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caderno do PROFESSOR ensino médio 3ª SÉRIE CP 3a serie SOCIO vol 2_FINAL.indd :46:33

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São Paulo (Estado) Secretaria da Educação.

Caderno do professor: sociologia, ensino médio - 3a série, volume 2 / Secretaria da

Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; equipe, Heloísa Helena Teixeira de Souza Martins, Marcelo Santos Masset Lacombe, Melissa de Mattos Pimenta, Stella Christina Schrijnemaekers. – São Paulo : SEE, 2009.

ISBN 978-85-7849-304-2

1. Sociologia 2. Ensino Médio 3. Estudo e ensino I. Fini, Maria Inês. II. Martins, Heloísa Helena Teixeira de Souza. III. Lacombe, Marcelo Santos Masset. IV. Pimenta, Melissa de Mattos. V. Schrijnemaekers, Stella Christina. VI. Título.

CDU: 373.5:316

S239c

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo autoriza a reprodução do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais secretarias de educação do país, desde que mantida a integridade da obra e dos créditos, ressaltando que direitos autorais protegi-dos* deverão ser diretamente negociados com seus próprios titulares, sob pena de infração aos artigos da Lei no 9.610/98.

* Constituem “direitos autorais protegidos” todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas no material da SEE-SP que não estejam em domínio público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais.

Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas

Governador José Serra Vice-Governador Alberto Goldman Secretário da Educação Paulo Renato Souza Secretário-Adjunto

Guilherme Bueno de Camargo Chefe de Gabinete

Fernando Padula

Coordenadora de Estudos e Normas Pedagógicas

Valéria de Souza

Coordenador de Ensino da Região Metropolitana da Grande São Paulo José Benedito de Oliveira Coordenador de Ensino do Interior Rubens Antonio Mandetta Presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE Fábio Bonini Simões de Lima

Coordenação do Desenvolvimento dos Conteúdos Programáticos e dos Cadernos dos Professores

Ghisleine Trigo Silveira

AUTORES

Ciências Humanas e suas Tecnologias

Filosofia: Paulo Miceli, Luiza Christov, Adilton Luís Martins e Renê José Trentin Silveira Geografia: Angela Corrêa da Silva, Jaime Tadeu Oliva, Raul Borges Guimarães, Regina Araujo, Regina Célia Bega dos Santos e Sérgio Adas História: Paulo Miceli, Diego López Silva, Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli e Raquel dos Santos Funari

Sociologia: Heloisa Helena Teixeira de Souza Martins, Marcelo Santos Masset Lacombe, Melissa de Mattos Pimenta e Stella Christina Schrijnemaekers

Ciências da Natureza e suas Tecnologias

Biologia: Ghisleine Trigo Silveira, Fabíola Bovo Mendonça, Felipe Bandoni de Oliveira, Lucilene Aparecida Esperante Limp, Maria Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Olga Aguilar Santana, Paulo Roberto da Cunha, Rodrigo Venturoso Mendes da Silveira e Solange Soares de Camargo

Ciências: Ghisleine Trigo Silveira, Cristina Leite, João Carlos Miguel Tomaz Micheletti Neto, Julio Cézar Foschini Lisbôa, Lucilene Aparecida Esperante Limp, Maíra Batistoni e Silva, Maria Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Paulo Rogério Miranda Correia, Renata Alves Ribeiro, Ricardo Rechi Aguiar, Rosana dos Santos Jordão, Simone Jaconetti Ydi e Yassuko Hosoume Física: Luis Carlos de Menezes, Sonia Salem, Estevam Rouxinol, Guilherme Brockington, Ivã Gurgel, Luís Paulo de Carvalho Piassi, Marcelo de Carvalho Bonetti, Maurício Pietrocola Pinto de Oliveira, Maxwell Roger da Purificação Siqueira e Yassuko Hosoume

Química: Denilse Morais Zambom, Fabio Luiz de Souza, Hebe Ribeiro da Cruz Peixoto, Isis Valença de Sousa Santos, Luciane Hiromi Akahoshi, Maria Eunice Ribeiro Marcondes, Maria Fernanda Penteado Lamas e Yvone Mussa Esperidião

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Arte: Geraldo de Oliveira Suzigan, Gisa Picosque, Jéssica Mami Makino, Mirian Celeste Martins e Sayonara Pereira Educação Física: Adalberto dos Santos Souza, Carla de Meira Leite, Jocimar Daolio, Luciana Venâncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti, Renata Elsa Stark e Sérgio Roberto Silveira

LEM – Inglês: Adriana Ranelli Weigel Borges, Alzira da Silva Shimoura, Lívia de Araújo Donnini Rodrigues, Priscila Mayumi Hayama e Sueli Salles Fidalgo

Língua Portuguesa: Alice Vieira, Débora Mallet Pezarim de Angelo, Eliane Aparecida de Aguiar, José Luís Marques López Landeira e João Henrique Nogueira Mateos

Matemática

Matemática: Nílson José Machado, Carlos Eduardo de Souza Campos Granja, José Luiz Pastore Mello, Roberto Perides Moisés, Rogério Ferreira da Fonseca, Ruy César Pietropaolo e Walter Spinelli

Caderno do Gestor

Lino de Macedo, Maria Eliza Fini e Zuleika de Felice Murrie

Equipe de Produção

Coordenação Executiva: Beatriz Scavazza Assessores: Alex Barros, Antonio Carlos de Carvalho, Beatriz Blay, Eliane Yambanis, Heloisa Amaral Dias de Oliveira, José Carlos Augusto, Luiza Christov, Maria Eloisa Pires Tavares, Paulo Eduardo Mendes, Paulo Roberto da Cunha, Pepita Prata, Ruy César Pietropaolo, Solange Wagner Locatelli e Vanessa Dias Moretti

Equipe Editorial

Coordenação Executiva: Angela Sprenger Assessores: Denise Blanes e Luis Márcio Barbosa Projeto Editorial: Zuleika de Felice Murrie

Edição e Produção Editorial: Conexão Editorial, Verba Editorial, Adesign e Occy Design (projeto gráfico)

APOIO

FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação

CTP, Impressão e Acabamento

Esdeva Indústria Gráfica

EXECUÇÃO

Coordenação Geral Maria Inês Fini Concepção

Guiomar Namo de Mello Lino de Macedo Luis Carlos de Menezes Maria Inês Fini Ruy Berger GESTÃO

Fundação Carlos Alberto Vanzolini Presidente do Conselho Curador: Antonio Rafael Namur Muscat Presidente da Diretoria Executiva: Mauro Zilbovicius

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Governador Franco Montoro para gerir a Educação no Estado de São Paulo, nova-mente assumo a nossa Secretaria da Educação, convocado agora pelo Governador José Serra. Apesar da notória mudança na cor dos cabelos, que os vinte e cinco anos não negam, o que permanece imutável é o meu entusiasmo para abraçar novamente a causa da Educação no Estado de São Paulo. Entusiasmo alicerçado na visão de que a Educação é o único caminho para construirmos um país melhor e mais justo, com oportunidades para todos, e na convicção de que é possível realizar grandes mudanças nesta área a partir da ação do poder público.

Nos anos 1980, o nosso maior desafio era criar oportunidades de educação para to-das as crianças. No período, tivemos de construir uma escola nova por dia, uma sala de aula a cada três horas para dar conta da demanda. Aliás, até recentemente, todas as polí-ticas recomendadas para melhorar a qualidade do ensino concentravam-se nas condições de ensino, com a expectativa de que viessem a produzir os efeitos desejados na aprendiza-gem dos alunos. No Brasil e em São Paulo, em particular, apesar de não termos atingido as condições ideais em relação aos meios para desenvolvermos um bom ensino, o fato é que estamos melhor do que há dez ou doze anos em todos esses quesitos. Entretanto, os indicadores de desempenho dos alunos não têm evoluído na mesma proporção.

O grande desafio que hoje enfrentamos é justamente esse: melhorar a qualidade de nossa educação pública medida pelos indicadores de proficiência dos alunos. Não estamos sós neste particular. A maioria dos países, inclusive os mais desenvolvidos, estão lidando com o mesmo tipo de situação. O Presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, dedicou um dos seus primeiros discursos após a posse para destacar exatamente esse mesmo desafio em relação à educação pública em seu país.

Melhorar esses indicadores, porém, não é tarefa de presidentes, governadores ou secretários. É dos professores em sala de aula no trabalho diário com os seus alunos. Este material que hoje lhe oferecemos busca ajudá-lo nesta sua missão. Foi elaborado com a ajuda de especialistas e está organizado em bimestres. O Caderno do Professor oferece orientação completa para o desenvolvimento das Situações de Aprendizagem propostas para cada disciplina.

Espero que este material lhe seja útil e que você leve em consideração as orienta-ções didático-pedagógicas aqui contidas. Estaremos atentos e prontos para esclarecer suas dúvidas e acatar suas sugestões para melhorar a eficácia deste trabalho.

Alcançarmos melhores indicadores de qualidade em nosso ensino é uma questão de honra para todos nós. Juntos, haveremos de conduzir nossas crianças e jovens a um mundo de melhores oportunidades por meio da educação.

Paulo Renato Souza

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S

umáRio

São Paulo faz escola – uma Proposta Curricular para o Estado 5

Ficha do Caderno 7

orientação sobre os conteúdos do bimestre 8

Tema 1 – movimentos históricos em perspectiva 9

Situação de Aprendizagem 1 – Formas de participação popular na

história do Brasil 9

Tema 2 – movimentos sociais contemporâneos 17

Situação de Aprendizagem 2 – Os movimentos operário, sindical e pela terra 17

Situação de Aprendizagem 3 – O movimento feminista 29

Situação de Aprendizagem 4 – Movimentos populares urbanos 36

Situação de Aprendizagem 5 – Novos movimentos sociais: negro, GLBT

(Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) e ambientalista 41

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CuRRiCulaR PaRa o ESTado

Prezado(a) professor(a),

É com muita satisfação que apresento a todos a versão revista dos Cadernos do Professor, parte integrante da Proposta Curricular de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental – Ciclo II e do Ensino Médio do Estado de São Paulo. Esta nova versão também tem a sua autoria, uma vez que inclui suas sugestões e críticas, apresentadas durante a primeira fase de implantação da proposta.

Os Cadernos foram lidos, analisados e aplicados, e a nova versão tem agora a medida das práticas de nossas salas de aula. Sabemos que o material causou excelente impacto na Rede Estadual de Ensino como um todo. Não houve discriminação. Críticas e sugestões surgiram, mas em nenhum momento se considerou que os Cadernos não deveriam ser produzidos. Ao contrário, as indicações vieram no sentido de aperfeiçoá-los.

A Proposta Curricular não foi comunicada como dogma ou aceite sem restrição. Foi vivida nos Cadernos do Professor e compreendida como um texto repleto de significados, mas em construção. Isso provocou ajustes que incorporaram as práticas e consideraram os problemas da implantação, por meio de um intenso diálogo sobre o que estava sendo proposto.

Os Cadernos dialogaram com seu público-alvo e geraram indicações preciosas para o pro-cesso de ensino-aprendizagem nas escolas e para a Secretaria, que gerencia esse propro-cesso.

Esta nova versão considera o “tempo de discussão”, fundamental à implantação da Pro-posta Curricular. Esse “tempo” foi compreendido como um momento único, gerador de novos significados e de mudanças de ideias e atitudes.

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Sempre é oportuno relembrar que os Cadernos espelharam-se, de forma objetiva, na Proposta Curricular, referência comum a todas as escolas da Rede Estadual, revelando uma maneira iné-dita de relacionar teoria e prática e integrando as disciplinas e as séries em um projeto interdis-ciplinar por meio de um enfoque filosófico de Educação que definiu conteúdos, competências e habilidades, metodologias, avaliação e recursos didáticos.

Esta nova versão dá continuidade ao projeto político-educacional do Governo de São Paulo, para cumprir as 10 metas do Plano Estadual de Educação, e faz parte das ações propostas para a construção de uma escola melhor.

O uso dos Cadernos em sala de aula foi um sucesso! Estão de parabéns todos os que acredi-taram na possibilidade de mudar os rumos da escola pública, transformando-a em um espaço, por excelência, de aprendizagem. O objetivo dos Cadernos sempre será apoiar os professores em suas práticas de sala de aula. Posso dizer que esse objetivo foi alcançado, porque os docentes da Rede Pública do Estado de São Paulo fizeram dos Cadernos um instrumento pedagógico com vida e resultados.

Conto mais uma vez com o entusiasmo e a dedicação de todos os professores, para que pos-samos marcar a História da Educação do Estado de São Paulo como sendo este um período em que buscamos e conseguimos, com sucesso, reverter o estigma que pesou sobre a escola pública nos últimos anos e oferecer educação básica de qualidade a todas as crianças e jovens de nossa Rede. Para nós, da Secretaria, já é possível antever esse sucesso, que também é de vocês.

Bom ano letivo de trabalho a todos!

maria inês Fini

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Participação política e cidadania: os movimentos sociais

nome da disciplina: Sociologia

área: Ciências Humanas e suas Tecnologias

Etapa da educação básica: Ensino Médio

Série:

Período letivo: 2º bimestre de 2009

Temas e conteúdos: Formas de participação popular na história do Brasil

Movimento operário, movimento sindical e movimento dos sem terra no Brasil

O movimento feminista e sua importância na consolidação da participação política de uma camada significativa da população A cidade como lugar de contradições e conflitos; associativismo e democracia; o direito à cidade

Diversidade das situações sociais dos “novos movimentos”; criação e efetivação de direitos; igualdade e diferença

na participação política; o movimento negro, o movimento GLBT e

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o

RiEnTação SobRE oS ConTEúdoS do bimESTRE

Conhecimentos priorizados

Caro professor,

No bimestre anterior os alunos foram intro-duzidos a um conjunto de concepções sobre o que é cidadania e como as ideias defendidas por diferentes pensadores, no passado, contribuíram para pensarmos nossa relação com o Estado nos dias de hoje. Do ponto de vista da Sociologia, uma das preocupações fundamentais foi justa-mente despertar no educando a percepção do seu lugar na sociedade em que vive, refletindo sobre o significado de ser cidadão. Isso foi feito sob a ótica dos direitos civis, políticos, sociais e huma-nos, enfatizando-se a formalização desses direitos na Constituição Brasileira e nos Códigos e Esta-tutos que se seguiram à sua promulgação em 1988. Porém, ser cidadão é muito mais do que ter clareza sobre seus direitos e deveres. Em uma so-ciedade verdadeiramente democrática, é preciso que haja a participação ativa de todos para que os direitos previstos pela Constituição sejam efe-tivamente garantidos. As atividades deste bimes-tre têm o objetivo de despertar o interesse, instigar a curiosidade e promover o debate e a reflexão sobre as questões que consideramos mais perti-nentes e relevantes para pensar a problemática da participação política. Assim, apresentamos neste Caderno um conjunto extenso de atividades para que você, professor, possa escolher o que desen-volver com os seus alunos, nas oito aulas previs-tas. O nosso propósito é o de contribuir, por meio de uma abordagem interdisciplinar que dialoga com outras áreas das ciências humanas, especial-mente a História, a Filosofia e a Ciência Política, contribuindo, assim, para que o aluno adquira um olhar sobre si mesmo enquanto cidadão ativo, capaz de participar das questões de interesse so-cial e político, nos mais diversos níveis, desde a

sua própria escola, comunidade ou bairro, mas também, futuramente, de sua própria cidade. Principalmente, que sejam capazes de reconhecer que os direitos sociais e políticos representam uma conquista de homens e mulheres que se mo-bilizaram e lutaram em defesa de seus interesses e de sua identidade.

Competências e habilidades

Tornar o aluno apto a compreender o cará-ter processual da cidadania e perceber, por-tanto, que ela é um eterno vir-a-ser. Também mostrar que ela existe na diversidade, ou seja, não há uma única forma de exercê-la e ela não se dá da mesma forma para os distintos grupos que compõem a sociedade, mas que, neles, isso está relacionado com a participação política.

metodologia e estratégias

Neste bimestre sugerimos que sejam interca-ladas aulas expositivas e dialogadas sobre os principais conceitos a ser discutidos, bem como a análise de imagens, elaboração de textos dis-sertativos e letra de música.

avaliação

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T

Ema 1 – moVimEnToS hiSTÓRiCoS Em PERSPECTiVa

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1

FORMAS DE PARTICIPAÇÃO POPULAR NA HISTÓRIA DO BRASIL

Tempo previsto: 2 aulas.

Conteúdos e temas: revoltas e movimentos populares na história do Brasil.

Competências e habilidades: interpretação e análise crítica de fatos e eventos históricos; identificar conteúdos e temas em processos históricos de diferentes épocas e compará-los de forma crítica. Estratégias: análise de imagens; debates em sala de aula.

Recursos: giz; lousa.

avaliação: exercícios em sala de aula.

No bimestre anterior, vimos que os direitos políticos demoraram a se consolidar no Brasil. Embora a República tenha sido proclamada em 1889, o Estado de direito democrático só veio efetivamente a se tornar uma realidade para a sociedade brasileira no final do século XX, com o fim do regime ditatorial militar. É importante lembrar que o sufrágio universal, inclusive a sua extensão aos analfabetos e aos jovens a partir dos 16 anos, é uma conquista recente. Mas a participação política em uma sociedade democrática não se resume apenas ao ato de votar. Embora o voto seja um di-reito fundamental segundo a concepção de cidadania contemporânea, há outras formas de participação política dos membros de uma sociedade na decisão de quem serão seus go-vernantes, no modo como desejam ser gover-nados e nos desígnios sobre seus objetivos. A forma como essa participação política se dará

vai depender das regras estabelecidas para o funcionamento do Estado e da sociedade de forma organizada. Como vimos, a Constitui-ção de 1988, bem como as Constituições an-teriores, prevê regras de elegibilidade, ou seja, é preciso ter pelo menos 16 anos para votar e pelo menos 18 anos para se candidatar a vereador, por exemplo. Desse modo, é preciso ter em mente que há formas legítimas e ilegíti-mas de participação política. No decorrer de nossa história, essas formas variaram depen-dendo do tipo de regime (Colônia, Império, República, Ditadura), dos grupos políticos que estavam no poder (oligarquias, Estado Novo, presidentes democraticamente eleitos) e do grau de participação política a que a po-pulação tinha direito. O papel dos cidadãos brasileiros na conquista dos seus direitos de cidadania, portanto, está marcada pelo con-texto em que elas ocorreram.

Sondagem e sensibilização

Antes de iniciar a exposição, procure trazer a atenção dos alunos para o tema da

participação política. Você pode perguntar à turma: Quem é o responsável pelas decisões do

governo da nossa cidade? A resposta imediata

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enfatizar que ele não é o único responsável pelo governo da cidade. Questione os alunos:

Vocês têm certeza disso? Ele governa sozinho?

O objetivo é deixar claro que o governo muni-cipal também conta com a Câmara Munimuni-cipal, ou seja, o conjunto de vereadores, e que os

cidadãos eleitores votaram nessas pessoas. Portanto, todos são responsáveis, mesmo que indiretamente, pelo governo da cidade. Para incrementar a discussão, chame a atenção dos alunos para as figuras de 1 a 4, que também estão no Caderno do Aluno.

Figura 4 – Manifestação pelo impeachment do presidente Collor, São Paulo (SP), ago. 1992.

© Delfim Martins/ Pulsar Ima

gens Figura 2 – Abaixo-assinado Figura 3 – Assembleia P atrícia P aulozi/Ma ps W or ld Figura 1 – Voto P atrícia P aulozi/Ma ps W or ld P atrícia P aulozi/Ma ps W or ld

Peça para a turma identificar o que cada imagem representa e, em seguida, discuta de que maneira cada uma das ações representa-das nas ilustrações/fotos pode contribuir para mudar a forma como uma sociedade é orga-nizada ou uma cidade é governada. Explicite que todas são formas de participação política em uma sociedade democrática. Pergunte aos alunos se eles conhecem outras maneiras de

participação e se já atuaram de algum modo em defesa de algum ideal ou objetivo.

Roteiro para aplicação da Situação

de aprendizagem

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mo-vimentos de participação popular da história brasileira ocorridos após a Independência, aten-tando justamente para a capacidade de articula-ção, mobilização e atuação de diversos setores da população em torno de suas reivindicações. O propósito deste exercício é levar à reflexão acerca dos seguintes aspectos:

a) quais tipos de participação popular podem

ser identificados na história do Brasil;

b) como esses movimentos podem ser

compa-rados às formas modernas de participação política em termos da defesa de interesses de grupos sociais particulares, reivindicação de di-reitos e integração de minorias no conjunto da sociedade em condições de igualdade.

Etapa 1 – Revoltas populares dos

séculos XiX e XX

A experiência da colonização gerou profun-das tensões sociais entre grupos diferentes, que entraram em conflito pela posse de territórios, pelo direito à exploração de recursos, uso da ter-ra, extração de minérios (especialmente o ouro) e também de exercer atividades comerciais, ven-dendo e usufruindo livremente do lucro obtido a partir da comercialização da sua produção. Esses conflitos podem ser identificados durante todo o período de colonização e persistiram durante o Império. Posteriormente, já durante a República Velha, adquiriram outras características, que serão apresentadas neste Caderno de forma sucinta.

O foco central desta discussão são os conflitos que geraram movimentos de natureza nitidamen-te popular, ou seja, que envolveram as camadas da população que não tinham acesso aos pro-cessos de decisão política, mas se organizaram de alguma forma, sob lideranças, em defesa de territó-rios, bens, membros dos grupos, ideias e objetivos. Você pode discutir as formas de mobilização, atuação e reivindicação dos diversos setores da

sociedade escravista de vários pontos de vista. O importante é enfatizar a capacidade de arti-culação e as formas de negociação de interesses em uma época em que as relações entre Estado e sociedade não se davam em um contexto demo-crático, ou seja, não havia igualdade na partici-pação das decisões de poder e a exploração e a opressão de determinados grupos sociais gera-vam enormes tensões sociais.

Após a Independência do Brasil, podem ser identificados vários movimentos que contaram com a participação das camadas mais pobres da população. Na primeira metade do século XIX, essas rebeliões tiveram como denominador co-mum a insatisfação com os governos locais e suas decisões, bem como a situação de pobreza e misé-ria em que vivia a maior parte dessa população, o que gerou conflitos e tensões e a formação de grupos rebeldes organizados em torno de lideran-ças locais. Em alguns casos elas tiveram caráter nitidamente separatista, como, por exemplo, a Ca-banagem, na província do Grão-Pará, em 1835.

Da segunda metade do século XIX em dian-te, após a consolidação do poder imperial, as rebeliões populares ganharam um caráter di-ferente. Elas se caracterizam por constituírem, sobretudo, reações às reformas introduzidas pelo governo, como, por exemplo, a introdução do registro civil de nascimento e de novos sistemas de pesos e medidas.

Já na passagem da Monarquia para a Repúbli-ca, o foco das rebeliões passa a ser a disputa pela terra. É o período em que os movimentos cam-poneses se voltam contra o poder dos chamados “coronéis”, ou como eram conhecidos os líderes políticos locais, que detinham o poder de subjugar o trabalho livre após o fim da escravidão.

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data Evento local atores sociais envolvidos Características 1832 a 1835 Revolta dos Cabanos Pernambuco e Alagoas Pequenos proprietários, índios, brancos pobres sem terras e sem trabalho e negros fugidos, liderados pelo mulato Vicente Ferreira de Paula.

Os rebelados tinham como principais deman-das sociais a libertação dos escravos, a posse da terra na região das matas entre o sertão e a zona litorânea de Pernambuco e Alagoas, rei-vindicada pelos grandes senhores de terras, de onde os cabanos tiravam seu sustento. A re-volta durou três anos e foi enfrentada pelas tropas do governo em forma de guerrilha, nas matas da região.

1835 a 1840

Cabanagem Belém (PA), na então província do Grão-Pará Índios chama-dos de “tapuios”, negros libertos e mestiços, liderados pelo lavrador Francisco Vinagre e pelo seringueiro Eduardo Angelim.

A principal motivação para a revolta foram as ações do governo da província do Grão-Pará, considerado impopular e responsável pela miséria em que essas populações viviam. Os cabanos tomaram a capital, Belém (PA), ma-taram o governador e decrema-taram indepen-dência em relação ao Império brasileiro. A luta continuou até 1840 e foi a rebelião mais sangrenta da história do Brasil, com cerca de 30 mil mortos (20% da população).

1835 Revolta dos Malês Salvador (BA) Negros alforria-dos e escravos muçulmanos nagôs, que se uniram a outros das nações iorubá, haussá, jejê e tapa.

Embora não tivessem um projeto político definido, pretendiam tomar o governo e se tornar livres, a fim de professar suas crenças religiosas e vivenciar suas identidades étnicas em um país predominantemente católico e fortemente dominado por um regime senho-rial escravocrata. 1838 a 1840 Balaiada Maranhão e Piauí Vaqueiros, artesãos e escravos fugitivos liderados pelo fabricante de balaios Manoel Francisco Gomes.

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data Evento local envolvidos Características 1851 a 1852 Revolta contra o Censo Geral do Império e Registro Civil de Nascimentos e Óbitos Todas as províncias do Nordeste e norte de Minas Gerais Camponeses e trabalhadores rurais pobres.

Até 1850, o único registro que havia era dos escravos que entravam no país. Com isso, a população temia que o governo estivesse es-tabelecendo um novo tipo de escravidão ao impor o censo. O registro civil de nascimen-tos foi interpretado como uma sobreposição do poder do Estado sobre a Igreja, o que era considerado inadmissível. 1874 Revolta do Quebra- Quilos Rio de Janeiro, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte Pequenos proprietários, comerciantes e consumidores.

Ao mudar o velho sistema de pesos e medidas, o governo do Visconde de Rio Branco introdu-ziu também a cobrança de aluguéis e taxas dos novos sistemas de aferição dos pesos e medi-das, o que onerava os comerciantes, aumentan-do ainda mais o descontentamento da população com relação às mudanças, provo-cando inúmeras reações de rebelião.

1896 a 1897 Guerra de Canudos Sertão da Bahia Jagunços, camponeses e ex-escravos.

Rejeitando as medidas secularizadoras adota-das pela República, o líder Antônio Conse-lheiro tentou criar uma comunidade de santos, onde as pessoas viveriam unidas pela fé, exer-cendo práticas religiosas tradicionais. Ele acreditava que a cobrança de impostos e o ca-samento civil eram práticas contrárias ao que a Igreja preconizava e, que o modo de vida que defendia poderia acabar com as diferen-ças sociais. Canudos foi inteiramente destruí-da pelas forças republicanas em 1897.

1912 a 1916 Guerra do Contestado Paraná e Santa Catarina Trabalhadores sem terra, liderados pelo monge José Maria.

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O aspecto mais relevante a ser enfatizado, com relação aos movimentos estudados, tem a ver com o contexto social e político em que eles ocorreram. É importante que você expli-cite aos alunos que as mudanças introduzidas durante o Primeiro e o Segundo Reinados não podiam ser debatidas, questionadas, defendi-das ou deliberadefendi-das por representantes do povo. Durante o Império, em que vigorou a Monar-quia Constitucional, e, posteriormente, após a proclamação da Primeira República, parcela significativa da população estava excluída do processo de decisão eleitoral.

Etapa 2 – O conflito pela terra

Então por que essas revoltas ocorreram? Você pode colocar essa questão em debate, dispondo os alunos em círculo e discutindo os seguintes aspectos de forma dialogada, ou explicitando-os na lousa, conforme preferir:

A utilização do trabalho escravo, tanto do f

indígena quanto do negro africano, teve um profundo impacto nas relações sociais no Brasil. As populações que viviam sob esse re-gime sofreram a opressão do trabalho com-pulsório, dos maus-tratos, da tortura dos

castigos, das doenças e do extermínio. Mui-tos escravos procuraram fugir da condição de cativos, refugiando-se em comunidades (qui-lombos) em que buscavam preservar certa autonomia, criando estilos de vida e cultura próprios, produzindo alimentos e comercian-do com outras comunidades vizinhas, ou re-belaram-se no interior das próprias fazendas, negociando melhores condições de vida com seus senhores. Em algumas cidades, como Salvador, essas revoltas reuniram cativos e libertos, de diversas origens étnicas, que luta-ram pela libertação dos escravos, pela liber-dade de professar suas religiões e crenças e pelo controle do poder local.

Os proprietários de terras sem escravos, ho-f

mens livres pobres, fossem eles brancos, mestiços, indígenas, negros libertos, escravos fugidos, pequenos comerciantes e trabalhado-res que viviam do que cultivavam nos espaços de terra cedidos pelos grandes proprietários, ou do que extraíam das matas e margens dos rios, sofriam a opressão dos grandes senho-res de escravos, que geralmente detinham as maiores extensões de terra e também o poder político local. Essas populações tinham re-lações diferentes com a terra, os senhores de escravos e, após a Abolição, os fazendeiros de café e grandes proprietários rurais. Al-guns viviam na condição de posseiros, culti-vando roças e mantendo sítios em áreas que muitas vezes eram reivindicadas por grandes proprietários que obtinham direito a elas por meio do sistema de concessão de sesmarias1.

Outros viviam como agregados nas fazendas, sem direito à propriedade da terra, obrigados ao pagamento de tributos, em forma de tra-balho ou produtos, dependendo da época e das condições impostas pelo fazendeiro. As relações de poder no século XIX e início f

do século XX eram extremamente desiguais.

1. Antigo sistema de concessão de terras consideradas incultas ou abandonadas pela Coroa portuguesa aos colonos, que perdurou até o século XIX.

“A esmagadora maioria da população vivia nas áreas rurais e estava submetida aos desígnios dos grandes proprietários. Em 1920, apenas 16,6% dos brasileiros residiam em cidades com vinte mil habitantes ou mais, enquanto a taxa de analfabetismo gi-rava em torno dos 70%.”

LUCA, Tânia Regina. Direitos sociais no Brasil. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla B. (Orgs.)

História da cidadania. 4. ed. 2ª reimp. São Paulo:

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A luta política era intensa e violenta. O que estava em jogo não era o exercício de um direito de cidadão, mas o domínio político local. O chefe político local, também conhe-cido como coronel2, não podia perder

po-der: a derrota representava o desprestígio e a perda de controle de cargos públicos, como os de delegados de polícia, juiz municipal e postos na Guarda Nacional, por exemplo. Assim, a manutenção das relações de de-pendência entre chefes locais e seus “clientes”, geralmente os segmentos da população mais po-bre, garantia aos primeiros os votos necessários nas eleições legislativas para o Senado e para a Câmara dos Deputados durante o período da Monarquia Constitucional, perpetuando assim a manutenção do poder das oligarquias rurais.

As tensões sociais entraram em crise e os con-f

flitos se tornaram mais agudos nos dois epi-sódios explicitados no quadro apresentado, as Guerras de Canudos e do Contestado. Ambos os movimentos foram marcados por uma profunda reação à injustiça dos fazendeiros, dos senhores de escravos, das oligarquias rurais, representadas pelo poder da Repúbli-ca. Por essa razão, esses movimentos foram considerados pelo governo como monar-quistas e reacionários e, consequentemente, fortemente reprimidos.

Porém, deve-se ter em mente que essas revol-tas, embora muito diferentes entre si, ocorreram em um contexto histórico e político em que as camadas mais pobres da população não tinham representantes junto ao governo que defendes-sem seus interesses; a maioria não detinha a posse ou direito à propriedade da terra e preci-sava negociar espaços e condições para a pro-dução de roças e alimentos comercializáveis;

as condições de vida eram muito precárias, e o autoritarismo dos líderes políticos locais, bem como dos governos provinciais, não favorecia a negociação das demandas sociais dessas populações.

avaliação da Situação de

aprendizagem

Ao final desta Situação de Aprendizagem, espera-se que os alunos tenham compreendido que, no Brasil, a população que aqui residia, em sua diversidade, sejam as nações indígenas, os diversos grupos de escravos de origens étni-cas as mais variadas, as populações ribeirinhas, os camponeses e trabalhadores rurais, homens livres e negros libertos, pequenos comerciantes, mestiços e outros que compunham a maior parte do que hoje denominamos “povo brasileiro”, sempre encontrou meios de se manifestar, orga-nizar, mobilizar e atuar em muitas formas, de modo a reivindicar interesses e mudanças junto aos grupos sociais dominantes. Embora não se possa falar ainda em movimentos populares propriamente ditos, constituem participações políticas relevantes na história do Brasil.

Propostas de questões para avaliação

1. Com base no conteúdo estudado, cite os

prin-cipais fatores que levaram às revoltas e rebeliões analisadas nesta Situação de Aprendizagem.

Disputa pela posse de territórios, pelo direito à exploração de recursos, uso da terra, ex-tração de minérios, especialmente o ouro, e também de exercer atividades comerciais, vendendo e usufruindo livremente do lucro obtido a partir da comercialização da sua produção, revolta contra o aprisionamento e

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a escravização de índios e negros africanos, cobrança de impostos pelo governo, abuso de poder das autoridades e opressão das oligar-quias rurais sobre a população mais pobre, que vivia do trabalho da terra.

2. Utilizando o quadro referente aos séculos

XIX e XX, compare os eventos ocorridos entre 1832 e 1840 e aqueles ocorridos a partir de 1851. No que se refere às características dessas rebeliões, em que elas se assemelham? Em que elas diferem?

Essas rebeliões se assemelham por terem sido de forte caráter popular e, na maior parte das vezes, terem contado com a parti-cipação de vários grupos dos setores mais pobres da população, como populações ri-beirinhas, homens livres pobres, mestiços, negros “de ganho” e escravos, sertanejos, entre outros. Diferem pelas motivações e circunstâncias que levaram aos aconteci-mentos. Durante o Primeiro Reinado tive-ram um caráter fortemente oposicionista aos governos locais e, muitas vezes, tiveram o objetivo de tomar o poder e tornar inde-pendente do restante a província ou região do Brasil. Já a partir de 1850, ocorreram revoltas contra medidas adotadas pelo go-verno que interferiam na vida da população de formas consideradas ilegítimas. Esse foi o entendimento em relação à interferência do Estado nas funções tradicionalmente atribuídas à Igreja (secularização) e na mudança do sistema de pesos e medidas, que transformam a comercialização dos produtos então vigente. A partir da instau-ração da República, os movimentos popula-res tiveram como principais características

a luta pela terra, a oposição ao poder dos coronéis e das empresas exploradoras das regiões em disputa e a força da religiosidade popular, que mobilizou as populações em torno de suas crenças contra as forças do governo arregimentadas para combatê-las.

Proposta de Situação de

Recuperação

Peça para os alunos selecionarem um dos eventos históricos indicados nesta Situação de Aprendizagem, para pesquisar de forma mais aprofundada. A pesquisa deve contemplar os seguintes aspectos:

nome do evento, data, local e contexto em f

que ocorreu;

circunstâncias que levaram ao aconteci-f

mento;

quais eram os objetivos dos diferentes gru-f

pos que participaram do episódio e suas lideranças;

que tipo de diálogos e/ou interlocução pude-f

ram ser observados entre representantes de grupos divergentes a fim de firmar acordos e tratados de cooperação mútua;

descrição sucinta dos desenvolvimentos em f

termos da mobilização das facções em de-fesa de territórios, bens, membros dos gru-pos, ideias e objetivos;

análise e conclusão dos resultados do f

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T

Ema 2 – moVimEnToS SoCiaiS ConTEmPoRÂnEoS

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 2

OS MOVIMENTOS OPERÁRIO, SINDICAL E PELA TERRA

A partir desta Situação de Aprendizagem, apresentaremos aos alunos os chamados movimentos sociais contemporâneos, que têm início no final do século XIX e se estendem por todo o século XX até os dias de hoje. A impor-tância de estudá-los está no enfoque que daremos à participação política de categorias sociais significativas em sua luta por direitos civis, políticos, sociais e humanos que permane-cem em constante debate, reivindicação e aper-feiçoamento, à medida que nossa sociedade incorpora novos valores. A consciência a respeito da importância da ação dos diversos grupos sociais em defesa de seus direitos de cida-dania é a continuidade da discussão efetuada

no bimestre anterior e tem por objetivo desper-tar a curiosidade e o interesse do aluno para as várias bandeiras de luta que brasileiros e brasi-leiras vêm levantando desde a Proclamação da República. A diferença é que os movimentos estudados ocorrerão predominantemente nos espaços urbanos. Infelizmente, não é pos-sível analisar de forma aprofundada todas as agendas políticas que gostaríamos. Por essa razão, foram selecionados, dentro do tempo de aulas previsto para este bimestre, os movi-mentos operário e sindical, o movimento de luta pela terra, o movimento feminista, os movimen-tos urbanos, o movimento negro, o movimento GLBT e o movimento ambientalista.

Tempo previsto: 4 aulas.

Conteúdos e temas: movimento operário, movimento sindical e movimento dos sem terra no Brasil. Competências e habilidades: interpretação e análise crítica de fatos e eventos históricos; identificar conteúdos e temas em processos históricos de diferentes épocas e compará-los de forma crítica. Estratégias: análise de imagens; debates em sala de aula.

Recursos: giz; lousa.

avaliação: exercícios em sala de aula.

Sondagem e sensibilização

Nesta Situação de Aprendizagem, falare-mos sobre os movimentos operário e sindical no Brasil. Para isso, é importante recuperar junto aos alunos o conhecimento que eles têm sobre o que é um sindicato. Embora hoje exis-tam muitos sindicatos e a sindicalização seja relativamente difundida, é interessante que o

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as mais variadas possíveis, uma vez que suas referências partirão de familiares, parentes ou amigos que tenham relações com sindicatos. Não descarte a hipótese de alguns alunos rea-girem de forma negativa à ação dos sindicatos, com base em experiências ruins por parte de terceiros. Sugerimos que você ouça as respos-tas e não se posicione a respeito. O importante é enfatizar que o sindicato é um tipo de orga-nização que não representa apenas trabalha-dores, mas também empregadores.

Por fim, coloque a seguinte questão para a tur-ma: Alguém sabe como os sindicatos surgiram? Por

quê? Aguarde as respostas da classe e

complemen-te-as, retomando o conteúdo estudado no bimestre anterior. O objetivo é deixar claro a importância da participação política da classe operária na luta pelos direitos sociais dos trabalhadores.

Roteiro para aplicação da Situação

de aprendizagem

Esta Situação de Aprendizagem será tra-balhada em duas etapas. Na primeira, discu-tiremos o surgimento do movimento operário no Brasil, em suas várias vertentes e formas de atuação. Em seguida, analisaremos como a regularização dos sindicatos ocorreu na histó-ria brasileira e de que forma as relações entre Estado, patronato, sindicalistas e trabalhado-res se deram desde o surgimento do movimento operário até o novo movimento sindical, que emergiu no final da década de 1970.

Etapa 1 – o movimento operário

Diferentemente do que ocorreu na Ingla-terra, a formação de uma classe trabalhadora industrial urbana ocorreu bem mais tarde, no Brasil do que nos países europeus, devido ao fato de que, até a vinda da Corte portuguesa, a instalação de qualquer tipo de indústria manu-fatureira era proibida na colônia. Isso porque Portugal desejava deter o monopólio da comer-cialização de produtos manufaturados para o Brasil. Desse modo, até 1808, a maior parte das ferramentas, dos tecidos, dos armamentos, munições, cerâmicas, livros, entre outras coisas, vinha de Portugal. Após a vinda da Corte, com a abertura dos portos para as nações amigas, o Brasil passou a comprar produtos da Ingla-terra, e o consumo se diversificou. Porém, a entrada maciça de artigos ingleses no mercado brasileiro dificultou muito o surgimento de uma indústria nacional, pois não havia como competir em quantidade e variedade.

O interesse no desenvolvimento industrial só foi possível a partir de 1850, quando o tráfico de escravos foi proibido. Isso gerou demanda por mão de obra e estimulou a entrada de um número significativo de imigrantes estrangeiros, que viriam ajudar a formar a classe operária assalariada. Inicialmente, as condições de tra-balho dos operários de fábrica eram tão ruins quanto as que analisamos no caso da Ingla-terra: homens, mulheres e crianças trabalhavam

Sindicato: associação, para fins de estudo,

defesa e coordenação de seus interesses eco-nômicos e/ou profissionais, de todos os que (na qualidade de empregados, empregadores, agentes ou trabalhadores autônomos ou pro-fissionais liberais) exerçam a mesma ativida-de ou atividaativida-des similares ou conexas.

Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

(edição eletrônica). Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

© Acerv

o Icono

gr

aphia/ R

eminiscências

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longas horas, sem direito a férias, indenização por acidentes de trabalho ou qualquer tipo de proteção por parte do Estado. A maior parte

dessas pessoas trabalhava em fábricas nos prin-cipais centros urbanos, na virada do século XIX para o XX, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

No início dos anos 1920, a classe operária brasileira ainda era pequena e se formara recentemente, não chegando a 300 mil pessoas. Internamente, porém, já podia ser considerada diversificada, tanto do ponto de vista social, quanto político. No Rio de Janeiro, por exemplo, a industrialização era mais antiga e o perfil do operariado tendia a ser mais nacionalizado. Segundo José Murilo de Carvalho, havia, contudo, uma presença expressiva de portugueses, cuja cultura e tradição não eram muito dife-rentes da brasileira, e de operários do Estado e membros da população negra, incluindo ex-escravos. Comparativamente, em São Paulo, a maior parte dos operários era de imigrantes, especialmente italia-nos e espanhóis, e a presença de empresas públicas e do operariado do Estado era pequena.

Texto elaborado especialmente para este Caderno.

A mistura de operários, de origens diversas, gerou comportamentos políticos diferentes nas duas cidades. Dependendo do setor ao qual o operariado estava ligado, mudava também a sua relação com o Estado. É importante enfati-zar para os alunos que a presença de imigrantes estrangeiros trouxe muitas ideias vigentes no contexto europeu para o movimento operário

no Brasil, e essas ideias influenciaram a forma-ção de movimentos diferentes e, muitas vezes, antagônicos. É possível identificar, nas duas primeiras décadas do século XX, pelo menos quatro grandes grupos de interesse no interior do movimento operário. Você pode compor um quadro esquemático desses grupos na lousa.

Tendências

políticas

Características

“Amarelos” ou reformistas

Eram os setores menos agressivos, mais próximos do governo. Ainda que buscassem a melhoria das condições de trabalho e de vida para os trabalhadores, não se opunham à ordem estabelecida, mantendo assim uma relação “clientelista” com seus empregadores. Anarquistas Constituíam os setores mais radicais, que rejeitavam qualquer relação com o Estado e com

a política, bem como os partidos, o Congresso e mesmo a ideia de pátria. Para os anarquis-tas, o Estado ou qualquer outra instituição autoritária hierarquicamente superior era considerado dispensável e até mesmo nocivo para o estabelecimento de uma comunidade humana autêntica. Dessa forma, também eram contra qualquer forma de organização ou dominação patronal.

Comunistas Organizados oficialmente em 1922, defendiam a tomada do poder por meio da revolução. A causa operária dos comunistas era lutar contra o sistema capitalista, substituindo o controle do Estado pelo partido, centralizado e hierarquizado, até que pudesse ser criada uma sociedade sem classes, onde a propriedade privada seria abolida e os meios de produ-ção seriam de todos. Desse modo, o Estado se tornaria desnecessário e posteriormente deixaria de existir.

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Do ponto de vista da cidadania, o movi-mento operário representou um avanço inegável, sobretudo no que se refere aos direitos políti-cos e sociais. O movimento lutava por direitos básicos, como o de organizar-se, de escolher o trabalho, de fazer greve. Os operários lutaram também por uma legislação trabalhista que regulamentasse o horário de trabalho, o des-canso semanal, as férias, e por direitos sociais, como o seguro contra acidentes de trabalho e a aposentadoria. Tudo isso teve impacto na forma como o Estado brasileiro se relacionava com as questões do trabalho na Primeira República. Até então, a posição do governo era manter-se distante das relações entre patrões e emprega-dos, interferindo nos conflitos por meio da força policial. Naquela época, a “questão operária” era entendida pelo governo como uma “questão de polícia” e tendia a ser vista como agitação política perturbadora da ordem social. Por essa razão, foram votadas leis de expulsão de ope-rários estrangeiros acusados de anarquismo e, posteriormente, a hostilidade contra os setores mais radicais ficou evidente quando o Partido Comunista foi considerado ilegal no mesmo ano de sua fundação.

Ao final da exposição, sugerimos que você divida a turma em três grupos de trabalho e soli-cite aos alunos que realizem uma breve pesquisa histórica sobre a atuação política dos movimen-tos anarquista, comunista, e socialista, no início do século XX. A pesquisa poderá ser realizada utilizando livros de história, enciclopédias, alma-naques e a internet, e deverá ser entregue a você na aula seguinte. O trabalho deverá contemplar as seguintes etapas:

a) nome do movimento e uma breve descrição

de suas características;

b) principais atores políticos envolvidos; c) identificação dos eventos históricos mais

importantes associados ao movimento;

d) análise da participação política dos grupos

sociais envolvidos e das consequências para a consolidação de direitos dos trabalhadores no Brasil.

Etapa 2 – o movimento sindical

O movimento sindical no Brasil não pode ser entendido fora do contexto histórico e polí-tico em que a legalização, organização e disse-minação dos sindicatos se desenvolveram. Do ponto de vista da Sociologia, ele nasce de um longo processo de relações sociais entre grupos com interesses divergentes entre si, que detive-ram posições de força diferentes no campo de poder da esfera do trabalho e, por essa razão, nem sempre puderam participar e atuar politi-camente em condições de igualdade. O período estudado vai desde a formação do operariado industrial urbano no Brasil até os dias de hoje

© J or ge Ar aújo/F olha Ima gem

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e será dividido em etapas, nas quais analisare-mos as interrelações entre três atores políticos principais, representados na tríade a seguir:

É importante enfatizar que o esquema ape-nas representa grupos sociais divergentes e esses mesmos grupos não são homogêneos, tampouco ideologicamente convergentes. Como vimos na etapa anterior, o operariado brasileiro era seg-mentado em facções diferentes, com comporta-mentos políticos e formas de atuação diversas,

orientados por ideias e linhas de pensamento não coincidentes entre si. Do mesmo modo, o patronato nem sempre acatou as resoluções do Estado da mesma forma e empresas diferentes adotaram medidas próprias com relação aos seus operários, não necessariamente em concordân-cia com o que outras organizações de industriais faziam. O Estado, por sua vez, implementou medidas e promulgou leis que favoreceram um ou outro grupo, dependendo também do maior ou menor apoio político que poderia obter a partir delas, do seu alcance social e, mais impor-tante ainda, do ideário político e dos projetos de desenvolvimento vigentes na época.

Isso fica mais claro quando analisamos o contexto histórico e político de cada período. Você pode fazer isso utilizando o quadro a seguir:

Estado

Empregadores Empregados

Período: República Velha (1889 a 1930)

Trabalhadores,

operários e sindicatos empregadores e industriaisProprietários rurais, Estado

Organização e divisão em grupos segundo orientação anarquis-ta, comunisanarquis-ta, socia-lista ou reformista. 1901–1920 – Intensas mobilizações e greves operárias em São Paulo e no Rio de Janeiro, especialmente no perí-odo entre 1917 e 1920. 1922 – Fundação do Partido Comunista no Brasil.

Utilização de forças policiais na proteção de fábricas e na intermediação de conflitos com trabalhadores e lideran-ças, apreensão de jornais ope-rários e destruição das gráficas que os imprimiam.

Obstrução por meio de asso-ciações de qualquer interven-ção do Estado no mercado de trabalho, alegando que os legisladores não conheciam o cotidiano das fábricas.

Sugestão da criação da Caixa de Aposentadoria e Pensões (CAP) aos ferroviários.

1891 – Constituição Republicana proibia ao governo federal interferir na regulamentação do trabalho. 1903 – Lei da Sindicalização Rural.

1907 – Lei da Sindicalização Urbana.

1919 – Aprovação da obrigatoriedade de indenização por acidente de trabalho.

1921 – Aprovação da lei de repressão ao anarquismo. 1923 – Lei que institui a Caixa de Aposentadorias e Pensões dos Ferroviários. Em 1926, outra lei estende a CAP a outras empresas e trabalhadores.

1925 – Decreto estabelece 15 dias de férias anuais remuneradas aos trabalhadores urbanos.

1926 – Reforma constitucional autoriza o governo federal a legislar sobre o trabalho.

1927 – Código de Menores proíbe o trabalho de crianças com menos de 14 anos e estipula jornada de 6 horas para menores de 18 anos.

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cabia ao Estado promover a assistência social. Qualquer interferência do governo na regulamentação do trabalho, na ótica liberal, era vista como uma violação da liberdade do exercício profissional. Foi a presença de trabalhadores estrangeiros na cafeicultura, e a preocupação das representações diplomáticas de seus países com o tratamento que lhes era dado, que permitiu o reconhecimento dos sindicatos como representantes le-gítimos dos operários. Isso possibilitou que o operariado urbano no Brasil atuasse de forma mais organizada, por meio da intensa participação política de seus membros. A violência policial não era mais capaz de conter as demandas sociais. Desse modo, o Estado passou a intervir como regulador das relações entre empregado-res e empregados, nomeadamente após as greves de 1917 a 1920, que levaram às primeiras regulamentações trabalhistas de que se tem notícia. Os industriais, por sua vez, não ficaram indiferentes, e sugeriram projetos como a criação das CAPs que buscavam, na realidade, desmobilizar os setores operários mais radicais, por meio do provimento de certos benefícios, como aposentadorias e pensões.

Era Vargas (1930-1945)

Trabalhadores, operários e sindicatos Proprietários rurais, empregadores e industriais Estado Multiplicação de sindicatos e outras associações de classe. Surgimento de vários partidos políticos. Organização por uma legislação sindical e social, política de indus-trialização e refor-ma agrária. Multiplicação de sin-dicatos e outras asso-ciações de classe. Surgimentos de vários partidos políticos. Apoio ao governo fe-deral para que houves-se controle sobre as reformas sociais a ser introduzidas.

1930 – Criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. 1931 – Lei de sindicalização. Essa lei foi reformulada em 1934 e posteriormente em 1939, quando se completa a definição dos mar-cos legais do sindicalismo brasileiro.

1933 – Criação do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Marí-timos (IAPM).

1934 – Criação dos Institutos dos Comerciários (IAPC) e dos Ban-cários (IAPB).

1936 – Criação do Instituto dos Empregados em Transportes de Cargas (IAPETEC) e dos Industriários (IAPI).

1937 – Instauração do Estado Novo.

1938 – Criação do Instituto dos Empregados da Estiva (IAPE). 1940 – Instituição do imposto sindical e do salário mínimo. 1943 – Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

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sindical para cada categoria permitiu o florescimento do chamado “sindicato de fachada” controlado por pessoas sempre dispostas a apoiar as iniciativas governamentais, sem compromisso com os interesses daque-les que diziam representar. A esse fenômeno denominou-se “peleguismo”1.

1. Peleguismo deriva da palavra “pelego”, que se refere a um pedaço de lã de carneiro colocado entre a sela e o lombo do cavalo, tornando a cavalgada mais confortável para o homem e o animal. O termo passa a ser usado para se referir ao dirigente sindical que atua de modo a “amortecer” a luta entre trabalhadores, empresários e Estado. Dessa maneira, age em detrimento dos interesses da classe que representa, tornando-se um beneficiário do sistema, mais próximo dos interesses do empresariado e do Estado, colaborando no controle da classe trabalhadora.

Era nacional-desenvolvimentista (1945-1964)

Trabalhadores, operários e

sindicatos empregadores e industriaisProprietários rurais, Estado

Formação de vários partidos.

Apoio à política populista e naciona-lista.

Realização de greves à revelia da Jus-tiça do Trabalho.

1953 – Greve dos 300 Mil em São Paulo.

1954 – Onda de greves importantes. 1955 – Legalização da Sociedade Agrícola e Pecuária dos Plantadores de Pernambuco (SAPPP), que havia sido criada no ano anterior no Enge-nho Galileia e logo conhecida como Liga Camponesa.

1962 – Organização do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT). 1963 – Fundação em 22/12 da Confe-deração dos Trabalhadores na Agri-cultura (CONTAG), reconhecida oficialmente em 31/01/1964.

Formação de vários partidos. Apoio à política do governo por parte do empresariado e da intelectualidade que perten-ciam aos setores nacionalistas. Oposição à política do go-verno por parte de militares anticomunistas e do empre-sariado brasileiro ligado ao capital internacional, de orientação liberal.

1962 – Fundação do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) por empresários do Rio de Janeiro e de São Paulo que lutavam contra o comu-nismo pela preservação da sociedade capitalista.

Greves só eram autorizadas pela Justiça do Trabalho.

1945 – Convocação de eleições presiden-ciais e legislativas.

1946 – Promulgação de nova Constitui-ção. Um de seus artigos permite a desa-propriação de terras mediante indenização prévia em dinheiro, o que limitava, na prá-tica, as desapropriações.

1946–1950 – Intervenção nos sindicatos, proibição de greves, paralisações, comí-cios e manifestações.

1963 – Criação do Estatuto do Trabalha-dor Rural.

1964 – Decreto de João Goulart declara como terras públicas as faixas circundan-tes de rodovias federais, ferrovias e açudes. 1964 – Golpe militar institui um regime de exceção, suprimindo direitos sociais e políticos.

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da política externa em relação às potências dominantes (EUA e URSS). Contrariamente a esses, posicio-navam-se os defensores da abertura do mercado ao capital externo, inclusive em relação à exploração dos recursos naturais brasileiros, condenando a aproximação entre governo e os sindicatos e apoiando uma política externa de estreita cooperação com os Estados Unidos. Dentro do esquema sindical herdado do Estado Novo, líderes sindicais e de organizações nacionais unificadas de trabalhadores não permitidas pela Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), incluindo entre eles membros do Partido Comunista, organizaram inúmeros movimentos e greves de natureza política comprometidos com a causa nacionalista e popular. O movimento sindical desse período, contudo, pela sua estreita ligação com os partidos políti-cos, reforçava o corporativismo e as entidades de cúpula, distanciando-se das bases operárias e de seus interesses mais propriamente econômicos que políticos.

ditadura militar (1964-1985)

Trabalhadores, operários e

sindicatos empregadores e industriaisProprietários rurais, Estado

1968 – Greves operárias contra o autoritarismo do governo militar, contra a política sala-rial e a lei de greve.

1978 –1979 – Movimentos gre-vistas no ABC Paulista reúnem mais de 80 mil grevistas. 1979 – Os arrendatários expul-sos das terras indígenas de No-noai, juntamente com outros camponeses, acampam em um ponto de uma estrada chama-do Encruzilhada Natalino, em Ronda Alta (RS).

1980 – Fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). 1981 – Realização da primeira Conferência Nacional das Clas-ses Trabalhadoras (Conclat). 1983 – Fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

1984 – Organizado formal-mente, em Cascavel (PR), o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

Durante o período militar, o capital nacional se apoiou em empreendimentos estatais que possibilitaram um amplo cres-cimento econômico durante a década de 1970.

Apoio às políticas estatais na-cional-desenvolvimentistas do governo militar, que favorece-ram o empresariado urbano e os proprietários rurais.

Atuação de grandes proprie-tários concentradores de terras em latifúndios, contra as ini-ciativas de reforma agrária, agravando os conflitos no campo.

1964 – Lei nº 4.330, que regulamenta o direito de greve.

1965 – Aprovado o Estatuto da Terra, que re-conhece a função social da propriedade priva-da e permitia desapropriações para fins de assentamento agrário.

1965 – Lei nº 4.725, que estabelecia os critérios para o cálculo dos reajustes salariais, conheci-da como lei do arrocho salarial.

1965 – Ato Institucional nº 2 proíbe a eleição direta para presidente da República, extingue os partidos existentes e cria sistema de dois partidos.

1966 – Criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e do Instituto Na-cional de Previdência Social (INPS).

1968 – Ato Institucional nº 5 (AI-5) fecha o Congresso, estabelece a censura e introduz medidas ainda mais repressivas.

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1984 – Criação da Coordena-ção das Classes Trabalhadoras que, em 1986, se transformaria em Central Geral dos Traba-lhadores (CGT) e em 1994 na Força Sindical.

1970 – Inclusão dos trabalhadores rurais, au-tônomos e empregados domésticos na Previ-dência Social.

1970 – Criação do Programa de Integração Social (PIS) e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP). 1971 – Criação do Fundo de Assistência Rural (Funrural).

1978 – Revogação do AI-5.

1979 – Abolição do bipartidarismo.

Durante o regime militar, os órgãos sindicais foram severamente reprimidos. As intervenções nos sindicatos, fe-derações e confefe-derações ocorreram logo nos primeiros anos do regime e voltaram-se contra a cúpula do movi-mento. Desse modo, quando recomeçaram as greves, em 1968, elas ocorreram à margem da estrutura sindical oficial. O período militar caracterizou-se também pela expansão de novos setores da economia, especialmente os de bens de consumo durável de capital. Foi entre os metalúrgicos de empresas automobilísticas multinacionais e empresas nacionais de siderurgia, máquinas e equipamentos, sobretudo da Grande São Paulo, que surgiu o novo movimento sindical. Esse movimento tem sua origem na crítica à política econômica do governo militar, espe-cialmente a que se referia aos salários, nas lutas pelo direito de greve, pela autonomia e liberdade sindical, pelos direitos democráticos e na defesa da negociação direta com o patronato, afirmando assim o seu compromisso com os interesses dos trabalhadores. Além disso, tinha como principal proposta a organização no local de traba-lho, com a criação das comissões de fábrica. A expressão mais forte da resistência dos trabalhadores e do movi-mento sindical ocorre nas greves de 1968 e nas do final dos anos 1970 na região do ABC, tendo na liderança a categoria dos metalúrgicos. A partir dessa presença no cenário político nacional, o movimento sindical foi se fortalecendo com a criação do Partido dos Trabalhadores e a das Centrais Sindicais, até então proibidas na legis-lação sindical herdada do Estado Novo.

Ao falar sobre os movimentos dos traba-lhadores urbanos, não podemos deixar de nos referir às mobilizações de grandes contingen-tes de pessoas que vivem e trabalham na zona rural. Na Situação de Aprendizagem anterior, pudemos perceber que existiam, desde o século XIX, movimentos de revolta de segmentos da população rural, que lutavam contra os des-mandos dos coronéis, a dificuldade de acesso à terra que lhes permitisse plantar e garantir a sua sobrevivência, as injustiças e a sistemática expulsão de seus lugares de moradia. Ainda que as tentativas de organização e mobilização des-ses trabalhadores não tenham sido em número comparável às dos trabalhadores urbanos, algu-mas delas são até hoje tidas como expressão de

© Agência RBS/F

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gem

Figura 7 – Encruzilhada Natalino, município de Ronda Alta, a caminho de Passo Fundo (RS). O Exército, comandado pelo Major Curió acampou no local para controlar a situação. A foto mostra deputados estaduais em visita ao acampamento, 1979.

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resistência ao contexto de mudanças que atin-giam as populações camponesas.

Lembre aos alunos a explicação, na Situa-ção de Aprendizagem 1, a respeito do contexto social, econômico e político em que ocorreram os conflitos pela terra. Acrescente agora mais um elemento importante que ajuda a carac-terizar a política fundiária brasileira: a Lei de Terras de 1850, que proibia a abertura de novas posses e a aquisição de terras devolutas a não ser pela compra. Dessa forma, amplia-se a dificuldade de acesso à propriedade pelos camponeses sem terra; mas, por outro lado, garantia-se a viabilidade econômica das gran-des propriedagran-des, pois só restava para esses trabalhadores a alternativa de trabalho que aí lhes era oferecida.

Apenas indicaremos aqui as mais importan-tes lutas camponesas que marcaram o século XX, especialmente aquelas que ocorreram a partir da década de 1950: Revolta de Porecatu, no Paraná (1950-1951); Revolta do Sudoeste do Paraná (1957); Revolta de Trombas e For-moso, em Goiás (1946-1964); Demônio do Catulé, na Bahia (1955). É preciso lembrar aos alunos que é nesse período dos anos 1950 que cresce a luta pela reforma agrária que tra-rá para o cenário político as exigências dos trabalhadores rurais não só pela mais justa distribuição de terras, mas também por di-reitos trabalhistas. Apenas em 1963, com a criação do Estatuto do Trabalhador Rural, alguns dos direitos trabalhistas serão estendi-dos a essa categoria, especialmente o direito de organizar sindicatos. Logo em seguida foi criada a Confederação Nacional dos Tra-balhadores na Agricultura (CONTAG), que passou a representar todos os trabalhadores rurais e a desenvolver a luta em defesa dos direitos desses trabalhadores.

Passe agora à apresentação das Ligas Cam-ponesas, movimento considerado pelo sociólogo José de Souza Martins como o mais importante

da “história contemporânea do campesinato brasileiro” e que servirá de inspiração para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Ter-ra (MST), sem dúvida a mais ampla e expressiva luta camponesa pela reforma agrária.

© Luciana W

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Figura 8 – Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas, durante gravação para o projeto Vozes da Resistência, no Museu da Imagem e do Som. Ao fundo, foto de Julião quando foi preso. Rio de Janeiro (RJ), 12 jul.1994.

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As Ligas Camponesas têm sua origem em 1954, pelos trabalhadores do Engenho Galileia, da Sociedade Agrícola e Pecuária dos Plantado-res de Pernambuco (SAPPP). Entretanto, diante da reação do proprietário do engenho, que os ameaçava de expulsão, recorreram a um advo-gado, Francisco Julião Arruda de Paula. Este se tornará um defensor dos trabalhadores e terá um papel importante no fortalecimento das Ligas. Em 1º de janeiro de 1955 a SAPPP foi legalizada e iniciou o seu processo de expan-são, espalhando-se primeiro pelos Estados de Pernambuco e Paraíba, alcançando no início da década de 1960 a representação em treze Esta-dos brasileiros. Com o golpe militar de 1964, o movimento deixou de existir.

Etapa 4 – o movimento

dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Antes de iniciar a discussão, pergunte aos alunos: Vocês já ouviram falar no MST? Onde

ouviram? O que sabem sobre ele? Vocês con-sideram que se trata de um movimento social importante? Ouça as respostas da classe e, em

seguida, chame a atenção da turma para a imagem a seguir:

Depois, peça para que um voluntário leia o próximo trecho:

Provavelmente, dependendo da região do Estado de São Paulo onde a escola estiver situada, muitos dos alunos podem ter um co-nhecimento maior a respeito de ocupações ou assentamentos do MST aí localizados. Opiniões favoráveis e desfavoráveis podem ser expostas, acirrando o debate. Procure manter a objeti-vidade e aproveite as respostas para traçar um pequeno histórico do MST, seus objetivos, suas lutas e importância no contexto político brasi-leiro. É importante reforçar o que está dito no trecho apresentado: que para falar a respeito do MST é preciso lembrar as lutas pela terra que o antecederam e a concentração da proprie-dade fundiária no Brasil. A história desse movi-mento só pode ser entendida se a situarmos no contexto da economia brasileira e das políticas fundiárias responsáveis pela concentração de terras nas mãos dos grandes proprietários e a consequente expulsão dos trabalhadores rurais. O MST foi criado em 1984 tendo como obje-tivos a luta pela reforma agrária, a construção de uma sociedade mais justa, a expropriação de latifúndios improdutivos e o estabelecimento de uma área máxima de hectares para a pro-priedade rural. Está organizado em 24 Estados brasileiros e, como forma de pressão na luta pela terra, recorre às ocupações, ou seja, a instalação de grande número de famílias em latifúndios

© R

egina Santos/T

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Figura 9 – Passeata dos integrantes do Movimento dos Sem Terra, Cristalina (GO), fev.1998.

“O aparecimento do MST, no mesmo mo-mento em que chegava ao fim o regime militar, tentava aproveitar aquele momento histórico em que parecia haver a oportunidade de uma revolução agrária no Brasil, sob a forma de extensas e maciças desapropriações de terra. Aquele parecia ser o desaguadouro natural dos muitos anos de luta pela terra, envolvendo milhares de trabalhadores, com base em milha-res de focos de tensão social. Parecia o mo-mento de somar e sumarizar essa luta num projeto social que fosse ao mesmo tempo um projeto político.”

Referências

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