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DECISÃO. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Ana Helena Cardoso Coutinho Cronemberger

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Academic year: 2021

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DECISÃO Processo Digital nº: 1000738-24.2016.8.26.0579 Classe - Assunto Ação Civil Pública - Fauna

Requerente: Associação de Proteção Animal Alma de Vira Lata

Requerido: PREFEITURA MUNICIPAL DE LAGOINHA

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Ana Helena Cardoso Coutinho Cronemberger

Vistos.

Trata-se de Ação Civil Pública com pedido de Tutela de Urgência, ajuizada pela Associação de Proteção Animal Alma Vira Lata contra o Município de Lagoinha, visando a concessão de liminar para que o réu se abstenha de realizar provas com animais no evento denominado "XXVII Expolag – Exposição Agropecuária, Torneio Leiteiro, Rodeio e Shows”, previsto para o período compreendido entre os dias 18 a 21 de agosto do corrente ano, a realizar-se- á no Recinto de Exposições Benedito Viriato de Campos, localizado na Rua Capitão João Felisbino nº 08, centro, na cidade de Lagoinha, desta Comarca, ou de utilizar sedéns de qualquer tipo, mesmo que confeccionados em material macio, cordas americanas ou similares, peiteiras, sinos, esporas de quaisquer tipos, sejam pontiagudas ou rombas (não pontiagudas), chicotes, freios, bridãos e quaisquer outros subterfúgios capazes de causar sofrimentos físicos e/ou psíquico aos animais e/ou alterar o comportamento dos mesmos, de realizar quaisquer modalidades de prova de laço e provas de derrubada, tais como prova de laço em bezerro, prova de laço em duplas, bulldog, pega do garrote, vaquejadas e quaisquer outras modalidades que consistam em laçar e/ou derrubar animais, visto que tais modalidades proporcionam um risco muito alto de óbito e lesões graves aos animais, de fazer uso de meios que visem estimular a inquietação nos animais, como choques elétricos e/ou mecânicos, sob pena de multa diária e multa adicional por cada animal que vier a ser utilizado no evento a ser fixada por este juízo, sem prejuízo de outras sanções cabíveis e da apreensão dos aparelhos utilizados nas provas e dos próprios animais submetidos à crueldade (fls. 01/41).

A inicial veio instruída com documentos (fls. 42/259).

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Manifestação Ministerial às fls. 273/274.

Às fls. 285/295, informações prestadas pelo réu, acompanhada de documentos (fls.

296/352).

É no essencial o relatório.

Decido.

Inicialmente afasto a preliminar arguida pela Municipalidade, pois não há que se falar em litispendência, já que a causa de pedir do processo nº 1000736-54.2016.8.26.0579 é diversa da presente. No processo nº 1000736-54.2016.8.26.0579 a causa de pedir é a suposta ausência de requisitos legais para a realização do evento em área urbana. Por sua vez, os fatos e fundamentos jurídicos do presente processo são maus tratos a animais utilizados no rodeio.

Com bem mencionado pelo DD. Representante do Ministério Público (fls.

273/274), a matéria em debate é bastante conhecida.

Todavia, a tutela de urgência pretendida comporta parcial acolhimento.

Para o deferimento da tutela de urgência específica prevista na Lei de Ação Civil Pública (art. 12 da Lei 7.347/85), necessária a comprovação do fumus boni iuris e do periculum in mora.

O fumus boni iuris decorre da necessidade de adoção de medidas que impeçam a prática de atividades cruéis, que acarretem sofrimento físico ou mental a animais, como sabidamente ocorre nas provas de laço em dupla, consistentes em derrubadas reiteradas e violentas de bovinos ao solo.

Não obstante a Lei nº 10.519/02 reconheça a possibilidade de se realizar rodeios, dispõe ela expressamente no artigo 4º que: "Os apetrechos técnicos utilizados nas montarias, bem

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como as características do arreamento, não poderão causar injúrias ou ferimentos aos animais e devem obedecer às normas estabelecidas pela entidade representativa do rodeio, seguindo as regras internacionalmente aceitas". g.n.).

Como se vê, o dispositivo supracitado obsta a prática de atos tendentes a infligir sofrimento a animais, despontando-se, destarte, nítida a presença do fumus boni iuris.

O periculum in mora verifica-se pela eminente realização do evento denominado

“XXVII Expolag – Exposição Agropecuária, Torneio Leiteiro, Rodeio e Shows”, previsto para ocorrer nos dias 18 a 21 de agosto do corrente ano, na cidade de Lagoinha, desta Comarca, havendo notícia da realização de provas de rodeio, laço em dupla, e outras modalidades que poderá causar danos irreparáveis ou de difícil reparação aos animais utilizados em tais provas.

É certo que o lazer é essencial ao desenvolvimento saudável da pessoa humana. No entanto, sua efetivação não pode se dar em detrimento do bem-estar de outros seres igualmente dotados de sensibilidade, causando-lhes sofrimento e, por vezes, até mesmo a morte. Conforme exposto pela autora, a realização da prova do laço submeteria os animais a sofrimento, angústia, stress, fraturas, etc. Além disso, antes de ingressarem na arena, são submetidos a choques, tapas, e tem suas caudas torcidas e orelhas puxadas, para que, ao abrirem a porteira, corram em desespero.

Corroborando com tal entendimento, a jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo vem reconhecendo a ilegalidade e a inconstitucionalidade desses eventos. Nesse sentido:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Bauru. Obrigação de não fazer. Rodeio. Provas de laço.

Maus tratos aos bezerros. LE n° 10.359/99 de 30-8-1999. LF n°10.519/02 de 17-7-2002. Montaria e provas de laço. -1. Rodeio. Provas de laço. As provas de laço, usuais em rodeio, são - em princípio - lícitas se atendidos os requisitos da Res. SAA-18/98, da LE n° 10.359/99 e da LF n° 10.519/02. A jurisprudência, no entanto, dando prevalência ao princípio da precaução e à proteção inscrita no art.

225 da Constituição Federal, se inclinou por entender que as provas de laço descritas na inicial ('calf roping', 'bulldog', 'bareback', 'team roping' ou, em vernáculo, laçada de bezerro, laçada dupla, pega garrote e vaquejada), por implicar em tração na região cervical e cauda e na derrubada dos bezerros, causa dor e sofrimento aos animais. Tais atividades, em consequência, são vedadas. - 2. Ação civil pública. Extensão da decisão. A sentença em ação civil pública faz coisa

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julgada 'erga omnes', nos limites da competência do órgão prolator; a especial natureza corrobora o interesse recursal, apesar de encerrados os eventos mencionados na inicial. Decisão que vincula a ré e os demais promotores de eventos do tipo na Comarca de Bauru, dispensando a propositura de ação igual a cada um deles. - Sentença de improcedência. Recurso do Ministério Público provido (Apelação nº 0164600- 97.2007.8.26.0000, Rel. Des. Torres de Carvalho, Comarca de Bauru, julgado em 10.07.2008).

Percebe-se, portanto, a ilegalidade da prova de laço em dupla.

Contudo, a medida não comporta deferimento quanto ao pedido de abstenção de realização de provas similares, posto que a genericidade do pedido impede a determinação da ordem, podendo causar sérios entraves ao cumprimento da medida liminar e até mesmo inviabilizar a realização do evento.

Ante o exposto, nos termos do artigo 11 da Lei 7.347/85, DEFIRO, EM PARTE, O PEDIDO LIMINAR pleiteado pela Associação de Proteção Animal Alma Vira Lata, para determinar que o requerido Município de Lagoinha se abstenha de realizar, permitir ou autorizar (cassando eventual autorização e/ou permissão já concedida), nesta Comarca, rodeio que faça uso de todo e qualquer subterfúgio capaz de provocar nos animais sofrimento atroz e desnecessário, como sedém ou objetos pontiagudos ou cortantes ou causadores de lesões, peiteiras, sinos, choques elétrico ou mecânico e esporas de qualquer tipo, impedindo, ainda, a realização de provas tais como calf roping, team roping, bulldogging e vaquejadas, ou outras que impliquem variações no que tange às técnicas de laçada, lançamento ou agarramento de animais, bem como outras provas congêneres que envolvam maus-tratos e crueldade a animais, bem como que tome medidas efetivas para coibir a realização de tais práticas, no evento denominado “XXVII Expolag – Exposição Agropecuária, Torneio Leiteiro, Rodeio e Shows”, previsto para o período compreendido entre os dias 18 a 21 de agosto do corrente ano, na cidade de Lagoinha, desta Comarca, sob pena de multa diária de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) para o caso de descumprimento da presente decisão judicial, além de multa adicional de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por animal utilizado nas provas acima descritas, sem prejuízo de responsabilização pessoal do Chefe do Executivo por eventuais danos ao Erário, a ser apurada em competente ação de improbidade administrativa.

Comunique-se, imediatamente, ao comando da Polícia Militar e à Delegacia de

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Polícia da cidade de Lagoinha, para que juntos fiscalizem o cumprimento da ordem e noticiem ao Juízo eventuais violações.

No mais, cite-se o réu, na pessoa do Sr. Prefeito Municipal, intimando-o a ainda para que faça cumprir a presente decisão, adotando todas as providências necessárias, sob pena das cominações legais.

A presente decisão, assinada digitalmente e devidamente instruída, servirá como carta, mandado ou ofício, acompanhada de senha para acesso ao processo digital, que contém a integra da petição inicial e dos documentos. Tratando-se de processo eletrônico, em prestígio às regras fundamentais dos artigos 4º e 6º do CPC, fica vedado o exercício da faculdade prevista no artigo 340 do CPC.

Intime-se e cumpra-se.

São Luiz do Paraitinga, 15 de agosto de 2016.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

Referências

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