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a prova de Língua Portuguesa da FUVEST 2ª fase

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Texto

(1)

a prova de

Língua Portuguesa

da

FUVEST

2ª fase - 2001

(2)

É trabalho pioneiro.

Prestação de serviços com tradição e confiabilidade.

Construtivo, procura colaborar com as Bancas Examinadoras em sua tarefa árdua de não cometer injustiças.

Didático, mais do que um simples gabarito, auxilia o estudan- te em seu processo de aprendizagem.

A segunda fase da Fuvest consegue, de forma prática, propor conjuntos distintos de provas adequadas às carreiras. Assim, por exemplo, o candidato a Engenharia da Escola Politécnica USP faz, na segunda fase, provas de Língua Portuguesa (40 pontos), Matemática (40 pontos), Física (40 pontos) e Quí- mica (40 pontos). Já aquele que pretende ingressar na Facul- dade de Direito USP fará somente três provas: Língua Portu- guesa (80 pontos), História (40 pontos) e Geografia (40 pontos).

Por sua vez, o candidato a Medicina terá provas de Língua Por- tuguesa (40 pontos), Biologia (40 pontos), Física (40 pontos) e Química (40 pontos).

Com esse critério, embora o conjunto de provas varie de uma carreira para outra, o total de pontos possível não excede a 160, que será somado à pontuação obtida pelos candidatos na primeira fase, para efeito de classificação final.

Vale lembrar que a prova de Língua Portuguesa é obrigatória a todas as carreiras.

AngloO Resolve

A Prova de Língua Portuguesa da Segunda Fase da Fuvest

(3)

Língua Portuguesa

Dinheiro encontrado no lixo

Organizados numa cooperativa em Curitiba, catadores de lixo li- vraram-se dos intermediários e conseguem ganhar por mês, em média, R$600,00 — o salário inicial de uma professora de escola pública em São Paulo.

O negócio prosperou porque está em Curitiba, cidade conhecida dentro e fora do país pelo sucesso na reciclagem do lixo.

(Folha de S. Paulo, 22/09/00) Quando se lê esta notícia, nota-se que seu título tem duplo sentido.

a) Quais são os dois sentidos do título?

b) Crie para a notícia um título que lhe seja adequado e não apresente duplo sentido.

a) Os dois sentidos que se podem depreender do título são:

• uma determinada quantia em dinheiro foi encontrada no lixo;

• o lixo foi uma fonte explorada para a obtenção de dinheiro, isto é, o lixo como fonte de renda.

b) Um título adequado seria: “Reciclagem gera renda”.

Obs.: há outras opções cabíveis, como, por exemplo, “Lixo produz dinheiro”.

a) “Se eu não tivesse atento e olhado o rótulo, o paciente teria morrido”, declarou o médico.

Reescreva a frase acima, corrigindo a impropriedade gramatical que nela ocorre.

b) A econologia, combinação de princípios da economia, sociologia e ecologia, é defendida por ambientalistas como maneira de se viabilizarem formas alternativas de desenvolvimento.

Reescreva a frase acima, transpondo-a para a voz ativa.

a) Se eu não estivesse atento e não tivesse olhado o rótulo, o paciente teria morrido.

Obs.: outra possibilidade seria utilizar “nem” em vez de “e não”.

b) Ambientalistas defendem a econologia, combinação de princípios da economia, sociologia e ecologia, como maneira de viabilizar formas alternativas de desenvolvimento.

Obs.: a escolha de viabilizarem (no infinitivo pessoal), em vez de viabilizar (no infinitivo impessoal), induziria à interpretação de que o sujeito de tal verbo fosse determinado elíptico (“ambientalistas”). Essa versão não seria compatível com a frase original, em que o agente da passiva está indeterminado.

A gente via Brejeirinha: primeiro, os cabelos, compridos, lisos, lou- ro-cobre; e, no meio deles, coisicas diminutas: a carinha não-comprida, o perfilzinho agudo, um narizinho que-carícia. Aos tantos, não pa- rava, andorinhava, espiava agora — o xixixi e o empapar-se da paisa- gem — as pestanas til-til. Porém, disse-se-dizia ela, pouco se vê, pelos entrefios: — “Tanto chove, que me gela!”

(Guimarães Rosa, “Partida do audaz navegante”, Primeiras estórias) a) Os diminutivos com que o narrador caracteriza a personagem traduzem também sua atitude em

relação a ela. Identifique essa atitude, explicando-a brevemente.

b) “Andorinhava” é palavra criada por Guimarães Rosa. Explique o processo de formação dessa palavra.

Indique resumidamente o sentido dessa palavra no texto.

a) Os diminutivos que caracterizam Brejeirinha assumem dois valores que se somam: um, objeti- vo, indicador da compleição miúda da personagem; outro, subjetivo, índice do sentimento de afeto ou carinho que o narrador tem por ela.

b) A forma verbal “andorinhava” é o pretérito imperfeito do verbo “andorinhar”, neologismo criado por Rosa pelo processo de derivação sufixal, agregando-se à base “andorinha” o sufixo “ar”, formador de verbos. No contexto, seu efeito expressivo consiste na atribuição dos traços de ação da ave à personagem:

Brejeirinha é tão pequena, dinâmica, ligeira e perspicaz como uma andorinha, espiando até “pelos entrefios”.

2 FUVEST/2001 – 2ªFASE ANGLO VESTIBULARES

QUESTÃO 01

RESOLUÇÃO:

QUESTÃO 02

QUESTÃO 03 RESOLUÇÃO:

RESOLUÇÃO:

(4)

Leia o excerto, observando as diferentes formas verbais.

Chegou. Pôs a cuia no chão, escorou-a com pedras, matou a sede da família. Em seguida acocorou-se, remexeu o aió, tirou o fuzil, acendeu as raízes de macambira, soprou-as, inchando as bochechas cavadas. Uma labareda tremeu, elevou-se, tingiu-lhe o rosto queimado, a barba ruiva, os olhos azuis. Minutos depois o preá torcia-se e chiava no espeto de alecrim.

Eram todos felizes. Sinha Vitória vestiria uma saia larga de rama- gens. A cara murcha de sinha Vitória remoçaria (…).

(…)

A fazenda renasceria — e ele, Fabiano, seria o vaqueiro, para bem dizer seria dono daquele mundo.

(Graciliano Ramos, Vidas secas)

a) Considerando que no primeiro parágrafo predomina o pretérito perfeito, justifique o emprego do im- perfeito em “o preá torcia-se e chiava no espeto de alecrim”.

b) Explique o efeito de sentido produzido no excerto pelo emprego do futuro do pretérito.

a) A predominância do pretérito perfeito no primeiro parágrafo indica o aspecto pontual das ações de Fabiano. Já o emprego das formas verbais no pretérito imperfeito (“torcia” e “chiava”) traduz uma ação durativa, inacabada, que enfatiza o estado de euforia das personagens, tomadas por uma ale- gria duradoura, embora ingênua.

b) Ao ver o preá chiando “no espeto de alecrim”, Fabiano começa a sonhar com uma vida melhor para a família. Assim, as formas verbais no futuro do pretérito (“vestiria”, “remoçaria”, “renasceria”

e “seria”) produzem um efeito de sentido de probabilidade que funciona como uma passagem para um mundo idealizado.

Observe este anúncio, com foto que retrata um depósito de lixo.

(Adaptado de campanha publicitária — Instituto Ethos) a) Passe para o discurso indireto a frase “Filho, um dia isso tudo será seu”.

b) Considere a seguinte afirmação:

Da associação entre a frase “Filho, um dia isso tudo será seu” e a imagem fotográfica de- corre um sentido irônico.

A afirmação aplica-se ao anúncio? Justifique resumidamente sua resposta.

a) O pai disse que o filho um dia seria o dono de tudo aquilo.

b) A contraposição entre a frase “Filho, um dia isso tudo será seu” e a foto de Sebastião Salgado cria uma evidente ironia. A ironia, a rigor, é uma figura de linguagem que consiste em atribuir a uma pala- vra, expressão ou frase um significado oposto ao habitual ou literal. O período “Filho, um dia isso tudo será seu” pressupõe um herança positiva deixada pelo pai ao filho. Já a foto, associada às palavras, desmente e contradiz a expectativa do legado previsto, deixando claro que, se a humanidade não cuidar do meio ambiente, a herança que transmitirá às futuras gerações será um imenso lixão.

QUESTÃO 05 RESOLUÇÃO:

RESOLUÇÃO:

QUESTÃO 04

(5)

“As pessoas ficam zoando, falando que a gente não conseguiria en- trar em mais nada, por isso vamos prestar Letras”, diz a candidata ao vestibular. Entre os motivos que a ligaram à carreira estão o gosto por literatura e inglês, que estuda há oito anos.

(Adaptado da Folha de S. Paulo, 22/10/00)

a) As aspas assinalam, no texto acima, a fala de uma pessoa entrevistada pelo jornal. Identifique duas marcas de coloquialidade presentes nessa fala.

b) No trecho que não está entre aspas ocorre um desvio em relação à norma culta. Reescreva o trecho, fazendo a correção necessária.

a) Como marcas de coloquialidade do fragmento indicado podem-se citar:

• o emprego de “a gente” em lugar de nós. O tom coloquial fica ainda mais evidente se levarmos em conta a discordância gramatical entre a forma verbal vamos (1ªpessoa do plural) e a forma

“a gente” (3ªpessoa do singular).

• na acepção pretendida neste texto, o uso do verbo zoar é marca de coloquialidade. O sentido bási- co de “zoar” está relacionado ao barulho produzido por insetos. Por um processo metafórico, “zoar”

indica aqui o ato de fazer comentários ruidosos, insistentes, desagradáveis e desdenhosos.

b) Reescrita com a correção solicitada: diz a candidata ao vestibular. Entre os motivos que a liga- ram à carreira está o gosto por literatura e inglês, que estuda há oito anos.

Costuma-se reconhecer que estes poemas, pertencentes ao Modernismo, apresentam aspectos característi- cos do “poema-piada”, modalidade bastante praticada nesse período literário.

a) Identifique um recurso de estilo tipicamente modernista que esteja presente em ambos os poemas. Ex- plique-o sucintamente.

b) Considere a seguinte afirmação:

O poema-piada visa a um humorismo instantâneo e, por isso, esgota-se em si mesmo, não indo além desse objetivo imediato.

A afirmação aplica-se aos poemas aqui reproduzidos? Justifique brevemente sua resposta.

a) Um dos recursos de estilo tipicamente modernista e que está presente nos dois textos apresen- tados é a paródia das ideologias ligadas à cultura do poder. Em “Política Literária”, a transforma- ção da poesia em política não acrescenta nada à poesia; em “Anedota Búlgara”, satiriza-se a intole- rância e a violência disfarçadas em gosto e predileção.

O efeito de ambos os poemas não seria tão forte se Drummond não explorasse outros grandes recursos do Modernismo, tais como a oralidade, o verso livre e sem ornamentos, a conclusão final chocante (espécie de anti-chave de ouro) e o tom de deboche contra tudo o que não se apresente vivo ou espontâneo na cultura e na sociedade.

b) A afirmação não se aplica aos poemas reproduzidos. O poema-piada, que, nos dois casos, pode ser também chamado de poema-minuto, visa a produzir no leitor um choque, uma surpresa a par- tir da qual se dá uma sensação instantânea de humor. Esse humor não passa enquanto não passar a sua causa, ele não cessa enquanto não cessarem os fatos que ele satiriza.

Tanto Gonçalo, em A ilustre casa de Ramires, quanto Brás Cubas, em Memórias póstumas de Brás Cu- bas, desenvolveram atividades políticas.

a) O modo pelo qual Gonçalo, quando candidato, se relacionava com os eleitores que iria representar ca- racteriza-o como um político de que tipo? Explique sucintamente.

b) Compare as atuações de Gonçalo e de Brás Cubas como deputados, caracterizando-as brevemente.

4 FUVEST/2001 – 2ªFASE ANGLO VESTIBULARES

QUESTÃO 08 RESOLUÇÃO:

QUESTÃO 06

RESOLUÇÃO:

QUESTÃO 07 POLÍTICA LITERÁRIA O poeta municipal

discute com o poeta estadual qual deles é capaz de bater o poeta

[federal.

Enquanto isso o poeta federal tira ouro do nariz.

(Carlos Drummond de Andrade.

Alguma poesia)

ANEDOTA BÚLGARA Era uma vez um czar naturalista que caçava homens.

Quando lhe disseram que também se [caçam borboletas e andorinhas, ficou muito espantado

e achou uma barbaridade.

(Carlos Drummond de Andrade.

Alguma poesia)

(6)

a) Quando candidato a deputado ao parlamento português, Gonçalo se comporta como um político paternalista e demagógico. É o que se pode observar no episódio em que manda soltar José Casco da cadeia, para evitar a opinião pública negativa, e retém em sua casa o filhinho doente do lavrador apri- sionado, cercando-o de cuidados, até que ele se restabelecesse. Outros exemplos da relação assistencia- lista que Gonçalo mantém com seus eleitores são a promessa de emprego ao Videirinha e o socorro mate- rial que o fidalgo presta a lavradores pobres, por meio de sua cozinheira, Rosa, e de seu criado Bento.

b) Gonçalo, poucos meses após assumir a cadeira de deputado, cercado da geral expectativa de um grande desempenho, surpreende a todos ao embarcar para a África, para explorar uma grande pro- priedade cuja concessão havia obtido. Assim, ele se afasta da atividade parlamentar, antes mesmo de havê-la propriamente iniciado.

Brás Cubas, por sua vez, cumpre todo o seu mandato. Porém, sua atuação é praticamente nula.

Em todo o exercício legislativo, pronuncia-se uma única vez no parlamento, sobre um assunto (a bar- retina, isto é, o boné da Guarda Nacional) tão irrelevante quanto sua atividade política.

Em ambos os casos, observa-se uma relação inautêntica dos dois protagonistas com a vida política, que é procurada não para a realização de projetos ideológicos ou sociais, mas de interesses pessoais.

A crítica assinala com freqüência que as personagens Brás Cubas e Macunaíma caracterizam-se por serem bastante mutáveis, inconstantes ou volúveis. No entanto, seja ao longo de sua trajetória, seja em dado momen- to dela, ambas as personagens apresentam um propósito ou projeto que parece contrariar essa característica.

a) Qual é, no caso de Brás Cubas, esse propósito ou projeto? Justifique sucintamente sua resposta.

b) Qual é, no caso de Macunaíma, esse propósito ou projeto? Justifique brevemente sua resposta.

a) Brás Cubas, no final de sua vida, dedica-se com afinco à criação do “Emplasto Brás Cubas”, re- médio que, segundo ele, haveria de livrar os homens da hipocondria, “destinado a aliviar a nossa me- lancólica humanidade”. Trata-se de uma verdadeira “idéia fixa”: tornar-se célebre por meio do em- plasto. Brás Cubas chega a considerar como a causa de sua morte esse objetivo persistente e obses- sivo, que não o deixa pensar em mais nada, e o faz descuidar-se de um resfriado que acaba por se agravar na pneumonia que iria matá-lo.

b) Em geral volúvel e inconstante, Macunaíma, “o herói sem nenhum caráter”, revela-se, no entan- to, persistente e obstinado na busca da muiraquitã, a pedra mágica que ganhara de Ci, a Mãe do Mato, e que fora levada para São Paulo pelo gigante Piaimã. O “herói” enfrenta todos os obstáculos nas suas tentativas de recuperar o talismã.

Muitas personagens das Primeiras estórias acham-se privadas de saúde, de recursos materiais, de posição social e até mesmo do pleno uso da razão. Pelos esquemas de uma lógica social moderna, estritamente capitalista, só lhes resta esperar a miséria, a abjeção, o abandono, a mor- te. O narrador, cujo olho perspicaz nada perde, não poupa detalhes sobre o seu estado de carência extrema. Apesar disso, os contos não cor- rem sobre os trilhos de uma história de necessidades, mas relatam co- mo, através de processos de suplência afetiva e simbólica, essas mesmas criaturas conhecerão a passagem para o reino da liberdade.

(Alfredo Bosi, Céu, inferno)

Este texto aponta um aspecto muito relevante de vários contos de Primeiras estórias, de Guimarães Rosa:

a “passagem” de um estado de “necessidade” para o “reino da liberdade”. Tendo em vista esse aspecto, ex- plique sucintamente essa “passagem” nos seguintes contos:

a) “Soroco, sua mãe, sua filha” (em que Soroco leva as outras duas personagens, loucas, para o embar- que no trem que as conduzirá ao hospício);

b) “Substância” (em que se narra a história de Maria Exita, cujo ofício era o de partir o polvilho).

a) O conto alegoriza a loucura como transição desejável de um mundo de carência para um mundo de plenitude. Pela perspectiva adotada na narrativa, a normalidade racional equivale a um estado de limitação, ao passo que a perda do juízo corresponde à ascensão ao mundo das liberdades abso- lutas. Pode-se dizer também que o conto tematiza a passagem do mundo físico (necessidade, carên- cia) para o mundo metafísico (plenitude, libertação). Em termos estritamente narrativos, a mudança de um estágio a outro consubstancia-se no momento em que a personagem Sorôco, impulsionada pela loucura da mãe e da filha, entrega-se ao canto libertador, antes entoado pelas duas mulheres.

b) Em “Substância”, a dinâmica físico/metafísico, necessidade/ libertação opera por meio do amor, en- tendido como força que dissolve os limites da materialidade. Trata-se, portanto, de uma alegoria do poder transfigurador do amor. No final do conto, o sentimento de Sionésio por Maria Exita liberta- o de uma existência precária, inteiramente dominada pelos constrangimentos da realidade física.

RESOLUÇÃO:

QUESTÃO 09

QUESTÃO 10 RESOLUÇÃO:

RESOLUÇÃO:

(7)

Redação

Um dia sim, outro também. Duas bombas, suásticas nazistas e muitas mensagens pregando a tolerân- cia zero a negros, judeus, homossexuais e nordestinos marcaram a Semana da Pátria em São Paulo. O primeiro petardo foi direcionado na segunda-feira 4, para o coordenador da Anistia Internacional.

Tratava-se de uma bomba caseira, postada numa agência dos Correios de Pinheiros com endereço certo:

a casa do coordenador. Uma hora e meia depois, foi a vez de o secretário de Segurança e de os presidentes das comissões Municipal e Estadual de Direitos Humanos receberem cartas ameaçadoras. Assinando

“Nós os skinheads” (cabeça raspada), os autores abusaram da linguagem chula, do ódio e da intolerân- cia. “Vamos destruir todos os viados, pretos e nordestinos”, prometeram. Eles asseguravam também já terem escolhido os representantes daqueles que não se enquadram no que chamam de “raça pura” para receberem “alguns presentinhos”.

Como prometeram, era só o começo. No dia seguinte, terça-feira 5, o mesmo grupo mandou outra bomba, dessa vez para a associação da Parada do Orgulho Gay.

(Isto é, 08/09/2000) Desde então [os anos 80], o poder racista alastrou-se por todo o mundo numa torrente de excessos sangui- nolentos. Também na Alemanha, imigrantes e refugiados foram mortos friamente por maltas de radicais de direita em atentados incendiários. Até hoje, a esfera pública minimiza tais crimes como obra de uns poucos jovens desclassificados. Na verdade, porém, o poder racista à solta nas ruas é o prenúncio de uma reviravolta nas condições atmosféricas mundiais.

(Robert Kurz) Um dos eventos realizados no final de abril deste ano no Chile foi uma conferência internacional secreta de militantes extremistas de direita e organizações neonazistas planejada e divulgada pela Internet. Foram convidados a participar do “Primeiro Encontro Ideológico Internacional de Nacionalismo e Socialismo”

representantes do Brasil, Uruguai, Argentina, Venezuela e Estados Unidos.

(Isto é, 08/09/2000)

(…) Nos últimos anos, grupos neonazistas têm se multiplicado. Tanto nos Estados Unidos e na Europa quanto aqui parece existir uma relação entre o desemprego estrutural do sistema capitalista e a ascen- são desses grupos de inspiração neonazista.

(Página da Internet) Toda proclamação contra o fascismo que se abstenha de tocar nas relações sociais de que ele resulta como uma necessidade natural, é desprovida de sinceridade.

(Bertolt Brecht) Considerar alguém como culpado, porque pertence a uma coletividade à qual ele não “escolheu” per- tencer, não é característica própria só do racismo. Todo nacionalismo mais intenso, e até mesmo qual- quer bairrismo, consideram sempre os outros (certos outros) como culpados por serem o que são, por per- tencerem a uma coletividade àqual não escolheram pertencer. (…)

(Cornelius Castoriadis)

“A violência é a base da educação de cada um.”

(Resposta de um cidadão anônimo entrevistado pela TV sobre as razões da violência)

Estes textos (adaptados das fontes citadas) apresentam notícias sobre o crescimento do neonazismo e do neofascismo e, também, alguns pontos de vista sobre o sentido desse fenômeno. Com base nesses textos e em outras informações e reflexões que julgue adequadas, redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA, procurando argumentar de modo claro e consistente.

Análise da prova

Idéias que poderiam ser extraídas dos textos da coletânea Texto 1

Relata recentes manifestações — ocorridas no Brasil — que expressam a intolerância, a violência, o preconceito, o racismo de determinados grupos (que se consideram “raça pura”) contra outros grupos e entidades (na prática, contra seus representantes), justificando suas atitudes com argumentos calca- dos no ódio e na discriminação irracional.

6 FUVEST/2001 – 2ªFASE ANGLO VESTIBULARES

(8)

Texto 2

Ilustra manifestações racistas com ocorrências — no mundo e, especificamente, na Alemanha — sanguinolentas (a partir da década de 1980), considerando que a “esfera pública” suaviza e banaliza a real gravidade desse fenômeno, reduzindo-o a uma prática de “jovens desclassificados” — idéia contra a qual Robert Kurz se opõe por acreditar que a violência praticada por alguns grupos aponta para uma mudança nas estruturas sociais, políticas, econômicas etc.

Texto 3

Os grupos neonazistas têm conseguido se organizar internacionalmente, utilizando-se inclusive do meio de comunicação elitizado (sofisticado) da sociedade atual — a internet. Prova disso é o encontro internacional com representantes de vários países.

Observação: o candidato atento notaria que o nome dado à conferência suaviza as verdadeiras intenções do encontro com as palavras Nacionalismo e Socialismo.

Texto 4

Retoma a idéia de que a violência praticada pelos grupos neonazistas multiplica-se a cada dia e acrescenta uma relação (causa e efeito) entre o desemprego gerado pelo sistema capitalista e o cresci- mento desses grupos.

Texto 5

O poeta e dramaturgo Bertolt Brecht considera hipocrisia condenar o fascismo sem questionar e criticar as motivações sociais que o originam e o alimentam.

Texto 6

O filósofo europeu Cornelius Castoriadis afirma ser constante nos “ismos” totalitários culpar indi- víduos simplesmente por apresentarem determinadas características, as quais — enfatiza — não pode- riam ter sido escolhidas, porque naturais ou essenciais. Além disso, ele lembra que certas diferenças são menos toleráveis, mais condenáveis (“certos outros”).

Texto 7

O cidadão entrevistado responsabiliza a violência pela formação do indivíduo, ou ainda a sociedade (violenta) que reproduz a violência ao criar suas instituições, sua cultura.

Possíveis argumentos a serem utilizados pelo candidato

Nesta prova, cuja característica principal é clareza na exposição do tema, o candidato poderia ado- tar uma linha argumentativa que contemplasse aspectos relevantes, tais como:

• O notável crescimento do neonazismo e do neofascismo é um fenômeno social que se alastra em paí- ses desenvolvidos e não-desenvolvidos, assumindo contornos sanguinolentos.

• O desemprego estrutural produzido pelo sistema capitalista é encarado como causa justificável da propagação do neonazismo/neofascismo tanto nos Estados Unidos como na Europa.

• As pessoas não podem ser consideradas culpadas por sua essência, por pertencerem a determinados grupos, ou por terem feito certas escolhas. Essa idéia refuta as bases da ideologia nazista.

• Os grandes perigos do crescimento do neonazismo são o incremento da violência e da intolerância, a cristalização de idéias preconceituosas — que, de tão disseminadas, acabam por parecer naturais

— e a construção de uma sociedade injusta.

• Na contramão desse processo, a Holanda, país cultural e economicamente desenvolvido, promoveu a oficialização do casamento homossexual e da adoção de filhos por casais homossexuais, prenun- ciando novos rumos para a questão do preconceito no início do novo milênio.

• Em países não-desenvolvidos como o Brasil, a constância de ataques contra negros, judeus, homos- sexuais e nordestinos não deve ser creditada apenas ao desemprego estrutural — causa econômica

—, mas também a razões de ordem cultural, acrescidas da força de valores disseminados pelos meios de comunicação e pelo indefectível modus vivendi de suas populações, que privilegia e valoriza a imi- tação dos fenômenos comportamentais dos países ricos.

• O crescimento do poder racista, bem como de seus desdobramentos violentos, pode ter relação dire- ta com o desemprego estrutural causado pelo sistema capitalista. Episódios memoráveis como a de- predação da Rádio Atual, em São Paulo, dirigida por e a nordestinos, e os incêndios criminosos prati- cados contra abrigos turcos na Alemanha, ambos ocorridos na década de 90, poderiam ser utilizados como ilustrações reais para melhor fundamentar essa idéia.

• O sistema capitalista atual com sua pseudonoção de felicidade material (possível a todos) abala a segurança do indivíduo (situação mais clara nos países desenvolvidos) nas suas relações sociais, pois quase nunca se vê realizado em seu universo material. Inseguro, passa a responsabilizar o outro (outros/certos outros) por essa condição, que ainda é fomentada por uma cultura da violência, da discriminação, da intolerância.

(9)

Comentário

As questões de Língua Portuguesa e Texto são exemplares. A FUVEST assumiu a responsabilidade social que lhe cabe no processo de reformulação do Ensino Médio. Devem existir, se não milhares, ao menos várias centenas de escolas empenhadas em preparar seus alunos para esse tipo de exame.

Por meio dele, recebe-se uma ótima indicação: ensinar Português não deve resumir-se a memorizar fórmulas e regras — se bem que esses dados não sejam dispensáveis. Eles continuam necessários, mas não suficientes. É preciso saber usar esses conhecimentos de linguagem sobretudo para:

• decifrar o sentido literal dos signos;

• interpretar o sentido não-literal por eles produzidos;

• usá-los para reescrever frases de modo a obter os significados solicitados;

• descrever os recursos gramaticais usados para a obtenção desses efeitos;

• ser capaz de traduzir uma variante popular para o dialeto culto escrito, que é usado nas situações formais.

Uma prova como esta serve de estímulo aos professores empenhados num ensino de Português realmente útil para o exercício da cidadania, para o mundo do trabalho e para a continuidade da vida escolar.

As questões de Literatura seguem o excelente padrão apresentado na primeira fase desse mesmo exame. Aqui, como lá, o nível de formulação equipara-se à excelência dos pressupostos adotados, ca- racterizando-se pela simplicidade e justeza na colocação das perguntas. Os pressupostos, sem se con- substanciar em teoria explícita, deixam claro que a Banca partilha de princípios bem definidos, que se fundam na idéia de Literatura como espaço de problematização filosófica, social e estilística.

Foram respeitados os limites dos livros indicados na lista de leitura sugerida, sem que isso signi- ficasse restrição ou constrangimento. Ao contrário, a partir da transcrição de textos, de alusões a situa- ções de enredo e de investigação sobre recursos estilísticos presentes nas obras, a Banca soube aferir a competência do candidato para a leitura inteligente e dinâmica, induzindo-o a um enfrentamento ao mesmo tempo conceitual e empírico das questões.

Num momento em que se discutem novos rumos para a educação, a FUVEST, deixando de lado modelos consagrados, mais uma vez se destaca pela ousadia, não pelo tema em si, mas pela forma como foi proposto.

O tema da ideologia nazi-fascista e seus desdobramentos, marcados pela intolerância em vários ní- veis, instiga sempre discussões apaixonadas. Porém a FUVEST sugere ao candidato que escreva um texto dissertativo, resultado de sua reflexão pessoal, distanciando-o, portanto, de manifestações passio- nais que pudessem obscurecer a lucidez analítica.

Nesse ponto aparece a virtude elogiável da prova. A coletânea, muito bem selecionada, traz tópicos valiosos para o aprofundamento do tema. Atentando para as fontes, o candidato consciente de que um universitário deve ter uma visão crítica do mundo, desenvolvida principalmente por uma leitura plural, percebe que fazem parte do elenco de informações matérias jornalísticas tradicionais, retiradas da grande imprensa, associadas à Internet, ancoradas em pontos de vista filosóficos que vêm de B. Brecht, passam por pensadores contemporâneos e terminam pela opinião de um cidadão comum.

Obviamente, merece destaque o conteúdo dos textos de apoio: fenômenos sociais pontuais, pela lógi- ca, estão ligados a causas mais profundas. O candidato tem oportunidade de avaliar a pertinência das opiniões expressas na coletânea e com elas debater, buscando posicionar-se de “modo claro e consis- tente”, como recomenda a Banca Examinadora.

Todo esse procedimento configura o que se pode considerar, hoje, um rumo para um exercício de es- crita, que vai além da mera avaliação escolar, constituindo-se um ato de cidadania, num mundo que exige jovens destacados pela substância humana.

8 FUVEST/2001 – 2ªFASE ANGLO VESTIBULARES

LÍNGUA PORTUGUESA

REDAÇÃO

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