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2. REVISÃO DE LITERATURA

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1. INTRODUÇÃO

O câncer é uma doença comum e séria para o ser humano. Muitos tiveram ou terão uma experiência pessoal com o câncer em si, um membro da família, ou um amigo próximo (WITRHOW; VAIL, 2007).

Segundo Witrhow e Vail (2007), o câncer gástrico é a sexta causa mais comum de morte por cancêr em seres humanos. O adenocarcinoma constitui mais de 90% de todos os tumores malignos. Múltiplos fatores socioeconômicos, geográficos e ambientais estão associados ao risco de desenvolvimento de tumor. O Helicobacter tem sido associado com o desenvolvimento de carcinoma gástrico humano mas não tem sido correlacionado com a carcinogênese no cão. A maioria das lesões em humanos é firme, ulcerada, e localizada no antro ou no terço inferior do estômago. As lesões são detectadas tardiamente no curso da doença e têm extensão direta para os órgãos circundantes, metástases em linfonodos, ou metástase sistêmica. O tratamento é feito através da ressecção cirúrgica, quando possível, ou menos eficazmente com radiação e quimioterapia. Uma taxa de sobrevivência de cinco anos corresponde a menos de 10%

para todos os pacientes, comparado a uma taxa de sobrevivência de 30% para os pacientes com doença "localizada".

A neoplasia alimentar é um problema comum e importante em cães e gatos geriátricos. Embora existam vários tipos possíveis de células, locais e sinais clínicos associados (WILLARD, 2012). Infelizmente, a prevalência de câncer em animais de companhia continua a subir, e o preço que eles pagam por estar vivendo mais é um aumento na probabilidade de desenvolver câncer. A maior expectativa de vida é resultado de uma melhor nutrição, vacinação (impedindo muitas doenças contagiosas antetiormente fatais), melhor prevenção e práticas médicas terapêuticas e, possivelmente, uma profunda devoção (vínculo humano-animal) a animais de companhia nos últimos 10 a 20 anos (WITRHOW; VAIL, 2007).

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2. REVISÃO DE LITERATURA

Os tumores gástricos são mais comuns que os esofagianos, mais ainda são raros em cães e gatos (SOBRAL et al., 2008). Não há nenhuma evidência definitiva sobre a etiologia dos tumores gástricos em cães e gatos, e a sua relativa raridade mesmo nos países onde existe uma elevada incidência de câncer gástrico em seres humanos sugerem que estas espécies não são expostos aos mesmos perigos como os seres humanos, não são expostos durante um período suficientemente longo, ou têm uma resistência específica da espécie (GUALTIERI et al., 1999).

A neoplasia gástrica primária é um importante diagnóstico diferencial para o cão ou gato com vômitos, especialmente crônico, anorexia e perda de peso, principalmente em animais de meia-idade e mais velhos (SELLON, 2008). Os tipos tumorais relatados são adenocarcinoma, linfoma, tumor de mastócitos, leiomioma, leiomiossarcoma e fibrossarcoma (RASMUSSEN, 2007). Segundo Witrhow e Vail (2007), a administração de nitrosaminas a longo prazo pode induzir carcinomas em cães.

O adenocarcinoma é a neoplasia gástrica mais comum em cães, compreendendo 1 a 2% de todas as neoplasias malignas e 47 a 72% de todas as neoplasias gástricas (PATNAIK et al., 1978). Carrasco et al. (2010) relatam que 60 a 70% dos tumores gástricos são malignos. Neoplasias gástricas frequentemente passam despercebidas até atingirem estágios avançados, porque crescem para a luz ou espalham-se lateralmente dentro da parede (VAN KRUININGEN, 1998). Qualquer parte do estômago pode ser afetada, mas a incisura angularis e antro/piloro são frequentemente afetados.

Adenocarcinomas de piloro são geralmente anelares e estenosantes (GUALTIERI et al., 1999). Estes tumores são localmente invasivos, mas eles metastatizam para linfonodos regionais cedo (WILLARD, 2012). Segundo Sobral et al. (2008), os alvos metastáticos dos adenocarcinomas com frequência são os linfonodos regionais, fígado, duodeno, omento, pâncreas, baço e pulmão. De acordo com Witrhow e Vail (2007), uma ocorrência incomum de metástases no testículos foi relatado em três cães. Dell’Orco et al. (2005), relataram a ocorrência de metástase cutânea em um cão.

As raças que mais comumente desenvolvem câncer de estômago incluem o Collie, Staffordshire Bull Terrier, Cão Pastor Belga e Chow Chow e a média de idade dos cães afetados é de 9,5 anos de idade. A raça Pastor Belga, potencialmente, tem uma

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predisposição genética para o desenvolvimento de adenocarcinoma gástrico (DEGNER, 2010). Segundo Willard (2012), cães da raça Chow Chow parecem predispostos a carcinomas gástricos. Os machos parecem ser mais comumente afetados que as fêmeas (HEDLUND; FOSSUM, 2008). Um exame dos pedigrees de oito pastores belgas com carcinoma gástrico demonstraram que dois destes animais eram irmãos completos e que os cães restantes compartilharam um ancestral comum (GUALTIERI et al., 1999). Os adenocarcinomas gástricos originam-se do epitélio glandular e, usualmente, assumem crescimento difuso e infiltrativo, podendo originar metástases por via intramural ou pelos linfáticos da submucosa (SOBRAL et al., 2008).

Figura 1. Estômago de um cão com adenocarcinoma gástrico. Note-se a grande úlcera e espessamento fibroso da parede do estômago na área do antro gástrico (setas). Fonte: Withrow e Vail (2007).

Os sinais clínicos, resultados hematológicos e bioquímicos normalmente não são específicos (GUALTIERI et al. 1999; WILLARD apud RIONDATO et al., 2014).

Segundo Guatieri et al. (1999), os sinais clínicos são leves desde o início e são frequentemente crônicos. Em alguns cães, no entanto, os sinais podem ser agudos e podem imitar obstrução gastrointestinal. Sobral et al. (2008) mencionam que o principal sinal da doença é a presença de vômitos crônicos, a anorexia, perda de peso, melena, dor abdominal e ptialismo, sendo que a avaliação hematológica pode indicar a presença de anemia, geralmente regenerativa, pela perda de sangue proveniente das lesões

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gástricas. No entanto, a anemia não é especialmente comum, e sua ausência não diminui a probabilidade de um carcinoma gástrico (WILLARD, 2012). Segundo Witrhow e Vail (2007), os vômitos muitas vezes estão tingidos de sangue ou “borra de café”. Gualtieri et al. (1999), não observaram uma relação estrita entre o grau de envolvimento da parede gástrica e a gravidade dos vômitos; não raramente, lesões gástricas pequenas e localizadas têm sido associadas com vômitos severos, embora o envolvimento difuso da parede gástrica tenha causado uma sintomatologia mais branda. Rasmussen (2007) relata, ainda, que pode haver deficiência de ferro e hemoconcentração causada pela desidratação, hipoproteinemia, hipocalemia, hipocloremia e alcalose ou acidose metabólica pela perda de eletrólitos ou diminuição da ingestão de alimentos. As enzimas hepáticas podem estar elevadas devido a metástases hepáticas ou obstrução do ducto colédoco. A duração dos sintomas é de semanas a diversos meses (WITRHOW;

VAIL, 2007).

O exame físico na maioria dos pacientes não é abertamente sugestivo de neoplasia gástrica (SELLON, 2008). Os animais podem estar abaixo do peso, com aspecto desleixado, desidratados ou pálidos (RASMUSSEN, 2007). Ocasionalmente, uma grande massa pode ser palpada no estômago, no entanto, palpação detalhada do estômago é normalmente difícil. A dor abdominal pode estar presente com ulceração ou pancreatite (HEDLUND; FOSSUM, 2008). O diagnóstico clínico desses tumores pode ser realizado através de procedimentos como a endoscopia, radiografia e ultrassonografia, unidos aos sinais clínicos e confirmados pela histologia de fragmentos de biopsia representativos (ANJOS et al., 2008).

A endoscopia é normalmente a forma mais sensível e específica para o diagnóstico de carcinomas gástricos (WILLARD, 2012). O exame endoscópico possibilita a visualização da(s) lesão(ões), além da coleta da biopsia simultânea ao exame (SOBRAL et al., 2008). O tamanho, localização e morfologia do tumor, incluindo a extensão proximal e distal da disseminação, bem como outras anormalidades das mucosas são avaliadas (GUALTIERI et al., 1999). Várias amostras

“grandes” devem ser colhidas, uma vez que a maioria dos tumores gástricos têm necrose superficial, inflamação e ulceração (WITRHOW; VAIL, 2007). Achados endoscópicos em animais com tumores gástricos incluem úlceras e erosões, lesões polipoides, espessamento evidente da parede gástrica, incapacidade de distender o estômago com ar e retenção ou relevo das pregas (SELLON, 2008). Segundo Witrhow e

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Vail (2007), em alguns pacientes as lesões estão presentes apenas na submucosa o que faz a biopsia endoscópica mais difícil. Biopsias falso-negativas através do endoscópio são comuns, portanto a biopsia cirúrgica é o método mais definitivo do diagnóstico.

Radiografias simples de abdômen raramente revelam uma massa gástrica (WILLARD, 2012). Achados radiográficos podem incluir parede gástrica espessada, o deslocamento do estômago, falhas de enchimento e de irregularidades da mucosa (estudos de contraste), e hipomotilidade gástrica ou obstrução (estudos de contraste) (SELLON, 2008). Fluoroscopia pode auxiliar na determinação de alterações motoras (WITRHOW; VAIL, 2007).

Figure 2. Gastrograma contrastado positivo de um cão com carcinoma gástrico mostrando defeitos de enchimento da parede gástrica.Fonte: Gualtieri et al. (1999).

Com o uso da ultrassonografia abdominal, é possível avaliar a espessura da parede e características da mucosa, e o paciente pode ser examinado para massa no estômago, linfonodos e órgãos circunjacentes (RASMUSSEN, 2007). No entanto, pode ser difícil de analisar adequadamente toda a parede gástrica por causa do conteúdo luminal (especialmente gás) e a motilidade gástrica (WILLARD, 2012). A aparência ultra-sonográfica de neoplasia gástrica é geralmente a de uma parede gástrica espessada

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com rompimento das camadas de parede. A falta de camadas murais visíveis provavelmente reflete a infiltração e destruição de tecido pela neoplasia. Ulceração associada com neoplasia gástrica pode ser reconhecida ultrassonograficamente como uma evaginação focal da superfície luminal que contém bolhas de gás aprisionadas (LAMB; GRIERSON, 1999). Pode haver aumento de linfonodos regionais em consequência de uma hiperplasia secundária à inflamação ou metástase. Nódulos no fígado ou no baço podem ser indicativos de doença metastática (SELLON, 2008).

Figure 3. Ultrassonografia com presença de úlceras gástricas e uma superfície mucosa marcadamente irregular (linha pontilhada) neste cão com carcinoma gástrico. Fonte: Lamb e Grierson (1999).

Uma aspiração com agulha fina guiada por ultrassom ou biopsia por agulha grossa pode fornecer um diagnóstico pré-operatório em animais afetados (HEDLUND;

FOSSUM, 2008). Porém, segundo Crystal et al. (1993); Bonfanti et al. (2006) apud Riondato et al. (2014), a punção aspirativa guiada por ultrassom frequentemente produz amostras não-diagnósticas, muitas vezes devido à baixa celularidade. Radiografia de tórax e ultrassonografia abdominal são necessárias para excluir a visível disseminação do câncer (DEGNER, 2010). Muitas dessas alterações podem também ser avaliadas por

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tomografia computadorizada e imagem de ressonância magnética (RASMUSSEN, 2007). As radiografias torácicas são raramente positivas para metástase no momento da apresentação inicial (WITRHOW; VAIL, 2007).

Segundo Riondato et al. (2014), a obtenção de um diagnóstico por resultado histológico através de biopsia tecidual pode demorar de três a cinco dias. Portanto, a utilização de citologia poderia reduzir este tempo e permitir que o tratamento seja instituido de forma mais rápida em animais acometidos pela doença. Esfregaços de impressão a partir de cirurgia e biopsias endoscópicas e técnicas de escova, são confiáveis e mostram boa concordância com a histopatologia (JERGENS et al.,1998;

BONFANTI et al., 2006; VON BABO et al., 2012, apud RIONDATO et al., 2014). A vantagem desta técnica é que as amostras tanto para histopatológico e citologia podem ser coletadas simultaneamente (RIONDATO et al., 2014). Na histopatologia, células neoplásicas são dispostas de forma aleatória, com um padrão de crescimento tubular pouco desenvolvido. As células têm um crescimento muito infiltrativo e invadem as camadas mais profundas da mucosa e até a submucosa, camada muscular e serosa. As células se espalham através da parede gástrica, isoladamente ou em pequenos grupos ou cordas, cercadas por um estroma fibroso ou mucoide (PATNAIK et al., 1978; OWEN, 1999 apud DELL’ORCO et al., 2005). Segundo Gualtieri et al. (1999), as células tumorais são frequentemente detectáveis no lúmen dos vasos linfáticos e sanguíneos.

De acordo com Van Kruiningen (1998), microscopicamente, os adenocarcinomas gástricos têm sido divididos em dois tipos celulares. Cerca de um terço deles são compostos de células do tipo intestinal e as células neoplásicas têm um arranjo glandular marcado, formando túbulos ou ácinos de células epiteliais bem- diferenciadas com bordaduras em escova claras. Essas neoplasias têm reação desmoplásica discreta a moderada e um índice mitótico baixo. O tipo histológico mais comum de adenocarcinoma gástrico é o tipo difuso. Nesse, as células neoplásicas são do tipo gástrico e estão disseminadas pela mucosa e submucosa, vasos linfáticos e camadas musculares, como agrupamentos de mantos celulares (com ou sem arranjo tubular ou acinar). Alternativamente, as células podem ter abundante muco (células em anel de sinete) e corar-se brilhantemente com as técnicas de mucicarmin e PAS.

Adenocarcinomas caracterizados por uma grande quantidade de muco são denominados carcinomas coloides enquanto os que têm desmoplasia marcada são denominados esquirrosos.

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Figura. 4. Preparação A e B. Squash de uma biopsia gástrica de um cão com adenocarcinoma gástrico mostrando morfologia celular de anel de sinete. Médias a grandes células epiteliais com um grande vacúolo citoplasmático que contém material amorfo cor de rosa, deslocando-se o núcleo de forma excêntrica. Corante de Romanowsky. C. seção histopatológico de biopsia gástrica de um cão com adenocarcinoma. Células anel de sinete são as células grandes com citoplasma claro que desloca o núcleo para a periferia da célula. Hematoxilina e eosina. Fonte: Riondato et al. (2014).

Conforme Guarltieri et al. (1999), a laparotomia exploratória é mais invasiva, mas também o melhor método diagnóstico para avaliar neoplasia gástrica em cães. Ela permite a palpação do estômago para avaliar lesões de massa ou espessamento da parede gástrica. Comprometimento metastático de outros órgãos ou gânglios linfáticos também podem ser avaliados. Muitos pacientes têm doença mais extensa encontrada na laparotomia do que foi previsto por exame radiográfico ou ultrassonográfico pré- operatório. O cirurgião pode realizar uma biopsia gástrica de espessura total, minimizando, assim, resultados falso-negativos.

Segundo Hedlund e Fossum (2008), deve ser feito um diagnóstico diferencial, já que a anorexia pode estar presente em diversas doenças sistêmicas como uremia, insuficiência hepática, hipoadrenocorticismo, hipercalemia e doença inflamatória. A obstrução da saída gástrica causada por doenças não neoplásicas pode causar sinais semelhantes, sendo necessário o exame citológico ou histológico para diferenciar estas condições, assim como nos casos de ptiose.

O tratamento clínico tem por objetivo o alívio dos efeitos secundários do tumor (perda de sangue, dor gástrica, hipoglicemia) e, diante de certos tumores pode ser o método primário de redução do volume tumoral (RASMUSSEN, 2007). Sobral et al.

(2008) mencionam que deve ser feito tratamento clínico de vômitos para melhora da

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qualidade de vida naqueles pacientes que possuem tumores inoperáveis. O uso de antieméticos (metoclopramida, ondasetrona), e antagonistas de receptores H2 (cimetidina, ranitidina) e inibidores da bomba de prótons (omeprazol) podem oferecer conforto durante o período de sobrevida. O tratamento médico depende da severidade dos sinais clínicos. Se possível, o balanço eletrolítico, equilibrio ácido-base, anormalidades de hidratação, e de coagulação devem ser corrigidos antes da cirurgia (HEDLUND; FOSSUM, 2008).

A cirurgia é o único tratamento potencialmente curativo, mas é raro que todo o local da doença possa ser removido por cirurgia (WILLARD, 2012). Doença localmente extensa e/ou doença metastática, na maioria dos pacientes com adenocarcinoma opõe a cura cirúrgica, mas a cirurgia pode ainda ser de benefício paliativo para o alívio da obstrução gástrica, se presente (SELLON, 2008). Tal como acontece com o câncer esofágico, a ressecção curativa é complicada pelo estado avançado da doença em uma área dificil de operar (curvatura menor, antro e piloro), com pacientes frequentemente debilitados (WITRHOW; VAIL, 2007). Segundo Willard (2012), a ressecção da parede gástrica que elimina toda doença local normalmente resulta em uma pequena luz gástrica, tornando-a não funcional. Daleck e Rodaski (2008) relatam que a cirurgia paliativa tem como finalidade principal a melhoria da qualidade de vida, sem necessariamente prolongar a sobrevivência, interferir no prognóstico ou conferir a cura da doença, trazendo benefícios ao paciente por conferir alívio dos efeitos diretos do tumor. Já as cirurgias com propósito curativo têm como objetivo aumentar o tempo de sobrevida e até mesmo a erradicação do tumor ou sua cura.

Segundo Melo e Pinheiro (2010), o tratamento cirúrgico pode ser feito através de gastrectomia associada com linfadenectomia ampliada, embora tal procedimento possa levar a alto índice de morbidade ou mortalidade. Gualtieri et al. (1999) não recomendam fazer uma incisão de gastrotomia, pois isso pode causar a disseminação de células tumorais ou contaminação da cavidade abdominal. Se possível, a gastrectomia parcial ou antrectomia seguida por uma gastroduodenostomia (Bilroth I) devem ser realizados, devido ao aumento da morbidade associada à cirurgia mais extensa, tal como gastrectomia e gastrojejunostomia (Billroth II) (WITRHOW; VAIL, 2007). Segundo Rasmussen (2007), se o tumor se localizar no corpo, no fundo ou no antro e invadir a parede gástrica, mas não envolver inteiramente a circunferência do estômago, será possível fazer uma gastrectomia parcial. Hedlund e Fossum (2008) relatam que se o

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tecido anormal envolve o aspecto dorsal ou ventral do estômago, usa-se uma incisão elíptica contornando a lesão e um pouco do tecido normal adjacente. Ocasionalmente a extensão da lesão requer ressecção tanto da parede ventral como dorsal do estômago.

Nesses casos, é feita ligadura dos ramos das artérias gástricas direita e esquerda (curvatura menor) e artéria e veia gastroepiplóicas esquerdas (curvatura maior) e remove-se os ligamentos do omento. Após a remoção do tecido com suspeita de lesão, executa-se anastomose término-terminal do estômago em duas camadas. Se as circunferências luminais são de tamanho heterogêneo, a maior circunferência pode ser parcialmente fechada realizando-se uma sutura em duas camadas. Fecha-se a mucosa e submucosa da superfície dorsal do estômago com um padrão simples contínuo usando fio de sutura absorvível 2-0 ou 3-0 (por exemplo, polidioxanona ou poligliconato).

Então, com a mesma sutura fecha-se a porção ventral. As camadas serosa e muscular são suturadas em um padrão invaginante (por exemplo, Cushing ou Lembert). Daleck e Rodaski (2008) recomendam a irrigação abundante do campo operatório com solução fisiológica após a exérese neoplásica, embora esse procedimento não seja unânime entre os cirurgiões oncologistas, principalmente quando se trata de cavidades.

Lesões que necessitam de desvio biliar e cirurgia muito extensa (gastrectomia total) são geralmente muito avançadas para fazerem esses procedimentos valer a pena em termos de sobrevivência. Para lesões obstrutivas que parecem inoperáveis para cura ou metástase, é possível realizar uma gastrojejunostomia paliativa para permitir a passagem de alimentos dentro do intestino, embora este procedimento pareça estar associado a uma morbidade pós-operatória significativa (WITRHOW; VAIL, 2007).

O tecido é encaminhado para avaliação histopatológica, para que seja identificado o tipo de neoplasia e a adequação das margens cirúrgicas (RASMUSSEN, 2007). Macroscopicamente, a parede do estômago torna-se espessada, firme e, ao corte, de coloração branca (BROWN et al., 2007 apud ANJOS et al., 2008). A formação de células em anel de sinete e estruturas acinares caracterizam os adenocarcinomas, porém, não ocorrem nos carcinomas indiferenciados (HEAD et al., 2002 apud ANJOS et al., 2008).

No momento da cirurgia, uma avaliação cuidadosa dos linfonodos hepáticos e regionais devem ser feitas para adequamento da fase do câncer (WITRHOW; VAIL, 2007). Deve-se palpar os linfonodos regionais em busca de evidências de metástase;

inspecionar o fígado e as outras estruturas abdominais em busca de metástase ou

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espessamento e fazer uma biopsia das lesões suspeitas (HEDLUND; FOSSUM, 2008).

Gualtieri et al. (1999), relatam que frequentemente encontraram comprometimento metastático do omento, baço e diafragma. Menos frequentemente, o peritônio parietal estava envolvido.

A decisão pela linfadenectomia deve se fundamentar na avaliação clínica do linfonodo (DALECK; RODASKI, 2008). O estudo pré-operatório por imagens tem ainda limitações na detecção de metástase linfonodal para eventual planejamento cirúrgico (MELO; PINHEIRO, 2010). Daleck e Rodaski (2008) citam que apesar da indicação da linfadenectomia para os casos de linfonodos clinicamente comprometidos pela neoplasia, sabe-se que nem sempre este procedimento aumenta a chance de cura.

Uma das desvantagens de se remover o linfonodo afetado é a morbidade associada com a intervenção cirúrgica.

É extremamente importante limitar a atividade e o nível de exercício durante o período pós-operatório (DEGNER, 2010). O estado hidroeletrólitico e ácido-básico do animal deve ser monitorados no pós-operatório e as deficiências devem ser corrigidas.

O animal pode ser alimentado com uma dieta leve de baixo teor de gordura, iniciando- se 24 horas após a cirurgia se não ocorrer vômito (HEDLUND; FOSSUM, 2008). A terapia nutricional enteral é uma modalidade de prática, de bom custo-benefício, fisiológica, e segura que pode melhorar ou eliminar a caquexia pelo câncer e diminuir as complicações da terapia (NIELSEN; ANDERSON, 2005). Em casos de ressecções mais extensas, talvez seja necessário o fornecimento de refeições menores, mais frequentes, e com mais calorias, para manter o estado físico do animal (RASMUSSEN, 2007).

Complicações agudas são comuns. Observam-se vômito, hematemese e inapetência na maioria dos animais; os sinais mais graves são vistos em animais submetidos a procedimentos mais radicais (RASMUSSEN, 2007). A recorrência do tumor ou disseminação do câncer é comum seguinte à cirurgia (DEGNER, 2010).

Pancreatite é comum em seguida a esses procedimentos, diante do grau de manipulações manuais e rompimentos vasculares, exigindo tratamento da dor abdominal, perda de líquido e inflamação (RASMUSSEN, 2007).

A literatura veterinária pouco informa sobre a utilização de agentes antineoplásicos no tratamento das neoplasias epiteliais e mesenquimais gástricas de cães e gatos (SOBRAL et al., 2008). Embora a combinação de quimioterapia tenha melhorado a taxa de sobrevivência em cinco anos em seres humanos com carcinoma

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gástrico, ela tem sido supostamente de pouco ou nenhum benefício em cães. Resultados de várias combinações de quimioterapia para carcinoma gástrico canino têm sido desencorajados (GUALTIERI et al., 1999). O uso de quimioterapia tem indicação confirmada para linfomas gástricos (SOBRAL et al., 2008). A radioterapia é raramente utilizada devido à má tolerância que envolve a radiação no tecido normal (fígado e intestino) (WITRHOW; VAIL, 2007).

Infelizmente, o prognóstico para animais com diagnóstico de câncer maligno no estômago é geralmente reservado, mas tumores benignos podem ser removidos com sucesso por cirurgia (DEGNER, 2010). A maioria dos pacientes têm doença local extensa ou metástase no momento do diagnóstico (SELLON, 2008). Withrow e Vail (2007) mencionam que para cães tratados com cirurgia para adenocarcinoma gástrico, a sobrevida media é de dois meses e que são raros os casos que sobreviveram até três anos.

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3. CONCLUSÃO

Através da pesquisa realizada conclui-se que o adenocarcinoma gástrico é uma doença rara em cães, apesar de ser a neoplasia gástrica mais comum. A presença de material disponível na veterinária sobre o assunto é baixa, a julgar pela pouca ocorrência de relatos de caso, principalmente em língua portuguesa. Portanto, espero que esta revisão possa ajudar os demais veterinários.

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REFERÊNCIAS

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