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A FORMAÇÃO DE ‘DEDÉ’ E ‘MALU’: UMA ANÁLISE OTIMALISTA DE DOIS PADRÕES DE HIPOCORIZAÇÃO

Bruno Cavalcanti Lima

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A FORMAÇÃO DE ‘DEDÉ’ E ‘MALU’: UMA ANÁLISE OTIMALISTA DE DOIS PADRÕES DE HIPOCORIZAÇÃO

Bruno Cavalcanti Lima

VOLUME ÚNICO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Orientador:

Prof. Dr. Carlos Alexandre Gonçalves

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A formação de ‘Dedé’ e ‘Malu’: uma análise otimalista de dois padrões de

hipocorização

Bruno Cavalcanti Lima

Orientador: Professor Doutor Carlos Alexandre Gonçalves

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Banca Examinadora:

_________________________________________________

Prof. Doutor Carlos Alexandre Gonçalves – UFRJ (orientador)

_________________________________________________

Profa. Doutora Marília Facó Soares – UFRJ / Museu Nacional

_________________________________________________

Profa. Doutora Mônica Maria Rio Nobre – UFRJ

_________________________________________________

Profa. Doutora Carmen Teresa Dorigo – UFRRJ, Suplente

_________________________________________________

Prof. Doutor João Antônio de Moraes – UFRJ, Suplente

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Lima, Bruno Cavalcanti.

A formação de ‘Dedé’ e ‘Malu’: uma análise otimalista de dois padrões de hipocorização / Bruno Cavalcanti Lima. Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2008.

xi, 67f.: il.; 31 cm.

Orientador: Carlos Alexandre Gonçalves

Dissertação (mestrado)- UFRJ / FL / Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa), 2008.

Referências Bibliográficas: f. 80-83.

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SINOPSE

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RESUMO

A formação de ‘Dedé’ e ‘Malu’: uma análise otimalista de dois padrões de

hipocorização

Bruno Cavalcanti Lima

Orientador: Carlos Alexandre Gonçalves

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Neste trabalho, analiso dois padrões de hipocorização: o de antropônimos compostos, que ocorre, por exemplo, em ‘Malu’ (hipocorização do nome composto ‘Maria Luíza’), e o que apresenta reduplicação à direita, mais especificamente da sílaba tônica, como ocorre, por exemplo, em ‘Dedé’ (hipocorização do antropônimo ‘André’). A análise se baseia na Teoria da Correspondência (McCarthy & Prince, 1995), que segue os princípios da Otimalidade Clássica, estabelecidos em Prince & Smolensky (1993), sendo, por isso, igualmente otimalista e paralelista (Gonçalves, 2004). O hipocorístico deve constituir palavra mínima na língua e, por isso, não pode apresentar mais de um pé binário. Sendo assim, as restrições de tamanho são dominantes na hierarquia, seguidas pelas restrições de marcação e de fidelidade, nessa ordem. Como corpus, utilizo dados coletados em testes e dados que compõem o dicionário de hipocorísticos de Monteiro (1999), disponível em http://www.geocities.com/Paris/cathedral/1036.

Para constatar a presença de padrões mais gerais, foram aplicados testes de aceitabilidade de formas. Para cada forma proposta nos testes, verifiquei qual delas sobressaía em relação às outras. Essa forma destacada seria, portanto, o output ótimo. Assim, um dos objetivos do trabalho é comprovar que as restrições de tamanho, no fenômeno da hipocorização, são as mais altas na hierarquia, superando as de marcação e de fidelidade.

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ABSTRACT

The coinage of ‘Dedé’ and ‘Malu’: an optimalist analysis of two patterns of

hypocorization

Bruno Cavalcanti Lima

Orientador: Carlos Alexandre Gonçalves

Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

In this work, I analyze two patterns of hypocorization: that of compound anthroponyms, wich occurs, for instance, in ‘Malu’ (hypocorization of the compound first name ‘Maria Luíza’), and that which presents reduplication on the right, more specifically of the stress syllable, as in ‘Dedé’ (hypocorization of the anthroponym ‘André’). The analysis is based on Correspondence Theory (McCarthy & Prince, 1995), which follows the Classical Optimality principles, established in Prince & Smolensky (1993), being, this way, equally optimalist and paralelist (Gonçalves, 2004). The hypocoristic should coin the shortest word possible in a given language and, thus, should not have more than one foot with two syllables. Therefore, constraints of size are dominants in the hierarchy followed by markedness constraints and faithfulness, in that order. As a corpus, I use data which have been collected in tests and data which are found in the dictionary of hypocoristics by Monteiro (1999), available at http://www.geocities.com/Paris/cathedral/1036.

In order to establish positive evidence of more general patterns, tests of acceptability of forms have been run. For each form proposed in the tests, I have checked which one stood out in relation to others. That form would be, therefore, the optimum output. So, one of the aims of this work is to prove that constraints of size, in the phenomenon of hypocorization, are higher in the hierarchy, overtopping those of markedness and faithfulness.

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AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, devo agradecer a DEUS, em quem confio e espero. A Ele devo o que tenho e o que me tornei. Concluindo mais uma etapa importante da vida, louvo a DEUS por ter me possibilitado chegar ao fim.

De forma especial e carinhosa, agradeço a todos os meus familiares, especialmente à minha esposa, por demonstrar amor e paciência a cada dia, e à minha mãe, por me amar e me ensinar a ser o que hoje sou. Não posso deixar de homenagear duas pessoas de quem tenho imensa saudade: meu pai e minha avó Giselda, essenciais em minha formação.

Ao Professor Doutor Carlos Alexandre Gonçalves, pessoa fundamental em minha trajetória acadêmica como orientador e amigo, pelo apoio firme e constante, pelo grande conhecimento transmitido, pela paciência e, acima de tudo, por ter acreditado em mim.

Aos amigos da Faculdade de Letras da UFRJ, pelos bons momentos de estudo e amizade. De maneira especial, lembro os amigos que participaram comigo da equipe de Redação do Projeto CLAC/UFRJ (Ana Carolina Morito, Erica Almeida, Hayla Thami, Juliana Segadas, Michelli Ferreira e Suelen Sales). Agradeço também às professoras orientadoras do Projeto: Ana Flávia Gerhardt, Aparecida Lino, Aparecida Pinilla, Filomena Varejão, Mônica Orsini e Violeta Rodrigues.

Agradeço aos queridos amigos da Paróquia de São Jerônimo e ao seu antigo pároco, Padre Luiz Artur Falcão, meu amigo e pai espiritual.

Aos amigos professores do Colégio São Conrado, Colégio São José, Centro Educacional da Lagoa, Curso Carpe Diem e Curso Tamandaré, pessoas queridas com quem divido boa parte do tempo.

Aos meus queridos alunos, que me garantem bons momentos no decorrer de um cansativo dia de trabalho.

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SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO...12

2- O FENÔMENO DA HIPOCORIZAÇÃO...16

3- BASES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS PARA O ESTUDO DA HIPOCORIZAÇÃO...22 3.1 MORFOLOGIA PROSÓDICA...23 3.2 TEORIA DA OTIMALIDADE...27 3.2.1 Propriedades da OT...27 3.2.2 A arquitetura da OT...29 3.2.3 Teoria da Correspondência...31 3.3 BASES METODOLÓGICAS...33

4- O PROCESSO DE HIPOCORIZAÇÃO COM REDUPLICAÇÃO À DIREITA....37

4.1 ANÁLISE VIA MORFOLOGIA PROSÓDICA...38

4.2 ANÁLISE VIA TEORIA DA OTIMALIDADE...45

4.2.1 Restrições de tamanho...45

4.2.2 Restrição de acento...46

4.2.3 Restrições de marcação...46

4.2.4 Restrição de alinhamento...47

4.2.5 Restrições de fidelidade...47

4.2.6 Análise dos antropônimos...50

5- O PROCESSO DE HIPOCORIZAÇÃO DE ANTROPÔNIMOS COMPOSTOS..59

5.1 ANÁLISE VIA MORFOLOGIA PROSÓDICA...61

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5.2.1 Restrições de tamanho...67

5.2.2 Restrições de marcação...68

5.2.3 Restrições de acento...68

5.2.4 Restrição de alinhamento...69

5.2.5 Análise dos antropônimos...71

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1. INTRODUÇÃO

De acordo com Gonçalves (2004b), o português faz uso de processos não-concatenativos para expressar carga emocional variada ou para ampliar seu vocabulário, embora seja uma língua de morfologia predominantemente aglutinativa. Esses processos não-concatenativos, denominados processos marginais de formação de palavras, são analisados pelo autor sob a ótica de abordagens não-lineares, como a Morfologia Prosódica (McCarthy, 1986; McCarthy & Prince, 1990) e a Teoria da Correspondência (McCarthy & Prince, 1995), uma extensão da Teoria da Otimalidade aplicada à morfologia (Benua, 1995).

Não há dúvida de que o português seja uma língua de morfologia predominantemente aglutinativa. Exemplos como jornal-eiro (sufixação), in-feliz (prefixação), raíz-es (flexão), guarda-roupa (composição) e en-velh-ecer (circunfixação) manifestam-se pela concatenação de radicais ou de afixos, de maneira que se pode verificar a isolabilidade de morfemas.

Há processos, entretanto, que revelam que o português também faz uso de categorias morfoprosódicas para formar uma nova palavra. Esses processos, segundo Gonçalves (2004b), são os seguintes: a reduplicação (pula-pula, brinquedo de parque de diversão), o truncamento (delega, para delegado), o cruzamento vocabular (sacolé, junção das bases saco e picolé), a siglagem (PT, para Partido dos Trabalhadores) e a hipocorização (Malu, para Maria Luíza).

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diminuta que mantém identidade com o prenome original. Gonçalves (2005) postula que existem quatro padrões de hipocorização: 1) o sistema default (Francisco > Chico); 2) o padrão que rastreia a margem esquerda da palavra (Eduardo > Edu); 3) o modelo que reduplica a margem direita da palavra (André > Dedé); 4) o padrão que reduplica os segmentos à esquerda da palavra (Viviane > Vivi). Além desses padrões apontados por Gonçalves (2005), existe, ainda, um quinto padrão, relacionado aos antropônimos compostos (Carlos Eduardo > Cadu). Neste trabalho, deter-me-ei nos padrões 3 e 5, ou seja, o padrão de reduplicação dos segmentos à direita e o padrão de formação de hipocorísticos a partir de nomes compostos. A análise baseia-se na Teoria da Correspondência (McCarthy & Prince, 1995), visto que esta oferece instrumentos mais eficazes para o estudo da chamada Morfologia Não-Concatenativa e segue os princípios da Otimalidade Clássica, estabelecidos em Prince & Smolensky (1993), sendo, dessa maneira, igualmente otimalista e paralelista.

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Deve-se ressaltar, no entanto, que alguns poucos antropônimos analisados no fenômeno da hipocorização com reduplicação à direita admitem variação. Assim, em nomes como ‘Isabel’ e ‘Raquel’, dois outputs podem emergir como ótimos: o primeiro admite as formas ‘Bebel’ e ‘Bel’, ao passo que o segundo permite que formas como ‘Quequel’ e ‘Quel’ sejam aceitas.

Com relação ao processo de hipocorização de antropônimos compostos, sabe-se que se trata da junção de duas bases que se encurtam e que se combinam. Assim como no processo anterior, há a emergência de apenas um output ótimo, configurando, assim, mais um caso de invariabilidade.

Para dar conta dos dois casos, as restrições de tamanho devem estar no topo da hierarquia, seguidas pelas de acento, de marcação e, por fim, de fidelidade. Como o hipocorístico deve constituir palavra mínima na língua e, por isso, não pode apresentar mais de um pé binário (Gonçalves, 2004a), as restrições de tamanho devem ser as mais bem cotadas da hierarquia, já que estas são responsáveis pelo encurtamento de antropônimos. Como se sabe, para haver encurtamento, alguma perda segmental deve ocorrer, o que prova que as restrições de fidelidade devem estar minimamente ranqueadas e que estruturas totalmente fiéis ao input jamais poderão ser consideradas hipocorísticas.

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2. O FENÔMENO DA HIPOCORIZAÇÃO

Monteiro (1983, p. 83) define hipocorístico como o processo apelativo usado na linguagem familiar para traduzir carinho ou qualquer palavra criada por afetividade,

incluindo-se aí certos diminutivos (filhinho, benzinho, maninha) e palavras oriundas da

linguagem infantil (papai, titia, tetéia, dodói etc). Como se percebe, tal conceito é bastante

amplo, o que fez com que Monteiro, no mesmo trabalho, delimitasse a definição. Assim, nas palavras do autor, em sentido estrito, o hipocorístico deve designar uma alteração do prenome ou nome próprio individual. Para Monteiro (1983, p. 83), então, a definição de

hipocorístico restringe-se ao termo afetivo formado de um prenome ou sobrenome.

Neste trabalho, assumo a definição de hipocorístico proposta por Gonçalves (2004a, p. 08). Para o autor, hipocorização é o processo morfológico pelo qual antropônimos são encurtados afetivamente, resultando numa forma diminuta que mantém identidade com o

prenome ou com o sobrenome original. Sendo assim, ‘Xande’ é um hipocorístico por se

tratar de uma forma encurtada afetivamente que mantém identidade com o prenome original, no caso, ‘Alexandre’. Esse conceito, como se vê, conduz o leitor ao estabelecimento de uma distinção básica entre hipocorístico e apelido. O hipocorístico, nessa ótica, precisa manter identidade com o prenome; o apelido, entretanto, não. Uma forma como ‘baixinho’, por exemplo, pode ser considerada apelido de algum indivíduo, porém não pode ser considerada hipocorística, uma vez que não mantém identidade com antropônimo algum. Dessa forma, pode-se afirmar que todo hipocorístico pode ser considerado um apelido, mas nem todo apelido pode ser considerado um hipocorístico.

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no entanto, que Gonçalves (2004a), assumindo que o pé básico do português é o troqueu moraico, postula que os hipocorísticos podem ser considerados as menores formas derivadas da língua. Assim, condições de palavra mínima devem ser impostas a esse processo, que bloqueia qualquer formação maior que duas sílabas e que não contenha pelo menos um pé, como se observa nos dados abaixo, em (01):

(01) Penélope > *Nélope Rosângela > *Zângela Barnabé > *Bé

Salomé > *Mé

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Deve-se ressaltar, ainda, que a hipocorização, nesta análise, corresponde ao que Benua (1995) chama de truncamento. Como, em português, há diferentes processos não-concatenativos de encurtamento, Gonçalves (2002a) estabelece essa diferenciação, reservando o termo hipocorização para a redução de antropônimos (hipocorísticos) e truncamento para a formação de outros nomes encurtados (‘japa’ para ‘japonês’ e ‘boteco’ para ‘botequim’).

Para alguns autores, a hipocorização é concebida como fenômeno “idiossincrático”, “imprevisível”, “assistemático” e “esdrúxulo” (Cunha, 1975; Monteiro, 1987; Zanotto, 1989), operando com supressão de uma seqüência fônica do antropônimo. De acordo com Gonçalves (2004, p. 08), entretanto, o processo se mostra altamente regular quando se levam em conta primitivos prosódicos e aspectos da interface Morfologia-Fonologia. É

justamente por isso que se fará, nesta pesquisa, uma análise da hipocorização segundo a Morfologia Prosódica. Através da análise morfoprosódica, perceber-se-á que o processo se caracteriza por um mapeamento dos segmentos melódicos do prenome para um molde prosodicamente definido (Mester, 1990).

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Sistema 1 Sistema 2 Sistema 3 Sistema 4 Sistema 5

Francisco > Chíco1 Gertrudes > Túde Isabel > Bél Leopoldo > Pôldo Miguel > Guél Eduardo > Edú Rafael > Ráfa Patrícia > Páti Natália > Náti Cristina > Crís André > Dedé Barnabé > Bebé Mateus > Tetêu Artur > Tutú Marli > Lilí Carlos > Cacá Leandro > Lelê Fátima > Fafá Eduardo > Dudú Viviane > Viví

Carlos Eduardo > Cadú Maria Luíza > Malú Maria Isabel > Mabél Carlos André > Cadé Luiz Carlos > Lúca

O sistema 1, analisado por Gonçalves (2005), é o mais produtivo e pode ser considerado padrão geral para a formação de hipocorísticos em português (padrão default). A principal característica das formas reduzidas por meio da hipocorização do sistema 1, como se pode perceber através dos exemplos, é a manutenção do acento lexical das palavras. Os sistemas 2 e 4 caracterizam-se pelo mapeamento dos segmentos localizados à margem esquerda da palavra, sendo que, no padrão 4, ocorre, conjuntamente, o fenômeno da reduplicação. O processo 3 é caracterizado pela reduplicação que ocorre na margem direita da palavra, mais especificamente da sílaba proeminente. O sistema 5, finalmente, consiste na hipocorização de nomes compostos, ou seja, na junção de duas bases que se combinam e se encurtam.

Vale ressaltar que cada padrão comporta-se de uma maneira distinta e, portanto, as análises também serão distintas, pelo menos neste ponto da pesquisa. O antropônimo ‘Eduardo’, por exemplo, funciona como base para a criação de pelo menos quatro hipocorísticos: Dádo, Edú, Dú e Dudú. O primeiro hipocorístico é selecionado como forma

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ótima através do padrão default, a segunda forma emerge através de uma análise do sistema 2, e o terceiro e o quarto hipocorísticos são selecionados através do padrão 4, que tende a exibir alternância entre formas simples e formas reduplicadas (Silva, em preparação). Assim, como se vê, para cada sistema de hipocorização existe um ranking de restrições distinto, numa análise otimalista.

Como se pôde perceber no presente capítulo, o processo da hipocorização é importante na descrição de alguns pontos da fonologia do português. Um desses pontos relaciona-se à tese de que o pé básico do português é o troqueu moraico, uma vez que, como já se discutiu, condições de palavra mínima são refletidas na formação de hipocorísticos. Considerando as palavras de Gonçalves (2004, p. 12), o troqueu moraico tem papel de destaque em processos de minimização, sendo, por isso, extremamente

relevante na morfologia portuguesa. Além disso, Cabré (1994) postula que o argumento

principal para que se considere o troqueu moraico como pé básico é sua pertinência em processos de minimização, a exemplo do que ocorre na hipocorização.

De acordo com Collischonn (2005), o troqueu moraico considera o peso silábico, ou seja, conta as moras (unidades de tempo de que as sílabas são constituídas): cada duas moras formam um pé, com cabeça à esquerda. Sílabas pesadas têm duas moras, portanto formam sozinhas um pé.

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mínimas em português. No caso dos monossílabos com rima ramificada, as duas moras do troqueu localizam-se numa sílaba única e, no caso dos dissílabos com sílaba final leve, as duas moras distribuem-se por duas sílabas leves.

(03) palavra fonológica ( >> pé>> sílaba>> mora 

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3. BASES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS PARA O ESTUDO DA HIPOCORIZAÇÃO

O presente capítulo tem por objetivo revelar os pressupostos teóricos e as bases metodológicas que fundamentaram a pesquisa. Sendo assim, o capítulo divide-se em três partes. Na primeira seção, apresento a Morfologia Prosódica, modelo teórico proposto por McCarthy (1986) e posteriormente revisto por McCarthy & Prince (1990 e 1993a). A seguir, na segunda seção do capítulo, discuto a Teoria da Otimalidade, enfatizando a Teoria da Correspondência, que, como já se afirmou na introdução, é uma extensão da Teoria da Otimalidade aplicada à morfologia não-concatenativa (Benua, 1995). Na terceira parte do capítulo, apresento as bases metodológicas utilizadas no trabalho.

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3.1 MORFOLOGIA PROSÓDICA

A partir de Gonçalves (2008), pode-se afirmar que os trabalhos em Morfologia Prosódica dividem-se em duas fases. McCarthy (1979), tratando de fenômenos morfológicos não-concatenativos, postulou uma teoria prosódica que foi continuamente revisada até chegar à teoria denominada pelo autor de Morfologia Prosódica Circunscritiva. A segunda fase do percurso da Morfologia Prosódica, ainda de acordo com Gonçalves (2008), é marcada pela associação desse modelo à Teoria da Otimalidade (McCarthy & Prince, 1993a). Sendo assim, chega-se à Teoria da Correspondência (McCarthy & Prince, 1995), modelo que oferece instrumentos mais eficazes para a análise de fenômenos morfológicos não-aglutinativos. Abordagens mais específicas sobre a Teoria da Otimalidade e a Teoria da Correspondência serão feitas na próxima seção deste capítulo.

As origens dos estudos em Morfologia Prosódica relacionam-se à emergência da Fonologia Autossegmental (Goldsmith, 1976), já que a descrição da morfologia não-concatenativa começou a ser feita de maneira mais natural a partir do surgimento da Fonologia Autossegmental. Segundo Gonçalves (2008), McCarthy (1979, 1981) aplica os princípios desse modelo ao fenômeno da afixação descontínua encontrado numa grande variedade de línguas semíticas. Nas palavras de Gonçalves (2008, p. 01), a adaptação dos princípios da Fonologia Autossegmental a processos morfológicos como a infixação deu

origem à Teoria da Morfologia Não-Concatenativa (McCarthy, 1979, 1981, 1982), que,

mais tarde, desembocou na Morfologia Prosódica (McCarthy, 1986).

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contra moldes segmentais em favor de moldes prosódicos. Dessa forma, a Morfologia

Prosódica é um modelo teórico que tem por objetivo explicar a interação Morfologia-Fonologia e, para chegar a esse fim, leva em consideração o papel mediador da Prosódia. Segundo Gonçalves (2004a), McCarthy & Prince (1990) postulam os seguintes princípios para a teoria:

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(a) Hipótese Básica da Morfologia Prosódica: Moldes definem-se a partir de unidades da hierarquia prosódica: mora (), sílaba (), pé () e palavra fonológica (). Além disso, constituem afirmação geral a respeito da estrutura possível de determinados processos morfológicos (Gonçalves 2004a, p. 10);

(b) Condição de Satisfação ao Molde: O molde deve ser determinado por princípios universais da Prosódia ou por princípios de boa formação de línguas individuais;

(c) Circunscrição Prosódica: O domínio sobre o qual determinadas operações morfológicas se aplicam pode ser mapeado por primitivos prosódicos, da mesma forma

que, na morfologia concatenativa, afixos se circunscrevem a domínios morfológicos como

raiz, tema e radical (Gonçalves 2004a, p. 10).

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a palavra prosódica domina o pé, o pé domina a sílaba e esta domina a mora. Cada uma dessas unidades prosódicas define-se quando se leva em consideração a unidade de nível mais baixo. No nível mais baixo, está a mora, que serve para determinar o peso silábico. Assim, uma sílaba leve consiste de uma mora, e uma pesada, de duas. A sílaba, por sua vez, é o constituinte intermediado por dois níveis: a mora e o pé. Para McCarthy & Prince (1986), o pé, nas palavras de Gonçalves (2008, p. 04), é governado por uma restrição que requer que ele seja binário numa análise silábica ou numa análise moraica. A restrição de

pé binário deriva a palavra mínima.

De acordo com o segundo princípio exposto em (01), todos os elementos de um molde devem submeter-se a condições de boa formação prosódica. Ainda segundo esse princípio, não se admite que nenhum molde morfológico contenha material fonológico não mapeado pela circunscrição (terceiro princípio). Além disso, a Morfologia Prosódica permite, no molde, a presença de material fonológico que seja filtrado posteriormente por um conjunto de restrições de boa formação.

Retomando (01), na formulação em (c), o domínio sobre o qual determinadas operações morfológicas se aplicam pode ser mapeado por primitivos prosódicos

(Gonçalves 2004a, p. 10). Esse mapeamento é realizado pelo processo denominado de circunscrição prosódica, que é o terceiro princípio da Morfologia Prosódica chamada Circunscritiva. A circunscrição prosódica, de acordo com McCarthy & Prince (1990), pode ser tanto positiva quanto negativa. Na circunscrição prosódica positiva, o material rastreado é levado para o molde; já na circunscrição negativa, o material rastreado é descartado.

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operação morfológica (Gonçalves, 2008). Na hipocorização, processo em estudo nesta dissertação, a circunscrição prosódica pode ser definida como positiva.

Em linhas gerais, pode-se dizer que o material escaneado do antropônimo pela circunscrição prosódica positiva é levado para o molde, para, a seguir, passar por uma filtragem constituída por restrições de boa formação. Se se admite a existência de um filtro atuando sobre o material fonológico mapeado pela circunscrição prosódica, diferenças entre o conteúdo que se mapeou e o que aparece nas formas de superfície podem ser compreendidas a partir do papel desempenhado pelas condições de boa formação sobre a porção da palavra-matriz (antropônimo) que se projeta para o molde (McCarthy & Prince, 1990). Com a atuação das condições de boa formação, por conseguinte, a identidade input-output é ainda mais sacrificada. O esquema abaixo, extraído de Gonçalves (2008, p. 07),

ilustra o funcionamento da Morfologia Prosódica:

(02) INPUT  Circunscrição Prosódica  (Condições de minimalidade) Condições de boa  molde

formação  OUTPUT

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3.2 TEORIA DA OTIMALIDADE

A Teoria da Otimalidade (doravante OT) surgiu nos anos 90, tendo como marco inicial os trabalhos de McCarthy & Prince (1993 a,b) e de Prince & Smolensky (1993). A OT é um modelo paralelista que trabalha com a avaliação de formas a partir de uma hierarquização de restrições, que objetiva, por sua vez, checar possíveis candidatos a output. Essas restrições possuem caráter universal, ou seja, são aplicáveis a quaisquer

línguas. Além disso, cumpre salientar que a superioridade da abordagem otimalista em relação às outras vertentes teóricas descritas anteriormente é o fato de as restrições serem passíveis de violação, sendo esta fruto da satisfação a outro restritor melhor cotado na hierarquia.

3.2.1 Propriedades da OT

A OT compartilha com os modelos gerativos que a antecederam a idéia de uma gramática universal e a concepção de mapeamento entre formas de input e de output. Deve-se ressaltar, entretanto, que, quanto à natureza dessa gramática e quanto ao funcionamento desse mapeamento, há diferenças significativas entre a OT e os modelos anteriores.

Essas diferenças devem ser abordadas a partir das chamadas propriedades fundamentais da OT, estabelecidas em McCarthy & Prince (1993b), que são: violabilidade, ranqueamento, inclusividade e paralelismo.

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universalidade. Nas abordagens serialistas, a violabilidade pressupõe agramaticalidade. Na

OT, no entanto, a violação pode implicar em um resultado gramatical. As restrições são violáveis, mas o grau de violação é mínimo.

A propriedade denominada ranqueamento é fundamental para que se pense no conceito de gramática na OT. Como já se mencionou, existe, para a teoria, uma gramática universal, que é representada pelo conjunto de restrições, e, além da gramática universal, existe a particular, representada pelo ranqueamento dessas restrições nas distintas línguas. Dessa forma, o que distingue uma língua de outra é o fato de uma língua ranquear um conjunto de restrições de uma maneira e a outra, de modo distinto, priorizando certas exigências, em detrimento de outras. A violação de uma restrição pode ser tolerada, se isto servir para não violar outra restrição que ocupa um lugar alto no ranking de prioridades de uma língua.

O conceito de inclusividade está diretamente relacionado à geração de candidatos a output. De acordo com Schwindt (2005, p. 260), a geração de candidatos deve ser

suficientemente restrita de forma a não produzir expressões ou análises que não respeitem

propriedades gerais de boa formação. O princípio que gera candidatos em OT, contudo, é

universal e, por isso, qualquer porção de estrutura lingüística pode ser apresentada como um candidato.

Na OT, a escolha do candidato ótimo é realizada por uma avaliação que considera, em paralelo, todos os candidatos e todo o ranqueamento de restrições, e é isso que define a propriedade conhecida como paralelismo. Sendo assim, conclui-se que a OT não concebe derivacionismo2 e opõe-se, portanto, às teorias que a precederam.

2

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3.2.2 A arquitetura da OT

Como já foi mencionado, a gramática da OT trabalha com a idéia de mapeamento entre formas de input e formas de output. Por conta disso, a teoria faz uso de um mecanismo gerador de possíveis outputs, a partir de um input. Esse mecanismo é chamado de GEN (gerador de output, do inglês generator). Além do mecanismo GEN, a OT conta com um mecanismo avaliativo chamado EVAL (avaliador de output, do inglês evaluator). A finalidade do mecanismo EVAL é associar um output ideal a um input e eliminar o que não for aceitável. A partir do elemento LEXICON, GEN cria livremente candidatos a output, e EVAL compara esses possíveis outputs com base num conjunto universal de

restrições CON (do inglês constraints) organizadas em uma escala de relevância.

O elemento LEXICON é o componente responsável pelo fornecimento das especificações do input. É no léxico que encontramos as propriedades contrastivas dos morfemas. O input, por sua vez, não se submete à ação das restrições, ou seja, a forma subjacente não está sujeita a avaliações.

Como já se afirmou, o mecanismo GEN gera outputs a partir de um input. Haverá, para um determinado input, um conjunto de realizações que o sistema da língua aceita como possíveis (ou impossíveis). Na prática, alguns não ocorrem e, por isso, serão eliminados. Outros, por serem mais ou menos marcados, representam candidatos com distintos graus de aceitabilidade.

(30)

de Liberdade de Análise, pois exige que o input esteja presente em cada candidato. O princípio de Consistência de Exponência impede que GEN altere especificações fonológicas (segmentos, moras, etc.) de um morfema.

CON representa o conjunto de restrições violáveis. As restrições usadas na teoria estão presentes em todas as línguas e o que diferencia uma língua da outra é o grau de atuação e relevância de cada uma. Dessa forma, as restrições são universais, mesmo que apresentem diferentes graus de relevância. O que estabelece a relevância e a atuação das restrições é a hierarquia que cada língua apresenta. Uma restrição pode estar no topo do ranking de uma determinada língua e estar muito mal cotada no ranking de outra.

De acordo com Schwindt (2005, p. 266), as restrições, basicamente, são de dois tipos: restrições de marcação e restrições de fidelidade. A família fidelidade trabalha em

favor da manutenção da identidade entre input e output; sendo assim, o output ótimo não deve apresentar discrepância em relação à forma subjacente. Fazem parte dessa família, por exemplo, as restrições que proíbem inserções e apagamentos. A família marcação, por sua vez, milita em favor da manutenção de estruturas mais básicas e, com isso, busca evitar que formas marcadas cheguem à superfície. Por exemplo, segundo Schwindt (2005, p. 266), há uma tendência universal que mostra a preferência por sílabas abertas (padrão CV), o que faz com que, por conseguinte, as sílabas sem coda sejam consideradas formas não-marcadas.

(31)

permitindo ou não violações e, desta forma, fazendo as devidas seleções entre os

candidatos do output.

3.2.3 Teoria da Correspondência

De acordo com Gonçalves (2005, p. 77), as formas de output tendem a ser geradas pelo conflito entre restrições de marcação e de fidelidade. As relações de marcação

configuram a estrutura segmental dos candidatos a output, enquanto a fidelidade implica uma relação de correspondência entre o input (I) e o output (O).

A questão que se levanta, então, é que a OT Clássica permite que a fidelidade somente se dê em uma relação I-O. Com isso, questões relacionadas à interface Morfologia-Fonologia acabaram se tornando “mal comportadas” dentro da perspectiva otimalista clássica. Por isso, McCarthy & Prince (1995) desenvolveram a Teoria da Correspondência. Essa teoria estrutura-se da mesma forma que a OT Clássica, afinal é uma vertente desta, mas a grande diferença está na ampliação na noção de fidelidade, já que esta não mais se restringe à relação I-O, mas, ao contrário, expande-se para outros domínios lingüísticos. A Teoria da Correspondência é, por isso, uma versão da OT Clássica que tem o objetivo de generalizar o conceito de identidade, de maneira a difundi-lo para a análise de outros processos. Portanto, a OT Clássica não descreve satisfatoriamente processos morfológicos como a hipocorização, já que estes, além do input e do output, requerem outras entidades representacionais.

(32)

como, por exemplo, a reduplicação, cuja identidade envolve relação entre uma base e um reduplicante, além, é claro, da relação entre o input e o output. O fornecedor das estruturas correspondentes é, como já se mostrou, o mecanismo GEN, cuja função é gerar formas candidatas a output e, conseqüentemente, estruturas correspondentes. A avaliação dos candidatos gerados por GEN se dá a partir de EVAL. O avaliador considera cada par de candidatos e suas respectivas relações de correspondência e, assim, chega-se ao output ótimo.

Cabe apresentar, por fim, algumas comparações entre os modelos serialistas (abordagens gerativas anteriores à OT) e os paralelistas. De acordo com McCarthy & Prince (1995), o principal empecilho das abordagens derivacionais reside no fato de estas não poderem avaliar apropriadamente a noção de identidade. Por outro lado, na Teoria da Correspondência, as restrições de fidelidade atuam em outros domínios que envolvem identidade entre representações lingüísticas (base-reduplicante, base-truncamento, input-output), o que nos permite afirmar que esse modelo possibilita uma melhor análise da

morfologia não-concatenativa, na qual se encaixa, como já mencionado, o processo da hipocorização, foco deste trabalho.

(33)

restrições (ranking). Se a OT opera através de uma hierarquia de relevância, os modelos derivacionais operam através da parametrização e da ordenação de regras.

Além disso, como se sabe, análises serialistas requerem estágios intermediários de derivação, sendo, portanto, mais custosas que as análises paralelistas, já que estas atuam através da avaliação de formas, como é o caso da OT.

3.3 BASES METODOLÓGICAS

Para validar os dados referentes ao processo estudado, foram aplicados dois testes de aceitabilidade de formas a vinte informantes. Os testes foram constituídos de quatro questões cada um (ver anexos 1 e 2). Na primeira questão, davam-se ao informante dez antropônimos para que ele indicasse o hipocorístico correspondente a cada forma. O informante era instruído a fornecer, para cada nome constante da lista, uma “forma mais íntima e mais carinhosa de chamar pessoas que se chamam X”. Na questão seguinte, fazia-se o contrário: dava-fazia-se a forma encurtada para que o informante recuperasfazia-se o antropônimo correspondente. A seguir, na terceira questão, forneciam-se nomes próprios e algumas opções de formas encurtadas para que o entrevistado marcasse opções que lhe parecessem comuns. A questão final foi considerada a mais difícil pelos informantes, já que deveriam encurtar nomes dissílabos, como, por exemplo, ‘Áurea’ e ‘Lana’. Deve-se salientar que o primeiro teste relacionava-se ao processo de hipocorização com reduplicação à direita, e o segundo, ao processo de hipocorização de antropônimos compostos. A terceira e a quarta questões, entretanto, foram idênticas nos dois testes.

(34)

por homens, e os outros dez, por mulheres. A idade dos entrevistados variava de sete a mais de quarenta e cinco anos. Quanto à escolaridade, esta variava da primeira série do ensino fundamental até o ensino superior completo. Vale ressaltar que uma fase preliminar de recolha dos dados foi feita no Dicionário de Hipocorísticos elaborado por Monteiro (1999), disponível em http://www.geocities.com/Paris/cathedral/1036.

Concluídos os testes aplicados, criou-se uma tabela de tendências com os seguintes objetivos: propor candidatos com base em critérios objetivos; detectar o output ótimo, isto é, a forma que se destaca em relação às demais; comparar os dados coletados no Dicionário de Hipocorísticos com os padrões apresentados nos testes; e verificar o aparecimento de outros candidatos, o que pode implicar na existência de um output sub-ótimo.

Os capítulos 4 e 5, como já mencionado no capítulo introdutório, tratarão das análises morfoprosódica e otimalista dos dois processos de hipocorização estudados nesta pesquisa. Para efeito de uniformidade e melhor compreensão do trabalho, saliento que, na análise via Otimalidade, trabalho sempre com cinco candidatos e posiciono o candidato ótimo sempre na primeira linha do tableau. A expressão tableau é utilizada para designar tabelas ou quadros que contêm, na horizontal, as restrições, hierarquizadas por relações de dominância e, na vertical, os outputs possíveis, a partir de um dado input. Abaixo, em (03), verifica-se o funcionamento de um tableau.

(03)

/festa/ *COMPLEX NÃO-CODA



a. fes.ta *

(35)

O candidato b foi eliminado do ranqueamento porque infringiu a restrição mais bem cotada da hierarquia, *COMPLEX, visto que fe.sta possui um ataque com dois elementos na segunda sílaba e essa restrição não permite ataques complexos. A violação é indicada pelo símbolo * e, nesse caso, representa uma violação fatal, representada pelo símbolo !, já que o candidato b está fora da disputa a partir daquele ponto de análise. O candidato a, embora tenha violado uma restrição, ao permitir uma consoante fechando a primeira sílaba, sai como vencedor, posto que a restrição NÃO-CODA está mais baixa na hierarquia. O candidato vitorioso é indicado pelo símbolo

e as células sombreadas informam que ali o mecanismo de avaliação é inoperante, já que aquelas restrições não colaboram mais para a escolha do output ótimo.

(36)
(37)

4. O PROCESSO DE HIPOCORIZAÇÃO COM REDUPLICAÇÃO À DIREITA

O objetivo deste capítulo é a análise morfoprosódica e otimalista do processo de hipocorização com reduplicação à direita, mais especificamente da sílaba tônica, como acontece, por exemplo, em ‘Bebél’ e ‘Tetêu’, hipocorísticos de ‘Isabel’ e ‘Mateus’, respectivamente.

Como mencionado brevemente na Introdução, o processo em análise não permite, de maneira geral, variação. Isso significa que apenas um output pode emergir como ótimo nessa análise. Dessa forma, o antropônimo ‘Jurandir’, por exemplo, permite apenas ‘Didí’ como forma hipocorística e uma estrutura como ‘Dí’ seria, por conseguinte, bloqueada.

Poucos antropônimos que se inserem nessa análise, no entanto, admitem variação de formas. Esse é o caso de nomes como ‘Raquel’ e ‘Isabel’, que permitem que os hipocorísticos ‘Quequél’ / ‘Quél’ e ‘Bebél’ / ‘Bél’ venham à superfície como formas ótimas. Silva (em preparação) analisa o processo de hipocorização com reduplicação à esquerda e revela dados contrários ao processo em estudo. Nos casos de hipocorização com reduplicação dos segmentos à esquerda, a variação é regra, não exceção. Sendo assim, o antropônimo ‘Fátima’ admite as formas ‘Fafá’ e ‘Fá’ como hipocorísticas.

(38)

ótimas nos testes. Além disso, cabe ressaltar que, em todos os dados colhidos, apenas nomes oxítonos enquadraram-se nesse padrão.

(01) Aidê > Dedê Alceu > Cecêu Alcir > Cicí Amadeu > Dedêu André > Dedé Artur > Tutú Barnabé > Bebé Jurandir > Didí Marli > Lilí Marcel > Cecél Mateus > Tetêu Nicolau > Laláu Isabel > Bebél e Bél Raquel > Quequél e Quél

4.1. ANÁLISE VIA MORFOLOGIA PROSÓDICA

(39)

Os dois processos de hipocorização analisados nesta pesquisa são de natureza transderivacional, ou seja, requerem um nível intermediário de representação entre o input e o output. O molde (output) gerado pelo input (palavra-matriz) através da atuação de condições de minimalidade passa a ser o input sobre o qual agem determinadas condições de boa formação. O output real emerge apenas quando essas condições de boa formação são satisfeitas.

No processo analisado neste capítulo – a hipocorização com reduplicação dos segmentos à direita –, três são as condições de boa formação que atuam no molde: (a) sílabas não podem ter ataques complexos; (b) sílabas não se iniciam por vogal; e (c) codas só podem ser glides.

O processo em estudo neste capítulo apresenta outra especificidade: o material do molde, após passar pelas condições enumeradas acima, passa a constituir o que se chama de base, à qual será acrescido um reduplicante. Sobre este também atua um filtro, constituído por apenas uma condição de boa formação: sílabas devem ser abertas, ou seja, o reduplicante deve apresentar o formato consoante-vogal. O material rastreado, depois de concluídas essas etapas, constitui, finalmente, o output real, isto é, o hipocorístico.

Esquematiza-se, a seguir, a análise morfoprosódica dos antropônimos escolhidos: ‘André’, ‘Artur’, ‘Mateus’ e ‘Isabel’, nessa ordem. Em (02), verifica-se a análise de ‘André’3.

3

(40)

(02) Circunscrição prosódica {sílaba tônica /ANDRÉ/

Molde: [DRÉ] → Filtro – 1) sílabas não podem ter ataques complexos; 2) sílabas não se iniciam por vogal;

3) codas só podem ser glides.

Filtro – sílabas devem ser abertas RED + ‘DÉ’

CV CV

[DEDÉ]

(41)

explicou acima, será afixada de um reduplicante que atua sempre como prefixo. Sobre este também atua um filtro constituído por uma condição de boa formação, que enuncia que o reduplicante deve apresentar o formato CV. A consoante e a vogal que compõem o reduplicante serão copiados da forma de base. Como a forma de base já apresentava o formato CV (‘dé’), a condição de boa formação foi inoperante sobre o reduplicante. Dessa forma, do antropônimo ‘André’ chega-se ao hipocorístico ‘Dedé’.

A seguir, em (03), faz-se a análise morfoprosódica do antropônimo ‘Artur’.

(03) Circunscrição prosódica {sílaba tônica /ARTUR/

Molde: [TUR] → Filtro – 1) sílabas não podem ter ataques complexos; 2) sílabas não se iniciam por vogal;

3) codas só podem ser glides.

Filtro – sílabas devem ser abertas RED + ‘TU’

CV CV

(42)

Como se percebe na análise em (03), mapeou-se a sílaba tônica do antropônimo ‘Artur’ e obteve-se a forma ‘tur’, que foi levada ao molde. Como se sabe, atua, no molde, um filtro constituído de condições de boa formação, e a terceira condição que compõe o filtro postula que somente glides são licenciados na posição de coda. Com isso, a forma que chega à base após a filtragem é a sílaba ‘tu’, visto que a coda que havia (-r) não era um glide. Já que a forma de base apresenta o formato CV, o reduplicante apenas copiará esse material, chegando-se, assim, à forma ‘Tutú’, hipocorístico de ‘Artur’.

Abaixo, em (04), verifica-se a análise do antropônimo ‘Mateus’.

(04) Circunscrição prosódica {sílaba tônica /MATEUS/

Molde: [TEUS] → Filtro – 1) sílabas não podem ter ataques complexos; 2) sílabas não se iniciam por vogal;

3) codas só podem ser glides. Filtro – sílabas devem ser abertas RED + ‘TEU’

CV CV

(43)

Como se vê no esquema em (04), a sílaba ‘teus’ foi rastreada pelo parâmetro que obriga o mapeamento da sílaba tônica. A terceira condição de boa formação, que permite apenas glide na posição de coda, faz com que a fricativa /s/ seja eliminada dessa posição por não se tratar de uma semivogal; a coda /w/, entretanto, passa pelo filtro, pois se trata de um glide. Diferentemente das análises feitas em (02) e (03), a condição que atua sobre o reduplicante não se mostrará inoperante na análise de ‘Mateus’. De acordo com essa condição, o reduplicante deve apresentar o formato CV, o que leva ao não-aproveitamento da semivogal da forma de base. Sendo assim, o reduplicante ‘te’ alia-se à base ‘teu’, formando o hipocorístico ‘Tetêu’.

(44)

(05) Circunscrição prosódica {sílaba tônica /ISABEL/

Molde: [BEL] → Filtro – 1) sílabas não podem ter ataques complexos; 2) sílabas não se iniciam por vogal;

3) codas só podem ser glides.

Filtro – sílabas devem ser abertas RED + ‘BEL’

CV CV

[BEBEL]

A análise do nome ‘Isabel’, em princípio, parece não revelar nada significativo, pois o que se vê de relevante já foi mostrado na analise do antropônimo ‘Mateus’: a presença de uma semivogal na posição de coda4 na forma de base e o não-aproveitamento desse mesmo elemento no reduplicante, já que este deve apresentar o formato CV e, por isso, não permite codas. Cabe, então, um questionamento: por que mostrar essa análise, se uma parecida já foi feita?

Como já comentado anteriormente, o padrão de hipocorização com reduplicação dos segmentos à direita não permite, de maneira geral, variação. Alguns poucos antropônimos,

4

(45)

no entanto, podem variar, e ‘Isabel’ é um desses poucos casos. A análise pela Morfologia Prosódica, da maneira como está sendo proposta para o padrão em estudo neste capítulo, não permite que se chegue à outra forma possível – ‘Bél’. Dessa maneira, pode-se afirmar que a análise morfoprosódica do padrão de hipocorização em questão não dá conta dos poucos casos de variação existentes.

4.2. ANÁLISE VIA TEORIA DA OTIMALIDADE

Após verificar o comportamento derivacional do processo em questão através da Morfologia Prosódica, partirei nesta seção para a análise otimalista, foco desta dissertação.

Como já se comentou no capítulo anterior, a OT conta com um mecanismo gerador de possíveis outputs, a partir de um dado input. Esse mecanismo, como se mostrou anteriormente, é chamado de GEN. A função das restrições é avaliar todos os candidatos a output gerados por GEN. O objetivo desse mecanismo é criar um ranking entre as

restrições, permitindo ou não violações, fazendo, assim, as devidas seleções entre os candidatos a output no fenômeno analisado.

Para dar conta do padrão em estudo neste capítulo, utilizo as restrições listadas abaixo, divididas em grupos.

4.2.1 Restrições de tamanho

(46)

b) ANALISE - : todas as sílabas () devem estar integradas a pés, o que significa que não pode haver sílaba desgarrada.

4.2.2 Restrição de acento

a) IAMBO: todos os pés devem ser iâmbicos, ou seja, devem apresentar cabeça à direita. Isso significa que, nesta análise, o pé não é o troqueu, como no sistema de hipocorização default, analisado por Gonçalves (2005).

4.2.3 Restrições de marcação

a) ONSET: toda sílaba precisa ter a posição de onset (ataque) preenchida.

b) *COMPLEX: é proibida a formação de grupos consonantais na posição de onset.

c) CODA-COND [glide]: define que tipo de segmento pode ocupar a posição de coda. Assim, somente semivogais, nesta análise, podem ocupar essa posição.

(47)

e) RED=CV: o reduplicante deve apresentar o formato CV (consoante + vogal).

4.2.4 Restrição de alinhamento

a) ALINH (R esq ; B dir): o reduplicante deve estar alinhado à esquerda, e a base, à direita da palavra prosódica. Dito de outra maneira, o reduplicante, por essa restrição, terá de ser, obrigatoriamente, um prefixo.

4.2.5 Restrições de fidelidade

a) HEAD-MAX: a cabeça da palavra prosódica deve ser maximizada, isto é, não pode haver apagamento de nenhum segmento de sílabas tônicas.

b) RED = BASE: o reduplicante deve ser igual à base.

(48)

Abaixo, em (06), o ranking proposto leva ao encurtamento (já que a hipocorização é o processo responsável pela redução de antropônimos), mas garante mínima fidelidade ao antropônimo:

(06)

(1) TODO-PÉ (D) ; (2) ANALISE->> (3) IAMBO >> (4) ONSET ; (5) *COMPLEX >> (6) CODA-COND [glide] >> (7) ALINH (R esq ; B dir) >> (8) HEAD-MAX >> (9) RED = CV >> (10) NÃO-HOMONÍMIA >> (11) RED = BASE ; (12) EXPONÊNCIA

Como se pode notar, as restrições de tamanho dominam a hierarquia, pois, como se sabe, o hipocorístico deve constituir palavra mínima na língua. Assim, as restrições (1) e (2) atuam em conjunto (por isso não estão separadas no ranking por [>>], mas por ponto-e-vírgula) e dominam o ranking de prioridades.

A restrição (3), dominada por (1) e (2), governa o acento das formas de saída. Viola essa restrição o candidato que não apresentar pés iâmbicos, isto é, pés que não apresentem cabeça à direita. Como exemplo, temos o antropônimo ‘Jurandir’. O hipocorístico correspondente a esse prenome é ‘Didí’, já que ‘Dídi’ infringiria essa restrição acentual. Como todos os nomes colhidos para o padrão de hipocorização com reduplicação à direita são oxítonos, a restrição IAMBO precisa estar bem cotada na hierarquia.

(49)

infringisse ONSET duas vezes. A restrição (5), que atua em conjunto com a (4), não permite a formação de grupos consonantais na posição de onset. Assim, ‘André’ tem como hipocorístico ‘Dedé’, e não ‘Dredré’. Um candidato como ‘Dredré’ infringiria *COMPLEX duas vezes, pois apresenta complexidade estrutural nos dois ataques.

A restrição (6) determina o tipo de segmento que pode ocupar a posição de coda. No caso da hipocorização com reduplicação à direita, somente semivogais podem ocupar essa posição. Portanto, o antropônimo ‘Mateus’, por exemplo, apresenta como output ótimo a forma ‘Tetêu’, e não ‘Tetêus’, visto que esta violaria a restrição (6), por apresentar um elemento que não é um glide na posição de coda.

A única restrição de alinhamento presente na hierarquia é a que aparece em (7). De acordo com essa restrição, o reduplicante deve estar alinhado à esquerda, e a base, à direita da palavra prosódica. Dessa forma, em um caso como ‘Amadeu’, o hipocorístico correspondente deve ser ‘Dedêu’, pois o reduplicante – ‘De’ – aparece configurado à esquerda, e a base – ‘Deu’ – aparece configurada à direita da palavra prosódica. Uma forma como ‘Deudê’ infringiria, pois, a restrição (7).

A restrição (8) pertence à família fidelidade. Segundo essa restrição, não deve haver apagamento de nenhum segmento de sílabas tônicas, isto é, a cabeça (sílaba tônica) da palavra prosódica deve ser maximizada. Um bom exemplo para ilustrar esse caso é o antropônimo ‘Marli’, cujo output ótimo é ‘Lilí’. Como se pode notar, nenhum segmento da sílaba tônica – ‘li’ – foi apagado.

(50)

questão: a consoante ‘b’ somada à vogal ‘e’. Uma forma como ‘Belbél’ infringiria, portanto, essa restrição.

Na seqüência, segue-se a restrição (10), de natureza lexical (anti-homonímia). Ela estabelece que os hipocorísticos não podem equivaler a nenhuma palavra já existente na língua. Essa proibição faz com que a forma ‘Deu’, por exemplo, não seja admitida como output ótimo do antropônimo ‘Amadeu’, já que ‘Deu’, na língua portuguesa, equivale à

conjugação do verbo dar na terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo. As duas últimas restrições do ranking são da família fidelidade e atuam em conjunto, o que significa dizer que elas não estão crucialmente hierarquizadas. A restrição (11) regula a extensão do reduplicante, que deve ser igual à base. Já a restrição (12) exige fidelidade às informações morfológicas que se especificam em nível subjacente, ou seja, no input. Na análise do padrão de hipocorização com reduplicação à direita, o reduplicante

está especificado no input, o que leva um candidato como ‘Quél’ a infringir essa restrição uma vez, por não apresentar o reduplicante em sua estrutura.

Como já foi dito, restrições de fidelidade devem ser hierarquizadas no fim, pois formas totalmente fiéis ao input não podem ser consideradas hipocorísticas. Deve haver, portanto, perda segmental para ocorrer o encurtamento.

4.2.6 Análise dos antropônimos

(51)

colocação das duas primeiras restrições – TODO-PÉ(D) e ANALISE- nos tableaux, posto que elas, por serem reguladoras de tamanho, nunca serão infringidas por candidatos dissílabos ou monossílabos. Dessa maneira, em vez de disponibilizar as doze restrições listadas, hierarquizo apenas as outras dez, o que já colabora para tornar a análise mais concisa. É importante observar, porém, que as restrições de tamanho são essenciais na análise, já que regulam o comprimento das formas de output. O fato de os hipocorísticos constituírem palavras mínimas relaciona-se diretamente ao fato de essas restrições estarem no topo da hierarquia, o que explica sua importância.

A seguir, em (07), observa-se o tableau em que se analisa o antropônimo ‘André’5.

(07)

/André/ + Hipo + Red

IAM ONS *CO C-C ALI H-M R= CV N-H R=B EXP a. [(de.dé)]



* b. [(dre.dré)] *!* * c. [(de.dré)] *! * d. [(dé)] * *! e. [(an.ân)] *!* ** *** *

Como se pode notar no tableau, nenhum candidato infringe a restrição IAMBO (IAM), pois todos apresentam cabeça à direita. A restrição ONSET (ONS) é infringida duas vezes pelo candidato (e), pois este apresenta suas duas sílabas iniciadas por vogal, ou seja,

5

(52)

nenhuma das duas sílabas preenche a posição de ataque. A restrição *COMPLEX (*CO) atua em conjunto com ONSET, o que significa dizer que elas não estão crucialmente hierarquizadas (a linha tracejada indica isso). Os candidatos (b) e (c) violam *COMPLEX, pois (b) apresenta suas duas sílabas constituídas por grupos consonantais e, por isso, viola duas vezes a restrição, e (c), como possui apenas uma sílaba com ataque complexo, infringe apenas uma vez a restrição. Dessa forma, apenas dois candidatos permanecem na disputa: (a) e (d), os únicos que ainda não transgrediram restrição alguma. É importante frisar que, embora três candidatos já tenham deixado a disputa, eles permanecem sendo analisados pelos restritores e, portanto, podem continuar recebendo infrações.

Na seqüência, o candidato (e) infringe duas vezes a restrição CODA-COND [glide] (C-C), visto que os elementos localizados na posição de coda em cada uma das duas sílabas não são semivogais. A seguir, a restrição de alinhamento não pune qualquer candidato, porque todos os que possuem reduplicante o têm à direita da base, como obriga ALINH (abreviada ALI, nos tableaux).

(53)

(N-H), pois nenhum deles equivale a qualquer palavra da língua portuguesa. Finalmente, chega-se às duas últimas restrições – RED=BASE (R=B) e EXPONÊNCIA (EXP) –, que agem em conjunto. O candidato eliminado (c) transgride RED=BASE por ter o reduplicante com formato distinto da base. Já o candidato (d) viola EXPONÊNCIA por não possuir reduplicante, pois essa restrição exige fidelidade às informações morfológicas especificadas no input, e o reduplicante está especificado na forma subjacente. Sendo assim, ‘Dedé’ pode ser considerado o output ótimo, ou seja, o hipocorístico do antropônimo ‘André’ e, como já foi dito, o símbolo

aponta o candidato vitorioso6.

Dando seqüência, em (08), apresenta-se o tableau com a análise de ‘Artur’.

(08)

/Artur/ + Hipo + Red

IAM ONS *CO C-C ALI H-M R= CV N-H R=B EXP a. [(tu.tú)]



* * b. [(tur.túr)] *!* * c. [(tu.túr)] *! * d. [(tú)] * * *! e. [(ar.ár)] *!* ** *** *

De acordo com o que se verifica na análise em (08), nenhum candidato recebe infração em IAMBO, já que todos os pés são iâmbicos, ou seja, apresentam cabeça à direita. O candidato (e) deixa a disputa por cometer duas infrações em ONSET, pois suas

6

(54)

duas sílabas são iniciadas por vogal. A seguir, como se vê acima, o restritor *COMPLEX não elimina candidato algum. CODA-COND [glide], entretanto, elimina dois candidatos: (b) sai da disputa por apresentar dois elementos que não são semivogais em coda, e (c) é eliminado por apresentar um elemento que também não é um glide nessa posição. O candidato (e), já eliminado, comete duas infrações a esse restritor, já que também possui dois elementos não-vocálicos na posição de coda. Como todos os candidatos que possuem reduplicante o têm alinhado como prefixo, nenhum candidato recebe violação em ALINH.

Dando seqüência com as restrições da família fidelidade, HEAD-MAX leva os candidatos até o momento ilesos a cometerem sua primeira infração, visto que (a) e (d) apagam o elemento em coda da sílaba proeminente. Além disso, o candidato (e) viola três vezes essa restrição ao apagar completamente a sílaba tônica, constituída por três elementos. A restrição RED=CV faz com que (b) e (e) recebam infrações, pois (b) possui reduplicante com formato CVC, e (e) apresenta reduplicante com formato VC. Os dois candidatos que permanecem na disputa violam uma vez NÃO-HOMONÍMIA, posto que ‘tutú’ equivale a uma comida brasileira feita com feijão e ‘tú’ equivale ao pronome pessoal do caso reto de segunda pessoa do singular. Dessa forma, (a) e (d) seguem na disputa. Na avaliação de RED=BASE, apenas o candidato (c) recebe infração, pelo simples fato de apresentar o reduplicante com formato distinto da base. Em EXPONÊNCIA, o candidato (d) comete uma violação por não apresentar o reduplicante, que é um elemento presente no input. Sendo assim, o candidato (a), finalmente, emerge como output ótimo. Com o input

(55)

(09) /Mateus/ + Hipo + Red

IAM ONS *CO C-C ALI H-M R= CV N-H R=B EXP a. [(te.têu)]



* * b. [(te.têus)] *! * c. [(teus.têus)] *!* * d. [(máti)] *! ** * * e. [(teu.tê)] *! * *

(56)

Partindo para as restrições da família fidelidade, em HEAD-MAX, os candidatos (a) e (e) cometem uma infração cada, visto que apagam a coda não-vocálica da sílaba tônica, e o candidato (d) viola duas vezes a restrição por ter apagado os dois elementos em coda da sílaba proeminente. O candidato (c) viola, ainda, a restrição RED=CV, pois o seu reduplicante possui o formato CVVC. NÃO-HOMONÍMIA faz com que (d) receba mais uma infração, visto que ‘máti’ equivale à mesma realização fonética de uma palavra já existente na língua (uma bebida). Os candidatos (a), (b) e (e), por apresentarem reduplicantes distintos da base, violam uma vez RED=BASE. Por fim, apenas (d) viola EXPONÊNCIA, já que é o único candidato que não apresenta reduplicante. Portanto, o output ótimo é (a), que infringe uma vez HEAD-MAX e RED=BASE, mas isso em nada

modifica o resultado da competição, visto que todos os demais candidatos já haviam sido eliminados por restrições mais altas na hierarquia.

Passa-se, a seguir, em (10), à análise de um caso que admite variação: o antropônimo ‘Isabel’.

(10)

/Isabel/ + Hipo + Red

(57)

A partir da análise do tableau acima, vê-se que o primeiro a deixar a disputa é (d), porque infringe IAMBO, isto é, trata-se de um troqueu, por apresentar cabeça à esquerda. Esse mesmo candidato recebe ainda seis outras infrações: uma em ONSET, pois sua primeira sílaba não apresenta ataque; três em HEAD-MAX, já que apaga a sílaba tônica, que possui três elementos; uma em NÃO-HOMONÍMIA, posto que o hipocorístico equivale a um outro antropônimo; e outra em EXPONÊNCIA, pelo fato de não apresentar reduplicante. Como se percebe, todos os candidatos passam ilesos pelos restritores *COMPLEX e CODA-COND [vocálica]. O candidato (e) é eliminado a seguir, por apresentar o reduplicante à direita e a base à esquerda da palavra prosódica e, por isso, infringir ALINH. O próximo candidato que sai da competição é (c), pois seu reduplicante apresenta o formato CVC, o que faz com que a restrição RED=CV seja violada. Na seqüência, os candidatos (a) e (e) violam uma vez a restrição RED=CV. Nesse momento da disputa, o fato de o candidato (a) ter recebido uma infração não faz com ele saia imediatamente da competição, pois as duas últimas restrições atuam em conjunto e, por conseguinte, é necessário que os candidatos sejam avaliados, ainda, pela última restrição. Na avaliação por EXPONÊNCIA, (b) recebe uma infração por não possuir reduplicante, o que faz com que ele empate com (a) na disputa. Dessa maneira, (a) e (b) emergem como outputs ótimos, o que configura um caso de variação, diferentemente dos outros casos

analisados.

(58)

que envolvem variação, diferentemente da análise otimalista, que, nesse caso, permitiu a emergência de dois outputs ótimos.

(59)

5. O PROCESSO DE HIPOCORIZAÇÃO DE ANTROPÔNIMOS COMPOSTOS

Fazem-se, neste capítulo as análises morfoprosódica e otimalista do processo de hipocorização de nomes compostos, como ocorre, por exemplo, em Malú, hipocorístico de ‘Maria Luíza’ ou ‘Maria Lúcia’, e em ‘Cadé’, hipocorístico de ‘Carlos André’. Como se vê, tal padrão define-se como a junção de duas bases que se encurtam. Além disso, o processo em questão não permite a emergência de mais de um output ótimo, o que significa dizer que não admite variação de formas.

Os dados exibidos a seguir, em (01), foram, assim como no padrão estudado no capítulo anterior, colhidos em testes e representam, portanto, formas que se destacaram em relação às demais, constituindo, dessa maneira, os outputs ótimos referentes ao processo de hipocorização de antropônimos compostos.

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(01)

André Luiz > Delú Carlos Alexandre > Calê Carlos André > Cadé Carlos Artur > Catú Carlos Eduardo > Cadú Carlos Luiz > Calú Carlos José > Cazé Célia Lúcia > Celú Eduardo Carlos > Dúca João Batista > Jóba

João Carlos > Jóca José Carlos > Zéca José Luiz > Zelú Luiz Carlos > Lúca Maria Isabel > Mabél Maria João > Majô Maria José > Mazé Maria Júlia > Majú

Maria Luíza / Lúcia > Malú Maria Teresa > Matê

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fato de não se encaixarem nos aspectos gerais que envolvem o padrão de hipocorização em estudo.

Vistos esses pontos cruciais, passa-se, então, à análise do processo na ótica da Morfologia Prosódica.

5.1 ANÁLISE VIA MORFOLOGIA PROSÓDICA

Como já foi dito anteriormente, uma análise através da Morfologia Prosódica é iniciada com a definição de um domínio sobre a palavra-matriz. No processo em análise no presente capítulo, dois parâmetros regem a circunscrição: (a) o da sílaba (rastreia-se a primeira sílaba com onset de cada antropônimo) e (b) o da direcionalidade (da esquerda para a direita do antropônimo). Esses parâmetros constituem a chamada circunscrição positiva, posto que o conteúdo segmental descartado fica fora desse domínio (McCarthy & Prince, 1990). Dessa forma, o material presente no molde é aquele escaneado pela circunscrição prosódica, que atua com a finalidade de isolar uma palavra mínima: rastreia-se a primeira sílaba com onrastreia-set de cada nome, que rastreia-será copiada do domínio-fonte para o domínio-alvo (o molde) (Gonçalves, 2004a).

Referências

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