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A ESTRUTURA ARGUMENTAL NAS NOMINALIZAf;OES: UMA QUESTAO LEXICAL

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A ESTRUTURA ARGUMENTAL NAS NOMINALIZAf;OES:

UMA QUESTAO LEXICAL Serafina Maria de Souza PONDE

(Univ. Fed. da Bahia)

ABSTRACT: study of the morphological process of derivation based on the idea that the process of nomination is related not only to the obvious semll1lticalllexical relationship that exists between the verb-base and the derival nomination, but to the configuration of their argumental structure. This research is based on the I. Grimshaw

(1991) proposal that only some specific kind of derived nominals way have arguments.

KEY WORDS: nominalization, argumental structure, nominal ambiguity, lexical structure.

Este trabalho pretende mostrar que sol~s de problemas da morfologia derivacional - desde a pr6pria fo~o de urn. item derivado ate a produtividade de determinados sufixos - Ilio devem ser buscadas apenas na elabor~o de regras morfol6gicas baseadas especialmente na rel~io semAntica entre itens-base e seus derivados, mas na configur~o de suas estruturas argumentais e, conseqiientemente, na composi~o, ou melhor, na org~ de suas entradas lexicais.

No momento, estamos trabalhando com 0 processo derivacional de nominaUz,,;Io, isto

e,

com nominais resultantes do acoplamento de urn.

mfim

a urn.

yerlx>-base.Tivemos como referencial te6rico os trabalhos de Jane Grimshaw, 1991 e de Levin e Rappaport, 1986 e 1988.

An~o de predicado/argumento, com que lidamos,

e

retirada da 16gica formal, onde0 predicado Ilio se refere a pessoas ou coisas, mas deve algum tipo de rela~o entre expressOesreferenciais.

Na frase, Maria comprou urn. livro - 0 predicado comprar seleciona dois argumentos representados por

.Maria

e

livm

cuja no~o na 16gica formal

e

a seguinte:

(2)

Maria comprou urn livro A (m,p)

onde A =comprar (predicado) m

=

Maria (argumento) p

=

um livro (argumento)

Os predicados que selecionam dois argumentos (como0exemplo visto) s!o chamados predicados de dois luaares. Os verbos transitivos da sintaxe tradicional correspondem aproximadamente aos predicados de dois lugares da 16gica.-

Assim, seguindo a ideia basica da 16gica formal, diz-se que cada predicado tem uma estrutura de argumento (estrutura - a), ou seja, e especificado para 0nUmero de argumentos que ele exige.

A estrutura de argumento, portanto, pode determinar que elementos da senten~a serio obrigat6rios. Se urn verbo expressa uma atividade envolvendo dois argumentos, havera, pelo menos, dois constituintes na sente~a que possibilitarao a expressio destes argumentos.

A estrutura argumental do verbo, entio, prediz 0 nUmero de constituintes exigidos para a express!o deste verbo, mas nio necessariamente 0 seu tipo. A realiza~o canonica de urn argumento e0SN.

A estrutura argumental de urn item e parte de sua entrada lexical e reflete dois tjpos de informac3.olexjcal:

• uma represe_ao lexico-semantica, que reflete 0 significado do item e que se identifica com a estrutura chamada lexico-conceptual;

• uma representa~ao lexico-sintatica que reflete uma fun~o (ou atua~3.o) gramatical do item e que vai interagir com a sintaxe.

Chegamos, entio,

a

defini~o de Grismshaw (1991): "uma estrutura argumental

e

a representa~ao lexico-sinttltica formada pOT um conjunto de elementos identijicados pela estrutura lexico-semlintica do pTedicado". Assim, podemos concluir que nem tod08 os elementos participantes de uma estrutura lexico-semantica se realizam gramaticalmente.

Com 0 desenvolvimento dos estudos sobre a organiza~o do lexico e sua intera~ao com a sintaxe, surgiram - naturalmente - novas hip6teses sobre a composi~ao de uma estrutura argumental e uma rel~o com 0 comportamento sintatico do item. Essas hip6teses se direcionam para 0 estudo de problemas de diversos tipos como certas propriedades de passivjdade, dos COJDPOStosverbais e da nomjnaUZa&:io.

A estrutura argumental de urn predicado tem sua pr6pria organiza~o interna - que e projetada da representa~o lexico-semantica - e estipulada para cada predicado.

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Os argumentos podem ser externos OU intemos em que virtude de suas propriedades semlnticas inttinsecas, de suas rel~s com Outros argumentos e determioadas condi~oes sintaticas.

Aos argumentos sio atribuidos r6tulos tematicos (do tipo agente, tema, meta, etc.) - necessarios apenas para identificar os argumentos. Estes r6tulos slo uma terminologia conveniente para a descri~o de problemas lexico-sintaticos; mas, claro que, como mera terminologia, 1110chegam a resolve-los.

E

praticamente estabelecido que os verbos e os nominais derivados partilham das mesmas propriedades junto

a

sua complemen~o. Exemplos:

a)0inimigo destruiu a cidade eles tentaram sair cedo o trem chegou na es~o b) *0professor verificou

c)

*

eles necessitam

*

eles optaram

a destrui~o da cidade (pelo inimigo) a tentativa (deles) de sair cedo a chegada (do trem) na es~o a verific~o (de matematica) foi exaustiva

a cons~o (da ponte) foi cancelada

*

a necessidade e premente

*

a ~o Dio foi aceita

Examinando os grupos de exemplos (a, b, c), observamos que os verbos e os nominais derivados nAo t!m necessariamente a mesma estrutura argumental. Nos exemplos do grupo

a,

a presen~a de urn

arpmen

to extemo - que se realiza sintaticamente como 0 sujeito verbal - e obrigat6ria, enquanto que no caso dos nominais tais argumentos sio nitidamente opcionais. Nos exemplos do grupo h, os verbos exigem urn argumento intemo (que se realiza sintaticamente como objeto direto) enquanto que os nominais podem dispensA-lossem problemas. Finalmente, nos exemplos do grupo ~, 0que se observa, entio, e que0sistema nominal Dio tem urn comportamento uniforme, ou seja, alguns nominais selecionam argumentos (portanto t!m estrutura argumental e marcam tematicamente), enquanto outros nIo. Alem disso, aqueles que possuem estrutura argumental, esta nAoe, necessariamente, idCntica ados verbos-base.

Para explicar este comportamento dos nominais e partindo de uma ~o jA conhecida entre ~ e resultadQ - Grimshaw (1991) propae que os nominais se agrupem em trCs tipos:

1. nominais eventivos complexos: aqueles que nomeiam uma atividade e seu estado resultante. Como exemplo, temos 0nominal "construQo" que

e

analisado como

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urna atividade X na qual participa da a~ao de construir ~ algo Y que resulta construido;

2. nominais eventivos simples: referem-se a urn evento, e nomeiam urn processo.

Ex.: a yerjfica~ao demorou muito;

3. nominais resultativos: nomeiam 0 resultado de urn processo ou urn elemento associado a urn processo - ex.: 0trabalho esta sobre a mesa.

A partir desta tipologia, Grimshaw propOe que apenas os nominais eventivos complexos tenham urna estrutura argumental e selecionem argumentos que satisfa~am tal estrutura. Nestes casos, tal como os complementos verbais, os complementos nominais devem estar presentes na sintaxe.

Indo urn pouco mais alem, podemos contudo dizer que tanto os nominais eventivos complexos quanto os nominais eventivos simples ou nominais resultativos tem estruturas conceptuais lexicais, que expressam seus significados lexicais e, as vezes, ate significados relacionais, mas ~ os nominais eventivos complexos tem urna estrutura lexico-sintAtica, ou seja, uma estrutura argumental - que devera se realizar sintaticamente, como nos verbos.

Aquestlio que surge, nesta tipologia dos nominais, eo problema da ambiifi,idade.

Muitos nominais podem ter mais de urna leitura, nilo sendo, portanto, exclusivos de urna s6 categoria. Esta ambigiiidade, contudo deve ser desfeita para que se possa propor, com alguma seguran~a, a organiza~ao da estrutura argumental do nominal, 0 seu comportamento sintatico decorrente e a sua caracte~o morfol6gica.

Varios autores propOem varias maneiras de desfazer esta ambigiiidade. Dentre elas, selecionamos duas:

I. A "1Jy-pho.se" (por ... ). Se uma "1Jy-phrase"

e

incluida no SN, a leitura do nominal sera de urn "evento complexo", tornando obrigat6ria a complementacio nominal e0 preenchimento da estrutura argumental. Por exemplo:

a expressao de dor pelo paciente

a atribui~o de tarefas pelo instrutor

Compare-se, para esclarecimento, com casos como: "a expressao de Monalisa

e

intrigante" - ou -" a atribui~o do diretor

e

manter a ordem", os nominais apresentam-se como resultativos, acompanhados de modificadores, portanto sem nenhurna estrutura argumental a ser preenchida;

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2. Alguns modificadores como freqilente fo~ uma leitura de evento complexo em certos nominais:"·a freqi1entemanifestaclo ~ desej4vel" e "a freqllente manifes~io dos estudantes ~ desej4vel". A segunda sente~ ~ melhor porque tem a sua estnltura argumental preenchida.

Assim, manipulando 0 contexto para desambigiiisar os nominais, observa-se que estes podem ou nlo ter complementos obrigat6rios, como os verbos.

E

a ambigUidade que explica a, de certo modo 0 aparente, opcionalidade de complementos para os nominais. Quando 0 nominal nio possui estrutura argumental, ele se comporta como om, digamos, substantivo e tem apenas modificadores; no caso contrmo, ele exige argumentos.

A entrada lexical dos nominais devem especificar certas propriedades que deem conta nlo apenas da caracterizaclo ou definic10 do tipo ou da categoria nominal, mas tambem de soas possibilidades de comb~o em unidades maiores.

Mesmo considerando os fatores contextuais como definidores da interpretaclo dominante de um nominal, a partir dos SN que ele forma, ~ preciso ter em mente que qualquer entrada lexical deve ser abstraida de qualquer comexto e conter as informa~s acomuladas e significativas relativas, no caso, aos nominais para que qualquer ambigilidade seja desfeita e para que a sua estrutura argumental seja legitimada.

Assim, as entradas lexicais devem expressar dois tipos de info~o:

a) aestrutura (ou representaclo) l~xico-sem!ntica (ou conceptual);

b) a estrutura (ou representaclo) l~xico-sint4tica (ou estrutura argumental).

Interagindo com 0 significado lexical, a estrutura lexico-conceptual pode ser construfda com base na nocio de "decomposiclo do significado", atrav~s de predicados de natureza abstrata.

Assim, se no caso dos nominais de interpretacio eventiva esse tipo de indica~io parece desnecessma, dado que as info~s lexicais sintaticamente pertencentes estio contidas nas estnlturas argumentais, para os nominais resultativos as info~ de natureza conceptual parecem ter importincia, vez que eles nio possuem estrutura - a para ser preenchida. Isto estabeleceria om certo equih'brio nas entradas lexicais, que parece interessante para qualquer proposta de organizaclo do lexico.

Como conclusio, podemos dizer que embora ainda existam muitos questionamentos em torno de represen~s lexicais deste tipo, om tratamento adequado dos nominais deverbais sufixais implica propor, nas entradas lexicais dos itens, a inclusio de certas propriedades conceptuais que podem estar descritas ou atraves de tr~s sem!nticos abstratos(+1- concretos) como propoe Brito (1994) ou por represen~ lexicais conceptuais.

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Do mesmo modo, alternativamente, pode-se propor uma estrutura argumental para os nominais eventivos, uma vez que estes se comportam de maneira muito semelhante dos verbos de que derivam.

A quesmo da produtividade sufixal tambem pode ser estudada partindo-se das representacoes das estruturas argumentais. A proposta de argumentos extemos para os nominais que tem a funCao - ou a propriedade - de se identificar a um argumento do verbo-base atraves do sufixo nominalizador e urn caminho interessante para a interpretacao dos nominais e para se chegar a alguma definicao da produtividade. de urnsufixo em relacao a outro.

Supoe-se tambem que atraves da organizacao e composicao da estrutura argumental se possa chegar a alguma generalidade dentro do sistema derivacional, que sempre se caracteriza por irregularidades - pelo menos aparente - dentro da gramatica.

RESUMO: estudo do processo morfolOgico derivacio1UJl,partindo do pressuposto de que a nominaliza~iio refere-se niio apenas ao relacionalnDlJo semdntico/lixical 6bvio existente entre 0verbo-base e 0nomi1UJlderivado, mas, sobretudo, a con.figura~iJode suas estruturas argumentais. A pesquisa baseia-se na proposta de J.Grimshaw (1991)

de que apenas detenninados tipos de nominais derivados podem licenciar argumentos.

PALAVRAS-CHAVE: nominalizacao, estrutura argumental, ambigilidade nominal, estrutura lexical.

BRITO(1984) MSobreas ~s de sujeito e de argumento extemo; seme~s entre as EStrutura8 de Frase e a EstrulUra de SN em Ponugues." Boletim th Filo/ogia Torno XXIX, p.421-478. Centro de Lingilfsticada Universidade de Lisboa .

. (1993) MAspects de la syntaxe du SN en portugais et en ~is." Revista da Faculdode de Letras

-ciO

Porto.Lingua e Literatura. ITs~rie, vol X, p. 25-53.

. (1994) MAs nominalizaclles: das info~s lexicais l estrulUra sintatica." Mesa redonda ---;-"lntcrface I~xico/sintaxe." I Congresso Intemacional da ABRALIN, Salvador, setembro1994.

HAEGBMAN, Liliane(1991). Introduction to Government and Binding Theory. Cambridge Mass, Brasil Blackwell Inc.

LEVIN, Beth & RAPPAPORT Maika (1988). MWbatto do with 0 roles." In W. Wilking Eds. Thematic Rdotions. Syntax and Semantics. 21: 7-36. New York Academy Press.

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