somente em 1979, a Lei n.º 6.767/79 reformulou vários dispositivos da Lei

Orgânica dos Partidos Políticos, instituindo o pluripartidarismo e facilitando a criação de

partidos nacionais, condicionando a atuação dos partidos políticos ao alcance de um mínimo

de base eleitoral. A Lei da Anistia colaborou com a nova fase partidária e provocou

dinamismo à política nacional, sendo transformada a ARENA em Partido Democrático Social

(PDS), ainda em apoio ao governo; O MDB passou a chamar-se Partido do Movimento

Democrático Brasileiro (PMDB), sendo também recriado o Partido Trabalhista Brasileiro

(PTB), fundado o Partido Democrático Trabalhista (PDT) e por fim, o Partido dos

Trabalhadores (PT), formado pela esquerda e lideranças sindicalistas após as greves de 1978 e

1979. O PCB e o PC do B foram legalizados, posto que já existiam na ilegalidade.

Em 1985, dissidentes do PDS fundam o Partido da Frente Liberal (PFL), o qual,

em 2007, deu origem aos Democratas (DEM)

Em 1988, dissidentes do PMDB, principalmente dos estados de São Paulo e

Minas Gerais, criaram o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

Atualmente, existem 32 partidos políticos registrados no Brasil, conforme o sítio

do Tribunal Superior Eleitoral.14

14 Extraído de <http://www.tse.jus.br/partidos/partidos-politicos/registrados-no-tse>; acesso em 18 de março de

(22)

2.5 Partidos políticos na Constituição Federal

A Constituição Federal de 1988 prevê como um de seus fundamentos o pluralismo

político (Art.. 1º, V), reforçando a opção pelo sistema multipartidarismo. A Carta Magna trata

dos partidos políticos no Título II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo V. A

tipologia do assunto revela a importância que o constituinte atribuiu aos partidos políticos,

inseridos no rol do Direitos e Garantiras Fundamentais, considerado o mais importante título

constitucional.

O Art. 5º, LXX, “a” da Constituição Federal assegura que somente o partido

político com representação no Congresso nacional tem legitimidade ativa para impetrar o

Mandado de Segurança Coletivo.

O Art. 17 da CF/88 estabelece:

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: I - caráter nacional;

II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes;

III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;

IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.

§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 52, de 2006)

§ 2º - Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.

§ 3º - Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei.

§ 4º - É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.

Interessante mencionar que o inciso III do Art.17 da Constituição Federal faz

menção à Prestação de Contas pelos partidos à Justiça Eleitoral. O Título III da Lei dos

Partidos Políticos (Lei nº 9.096/95) traz essas normas. A efetivação da prestação de contas

pelos partidos políticos é fundamental à transparência e à legalidade dos atos da agremiação.

Inquestionável a relevante importância dos partidos políticos para o regime

democrático brasileiro, já que é expressiva e notável a liberdade de pensamento, ideias e

(23)

2.6 Princípios constitucionais e partidos políticos

Nas palavras de Willis Santiago Guerra Filho 15:

Os princípios devem ser entendidos como indicadores de uma opção pelo favorecimento de determinado valor, a ser levada em conta na apreciação jurídica de uma infinidade de fatos e situações possíveis. (...) Os princípios jurídicos fundamentais, dotados também de dimensão ética e política, apontam a direção que se deve seguir para tratar de qualquer ocorrência de acordo com o direito em vigor.

Princípios constitucionais são definidos por Luís Roberto Barroso16 como:

Os princípios constitucionais são as normas eleitas pelo constituinte como fundamentos ou qualificações essenciais da ordem jurídica que institui. A atividade de interpretação da constituição deve começar pela identificação do princípio maior que rege o tema a ser apreciado, descendo do mais genérico ao mais específico, até chegar à formulação da regra concreta que vai reger a espécie [...] Em toda ordem jurídica existem valores superiores e diretrizes fundamentais que ‘costuram’ suas diferentes partes. Os princípios constitucionais consubstanciam as premissas básicas de uma dada ordem jurídica, irradiando-se por todo o sistema. Eles indicam o ponto de partida e os caminhos a serem percorridos.

Como afirma Oliveira:

...sendo da própria essência da Constituição a organização do poder político, não se constata surpresa em encontrar as normas eleitorais, seja quanto ao exercício da capacidade eleitoral ativa, seja quanto ao exercício da capacidade eleitoral passiva, dispostas na Lei Maior.

E continua o autor: “Assim, é a Constituição o locus próprio onde estão disciplinadas as condições de alistabilidade, elegibilidade, inelegibilidade, perda e suspensão

de direitos políticos, etc., formando o que se denomina de Direito Constitucional Eleitoral”.

Pode-se relacionar, portanto, alguns princípios constitucionais e sua vinculação

com partidos políticos, especialmente relacionados no Art. 17 da Carta Magna.

2.6.1 Princípio da autonomia partidária

Obedecidas as disposições constitucionais e legais, é livre a criação, fusão,

incorporação e extinção dos partidos políticos, podendo se estruturarem internamente da

maneira que entenderem adequada, devendo estabelecer normas de disciplina interna e de

fidelidade partidária. Apesar de possuírem caráter nacional, os partidos políticos podem

escolher livremente suas coligações locais sem vinculação entre candidaturas de âmbito

15 GUERRA FILHO, Willis Santiago. Hermenêutica constitucional, direitos fundamentais e princípio da

proporcionalidade In: BOUCAULT, Carlos E. de Abreu; RODRIGUEZ, José Rodrigo (Org.). Hermenêutica

plural. São Paulo: M. Fontes, 2002. p 17.

16 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da constituição: fundamentos de uma dogmática

(24)

nacional, tendo em vista a extinção da verticalização com a EC nº 52/2006. Apesar da

autonomia, ocorre vinculação dos partidos políticos à Justiça Eleitoral, tais como,

obrigatoriedade da prestação anual de contas partidárias e das campanhas eleitorais,

encaminhamento de rol de filiados, dentre outros.

2.6.2 Princípio da soberania nacional

Paulo Bonavides17 afirma que “soberania refere-se à entidade que não conhece

superior na ordem externa, nem igual na ordem interna”.

A soberania de um país, em linhas gerais, diz respeito à sua autonomia, ao poder

político e de decisão dentro de seu respectivo território nacional, principalmente no tocante à

defesa dos interesses nacionais. Nesse sentido, cabe ao Estado nacional o direito à sua

autodeterminação em nome de uma nação, de um povo.18 A existência de soberania nacional

está vinculada ao próprio Estado. Por essas razões, é vedada a existência de partido político

que tenha como objetivo ofender a soberania nacional, assim como, é vedado o recebimento

de recursos financeiros de entidades e de governos estrangeiros, de subordinação a estes e de

utilização de organização paramilitar, aspectos que se revelam o vínculo entre a soberania

nacional e os partidos políticos.

2.6.3 Princípio do regime democrático

Nos termos da Constituição Federal, a República Federativa do Brasil é um

Estado Democrático de Direito. Significa que o regime político brasileiro é o democrático.19

Democracia, na célebre definição de Abraham Lincoln é o “governo do povo, pelo povo e para o povo”.

O modelo adotado pela Constituição é a democracia participativa, através da qual

o povo poderá exercer seu poder soberano, do qual origina o Poder do Estado, diretamente

(através das maneiras previstas na Carta, por exemplo, iniciativa popular) ou por

17 BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 19 ed. São Paulo: Malheiros, 2012. P. 550.

18 Extraído de <http://www.brasilescola.com/sociologia/soberania-nacional-ordem-mundial.htm> acesso em 18

de março de 2015, às 16:40.

19 Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do

Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...]

(25)

representação, através de mandatários escolhidos periodicamente pelo povo em eleições

diretas e periódicas, exercerão o poder. 20

Leciona William Marques Júnior21 que a democracia representativa se encontra em crise de legitimidade, sendo necessária nova leitura constitucional e nova prática política

para caracterizá-la, também, como democracia participativa, proporcionando a igualdade de

oportunidades de participação de grupos, povos e minorias historicamente alijados, tais como

indígenas, negros e homossexuais, como partícipes do processo de decisão das políticas

públicas estatais.

Sobre o sistema híbrido adotado pela CF/88 ressalte-se que o Supremo Tribunal Federal reconhece que, para além das modalidades explícitas, mas espasmódicas, de democracia direta - o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular (art. 14) - a Constituição da República aventa oportunidades tópicas de participação popular na administração pública (v.g., art. 5º, XXXVIII e LXXIII; art. 29, XII e XIII; art. 37 , § 3º; art. 74, § 2º; art. 187; art. 194, § único, VII; art. 204, II; art. 206, VI; art. 224). Nesse sentido, observa-se que a democracia participativa delineada pela ordem jurídico-constitucional, funda-se na generalização e profusão das vias de participação dos cidadãos nos provimentos estatais, em que pese a adoção majoritária do sistema representativo, o que implica no estabelecimento de limites ao exercício da democracia participativa, uma vez que determinadas matérias devem ficar sob a deliberação oriunda da representação parlamentar.

E continua o autor:

A democracia representativa e a democracia participativa não são antitéticas, ao revés, complementam-se. Certas matérias coadunam-se com a deliberação oriunda do processo de representação parlamentar, como, por exemplo, a elaboração de um Código de Processo Civil ante a especificidade técnica de seu conteúdo, ao passo que outras matérias, para além do plano normativo, repercutem diretamente na vida dos cidadãos, como ocorre em caso de uma Lei de Águas (declarada pela ONU como direito humano), fato este que justifica a consulta popular.

Manifestando-se acerca da extensão da democracia participativa, decidiu o

Supremo Tribunal Federal na ADI nº 244/RJ:

Polícia Civil: subordinação ao Governador do Estado e competência deste para prover os cargos de sua estrutura administrativa: inconstitucionalidade de normas da Constituição do Estado do Rio de Janeiro (atual art. 183, § 4º, b e c), que subordinam a nomeação dos Delegados de Polícia à escolha, entre os delegados de carreira, ao "voto unitário residencial" da população do município; sua recondução, a lista tríplice apresentada pela Superintendência da Polícia Civil, e sua destituição a decisão de Conselho Comunitário de Defesa Social do município respectivo. 1.

20 Art. 14 CF. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com igual

valor para todos, e, nos termos da lei, mediante: I – plebiscito;

II – referendo;

III – iniciativa popular. [...]

21JÚNIOR, William Paiva Marques. Notas em torno do Valor Democrático no Novo Constitucionalismo

Democrático Latino-Americano. Revista da Faculdade de Direito da UFC, v. 31, p. 205-252, Fortaleza, jan/jun, 2014.

(26)

Além das modalidades explícitas, mas espasmódicas, de democracia direta - o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular (art. 14) - a Constituição da República aventa oportunidades tópicas de participação popular na administração pública (v.g., art. 5º, XXXVIII e LXXIII; art. 29, XII e XIII; art. 37 , § 3º; art. 74, § 2º; art. 187; art. 194, § único, VII; art. 204, II; art. 206, VI; art. 224). 2. A Constituição não abriu ensanchas, contudo, à interferência popular na gestão da segurança pública: ao contrário, primou o texto fundamental por sublinhar que os seus organismos - as polícias e corpos de bombeiros militares, assim como as polícias civis, subordinam-se aos Governadores. 3. Por outro lado, dado o subordinam-seu caráter censitário, a questionada eleição da autoridade policial é só aparentemente democrática: a redução do corpo eleitoral aos contribuintes do IPTU - proprietários ou locatários formais de imóveis regulares - dele tenderia a subtrair precisamente os sujeitos passivos da endêmica violência policial urbana, a população das áreas periféricas das grandes cidades , nascidas, na normalidade dos casos, dos loteamentos clandestinos ainda não alcançados pelo cadastramento imobiliário municipal. (STF - ADI: 244 RJ , Relator: Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Data de Julgamento: 11/09/2002, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 31-10-2002 PP-00019 EMENT VOL-02089-01 PP-00001)”

Para a existência de regime democrático é essencial a existência de partidos

políticos, e vice-versa. O conflito de ideias entre diversos partidos políticos e a possibilidade

de alternância do poder promove a valorização do Estado Democrático de Direito.

Ao declarar o Brasil como Estado Democrático de Direito, expressando que todo

o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nas

hipóteses previstas, a Constituição Federal estabelece, também, a indispensabilidade da

existência de partidos políticos, em pluralismo, tornando-os instrumentos preservadores do

regime democrático (Art. 1º CF/88).

2.6.4 Princípio do pluripartidarismo

O pluralismo político se constitui como um dos fundamentos da República

brasileira, sendo indispensável à democracia. Optando a Constituição Federal pela liberdade e

diversidade de ideias, surge o pluripartidarismo. A Constituição expressamente veda a

possibilidade de monopartidarismo, próprio de regimes autoritários, e eleva o princípio da

liberdade de expressão a direito fundamental.

Em relação à quantidade de partidos, a própria atividade política se encarregará da

durabilidade dos mesmos. Haverá, ainda, a possibilidade de fusão, incorporação ou extinção

da agremiação. A coexistência de partidos políticos, com ideologias semelhantes ou

antagônicas, reforça a democracia, especialmente por emprestar às minorias políticas

possibilidade de influência política que não possuíam.

O titular do Poder Executivo, para formar bancada de apoio no Legislativo, tem

(27)

aspecto positivo, temos maior representação partidária no governo. No aspecto negativo, pode

ocorrer dificuldade na governança pela possibilidade de chantagens como instrumento de

permanência na base aliada.

2.6.5 Princípio da moralidade eleitoral

A Constituição Federal, em seu art. 14, § 9º, consagra o princípio da moralidade

eleitoral:

Art. 14 -

§ 9º - Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou abuso de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Observa José Jairo Gomes22 que esse princípio conduz a ética para dentro do jogo político. Significa dizer que o mandato obtido por meio de práticas ilícitas, antiéticas, imorais,

não goza de legitimidade. Mais que isso, implica que o mandato político deve ser sempre

conquistado e exercido dentro dos padrões éticos aceitos pela civilização.

Objetivando dar efetividade ao texto constitucional, especialmente ante a inércia

do Legislativo em editar a lei complementar prevista e diante de candidaturas sabidamente

nocivas à moralidade pública, Juízes e Tribunais Eleitorais passaram a indeferir registros de

candidaturas de pessoas que respondiam a processos por desvio de verbas públicas, por atos

de improbidade, por ações de abuso de poder econômico, por processos criminais, dentre

outros, ou seja, de pessoas cuja vida pregressa não indicava serem moralmente dignas de

exercerem mandato eletivo. Os candidatos recorriam alegando que não havia lei

complementar regulando o artigo, assim como, não havia decisão condenatória contra os

mesmos, portanto, o indeferimento do registro de candidatura ofendia os princípios

constitucionais da legalidade, do devido processo legal e da presunção do estado de inocência.

Analisando a incidência do artigo constitucional sobre os casos concretos, findou

o Tribunal Superior Eleitoral por editar a Súmula nº 13:

Súmula nº 13. Não é autoaplicável o § 9º, art. 14, da Constituição, com a redação da Emenda Constitucional de Revisão nº 4/94.

(28)

Entendeu o TSE, portanto, que referido dispositivo constitucional necessita de

norma infraconstitucional reguladora.

A Lei Complementar nº 64/90, por meio do Art. 1º, regulamenta casos de

inelegibilidade baseados no princípio da moralidade. Com as alterações trazidas pela Lei

Complementar nº 134/10, conhecida como Lei da Ficha Limpa, oriunda de iniciativa popular,

houve maior efetividade do texto constitucional, pois torna inelegível por oito anos um

candidato que tiver o mandato cassado, renunciar para evitar a cassação ou for condenado por

decisão de órgão colegiado, mesmo que ainda exista a possibilidade de recursos.

Porém, pode-se citar algumas condutas relativas a partidos políticos e a

mandatários que ofendem a moralidade eleitoral, a seguir.

2.6.5.1 Ausência de definição e de obediência ao programa partidário

Através do programa partidário é que se tem conhecimento das posições políticas

de seus membros, dos objetivos das ações e do modelo de Estado que desejam. É essencial à

democracia que os partidos funcionem em torno de programas definidos. Destina o programa

partidário, ainda, a arregimentar novos integrantes. Não se concebe moralmente que filiado a

partido político não possua afinidade com as orientações programáticas estabelecidas, as quais

devem ser bem definidas. Infelizmente, há programas partidários sem explicitação clara da

maneira como serão atingidas suas intenções políticas, gerando liberdade para seus

parlamentares decidirem as questões políticas de maneira ampla. Há, ainda, a possibilidade de

aproveitadores se filiarem ao partido político apenas para utilizar a legenda para alcançar o

cargo que almeja, não possuindo qualquer afinidade com as diretrizes partidárias.

2.6.5.2 Desvirtuação da busca pelo poder

Os partidos políticos exercem função importante na democracia, pois apresentam

aos eleitores suas propostas para enfrentar e solucionar as necessidades sociais e políticas do

Estado, apresentando, ainda, os candidatos que se propõem a concretizar as ideias após o

alcance do poder. O objetivo de alcançar o poder do Estado se apresenta como uma das

características dos partidos políticos e das aspirações daqueles que se candidatam a cargos

eletivos. A rigor, essa característica não é exclusiva dos partidos políticos, pois grupos

criminosos também desejam alcançar o poder. Mas o que diferenciará um e outro é a

(29)

No Brasil, a busca pelo poder se apresenta como um dos principais aspectos

negativos do sistema partidário, pois grupos econômicos exercem pressão sobre os partidos

políticos e sobre parlamentares. A necessidade de recursos financeiros oriundos da iniciativa

privada para financiamento das campanhas eleitorais finda por vincular a futura ação dos

eleitos aos interesses daqueles que financiaram sua campanha Surgem, os desvios de conduta

caracterizados no ordenamento jurídico como crimes eleitorais ou comuns e atos de

improbidade administrativa.

Após a eleição, os grupos financiadores exercem pressão sobre os eleitos,

exigindo as atitudes não previstas no programa partidário ou em promessas de campanha, mas

aquelas que melhor se adequarem aos interesses dos financiadores da campanha, muitas vezes

com a utilização de “Caixa Dois”, que são as doações não contabilizadas perante a Justiça

Eleitoral. A prática eleitoral e política brasileira, em regra, são dominadas pela corrupção

financeira em detrimento dos interesses públicos.

2.6.5.3 Corrupção eleitoral

A prática do crime de corrupção eleitoral ainda é comum no período de eleições,

especialmente nas regiões menos desenvolvidas economicamente e culturalmente, sendo

causa, além da condenação na ação criminal, de impugnação do mandato eletivo através da

ação própria, conforme Art. 14, §10 da Constituição Federal de 88.

Dispõe o texto do Art. 299 do Código Eleitoral: “Dar, oferecer, prometer, solicitar

ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter

ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita”.

Há previsão no artigo tanto da corrupção ativa, praticada pelo candidato ou por

terceiro a seu mando, quanto a corrupção passiva, praticada pelo eleitor, sendo este, muitas

vezes, responsável pelo delito ao exigir vantagens do candidato em troca do voto.

Citada conduta, além de ofender a moralidade eleitoral, ofende a legitimidade das

eleições e ameaça a probidade administrativa em razão do político eleito procurar recuperar os

recursos gastos.

José Jairo Gomes23 afirma:

O resultado disso é o exercício ilegítimo dos mandatos (quem se elege à base da compra de votos não tem legitimidade para a representação) e o comprometimento

(30)

da própria administração pública, à consideração de que o “eleito” já deu sinais de desrespeito à lei e aos administrados.

As condenações por crime de corrupção eleitoral ainda são escassas por diversas

razões, tais como, falta de provas (o eleitor beneficiado nega a conduta para também não ser

condenado), falta de estrutura para fiscalização, pois o crime ocorre, em regra, nas

madrugadas que antecedem o pleito.

A jurisprudência dos Tribunais Eleitorais também dificultava as condenações,

pois havia o entendimento de que era necessário pedido expresso de voto para configurar o

crime. A jurisprudência atual não exige pedido expresso de voto, mas a prova da finalidade de

obter o voto ou a abstenção (TSE ED-REspe nº 58245, de 2.3.2011).

2.6.5.4 Estelionato eleitoral

A principal característica do modelo de Estado Moderno - pós Revolução

Francesa é o reconhecimento da igualdade entre os homens, ora cidadãos, e a consciência de

que o povo é o titular do poder do estado, o exercendo através do direito ao voto.

A realização de eleições livres, com mandatos temporários, e a possibilidade de

alternância do poder são inerentes ao Estado Democrático de Direito, sendo o processo

eleitoral o instrumento entre a vontade do eleitor e o eleito. O resultado das eleições, portanto,

nos termos do sistema representativo, é o elemento que legitima a atuação dos eleitos.

A escolha dos candidatos pelos eleitores ocorre, em tese, em razão da afinidade

entre as ideias apresentadas e as convicções do eleitor, constituindo-se o candidato eleito

representante das ideias apresentadas. Portanto, é moralmente impositiva a obediência pelos

candidatos eleitos das ideias apresentadas aos eleitores extraídas do conteúdo programático

ideológico do partido político a que está filiado.

Pode-se questionar, portanto: após a posse, o candidato eleito assume posição de

total independência em relação aos eleitores e às ideias apresentadas? O representante possui

plena liberdade decisória, pois age em nome de toda a população, não apenas em nome

daqueles que o elegeram? A vontade do eleitor fica restrita ao momento da escolha de seu

candidato?

A atuação esperada do representante eleito e sua vinculação à vontade do conjunto

(31)

Direito. A distorção entre as promessas de campanha, as diretrizes de seu partido, e o

executado no curso do mandato deu origem à expressão “estelionato eleitoral”.24

2.6.5.5 Voto nominal versus Voto partidário

Diante de todo contexto político-social atual é notável que o voto nominal que é o

concedido ao candidato e não ao partido prevalece no ordenamento pol. No momento da

escolha o que prevalece é a pessoa do candidato e não o partido em si. Isso pode ser

comprovado pelo número de deputados reconhecidos nacionalmente, tais como os casos do

Deputado Federal paulista Tiririca e do Senador fluminense Romário, dentre outros.

Carina de Castro Quirino e Pedro Federici Araújo, em trabalho intitulado de

Fidelidade Partidária: A Vontade da Constituição, do Supremo Tribunal Federal e do Povo25,

ressaltam que a prevalência do voto nominal se deve a dois fatores: “crises de representatividade do Poder Legislativo”, devido aos inúmeros escândalos de corrupção e “a frágil mobilização ideológica partidária”. Todo esse cenário faz com que o voto nominal seja a “melhor” opção para o eleitor.

É questionável a ideologia partidária que candidatos famosos, conhecidos pelo

grande público, carregam consigo. O então candidato Tiririca, fez de sua campanha um

verdadeiro teatro. As piadas e ironias eram o seu carro chefe, sendo fundamentais para o

elegerem com um grande número de votos.

A candidatura de Tiririca é apenas um exemplo de candidatos que não divulgam

as ideologias do partido pelo qual são filiados e são eleitos unicamente por serem figuras

públicas, no qual o eleitor tem algum grau de afeição, admiração ou simples conhecimento.

Por outro lado, esse tipo de candidato é muitas vezes disputado pelos partidos

políticos, pois o grande número de votos obtidos pelo mesmo contribui para atingir o

quociente partidário, aumentando o número de eleitos do partido.

24 CAMPELO, DanielaConceito da Ciência Política utilizado para descrever os casos de candidatos eleitos com

uma plataforma ideológica que, após a eleição, adotam um programa de signo ideológico contrário. The

Politics of Financial Booms and Crises, Evidence From Latin Americ. Princeton University, Princeton, NJ,

USA, publicado em Comparativa Political Studies Sage Journal, em Fevereiro de 2014, vol. 47. Extraído de < http://cps.sagepub.com/content/47/2/26> em 16 de março de 2015, às 21:40 horas.

25 QUIRINO, Carina de Castro; ARAÚJO, Pedro Federici. Fidelidade Partidária: A vontade da Constituição,

do Supremo Tribunal Federal e do povo. Disponível em: <http:www.publicadireito.com.br/artigos/>.

Imagem

TABELA 1. RAZÃO TEMAS E JULGADOS

Referências

Documentos relacionados

Padr ˜oes adotados Est ´agio atual do projeto Tend ˆencias `a seguir. 3

com Lock-up O montante equivalente a, no mínimo, 1% (um por cento) do total das Cotas (parte das Cotas da Oferta Não Institucional) e, a exclusivo critério da GTIS e

15.1.3 Ação de perda do mandato eletivo por desfiliação partidária sem justa

A infidelidade partidária de Valdir Gonçalves Pena por desfiliação sem justa causa ... Infidelidade partidária em virtude de desfiliação sem justa causa cometida por José

Essa dimensão da fidelidade não se confunde com aquela, ultimamente reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Tribunal Supe- rior Eleitoral, em função de mutação de

Depois de afirmar, dois meses antes (POR, 1953), a necessidade de construir um “instrumento” para uma luta que pudesse resolver “as tarefas democrático-burguesas,

Órgão de Direção Partidária Regional, definitivo ou provisório, transfere-se, exclusivamente, para a Direção Partidária Nacional a competência para gerir o partido

Os alunos autopropostos do ensino básico não progridem e obtêm a menção de Não Aprovado se estiverem nas condições referidas nas alíneas a) e b) anteriores. A