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OS VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS E PALEONTOLÓGICOS EM TANQUES NATURAIS DAS MICRORREGIÕES DE ANGICOS, OESTE E SERRA DE SANTANA, RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL

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OS VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS E PALEONTOLÓGICOS EM TANQUES NATURAIS DAS MICRORREGIÕES DE ANGICOS, OESTE E SERRA DE SANTANA, RIO GRANDE

DO NORTE, BRASIL

Valdeci dos SANTOS JÚNIOR

1

Luiz Carlos Medeiros da ROCHA

2

Daline Lima de OLIVEIRA

3

Simão Pedro Ferreira GONZAGA

4

Monalisa Rocha ARAÚJO

5

1

Docente do departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), coordenador do Laboratório de Arqueologia o Homem Potiguar (LAHP-UERN), contato: valdecisantosjr@hotmail.com

2

Doutorando em arqueologia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), contato:

luizcarlos_medeiros@hotmail.com

3

Graduanda do programa de graduação em arqueologia da Universidade do Vale do São Francisco (UNIVASF), contato: daline.bs@hotmail.com

4

Graduando em História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), contato:

simaopyerry@hotmail.com

5

Graduanda em História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), contato:

Monalisa_mra@hotmail.com

(2)

OS VESTÍGIOS ARQUEOLÓGICOS E PALEONTOLÓGICOS EM TANQUES NATURAIS DAS MICRORREGIÕES DE ANGICOS, OESTE E SERRA DE

SANTANA, RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL

RESUMO

Esse artigo evidencia os dados resultantes das pesquisas arqueológicas/paleontológicas realizadas em tanques naturais existentes em municípios (Angicos, São Rafael e Santana do Matos) das microrregiões de Angicos, Oeste e Serra de Santana, inseridas na mesorregião Central do Estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Os resultados da análise tipológica do material lítico, assim como as características das técnicas de percussão empregadas nos artefatos desses tanques naturais levam a inferir que os artesãos fabricavam instrumentos do tipo de expediente, com o intuito de uso imediato, rápido e prático, utilizando predominantemente como matérias primas, rochas silicificadas (silexito). Quanto ao material paleontológico foram identificados representantes da megafauna da transição Pleistoceno final – Holoceno: Glyptodon sp. (Glyptodontidae), Eremotherium laurillardi (Megatheriidae), Palaeolama major (Camelidae), S. waringi (H. waringi), X. bahiense e Glossotherium (Xenarthra, Mylodontidae).

Palavras-chave : Arqueologia. Tanques. Naturais. Líticos. Megafauna.

ABSTRACT

This article shows the data resulting from archaeological research / paleontological held in existing natural tanks in municipalities (Angicos, San Rafael and Santana do Matos) of the micro Angicos, West and Sierra de Santana, set in Rio Grande do Norte State Central mesoregion , Brazil. The results of typologicalaanalysis the lithic material, as well as the characteristics of the percussion techniques employed in these artifacts natural tanks lead to infer that the instruments of the type manufactured artisans expedient, in order to immediately use, fast and practical, using predominantly as raw materials, silicified rocks (silexito). As the paleontological material were identified representatives of megafauna of the final Pleistocene - Holocene: Glyptodon sp.

(Glyptodontidae), Eremotherium laurillardi (Megatheriidae), Palaeolama major (Camelidae), S.

waringi (H. waringi), X. bahiense and Glossotherium (Xenarthra, Mylodontidae).

Keywords : Archaeology. Natural tanks. Lithic. Megafauna.

(3)

Introdução

Nos municípios das microrregiões de Angicos e da Serra de Santana, inseridos na mesorregião Central Potiguar, Estado do Rio Grande do Norte, é comum a ocorrência de depressões naturais em rochas do embasamento, denominadas na literatura geológica de

“tanques” (OLIVEIRA, 1989; BERGQVIST, 1997). Estes tanques se constituem depósitos de restos fossilizados da megafauna extinta e em alguns casos de materiais arqueológico, se configurando então como sítios arqueológico-paleontológicos.

O preenchimento sedimentar destas depressões se encontra geralmente compartimentado em duas ou três camadas e resulta da desagregação mecânica e química das rochas encaixastes e do transporte de material clástico alóctone por encurradas (OLIVEIRA &

HACKSPACHER, 1989). As assinaturas tafonômicas presentes no material paleontológico coletado nestes depósitos sugerem transporte pouco expressivo dos fósseis, havendo evidências da atuação de processos pós-reposicionais, como compactação das camadas e revolvimento, que contribuem para a fragmentação do material (OLIVEIRA & HACKSPACHER, 1989; BERGQVIST et. al., 1997).

No município de São Rafael-RN (microrregião Oeste), por exemplo, restos de mamíferos fósseis foram coletados por em tanques situados na fazenda Capim Grosso, compreendendo fragmentos de dentes, mandíbulas e ossos pós-cranianos pertencentes a E. laurilardi, S. waringi (H. waringi) e Toxodon, bem como peças atribuídas como reservas a X. bahiense e Glossotherium (Xenarthra, Mylodontidae). Já o material arqueológico encontrado nessas escavações é conhecido a partir de CARVALHO (1966) como sendo composto de vestígios líticos e cerâmicos, havendo casos inclusive, em que em uma mesma camada (que variava entre 65cm a 1,10cm) onde aparecem estes tipos de vestígios também foram coletados fósseis.

Os artefatos líticos são mencionados por ele como sendo “trituradores” e lâminas de machados. A cerâmica ocorre nos mesmos níveis que os líticos e, diferentemente dos materiais líticos, se mostrou bastante variada: um tipo que se apresentava de forma espessa e grosseiramente elaborada, com grãos de quartzo na massa e sem vestígios de ornamentação;

um outro tipo era pouco espessa, razoavelmente trabalhada, sem grãos de quartzo na massa e um último tipo apresentava formas grosseiras, com grãos de quartzo e decoração escovada.

Foram coletados também três discos de cerâmica perfurados no centro, com diâmetro médio de 4cm e espessura de ordem de 1cm.

Em 2007 foi efetuado pelos pesquisadores Valdeci Santos, Kleberson Porpino e

Abrahão Sanderson Silva, o peneiramento dos sedimentos de refugo de um tanque natural

(4)

(figura 01) no sítio Tapuio, zona rural do município de Santana do Matos-RN, onde foi evidenciada, além do material paleontológico, a presença de material arqueológico (líticos de silexito) constituídos por um núcleo não esgotado, sete lascas trabalhadas, quatro fragmentos e três raspadores plano-convexos. O material paleontológico recuperado corresponde a dentes e ossos pós-cranianos de representantes da megafauna da transição Pleistoceno final – Holoceno, incluindo: osteodermos isolados de Glyptodon sp. (Glyptodontidae), fragmentos de molariformes, de Eremotherium laurillardi (Megatheriidae) e um molar inferior isolado de Palaeolama major (Camelidae). Os resultados apontaram para a predominância de uma cultura lítica de artefatos em sílex e corrobora a presença de 03 espécies de vertebrados fósseis da megafauna extinta (SANTOS JÚNIOR; PORPINO; SILVA, 2007).

Figura 01 –Contexto geoambiental–tanque natural do Sítio Tapuio -Santana do Matos - RN Fonte: Valdeci Santos (2007).

Os tanques naturais do Enclave arqueológico Granito Flores –

microrregião de Angicos

(5)

Assim como ocorreu nos municípios de São Rafael e Santana do Matos, foram delimitadas, a partir das características locais, algumas áreas atípicas e como padrões semelhantes, seja pela presença de material lírico lascado, abundante em toda a região, ou mesmo pelos “tanques naturais”. Dessa forma, foi localizada uma área específica com afloramentos graníticos que ficou intitulada preliminarmente como Enclave Arqueológico Granito Flores (EAGF), localizado na Fazenda Flores, divisa entre os municípios de Angicos e Afonso Bezerra.

A área só chama a atenção da Arqueologia a partir de 2005, quando os pesquisadores Valdeci dos Santos Júnior e Abrahão Sanderson Nunes Fernandes da Silva percorrem boa parte da área com prospecções preliminares e descobrem a presença de expressiva quantidade de material lítico (com predominância quase absoluta de silexito) no leito do Riacho Pinturas (também conhecido como Flores), restos de debitagem em nível de superfície no interior de abrigos e semiabrigos, no interior de tanques naturais e em outros espaços com afloramentos graníticos (tipo lajedo), além de observar a presença de sítios arqueológicos com grafismo rupestres (com as técnicas de pinturas e gravuras).

Nessa área foi escavado em 2008 um tanque natural intitulado Tanque dos Pereiros I (figura 02), uma depressão no embasamento com 12,5 m de comprimento por 2,8 m de largura e 3,2 m de profundidade (até a base da rocha), que acumula água durante o período invernoso permanecendo com água até os meses de setembro/outubro, ficando seco de novembro a janeiro.

Figura 02 - Mapa topográfico com delimitação da quadrícula escavada (detalhe no retângulo em azul) no Tanque dos Pereiros 01 (EAGF), Angicos (RN)

Fonte: Carlos Eduardo. Ano: (2012).

(6)

Na escavação dos sedimentos do interior do tanque natural dos Pereiros I foi possível localizar vestígios líticos e cerâmicos. O material lítico coletado compõe um acervo de 1.305 peças, tendo como matéria-prima o silexito (predominância quase absoluta) e o quartzo. Nesse acervo, a predominância é de lascas (tanto lascas brutas, quanto lascas trabalhadas) e estilhas provenientes de debitagens de silexito; aparecem também (só que em número bem reduzido) lascas de quartzo e granito (o que indica a possibilidade de atividades no tanque para elaboração de material lítico polido).

Pela análise foi constatada a presença de duas técnicas de trabalho com material lítico: a técnica de polimento e a técnica do lascamento unifacial (em número bem maior), com funções direcionadas para a preparação de alimentos (no caso do material polido) e para o corte e raspagens (no caso do material lascado). Podem-se destacar também as formas pontiagudas em grande parte dos artefatos, alguns que lembram as lamelas, furadores, lascas de silexito trabalhadas com retoques alternantes (figura 03), lascas de silexito retocadas com percutor duro, lâminas e bifaces, provenientes de atividades de debitagem como também aparecem raspadores laterais produzidos a partir de lascas de silexito corticais.

Foi localizada também no interior dos sedimentos revolvidos a presença de um fragmento do corpo vertebral do Eremotherium laurillardi (preguiça gigante), que pode ter sido carreada para o local do tanque.

Figura 03 - Raspador unifacial de silexito com retoques marginais a partir de um instrumento natural – Tanque dos Pereiros I (EAGF), Angicos (RN)

Autor: Foto: Valdeci Santos. Ano: (2012). Desenho lítico: Marcellus Almeida. Ano: (2013).

Em 2010 foi escavado outro tanque natural, intitulado “tanque natural dos Pereiros II”,

que é uma reentrância rochosa com 22 m de comprimento e 3 m de largura com sedimentos

(7)

sem seu interior e está localizado entre duas elevações graníticas que retém água das chuvas durante um bom período do ano (figuras 04 e 05).

Figura 04 - Tanque dos Pereiros II – período

inverno (janeiro/junho) – (EAGF), Angicos (RN) Figura 05 - Tanque dos Pereiros II – período verão (julho/dezembro)(EAGF), Angicos (RN) Autor: Valdeci Santos. Ano: Março/2009. Autor: Valdeci Santos. Ano: Dezembro/2009.

Foi observada em nível de superfície quantidade expressiva de vestígios líticos (núcleos,

lascas, instrumentos e estilhas) de silexito decorrentes de atividades de lascamentos. Com o

objetivo de averiguar o perfil estratigráfico sedimentar do tanque, a recorrência dessas atividades

de lascamentos líticos também em nível de subsuperfície e se seria possível estabelecer alguma

estratigrafia cronológica que pudesse fornecer respostas de há quanto tempo esse processo

cultural viria ocorrendo, foram abertas duas quadras: uma primeira quadra denominada de T1

com dimensões de 4 m de comprimento por 1 m de largura e uma segunda quadra denominada

de T2 com dimensões de 3 m de comprimento por 1 m de largura (figura 06).

(8)

Figura 06 - Mapa topográfico com delimitação das quadrículas escavadas no Tanque dos Pereiros 02 (EAGF), Angicos (RN)

Fonte: Carlos Eduardo. Ano: (2012).

Foi retirado das duas quadras abertas (T1 e T2) no Tanque Natural dos Pereiros 02 (TN02) um acervo lítico com 3.525 vestígios de silexito e um vestígio de quartzo sendo: 2.831 vestígios na quadrícula T1 e 695 vestígios na quadrícula T2, entre lascas, artefatos, núcleos e estilhas.

A predominância do material lítico lascado do Tanque dos Pereiros 02 (TN02) é formada por lascas e estilhas com pouquíssimos artefatos produtos de debitagem. Os artefatos identificados, ou com indícios da presença de um gume, estavam, sobretudo nos níveis artificiais escavados mais profundos de 60-80 cm e 40-60 cm de profundidade na quadra T2 e entre 10-20 cm de profundidade na quadra T1. Entretanto, em termos de posicionamento cronológico esses dados não podem ser levados em conta tendo em vista que, devido às enchentes constantes do tanque, a movimentação horizontal dos vestígios líticos deve ter sido contínua gerando perturbações deposicionais dos materiais arqueológicos no interior do tanque.

Todos os 2.831 vestígios líticos retirados da quadra T1 (nas três sondagens efetuadas) são frutos de debitagem com silexito. Na tipologia desses materiais (Gráfico 01), identificam-se lascas e estilhas, em sua maioria, poucos núcleos (em relação à quantidade de lascas e estilhas existente) e em menor número, alguns artefatos (raspadores) com retoques e sem retoques.

Gráfico 01 – Tipologia lítica da quadra T1 do Tanque Natural dos Pereiros 02 (TN02) (EAGF),

Angicos (RN)

(9)

Fonte: Valdeci Santos (2012).

Acerca das dimensões dos materiais retirados, a média entre eles gira em torno de 40 a 80 mm de comprimento e 20 a 70 mm de largura. A técnica de debitagem mais utilizada é a percussão direta com percutor mineral duro, utilizada também no retoque de lascas de silexito (Figuras 07 a 09) e na elaboração de instrumentos plano-convexos com retoques denticulados (Figura 10) ou plano-convexos de silexito a partir de lascas refletidas (Figura 11).

Figura 07 – Lasca (de silexito) retocada com percutor mineral duro – Quadrícula T1 – nível (20 cm) – Tanque Natural dos Pereiros 02 (EAGF), Angicos (RN)

Figura 08 – Lasca (de silexito) retocada com percutor mineral duro –Quadrícula T1 – nível (10 cm) – Tanque Natural dos Pereiros 02 (EAGF), Angicos (RN)

Fonte: Desenho -Marcellus Almeida (2013) Fonte: Desenho -Marcellus Almeida (2013)

0 500 1.000 1.500

Núcleo unipolar Núcleo bipolar Lascas Artefato formal Fragmentos Estilhas Seixos

7 0

1470 9

5

1337 3

Tipologia lítica - Tanque dos Pereiros 02 - Quadra T1

(10)

Figura 09 – Lasca (de silexito) retocada com percutor mineral duro – Quadrícula T1 – nível (40 cm) – Tanque natural dos Pereiros 02 (EAGF), Angicos (RN)

Fonte: Desenho - Marcellus Almeida (2013)

Figura 10 – Instrumento Plano-Convexo (de silexito) com retoque denticulado – Quadrícula T1 – nível (60 cm) – Tanque Natural dos Pereiros 02 (EAGF), Angicos (RN)

Figura 11 – Instrumento Plano-Convexo (de silexito) sobre lasca refletida. Quadrícula T1 – nível (80 cm) – Tanque Natural dos Pereiros 02 (EAGF), Angicos (RN)

Fonte: Desenho -Marcellus Almeida (2013) Fonte: Desenho -Marcellus Almeida (2013)

Pouco córtex é encontrado nos instrumentos e, sendo menor que 50% nas superfícies de cada peça. Os núcleos e as lascas, também apresentam pouco córtex, indicando, possivelmente, uma preparação maior durante as etapas de lascamento. A técnica de lascamento predominante em quase todos os vestígios líticos é a percussão direta dura, mas duas lascas de silexito apresentam um leve lábio no talão, indicando a utilização de percutor brando.

Quase todo o acervo coletado de 695 vestígios líticos na quadra T2 em termos de

matéria-prima utilizada está composto também por silexito (predominância quase absoluta) e

(11)

uma única lasca de quartzo. Assim como na quadra T1, em termos tipológicos (Gráfico 02) a predominância é de lascas e estilhas, tendo uma quantidade bem pequena de núcleos e artefatos. Com relação à existência de córtex e as dimensões das peças líticas, elas seguem o mesmo perfil técnico já evidenciado no acervo da quadra T1.

Gráfico 02 – Tipologia lítica da quadra T2 do Tanque Natural dos Pereiros 02 (TN02) (EAGF), Angicos (RN)

Fonte: Valdeci Santos. Ano: (2012).

Os materiais líticos que foram coletados na Quadra T2 apresentam também em sua totalidade a técnica da percussão direta dura para a debitagem, façonagem e retoque. Quanto aos artefatos formais elaborados são instrumentos plano-convexos produzidos sobre lascas espessas, unipolar, descorticada ou apresentando apenas vestígios de córtex. Esses artefatos líticos lascados são facilmente encontrados em nível de superfície na área podendo se afirmar com segurança que os instrumentos plano-convexos eram um importante vestígio da indústria lítica dos artesãos pretéritos que ocuparam essa área. Os instrumentos plano-convexos são unifaciais, podendo ser fabricados sobre diferentes suportes, sobre seixos, lascas com ou sem córtex, ou mesmo sobre plaquetas (Figuras 12 e 13).

0 100 200 300 400 500 600

Núcleo unipolar Núcleo bipolar Lascas Artefato formal Fragmentos Estilhas Seixos

2 0

565 7

7

111 3

Tipologia lítica - Tanque dos Pereiros 02 - Quadra T2

(12)

Figura 12 – Instrumento plano-convexo de silexito com façonagem e retoque com percutor mineral duro – quadra T2 (nível 60-80cm) – Tanque Natural dos Pereiros II (EAGF), Angicos (RN)

Fonte: Desenho - Marcellus Almeida (2013)

Figura 13 – Instrumento plano-convexo de silexito elaborado com percutor mineral duro – quadra T2 (nível 40-60cm) – Tanque Natural dos Pereiros II (EAGF), Angicos (RN)

Fonte: Desenho - Marcellus Almeida (2013)

Considerações finais

Os resultados das escavações arqueológicas/paleontológicas efetuadas nos tanques

naturais das microrregiões de Angicos, Oeste e Serra de Santana, apontam para uma

diversificação de técnicas de elaboração de artefatos (assim como de matérias-primas

geológicas) do material lítico e das espécies paleontológicas.

(13)

A predominância dos vestígios líticos tem como matérias-primas rochas silicificadas, principalmente oriundas de fontes de silexito existentes nas proximidades dos próprios tanques naturais. Essa utilização de fontes de matérias primas (silexito) chega a 99,4% dos acervos coletados no tanque natural dos Pereiros I e a 99,9% no tanque natural dos Pereiros II. Essas fontes naturais de silexito podem ser observadas em municípios das microrregiões de Angicos, do Vale do Açu e da Serra de Santana (somente na área com cotas altimétricas mais baixas do município de Santana do Matos).

A explicação geológica para a concentração dessas fontes naturais de silexito nessas microrregiões pode estar amparada em três fatores geoambientais que estão interligados: a) a Formação Jandaíra; b) o agrupamento de fraturas geológicas subterrâneas intituladas de sistema de falhas de Carnaubais e Afonso Bezerra localizadas em borda de bacia; c) a bacia hidrográfica do rio Piranhas/Açu (SANTOS JÚNIOR, 2013).

A presença maciça de restos de lascamentos (estilhas) indica também uma utilização recorrente dos tanques naturais para atividades de lascamentos por grupos pretéritos. A existência de lascas em granito indica também a técnica do polimento. O conjunto de artefatos formais está representado principalmente por raspadores laterais, circulares e bilaterais com retoques invasores e claros sinais de uso (alguns exemplares com sinais de tonalidades diferenciadas de pátinas), onde os retoques foram realizados por percussão direta, não havendo uma preocupação em retirar todo o córtex.

Embora as lascas possam ser consideradas artefatos, independentemente de serem trabalhadas ou não, os artefatos formais “completos” que mais aparecem nos tanques naturais são raspadores laterais unifaciais plano-convexos (com e sem córtex) com retoques finos, também conhecidos como “lesmas.

A tipologia e as características das técnicas de percussão empregadas nos acervos desses tanques naturais levam a inferir que os artesãos fabricavam instrumentos do tipo de expediente, com o intuito de uso imediato, rápido e prático, uma vez que na maioria das peças são retiradas algumas lascas formando com isso o gume dos artefatos, que possivelmente era o objetivo dos artesãos em resolver o problema energético com o mínimo de entropia (MILLER, 2009).

Quanto as material paleontológico foram identificados nos tanques naturais dessas microrregiões representantes da megafauna da transição Pleistoceno final – Holoceno:

Glyptodon sp. (Glyptodontidae), Eremotherium laurillardi (Megatheriidae), Palaeolama major

(Camelidae), S. waringi (H. waringi), X. bahiense e Glossotherium (Xenarthra, Mylodontidae).

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REFERÊNCIAS

BERGQVIST, L.P.; GOMIDE, M.; CARTELLE, C. & CAPILLA, R. 1997. Faunas locais de mamíferos pleistocênicos de Itapipoca/Ceará, Taperoá/ Paraíba e Campina Grande/Paraíba. Estudo comparativo, bioestratinômico e paleoambiental. Revista da Universidade de Guarulhos, Geociências, 2:23-32.

CARVALHO, J.N.C. Relatório preliminar das investigações geo-paleontológicas na área fossilífera pleistocênica da fazenda Lágea Formosa, município de São Rafael. Instituto de Antropologia, n. 2. vols. 1-2. p. 371-80, 1966.

MILLER, Tom O. Onde estão as lascas? Revista Clio, série pré-histórica, UFPE, Recife, volume 24, n. 2. 2009, p.

06-66.

OLIVEIRA, L.D.D. Considerações sobre o emprego da terminologia da “Formação Cacimbas” e Caldeirões para os tanques fossilíferos do Nordeste do Brasil. In: CONG.BRASIL PALEON.11, Curitiba, 1989. Anais...Curitiba, SBP.

V.1, p. 535-539.

OLIVEIRA, L.D.D; HACKSPACHER, P.C. 1989. Gênese e provável idade dos tanques fossilíferos de São Rafael- RN. In: Anais do 11º Congresso Brasileiro de Paleontologia. Curitiba: UFPR, 1989. p. 541-549.

SANTOS JÚNIOR. Arqueologia da paisagem: proposta geoambiental de um modelo explicativo para os padrões de assentamentos no Enclave Arqueológico Granito Flores, microrregião de Angicos (RN). Tese de doutorado – Programa de Pós-Graduação em Arqueologia, Universidade Federal de Pernambuco, 2013. 334 p.

SANTOS JUNIOR, Valdeci; PORPINO, Kleberson de Oliveira; SILVA, Abrahão Sanderson. A megafauna extinta e

os artefatos culturais de um tanque natural na região central do Rio Grande do Norte. In: Anais... I CONGRESSO

INTERNACIONAL DE ARQUEOLOGIA TRANSATLÂNTICA, XIV encontro da SAB, sete/out 2007.

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