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Cad. Saúde Pública vol.25 número11

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Academic year: 2018

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Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(11):2531-2535, nov, 2009

a publicação reforça a necessidade de “focar a saúde em todas as políticas”, devendo os estados nacionais conduzirem reformas sistêmicas que fortaleçam e prio-rizem a Atenção Primária em Saúde.

Nos últimos capítulos, dada a complexidade do setor saúde, o relatório defende as ações públicas, com políticas descentralizadas e partilhadas com a socie-dade civil. Destaca as Conferências Nacionais de Saú-de, no Brasil, e sua agenda orientada para valores de democracia, humanização e controle social na saúde, como exemplo bem-sucedido de participação social. Não obstante, o relatório retoma a questão das diver-gências/contradições de interesses no setor saúde, considerando que a Atenção Primária em Saúde, só é viável, mediante diálogo político estruturado e partici-pado, que reconduza a formação profissional, a produ-ção dos insumos e a oferta dos serviços para interesses coletivos, de forma solidária.

Trata-se de uma leitura fundamental para estudan-tes, professores e formuladores de política no Brasil, pois, apesar de um olhar panorâmico, coloca à dispo-sição evidências mundiais que se somam aos esforços dos defensores do SUS, uma vez que o texto, de modo geral, fortalece os vários argumentos que estão presen-tes desde o início da Reforma Sanitária brasileira.

Adriano Maia dos Santos

Instituto Multidisciplinar em Saúde, Universidade Federal da Bahia, Vitória da Conquista, Brasil.

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.

maiaufba@ufba.br

Ligia Giovanella

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.

giovanel@ensp.fiocruz.br

PARTICIPAÇÃO E SAÚDE NO BRASIL. Cortês SV. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2009. 205 pp. ISBN: 9788575411766

Os estudos que compõem o livro procuram introduzir quatro perspectivas de análise inovadoras para o de-bate sobre a participação na área da saúde. A primeira delas é a recusa a falsos dilemas; sobre “se os conselhos de saúde são deliberativos” ou “se as relações entre os atores no interior desses fóruns são igualitárias”. De acordo com a autora, seguir esses questionamentos levam o pesquisador a constatar o óbvio: os conselhos são deliberativos no sentido em que discutem exausti-vamente as questões da agenda setorial; e as relações de poder em seu interior não são igualitárias. Em vez

disso, as lentes de análise utilizadas buscaram compre-ender como participavam os atores sociais e estatais e qual o papel dos conselhos na arena decisória.

A segunda perspectiva refere-se ao fato de as in-vestigações não se limitarem a realizar estudos de caso, tão comuns quando se trata dessa temática.

Uma terceira é que a análise não focaliza só os par-ticipantes usuários – que não foi considerada adequada para a análise de processos políticos que envolvem ato-res coletivos. Conceitos como atoato-res estatais e societais são utilizados pela pesquisa para designar aqueles que agem representando interesses de órgãos públicos ou de governo, como é o caso dos primeiros, ou represen-tando interesses da coletividade ou particulares, no ca-so dos segundos.

Os estudos identificaram a existência de articu-lações entre atores societais e estatais, que por vezes constituíam-se em comunidades de políticas, que des-consideravam os limites formais entre Estado e socie-dade. Tais comunidades agem em contextos de redes políticas e são integradas por indivíduos que comparti-lham uma determinada visão sobre quais deveriam ser os resultados das políticas.

Uma quarta perspectiva inovadora utilizada pela pesquisa foi o uso da abordagem teórica que ressalta as relações de interdependência entre as instituições, os atores estatais e os atores societais. Os estudos uti-lizaram as contribuições do institucionalismo histórico e das vertentes teóricas político-institucional, constru-cionista e estratégico-relacional, ao destacar a impor-tância não apenas das redes de relações entre atores sociais, mas também entre eles e atores estatais. Para os autores essas abordagens permitem o uso da noção de “configuração de relações”, inspirada em Norbert Elias, que concebe a sociedade como algo que está sempre “se fazendo”, mudando, ainda que de modo incremental. Uma das contribuições interessantes ressaltadas no livro pela organizadora, que os estudos de Partici-pação e Saúde no Brasil disponibilizam para o debate sobre o tema, é a constatação de que os atores sociais exercem uma influência decisiva na dinâmica de traba-lho dos fóruns. Dentre esses atores, os representantes de profissionais e trabalhadores de saúde destacam-se como protagonistas de articulações entre atores sociais realizadas no espaço dos conselhos.

Para cumprir a finalidade a que o livro se propõem, a organizadora dividiu o impresso em seis capítulos e uma introdução, sendo que a introdução e o último ca-pítulo foram redigidos por ela.

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Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(11):2531-2535, nov, 2009 participam nas atividades do CNS e qual o papel do

fórum na arena decisória da área; além de resgatarem o histórico do CNS em todas as suas reformulações. Desde que foi criado, em 1937, e até 2006, o CNS sofreu sucessivas modificações que refletiram transformações nas concepções de saúde dos gestores federais da área, nas políticas de saúde e na gestão destas políticas. No ano de 1987, o CNS passou a ser deliberativo, mas se envolveu pouco nos debates sobre reforma do sistema. Entre 1990 e 2006, as funções do CNS permaneceram as mesmas, mas sua composição e seu papel na are-na de decisão se modificaram, cresceu o número de conselheiros vindos da sociedade civil e diminuiu a participação dos representantes governamentais e de mercado, que não perderam importância mas ganha-ram espaço para atuação em outras arenas, como as Comissões Intergestores Tripartite e Bipartite, privile-giadas pelos representantes governamentais, e o Judi-ciário e Legislativo, privilegiados pelos representantes de mercado. Essa mudança significou perda de espaço decisório por parte do CNS.

O segundo capítulo cumpre dois objetivos pa-ra examinar a dinâmica das relações sociais no CNS: analisar o funcionamento do fórum focalizando a in-tervenção dos diferentes atores e a dinâmica das dis-cussões no plenário, e buscar evidenciar que o padrão de funcionamento observado pode ser explicado pela configuração das relações estabelecidas entre os di-ferentes atores envolvidos nas atividades do CNS. Os conselheiros mais assíduos e que mais coordenam os pontos de pauta são os que representam a sociedade civil. Os temas privilegiados pelas discussões são: o funcionamento e papel do próprio CNS e do contro-le social, políticas específicas e programas de saúde e longas intervenções informativas. Os autores con-cluem que o papel dos conselheiros no processo de-cisório da área é resultado da estratégia adotada por eles, que optaram por privilegiar o funcionamento do Conselho e controle social nas discussões e na restri-ção da arestri-ção dos representantes governamentais e de mercado.

No terceiro capítulo temos a análise das dinâmicas das relações sociais no interior do CNS do Rio Grande do Sul, e a posição desse fórum na configuração das re-lações sociais da área de saúde no estado. O quarto ca-pítulo trata do funcionamento, atores e dinâmicas das relações sociais nos Conselhos Municipais de Saúde da Região Metropolitana de Porto Alegre.

Já o quinto trata dos mecanismos de participação em hospitais do Ministério da Saúde em Porto Alegre e na cidade do Rio de Janeiro. Os autores fazem uma caracterização dos hospitais incluídos no estudo e dos

RESENHAS BOOK REVIEWS

mecanismos participativos, individuais e coletivos, uti-lizados nos mesmos.

No último capítulo, a organizadora Soraya Vargas Cortês finaliza com uma breve conclusão sobre os estudos que compõem o livro e suas expectativas em relação a ele, que incluem a esperança de que estimu-le novas pesquisas e que as análises contribuam para que os atores políticos reflitam sobre suas ações nos conselhos e sobre as condições institucionais que as condicionam.

O livro nos fornece uma rica reflexão sobre o tema da participação social em saúde no Brasil, tem uma linguagem acessível tanto para os acadêmicos quanto para os atores políticos que estão diretamente envolvi-dos no processo de decisão. Apresenta bem o histórico do CNS, a metodologia utilizada pelos autores na pes-quisa, além de um referencial teórico bem explicitado. Com certeza se trata de uma perspectiva inovadora pa-ra a leitupa-ra dos mecanismos participativos no Bpa-rasil na área da saúde, e também suscita muitas questões ao se disponibilizar como um trabalho para futuros estudos.

Nidilaine Xavier Dias

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.

Referências

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