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BIOLOGIA. Profº. Silvio Boulhosa

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Academic year: 2021

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Profº. Silvio Boulhosa

BIOLOGIA

COCAÍNA

Considerações iniciais

A cocaína é considerada pelos dependentes químicos como sendo a rainha das drogas. Este fato é devido aos enormes efeitos euforizantes e estimulantes que provoca em seus usuários. Ao ser usada, causa no cocainômano (apreciador/usuário da cocaína) um período de euforia imediata, de confiança em si mesmo, de um sentimento de potência intelectual e física, de onipotência. Causa também perda ou indiferença à dor e à fadiga. Terminados estes efeitos, após algumas horas ou minutos de sua utilização, deixa em seu usuário um estado de ansiedade e de depressão que muitas vezes é corrigido, ou mesmo minorado, pela ingestão posterior de álcool, maconha, tranquilizantes, ou grandes quantidades de tabaco.

Alguns usuários de cocaína que utilizam álcool para diminuir os efeitos devastadores da droga, conseguem sintetizar em seus fígados um composto de cocaína e de álcool, altamente tóxico para o homem, que é o cocaetileno, que ao invés de diminuir o efeito da cocaína, provoca ainda maiores intoxicações ao dependente.

O uso de cocaína pode provocar nos cocainômanos problemas cardíacos; por ser um vaso constritor, acidentes vasculares cerebrais (AVC), graves problemas psíquicos, instabilidade de humor, delírios paranoides, ataques de pânico, agitação motora e hiperatividade, aumento da temperatura corpórea, apatia, irritabilidade, etc. Usuários de cocaína injetável podem contrair os vírus da AIDS ou das hepatites. A maior parte dos usuários de cocaína se transforma rapidamente em dependentes da droga, pois seus efeitos são altamente apreciados e repetidamente buscados por eles.

Obtenção

A cocaína é originária da planta Erythroxylon Coca, encontrada nos Andes do Peru, Colômbia, Bolívia, Equador. Pode-se também encontrar cultivo da coca no Sri Lanka, na ilha de Java e

em países do leste africano. A coca é um arbusto de 1,5 a 4 metros de altura, de cor verde característica, folhas pequenas e um fruto que parece uma noz. Pode-se conseguir de duas a três colheitas de folhas de coca por ano. A cocaína era consumida na América pré- colombiana, mascada ou tomada como chá e servia para mitigar a fome ou para melhorar a respiração e as condições gerais dos indígenas que subiam as grandes altitudes dos Andes, para aí morar e se defenderem de ataques de outras tribos hostis.

As folhas amadurecidas são secas ao abrigo do sol, e precisam ser processadas rapidamente, pois o teor de cocaína diminui rapidamente com o passar do tempo de colheita. As folhas são prensadas, tratadas com querosene ou óleo diesel, durante três dias. O suco obtido é tratado com cal virgem ou cimento, filtrado, e o conteúdo obtido, pastoso e já rico em cocaína é seco ao sol. A pasta obtida é depois tratada com ácido clorídrico, éter ou acetona, cal, amoníaco e álcool ou gasolina pura. A partir de então os cristais começam a se depositar, e o conteúdo é filtrado e então se obtém o cloridrato de cocaína.

A cada filtração se conseguem novas quantidades do produto.

Sintetização da cocaína

Quem sintetizou a cocaína pela primeira vez foi o químico alemão Albert Niemann, em 1862, e seu uso como anestésico local começou a se dar a partir de 1880, fato que facilitou o desenvolvimento das primeiras cirurgias. As primeiras cirurgias de olhos se deram após o uso da cocaína como anestésico local. Freud, pai da Psicanálise chegou a receitar cocaína para melhorar o humor de pacientes depressivos e para tentar eliminar o uso de ópio de pacientes dependentes do produto. Somente se deu conta dos efeitos adictivos da cocaína após algum tempo de utilização em seus pacientes.

Características físicas e químicas

A cocaína é um pó branco, flocoso e cristalino. Seus principais derivados são a pasta base, que é a mesma pasta obtida no início da preparação da cocaína, rica em cocaína, mas ainda impura, contando com até 40% de impurezas, quase todas altamente tóxicas.

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Serve para a fabricação da merla, produto similar ao crack, que é usado fumado pipado, ou misturado ao fumo de tabaco ou maconha . O cigarro composto de tabaco e merla, fumado para se absorver a cocaína é chamado de basuco.

O Crack

O crack é obtido pela adição de bicarbonato de sódio à cocaína, de baixa qualidade, mais a adição de água, ou éter ou amoníaco. É vendido na forma de pequenas pedras de cor amarelo- escuro, e pode ser fumado em cachimbos improvisados, pois seu ponto de evaporação é baixo, ao contrário da cocaína que não pode ser fumada, por não evaporar, devido ao seu alto ponto de evaporação. Usuários de crack são chamados de pedreiros. Misturado à maconha, produz o chamado mesclado, produto bastante apreciado pelos jovens iniciantes no uso da cocaína, e não satisfeitos com os efeitos da maconha.

Formas de uso

A cocaína, na forma de pó, é usada sob três formas diferentes: aspirada, por via intranasal; por injeção intravenosa ou subcutânea; ou por fricção nas mucosas da boca, vagina ou pênis. Seu efeito é mais rápido se utilizada por injeção intravenosa ou na forma de crack, demorando alguns segundos para atingir seu pico de efeito. Os tempos médios que a cocaína e o crack levam para produzir efeitos euforizantes no cérebro são: cocaína fumada na forma de crack: 6 a 8 segundos; cocaína injetada: 10 a 20 segundos; cocaína aspirada: 3 a 5 minutos. Seus efeitos podem durar de duas a três horas, e dependem da quantidade usada e da pureza da droga consumida. Os efeitos maiores do crack passam em menos de cinco minutos, e é por esse motivo que o dependente precisa repetir o uso por muitas vezes, até acabar o seu estoque de pedras ou o seu dinheiro.

Devemos lembrar que no Brasil a cocaína é misturada a várias impurezas, com o propósito de diminuir custos e aumentar o lucro dos traficantes. Os principais produtos que os traficantes se utilizam para melhorar seus lucros sobre a venda de cocaína são: talco, sílica, aspirina em pó, farinha, açúcar, pó de mármore, e, em volume, estas impurezas atingem de 30 a 70% do peso da cocaína vendida.

Ação no cérebro

A cocaína em suas várias formas de uso age no cérebro provocando a estimulação dos sistemas dopaminérgico, serotonérgico e da noraepinefrina. Junto com esta estimulação, ocorre o bloqueio da recaptação dos neurotransmissores, principalmente da dopamina. Este fato faz com que ela permaneça mais tempo na fenda sináptica, elevando a intensidade dos efeitos da ação da dopamina, provocando intensos estímulos e prazer no cérebro do usuário.

Problemas físicos e psicológicos causados pela cocaína

Os principais problemas de saúde que aparecem com o uso da cocaína e do crack são de cunho cardiorrespiratório e circulatório, principalmente tosse sanguinolenta, desgaste da mucosa do nariz, dores no peito, dificuldades de respirar, taquicardia, arritmia cardíaca, hipertermia, pupilas dilatadas (midríase), grande tensão muscular. Podem ocorrer durante o consumo da cocaína ou do crack perdas de consciência e ataques convulsivos.

Do ponto de vista psicológico a cocaína faz de seus usuários pesados pessoas depressivas, que podem se suicidar; pessoas ansiosas, cansadas, irritadas, muitas vezes agressivas, esquecidas, com baixa capacidade de aprendizado, desmotivadas para a vida, e, sobretudo, dependentes do uso da droga. As alucinações, delírios, crises de medo, tremores, mania de perseguição e paranóia, em geral, são sentidas e vividas pelos usuários e trazem a todos eles muito desconforto, isto a cada novo uso da droga que fazem. Em muitos dependentes de cocaína aparece uma síndrome amotivacional intensa, a qual os deixa desligado do mundo, sem qualquer interesse de viver.

Problemas sexuais

Quase todos os usuários pesados de cocaína e crack, ao longo de suas vidas, perdem o interesse sexual, apresentam impotência sexual, incapacidade de manter ereção e ejaculação precoce. A falta de cuidados sexuais dos cocainômanos pode levá-los a contrair doenças

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sexualmente transmissíveis (DST), além de AIDS e hepatites.

Problemas sociais

Socialmente o uso da cocaína produz dependentes químicos, que necessitam cada vez maiores quantidades da droga, e cujo custo de obtenção é alto. Lembremos que um dependente de cocaína pode gastar de R$ 100,00 a R$

200,00, diários, pois um grama da droga, ou uma pedra de crack custam, em média, R$

10,00 /cada. Para obter a droga passa a utilizar- se de expedientes ilegais. Inicialmente vende suas próprias coisas, como roupas, joias, aparelhos eletrodomésticos; depois rouba coisas e objetos da própria família. Após algum tempo pratica roubos, assaltos, e se envolve com o tráfico. Daí para frente é certo que passará a ter envolvimento com a polícia, e a fazer parte da criminalidade.

Mulheres e gravidez

As jovens e meninas dependentes da cocaína e do crack não hesitam em se prostituir para poder manter sua dependência da droga, e muitas vezes até se mudam para as favelas, locais nos quais a cocaína lhes é de acesso mais fácil. Usuárias de cocaína que engravidam são mais sujeitas a serem portadoras de doenças sexualmente transmissíveis, e a terem abortos espontâneos, placenta prévia, perda de líquido, e os bebês gerados são crianças de baixo peso, irritadas, hiperativas e hipercinéticas, portadoras da síndrome de abstinência de cocaína herdada das mães, e se teme, que algumas destas condições possam ser irreversíveis. Crianças nascidas de mães usuárias de drogas durante a gravidez podem ser portadoras de defeitos genéticos como a microcefalia (cabeça pequena), e são mais sujeitas a terem acidentes vasculares cerebrais.

Comorbidades

Comorbidades psiquiátricas são as doenças e transtornos mentais que coexistem com o uso da droga, e que já existiam antes do dependente começar o seu uso da cocaína ou que aparecem após o uso frequente da droga. É muito difícil encontrarmos um dependente de cocaína que não tenha sido anteriormente diagnosticado como hiperativo, depressivo, ansioso, bipolar, Borderline, antissocial, esquizofrênico, ou portador de outros transtornos mentais.

Dependendo do estudo que levarmos em consideração, chega-se a até a 80% de usuários que apresentam comorbidades psiquiátricas.

A principal justificativa para o uso de drogas por esta população é que fariam uso de drogas para mitigar as condições psíquicas e psicológicas que experimentam ao longo de suas vidas, como agitação física e mental, tristeza, perdas financeiras e econômicas, baixa competitividade, fracasso pessoal e fracasso laboral.

Desenvolvimento da dependência química

É fácil provar que a cocaína causa dependência química nos seus usuários pesados.

Ela, na forma do crack, e a heroína são as drogas de maior poder adictivo. A cocaína provoca nos cocainômanos perda do controle sobre o uso, tolerância de uso, síndrome de abstinência, cura da abstinência por um novo uso da droga, além de uma grande dependência psicológica com a falta de uso da droga.

Síndrome de abstinência

A falta de uso de cocaína causa nos dependentes químicos e cocainômanos uma grande apatia, disforia, falta de prazer, depressão, comportamentos violentos, irritabilidade, desmotivação e vontade e necessidade de voltar a consumir a droga. São identificadas três diferentes fases de abstinência:

Fase 1 – crash: que se segue ao consumo intenso da droga, se manifesta de 15 a 30 minutos após o uso. É caracterizada por apresentar depressão, agitação motora, paranoia e grande ansiedade, que logo se transformam em vontade de dormir e cansaço. Podemos considerar o crash como sendo uma ressaca do uso da cocaína, e pode ser um fato que antecede a abstinência.

Fase 2: que é a verdadeira abstinência e ocorre após alguns dias ou mesmo após algumas horas da parada do uso da droga.

Nos primeiros dias após o último uso (1 a 4 dias), aparece um pequeno desejo de uso, entremeado com sono. Depois surgem a disforia ou uma pequena depressão inicial, irritabilidade, depressão, ansiedade, mal- estar generalizado e mesmo intenções ou

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ideações suicidas. Esta fase pode durar de 2 a 10 semanas, e é nela que surgem as maiores recaídas do tratamento.

Fase 3 – craving: é a fase de extinção dos sintomas de abstinência, e nela os dependentes ainda lembram os efeitos prazerosos do uso da droga, (craving), mas conseguem ficar bem, sem necessitarem voltar ao uso. Pode se estender por vários meses ou até por alguns anos.

A gravidade da síndrome de abstinência, bem como sua duração, depende das características pessoais do paciente, do tempo de uso da droga, da intensidade com que foi usada, do uso de outras drogas em conjunto com a cocaína, e da presença de comorbidades no paciente.

Intoxicação

A ingestão exagerada de cocaína pode causar no cocainômano comportamentos estereotipados, violência, irritabilidade, tiques, medo e pavor, depressão, angústia, alucinações táteis e visuais, pode também apresentar convulsões e desmaios. Durante a intoxicação de cocaína, o cocainômano pode apresentar AVCs (acidentes vasculares cerebrais), de alta intensidade, quase sempre fatais; ou mesmo de baixa intensidade, que podem trazer ao cocainômano pequenos rompimentos de mini vasos cerebrais, e que no futuro, podem se transformar em sérios problemas circulatórios cerebrais.

Com certeza estes problemas cerebrais apresentados pelo uso da cocaína levam o usuário à atrofia cerebral. O uso de cocaína pode levar os usuários a ataques cardíacos fatais, inclusive em jovens, e a cardiopatias causadas por excessivos aumentos dos batimentos cardíacos, durante o uso.

Tratamentos

Caso o paciente esteja usando a cocaína e/ou seus derivados, já há muito tempo, e apresentando síndrome de abstinência, é quase sempre necessário que passe por uma desintoxicação medicamentosa, de preferência em clinica especializada ou em hospital, sob

rigoroso controle médico. É fundamental para este tratamento conhecer se o dependente é também usuário de outras drogas, em conjunto com a cocaína, que é o caso da maioria dos dependentes químicos.

O paciente é mantido isolado, tratado com calmantes e medicações hipnóticas para seu próprio conforto. Com o passar do tempo de desintoxicação, mais ou menos de cinco a dez dias, o paciente pode iniciar o tratamento de recuperação, que consiste, quase sempre em internação em clínicas ou comunidades, pelo tempo necessário, sessões terapêuticas, de preferência do tipo comportamental-cognitiva;

terapia medicamentosa e laborterapia.

Não deve ser esquecido o tratamento das comorbidades, que estão sempre presentes nos dependentes da cocaína. Tratar a dependência química de cocaína e não tratar as comorbidades resulta sempre em fracasso do tratamento, e em recaída.

Tratamento familiar: para que o tratamento do paciente tenha efeito é necessário que sua família frequente grupos de apoio, como o Amor Exigente, Naranon ou outros. Caso esta família seja disfuncional ou complicada, todos os seus membros importantes para o tratamento devem se submeter a terapia familiar, com um terapeuta especializado em família.

Pós-tratamento

O dependente de cocaína deve frequentar grupos de apoio NA/AA. Os grupos de autoajuda recomendam para quem se tratou em comunidades/clínicas terapêuticas que frequente em 90 dias 90 reuniões de NA.

Fazer terapia com terapeuta que, de preferência, utilize em suas sessões, terapia cognitiva/comportamental.

Modificar hábitos, situações, locais e amigos que o levaram ou o acompanharam quando de seu uso de drogas.

Continuar o tratamento de suas comorbidades com um psiquiatra especializado.

Se possível, fazer alguma terapia ocupacional.

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Ser submetido frequentemente, pelo terapeuta, a testes de urina para detecção de uso de drogas.

Quando do retorno à sua família inicialmente dedicar-se a algum curso profissionalizante como computação, línguas, música. Depois pensar em voltar aos estudos e só então, voltar ao trabalho.

Lembrar que o paciente terá como prioridade o tratamento, nos grupos, no psicólogo, no psiquiatra.

Créditos

Autor: Professor Douglas

http://www.profdouglaslafemina.com

Referências

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