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-r- ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GABINETE DE DESEMBARGADOR

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r : . . ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GABINETE DE DESEMBARGADOR ACÓRDÃO APELAÇÃO CRIMINAL N. o 042.2004.000380-0/001 — Comã-ca de Bonito de Santa Fé

RELATOR: Desembargador Leôncio Teixeira Câmara APELANTE: Representante do Ministério Público APELADO: Cosmo Pereira de Sousa

DEFENSORA: Maria Nemízia Caldeira Silva

JÚRI. Tentativa de homicídio. Réu submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri. Absolvição. Reconhecimento da tese da legítima defesa. Irresignação ministerial. Alegação de que o

• Sinédrio Popular decidiu contrariamente à prova

dos autos. Acolhimento. Causa excludente de antijuridicidade não caracterizada. Conjunto probatório acorde ao pleito. Julgamento divorciado dos elementos coligidos aos autos. Necessidade de submeter o denunciado a novo julgamento. Provimento.

1. Manda-se o réu a novo júri, quando a decisão absolutória, baseada em tese da excludente de legítima defesa, contraria o conjunto probatório.

2. "Não constitui versão, que o júri possa adotar, a palavra do réu isolada de tudo o mais que se contém na instrução. Daí que é contrário à

evidência dos autos o veredicto que absolve com

111 base naquilo que o acusado disse e não tem o

mínimo apoio na prova'.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de apelação criminal, acima identificados,

ACORDA a Egrégia Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, à unanimidade, em dar provimento ao recurso de apelação, em desarmonia com o parecer da Procuradoria de Justiça.

RELATÓRIO

Perante a Comarca de Bonito de Santa Fé, Cosmo Pereira de Soa, devidamente qualificado, foi denunciado como incurso nas sanções do art. 121, ca ut, c/c o art. 14, ambos do Código Penal, acusado de haver tentado matar a vítima Luiz de Sousa Alves, mediante o emprego de arma branca.

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Pronunciado (fls. 88/92) e submetido a julgamento pelo Sinédrio Popular, no dia 26 de setembro de 2005, restou absolvido pelo crime de tentativa de homicídio (fls. 155/156).

Não se conformando com o decisum verberado, o Representante Ministerial apresentou recurso de apelação (fls. 162/166), proclamando que a decisão do Conselho de Sentença foi contrária à prova dos autos.

-Ofertadas as contra-razões (fls. 168/175), seguirarrios autos, já nesta Instância, à douta Procuradoria de Justiça, que, em parecer, opinou pelo desprovimento do recurso (fls. 185/187).

É o relatório. VOTO

Insurge-se o Representante do Parquet contra o decreto absolutório emanado do Soberano Conselho de Sentença perante a Comarca de Bonito de Santa Fé, sob o fundamento de que a decisão restou contrária às provas constantes do caderno

processual, vez que a tese da legítima defesa não mereceria prosperar, diante da ausência de elementos que apontem ter-se defendido o denunciado de alguma agressão perpetrada pela vítima.

Com efeito, ao folhear com acuidade o álbum processual, observa-se lograr êxito a insurreição ministerial, pelo que merece provimento o apelo.

É que, segundo se dessume do lastro substancial do processo, o apelante foi denunciado sob a acusação de, no dia 26 de julho do ano de 2004, por volta das 16h, no Bairro Jardim das Neves, Cidade de Bonito de Santa Fé, haver agredido com facadas a vítima Luis de Sousa Alves, causando-lhe agressões de natureza grave, somente não vindo a óbito, em face da intervenção da esposa da vítima e de populares.

A prova material do evento criminoso apresenta-se estampada através do Laudo de Constatação de Ofensa Física (fls. 14). A responsabilidade pela autoria delitiva, igualmente, resulta insofismável, visto que os depoimentos testemunhais se coadunam, no sentido de atribuir a prática criminosa a Cosmo Pereira de Sousa.

Entrementes, o denunciado, malgrado não afastar a sua responsabilidade pelas lesões efetuadas na vítima, apresenta versão defensiva no sentido de que não tinha a intenção de matar a vítima, mas tão-somente de lesioná-la, haja vista que, agredido injustamente, buscou apenas defender-se, suscitando a existência de causa excludente de antijuridicidade consubstanciada na legítima defesa própria.

A propósito, faz-se mister a transcrição de seu depoimento prestac4 na esfera policial, vejamos:

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cortar ponta de linha de seu galão, tendo neste momento sacado a referida faca, não lembrando o que aconteceu naquele momento...; Que, o interrogado adianta que existia uma rixa entre o mesmo e a vítima, inclusive, a vítima já tinha lhe ferido de faca-peixeira, quando o acusado se encontrava pescando em um açude de Antônio Poeirame"

(fls. 11/12).

Quando interrogado em juízo, asseverou o

seguinte:-"Que no dia do fato a vítima chegou na residência do interrogando de forma repentina e foi logo lhe agredindo com uma paulada; Que, o interrogado revidou agredindo a vítima com algumas facadas, não lembrando quantas; Que, quando a vítima chegou na casa do acusado o mesmo se encontrava consertando um galão de pesca; Que acusado e

vítima já mantinham uma certa inimizade, uma vez que a vítima já tinha lesionado o interrogado com uma faca, fato que ocorreu cerca de quinze dias antes do fato narrado na denúncia; Que no dia do fato não houve nenhuma discussão entre o acusado e a vítima; Que não lembra em quais locais do corpo a vítima foi atingida; Que no dia do fato a • vítima estava embriagada; Que, o interrogando quando lesionou a

vítima se posicionou em cima desta; Que quando estava sobre a vítima a esposa desta se agarrou com o interrogando, pedindo-me que não matasse seu marido (a vítima); Que o interrogando achou que três facadas dada na vítima já estava bom pelos desaforos da mesma ter ido a sua residência lhe agredir; Que quando a esposa da vítima se agarrou com o interrogando tentando tomar-lhe a faca peixeira com a qual esfaqueava a vítima; Que, quando a esposa da vítima agarrou o interrogando, puxando-me a camisa o interrogando se encontrava em cima da vítima agarrado na sua goela; Que quando a esposa da vítima puxou a camisa do interrogando foi que o mesmo lembrou da faca e passou a esfaquear a vítima"(fls. 56).

Ocorre que a narrativa dos fatos apresentada pela defesa não encontra guarida no conjunto probatório, isso porque não houve testemunhas presenciais que

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pudessem melhor esclarecer o evento criminoso. Os depoimentos colhidos e insertos no caderno processual são de populares que intervieram na cena delituosa, quando a vítima já se encontrava esfaqueada.

A esse respeito, mister a transcrição de alguns depoimentos.

Francisco Pereira de Alencar (fls. 70) — "Que não presenciou o fato narrado na denúncia, porém, encontrava-se próximo a sua resi ência olhando uma vacinação, quando ouviu uma gritaria e umas ressoas correndo; Que procurou saber o que estava ocorrendo e foi inf rmando de que o acusado tinha ferido a vítima, o Sr. Conhecido por Lui.'s Januário; Que o depoente foi até o local onde a vítima foi lesionada e ajudou a socorre-la; Que a vítima encontrava-se toda ensangüentada e com o fato fora da barriga, posto que as tripas estavam soltas, caindo; Que a vítima foi socorrida ao hospital local e depois para o hospital de Cajazeiras/PB; Que, ouviu dizer que entre acusado e vítima existia uma rixa; Que não tem conhecimento que antes do fato vítima e acusado tenham discutido"(sublinhou-se).

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encontrava em sua residência e foi procurado pelo Sr. Conhecido por Chico preá, para socorrer a vítima; Que o referido senhor lhe informar que Cosmo tinha esfaqueado Luis Januário; Que o depoente juntamente com Chico Preá socorreram a vítima; Que, a vítima se encontrava esfaqueada e com o intestino de fora e, sangrando bastante; Que, não sabe informar se vítima e acusado discutiram antes do crime; Que no entanto ouviu dizer que a vítima conduzia um pedaço de pau; Oue, não sabe informar se a vítima chegou a agredir o acusado com esse pedaço de pau"(destacou-se).

Por sua vez, as testemunhas da defesa igualmente não assistiram à cena delituosa, porquanto se ativeram a tecer comentários, tão-somente, acerca das boas qualidades do acusado.

De outro ângulo, colhido o depoimento da vítima, perante a autoridade judicial, a versão extraída do seu relato é que o apelante somente não conseguiu

assassiná-la, em virtude da interferência de terceiros. Eis o teor de sua declaração:

"Que, reafirma o dedarante que o acusado somente não lhe assassinou porque a faca ficou encravada em seu peito, além da sua esposa ter

interferido junto ao acusado pedindo-me que não matasse o seu marido; Que, o dedarante teme por sua vida, pois acusado é uma pessoa de alta periculosidade; Que, entre a vítima e acusado já existia uma inimizade, pois em um certo dia o acusado abefturou o dedarante e este riscou-o com um espeto de assar carne; Que o acusado é uma pessoa violenta quando bebe bebida alcoólica; Que o acusado já foi processado;... Que o acusado deu três facadas no declarante; Que o dia

do fato o acusado não se encontrava embriagado"(fls. 57).

Verifica-se, pois, da leitura dos depoimentos carreados ao álbum processual, que o apelado, decerto, tentou eliminar a vida do ofendido Luiz Januário, com o qual já tinha uma inimizade, somente não conseguindo concluir o iter criminis em face da interferência da esposa da vítima e de populares, bem como por ter a faca ficado encravada em seu corpo.

• Indubitável, portanto, que os elementos de prova destacados não amparam a decisão dos jurados de que Cosmo Pereira de Sousa agiu em legítima defesa, porquanto, consoante enfatizado pelo Parquet, "não há uma única prova que

aponte no sentido de ter o denunciado perpetrado o fato visando defender-se de uma ação agressiva cometida pela vítima contra a sua pessoa"(fls. 165).

Nesse diapasão, há de estender-se guarida aos fundamentos utilizados pelo Parquet, quando preconizou fosse o réu submetido a novo julgamento pelo Tribunal do Júri, uma vez que a decisão emanada foi manifestamente contrária à prova dos autos.

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Logo, toda decisão arbitrária afronta o devido processo legal e o próprio . contraditório, instituindo erro judiciário com funestas conseqüências ao Estado e à credibilidade da Justiça e do próprio Júri, portanto, os jurados, escolhidos como juízes naturais, não estão legitimados a desgarrar-se do contexto dos autos. Podem, sim, entre duas versões, optarem pela que entenderem ser justa ou merecer maior credibilidade, mas lhes é vedado julgar, sem que nenhum elemento seja capaz de sustentar sua decisão, o que, por seu turno, é a hipótese dos autos.

-Desta feita, repise-se, no que diz respeito às vers66 ditadas pelo réu, inexistir no caderno processual qualquer elemento capaz de subsidiar a sua tese defensiva, pelo que impende levá-lo a novo julgamento pelo Júri.

Nesse sentido, a jurisprudência pátria dicciona:

"JÚRI. Não constitui versão, que o júri possa adotar, a palavra do réu isolada de tudo o mais que se contém na instrução. Daí que é contrário à evidência dos autos o veredicto que absolve com base naquilo que o acusado disse e não tem o mínimo apoio na prova. Apelação provida"

(Apelação Crime n o 26.498 — 2 a Câmara Criminal — Santa Rosa — Rel. • Des. Ladislau Fernando Rôhnelt — julgada em 18.2.1982) (RJTJRGS,

92/163). E ainda:

"Apelação crime. Processo da competência do Tribunal do Júri. Obraram os senhores jurados manifestamente contrários à prova dos autos, quando admitiram a isolada versão do réu, sem nenhum amparo probante. Recurso da Justiça Pública ao qual se dá provimento para determinar seja o réu submetido a novo júri, com base no artigo 595, § 30, do código de Processo Penal, prejudicadas as demais postulações

recursais. Decisão unânime" (Apelação crime no 70.000.386.235, 2a Câmara Criminal, julgada em 16 de dezembro de 1999).

Portanto, verificando que a decisão do Júri se distanciou da verdade ilustrada nos autos através do conjunto probatório, tem procedência o recurso manejado.

Ex positis, em desarmonia com o parecer da Procuradoria de Justiça, dou provimento ao recurso, a fim de que o réu seja submetido a novo julgamento.

É o meu voto.

Presidiu ao julgamento o Desembargador Antônio Carlos Coelho da Franca, dele participando, além de mim, Relator, os Desembargadores Raphael Carneiro Arnaud e Nilo Luis Ramalho Vieira.

Presente à sessão a Promotora de Justiça convocada Dinalba Gonçalves Ara ru na.

Sala de Sessões' Des. M. Taigy de Queiroz Melo Filho" da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, o Estado da Paraíba, em João Pessoa, 30 de maio de

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