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ANÁLISE SEMIÓTICA DE 500 ANOS DE RESISTÊNCIA ÍNDIA, NEGRA E POPULAR. Andréia CASSIOTORRE

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(Mestrado em Antropologia Social) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

______. O Sul - Caminho do Roçado. São Paulo: Marca Zero, 1989.

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Tradução de José Paulo Netto. Revisão de Paulo Bezerra. 2ª. Ed. São Paulo: Nova Cultural (Os economistas), 1985.

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ANÁLISE SEMIÓTICA DE 500 ANOS DE RESISTÊNCIA ÍNDIA, NEGRA E POPULAR

“[…] se o discurso verdadeiro não é mais, com efeito, desde os gregos, aquele que responde ao desejo ou aquele que exerce o poder, na vontade de verdade, na vontade de dizer esse discurso verdadeiro, o que está em jogo, senão o desejo e o poder? O discurso verdadeiro, que a necessidade de sua forma liberta do desejo e libera do poder, não pode reconhecer a vontade de verdade que o atravessa; e a vontade de verdade, essa que se impõe a nós há bastante tempo, é tal que a verdade que ela quer não pode deixar de mascará-la” (Foucault, 2000, p. 20).

Andréia CASSIOTORRE

Resumo: Este trabalho tem como objetivo fazer a análise semiótica da canção 500 anos de resistência índia, negra e popular contida no CD Arte em Movimento do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. A análise será desenvolvida nos três níveis do percurso gerativo de sentido.

Abstract: The objective of this work is to produce a semiotic analysis of the lyrics to the song 500 anos de resistência índia, negra e popular recorded in the CD Arte em Movimento distributed by the MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. The analysis to be to develop the into level three of the generality trajectory of each of the five senses.

(2)

MOURA, Margarida Maria. Camponeses. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1986.

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0. O nível fundamental

Esta letra é de autoria de Zé Pinto (integrante do Movimento) e interpretada por ele mesmo. Para uma visão geral da narrativa dessa letra, adiantamos que, basicamente, há um destinador que sanciona negativamente a perfórmance daqueles (historiadores?) que contaram a história do país dos deserdados, adotando o ponto de vista do colonizador e, assim, mentiram: “Esta história de dois mundos pelo mundo se espalhou / Com uma visão colonialista não mostraram a nossa dor”.

Sancionando negativamente como mentira à versão histórica dos acontecimentos, o destinador propõe-se a contar a versão, verdadeira, do seu ponto de vista, as “três histórias” deste “continente”:

a primeira história ocorrida “bem antes” da descoberta do Brasil; a segunda, de cinco séculos de “invasão” e “resistência índia-negra e popular”; e a terceira, a dos sem-terra, no presente: “que ainda estamos construindo”, “para destruir a raiz de todo mal”, implantado pela segunda. A comunicação (com tons de Cruzada de combate ao mal) de uma nova versão histórica do que se passou é o objetivo da letra. Assim é que se pretende “apagar” o “farol de Colombo”. A letra da referida canção é a seguinte:

1 A invasão chegou de barco nesta América Latina / Veio riscado da Europa este plano

2 De chacina / Vinham em nome da civilização / Empunhando a espada e uma cruz na

3 outra mão (bis) / Nos pelourinhos da morte tanto sangue derramado / Pra mão-de-obra

4 barata índio e negro escravizados / São três histórias neste grande continente / Uma bem

5 antes dos invasores chegarem / E a segunda cinco séculos de invasão / E a resistência

(3)

6 índia-negra e popular / E a terceira é a que va- mos construindo / Pra destruirmos a raiz 7 de todo mal / E a nova etapa vai trilhando por

aqui / Quinhentos anos Campanha 8 Continental.

9 Esta história de dois mundos pelo mundo se espalhou / Com uma visão colonialista não 10 mostraram nossa dor / Mas reacende um grito

de resistência / Seguindo exemplos dos

11 verdadeiros heróis / O grito negro de Zumbi vem dos Palmares / Marçal / Proãno e tantos 12 ergueram a voz / Estão presentes em nossa

organização / Pra ter mais força é preciso 13 unificar / Marchando firme contra toda

escravidão / E o farol de Colombo vai se apagar.

Nesse texto a categoria semântica fundamental é extensão vs concentração, que resume de maneira abstrata, o conteúdo geral do texto, e onde apreendemos o mínimo de sentido sob o qual o discurso se constrói. O termo extensão é considerado eufórico e atraente, e o termo concentração, disfórico e repulsivo. Esse texto constrói seu sentido orientado no sentido da passagem da extensão à concentração. Trata-se de um texto disforizante, ou seja, que vai da euforia à disforia e, nessa letra, o que varia é apenas a intensidade da disforia ou negatividade da concentração, dada como escravidão e morte. Abaixo, segue as operações de afirmação e negação:

(afirmação) (negação) (afirmação)

extensão não-extensão concentração

(euforia) (não-euforia) (disforia)

as condições de produção de sua vida material. Assim, a perfórmance pretendida, para a transformação desse seu estado de carência, pode ser expresso da seguinte maneira:

PN1: [F(S1

(S1

-

Ov, condições de produção de sua vida material, terras, riquezas)].

Trata-se de um PN de atribuição reflexiva, pelo qual o sujeito pretende conseguir o objeto de valor para si mesmo. A realização dessa perfórmance depende de um PN2 e um PN3 de uso, realizado pelo sujeito delegado, S2, Colombo ou os descobridores. Trata-se do PN2 de conjunção espacial com as terras e as riquezas da América Latina (uma

“invasão” como a dos sem-terra), configurado pelas viagens marítimas;

e do PN3, de manipulação por intimidação, a oferta da morte, a

“chacina”, pela desobediência à “espada” e o inferno pela desobediência à “cruz”, os dois instrumentos que a letra menciona como o poder-fazer dos colonizadores.

PN2: [F(S2

(S2

Ov, espaço da América Latina)]

PN3: [F(S2

(S3

Om, dever-fazer, ceder suas terras e riquezas ao colonizadores)]

A realização desses PNs todos, segundo a letra, durou “cinco séculos” e não ocorreu sem um PN4, de resistência à “invasão”. Isso comprova que os índios, negros e populares não são colocados na narrativa como actantes sujeitos ativos. Esse PN4 de resistência expressa-se assim:

PN4: [F(S3

(S2

Om, não-dever-fazer)]

A narrativa da letra nos informa que esse PN4, de resistência, foi malsucedido, na medida em que a competência modal do poder- fazer do invasor era maior. Por isso, o estado juntivo do povo da América Latina, resultante das perfórmances de colonização realizadas pelo europeu, é disfórico, como observamos no gráfico abaixo:

(4)

Nessa letra, temos os seguintes actantes: A “Europa” ou “ a civilização” européia (S1); “Colombo” ou os descobridores, sujeitos delegados dos europeus (S2); o povo brasileiro (S3) – índios, negros e

“populares”. Esses actantes aparecem nas três histórias mencionadas nos PNs de busca de objetos de valor.

A narrativa da letra refere-se sumariamente, ao estado inicial do sujeito (S3), povo brasileiro, “bem antes dos invasores chegarem”.

Implicitamente, podemos dizer que, num momento anterior que não se encontra narrado na letra, havia uma conjunção do sujeito S3 com seu objeto valor, a terra brasileira, a liberdade, vida. Essa “primeira” história, do domínio comum, uma vez contrastada com os acontecimentos posteriores, aparece como um estado em que há plena harmonia do sujeito com seu objeto de desejo. É o paraíso sem “dor”.

É esse estado de coisas que é perturbado, segundo a letra, por um antidestinador, a “europa” ou a “civilização Européia” (S1), por meio de um sujeito delegado (S2), Colombo os navegadores.

H á u m a e l i p s e n a r r a t i v a d o e s t a d o d e f a l t a d o antidestinador S1, a Europa, mas sabemos que era um estado juntivo disjuntivo com o objeto de valor terra e riqueza. Em o u t r a s p a l a v r a s , a E u r o p a c a r e c i a d e m e i o s p a r a r e p r o d u z i r Ao referir-se à “terceira” parte da história ou “nova etapa”, a

letra nos informa que ela consiste na performance em processo de realização, para reverter esse estado juntivo disfórico do povo (S3), descrito no gráfico, acima, e que a letra resume como “escravidão” (verso 13). Está subentendido que essa perfórmance consiste em um conjunto de PNs dos quais alguns estão claramente explicitados e outros, não.

Trata-se da ação do sujeito MST que, como vimos em outras letras, subordina uma série de programas narrativos: PN5 (implícito) fazer- fazer justiça, a devolução das terras espoliadas desde o começo da história do Brasil; que implica o PN6 (implícito) fazer-fazer reforma agrária; que implica o PN7 (explícito), de resistência aos espoliadores da terra; que implica o PN8 (implícito) de invasão de terras; que implica o PN9 (explícito) de organização do movimento do MST, pelo qual o sujeito MST adquire a competência do poder-fazer para a realização de suas perfórmances. Como diz a letra, “Pra ter mais força é preciso unificar”. Todos são conclamados como adjuvantes da luta como os heróis de lutas passadas: Zumbi dos Palmares, Marçal e Proãno.

E m r e s u m o , o s p r o g r a m a s n a r r a t i v o s q u e c o m p õ e m o q u e a l e t r a d e n o m i n a t e r c e i r o m o m e n t o d a h i s t ó r i a d o “ g r a n d e c o n t i n e n t e ” p o d e m s e r d e n o m i n a d o s c o m a r e v a n c h e

Enunciado juntivo conjuntivo do sujeito povo brasileiro antes do descobrimento

Sujeito

S3: povo da América Latina

(índios)

Estado juntivo:

Objeto de valor (Ov)

vida, liberdade, terra, identidade, história pró-

pria, felicidade Estado juntivo do povo da América Latina resultante das

perfórmances de colonização Sujeito

S3: povo da América Latina

Estado juntivo:

Objeto de valor (Ov) vida, liberdade, terra, identidade, história pró-

pria, felicidade morte, pobreza, escravi-

dão, o mal (“o farol de Colombo”)

(5)

6 índia-negra e popular / E a terceira é a que va- mos construindo / Pra destruirmos a raiz 7 de todo mal / E a nova etapa vai trilhando por

aqui / Quinhentos anos Campanha 8 Continental.

9 Esta história de dois mundos pelo mundo se espalhou / Com uma visão colonialista não 10 mostraram nossa dor / Mas reacende um grito

de resistência / Seguindo exemplos dos

11 verdadeiros heróis / O grito negro de Zumbi vem dos Palmares / Marçal / Proãno e tantos 12 ergueram a voz / Estão presentes em nossa

organização / Pra ter mais força é preciso 13 unificar / Marchando firme contra toda

escravidão / E o farol de Colombo vai se apagar.

Nesse texto a categoria semântica fundamental é extensão vs concentração, que resume de maneira abstrata, o conteúdo geral do texto, e onde apreendemos o mínimo de sentido sob o qual o discurso se constrói. O termo extensão é considerado eufórico e atraente, e o termo concentração, disfórico e repulsivo. Esse texto constrói seu sentido orientado no sentido da passagem da extensão à concentração. Trata-se de um texto disforizante, ou seja, que vai da euforia à disforia e, nessa letra, o que varia é apenas a intensidade da disforia ou negatividade da concentração, dada como escravidão e morte. Abaixo, segue as operações de afirmação e negação:

(afirmação) (negação) (afirmação)

extensão não-extensão concentração

(euforia) (não-euforia) (disforia)

as condições de produção de sua vida material. Assim, a perfórmance pretendida, para a transformação desse seu estado de carência, pode ser expresso da seguinte maneira:

PN1: [F(S1

(S1

-

Ov, condições de produção de sua vida material, terras, riquezas)].

Trata-se de um PN de atribuição reflexiva, pelo qual o sujeito pretende conseguir o objeto de valor para si mesmo. A realização dessa perfórmance depende de um PN2 e um PN3 de uso, realizado pelo sujeito delegado, S2, Colombo ou os descobridores. Trata-se do PN2 de conjunção espacial com as terras e as riquezas da América Latina (uma

“invasão” como a dos sem-terra), configurado pelas viagens marítimas;

e do PN3, de manipulação por intimidação, a oferta da morte, a

“chacina”, pela desobediência à “espada” e o inferno pela desobediência à “cruz”, os dois instrumentos que a letra menciona como o poder-fazer dos colonizadores.

PN2: [F(S2

(S2

Ov, espaço da América Latina)]

PN3: [F(S2

(S3

Om, dever-fazer, ceder suas terras e riquezas ao colonizadores)]

A realização desses PNs todos, segundo a letra, durou “cinco séculos” e não ocorreu sem um PN4, de resistência à “invasão”. Isso comprova que os índios, negros e populares não são colocados na narrativa como actantes sujeitos ativos. Esse PN4 de resistência expressa-se assim:

PN4: [F(S3

(S2

Om, não-dever-fazer)]

A narrativa da letra nos informa que esse PN4, de resistência, foi malsucedido, na medida em que a competência modal do poder- fazer do invasor era maior. Por isso, o estado juntivo do povo da América Latina, resultante das perfórmances de colonização realizadas pelo europeu, é disfórico, como observamos no gráfico abaixo:

(6)

Nessa letra, temos os seguintes actantes: A “Europa” ou “ a civilização” européia (S1); “Colombo” ou os descobridores, sujeitos delegados dos europeus (S2); o povo brasileiro (S3) – índios, negros e

“populares”. Esses actantes aparecem nas três histórias mencionadas nos PNs de busca de objetos de valor.

A narrativa da letra refere-se sumariamente, ao estado inicial do sujeito (S3), povo brasileiro, “bem antes dos invasores chegarem”.

Implicitamente, podemos dizer que, num momento anterior que não se encontra narrado na letra, havia uma conjunção do sujeito S3 com seu objeto valor, a terra brasileira, a liberdade, vida. Essa “primeira” história, do domínio comum, uma vez contrastada com os acontecimentos posteriores, aparece como um estado em que há plena harmonia do sujeito com seu objeto de desejo. É o paraíso sem “dor”.

É esse estado de coisas que é perturbado, segundo a letra, por um antidestinador, a “europa” ou a “civilização Européia” (S1), por meio de um sujeito delegado (S2), Colombo os navegadores.

H á u m a e l i p s e n a r r a t i v a d o e s t a d o d e f a l t a d o antidestinador S1, a Europa, mas sabemos que era um estado juntivo disjuntivo com o objeto de valor terra e riqueza. Em o u t r a s p a l a v r a s , a E u r o p a c a r e c i a d e m e i o s p a r a r e p r o d u z i r Ao referir-se à “terceira” parte da história ou “nova etapa”, a

letra nos informa que ela consiste na performance em processo de realização, para reverter esse estado juntivo disfórico do povo (S3), descrito no gráfico, acima, e que a letra resume como “escravidão” (verso 13). Está subentendido que essa perfórmance consiste em um conjunto de PNs dos quais alguns estão claramente explicitados e outros, não.

Trata-se da ação do sujeito MST que, como vimos em outras letras, subordina uma série de programas narrativos: PN5 (implícito) fazer- fazer justiça, a devolução das terras espoliadas desde o começo da história do Brasil; que implica o PN6 (implícito) fazer-fazer reforma agrária; que implica o PN7 (explícito), de resistência aos espoliadores da terra; que implica o PN8 (implícito) de invasão de terras; que implica o PN9 (explícito) de organização do movimento do MST, pelo qual o sujeito MST adquire a competência do poder-fazer para a realização de suas perfórmances. Como diz a letra, “Pra ter mais força é preciso unificar”. Todos são conclamados como adjuvantes da luta como os heróis de lutas passadas: Zumbi dos Palmares, Marçal e Proãno.

E m r e s u m o , o s p r o g r a m a s n a r r a t i v o s q u e c o m p õ e m o q u e a l e t r a d e n o m i n a t e r c e i r o m o m e n t o d a h i s t ó r i a d o “ g r a n d e c o n t i n e n t e ” p o d e m s e r d e n o m i n a d o s c o m a r e v a n c h e

Enunciado juntivo conjuntivo do sujeito povo brasileiro antes do descobrimento

Sujeito

S3: povo da América Latina

(índios)

Estado juntivo:

Objeto de valor (Ov)

vida, liberdade, terra, identidade, história pró-

pria, felicidade Estado juntivo do povo da América Latina resultante das

perfórmances de colonização Sujeito

S3: povo da América Latina

Estado juntivo:

Objeto de valor (Ov) vida, liberdade, terra, identidade, história pró-

pria, felicidade morte, pobreza, escravi-

dão, o mal (“o farol de Colombo”)

(7)

contra aqueles colonizadores que espoliaram o povo da América Latina e do Brasil de suas terras e riquezas, por meio da imposição do modelo capitalista latifundiário, o caminho apontado pelo “farol Colombo”.

Apresentamos, abaixo, o esquema narrativo da letra:

O b s e r v a m o s q u e h á u m a p e r f ó r m a n c e d e e s p o l i a ç ã o realizada pelos invasores europeus e pela classe dominante que d e u c o n t i n u i d a d e a o m o d e l o i m p l a n t a d o , o p o v o ,

Esquema narrativo da letra da canção “500 anos de resistência índia, negra, popular”

PNs do percurso do povo (índios, negros, MST)

-PN4, de resistência ao espoliador europeu:

[F(S3 à (S2 Ç Om, não- dever-fazer)]

-PN5 (implícito) fazer- fazer justiça -PN6 (implícito) fazer

reforma agrária -PN7 (explícito), de

resistência à classe dominante (latifúndio)

-PN8 (implícito) de invasão de terras -PN9 (explícito) de organização do MST

PNs do percurso do invasor europeu

-PN1 de apropriação:

[F(S1  (S1 ∩ Ov, condições de produção

de sua vida material, terras, riquezas)]

-PN2 das viagens marítimas:

[F(S2  (S2 ∩ Ov, espaço, as terras da América Latina)]

-PN3 de manipulação pela espada/cruz:

[F(S2  (S3 ∩ Om, dever-fazer, ceder terras e riquezas aos

invasores)]

S1 Vs PN:

Fazer- saber (comunicar

a verdadeira

história)

A paixão da tristeza decorre da não conjunção com os valores desejados. Assim, temos um percurso que vai das paixões alegres (acreditar obter os valores almejados) às paixões tristes. Aqui, está delineado o modo de ser do sujeito, o modo de ser da coragem que, mesmo em estado de falta luta contra o inimigo através da resistência.

2. O nível discursivo

2.1. Projeção da enunciação e efeitos de sentido

Nesse texto a debreagem escolhida foi a enunciativa, pela qual se projeta um eu-aqui-agora. Os pronomes demonstrativo “nesta” (verso 1) e “neste” (verso 4) são indicadores do espaço da pessoa que fala ou enuncia. O “aqui” (do verso 7) designa bem esse espaço enunciativo, figurativizado, primeiramente de maneira ampla, como a “América Latina”, o “continente”. Em seguida, de maneira implícita, como o Brasil, pela referência às comemorações dos “500 anos” do seu descobrimento, e, também pela referência ao movimento do MST.

Os verbos como “reacende” marcam o tempo da enunciação, um agora, figurativizado, de maneira ampla pela referência ao tempo da retomada das lutas do MST pela posse da terra e, de maneira mais restrita, pela referência às comemorações dos “500 anos” do descobrimento do Brasil. Esse presente, porém, ganha sentido de processo contínuo e progressivo, por meios de expressões imperfectivas:

“vai trilhando”, “seguimos marchando”, “vai se apagar”. Segundo Costa (1990, p. 15-16),

“Tratar do tempo e do espaço em língua é se aproximar da noção de dêixis, que é a faculdade que tem as línguas de designar os referentes através da sua localização n o t e m p o e n o e s p a ç o , t o m a n d o c o m o p o n t o d e referência básica o falante. De fato, há uma tendência

(8)

compreendido pelos índios, os negros e os “populares” do MST, responde com outro programa da mesma natureza.

1.1. Paixões ou efeitos de sentido

No quadro abaixo, está representada a organização passional da narrativa, através do percurso passional de cada sujeito no texto:

Antes de ser estabelecido um contrato entre os actantes S3 vive a paixão da alegria, pois está conjunto com a liberdade e a vida.

Após a invasão do inimigo, foi estabelecido um contrato entre S1 e S3, onde S1 seria o responsável pela promoção da liberdade e da vida de S3. O sujeito coletivo vive o estado de espera. Mas o antidestinador não cumpre o que é de sua obrigação e rompe o contrato estabelecido.

O sujeito coletivo vive a paixão da insatisfação e decepção. A insatisfação conduz ao sentimento de falta, de ausência do objeto. O sujeito coletivo assume seu papel de sujeito operador e tenta realizar a performance, mas não é capaz.

Sujeitos

S3

S1

Arranjo modal

Querer-ser / saber-ser / poder-ser Querer-ser / não-crer-ser / saber-não

poder-ser

Querer-ser / saber-não-ser / crer-não-ser Querer-ser / saber-não-ser / crer-poder-

ser

Querer-ser / saber-poder-não-ser Não querer fazer o bem

Paixões ou efeitos de sentido

alegria insatisfação e

decepção falta coragem

tristeza

hostilidade natural do falante a distinguir e organizar no tempo e no

espaço os fatos e os objetos de que fala, tomando como ponto de partida o momento e o local em que ele, falante, se encontra. Quando ouvimos palavras como aqui e agora ou expressões como esta menina só podemos entender completamente o que está sendo dito se estivermos presentes no momento da fala ou se nos forem fornecidos dados que nos permitam efetivamente conhecer a exata localização do falante no momento da fala, ou seja, aquilo que, a partir de agora, chamaremos de ponto dêitico. Assim, o ponto espacial e temporal em que o falante está situado no momento em que fala é o ponto dêitico da enunciação”.

Os fatos e os objetos de que fala a letra, relacionados a primeira, a segunda e a terceira história são organizados, tomando como ponto de partida o momento e o local em que ele, falante, se encontra, ou seja, o aqui e agora da terceira história, ainda em processo de realização. Esse procedimento discursivo produz um efeito de sentido de proximidade de quem conta com aquilo que é contado, um efeito presença nessa história e de visão total dela, desde seu começo até o momento presente.

É a partir desse ponto que se projeta um tempo não concomitante com o momento da enunciação, pelo recurso ao verbos no pretérito perfeito e imperfeito do indicativo: “chegou”, “veio”, “vinham”,

“espalhou”, “mostraram”, “ergueram”. Esse procedimento instala, dentro da narrativa como discurso, a narrativa como história, causando o efeito de referência objetiva, de verdade do que se diz, de domínio do saber histórico comunicado ao enunciatário. O enunciador, aparece, ao mesmo tempo, em relação a história que conta, como instancia subjetivante, porque dela participa e como instância objetivante, na medida em que faz também com que ela apareça como objeto de observação e de afirmação científica. São procedimentos para causar

(9)

contra aqueles colonizadores que espoliaram o povo da América Latina e do Brasil de suas terras e riquezas, por meio da imposição do modelo capitalista latifundiário, o caminho apontado pelo “farol Colombo”.

Apresentamos, abaixo, o esquema narrativo da letra:

O b s e r v a m o s q u e h á u m a p e r f ó r m a n c e d e e s p o l i a ç ã o realizada pelos invasores europeus e pela classe dominante que d e u c o n t i n u i d a d e a o m o d e l o i m p l a n t a d o , o p o v o ,

Esquema narrativo da letra da canção “500 anos de resistência índia, negra, popular”

PNs do percurso do povo (índios, negros, MST)

-PN4, de resistência ao espoliador europeu:

[F(S3 à (S2 Ç Om, não- dever-fazer)]

-PN5 (implícito) fazer- fazer justiça -PN6 (implícito) fazer

reforma agrária -PN7 (explícito), de

resistência à classe dominante (latifúndio)

-PN8 (implícito) de invasão de terras -PN9 (explícito) de organização do MST

PNs do percurso do invasor europeu

-PN1 de apropriação:

[F(S1  (S1 ∩ Ov, condições de produção

de sua vida material, terras, riquezas)]

-PN2 das viagens marítimas:

[F(S2  (S2 ∩ Ov, espaço, as terras da América Latina)]

-PN3 de manipulação pela espada/cruz:

[F(S2  (S3 ∩ Om, dever-fazer, ceder terras e riquezas aos

invasores)]

S1 Vs PN:

Fazer- saber (comunicar

a verdadeira

história)

A paixão da tristeza decorre da não conjunção com os valores desejados. Assim, temos um percurso que vai das paixões alegres (acreditar obter os valores almejados) às paixões tristes. Aqui, está delineado o modo de ser do sujeito, o modo de ser da coragem que, mesmo em estado de falta luta contra o inimigo através da resistência.

2. O nível discursivo

2.1. Projeção da enunciação e efeitos de sentido

Nesse texto a debreagem escolhida foi a enunciativa, pela qual se projeta um eu-aqui-agora. Os pronomes demonstrativo “nesta” (verso 1) e “neste” (verso 4) são indicadores do espaço da pessoa que fala ou enuncia. O “aqui” (do verso 7) designa bem esse espaço enunciativo, figurativizado, primeiramente de maneira ampla, como a “América Latina”, o “continente”. Em seguida, de maneira implícita, como o Brasil, pela referência às comemorações dos “500 anos” do seu descobrimento, e, também pela referência ao movimento do MST.

Os verbos como “reacende” marcam o tempo da enunciação, um agora, figurativizado, de maneira ampla pela referência ao tempo da retomada das lutas do MST pela posse da terra e, de maneira mais restrita, pela referência às comemorações dos “500 anos” do descobrimento do Brasil. Esse presente, porém, ganha sentido de processo contínuo e progressivo, por meios de expressões imperfectivas:

“vai trilhando”, “seguimos marchando”, “vai se apagar”. Segundo Costa (1990, p. 15-16),

“Tratar do tempo e do espaço em língua é se aproximar da noção de dêixis, que é a faculdade que tem as línguas de designar os referentes através da sua localização n o t e m p o e n o e s p a ç o , t o m a n d o c o m o p o n t o d e referência básica o falante. De fato, há uma tendência

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compreendido pelos índios, os negros e os “populares” do MST, responde com outro programa da mesma natureza.

1.1. Paixões ou efeitos de sentido

No quadro abaixo, está representada a organização passional da narrativa, através do percurso passional de cada sujeito no texto:

Antes de ser estabelecido um contrato entre os actantes S3 vive a paixão da alegria, pois está conjunto com a liberdade e a vida.

Após a invasão do inimigo, foi estabelecido um contrato entre S1 e S3, onde S1 seria o responsável pela promoção da liberdade e da vida de S3. O sujeito coletivo vive o estado de espera. Mas o antidestinador não cumpre o que é de sua obrigação e rompe o contrato estabelecido.

O sujeito coletivo vive a paixão da insatisfação e decepção. A insatisfação conduz ao sentimento de falta, de ausência do objeto. O sujeito coletivo assume seu papel de sujeito operador e tenta realizar a performance, mas não é capaz.

Sujeitos

S3

S1

Arranjo modal

Querer-ser / saber-ser / poder-ser Querer-ser / não-crer-ser / saber-não

poder-ser

Querer-ser / saber-não-ser / crer-não-ser Querer-ser / saber-não-ser / crer-poder-

ser

Querer-ser / saber-poder-não-ser Não querer fazer o bem

Paixões ou efeitos de sentido

alegria insatisfação e

decepção falta coragem

tristeza

hostilidade natural do falante a distinguir e organizar no tempo e no

espaço os fatos e os objetos de que fala, tomando como ponto de partida o momento e o local em que ele, falante, se encontra. Quando ouvimos palavras como aqui e agora ou expressões como esta menina só podemos entender completamente o que está sendo dito se estivermos presentes no momento da fala ou se nos forem fornecidos dados que nos permitam efetivamente conhecer a exata localização do falante no momento da fala, ou seja, aquilo que, a partir de agora, chamaremos de ponto dêitico. Assim, o ponto espacial e temporal em que o falante está situado no momento em que fala é o ponto dêitico da enunciação”.

Os fatos e os objetos de que fala a letra, relacionados a primeira, a segunda e a terceira história são organizados, tomando como ponto de partida o momento e o local em que ele, falante, se encontra, ou seja, o aqui e agora da terceira história, ainda em processo de realização. Esse procedimento discursivo produz um efeito de sentido de proximidade de quem conta com aquilo que é contado, um efeito presença nessa história e de visão total dela, desde seu começo até o momento presente.

É a partir desse ponto que se projeta um tempo não concomitante com o momento da enunciação, pelo recurso ao verbos no pretérito perfeito e imperfeito do indicativo: “chegou”, “veio”, “vinham”,

“espalhou”, “mostraram”, “ergueram”. Esse procedimento instala, dentro da narrativa como discurso, a narrativa como história, causando o efeito de referência objetiva, de verdade do que se diz, de domínio do saber histórico comunicado ao enunciatário. O enunciador, aparece, ao mesmo tempo, em relação a história que conta, como instancia subjetivante, porque dela participa e como instância objetivante, na medida em que faz também com que ela apareça como objeto de observação e de afirmação científica. São procedimentos para causar

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efeitos de verdade, fazer crer, para conquistar a adesão cognitiva e efetiva do destinatário.

2.2. Tematização e figurativização

Conforme demonstramos no gráfico do esquema geral do texto, no nível narrativo, há um PN (não numerado), fazer-saber, que encaixa todo o resto. Esse PN é revestido, no nível discursivo de que nos ocupamos agora, pelo tema da comunicação da verdade histórica.

Lembremos que na letra, basicamente, um destinador sanciona negativamente a perfórmance daqueles que contaram a história do país dos deserdados, adotando o ponto de vista do colonizador e, dessa forma, produziram uma mentira que é preciso substituir pela verdade, a versão que é e parece verdadeira, a dos sem-terra. Como diz a letra: “Esta história de dois mundos pelo mundo se espalhou / Com uma visão colonialista não mostraram a nossa dor”.

Esse tema da comunicação da verdade histórica é concretizado, como vimos, no estudo da projeção da sintaxe discursiva, por um ator figurativizado esparsamente. Trata-se de um ator que se apresenta coletivamente como um “nós”, designando o MST e todos aqueles que fazem a luta pela reforma agrária da terra, da educação, da produção do saber, da história. Esse ator é apresentado como aquele que comunica um saber sobre a história da luta pela terra a partir de dois pontos de vistas unificados: o daquele que participa e faz essa história e o daquele que pensa e elabora o saber sobre essa história, tomando-a como objeto.

Trata-se de uma comunicação de um saber histórico que se pretende diferente daquele produzido por “uma visão capitalista” (verso 9) e que

“não mostraram a nossa dor” (verso10). Vemos que esse tema da comunicação de um novo saber histórico ao povo converge para a concretização da concentração (das terras, da educação e da produção do saber) como o que deve ser negado e condenado.

figurativiza-o como verdadeiro sujeito que foi capaz de projetos de reação e reagiu contra os colonizadores.

O tema da liberdade versus dominação é concretizado principalmente pela figura da “escravidão” e “mão-de-obra barata” e pelos atores “índios-negros e populares” que eram livres na época da primeira história mencionada pela letra e escravizados durante a segunda história, quando foram espoliados de suas terras e de sua força de trabalho.

Por fim, aparecem os temas recorrentes em todas as letras: o da luta pela reforma agrária, cujo ator é o MST e o tema da organização, na isotopia política, cujas figuras são: “organização”, “pra ter mais força é preciso unificar”.

O enunciador, para convencer o enunciatário a crer, a aderir ou a apoiar a luta dos sem-terra, apresenta-se como um sujeito epistêmico1 revestido de dupla natureza: a daquele que vive subjetivamente a luta pela terra (que faz a história) e a daquele que pensa e reflete sobre ela como objeto. A letra afirma, nos versos 9 e 10, que “a história de dois mundos pelo mundo se espalhou” e que “com uma visão colonialista, não mostraram a nossa dor” – como uma justificativa para a comunicação de um novo saber sobre a história da luta pela terra.

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Esse tema desencadeia o tema do bem e do mal. Este é figurativizado pelos atores de um dos “mundos” mencionados na letra, cujas figuras são: a “Europa”, a “civilização”, “Colombo”, dados como invasores de terras. Essa colocação da letra pressupõe que os atores que concretizam o tema do bem sejam os “índios”, os “negros”, os

“populares”, os do MST, os habitantes da América Latina.

Percebemos que o enunciador produz um discurso que guarda uma relação intertextual com os textos do discurso religioso cristão.

Esse tema desencadeia outros temas:

o da colonização

o da luta

o da resistência Vs passividade

o da liberdade vs dominação

o da luta pela R. Agrária

Desses temas uns são mais e outros são menos figurativizados.

A figurativização é, portanto, esparsa. O tema da colonização é figurativizado como “invasão” pelo enunciador que, dessa forma, argumenta em favor da ação de “ocupação” de terras do MST. Assim, as ocupações ou invasões de terras pelo MST adquire um sentido diferente: o de retomada dos bens roubados.

O tema da luta é figurativizado como “chacina”. Outras figuras que dão concretude a esse tema são a “cruz” e “a espada”, no caso, figurativizando a competência do poder-fazer do ator, o europeu, Colombo e os navegadores.

O tema da resistência versus passividade configura-se pelos nomes de heróis do passado como “Zumbi” dos Palmares,

“Marçal”, Proãno”, “índios”, “negros”, “populares” e por aqueles (MST) que hoje continuam a resistência. Diferentemente de uma certa História que, até bem pouco tempo, colocava o sujeito índio e negro como passivo, inocente primitivo, o discurso do MST Referências bibliográficas

BARROS, D. L. P. de. Teoria semiótica do texto. 4. ed. São Paulo: Ática, 1997.

________. Teoria do discurso: fundamentos semióticos. 2. ed. São Paulo: Humanitas, 2001.

BERTRAND, D. Caminhos da semiótica literária. Bauru, SP: EDUSC, 2003.

COSTA, S. B. B. O aspecto em português. São Paulo: Contexto, 1990.

FIORIN, J. L. Elementos de análise do discurso. 10. ed. São Paulo:

Contexto, – (Repensando a Língua Portuguesa), 1997.

FOUCAULT, M. A ordem do discurso. 6. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2000.

HOUAISS, A.; VILLAR, M. de S. Minidicionário Houaiss da Língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003.

MST. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. CD Arte em Movimento. Compact disc - digital áudio – MSTCD01. Discograf gravações, 1998.

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efeitos de verdade, fazer crer, para conquistar a adesão cognitiva e efetiva do destinatário.

2.2. Tematização e figurativização

Conforme demonstramos no gráfico do esquema geral do texto, no nível narrativo, há um PN (não numerado), fazer-saber, que encaixa todo o resto. Esse PN é revestido, no nível discursivo de que nos ocupamos agora, pelo tema da comunicação da verdade histórica.

Lembremos que na letra, basicamente, um destinador sanciona negativamente a perfórmance daqueles que contaram a história do país dos deserdados, adotando o ponto de vista do colonizador e, dessa forma, produziram uma mentira que é preciso substituir pela verdade, a versão que é e parece verdadeira, a dos sem-terra. Como diz a letra: “Esta história de dois mundos pelo mundo se espalhou / Com uma visão colonialista não mostraram a nossa dor”.

Esse tema da comunicação da verdade histórica é concretizado, como vimos, no estudo da projeção da sintaxe discursiva, por um ator figurativizado esparsamente. Trata-se de um ator que se apresenta coletivamente como um “nós”, designando o MST e todos aqueles que fazem a luta pela reforma agrária da terra, da educação, da produção do saber, da história. Esse ator é apresentado como aquele que comunica um saber sobre a história da luta pela terra a partir de dois pontos de vistas unificados: o daquele que participa e faz essa história e o daquele que pensa e elabora o saber sobre essa história, tomando-a como objeto.

Trata-se de uma comunicação de um saber histórico que se pretende diferente daquele produzido por “uma visão capitalista” (verso 9) e que

“não mostraram a nossa dor” (verso10). Vemos que esse tema da comunicação de um novo saber histórico ao povo converge para a concretização da concentração (das terras, da educação e da produção do saber) como o que deve ser negado e condenado.

figurativiza-o como verdadeiro sujeito que foi capaz de projetos de reação e reagiu contra os colonizadores.

O tema da liberdade versus dominação é concretizado principalmente pela figura da “escravidão” e “mão-de-obra barata” e pelos atores “índios-negros e populares” que eram livres na época da primeira história mencionada pela letra e escravizados durante a segunda história, quando foram espoliados de suas terras e de sua força de trabalho.

Por fim, aparecem os temas recorrentes em todas as letras: o da luta pela reforma agrária, cujo ator é o MST e o tema da organização, na isotopia política, cujas figuras são: “organização”, “pra ter mais força é preciso unificar”.

O enunciador, para convencer o enunciatário a crer, a aderir ou a apoiar a luta dos sem-terra, apresenta-se como um sujeito epistêmico1 revestido de dupla natureza: a daquele que vive subjetivamente a luta pela terra (que faz a história) e a daquele que pensa e reflete sobre ela como objeto. A letra afirma, nos versos 9 e 10, que “a história de dois mundos pelo mundo se espalhou” e que “com uma visão colonialista, não mostraram a nossa dor” – como uma justificativa para a comunicação de um novo saber sobre a história da luta pela terra.

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Esse tema desencadeia o tema do bem e do mal. Este é figurativizado pelos atores de um dos “mundos” mencionados na letra, cujas figuras são: a “Europa”, a “civilização”, “Colombo”, dados como invasores de terras. Essa colocação da letra pressupõe que os atores que concretizam o tema do bem sejam os “índios”, os “negros”, os

“populares”, os do MST, os habitantes da América Latina.

Percebemos que o enunciador produz um discurso que guarda uma relação intertextual com os textos do discurso religioso cristão.

Esse tema desencadeia outros temas:

o da colonização

o da luta

o da resistência Vs passividade

o da liberdade vs dominação

o da luta pela R. Agrária

Desses temas uns são mais e outros são menos figurativizados.

A figurativização é, portanto, esparsa. O tema da colonização é figurativizado como “invasão” pelo enunciador que, dessa forma, argumenta em favor da ação de “ocupação” de terras do MST. Assim, as ocupações ou invasões de terras pelo MST adquire um sentido diferente: o de retomada dos bens roubados.

O tema da luta é figurativizado como “chacina”. Outras figuras que dão concretude a esse tema são a “cruz” e “a espada”, no caso, figurativizando a competência do poder-fazer do ator, o europeu, Colombo e os navegadores.

O tema da resistência versus passividade configura-se pelos nomes de heróis do passado como “Zumbi” dos Palmares,

“Marçal”, Proãno”, “índios”, “negros”, “populares” e por aqueles (MST) que hoje continuam a resistência. Diferentemente de uma certa História que, até bem pouco tempo, colocava o sujeito índio e negro como passivo, inocente primitivo, o discurso do MST Referências bibliográficas

BARROS, D. L. P. de. Teoria semiótica do texto. 4. ed. São Paulo: Ática, 1997.

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MST. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. CD Arte em Movimento. Compact disc - digital áudio – MSTCD01. Discograf gravações, 1998.

Referências

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