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RELIGIOSIDADES NO CURRÍCULO ESCOLAR UM CAMPO POSSÍVEL PARA A DIDÁTICA CRÍTICA INTERCULTURAL

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Academic year: 2021

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RELIGIOSIDADES NO CURRÍCULO ESCOLAR –UM CAMPO POSSÍVEL PARA A DIDÁTICA CRÍTICA INTERCULTURAL

Glaucio Luiz Mota1 - PUCPR Ana Maria Eyng2 – PPGE/PUCPR Resumo

Os currículos escolares têm sido questionados sobre o reconhecimento de outros sujeitos, saberes, contextos, e culturas, por meio da problematização que o debate sobre a diversidade cultural tem exercido na educação. As religiosidades precisam ser pautadas nesse debate contemporâneo, pois são entendidas como parte da diversidade cultural, de acordo com que se indica nas políticas educacionais brasileiras. Além disso, as religiosidades influenciam de certa maneira a vida pública e política da sociedade, tendo a função de servir como referencial de valores e saberes (LUHMANN 1977;

CIPRIANI 2007). Nessa perspectiva, tem havido no currículo escolara tentativa de transcender a falta de reconhecimento das diferençasculturais, abrindo espaço para uma interculturalidade com viés crítico e não somente funcional de acordo com o modelo neoliberal colonizante do saber, modelo este que tem influenciado as políticas educacionais atuais. Portanto, o emprego dos saberes religiosos vindos das religiosidades dos sujeitos no currículo é indicado nesse artigo como campo para a Didática Crítica Intercultural (CANDAU, 2012), tendo na interculturalidade crítica seu aporte teórico(WALSH, 2009). Sendo assim, o que será problematizado nesse artigo é o reconhecimento das religiosidades no currículo escolar. Para isso, apresentaremos os dados empíricos da pesquisa realizada numa escola de ensino fundamental. Os dados problematizamas possibilidades e as necessidades de situar as religiosidades de estudantes e professores como parte da diversidade cultural no currículo escolar, além de abrir um campo didático para o uso dos saberes religiosos no cotidiano da escola, tendo-os como uma importante fonte de conhecimento e de diálogo das diferenças culturais e religiosas com os demais saberes escolares.

Palavras-chave: Religiosidades. Currículo. Didática Intercultural.

Problematizando o tema da pesquisa

As religiosidades e a didática intercultural são temas centrais desse artigo, uma vez que as teorias curriculares têm sido provocadas para o reconhecimento de outros sujeitos e suas culturas, entre os quais, suas manifestações religiosas têm o direito de ter o mesmo tratamento didático.

Logo, o problema que esse artigo quer analisar é o desafio de praticar uma didática intercultural tendo os saberes religiosos advindos das religiosidades como uma das suas fontes. Isso porque as religiosidades na escola nãosão pautasfrequentes, seja

1Mestrando em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR. E-mail:

gmota@solmarista.org.br

2Doutora em Inovação e Sistema Educativo pela Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR. E-mail: eyng.anamaria@gmail.com

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por desconsideração ou receio de intolerância e, quando são pautadas,podem sofrer uma carga proselitista, correndo o risco de se desconsiderar e desrespeitar a diversidade religiosa. Para isso, o artigo objetiva problematizar a didática intercultural crítica (WALSH, 2009; CANDAU, 2012) como forma de reconhecimento e possibilidade de tematizar os saberes religiosos, produto das religiosidades no currículo escolar.Nesse sentido, Candau afirma que:

A partir da perspectiva crítica, na qual estou enraizada, considero que a perspectiva intercultural é central para se avançar na produção de conhecimentos e práticas, assim como processos de ensino-aprendizagem e na promoção de uma educação escolar orientados a colaborar na afirmação de uma sociedade verdadeiramente democrática em que justiça social e justiça cultural se entrelacem. (2012, p. 134-135)

Entretanto, a Didática Crítica Intercultural servirá como mediadora para que a interculturalidade crítica aconteça na escola.

Religiosidades no currículo

As religiosidades produzem formas culturais que podem revelar uma visão sobre o mundo e do mundo (Simmel, 2009, p. 12-13).Simmel complementa Webber ao analisaras religiões a partir das subjetividades (SIMMEL, 2009, p. 12 e 13), enquanto que Weber aborda as religiões somente sobre o aspecto histórico e comparativo (WEBER, 1991). Nesse sentido, a religiosidade cria a vida religiosa e por consequência cria a religião, assim como a sociabilidade cria a relações em sociedade (CIPRIANI, 2007, p. 121), ou seja, Simmel parte das subjetividades religiosas dos sujeitos como fonte para a construção históricadas religiões, processo esse que contribui no estabelecimento dasrelações sociais e culturais.

O reconhecimento das religiosidades como produto e produtora de cultura (TILLICH, 2009, p. 83), reforça a teoria curricular descrita por Silva (2014) como pós- crítica. “Na perspectiva pós-critica, fazem-se necessário a elaboração, o desenvolvimento e o aperfeiçoamento constante de propostas pedagógicas capazes de estabelecer o diálogo entre as culturas ou, em outras palavras, efetivar uma educação intercultural” (EYNG, 2010, p. 116). Nessa teoria de currículo, ao mesmo tempo em que as religiosidades são um componente da diversidade cultural, elas podem favorecer a interculturalidade quando pautadas na escola.

Religiosidades na concepção de estudantes e professores – Dados empíricos

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A abordagem qualitativa dessa pesquisa bibliográfica e documental contou com a coleta de dados empíricos realizada com sujeitos da educação básica. O levantamento dos dados foi realizado numa escola que atende estudantes no segmento do Ensino Fundamental II, do 6º ao 9º ano.

A coleta dos dados por meio de entrevista estruturada foi realizada na sala de aula com 51estudantesde duas turmas (uma de 6º ano e outra do 9º ano),e com quatro professores em entrevistas individuais. Essa coleta foi parte do pré-teste para o procedimento empírico do projeto de pesquisa de dissertação de mestrado em educação.

Foram dez perguntas realizadas sendo que duas foram utilizadas com os estudantes e uma com os professores.

Das duas perguntas realizadas com os estudantes, a primeira abordou o seguinte:

O que se pode aprender com a religião?

Aqui encontramos importantes justificativas para abordar as religiosidades no currículo, pois somente 2% dos estudantes responderam que não se tem nada para aprender com as religiões. Isso porque, ao contrário dessas respostas, o que temos visto é uma forte problematização da religião na sociedade por conta da sua relação com temas como: o terrorismo, as intolerâncias, a influência das igrejas no campo político e público, a exemplo das bancadas religiosas das câmaras legislativas. As demais 98%

das respostas, se dividiram nas seguintes questões: Crer em Deus: 19%; Palavra de Deus: 8%; Amor: 18%; Educação: 2%; Ter fé: 10%; Jesus nos salvou: 2%; Viver como Jesus: 2%; Uma vida melhor: 10%; Paz 4%; Comunhão: 2%; História do povo: 2%;

Louvar: 2%; Coisas diferentes: 4%; e, Ajudar o próximo: 13%.

A religião tem uma função importante na sociedade no que se refere à contribuição para o seu desenvolvimento, sobretudo na educação, por conta dos valores éticos constituídos historicamente por meio de suas tradições. Trata-se de um importante referencial para pensar o mundo e seus sistemas (LUHMANN, 1977).

Você acha que se deve falar de religião na escola? Por quê? É a pergunta que reforça que, de acordo com as respostas dos estudantes nessa questão, a religiosidade precisa ser considerada como fonte de conhecimento para o currículo.

Somente 24% dos entrevistados acham que não se deve falar de religião na escola, por entenderem que “cada um tem a sua”, “que está bem assim” ou porque “é chato” falar de religião. Responderam que não sabem: 3%. Os 73% das demais questões, tiveram as seguintes respostas: É importante: 15%; É bom falar de Deus:

10%; Pelos ensinamentos religiosos: 13%; Cuidar dos outros 10%; Conhecer outras

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religiões: 8%; Ajuda ir para a Igreja: 3%;Para ter paz: 3%; Para ter respeito: 3%; Missão de vida: 5%; e 3% disseram sim, mas só para quem quiser falar de religião. Esses 73%

das questões fortalecem o aspecto da importância dos saberes religiosos e das sociabilidades provocadas pelas religiosidadesna escola.

Já a pesquisa com os professores abordou de forma aberta uma única questão:

“Como as religiosidades podem ser abordadas no currículo?”.

Dos quatro professores participantes da pesquisa, um respondeu com perspectiva pós-crítica de currículo, conforme essa resposta: “De diversos meios informais ou formais, por todos os espaços da escola e em todos os momentos. Em conversas, através da transmissão de valores, aproveitando situações de sala, em intervenções, etc. Textos que despertem o tema, nas relações humanas, tudo pode ser relacionado á religiosidade”. Essa afirmação converge com aspecto de um currículo intercultural.

Por outro lado, houve um posicionamento contrário às religiosidades no currículo: “Eu acho que a religião não tem que se manifestar, pois não devemos olhar a pessoa pela religião e sim pelo o que ela é”. É possível que o educador tenha essa visão pelo receio da intolerância ou porque a escola pode estar despreparada para lidar com esse tema, ou por não entender a religião como parte das relações socioculturais na escola. Essa mesma tendência encontramos na resposta do terceiro professor: “Eu acho que a religiosidade não deve se manifestar no currículo em momento algum. Pois Deus é um só! A religião não importa”. Nessa resposta, pode haver o entendimento e o receio que se trabalhe as religiões de maneira proselitista, desconsiderando a importância dos saberes religiosos que surgem das religiosidades.

A quarta e última reposta teve o seguinte teor: “Penso em religiosidade como um exemplo de valores, acredito que a ação relacionada a uma maneira de viver com atitudes solidárias e uma cultura de paz são os melhores exemplos que podemos ensinar”. Arriscamos dizer que se encontra aqui uma possibilidade de se fazer uso dos saberes religiosos de maneira interdisciplinar.

Sobre essas respostas, tanto as dos estudantes, quanto as dos professores, emergem alguns questionamentos: O currículo escolar considera as diversidades e as diferenças que surgem das sociabilidades dos estudantes? Qual é a perspectiva didática que pode favorecer o diálogo dos saberes religiosos vindos das religiosidades dos educandoscom os demais saberes escolares?

As religiosidades como fonte para a didática intercultural– Considerações finais

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Os saberes religiosos advindos das religiosidades entrarão na escola ainda que sem convite. Portanto, uma interessante estratégia didática é não desconsiderar as religiosidades no currículo, independente de se ter o Ensino Religioso como disciplina.

As religiosidades podem favorecer as sociabilidades entre os estudantes, além de serem produtoras de conhecimento. Para isso, a didática apropriada que estamos nos apoiando é a crítica intercultural que tem como base a interculturalidade crítica.

Para Walsh, a interculturalidade funcional, que corresponde aos interesses de manutenção de controle do conhecimento, tem na interculturalidade crítica, descrita por ela como um movimento que reconhece as diferenças, como contraponto à “submissão e subalternização” das culturas dos estudantes(2009, p. 21 e 22).

Todavia, a Didática Crítica Intercultural (CANDAU, 2012)podee deve desestabilizar a lógica disciplinar incluindo outros saberes invisibilizados no currículo, nesse caso, os saberes constituídos a partir das religiosidades.E, ao proporcionar um espaço para as religiosidades no currículo, tanto a interculturalidade pode favorecer espaço para as religiosidades, quanto as religiosidades podem ser campo para a prática interculturalno currículo, num exercício de mão dupla e de solidariedade didática.

Referenciais

CANDAU, Vera Maria (Org.). Didática crítica intercultural:

aproximações. Petrópolis: Vozes, 2012.

CIPRIANI, Roberto. Manual de sociologia da religião. São Paulo: Paulus, 2007.

EYNG, Ana Maria. Currículo escolar. 2. ed. rev. atual. Curitiba: Ibpex, 2010.

LUHMANN, Niklas. Funktion der religion. Frankfurt: Suhrkamp, 1977.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.

SIMMEL, Georg. Religião: ensaios vol. 1/2. São Paulo: Olho d’Água, 2009.

TILLICH, Paul. Teologia da cultura. São Paulo: Fonte Editorial, 2009.

WALSH, Catherine. Interculturalidade crítica e pedagogia decolonial: in-surgir, re- existir e re-viver. In. CANDAU, Vera Maria (Org.). Educação intercultural na América Latina: entre concepções, tensões e propostas. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2009.

WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília: UnB, 1991.

Referências

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