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A ECONÔMIA CAFEEIRA E O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DE SÃO PAULO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA ( )

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A ECONÔMIA CAFEEIRA E O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DE SÃO PAULO DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)

ANDRADE, Kelly Alves1 DIAS, Aline de Freitas ²

INTRODUÇÃO

A campanha em prol da industrialização do Brasil foi reforçada pelo nacionalismo do período de 1880, e começou a ganhar forças principalmente após a abolição da escravidão em 1888. A abolição representou o prenúncio de uma nova era para o país, de modernidade e prosperidade econômica.

Até então as energias nacionais tinham estado ocupadas com o grande problema da escravidão. Apagada a “mancha” que nos envergonhava diante do mundo civilizado, exultava o orgulho nacional. Nada mais poderia deter o Brasil, acreditava-se, na sua marcha para frente, para o progresso, otimismo que a proclamação da República, no ano seguinte, veio confirmar”.

(LUZ, 1978, p.103)

Com a abolição da mão-de-obra escrava, que por outro lado, transformou em assalariados milhares de trabalhadores (ex-escravos, estrangeiros e imigrantes), e a necessidade de amparar em forma de crédito a elite de escravocratas, levou o governo Imperial a adotar uma política de facilitação de créditos. Essa política aliada à prosperidade do país devido a enorme safra cafeeira de 1888-1899 e a entrada do capital estrangeiro sob a forma de empréstimos levou a expansão dos cafezais e dos negócios que giravam em torno da economia cafeeira, o que levou a formação de inúmeras empresas comerciais e industriais. E será em São Paulo que o sinônimo de progresso, e enriquecimento capitalista irá se manifestar através do desenvolvimento industrial em articulação com a economia cafeeira que se desenvolveu nos fins do século XIX e ao longo dos primeiros trinta anos do século XX período da história do Brasil que ficou conhecido como a Primeira República.

1 Graduanda do Curso de História do Centro Universitário são Camilo-ES, kellyoshialves@gmail.com;

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DESENVOLVIMENTO

A industrialização de São Paulo decorreu da procura provocada pelo crescimento do mercado estrangeiro pelo café. No início do século XIX o café popularizou-se na Europa o que estimulou o surto de novas plantações, que se desenvolviam no oeste de São Paulo, por volta de 1850. As plantações de café se estendiam pelo lado paulista do Vale do Paraíba até a região de Campinas, além da capital da Província. Acontece que o interior de São Paulo até então ofuscado pela prosperidade do Vale do Paraíba que a partir de 1870 começou entrar em decadência devido ao desgaste do solo, começou a atrair o interesse dos grandes cafeicultores fluminenses que passaram a adquirir novas propriedades em São Paulo que apresentava boas condições climáticas e terra férteis para o desenvolvimento dos cafezais como enfatiza Caio Prado Júnior na obra Evolução Política do Brasil:

“(...) O desenvolvimento da cultura cafeeira, que logo havia de monopolizar a economia da província, não se processa nas zonas em que primeiro se localizou. O litoral é logo abandonado, e o Vale do Paraíba perde, em fins do Império, toda sua passada importância. São férteis as terras, primeiro do norte, depois do oeste, muito mais próprias ao seu cultivo, que vão constituir a zona de eleição do cafeeiro. E toda esta região que é por sua situação tributária de São Paulo, tem nesta cidade seu centro natural”.

(PRADO JUNIOR, 1979, p.109)

Em meados do fim do século XIX, o mercado do café passou a se expandir mais depressa devido à procura nos Estados Unidos e na Europa, e a indústria cafeeira paulista procurou melhorar a qualidade do café para a exportação e aumentar a produtividade. Tornou-se necessário a abertura de portos, e desenvolvimento das ferrovias para dinamizar o processo de exportação e transporte do café, com isso São Paulo passou a experimentar a mesma euforia de prosperidade econômica que acontecia em outras partes da América Latina. De acordo com Warren Dean (1975, p.9-10) três fatores contribuíram para acelerar ainda mais o crescimento súbito do café: O primeiro foi a ocorrência da praga que

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devastou os cafezais de Ceilão, principal rival de São Paulo, que comprometeu de forma drástica a produção. Segundo, a abolição da escravidão em 1888, que abriu caminho para a mão de obra mais eficiente de imigrantes europeus livres. Terceiro a derrubada do Imperador D. Pedro II e a proclamação da República pelos militares em 1889 que levou a instituição de uma estrutura econômica extremamente descentralizada, que permitiu ao governo do Estado de São Paulo estimular o comércio sem interferências.

Nos cafezais do oeste paulista, o trabalho livre, as máquinas de beneficiamento, e o espírito de lucro preparavam o terreno para o surgimento do capitalismo, o fazendeiro estava se tornando um homem de negócios, investia em máquinas agrícolas, tornava-se sócio de investidores ingleses para a construção de ferrovias, comprava ações de outras empresas e investia o lucro do capital cafeeiro para abrir pequenas indústrias. Desse modo, surgiram às primeiras fábricas em São Paulo, tratava-se de fábricas de bens de consumo que produziam chapéus, tecidos, sabão, vidros entre outros artigos. O aumento do volume de circulação do dinheiro e do crédito bancário causaram mudanças no quadro de negócios dos grandes cafeicultores do oeste paulista, como explica Warren Dean:

“Outros efeitos do uso mais difundido do dinheiro são difíceis de avaliar, mas devem ter sido significativos. A própria terra adquiriu valor monetário e converteu-se num fator volátil de troca. Era vendida para a obtenção de capital, talvez para a compra de máquinas agrícolas ou de ações de uma firma comercial; ou um negociante comprava terra, ou executava uma hipoteca, a fim de entrar no negócio do café. Os novos bancos, cujos fundos se investiam originalmente em transações de café em curto prazo, poderiam usar parte de sua capacidade de criação de crédito para financiar industriais.

Os agricultores passaram a interessarem-se mais pelos aspectos comerciais e financeiros do seu negócio; viviam com mais frequência nas cidades e alguns se dedicaram às atividades imobiliárias, bancárias, ao fomento de estradas de ferro e à exportação.”

(DEAN, 1975, p.12)

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Diante disso pode-se constatar que o café custeou grande parte das despesas gerais necessárias para desenvolver a indústria e a economia nacional, como a construção das estradas de ferro que foi fruto da expansão do café, sendo construídas pelos próprios cafeicultores na tentativa de dinamizar e baratear o transporte da produção e exportação. No que diz respeito à exportação e importação, o porto de Santos foi de extrema importância para o desenvolvimento da indústria e importação de matérias-primas como a juta e o trigo, que também foi um empreendimento do café. As primeiras fábricas utilizavam motores movidos a vapor, mas logo se tornou necessário a instalação de sistemas urbanos de energia elétrica, por conta disso, as companhias elétricas também foram estimuladas pelos cafeicultores que desejavam promover a modernização do país, onde as usinas que proporcionavam maior cota de energia eram as de São Paulo e Piracicaba, fenômeno que é explicado por Caio Prado Júnior (1979, p.110) “revelando o curso encachoeirado do Tietê, que forneceu a energia necessária para propulsionar a indústria, bem como o desnivelamento da Serra do Mar, também nas suas proximidades que começa a ser aproveitado e garante assim, reservas quase ilimitadas”. Tais usinas foram construídas por empresas norte americanas e europeias que visavam o lucro no crescimento urbano dependente do comércio do café.

As primeiras fábricas também foram beneficiadas pela transformação social operada pelo café, como a presença de mão de obra abundante, tanto de imigrantes como de nativos gerada pelo aumento populacional das cidades, além de técnicos e contramestres contratados na Europa para desenvolver estudos nas melhorias dos cafezais, construção de estradas de ferro, na intenção de alavancar as produções e estimular o desenvolvimento capitalista no país e o acúmulo de capital, que elevou os cafeicultores ao título de “Capitães da Indústria” e despertaram os interesses de cafeicultores de diversas regiões do país, bem como de estrangeiros seduzidos pelo lucro fácil que o comércio do café representava em São Paulo, como afirma Oliveira Vianna na obra “História Social e Econômica Capitalista no Brasil”:

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“O êxito magnífico dos capitães paulistas criou um verdadeiro clima de supercapitalismo em São Paulo, clima tão carregado de sedução que atrai uma legião de capitães de indústria de outros pontos do país. Nesta massa de seduzidos, há grande número que para ali vieram, ainda em latência, ainda não revelados e que ali, entretanto, amadureceram e encontraram ambiente para projetar-se: um Matarazzo, um Crespi; um Lunardelli, um Schmidt, um José Ermírio, um Pereira Ignácio. Italianos, alemães, portugueses, nordestinos e gaúchos.”

(VIANNA, 1987, p.68)

Esses súbitos progressos na região de São Paulo nas décadas de 1880 e 1890 foram a causa da industrialização. Entretanto, São Paulo contava com um comércio voltado para a exportação e indústrias de bens de consumo, o que não trazia estabilidade para o país no que diz respeito a uma empresa industrial nacional.

Porém, se compararmos a economia de exportação dos outros países da América Latina nesse período, chega-se a conclusão de que o desenvolvimento de São Paulo foi único. Mas como explicar essa unicidade?

De acordo com a análise feita por Dean (1975, p.12) a respeito dos primórdios da industrialização em São Paulo, ressalta-se o fato de que as manufaturas foram capazes de superar as importações, de forma que os primeiros produtos fabricados na região foram aqueles que o peso e o custo era alto, o que custava menos para produzir do que para comprar da Europa. Até a década de 1920, o mercado paulista produzia artigos de valor baixo, sendo que as atividades mais importantes empregavam matérias agrícolas locais, como o couro, o algodão, o açúcar, cereais e madeira de construção ou minerais não metálicos como o barro, cal e pedras. Por outro lado, o Estado não contava com jazidas importantes de ferro, o que prejudicava o desenvolvimento da indústria metalúrgica, que ainda continuava sendo uma indústria de pequena escala, que produzia peças de maquinarias especializadas ou equipamentos feitos sobre encomenda. Na fase inicial, o setor industrial ainda era marginal dentro da economia para a exportação, de forma que os únicos fregueses dos fabricantes paulistas foram os agricultores o que gerava instabilidade para o setor industrial emergente, pelo fato dos industriais e

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fazendeiros dependerem do capital cafeeiro para cobrir seus custos de produção, como aponta Warren Dean (1975, p.16) “Tanto industriais quanto fazendeiros dependiam dos preços do café para cobrir seus custos de produção, mas os últimos dependiam muito menos das trocas externas para sua sobrevivência”. Mesmo diante desse fator de instabilidade a industrialização de São Paulo no início do século XX se mostrava bastante desenvolvida em relação as indústrias de bens de consumo e outros setores industriais:

Em 1901, A.F. Bandeira tentou fazer o levantamento das indústrias em todo o Estado (...) Descobriu 170 fábricas, 50 das quais empregavam mais de 100 operários. Dezessete delas eram fiações e sete, fundições (...) O recenseamento de 1920 contou 293 firmas sobreviventes dentre as que haviam sido fundadas no período de 1850 a 1900. Havia mais de 24.000 operários na indústria.”

(DEAN, 1975, p.20)

Na medida em que a indústria nacional passou a empregar maior número de operários e suprir uma quantidade significativa do mercado nacional, os fabricantes passaram a reconhecer sua importância e a se organizarem cada vez mais em prol da industrialização do país, e elevar a industrialização de São Paulo a uma segunda fase, que se desenvolve após o período da Primeira República.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

De fato a industrialização de São Paulo teve um início modesto, com um crescimento anual cada vez maior, tornando-se por volta de 1920 o centro industrial mais importante do Brasil, superando o parque industrial do Rio de Janeiro. No decorrer do século XX o Estado de São Paulo possuía a maior zona industrial em toda a América Latina, onde o “surto do café” forneceu o mercado inicial para os fabricantes paulistas, porém, a economia cafeeira foi se tornando cada vez menos importante para o crescimento das indústrias, de forma que a continuação da industrialização em São Paulo foi possível de continuação após o declínio do comercio de exportação em meados da década de 1930, que representou um período de crise que levaria ao colapso da velha estrutura política, cabendo ao governo, posteriormente solucionar os conflitos sociais e a crise econômica, tornando-se necessário a reorganização do plano de desenvolvimento da indústria e do comércio.

REFERÊNCIAS

DEAN, Warren. A industrialização de São Paulo. São Paulo: Difel. 1975;

LUZ, Nícia Vilela. A luta pela industrialização do Brasil. São Paulo: Alfa- Ômega. 1978;

PELÁEZ, Carlos Manuel. História da Industrialização Brasileira. Rio de Janeiro: Apec. 1972;

PRADO JÚNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil. São Paulo: Brasiliense.

1979;

VIANNA, Oliveira. História social da economia capitalista no Brasil. Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense. 1987.

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